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sábado, 18 de maio de 2019

PLANEJAMENTO FAMILIAR,ABORTO,VASECTOMIA,BEBÊ DE PROVETA...

Entrevistando Chico Xavier


50 -Direito de Planejar

ME - O casal tem o direito de programar o número de filhos em sua própria casa?

Diz Allan Kardec em “O Livro dos Espíritos” que o homem deve corrigir tudo aquilo que possa ser contrário à natureza. Hoje, dividem-se as opiniões, mas à frente da problemática da nossa civilização, à frente dos impositivos da educação e da assistência à família, nós, pessoalmente, acreditamos que o casal tem direito de pedir a Deus inspiração, de rogar a Jesus as sugestões necessárias para que não venha a cair em compromissos nos quais os cônjuges permaneçam frustrados.

Somos filho de família numerosa. Pessoalmente sou descendente de uma família de 15 irmãos, mas, de 20 anos para cá, a vida no planeta tem sofrido muitas alterações, e devemos estudar o planejamento com muito respeito à vida e consequentemente a Deus, em nossos deveres uns para com os outros, e não cairmos, em qualquer calamidade por omissão ou deserção dos nossos deveres.
(julho de 1974).

51 Pílula, Anticoncepcional Aperfeiçoado
MN - Chico, muitos companheiros acreditam que as respostas às perguntas 693, 693ª e 694 de “O Livro dos Espíritos” não facultam aos espíritas a possibilidade de planejarem as suas famílias.
O que pensa a respeito?

Diz Allan Kardec, na questão 693 de “O Livro dos Espíritos”: ‘Deus concedeu ao homem sobre todos os seres vivos um poder de que ele deve usar sem abusar”.
De nossa parte, cremos que o problema do planejamento familiar está afeto ao livre-arbítrio dos casais, de vez que, segundo pensamos, cada casal precisa saber o que faz, de modo que a família se forme para cooperar na realização do bem de todos e devido a todos.
Segundo os Benfeitores Espirituais, a ciência terrestre aperfeiçoará de tal modo os anticoncepcionais que serão eles usados sem quaisquer riscos para a saúde humana, de modo que a Terra se liberte das calamidades do aborto e a fim de que o livre-arbítrio funcione, presidindo as responsabilidades dos parceiros das relações afetivas, que precisam usar a própria consciência nos compromissos que assumam.
(abril de 1982)

MN - É lícito o uso de anticoncepcionais?

Estamos diante de um problema em que os conceitos da Ciência e da vida familiar devem ser por nós todos respeitados. Esperemos que o tempo nos faça sentir as vantagens dos anticoncepcionais, compreendendo-se, porém, que os anticoncepcionais não estarão chegando a Terra sem finalidade justa. (julho de 1974)

52- Vasectomia
MN - E o problema da vasectomia? Você acha que os homens devem realizar esse tipo de operação para impedir a procriação?

Não é aconselhável. Não devem fazer, porque a mulher terá sempre um meio de retomar a sua capacidade criativa. A mulher é dotada de recursos que o homem não tem.
Tenho notado que a vasectomia traz uma profunda angústia ao homem, porque parece que ele lesou um patrimônio que lhe pertencia, o dom de criar.
Os homens que conheço e que se submeteram a esse tipo de intervenção não têm alegria de viver. Não se deve violentar os processos da natureza. A mulher pode utilizar-se de outros processos, mas o homem não. (novembro de 1982)

53- Afronta à Vida

FW - Há mães solteiras que abortam por temor a uma moral, ou convenção social muito rigorosa frente a tal condição materna. O que poderia dizer-nos acerca de tais preconceitos que induzem, pressionam ou indiretamente favorecem o aborto?

Pensamos, como os Amigos Espirituais, que a existência de mães solteiras sempre dignas do nosso maior respeito, envolve a existência de pais que não deveriam estar ausentes.
Compreendemos a legitimidade das convenções sociais, veneráveis em seus fundamentos, mas entendemos que não nos será lícito menosprezar, em tempo algum, aqueles que não conseguiram se lhes ajustar aos preceitos.
Sabendo que o aborto, mesmo legalizado no mundo, é uma falha nossa na Terra, estamos certos de que ninguém deveria praticá-lo, seja no regime das convenções humanas ou fora delas. Cremos, desse modo, que uma legislação surgirá no futuro em favor da mulher, que tendo confiado um dia em alguém,teve coragem de não abandonar a criatura indefesa que esse alguém lhe trouxer à vida. Aguardemos, assim, providências humanitárias, em que os homens mais responsáveis criem por si disposições legais magnânimas, baseadas na justiça da vida, com que venham a sanar a falta deixada pelos outros homens, nossos irmãos, que se fizeram pais, sem consciência mais ampla das obrigações que assumiram. (agosto de 1976)

Dr. Rossi (CEU) - Na China já está sendo utilizado um medicamento que, quando ingerido nas primeiras semanas, provoca o aborto sem necessidade de intervenção cirúrgica. O que você pensa disso?

