Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!

segunda-feira, 26 de abril de 2021

O DISCURSO DE PEDRO - A PROFECIA DE JOEL

 


Mas Pedro, estando em pé com os onze, levantou a voz e disse-lhes: Homens da Judéia e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e prestai ouvidos às minhas palavras. Pois estes homens não estão embriagados, como vós supondes, visto que é ainda a hora terceira do dia; mas cumpre-se o que dissera o profeta Joel:


"E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos mancebos terão visões; e os vossos velhos sonharão; e também sobre os meus servos e minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão.


E mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na Terra; sangue e fogo, vapor e fumo; o Sol se converterá em trevas e a Lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor. E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo". II - v.v. 14-21.


O discurso de Pedro não termina nestes versículos. Continua até o versículo 36. Para não tomar espaço deixamos de transcrever a última parte, recomendando-a à atenção dos leitores , pois em qualquer "Novo Testamento" com facilidade encontrá-la-ão. Nessa parte o Apóstolo lembra aos Israelitas os grandes poderes de Jesus, os prodígios por Ele operados e os sinais que Deus fez por meio d'Ele, bem como o seu crucificamento por mãos de iníquos, a sua ressurreição, a incorruptibilidade de seu corpo, as antigas profecias avisando tudo o que ia suceder, etc.


Pedro foi um dos primeiros discípulos que Jesus escolheu.


Se lermos atentamente os Evangelhos, veremos que esse homem era um excelente médium, intuitivo e inspirado. Já anteriormente ele tomara a palavra e falara inspirado pelo Espírito, em nome dos Doze.


No cap. XVI de Mateus, v.v. 15 e 16, os leitores verão que perguntando o Mestre aos seus discípulos quem diziam eles ser o Filho do Homem, foi Pedro quem falou em nome dos Doze, e falou inspirado pelo Espírito, transmitindo a REVELAÇÃO, sobre a qual Jesus disse que edificaria sua igreja.


Pedro começou o seu discurso citando a profecia de Joel, profecia esta inserta no "Antigo Testamento" e que anuncia os acontecimentos que se realizariam não só naquela época, como, com mais precisão ainda, na em que nos achamos e num futuro próximo.


Essa profecia é bem clara e se verificou no Cenáculo com a produção de línguas estrangeiras, pelos médiuns poliglotas, que em número de cento e vinte ali se achavam. Mancebos tiveram visões, pois viram "as chamas como que línguas de fogo" repousando sobre todos.


Não consta, entretanto, dos "Atos", que os "velhos tivessem sonhos", o que quer dizer que a profecia não foi realizada em sua totalidade.


Mas depois, conforme veremos no decorrer dos nossos estudos, outras manifestações, como curas, etc., foram verificadas, até que chegada à Era Nova, em que nos achamos, têm-se dado manifestações de todo o gênero, como as que temos observado, segundo os relatos transmitidos pelos sábios e experimentadores que, com o auxílio de poderosos médiuns, tão poderosos como os Apóstolos, e talvez mais ainda, têm prestado todo o seu serviço para desmoronar o "templo do materialismo", erguendo sobre a grande pirâmide do Amor, o belo farol da Imortalidade.


Nós cremos, entretanto, que, por ocasião do Cristianismo nascente, muitos médiuns (quantidade inumerável, mesmo) se desenvolveram e foram desenvolvidos, o que levou Paulo a estabelecer regras para o bom sucesso das reuniões que se efetuavam naquela época.


Na Epístola aos Romanos, cap. XII, 4, diz Paulo:


"Pois assim como temos muitos membros em um só corpo, e todos os membros não têm a mesma função; assim nós, sendo muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros. E tendo dons diferentes, segundo a graça que nos foi dada: se é profecia, profetizemos, segundo a proporção da nossa fé; se é ministério, dediquemo-nos ao nosso ministério; ou o que ensina, dedique-se ao que ensina; ou o que exorta, à sua exortação; o que reparte, faça-o com simplicidade; o que preside, com zelo; o que usa de misericórdia, com alegria".


É bastante este trecho para nos deixar ver qual era a vida dos Discípulos e seus atos. Tarefa toda espiritual que não poderia dispensar o auxílio dos Espíritos encarregados de fazer reviver neles as Palavras de Jesus e guiá-los em todas as suas ações. Aí está bem clara a missão do profeta, que deve salientar a profecia.


O Apóstolo da Luz, comparando a diversidade de membros do nosso corpo, cada qual com sua serventia e seu mister, fez ver a diversidade de dons, de faculdades psíquicas, faculdades essas que devem ser orientadas pelos Preceitos do Cristo, que é a cabeça (o Chefe), assim como todos os nossos membros sujeitos estão à cabeça.


Na 1ª aos Coríntios, XII, 4 - 31, o Doutor dos Gentios é ainda mais explícito, mostrando que todas as manifestações são orientadas, ou para melhor dizer, permitidas por Deus. Todos os rios de água viva, aos quais o Mestre se referiu, que manariam do ventre daquele que n'Ele cresse, fazendo alusão ao Espírito que haviam de receber, tinham uma só Fonte que é Deus.


Vamos aproveitar a palavra de tão ilustre Doutor:


"Ora, há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito; e há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor; e há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito para proveito. Porque a um pelo Espírito é dada a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de ciência, segundo o mesmo Espírito; a outro, fé, no mesmo Espírito; a outro, dons de curar, em um só Espírito; a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a outro, diversidade de línguas, e a outro a interpretação de línguas; mas todas estas coisas opera um só e o mesmo Espírito, distribuindo a cada um particularmente o que lhe apraz".


O "Dom do Espírito Santo", como dizem as Igrejas, vê-se bem claro que é o dom da mediunidade e comunicação dos Espíritos. Cada médium tem a sua missão: sabedoria, ciência, fé, curas, maravilhas, profecia, línguas, etc., etc. Mas é preciso não esquecer que existem também os que têm o dom de discernimento dos Espíritos. Ora, se existem indivíduos encarregados do discernimento dos Espíritos, e se este dom foi enumerado por Paulo, parece claro e lógico que não é só um Espírito que produz tudo, não é sempre o mesmo Espírito que produz maravilhas, curas, profecias, etc., etc., mas sim, muitos, sendo que há adiantados e atrasados, senão não haveria necessidade de discernimento. Quis Paulo dizer que todos os Espíritos são provenientes de Deus, e não como julgavam os judeus, que os havia por parte do diabo.


Na conclusão do capítulo, Paulo trata da necessidade da unidade espiritual da congregação, repetindo o que havia dito aos Romanos e acrescentando várias considerações elucidativas, muito ao alcance de todos e da compreensão dos que nos lêem.


Depois, porém, de terminado o discurso de Pedro, a multidão que o ouvia perguntou a Pedro e aos Apóstolos, o que se deveria fazer para se tornar cristão. Eles responderam:


"Arrependei-vos e cada um seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão do pecado e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois, para vós é a promessa e para os vossos filhos e para todos os que estão longe e a quantos chamar o Senhor nosso Deus. E os exortava: Salvai-vos desta geração perversa. E os que receberam a palavra foram batizados e foram admitidas naquele dia quase três mil pessoas; e perseveraram na doutrina dos Apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor e muitos prodígios e milagres eram feitos pelos Apóstolos. E todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum e vendiam as suas propriedades e bens e os repartiam por todos, conforme a necessidade de cada um".


