Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

O Ricaço Distraído - " não te esqueças de que o tesouro de cada homem permanece onde tem o coração, porque toda alma reside onde coloca o pensamento.[...homem, sem qualquer proveito para os semelhantes, transformam-no em prisioneiro delas. A lei determina sejamos escravos dos excessos a que nos entregarmos.]

 

Existiu um homem devoto que chegou ao Céu e, sendo recebido por um Anjo do Senhor, implorou, enlevado:

- Mensageiro Divino, que devo fazer para vir morar, em definitivo, ao lado de Jesus?

- Faze o bem - informou o Anjo - e volta mais tarde.

- Posso rogar-te recursos para semelhante missão?

- Pede o que desejas.

- Quero dinheiro, muito dinheiro, para socorrer o meu próximo.

O emissário estranhou o pedido e considerou:

- Nem sempre o ouro é o auxiliar mais eficiente para isso.

- Penso, contudo, meu santo amigo, que, sem ouro, é muito difícil praticar a caridade.

- E não temes as tentações do caminho?

- Não.

- Terás o que almejas - afirmou o mensageiro -, mas não te esqueças de que o tesouro de cada homem permanece onde tem o coração, porque toda alma reside onde coloca o pensamento. Tuas possibilidades materiais serão multiplicadas. No entanto, não olvides que as dádivas divinas, quando retidas despropositadamente pelo homem, sem qualquer proveito para os semelhantes, transformam-no em prisioneiro delas. A lei determina sejamos escravos dos excessos a que nos entregarmos.

Prometeu o homem exercer a caridade, servir extensamente e retornou ao mundo.

Os Anjos da Prosperidade começaram, então, a ajudá-lo.

Multiplicaram-lhe, de início, as peças de roupa e os pratos de alimentação; todavia, o devoto já remediado suplicou mais roupas e mais alimentos. Deram-lhe casa e haveres. Longe, contudo, de praticar o bem, considerava sempre escassos os dons que possuia e rogou mais casas e mais haveres. Trouxeram-lhe rebanhos e chácaras, mas o interessado em subir ao paraíso pela senda da caridade, temendo agora a miséria, im­plorou mais rebanhos e mais chácaras. Não cedia um quarto, nem dava uma sopa a ninguém, declarando-se sem recursos para auxiliar os necessitados e esperava sempre mais, a fim de distribuir algum pão com eles. No entanto, quanto mais o Céu lhe dava, mais exigia do Céu.

De espontâneo e alegre que era, passou a ser desconfiado, carrancudo e arredio.

Receando amigos e inimigos, escondia grandes somas em caixa forte, e quando envelheceu, de todo, veio a morte, separando-o da imensa fortuna.

Com surpresa, acordou em espírito, deitado no cofre grande.

Objetos preciosos, pedaços de ouro e prata e vastas pilhas de cédulas usadas serviam-lhe de leito. Tinha fome e sede, mas não podia servir-se das moedas; queria a liberdade, porém, as notas de banco pareciam agarrá-lo, à maneira do visco retentor de pássaro cativo.

- Santo Anjo! - gritou, em pranto - vem! Ajuda-me a partir, em direção à Casa Celestial!...

O mensageiro dignou-se baixar até ele e, reparando-lhe o sofrimento, exclamou:

- É muito tarde para súplicas! Estás sufocado pela corrente de facilidades materiais que o Senhor te confiou, porque a fizeste rolar tão sômente em torno de ti, sem qualquer benefício para os irmãos de luta e experiencia...

- E que devo fazer - implorou o infeliz -para retomar a paz e ganhar o paraíso?

 

O Anjo pensou, pensou... e respondeu:

- Espalha com proveito as moedas que ajuntaste inutilmente, desfaze-te da terra vasta que retiveste em vão, entrega à circulação do bem todos os valores que recebeste do Tesouro Divino e que amontoaste em derredor de teus pós, atendendo ao egoísmo, à vaidade, à avareza e à ambição destrutiva e, depois disso, vem a mim para retomarmos o entendimento efetuado há sessenta anos...