Sempre que faço qualquer referência ao aborto, lembro-me da utilidade do anticoncepcional como elemento de socorro às necessidades do casal. As  duas criaturas querem a união, mas não estão em condições de realizarem  esse ideal; nesse caso, a anticoncepção viria em seu auxílio.
Se minha mãe, quando me esperava, repleta de doenças, quisesse me expulsar, não sei o que seria de mim.
Se há anticoncepcional, por que promover a morte de criaturas nascituras ou  em formação? Com uma terra tão imensa para ser lavrada e aproveitada, é  impossível aplaudir o aborto. Somente podemos entender o aborto terapêutico quando a vida materna está ameaçada. Lembro-me de minha mãe sofrendo por minha causa, e não posso aplaudir. (novembro de 1988)

FW - Existe no Congresso Nacional um projeto legalizando o aborto no Brasil. Seria oportuna uma campanha nacional colhendo manifestações de pessoas e grupos posicionados contra essa legalização?

Não digamos "campanha nacional” porque semelhante legenda está’  suscetível de acordar críticas destrutivas em torno do assunto, criando longos  debates improdutivos.
Consideramos obra de benemerência social o trabalho que se possa efetuar  para conhecimento dos senhores legisladores e outras autoridades, tanto quanto para informação às mulheres, para que colaborem a fim de que a  legalização do aborto no Brasil ou em qualquer outro país do mundo seja frustrada em benefício da maternidade e em louvor da criança.
O serviço dessa natureza, a nosso ver, deve ser realizado com seriedade e respeito, porque ele, de qualquer modo, na hipótese da legalização referida, na nossa opinião não sofrerá alterações quaisquer, por quanto além do aborto delituoso ser medida inaceitável para o campo de atividades espíritas-cristãs, é, acima de tudo, uma afronta às leis naturais da vida. (outubro de 1983)

FW - Já existe uma injeção, à base de ácidos que aplicada diretamente no útero da gestante mata o feto, queimando-o. Que dizer dessa prática?

O processo a que se refere a pergunta — no caso do aborto delituoso — é comparável a um assassinato na intimidade do corpo feminino. (setembro de  1983)

FW - Os espíritos abortados perdoam quem pratica, consente ou induz ao aborto?

Não nos seria possível especificar as atitudes da criatura humana nos problemas do aborto delituoso. A esfera dos espíritos desencarnados,  profundamente vinculados à existência, é semelhante à faixa de ação dos homens, propriamente considerada. Temos irmãos desencarnados aptos a perdoar a irresponsabilidade da mulher ou do homem que pratica ou incentiva o aborto delituoso. Existem, também, aqueles outros que influenciam negativamente na gestação e no desenvolvimento da criança nascitura, em  lastimáveis processos de obsessão. (setembro de 1983)*


* Nesse mesmo dia, no pátio do Grupo Espírita da Prece, Augusto César Vanucci e sua equipe de artistas apresentava a Chico Xavier a peça Além da Vida, que tem também entre seus quadros um esclarecimento contra o aborto. Eram três horas do amanhecer de domingo, quando o médium Chico Xavier fez a prece de encerramento, todos de mãos dadas, público e artistas. Antes e depois do espetáculo, conversei muito com Vanucci sobre algo novo que surge de forma criativa no Brasil: a arte comoveículo de divulgação do kardecismo consolador. (FW)

MN - Chico, o aborto, está sendo liberado em quase todo o mundo. Você acredita realmente nas tendências cristãs do povo brasileiro para rechaçar uma medida como esta?

Felizmente parece que, no Brasil, pelo menos a maioria das autoridades (sejam elas de caráter administrativo ou religioso) é contrária a essa  calamidade de legalização do aborto.