Este trecho caracteriza perfeitamente a conversão positiva daquela gente simples e humilde que foi incluída nas fileiras da Nova Doutrina, de abnegação, de humildade, de bondade, de desapego, de amor, que o Cristo havia anunciado, e pela qual não temeu nem recuou à morte afrontosa da cruz.


O batismo de que fala os Atos é o batismo de adoção da Nova Fé. Não se julgue este batismo, nem se o compare com os batismos das Igrejas que desnaturam o Cristianismo, estabelecendo cultos e sacramentos exóticos, que não falam à alma, nem ao coração e só têm servido para produzir incrédulos e fanáticos.


O batismo dos Apóstolos era um sinal que deveria imediatamente produzir outro sinal visível de demonstração de Fé, tornando o indivíduo uma nova criatura, no seu falar, no seu proceder, na sua palavra, nas suas ações e até nos seus pensamentos. Não passava de um sinal, sinal invisível, porque era feito com água que não deixa marca, mas que servia tão somente no indivíduo para dar uma impressão de que tinha necessidade de produzir sinais visíveis da sua regeneração, da sua conversão. A água nenhum valor tinha. Mera exterioridade para satisfazer exigências pessoais, ela não podia representar o batismo de Jesus, ou do Espírito, recomendado por João Batista.


E isto se conclui com toda lógica, lendo-se com atenção o cap. II, v. v. 43 e seguintes, que assinalam o modo de vida dos conversos: "E em cada alma havia temor, e muitos prodígios e milagres eram feitos pelos Apóstolos. E todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum, e vendiam as suas propriedades e bens e os repartiam por todos, conforme a necessidade de cada um".


O batismo produziu neles este sinal visível e os fazia queridos de todos.


Cairbar Schutel

domingo, 25 de abril de 2021

O TRIBUNO

CAPÍTULO 8 - O TRIBUNO

Castorino Silveira, dono de oratória eloquente, era daqueles que fazia da tribuna espírita a vitrine dos seus incontestáveis conhecimentos doutrinários.

Ao menos quinzenalmente, assumia - exibindo o porte e a altivez de um sacerdote - o púlpito da sociedade espírita a que se filiara e, por mais de hora, desfiava, a ouvintes pasmados, argumentos insofismáveis.

Condenava, veementemente, próceres*( influentes)  de outras religiões tachando-os, em reprimenda, de falsos profetas, pastores enganadores e outros epítetos*(sobrenomes).

Destarte( deste modo ) , ia largando sua semente entre espinheiros e terras inférteis, na malversação de suas riquezas verbais. Não contendo o seu entusiasmo, mais se perdia em largas gesticulações teatrais do que plantava amor e humildade.

Ao final das reuniões, todos transbordavam, uns em abraços, outros em lisonjas e elogios, outros ainda serenos ou desconfiados. Alguns ainda ruminavam as críticas ásperas que ouviram, talvez por incompreensão, ou mesmo porque não sentiam, na palavra inflamada de Castorino, a luminosa vibração que se irradia dos espíritos humildes. Se a uns Castorino Silveira convencia, a outros, todavia, sua pregação soava como uma algaravia*( tagarelice) , como o pipocar de rojões em festejos de roça. Eram lantejoulas verbais que apenas cintilavam, sem o valor intrínseco dos ensinamentos divinos, jóias da espiritualidade maior.

Um dia, Castorino Silveira, ao ser interpelado ao final de uma de suas palestras, sentiu uma dor aguda no peito. Despindo-se do fardo material, entre gemidos e estertores, viu-se subitamente, do outro lado da vida.

Quase que de imediato foi carregado em uma padiola*, no plano espiritual, rumo a um hospital, sob os cuidados de bondosos benfeitores.

Meses depois, Castorino recebeu alta. Desembaraçado, dirigiu-se, em companhia de um irmão, ao departamento onde seria entrevistado, para melhor avaliação de sua condição naquela colônia espiritual.
A essa altura, supondo-se refeito e adaptado, cogitava até em pleitear oportunidade para reiniciar as pregações doutrinárias, junto aos espíritos mais carentes.

Depois dos cumprimentos e apresentações, o irmão Benevides, um assistente social, lendo uma ficha que estava sobre a mesa, indagou:

- Então é o irmão Castorino Silveira?

- Claro! - confirmou Castorino, feliz por ser reconhecido de imediato, acrescentando:

- Como o irmão deve saber, eu fui um grande orador espírita. Desencarnei, vítima de um enfarte, ao sair de uma sessão. O tema da minha palestra, naquele dia, foi "A parábola do semeador".

- Sim, nós sabemos disso - interrompeu o irmão Benevides. Olhando fixamente para Castorino, esclareceu:

- Sua semeadura, irmão Castorino, se alguma vez germinou e produziu frutos em outras pessoas, não deu, para você mesmo, uma boa safra.

- Como assim? - indagou Castorino espantado, prosseguindo indignado:

- Eu fui um incansável lavrador da Seara do Mestre, espalhando a semente de O Evangelho Segundo o Espiritismo aos quatro ventos, com o meu verbo inflamado!

- É verdade, meu irmão. Você espalhou a semente aos quatro ventos, mas nenhuma germinou em seu coração.
Caído na superfície de sua alma, o calor da vaidade e do orgulho queimou-as.
Suas palavras, irmão Castorino, eram vazias de amor e de humildade. Visavam mais à promoção pessoal do que propriamente ao plantio do amor exemplificado pelo Mestre.

Castorino Silveira abaixou a cabeça. Em sua mente, projetavam-se cenas de suas incontáveis palestras, nas quais, gesticulando com ardor, discursava enfaticamente, demonstrando sua eloquente oratória.

Apercebeu-se, no quadro fluídico, de sua preocupação com a própria imagem, relegando a divulgação da Boa Nova a segundo plano.

Um frio cortou-lhe o coração ao ouvir as últimas palavras do irmão Benevides:

- Prepare-se, irmão Castorino, para em breve regressar à Terra. E, uma vez que nessa última encarnação você se engrandeceu e gratificou-se, esquecido de que o orador espírita deve dar provas cabais de humildade, retornará agora à vida física, na condição de surdo-mudo, para efetiva tarefa espírita em organização de deficientes. Aprenderá a Doutrina Espírita por meio da leitura silenciosa. Será um professor, e ensinará a outros irmãos, igualmente surdos-mudos, valendo-se apenas da gesticulação das mãos e dos dedos.

Irmão X


FONTE: 

LIVRO : CASOS E COISAS, DAQUI E DAÍ - 1ª EDIÇÃO / ANO: 2003

DITADO PELO ESPÍRITO : IRMÃO X

PSICOGRAFADO POR : HEITOR LUZ FILHO

sábado, 24 de abril de 2021

ESCRIBAS E FARISEUS:"Acautelai-vos, primeiramente, do fermento dos fariseus que é a hipocrisia"

 


"Mas, ai de vós, escribas e fariseus hipócritas!"