Reconhecendo, porém, o homem que já não dispunha de um corpo de carne para semelhante serviço, começou a gritar e blasfemar, como se o inferno estivesse morando em sua própria consciência.

 

XAVIER, Francisco Cândido. Alvorada Cristã. Pelo Espírito Neio Lúcio. FEB. Capítulo 9.

domingo, 31 de janeiro de 2021

CONDESSA PAULA : O PERIGO DA RIQUEZA COMO PROVA

Fonte de  estudo da questão 815 do  Livro dos Espíritos


 

A Condessa Paula, espírito feliz , relata sua prova mais perigosa:

 

Não foi sem labores que alcancei a posição que ora ocupo na vida espiritual; e fiquei ciente de que a minha última existência, por mais meritória que porventura lhe pareça, não era por si só e a tanto suficiente. Em várias existências passei por provas de trabalho e miséria que voluntariamente havia escolhido para fortalecer e depurar o meu espírito; dessas provas tive a dita de triunfar, vindo a faltar entanto uma, porventura a mais perigosa: a da fortuna e bem-estar materiais, um bem-estar sem sombras de desgosto. Nessa consistia o perigo. Antes de o tentar quis sentir-me assaz forte para não sucumbir. Deus, tendo em vista as minhas boas intenções, concedeu-me a graça do seu auxílio. Muitos Espíritos há que, seduzidos por aparências, pressurosos escolhem essa prova, mas, fracos para afrontar-lhe os perigos, deixam que as seduções do mundo triunfem da sua inexperiência."

 

 

 

TRECHO RETIRADO DO LIVRO "O CÉU E O INFERNO" - 2ª PARTE - CAPÍTULO II - ESPÍRITOS FELIZES - CONDESSA PAULA

 


APRENDENDO COM O LIVRO DOS ESPÍRITOS: Q. 815 - CAP. IX LEI DE IGUALDADE -AS PROVAS DE RIQUEZA E MISÉRIA

 815. Qual das duas provas é mais terrível para o homem, a da desgraça ou a da riqueza?


“São-no tanto uma quanto outra. A miséria provoca as queixas contra a Providência, a riqueza incita a todos os excessos.”


COMENTÁRIO DO ESPÍRITO DE MIRAMEZ

A MAIS TERRÍVEL



Não existem provas piores nem melhores; elas são paralelas às necessidades do aprendiz. Deus não põe fardo pesado em ombros frágeis, isto nos diz o Evangelho de Nosso Senhor. A cruz que se carrega na vida, foi estruturada, medida e pesada, para que se possa caminhar com coragem. As reclamações são mostras de Espírito fraco, que ainda não recolheu a experiência necessária nas lutas terrenas.


As mensagens do além que descem sem cessar para os homens, mostram os deveres de cada criatura ante os compromissos assumidos. Na consciência se encontra o registro do que se compromete com Deus, e Ele, o Soberano Senhor, conhece e tem paciência com Seus filhos. Mas, Ele não retira dos seus caminhos os professores que os possam educar e instruir. Tanto a riqueza quanto a pobreza têm o mesmo peso, em se somando suas dificuldades e sua força de corrigir as criaturas.


Uns lamentam, outros desprezam as oportunidades valiosas, que deverão reconhecer depois do túmulo. No entanto, não se pode dizer que o pobre é o bem-aventurado: isso depende do seu comportamento na vida com a prova da miséria. Não se pode dizer que o rico é o que goza do bem-estar, que Deus o premiou com os bens terrenos. Todos estão na mesma faixa de provas e podem ou não sair-se bem delas, dependendo do grau já alcançado na escala da evolução espiritual. Não devemos julgar, mas podemos analisar em silêncio e tirar dessas deduções experiências para o nosso caminho.