Acreditamos que em muitos países, talvez pelo interesse em conter a explosão demográfica, determinados setores apoiaram ou apoiam o aborto legalizado. Mas acreditamos que essas nações voltarão a fazer uma  reconsideração de comportamento em relação ao assunto, porque em qualquer  ocasião de conflito internacional a questão do incentivo à maternidade é largamente praticado, porque em todos os setores surge logo o estímulo ao nascimento de muitas criaturas. Como estamos no Ocidente, sem grandes guerras desde 1945, em nos referindo à vida ocidental propriamente considerada, muitas nações estão achando a legalização do aborto um triunfo para as nossas irmãs, as mulheres, mas acreditamos que esses países, futuramente, voltarão a fazer uma revisão dessa legislação.
Na condição de cristãos, não podemos apoiar o aborto, que seria um crime sempre cometido com absoluta impunidade entre as paredes domésticas.
Acreditamos que o anticoncepcional é um recurso que nos foi concedido na Terra pela Divina Providência para que a delinquência do aborto seja sustada, uma vez que a criatura humana, por necessidade de revitalização de suas próprias forças orgânicas, naturalmente precisará do relacionamento sexual,
entre os parceiros que estão compromissados no assunto, mas usarão esse agente anticoncepcional para que o crime do aborto seja devidamente evitado em qualquer parte do mundo.
Mais hoje, mais amanhã, as nações entrarão em acordo a esse respeito, porque não é possível que estejamos exterminando crianças absolutamente personificadas, formadas, vivas, com o apoio das autoridades que nos governam. É absolutamente impossível aplaudir uma coisa dessas. (junho de1980)

54- Bebê de Proveta, Escolha de Sexo e Útero de Empréstimo
FW - O que dizer da interferência do homem na intimidade do genes, experimentando desenvolver a vida humana em tubos de ensaio, da seleção e cruzamento em provetas, dos úteros alugados, do desequilibro biológico pela escolha de sexo da futura criança?

Compreendemos que a Ciência, na Terra, dispõe de meios para qualquer experimentação nos setores da genética. Os Instrutores Espirituais afirmam, entretanto, que esse tipo de experimentação deve merecer o máximo cuidado da parte de quantos se encarregam da orientação do mundo. Para evitar incursões na teratologia, com evidente menosprezo da personalidade humana;
e afim de coibir abusos que funcionariam em prejuízo do equilíbrio espiritual nos grupos sociais da Terra, devemos pedir o amparo da Providência Divina, para que a inteligência do homem espere mais alguns séculos afim de entrar no assunto. (agosto de 1976)

FW - Ser concebido dentro de uma proveta de laboratório significaria para o nascituro — e ou para seus pais — uma provação a ser aceita e superada?

Consideramos o assunto com sadio otimismo, desde que o óvulo fertilizado em proveta, com o apoio de autoridades respeitáveis, para a implantação no claustro feminino revele senso de maturidade espiritual na mulher que assume a maternidade consciente, em plenitude de responsabilidade entre a vida que passa a acalentar no próprio regaço. 
(setembro de 1978)

FW - A circunstância de ser concebido artificialmente, e só dois dias e meio depois ser transportado para o útero materno, significaria para o espírito que vai nascer desse recurso de manipulação científica alguma limitação espiritual para o bebê?

Não vemos qualquer limitação espiritual para o bebê, de vez que o processo da reencarnação para o espírito experimenta menos riscos, porquanto estará sob o apoio mais completo da responsabilidade humana.

FW - A fecundação e criação de bebês de proveta em série, quem sabe até em escala industrial, o que representa uma hipótese possível, não trará para a humanidade problemas psíquicos e espirituais de envergadura imprevisível?

A evolução moral dos povos não permitirá a criação de semelhante indústria, ou o homem estará rebaixando o nível de conhecimento superior em que se encontra, com perigosos comprometimentos para a humanidade inteira.

FW - Sabendo-se que nada no Universo acontece por acaso, e sim que tudo obedece aos planos e à permissão do Alto, é razoável deduzirmos que os espíritos que devem vir à luz ao nosso Mundo por este caminho são previamente preparados para esta via de nascimento?

Sim, quando a Ciência na Terra, iluminada pela bênção da fé na imortalidade puder intervir no auxílio, realmente digno, ao trabalho da genética no campo humano, sem nenhuma disposição para extravagâncias e abusos através de experimentações absolutamente desaconselháveis, a implantação do óvulo fertilizado no claustro da mulher responsável evitará muitos desastres na reencarnação, especialmente os que se referem ao aborto sem justificativas.