Os Evangelhos falam, reiteradamente, nos escribas e fariseus. Lucas (12:1), encontramos Jesus Cristo prevenindo os seus discípulos contra a doutrina dos fariseus, dizendo: "Acautelai-vos, primeiramente, do fermento dos fariseus que é a hipocrisia." Em outras passagens do Novo Testamento notamos que o Mestre verberava, acerbamente, a atuação desses homens, salientando suas falhas e demonstrando a precariedade do sistema por eles ofendido.


Fariseu (do hebraico Parash significava divisão ou separação), obviamente pelo fato de ter sido uma das muitas seitas dissidentes entre os antigos judeus, as quais mantinham entre si verdadeiras profundas discórdias, cada uma delas pretendendo ter o monopólio da verdade. A seita dos fariseus, cuja origem remonta aos anos 180 ou 200 a.C., exercia grande influência sobre o povo tinha, inicialmente, por chefe um doutor judeu nascido em Babilónia, de nome Hillel, cuja escola sustentava o princípio de que "somente se devia depositar fé nas Escrituras".


Numerosos reis moveram intensas campanhas contra os fariseus, em épocas distintas; entretanto, Alexandre, rei da Síria, lhes restituiu os bens e deferiu-lhes muitas honras, propiciando-lhes os meios necessários para adquirirem o antigo prestígio e poderio, que conseguiram manter até o ano 70 da Era cristã, quando ocorreu a dispersão dos judeus.


Os fariseus tinham em alta conta os atos exteriores do culto; mantinham pomposos cerimoniais, tomavam parte ativa nas controvérsias religiosas e eram animados de um zelo religioso os limites do fanatismo, sendo, como tais, acerbos renovadores. Sustentavam, de forma aparente, grande severidade de princípios; entretanto, debaixo da capa da hipocrisia, alimentavam vivo desejo de dominação, sendo a religião utilizada como meio para se atingir determinados fins.


Objetivando fazer evidenciar os costumes dissolutos que debaixo de aparências exteriores, Jesus Cristo não se cansou de demonstrar os seus verdadeiros intentos, por isso disse: "Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Observai, pois, e praticai tudo o que vos disserem, mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não praticam, pois atam pesados fardos e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens! Eles, porém, nem com o dedo querem movê-los, e fazem todas as obras, a fim de serem vistos pelos homens, pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas dos seus vestidos, e amam os primeiros lugares nas ceias e as cadeiras nas sinagogas."


Os fariseus acreditavam na Providência, na Ressurreição dos mortos, na eternidade das penas e na imotalidade da alma, e, como vissem em Jesus Cristo um inovador, que procurava abalar o precário sistema religioso então não trepidaram em formar um conluio com os principais sacerdotes e com os escribas, no sentido de amotinar o povo contra Jesus.


Por isso mereceram do Cristo as mais acerbas admoestação, pois o mestre comumente os chamava de "túmulos caiados, vistosos por fora, mas, por dentro, cheio de ossadas e de podridões; hipócritas que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e depois o terdes feito, o fazeis filho das trevas duas vezes mais do que vós."


O nome escriba era dado, em épocas imemoriais, aos auxiliares dos reis de Judá e a determinados intendentes do exército; entretanto, na época do advento de Jesus, os escribas eram os doutores que ensinavam e interpretavam as leis estabelecidas por Moisés e outros profetas, e, como tais, faziam causa comum com os fariseus, de cujas idéias compartilhavam, sendo de se destacar, também, o ódio que votavam contra os renovadores. Jesus Cristo não vacilou em envolvê-los nas mesmas reprovações lançadas aos fariseus.


No Evangelho segundo Lucas (11:45) deparamos com a informação de que, lançando o Mestre as suas recriminações sobre os fariseus, foi interrompido por um escriba (doutor da lei) que ali estava, e protestou veementemente, dizendo: "Mestre, quando dizes isso, também nos afrontas a nós", ao que o Senhor retrucou:


"Ai de vós, também, doutores da lei, que carregais os homens com cargas difíceis de transportar, e vós mesmos nem ainda com um dos vossos dedos ousais tocá-las. Ai de vós, que edificais os sepulcros dos profetas e vossos pais os mataram; bem testificais, pois, que consentis nas obras de vossos pais. Ai de vós, doutores da lei, que tirastes a chave da ciência; vós mesmos não entrastes, e impedistes os que entravam."


A influência dos escribas e fariseus em Jerusalém era enorme, por isso, eles contribuíram, de forma decisiva, para que o Mestre fosse condenado e crucificado.


Afirma o evangelista Mateus (12:22-28) que os fariseus, não conseguindo explicar ao povo a procedência do poder de que Jesus Cristo estava investido, decidiram afirmar que "ele expulsava os maus espíritos por intermédio do príncipe dos demônios (Belzebu)", ao que o Senhor retrucou: "E, se o príncipe dos demônios expulsa o príncipe dos demônios, é sinal que está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seu reino? E, se eu expulso os maus espíritos por Belzebu, por quem os expulsam então os vossos filhos? Portanto, eles mesmos serão os vossos juízes, mas, se eu expulso os maus Espíritos pelo Espírito de Deus, é, conseguintemente, chegado a vós o Reino de Deus".


Paulo A. Godoy

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Zaqueu, amigo íntimo de Jesus.



Jesus percorria pela derradeira vez os caminhos da Palestina. Deixando a Galileia, dirigira-se ao território da Judeia, além do Jordão.1 Nessa viagem, quando já próxima a hora extrema do Gólgota, encontra-se com Zaqueu às portas de Jericó.

Descrita no Velho Testamento como a Cidade das Palmeiras,2 Jericó foi edificada numa das mais ricas zonas agrícolas de todo o Oriente Médio.3 Verdadeiro oásis no deserto, cercada por quilômetros de terra árida e rochosa, exibe – contrastando com os seus arredores – campos floridos, árvores balsâmicas, amendoeiras, romãzeiras, tamareiras, sicômoros, e, sobretudo, palmeiras. Tornou-se célebre nos tempos de Jesus. Clima mitigado pela abundância de águas canalizadas, esplêndidos jardins e belas construções fizeram dela a cidade invernal da aristocracia de Jerusalém, preferência de Herodes Magno.4
Passagem obrigatória a caravanas de mercadores e peregrinos religiosos, Jericó alcançou grande importância econômica, contando com estabelecimentos bancários, várias lojas comerciais e diversos armazéns providos de toda mercadoria. Diariamente, desde as primeiras horas da manhã, negociantes, proprietários, lavradores, agentes e cambistas fervilhavam em suas ruas, entre discussões, compras, vendas e assinaturas de contratos, num febril vaivém. Somente com as primeiras sombras da noite, costumava diminuir o bulício na Cidade das Palmeiras.