Sofreremos muito mais, se já conhecemos as leis de Deus e não vivemos de acordo com elas. Se o Evangelho de Jesus já está em nossas mãos e em nossa consciência, não percamos a oportunidade de vivê-lo, pelo menos de começar essa vivência. Com o tempo, passaremos a gozar das delícias de urna consciência em paz.


Novamente, vamos lembrar Lucas, no capítulo doze, versículo quarenta e sete:


Aquele servo, porém, que conheceu a vontade do seu Senhor e não se aprontou, nem fez conforme a Sua vontade, será punido com muitos açoites.


Conhecer é muito bom, mas traz para todos nós responsabilidades maiores, porque, conhecendo e nos fazendo de esquecidos, seremos açoitados pelas provas, qual o boi que sai do seu carreiro: o vaqueiro sabe corrigi-lo, e a lei de condicionamento faz lembrar ao mesmo animal, quando pensar em afastar do rebanho, o ferrão do condutor. Assim acontece com os seres humanos.


As provas são variáveis, e nos parece que não existe maior nem menor; todas são iguais, de acordo com as necessidades do aprendiz em questão. Se a miséria provoca as queixas, as riquezas impulsionam para os excessos de todas as ordens. O pobre geralmente deseja ser rico, e o rico, quando no mundo espiritual, deseja ser pobre na sua volta para o mundo físico. Qual dos dois está certo? São lições diferentes, diplomas necessários aos homens, que somente o recebem pelo processo das vidas sucessivas. Tal é a lei.


MIRAMEZ

FONTE: FILOSOFIA ESPÍRITA - VOLUME XVI - CAP. 50

APRENDENDO COM O LIVRO DOS ESPÍRITOS: Q. 814 - CAP. IX LEI DE IGUALDADE -AS PROVAS DE RIQUEZA E MISÉRIA

 

814. Por que Deus a uns concedeu as riquezas e o poder, e a outros, a miséria?

 

“Para experimentá-los de modos diferentes. Além disso, como sabeis, essas provas foram escolhidas pelos próprios Espíritos, que nelas, entretanto, sucumbem com freqüência.”


COMENTÁRIO DO ESPÍRITO DE MIRAMEZ:


 
Deus testa Seus filhos de várias maneiras: a uns dá a riqueza e, conseqüentemente, poderes; a outros, miséria, e junto a ela a escravidão de todas as ordens. Quem não compreende as leis, como a da reencarnação, acha que Deus é injusto, ou então, para não ofendê-Lo, fala sem conhecimento de causa que o Senhor sabe o que faz. Todas as duas versões do fato são incorretas e sem sabedoria.

Estudando a reencarnação e o progresso dos Espíritos, notar-se-á que o rico de hoje pode ser o pobre de amanhã e vice-versa. Riqueza e miséria são extremos da vida, extremos esses mutáveis. Um pode ocupar o lugar do outro, em se buscando experiências, enriquecendo os celeiros do conhecimento para futura paz de consciência. Em muitos casos, essas provas de riqueza e miséria foram escolhidas pelos próprios Espíritos, por sentirem necessidade do aprendizado.
Ninguém deve ser culpado por nada que acontece; tudo foi feito para a elevação das almas, para o despertamento dos dons enraizados nos corações. A evolução das almas é diferente, mas elas são iguais em sua origem. Vejamos os corpos: comparemos o do rico com o do pobre, do ignorante com o do estadista. Eles têm a mesma forma, a mesma composição, os mesmos órgãos; respiram o mesmo ar, bebem da mesma água e vivem todos se aquecendo com o mesmo sol e andando sobre a mesma Terra. Ainda mais, todos têm como pai o mesmo Deus. As diferenças são ilusórias e breves, que o tempo desmancha quando achar conveniente. Aos ricos, nós podemos dizer que usem bem as suas riquezas e não deixem que o orgulho nem o egoísmo comandem suas faculdades de pensar e sentir. Eles devem pensar na miséria dos outros, pedindo sempre a Deus que os inspire para não acumularem riquezas que não sirvam para o bem-estar coletivo. Ao pobre, dizemos que viva mais resignado com o que tem e que confie mais em Deus, que nunca abandona Seus filhos. Ele deve lembrar sempre das bem-aventuranças. Jesus está sempre no meio dos que sofrem e não abandona os escorraçados pela justiça dos homens.Os ricos que sucumbem com freqüência não perdem as experiências; algo fica guardado nos escaninhos da alma, para se completar no amanhã. Assim também acontece com os pobres. As reencarnações têm essa função de escola para todas as criaturas na face da Terra. Tudo na vida muda de vez em quando de roupagem, pela forma do progresso, pela força do amor de Deus, cujas leis são justas.