FW - Quais, então, são os perigos presentes e futuros que essa manipulação dos genes pode gerar à vida nos dois planos da matéria?

O materialismo inteligente e cruel, sem qualquer ideia de Deus e da imortalidade da alma, é o perigo que ameaça a manipulação dos recursos genéticos sem responsabilidade, mas devemos confiar nos homens de bom senso e de espírito humanitário que, através das legislações dignas, podem e devem coibir quaisquer abusos suscetíveis de aparecer no campo das pesquisas de caráter delituoso e inconsequente. Confiemos no amparo e na inspiração dos Mensageiros do Cristo, em auxílio das coletividades humanas.

(Respostas de Emmanuel)

55-Mãe de Aluguel
FW - Aluguel de úteros maternos é uma realidade a ser alcançada
brevemente por cientistas e pesquisadores.
Procede mal uma mulher que, por necessidade econômica e material, alugue seu útero para a gestação de um óvulo fecundado que não lhe pertence? Tal subterfúgio ou recurso extra não traria consequências ao nascituro?

As mães incapazes de amamentar os próprios filhos recorrem aos préstimos de companheiras que as assessoram nesse mister ou aproveitam outros recursos para a alimentação dos recém-natos. Quando a mulher se dispõe a ser mãe, consciente e digna do elevado encargo de se responsabilizar por determinadas vidas, sem possibilidades próprias para isso, julgamos justo que uma companheira, se possível, tome a si o trabalho de gestar, em favor dela, o filho ou os filhos que essa mulher digna da maternidade consciente se propõe receber nos próprios braços.

FW - Transgredirá a lei moral de Deus a mulher solteira que queira ter filhos sem o intercurso sexual com seu companheiro masculino, ou seja, engravidando através da inseminação artificial?

No caso, o problema é estritamente de natureza consciencial. (setembro de1978)


MN - Quando a mãe de aluguel dá à luz uma criança deficiente e a mãe que a encomendou não a aceita, como resolver o impasse do ponto de vista legal e espiritual? Nesse particular, a adoção deve ser incentivada, tendo em vista o número de rejeições constatadas, isto é, a devolução das crianças adotadas?

O assunto nos parece demasiadamente complexo, porque se assumo determinado compromisso, a meu ver, não deve existir algo que me impeça a obrigação de cumpri-lo.
Não entendo rejeição, em matéria de dever voluntariamente procurado ou aceito. Diante, porém, da insegurança compreensível de muita gente, que vacila ante os resultados das próprias escolhas, cremos que a Justiça entrará na solução dos problemas em foco, afim de que ninguém faça a alguém joguete dos caprichos a que se afeiçoem. (novembro de 1983)

Do livro “Lições de Sabedoria 



Infortúnio materno



 "Cristalizada, contudo, na preguiça, qual flor inútil a viver no luxo dourado, por doze vezes pratiquei o aborto confesso… Surda aos ditames da consciência que me ordenava o apostolado maternal, expulsei de mim os antigos laços que em outro tempo se acumpliciavam comigo na delinquência, assassinando as horas de trabalho que o Senhor me havia facultado no campo feminino… E, após vinte anos de teimosia delituosa, ante o auxílio constante que me era conferido pelo Amparo Celestial, nossos Benfeitores permitiram, para minha edificação, fosse eu entregue aos resultados de minha própria escolha… Enlaçada magneticamente àqueles que a Divina Bondade me restituiria por filhos ao coração e aos quais recusei guarida em minha ternura, fui obrigada a tolerar-lhes o assalto invisível, de vez que, seis deles, extremamente revoltados contra a minha ingratidão, converteram-se em perseguidores de minha felicidade doméstica…"

                                             **

Em pleno hospital da Espiritualidade, pobre criatura estendeu-nos o olhar suplicante e rogou:

— O senhor consegue escrever para a Terra?

— Quando mo permitem — repliquei entre pesaroso e assombrado.

Quem era aquela mulher que me interpelava desse modo?

A fisionomia escaveirada exibia recordações da morte. A face inundada de pranto tinha esgares de angústia e as mãos esqueléticas e entrefechadas davam a ideia de garras em forma de conchas.

Dante não conseguiria trazer do Inferno imagem mais desolada de sofrimento e terror.

— Escreva, escreva! — repetia chorando.

— Mas escrever a quem?