Israel vivia então sob o senhorio romano, sujeito aos ditames do grande império. Como todos os povos conquistados pelos césares, pagava-lhes pesados tributos, destinados ao luxo do patriciado e à manutenção da máquina governamental, cujos exércitos, sempre crescentes, requeriam gastos mais e mais elevados.
Os judeus, mesmo oprimidos, não declinavam de suas crenças, cultivando-as com intenso ardor. Arrimados à fé dos seus patriarcas, consolidada ao longo dos séculos, mantinham-se coesos como nação, ainda quando exilados, vivendo em terras estranhas. O governo romano, então, normalmente adotava política de tolerância para com as práticas religiosas dos povos dominados.

Naqueles dias, os israelitas se preparavam para a páscoa, comemoração à sua libertação do jugo egípcio. Numerosos viajores cruzavam as estradas e caminhos do país, na direção de Jerusalém. Jericó, mais que outras localidades, regurgitava de passantes.

Jesus, com os doze, igualmente se encaminhava à capital da Judeia.5 Vencida quase toda a distância entre Cafarnaum e Jerusalém – contornando ao leste o território samaritano6 – chegou às cercanias de Jericó. 

Pelos caminhos, ensinava a Boa-Nova, consolava os aflitos e curava os enfermos; verdadeira multidão o acompanhava desde a Galileia.
Jericó, como já dito, constituía rota obrigatória para mercadores e peregrinos. Movimentado comércio local e acentuada circulação de riquezas em suas fronteiras garantiam- lhe elevada arrecadação tributária; despertava o interesse dos governantes e a ambição dos publicanos.

Conforme as regras estatuídas então, cabia aos publicanos coletar os impostos. Desde Caio Graco, Tribuno da Plebe nos anos 123 a.C. e 122 a.C., nova forma de concessão para arrecadação tributária fora estabelecida nas províncias asiáticas, sendo mais tarde aplicada às demais possessões romanas. 

Os tributos passaram a ser recolhidos mediante contrato firmado, pelo prazo de cinco anos, entre o vencedor da hasta pública e o tesouro romano, devendo o vencedor antecipar o pagamento desses tributos ao Estado. Os participantes desses leilões, naturalmente, eram homens muito ricos, com fortuna pessoal mínima de quatrocentos mil sestércios, segundo alguns historiadores.

A adoção desse sistema de arrecadação tributária, conquanto eficiente, teve graves consequências. 
Os publicanos, livres para cobrar quanto quisessem, exorbitavam nas taxas exigidas, multiplicando suas fortunas vertiginosamente. Movidos por indisfarçável ânsia lucrativa, tornaram-se símbolo de avidez e desonestidade, sendo detestados pela população em geral.

Zaqueu era rico publicano, chefe dos publicanos em Jericó.
Em concorrência pública, como ditava o costume, arrematara o direito à cobrança de impostos na urbe famosa. Além dos interesses da alfândega, dirigia outros negócios particulares, todos muito rentáveis; contava com grande número de empregados. 

Os judeus olhavam-no com desdém, como faziam a todos os publicanos, considerando-o traidor da pátria, por transigir com os romanos invasores.
Raros lhe dirigiam a palavra e, quando o faziam, quase sempre o faziam obrigados pelas circunstâncias, não disfarçando o íntimo desprezo que lhe votavam.

Ouvira falar de Jesus!
As notícias que lhe chegavam davam conta de sua amorosa mensagem, portadora de fé e esperança. Da boca popular, escutava referências a seus muitos milagres e soubera que exprobrava a conduta de fariseus e saduceus, exortando os homens ao bom caminho. Tinha conhecimento de que Ele se fazia acompanhar, sobretudo, dos simples e deserdados, que não desprezava a ninguém, considerando a todos como irmãos. Ouvira dizer, até, que entre os seus mais próximos seguidores, havia um que fora conhecido publicano.

Queria ver o novo Messias, quem sabe, falar ao Mestre nazareno.
Sua alma sonhava novos horizontes, cansada das coisas do mundo. De há muito, acalentava secreto desejo de conhecer aquele de quem se falava tantas maravilhas.

Caía a tarde na velha cidade do vale do Jordão. Seus estabelecimentos comerciais cerravam as portas, seus habitantes regressavam aos lares e os peregrinos procuravam pernoite. Desusado movimento agitava Jericó. Nos últimos dias, muito aumentara o fluxo local de caravanas com destino à Cidade Santa.
Zaqueu também findara seu trabalho, rumava para casa. Romeiros de variadas procedências anunciavam a chegada do Rabi galileu. Excitados, gesticulavam muito, diziam que Ele curara o cego Bartimeu.7

Não longe, compacta muralha humana cercava o carpinteiro galileu. Rápido, Zaqueu se acercou da multidão, empolgado pela possibilidade do ambicionado encontro. De pequena estatura, contudo, por mais tentasse, não conseguia ver Jesus. Tomado de resolução – temia perder a oportunidade há tanto esperada – correu à frente do povaréu, subiu num velho sicômoro e aguardou a passagem do Mestre.
Logo divisou a sua figura augusta, sentiu-se invadir de paz intraduzível. Atraído pelo seu amoroso magnetismo, acompanhava-lhe os menores gestos, apurava os ouvidos para escutá-lo.
Que pensamentos acudiam nessa hora a Zaqueu? Que sentimentos dominavam seu coração? Que visões contemplava seu Espírito? Talvez passasse em revista sua existência, reexaminasse os valores que lhe vinham norteando as decisões, vislumbrasse nesgas do caminho espiritual. Decerto que experimentava íntima e estranha inquietação; chegara o instante glorioso do seu encontro com a Verdade.
Aproximando-se da árvore em que se alojara o publicano, Jesus ergueu os olhos, fitando-o, e disse-lhe: “Zaqueu, desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa”.8 Zaqueu deu-se pressa em descer, recebendo-o com muita alegria. “À vista desse fato – anota o evangelista – murmuravam todos, dizendo: Foi hospedar-se na casa de um homem pecador!”.
Entrementes, Zaqueu se levantou e disse ao Senhor: “Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo-lhe o quádruplo”. Então, Jesus lhe disse: “Hoje, houve salvação nesta casa, pois que também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido”.9

Zaqueu exultava de alegria, sentia-se no limiar de um novo mundo. Vivera até ali como os comuns de sua época, preocupado com as aquisições materiais, escravo das coisas ilusórias. Chegava agora a novo estágio evolutivo. Quais os caminhos do seu despertar espiritual? Quais os degraus superados até alcançar a condição de amigo íntimo de Jesus?
Acompanhando a sua marcha ascensional, naquilo que podemos apreciar, concluímos que muito peregrinou nas sombras dos enganos e vacilações, antes de penetrar a porta estreita, rumo à Espiritualidade superior.
Dedicou os primeiros anos de sua existência às conquistas mundanas – dinheiro, fama, status, poder – dominado pelas exigências dos prazeres egoístas, conquanto, desde antes, almejasse respirar noutra atmosfera. A alma humana nessa etapa de aprendizado,  quando não nega a paternidade divina, costuma ignorá-la propositadamente, como se temesse as consequências desse reconhecimento

Intui secretamente as responsabilidades que daí advirão, e, como a dormideira, recolhe-se em si mesma, preferindo manter-se alienada acerca da existência de Deus.