Anotemos o que registrou Lucas, no capítulo quatorze, versículo nove:
Vindo aquele que te convidou e também a ele te diga: Dá o lugar a este. Então, irás envergonhado, ocupar o último lugar.
Quem não faz o seu dever direito, volta a fazê-lo, com um aprendizado diferente. A quem reencarna como rico, em berço de ouro, e não sabe desempenhar bem o seu papel, a reencarnação pode levar para o último lugar na escala das provas, até aprender a humildade e o amor, mesmo como rico. A Doutrina dos Espíritos, pelos processos mediúnicos, deixa bem visível, tanto para o rico como para o pobre, as suas tarefas, diferentes, porém, com os mesmos objetivos.

A função da reencarnação é despertar os valores espirituais e morais das criaturas, levando-os aqui e ali, por ação das leis naturais criadas por Deus. Pensemos nisto, estudemos e trabalhemos honestamente, que as inspirações dos Céus jamais nos faltarão.

MIRAMEZ 
FONTE: FILOSOFIA ESPÍRITA-VOLUME XVI

sábado, 30 de janeiro de 2021

DOIS COMPANHEIROS - "Os que administram são mordomos, os que obedecem são operários, mas, no coração augusto de Nosso Pai, estamos inscritos indistintamente na categoria de cooperadores de suas obras."

 


 

 Leonel e Benjamim, dois velhos amigos do Plano espiritual, mutuamente associados no erro e na reparação, depois de minucioso exame do passado, decidiram-se a pedir concessão de novas experiências no mundo. Esposando opiniões diversas entre si, buscaram o orientador, ansiosos da necessária permissão para pronto regresso à luta humana.

Após anotar-lhes as observações, sorriu o mentor amigo e obtemperou:

— É oportuna a solicitação: Vocês necessitam intensificar o aprendizado, iluminar o entendimento, adquirir sabedoria. Escolheram ambos o mesmo gênero de provas?

Levantou-se Leonel, explicando:

— Estamos acordes no pedido, mas, não temos a mesma preferência no capítulo das tarefas. Por minha parte, desejaria a oportunidade de movimentar patrimônios terrestres, nos círculos da fortuna e da autoridade…

Antes que ele terminasse, Benjamim embargou-lhe a palavra e esclareceu:

— Cá por mim, escolhi a condição de pobreza e sofrimento. Pediria, se possível, a supressão de toda possibilidade de contentamento na Terra. Encareço problemas de penúria e dificuldades, a fim de valorizar o que hei recebido da Providência.

Estampando no semblante o sorriso sereno da sabedoria, o generoso orientador considerou:

— Não posso interferir na liberdade de ambos. Conhecem vocês a extensão dos débitos contraídos. De algum tempo, sou testemunha da luta enorme em que se empenharam para o resgate. Fizeram jus, por isto, a novo ensejo de trabalho e elevação. Devo ponderar, todavia, que, embora divergentes na escolha, ainda não poderão afastar-se um do outro, na próxima experiência de redenção. Partilha, no erro, determina partilha de responsabilidades e consequências. Ser-lhes-ão abertas as portas do serviço santificador. Não se desunam, pois; nos caminhos da purificação, jamais desprezem a possibilidade de aprender. Fortuna e pobreza são bancas de provas na escola das experiências terrestres. São continentes da probabilidade. Ambos oferecem horizontes largos e divinas realizações. Que saibam receber as bênçãos de Deus, são os meus votos.