— Às mulheres… — clamou a infeliz. — Rogue-lhes não fujam da maternidade nobre e digna… peço não façam do casamento uma estação de egoísmo e ociosidade…

Os soluços a lhe rebentarem do peito induziam-nos a doloroso constrangimento.

E a infeliz contou em lágrimas:

— Estive na Terra, durante quase meio século… Tomei corpo entre os homens, após entender-me com um amigo dileto que seguiu, antes de mim, no rumo da arena carnal, onde me recebeu nos braços de esposo devotado e fiel. Com assentimento dos instrutores, cuja bondade nos obtivera o retorno à escola física, comprometemo-nos a recolher oito filhinhos, oito corações de nosso próprio passado espiritual, que por nossa culpa direta e indireta jaziam nas furnas da crueldade e da indisciplina… Cabia-nos acolhê-los carinhosamente, renovando-lhes o espírito, ao hálito de nosso amor… Suportar-lhes-íamos as falhas renascentes, corrigindo-as pouco a pouco, ao preço de nossos exemplos de bondade e renúncia… Nós mesmos solicitáramos semelhante serviço… Para alcançar mais altos níveis de evolução, suplicamos a prova reparadora… Saberíamos morrer gradativamente no sacrifício pessoal, para que os associados de nossos erros diante da Lei Divina recuperassem a noção da dignidade.

 A triste narradora fez longa pausa que não ousamos interromper e continuou:

— Entretanto, casando-me com Cláudio, o amigo a que me reportei, fui mãe de um filhinho, cujo nascimento não pude evitar…

Paulo, o nosso primogênito, era uma pérola tenra em nossas mãos… Despertava em meu ser comoções que o verbo humano não consegue reproduzir… Ainda assim, acovardada perante a luta, por mais me advertisse o esposo abençoado, transmitindo avisos e apelos da Vida Superior, detestei a maternidade, asilando-me no prazer… Cláudio era compelido a gastar largas somas para satisfazer-me nos caprichos da moda… Mas a frivolidade social não era o meu crime… Nas reuniões mundanas mais aparentemente vazias pode a alma aprender muito quando resolve servir ao bem…  Cristalizada, contudo, na preguiça, qual flor inútil a viver no luxo dourado, por doze vezes pratiquei o aborto confesso… Surda aos ditames da consciência que me ordenava o apostolado maternal, expulsei de mim os antigos laços que em outro tempo se acumpliciavam comigo na delinquência, assassinando as horas de trabalho que o Senhor me havia facultado no campo feminino… E, após vinte anos de teimosia delituosa, ante o auxílio constante que me era conferido pelo Amparo Celestial, nossos Benfeitores permitiram, para minha edificação, fosse eu entregue aos resultados de minha própria escolha… Enlaçada magneticamente àqueles que a Divina Bondade me restituiria por filhos ao coração e aos quais recusei guarida em minha ternura, fui obrigada a tolerar-lhes o assalto invisível, de vez que, seis deles, extremamente revoltados contra a minha ingratidão, converteram-se em perseguidores de minha felicidade doméstica… Fatigado de minhas exigências, meu esposo refugiou-se no vício, terminando a existência num suicídio espetacular… Meu filho, ainda jovem, sob a pressão dos perseguidores ocultos que formei para a nossa casa, caiu nas sombras da alienação mental, desencarnando em tormento indescritível num desastre da via pública, e eu… pobre de mim, abordando a madureza, conheci a dolorosa tumoração das próprias entranhas…  A veste carnal, como que horrorizada de minha presença, expulsou-me para os domínios da morte, onde me arrastei largo tempo, com todos os meus débitos terrivelmente agravados, sob a flagelação e o achincalhe daqueles a quem podia ter renovado com o bálsamo de meu leite e com a bênção de minha dor…

A desditosa enferma enxugou as lágrimas com que nos acordava para violenta emoção e terminou:

— Fale de minha experiência às nossas irmãs casadas e robustas que dispõem de saúde para o doce e santo sacrifício de mãe! Ajude-as a pensar… Que não transformem o matrimônio na estufa de flores inebriantes e improdutivas, cujo perfume envenenado lhes abreviará o passo na direção das trevas… Escreva!… Diga-lhes algo do martírio que espera, além da morte, quantos quiseram ludibriar a vida e matar as horas.