A saciedade proporcionada pelas conquistas inferiores, todavia, carece de perenidade, possui existência efêmera. Não demora e a alma sente vazio inexprimível, vítima da impermanência das coisas deste mundo. Até alcançar os bens eternos, sofrerá crises periódicas desse vazio.

O filósofo pessimista alemão, Arthur Schopenhauer, observando o cotidiano do homem comum, diz que a vida é um pêndulo que oscila entre o sofrimento e o tédio. Sofremos enquanto não conseguimos o que desejamos e, quando conseguimos o que desejamos, sentimos tédio. É então que elegemos novo objeto de desejo para, novamente, oscilarmos entre o sofrimento e o tédio, numa infinita alternância.

Zaqueu vivia essa alternância, pendulando entre o pesar e o fastio.

Saturado do que é transitório, experimenta invencível fascínio pelo transcendente, impulsionado pelo que podemos chamar de tropismo divino; é o início da sua busca espiritual, termo da sua alienação de Deus.

Talvez ninguém lhe tivesse notado a mudança, nem mesmo os mais próximos, muitíssimo engolfados nos assuntos da matéria. Jesus, porém, atento às mais discretas manifestações de nossa alma, identifica os primeiros clarões de sua luz interior e lhe vêm à procura. Zaqueu buscava Jesus, Jesus buscava Zaqueu. Entre eles uma multidão, símbolo dos obstáculos que o publicano necessitava transpor para alcançar o Mestre. Do alto da figueira, Zaqueu espia Jesus. Encontrara o que procurava, segredava-lhe a consciência. De repente, ouve surpreso: Zaqueu, desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa.
Desde quando anelava semelhante dádiva? Que fizera para merecer tamanha bênção? Humilde, cria-se indigno de hospedar o Messias. Mas, depressa, desce e vai correndo preparar-lhe régia ceia e as melhores acomodações de sua rica residência.
A cena nos sugere oportunas reflexões.

O sicômoro ou figueira doida, 10 como também é conhecido, com suas raízes profundas, folhas ásperas e frutos de inferior qualidade, oferece singular imagem das riquezas materiais, cuja aparência de viço, solidez e perpetuidade engana o observador menos percuciente.

Zaqueu no alto da figueira, acima da multidão, traduz o homem içado aos mais proeminentes postos o mundo. O desce depressa nos fala da imperiosidade de abandonarmos as convenções meramente humanas, para encontrarmos o Cristo.

Zaqueu transbordava alegria.
Límpidos raciocínios agora iluminavam seu espírito; trilhava os primeiros passos na senda. As posses materiais e os favores de sua elevada posição social não o haviam impedido de chegar a Jesus. Sabia-se, contudo, longe da completa emancipação espiritual, preciso era prosseguir.

À mesa, com o sublime visitante, ouvia-o com deleite, considerava quanto estivera distanciado do verdadeiro caminho. Imerso em doce onda de amor, priva pela primeira vez da intimidade de Jesus. É aí que se resolve a dar metade dos seus bens aos pobres e a restituir em quádruplo a quem haja defraudado.

…É a fase da entrega!… É a fase da consagração!
Vencida a alienação, realizada a busca, Zaqueu se entrega àquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Esvazia-se das coisas deste mundo, disposto a preencher-se das coisas celestes. Abre mão de sua riqueza… Distribui seus bens aos pobres… Indeniza a quem prejudicou… Abdica de sua posição social… Reconhece que mesmo sem o saber, sempre buscara o Cristo de Deus. Enlevado, despe sua alma, lavando com lágrimas as lembranças de suas defecções, para ouvir do Senhor:
Hoje, houve salvação nesta casa, pois que também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido.9
Selada estava eterna aliança entre Zaqueu e Jesus.

E ali na casa de Zaqueu, ainda naquela noite, Jesus contou a parábola das dez minas– para a maioria dos exegetas – uma variante da parábola dos talentos, apesar das diferenças textuais havidas entre as duas narrativas.11

Zaqueu é uma daquelas personagens bíblicas sobre quem muito pouco se sabe. Além do episódio relatado por Lucas, não encontramos nas páginas evangélicas qualquer outra referência ao publicano de Jericó. Estudiosos do Novo Testamento, todavia, hão sustentado que tudo deixou para seguir a Jesus.
Clemente de Roma afirma que ele se tornou companheiro de viagens de Simão Pedro, sendo, mais tarde, nomeado Bispo de Cesareia Marítima, pelo Pescador de Cafarnaum.12 Clemente de Alexandria sugere que adotou o nome Matias, induzindo muitos à falsa inferência de que haja substituído Judas Iscariotes no Colégio dos Doze.13 O legendário medieval o identifica como Santo Amador, considerado o fundador do santuário francês de Rocamadour.Modernos pesquisadores da história do Cristianismo – alguns com decênios dedicados ao assunto – comungam com muito dessas tradições.

Devemos,contudo,escoimar essas tradições – todas tardias, e por isso, pálidas de valor histórico – daquilo que faleça a mais severo exame.
Hoje, alguns poucos ainda pretendem que Zaqueu seja Matias, o 13º Apóstolo. Diríamos que essa é uma opinião insustentável, dado que não resiste à mais leve análise, quando na presença dos textos testemunhais desses eventos.
Atos dos Apóstolos (1:15, 21, 22, 23 e 26) registra:
Naqueles dias, Pedro levantou-se no meio dos irmãos – o número das pessoas reunidas era de mais ou menos cento e vinte e disse:
“É necessário, pois, que, dentre estes homens que nos acompanharam todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu em nosso meio, a começar do batismo de João até o dia em que dentre nós foi arrebatado, um destes se torne conosco testemunha da sua ressurreição”.
Apresentaram então dois: José, chamado Barsabás e cognominado Justo, e Matias. Lançaram a sorte sobre eles, e a sorte veio a cair em Matias, que foi então contado entre os onze apóstolos.

A leitura acima não exige mais grave meditação para infirmar a ideia de que Zaqueu seja o 13º apóstolo. Declara, literalmente, que, desde o início, tanto um quanto outro – José e Matias – tomou parte ativa na vida messiânica de Jesus. Zaqueu, como é sabido, somente o conheceria na última viagem do Mestre a Jerusalém.14
Além disso, caminhando nessa direção, assevera Eusébio de Cesareia:
E um documento ensina também que Matias – o que foi juntado à lista dos apóstolos em substituição a Judas – e o outro que com ele teve a honra de disputar a sorte foram dignos de serem dos setenta. […]15

E, mais adiante, diz: O primeiro, pois, que a sorte designou para o apostolado em substituição a Judas, o traidor, foi Matias, que também tinha sido um dos discípulos do Salvador, como já foi provado.15

De acordo, pois, com o texto ora transcrito, José e Matias pertenciam ao grupo dos setenta, 16 episódio anterior ao encontro entre Jesus e Zaqueu. Logo, conclui-se: Zaqueu não é Matias, o 13º apóstolo.