Leonel e Benjamim ouviram os conceitos judiciosos, renovaram promessas e partiram mais tarde. Atendendo a própria escolha, nasceu o primeiro na casa farta de rico proprietário rural, que lhe fora muito amado noutras existências. Daí a dias, velha serva da casa rica era igualmente mãe, fornecendo ao segundo o ensejo de realizar os planos traçados.

Enquanto houve paisagens risonhas de infância, ambos os companheiros, tão unidos pelo coração e tão distantes pelo nascimento, viveram no róseo céu da harmonia; mas, quando Leonel começou a sorver o conteúdo dos livros propriamente do mundo, verificaram-se os primeiros sinais de incompreensão. Cada vez que o jovem bem-nascido regressava ao círculo doméstico em gozo de férias escolares, assinalava-se maior distância entre ele e o camarada da meninice. Quando o anel de grau lhe brilhou nos dedos, estava consumada a separação. Passando a administrar interesses da família nos estabelecimentos do campo e da cidade, era ele o chefe, enquanto Benjamim se classificava no extenso quadro dos servidores.

Nessa zona de testemunho ativo, entenderam que deviam proceder como estranhos, absolutamente separados entre si. No fundo, admiravam-se e amavam-se reciprocamente; contudo, as ilusões terrestres os encegueciam.

Se Leonel se mostrava mais enérgico, atento às responsabilidades de administrador, desfazia-se Benjamim em críticas acerbas e gratuitas, levado pelo despeito. Se Benjamim aumentava, involuntariamente, a lista de necessidades pessoais, multiplicava Leonel o rigor, levado pelo autoritarismo.

A certa altura da experiência, não mais se saudaram um ao outro. Atritaram-se, trocaram acusações mútuas. O servo abandonou o trabalho diversas vezes, desejoso de experimentar a sorte em regiões diferentes; todavia, incapaz de iludir o espírito da Lei, voltava sempre, implorando readmissão. Leonel, por sua vez, renovava a concessão de serviço, embora com agravo crescente de exaspero e tirania recíprocos. Se o empregado solicitava melhoria de salário, o patrão restringia a remuneração e os benefícios.

Embriagado na visão de lucros fabulosos, Leonel pusera a mente no egoísmo total. Desvairado de inconformação, Benjamim concentrava-se na rebeldia, daí resultando aumento intensivo de vaidade, orgulho, presunção, ciúme, despeito e indisciplina no coração de ambos.

A Providência Divina, que jamais deixou criaturas em abandono, enviou-lhes socorro através da assistência religiosa. Mas o patrão, afeiçoado ao Catolicismo Romano, inclinava toda leitura edificante a favor da própria causa, valia-se dos conselhos do sacerdote amigo que o assistia, para justificar os erros e o seu feitio egoístico. Obcecavam-no o apego ao dinheiro e a ideia de lucros fáceis. Quanto ao empregado, tornara-se espiritista convicto, porém, cegavam-no a inconformação e a revolta. Qualquer advertência dos instrutores espirituais era interpretada ao inverso.  Se o amigo do outro lado da vida aludia à paciência, não enxergava ele a informação própria e sim o defeito alheio, ou a insuficiência dos outros. Se ouvia dissertações sobre a caridade, lembrava os afortunados do mundo, com ironia. Benjamim era, afinal, desses enfermos que consideram o remédio excelente para outrem, mas, nunca para si mesmos. Enquanto Leonel se valia das consolações da Igreja Católica para consolidar tradições autocráticas, Benjamim esquecia as lições do Espiritismo, para armazenar indisciplinas e difundir desesperações.