A mísera doente, sustentada por braços amigos, foi conduzida a vasta câmara de repouso e, impressionados com tamanho infortúnio, tentamos cumprir-lhe o desejo e transmitir-lhe a palavra; contudo, apesar do respeito que consagramos à mulher de nosso tempo, cremos que o nosso êxito seria mais seguro se caminhássemos para um cemitério e assoprássemos a mensagem para dentro de cada túmulo.

Fonte: Contos e Apólogos
.Irmão X

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Lei de Sociedade



Pergunta 766 - A vida social está em a Natureza? - "Certamente. Deus fez o homem para viver em sociedade. Não lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação."

Pergunta 775 -Qual seria, para a sociedade, o resultado do relaxamento dos laços de família? - "Uma recrudescência do egoísmo."

1 - O INTERCÂMBIO SOCIAL

O homem, inquestionavelmente, é um ser gregário, organizado pela emoção para a vida em sociedade.

O seu insulamento, a pretexto de servir a Deus, constitui uma violência à lei natural, caracterizando-se por uma fuga injustificável às responsabilidades do dia-a-dia.

Graças à dinâmica da atualidade, diminuem as antigas incursões ao isolacionismo, seja nas regiões desérticas para onde o homem fugia a buscar meditação, seja no silêncio das clausuras e monastérios onde pensava perder-se em contemplação.

O Cristianismo possui o extraordinário objetivo de criar uma sociedade equilibrada, na qual todos os seus membros sejam solidários entre si.

O "negar o mundo", do conceito evangélico, não significa abandoná-lo, antes criar condições novas, a fim de modificar-lhe as estruturas negativas e egoísticas, engendrando recursos que o transformem em reduto de esperança, de paz, perfeito símile do "reino dos céus", a que se reportava Jesus.

A vivência cristã se caracteriza pelo clima de convivência social em regime de fraternidade, no qual todos se ajudam e se socorrem, dirimindo dificuldades e consertando problemas.

Viver o Cristo é também conviver com o próximo, aceitando-o conforme suas imperfeições, sem constituir-lhe fiscal ou pretender corrigi-lo, antes acompanhando-o com bondade, inspirando-o ao despertamento e à mudança de conduta de 'motu proprio'.

A reforma pessoal de alguém inspira confiança, gera simpatia, modifica o meio e renova os cômpares com quem cada um se afina.

Isolar-se, portanto, a pretexto de servir ao bem não passa de uma experiência na qual o egoísmo predomina, longe da luta que forja heróis e constrói os santos da abnegação e da caridade.

Criaturas bem-intencionadas sonham com comunidades espiritualizadas, perfeitas, onde se possa viver em regime da mais pura santificação.

Assim tocadas, programam colméias, organizam comitês para tal fim, e os mais ambiciosos laboram por cidades onde o mal não exista e todos se amem ...

Em verdade, tal ambição, nobre, par enquanto impraticável, senão totalmente irrealizável, representa uma reminiscência ancestral das antigas comunidades religiosas onde o atavismo criou necessidades de elevação num mundo especial, longe das realidades objetivas entre os homens em evolução.

Jesus, porém, deu-nos o exemplo.

Desceu das Regiões Felizes ao vale das aflições, a fim de ajudar.

Não convocou os privilegiados, antes convidou os infelizes, os rebeldes e rejeitados, suportando suas mazelas e assim mesmo os amando.

No colégio íntimo, esteve a braços com as sistemáticas dúvidas dos amigos, suas ambições infantis, suas querelas frívolas, suas disputas ...

Não se afastou deles, embora suas imperfeições, não se rebelou contra eles.

Ajudou-os, incansavelmente, até os momentos extremos, quando, sofrendo, no Getsêmani, surpreendeu-os, mais de uma vez, a dormir ...

E retornou ao convívio deles, quando atemorizados, a sustentá-los e animá-los, a fim de que não deperecessem na fé, nem na dedicação em que se fizeram mais tarde dignos do seu Mestre, em face dos testemunhos libertadores a que se entregaram ...

Atesta a tua confiança no Senhor e a excelência da tua fé mediante a convivência com os irmãos mais inditosos do que tu mesmo.

Sê-lhes a lâmpada acesa a clarificar-lhes a marcha. Nada esperes dos outros.

Sê tu quem ajuda, desculpa, compreende.

Se eles te enganam ou te traem, se censuram-te ou exigem-te o que não dão, ama-os mais, sofre-os mais, porquanto são mais carecentes de socorro e amor do que supões.