Ademais, ainda que evocado por alguns, como fonte favorável a esse entendimento, Clemente de Alexandria – longe de estear tal juízo – escreve, simplesmente:
Diz-se, portanto, que Zaqueu, ou, segundo alguns, Matias, o chefe dos publicanos, ao ouvir que o Senhor se dignou a Brasivir a ele, disse: Senhor, e se eu defraudei alguém em alguma coisa, restituo-lhe o quádruplo. E o Senhor disse, por sua vez: o Filho do homem vindo aqui, encontrou o que estava perdido.17

E, ainda, para alguns historiadores, Natanael18 foi quem tomou o lugar de Judas Iscariotes, embora habitualmente o identifiquem como o apóstolo Bartolomeu.19

À margem das dissensões históricas – válidas, mas não essenciais – subsiste a convicção da aliança entre Zaqueu e Jesus. Ditados e revelações espirituais – transmitidos a medianeiros de reconhecida credibilidade – reforçam esse pensamento.
Humberto de Campos enfatiza que Zaqueu, desde muitos anos, procurava empregar o dinheiro a benefício de todos à sua volta, voluntariamente hipotecando-se ao Mestre.20
Amélia Rodrigues conta que, com frequência, ele socorria o cego Bartimeu. Gostava de acudir a miséria alheia e suavizar as dores do próximo. Mais tarde, assistido por Jesus, foi dirigir florescente igreja cristã em terras de Cesareia.21

Léon Tolstoi declara tê-lo ouvido discursar no mundo espiritual:
– A bondade do Mestre galileu… […] tocou-me para sempre o coração […]. E conquistou-me assim, por toda a consumação dos séculos…
[…] Não, eu não o abandonei jamais, desde aquele dia em que passou por Jericó! […] Soube, é certo, da ressurreição que a todos revigorou de esperanças… Mas não logrei tornar a ver e ouvir o Mestre […]. Ele só se apresentou, depois da ressurreição, aos discípulos – homens e mulheres – e aos Apóstolos…22

Affonso Soares, amigo e confidente de Yvonne do Amaral Pereira, disse-me que a notável médium fluminense repetia sempre que Zaqueu fora o venerável Bezerra de Menezes.23

Zaqueu venceu antigas vacilações e transpôs densas barreiras, para, naquele dia memorável, tornar-se amigo íntimo de Jesus, lembrando as letras de Apocalipse (3:20):
Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele, e ele comigo.

Referências: 
1 Mateus, 19:1; Marcos, 10:1; e Lucas, 9:51-53. (Para os textos evangélicos utilizamos a Bíblia Sagrada, tradução de João Ferreira de Almeida, e a Bíblia de Jerusalém.)
2 Deuteronômio, 34:1 a 3; e 2 Crônicas, 28:15.
3 Vale do Jordão. Situada a quase trezentos metros abaixo do nível do mar, numa das maiores depressões absolutas do planeta, Jericó é considerada a mais antiga cidade do mundo. Pesquisas arqueológicas apontam sua fundação entre nove e dez mil anos atrás.
4 Herodes e seu filho Arquelau embelezaram Jericó. Entre as construções mais famosas contavam-se o anfiteatro da cidade e o castelo de Kypros. Este último, construído e batizado em homenagem à mãe de Herodes.
5 Lucas, 18:31 a 34.
6 Lucas, 9:51 a 56. – Não encontrando guarida em uma das vilas da Samaria, Jesus decidiu fazer o mais longo trajeto entre as duas cidades. Possivelmente tomou a direção de Decápole e atravessou a Pereia, antes de alcançar Jericó. Dali seguiria para Betânia e Jerusalém.
7 Patronímico traduzido por filho de Timeu, conforme Marcos (10:46 a 52). Os demais evangelistas – Mateus (20:29 a 34); e Lucas (18:35 a 43) – não mencionam o nome do cego de Jericó. Diferente de Lucas, que situa esse episódio à entrada da cidade, Marcos e Mateus o descrevem como ocorrido à saída de Jericó, com este último anotando que foram dois os cegos ali curados por Jesus.
8 Jesus visitou algumas casas durante sua atividade messiânica. Revelam os evangelhos que esteve nas casas de Pedro, Levi, Jairo, Simão, Lázaro, Zaqueu e nas Bodas de Caná. Parece-nos que sempre a convite dos seus moradores, exceção feita à sua visita ao publicano de Jericó.
9 Lucas, 19:1 a 10.
10 Ficus sycomorus – Atinge 20 metros de altura.
11 Lucas, 19:11 a 27; e Mateus, 25:14 a 30.
12 Homilia III, 59 a 72.
13 Stromateis IV, cap. 6, § 35.
14 Lucas, 19:1 a 10.
15 CESAREIA, Eusébio. História eclesiástica. Wolfgang Fischer. São Paulo (SP): Novo Século, 2002. liv. I, cap. XII – Dos discípulos de nosso Salvador, it. 3. p. 28; e liv. II, cap. I – Da vida dos apóstolos depois da ascensão do Cristo, it. 1, p. 33. Disponível em: <pt.slideshare.net/OBREIRO/histria-eclesistica-eusbio-de-cesaria>.
16 Missão dos setenta discípulos – Lucas, 10:1 a 13.
17 Stromateis IV, cap. 6, § 35.
18 Referido em João, 1:45 a 51 e 21:1 e 2.
19 MCKENZIE, John L. Dicionário bíblico. Álvaro Cunha, Elsa Maria Berredo Peixoto, Gaspard Gabriel Neerick, I. F. L. Ferreira, Josué Xavier. 10. ed. São Paulo: Paulus, 2011. p. 589.
20 XAVIER, Francisco C. Boa nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. 37. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2014. cap. 23, p. 149.
21 FRANCO, Divaldo P. Primícias do reino. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. 4. ed. Salvador: LEAL, 1987. p. 144, 145 e 149.
22 PEREIRA, Yvonne do Amaral. Ressurreição e vida. Pelo Espírito Léon Tolstoi. 12. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2014. cap. 1, p. 20-21.
23 Affonso Borges Gallego Soares, diretor da Federação Espírita Brasileira. Pedro Camilo traz essa revelação em sua obra, Yvonne Pereira: uma heroína silenciosa.
BAUCKHAM, Richard. Jesus e as testemunhas oculares. São Paulo: Paulus, 2011. p. 151-152.
CORASSIN, Maria Luiza. A reforma agrária na Roma Antiga. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 62-63.
NICOLET, Claude. Un ensayo de historia social: el Orden Ecuestre en las postrimerias de la Republica Romana. In: Ordenes, estamentos y classes: Coloquio de historia social Saint-Cloud, 24-25 de mayo de 1967. Madrid: Siglo-Veintiuno, 1978. p. 36-51.
Samuel Nunes Magalhães
Fonte: http://www.souleitorespirita.com.br/reformador/noticias/zaqueu-amigo-intimo-de-jesus/

quarta-feira, 21 de abril de 2021

TIRADENTES DIALOGA COM IRMÃO X SOBRE A INCONFIDÊNCIA MINEIRA.