Absolutamente envenenados de teorias mentirosas, terminaram ambos a experiência humana, na posição de inimigos irreconciliáveis.

Despertando na vida real, sentiam-se estranhamente algemados um ao outro. Cercavam-nos sombras espessas e tristes; e como se houvessem enlouquecido, perdendo a luz da memória, somente a custo de muitos anos conseguiram fixar recordações das existências obscuras.

Quando a lembrança lhes felicitou o espírito abatido, compreenderam a situação, desolados, e puseram-se à procura daquele mentor generoso que lhes havia banhado o coração de sábios conselhos.

Depois de longo tempo, que lhes marcou angústias dilacerantes, foram readmitidos à presença do carinhoso orientador, que, ante as lágrimas de ambos, exclamou serenamente:

— Não estranho a dor que lhes fere o espírito enfermo, à face do tempo perdido e do ensejo malbaratado. Não lhes faltou inspiração divina para o êxito necessário. Entretanto, esqueceram, mais uma vez, a lei do uso, internando-se no abuso criminoso, olvidando que pobreza e fortuna constituem oportunidades do serviço divino na Terra. Os que administram são mordomos, os que obedecem são operários, mas, no coração augusto de Nosso Pai, estamos inscritos indistintamente na categoria de cooperadores de suas obras. Se era justo obter moderação, paciência, confiança, fé e resistência sublime com os valores da pobreza, e ganhar humildade, ponderação, entendimento, autodomínio, bondade e paz com os valores da riqueza, adquiriram vocês desesperação, rebeldia, vaidade e ruína. Não posso asseverar que voltaram piores que no passado escabroso, porque ninguém regride na evolução perpétua da vida; mas posso afiançar que voltaram mais sujos. A crise de ambos é de estacionamento complicado. Enquanto outros irmãos nossos costumam deter a marcha em jardins ou florestas, preferiram vocês a parada em lamaçal inconcebível. Valeram-se das sagradas posições de administrar e obedecer, tão só no propósito de oprimir e menosprezar. Esqueceram que todo trabalho honesto, no mundo, é título da Confiança Divina.  Não observo qualquer traço de superioridade moral entre um e outro. Ambos faliram desastradamente. É a dolorosa experiência dos que prometem sem saberem cumprir, é o fracasso do aprendiz pelo descuido próprio. Não vos declarei que pobreza e riqueza são continentes da probabilidade? Cultivaram, porém, a terra das concessões benditas, enchendo-a de ervas venenosas e povoando-a de monstros e fantasmas. Mascararam-se a si mesmos e caíram no pântano. Que posso fazer, agora, senão lamentar a imprevidência?

Ambos os companheiros de infortúnio ouviam-no em pranto.

Reunindo todo o cabedal de energias próprias, Leonel adquiriu coragem e interrogou:

— Não poderíamos, entretanto, recomeçar juntos a prova da fortuna e da pobreza? Estou convencido de que venceremos agora.

— Sim — respondeu o instrutor sabiamente —, a medida é possível. No entanto, segundo observei, vocês regressaram enlameados. A oportunidade desejável, por enquanto, é a de se lavares convenientemente, a fim de prosseguir caminho.

Calou-se o mentor amigo. Leonel e Benjamim entenderam sem dificuldade. E depois de algum tempo renasciam na Terra, procurando o tanque fundo e vasto do sofrimento.

 HUMBERTO DE CAMPOS

Reportagens do Além Túmulo

 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

DESPERTAR OS QUE DORMEM - LAMMENAIS ''Os grandes acontecimentos são sempre precedidos de anúncios ou sinais para fixar a atenção dos homens na importância do fato que vai realizar-se, a fim de despertar os que dormem.[...]Recordai-vos do Espírito de Verdade prometido por Jesus Cristo - e esperai-o despertos e preparados.[...]algumas nuvens vos impedem de ver todo o esplendor da luz; mas essas nuvens serão varridas por uma vontade soberana, e a verdade brilhará em toda a sua pureza[...]