Se conseguires conviver pacificamente com os amigos difíceis e fazê-los companheiros, terás logrado êxito, porquanto Jesus em teu coração estará sempre refletido no trato, no intercâmbio social com os que te buscam e com os quais ascendes na direção de Deus.

2 - PARTICIPAÇÃO NA FELICIDADE

Quando alguém chora acoimado por este ou aquele problema, fácil é participares do seu drama, dilatando esforços para diminuir-lhe o padecimento.

Ante a fome ou a enfermidade experimentas o apelo aos elevados sentimentos que te concitam à ajuda automática e rápida.

Sem dúvida, todo socorro que se oferta a alguém que sofre é de relevante significação.

Caridade, sim, a dádiva material e o gesto moral de solidariedade.

Indispensável, porém, não te deteres na superfície da realização.

Há os que são solidários na dor, assumindo a posição de benfeitores, em lugar de realce com o que se realizam interiormente.

Todavia, quando defrontam amigos em prosperidade, companheiros em evidência, conhecidos em situação de relevo, deixam-se ralar por mágoa injustificável, transformando-se em fiscais impenitentes e acusadores severos que não perdoam a ascensão do próximo.

Ressentimentos se acumulam nas paisagens íntimas, e, azedos, referem-se ao êxito alheio, vencidos por torpe inveja.

Não sabem o preço do triunfo de qualquer procedência, quando na Terra.

Ignoram os contributos que deve doar todo aquele que se alça a situação de destaque.

Farpas da maledicência e doestos do ciúme, perseguição sistemática disfarçada de sorrisos, ausência de amigos legítimos tornam as ilusórias horas douradas do homem de relevo em momentos difíceis de ser vencidos.

Assume posição diferente.

Sem que te faças interessado no que ele tem ou é, rejubila-te com o progresso de quem segue contigo.

Quando alguém se eleva, com ele se ergue toda a Humanidade. Quando alguém cai é prejuízo na economia moral do planeta.

Solidário na dificuldade do teu irmão, participa dos júbilos do teu próximo para que a ingestão do veneno do despeito e do tóxico da animosidade não te destrua a alegria de viver.

Ser feliz com a felicidade alheia é também forma de caridade cristã.

3- AMIZADES E AFEIÇÕES

Não apenas a simpatia como ingrediente único para facultar que os afagos da amizade te adornem e enlevem o Espírito.

Muito fácil ganhar como perder amigos. Quiçá difícil se apresente a tarefa de sustentar amizades, em vez de somente consegui-las.

O magnetismo pessoal é fator importante para promover a aquisição de afetos. Todavia, se o comportamento pessoal não se padroniza e sustenta em diretrizes de enobrecimento e lealdade, as amizades e afeições não raro se convertem em pesada canga, desagradável parceria que culmina em clima de animosidade, gerando futuros adversários.

Nesse particular, existem pequenos fatores que não podem nem devem ser relegados a plano secundário, a fim de que sejam mantidas as afeições.

A planta não irrigada sucumbe sob a canícula. O grão não sepulto morre.

O lume sem combustível se apaga.

A máquina sem graxa arrebenta-se.

Assim, também, a amizade que sem o sustento da cortesia e da gentileza se estiola.

Se desejas preservar teus amigos não creias connsegui-lo mediante um curso de etiqueta ou de boas maneiras, com que, muitas vezes, a aparência estudada, artificial, substitui ou esconde os sentimentos reais. Os impositivos evangélicos que te apliques serão admiráveis técnicas de autenticidade, que funcionam como recurso valioso para a sustentação do bem em qualquer pessoa.

A afabilidade, a doçura, a gentileza de alguém, aparentemente destituído de simpatia conseguem propiciar a presença de amigos, retê-los e torná-los afetos puros para sempre.

Amizades se desagregam ou se desgastam exatamente após articuladas, no período em que os consórcios fraternos se descuidam de mantê-las.

E isso normalmente ocorre como conseqüência de atitudes que se podem evitar:

- o olhar agressivo;

- a palavra ríspida;

- o atendimento hostil ou negligente; a lamentação constante;

- a irreverência acompanhada pela frivolidade; a irritação contínua;

- a queixa contumaz;

- o pessimismo vinagroso ...

Os amigos são companheiros que também têm problemas. Por essa razão se acercam de ti.