(...)"antes de tudo, devo afirmar que não fui um herói e sim um Espírito em prova, servindo simultaneamente à causa da liberdade da minha terra. Quanto à Inconfidência de Minas, não foi propriamente um movimento nativista, apesar de ter aí ficado como roteiro luminoso para a independência da pátria. Hoje posso perceber que o nosso movimento era um projeto por demais elevado para as forças com que podia contar o Brasil daquela época, reconhecendo como o idealismo eliminou em nosso espírito todas as noções da realidade prática(...) Fomos os títeres de alguns portugueses liberais, que, na colônia, desejavam adaptar-se ao novo período histórico do planeta, aproveitando-se dos nossos primeiros surtos de nacionalismo. Não possuíamos um índice forte de brasilidade que nos assegurasse a vitória, e a verdade só me foi intuitivamente revelada quando as autoridades do Rio mandaram prender-me na rua dos Latoeiros.”(...)A nação ainda não foi realizada para criar-se uma linha histórica, mantenedora da sua perfeita independência. Todavia, a vitalidade de um povo reside na organização da sua economia e a economia do Brasil está muito longe de ser realizada. A ausência de um interesse comum em favor do País, dá causa não mais à derrama dos impostos, mas ao derrame das ambições, onde todos querem mandar, sem saberem dirigir a si próprios.”




Tirandentes:

Dos infelizes protagonistas da Inconfidência Mineira,  no dia 21 de abril de todos os anos, aqueles que podem excursionar pela Terra volvem às ruínas de Ouro Preto,  a fim de se reunirem entre as velhas paredes da casa humilde do sítio da Cachoeira, trazendo a sua homenagem de amor à personalidade do Tiradentes.

Nessas assembleias espirituais, que os encarnados poderiam considerar como reuniões de sombras, os preitos de amor são mais expressivos e mais sinceros, livres de todos os enganos da História e das hipocrisias convencionais.

Ainda agora, compareci a essa festividade de corações, integrando a caravana de alguns brasileiros desencarnados, que para lá se dirigiu, associando-se às comemorações do protomártir da emancipação do País.

Nunca tive muito contato com as coisas de Minas Gerais, mas a antiga Vila Rica [atualmente Ouro Preto],  atualmente elevada à condição de Monumento Nacional, pelas suas relíquias prestigiosas, sempre me impressionou pela sua beleza sugestiva e legendária. Nas suas ruas tortuosas, percebe-se a mesma fisionomia do Brasil dos vice-reis. Uma coroa de lendas suaves paira sobre as suas ladeiras e sobre os seus edifícios seculares, embriagando o espírito do forasteiro com melodias longínquas e perfumes distantes. Na terra empedrada, ainda existem sinais de passos dos antigos conquistadores do ouro dos seus rios e das suas minas e, nas igrejas, ainda se ouvem soluços de escravos, misturados com gritos de sonhos mortos, do seu valoroso heroísmo. A velha Vila Rica, com a névoa fria dos seus horizontes, parece viver agora com as suas saudades de cada dia e com as suas recordações de cada noite.

Sem me alongar nos lances descritivos acerca dos seus tesouros do passado, objeto da observação de jornalistas e escritores de todos os tempos, devo dizer que, na noite de hoje, a casa antiga dos Inconfidentes tem estado cheia das sombras dos mortos. Aí fui encontrar, não segundo o corpo, mas segundo o Espírito, as personalidades de Domingos Vidal Barbosa, Freire de Andrada, Mariano Leal, Joaquim da Maia, Cláudio Manuel, Inácio Alvarenga, Doroteia de Seixas, Beatriz Francisca Brandão, Toledo Pisa, Luís de Vasconcelos e muitos outros nomes, que participaram dos acontecimentos relativos à malograda conspiração. Mas, de todas as figuras veneráveis ao alcance dos meus olhos, a que me sugeria as grandes afirmações da pátria era, sem dúvida, a do antigo alferes Joaquim José da Silva Xavier, pela sua nobre e serena beleza. Do seu olhar claro e doce, irradiava-se toda uma onda de estranhas revelações, e não foi sem timidez que me acerquei da sua personalidade, provocando a sua palavra.

Falando-lhe a respeito do movimento de emancipação política, do qual havia sido o herói extraordinário, declinei minha qualidade de seu ex-compatriota, filho do Maranhão, que também combatera, no passado, contra o domínio dos estrangeiros.

— “Meu amigo — declarou com bondade —, antes de tudo, devo afirmar que não fui um herói e sim um Espírito em prova, servindo simultaneamente à causa da liberdade da minha terra. Quanto à Inconfidência de Minas, não foi propriamente um movimento nativista, apesar de ter aí ficado como roteiro luminoso para a independência da pátria. Hoje posso perceber que o nosso movimento era um projeto por demais elevado para as forças com que podia contar o Brasil daquela época, reconhecendo como o idealismo eliminou em nosso espírito todas as noções da realidade prática mas, estávamos embriagados pelas ideias generosas que nos chegavam da Europa, através da educação universitária. E, sobretudo, o exemplo dos Estados Americanos do Norte, que afirmaram os princípios imortais do direito do homem, muito antes do verbo inflamado de Mirabeau, era uma luz incendiando a nossa imaginação. O Congresso de Filadélfia, que reconheceu todas as doutrinas democráticas, em 1776, afigurou-se-nos uma garantia da concretização dos nossos sonhos. Por intermédio de José Joaquim da Maia procuramos sondar o pensamento de Jefferson, em Paris, a nosso respeito; mas, infelizmente, não percebíamos que a luta, como ainda hoje se verifica no mundo, era de princípios.  O fenômeno que se operava no terreno político e social era o desprezo do absolutismo e da tradição, para que o racionalismo dirigisse a vida dos homens. Fomos os títeres de alguns portugueses liberais, que, na colônia, desejavam adaptar-se ao novo período histórico do planeta, aproveitando-se dos nossos primeiros surtos de nacionalismo. Não possuíamos um índice forte de brasilidade que nos assegurasse a vitória, e a verdade só me foi intuitivamente revelada quando as autoridades do Rio mandaram prender-me na rua dos Latoeiros.”

— E nada tendes a dizer sobre a defecção de alguns dos vossos companheiros? — perguntei.

— “Hoje, de modo algum desejaria avivar minhas amargas lembranças… Aliás não foi apenas Silvério quem nos denunciou perante o Visconde de Barbacena; muitos outros fizeram o mesmo, chegando um deles a se disfarçar como um fantasma, dentro das noites de Vila Rica, avisando quanto à resolução do governo da província antes que ela fosse tomada publicamente, com o fim de salvaguardar as posições sociais de amigos do Visconde que haviam simpatizado com a nossa causa. Graças a Deus, todavia, até hoje, sinto-me ditoso por ter subido sozinho os vinte degraus do patíbulo.”

— E sobre esses fatos dolorosos, não tendes alguma impressão nova a nos transmitir?