 


Os grandes acontecimentos são sempre precedidos de anúncios ou sinais para fixar a atenção dos homens na importância do fato que vai realizar-se, a fim de despertar os que dormem.

O fim da igreja pequena é um acontecimento solene, o mais solene e importante de quantos a Humanidade tem presenciado; porque o fim da Igreja de Roma é o começo da igreja universal e o estabelecimento da doutrina de Jesus no entendimento e no coração dos pobres desterrados da Terra.

Os séculos vindouros saudarão com júbilo essa jornada, com o júbilo com que saudais a encarnação e a memória do Cristo. Por isso, o fim da igreja pequena, que é o começo da igreja universal, vem precedido de sinais maravilhosos, que vereis multiplicar-se à medida que os tempos avancem.

E os tempos se precipitam, porque tudo conspira para isso, mesmo aquilo que parece aos homens empecilhos ou obstáculos.

O sinal que precede ao fim da igreja pequena e ao começo da igreja universal é o ensino manifesto dos Espíritos, derramado com maravilhosa e misericordiosa profusão, de um a outro extremo da Terra.

E o ensino dos Espíritos vem, porque é absolutamente necessário; pois é tal o vácuo que há nas crenças, que a Humanidade não poderia despertar sem esse auxílio superior. Antes, porém, do fim da igreja pequena de Roma e do começo da igreja universal de Jesus Cristo, vereis ainda outro sinal:

Ouvir-se-á uma voz que soará por toda parte.

Recordai-vos do Espírito de Verdade prometido por Jesus Cristo - e esperai-o despertos e preparados.

Os pobres filhos dos homens, os infelizes viajores da Terra, ouvirão essa voz suave e atraente, como o murmúrio da brisa e como o perfume da flor, e verão o céu aberto, porque os seus corações se abrirão à esperança e à fé.

Esses tempos vêm pertos; podeis pressenti-los, podeis vê-los, porque estão no vosso horizonte.

O Sol aparece obscurecido aos vossos olhos; algumas nuvens vos impedem de ver todo o esplendor da luz; mas essas nuvens serão varridas por uma vontade soberana, e a verdade brilhará em toda a sua pureza.

Mais um momento, e vereis cumpridas estas palavras.

Irmãos congregados, adorai a Deus.

Despeço-me de vós, deixando-vos o espírito de caridade, de humildade e de adoração do nosso Mestre Jesus Cristo.

A paz seja convosco e com todos os homens.

Lamennais

De Roma ao Evagelhos : Ensino dos Espíritos

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

A VERDADE : A REFLEXÃO, A INSPIRAÇÃO E A REVELAÇÃO.

 


"[...]O Espírito humano se move e se agita sob a influência de três causas, que são: a reflexão, a inspiração e a revelação.[...]reflexão é a riqueza de vossas lembranças, que agitais voluntariamente.[...] A inspiração é a influência dos Espíritos extraterrenos, que se mistura mais ou menos às vossas próprias reflexões[...] A revelação é a mais elevada das forças que agitam o espírito humano, porque ela vem de Deus e só se manifesta por sua vontade expressa; ela é rara, por vezes mesmo inapreciável"

 

A verdade, meu amigo, é uma dessas abstrações para as quais tende o espírito humano incessantemente, sem jamais poder atingi-la. É preciso que ele tenda para ela, pois é uma das condições do progresso, mas sua natureza imperfeita, e é só por isso que ela é imperfeita, não poderia alcançá-la. Seguindo a direção que segue a verdade em sua marcha ascendente, o espírito humano está na rota providencial, mas não lhe é dado ver o seu termo.


Compreender-me-ás melhor quando souberes que a verdade é, como o tempo, dividida em duas partes, pelo momento inapreciável que se chama o presente, a saber: o passado e o futuro. Assim, também há duas verdades, a verdade relativa e a verdade absoluta. A verdade relativa é o que é; a verdade absoluta é o que deveria ser. Ora, como o que deveria ser sobe por graus até a perfeição absoluta, que é Deus, segue-se que, para os seres criados e seguindo a rota ascensional do progresso, só há verdades relativas. Mas por que uma verdade relativa não é imutável, não é menos sagrada para o ser criado.