E os lábios do Herói da Inconfidência, como se receassem dizer toda a verdade, murmuraram estas frases soltas:

“Sim… a Sala do Oratório e o vozerio dos companheiros desesperados com a sentença de morte… a Praça da Lampadosa, minha veneração pelo Crucifixo do Redentor e o remorso do carrasco… a procissão da Irmandade da Misericórdia, os cavaleiros, até o derradeiro impulso da corda fatal, arrastando-me para o abismo da morte…”

E concluiu:

“Não tenho coisa alguma a acrescentar às descrições históricas, senão minha profunda repugnância pela hipocrisia das convenções sociais de todos os tempos.”

— É verdade, acrescentei, reza a História que, no instante da vossa morte, um religioso falou sobre o tema do Eclesiastes — “Não atraiçoes o teu rei, nem mesmo por pensamentos.”

E terminando a minha observação com uma pergunta, arrisquei:

— Quanto ao Brasil atual, qual a vossa opinião a respeito?

“Apenas a de que ainda não foi atingido o alvo dos nossos sonhos. A nação ainda não foi realizada para criar-se uma linha histórica, mantenedora da sua perfeita independência. Todavia, a vitalidade de um povo reside na organização da sua economia e a economia do Brasil está muito longe de ser realizada. 
A ausência de um interesse comum em favor do País, dá causa não mais à derrama dos impostos, mas ao derrame das ambições, onde todos querem mandar, sem saberem dirigir a si próprios.”

Antes que se fizesse silêncio entre nós, tornei ainda:

— Com relação aos ossos dos inconfidentes, vindos agora da África para o antigo teatro da luta, hoje transformado em Panteão Nacional,  são de fato autênticos esqueletos dos apóstolos da liberdade?

— “Nesse particular, respondeu Tiradentes com uma ponta de ironia, não devo manifestar os meus pensamentos. Os ossos encontrados tanto podem ser de Gonzaga, como podem pertencer, igualmente, ao mais miserável dos negros de Angola. O orgulho humano e as vaidades patrióticas têm também os seus limites… Aliás, o que se faz necessário é a compreensão dos sentimentos que nos moveram a personalidade, impelindo-nos para o sacrifício e para a morte…”

Mas, não pôde terminar. Arrebatado numa aluvião de abraços amigos e carinhosos, retirou-se o grande patriota que o Brasil hoje festeja glorificando o seu heroísmo e a sua doce humildade.

Aos meus ouvidos emocionados ecoavam as notas derradeiras da música evocativa e dos fragmentos de orações que rodeavam o monumento do Herói, afigurando-se-me que Vila Rica ressurgira, com os seus coches dourados e os seus fidalgos, num dos dias gloriosos do Triunfo Eucarístico mas, aos poucos, suas luzes se amorteceram no silêncio da noite, e a velha cidade dos conspiradores entrou a dormir, no tapete glorioso de suas recordações, o sono tranquilo dos seus sonhos mortos.


(.Irmão X)

21 de abril de 1937.

  

Livro: Crônicas de Além Túmulo- Psicografado por Chico Xavier

TIRADENTES NOS BRAÇOS DE ISMAEL.


"resgatas hoje os delitos cruéis que cometeste quando te ocupavas do nefando mister do inquisidor, nos tempos passados. Redimiste o pretérito obscuro e criminoso com as lágrimas do teu sacrifício em favor da Pátria do Evangelho de Jesus. Passarás a ser um símbolo para a posteridade, com o teu heroísmo resignado nos sofrimentos purificadores. Qual novo gênio surges, para espargir bênçãos sobre a terra do Cruzeiro, em todos os séculos do seu futuro. "




Tiradentes nos braços de Ismael


[...]
"Os historiadores falam do grande pavor daqueles onze homens que se ajuntavam, andrajosos e desesperados, na sala do Oratório, para ouvirem a sentença da sua condenação, após três longos anos de separação, em que haviam ficado incomunicáveis nos diversos presídios da época. A leitura da peça condenatória, pelo Desembargador Francisco Alves da Rocha, levou quase duas horas. Depois de conhecerem os seus termos, os infelizes conjurados passaram às mais dolorosas e recíprocas recriminações. Os mais tristes quadros de fraqueza moral se patenteavam naqueles corações desiludidos e desamparados; mas, no dia seguinte, a dura sentença era modificada. D. Maria I havia comutado anteriormente as penas de morte em perpétuo degredo nas desoladas regiões africanas, com exceção do Tiradentes, que teria de morrer na forca, conservando-se o cadáver insepulto e esquartejado, para escarmento de quantos urdissem novas traições à coroa portuguesa.

O mártir da inconfidência, depois de haver apreciado, angustiadamente, a defecção dos companheiros, reveste-se de supremo heroísmo. Seu coração sente uma alegria sincera pela expiação cruel que somente a ele fora reservada, já que seus irmãos de ideal continuariam na posse do sagrado tesouro da vida. As falanges de Ismael lhe cercam a alma leal e forte, inundando-a de santas consolações.

Tiradentes entrega o espírito a Deus, nos suplícios da forca, a 21 de abril de 1792. Um arrepio de aflitiva ansiedade percorre a multidão, no instante em que seu corpo balança, pendente das trevas do cadafalso, no Campo da Lampadosa.
Mas, nesse momento, Ismael recebia em seus braços carinhosos a alma edificada do mártir.

– Irmão querido – exclama ele – resgatas hoje os delitos cruéis que cometeste quando te ocupavas do nefando mister do inquisidor, nos tempos passados. Redimiste o pretérito obscuro e criminoso com as lágrimas do teu sacrifício em favor da Pátria do Evangelho de Jesus. Passarás a ser um símbolo para a posteridade, com o teu heroísmo resignado nos sofrimentos purificadores. Qual novo gênio surges, para espargir bênçãos sobre a terra do Cruzeiro, em todos os séculos do seu futuro. Regozija-te no Senhor pelo desfecho dos teus sonhos de liberdade, porque cada um será justiçado de acordo com as suas obras. Se o Brasil se aproxima da sua maioridade como nação, ao influxo do amor divino, será o próprio Portugal quem virá trazer, até ele, todos os elementos da sua emancipação política, sem o êxito incerto das revoluções feitas à custa do sangue fraterno, para multiplicar os órfãos e as viúvas na face sombria da Terra...

Um sulco luminoso desenhou-se nos espaços, à passagem das gloriosas entidades que vieram acompanhar o espírito iluminado do mártir, que não chegou a contemplar o hediondo espetáculo do esquartejamento.

Daí a alguns dias, a piedosa rainha portuguesa enlouquecia, ferida de morte na sua consciência pelos remorsos pungentes que a dilaceravam e, consoante as profecias de Ismael, daí a alguns anos era o próprio Portugal que vinha trazer, com D. João VI, a independência do Brasil, sem o êxito incerto das revoluções fratricidas, cujos resultados invariáveis são sempre a multiplicação dos sofrimentos das criaturas, dilaceradas pelas provações e pelas dores, entre as pesadas sombras da vida terrestre."

Trecho retirado do capítulo"Inconfidência Mineira" no Livro “Brasil – Coração do Mundo – Pátria do Evangelho”
Psicografia Francisco C. Xavier – Espírito Humberto de Campos