Vossas leis, vossos costumes, vossas instituições são essencialmente perfectíveis, e por isto mesmo imperfeitas, mas suas imperfeições não vos libertam do respeito que lhes deveis. Não é permitido adiantar-se ao seu tempo e fazer leis fora das leis sociais. A Humanidade é um ser coletivo, que deve marchar, senão em seu conjunto, ao menos por grupos, para o progresso do futuro. Aquele que se destaca da sociedade humana para avançar como criança perdida, para verdades novas, sofre sempre em vossa Terra a pena devida à sua impaciência. Deixai aos iniciadores, inspirados pelo Espírito de Verdade, o cuidado de proclamar as leis do futuro, submetendo-vos às do presente. Deixai a Deus, que mede vosso progresso pelos esforços que houverdes feito para vos tornardes melhores, o cuidado de escolher o momento que ele julga útil para uma nova transição, mas não vos subtraiais nunca a uma lei senão quando ela for derrogada.

Porque o Espiritismo foi revelado entre vós, não creiais num cataclismo das instituições sociais; até este dia ele realizou uma obra subterrânea e inconsciente para aqueles que eram seus instrumentos. Hoje, que ele aflora ao solo e chega à luz, a marcha do progresso não deve deixar de ter uma lenta regularidade. Desconfiai dos Espíritos impacientes, que vos impelem para as vias perigosas do desconhecido. A eternidade que vos é prometida deve levar-vos a ter piedade das ambições tão efêmeras da vida. Sede reservados a ponto de frequentemente suspeitardes da voz dos Espíritos que se manifestam.

Lembrai-vos disto: O Espírito humano se move e se agita sob a influência de três causas, que são: a reflexão, a inspiração e a revelação. reflexão é a riqueza de vossas lembranças, que agitais voluntariamente. Nela o homem encontra o que lhe é rigorosamente útil para satisfazer às necessidades de uma posição estacionária. A inspiração é a influência dos Espíritos extraterrenos, que se mistura mais ou menos às vossas próprias reflexões, para vos impelir ao progresso, é a ingerência do melhor na insuficiência da passagem; é uma força nova, que se junta a uma força adquirida, para vos levar mais longe que o presente; é a prova irrefutável de uma causa oculta que vos impele para a frente, e sem a qual ficaríeis estacionários, porque é regra física e moral que o efeito não poderia ser maior que a sua causa, e quando isto acontece, como no progresso social, é que uma causa ignorada, não percebida, juntou-se à causa primeira de vosso impulso. A revelação é a mais elevada das forças que agitam o espírito humano, porque ela vem de Deus e só se manifesta por sua vontade expressa; ela é rara, por vezes mesmo inapreciável, algumas vezes evidente para aquele que a experimenta a ponto de sentir-se involuntariamente tomado de santo respeito. Repito, ela é rara e ordinariamente dada como uma recompensa à fé sincera, ao coração devotado, mas não tomeis como revelação tudo quanto vos pode ser dado como tal. O homem exibe a amizade dos grandes; os Espíritos exibem uma permissão especial de Deus, a qual muitas vezes lhes falta. Algumas vezes eles fazem promessas que Deus não ratifica, porque só ele sabe o que é e o que não é preciso.

Eis, meu amigo, tudo quanto te posso dizer sobre a verdade. Humilha-te ante o grande Ser, pelo qual tudo vive e se move na infinidade de mundos que seu poder rege. Pensa que se nele se acha toda a sabedoria, toda a justiça e todo o poder, nele também se acha toda a verdade.

PASCAL

 

 

FONTE: REVISTA ESPÍRITA 1865- MAIO -DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS - A VERDADE