Usa, no trato com eles, quanto possível, a bondade e a atenção, a fim de que, um dia, conforme Jesus enunciou: "Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor; mas, tenho-vos chamado amigos, porque vos revelei tudo quanto ouvi de meu Pai", tornando-te legítimo amigo de todos, conseqüentemente fruindo as bênçãos da amizade e da afeição puras.

4 - ABNEGAÇÃO

Mais profunda do que a ação de solidariedade, pura e simplesmente.

Mais nobre do que gesto asceta de desprezo e indiferença pelo mundo.

Mais elevada do que o altruísmo no seu sentido sociológico.

A abnegação é a oferenda de amor ao próximo, que leva ao sacrifício como forma inicial de caridade relevante.

Tem origem nos pequenos cometimentos do auxílio fraternal, com renúncia pessoal, mediante a qual a imolação reserva para quem a exerce a alegria de privar-se de um prazer, em prol do gozo de outrem.

Uma noite de sono reparador trocada pela vigília junto a um enfermo não vinculado diretamente aos sentimentos, quer pela consangüinidade ou por interesse de outra procedência;

a cessão de um bem que é preciso e quiçá faça falta, desde que constitua a alegria de outra pessoa;

a paciência e a doçura na atitude, com esforço e sem acrimônia interna, na desincumbência de um grave mister, dirigido às criaturas humanas;

a jovialidade, ocultando as próprias dores, de modo a não afligir aqueles com os quais se convive;

a perseverança discreta no trabalho mortificante, sem queixa nem enfado, desde que resultem benefícios para os demais;

a ação não-violenta, o silêncio ante a ofensa a não defesa em face de indébitas acusações, consideranndo, com esse esforço sacrificial, não comprometer nem ofender a ninguém, são expressões de renúncia ao amor-próprio, dando lugar à abnegação, que ora escasseia entre as criaturas, e, no entanto, é essencial para a construção do bem entre os homens da Terra.

Um gesto de abnegação fala mais expressivamente do que brilhantes páginas escritas ou discursos de alta eloqüência e rebuscada técnica retórica ...

A abnegação felicita quem a recebe, mas santifica quem a exercita.

O utilitarismo e o imediatismo modernos encontram soluções eufemistas, por meio de processos de transferência para as realizações que recomendam a abnegação de cada um.

Nesse sentido, o egoísmo é um entrave dos mais impeditivos para a consecução do sacrifício com que se pode enflorescer de bênçãos a cruz da abnegação. Diante de um esforço que te cabe brindar a alguém que sofre, não transfiras a oportunidade de ser abnegado.

Sob pretexto algum te poupes à operosa produção da felicidade, se o cometimento te exige abnegação.

Melhor ser o sacrificado pelo bem e pelo progresso dos seres do que o usufrutuário das coisas.

No ato de espalhar o conforto moral, não entreteças opiniões desairosas nem te apresentes na condição de mártir com o fim de inspirares simpatia.

Sê autêntico no dever.

O abnegado se desconhece. Ama com devotamento, e a flama do amor que lhe arde no íntimo raramente dá-lhe tempo para pensar primeiro em si, porquanto os problemas e as dores dos seus irmãos em Humanidade têm para ele regime de prioridade.

Se, todavia, desejares um protótipo que te expresse com mais veemência a grandeza da abnegação, recorre a Jesus que, em se esquecendo de Si mesmo, abraçou a cruz do sacrifício, a tudo renunciando, a fim de, por essa forma, testemunhar o Seu afeto e devoção por todos nós.

Oxalá, assim, a abnegação te dulcifique o ser e te faça realmente cristão.

5 - REFREGAS DA EVOLUÇÃO

Apesar das rudes refregas da luta, não te deixes abater.

Sob o peso de indescritíveis aflições, não te guardes à sombra do desalento.

Mesmo que os caminhos estejam refertos de dificuldades, não estaciones desanimado na jornada empreendida.

Aprende com a natureza: a terra sacudida pelo desvario dos ventos renova-se, cessada a tormenta; o solo encharcado retoma a verdura, e o arvoredo esfacelado cobre-se novamente de flores.

Em toda parte a vida se renova incessantemente, sob o látego das aflições, convidando-te a imitar-lhe o exemplo.

Não permitas, assim, que o pessimismo, esse conselheiro soez, balbucie aos teus ouvidos expressões de desencanto em relação às tarefas elegidas.

Recorda Jesus, abandonado, traído, em extrema solidão, plantando sozinho a espada luminosa do dever, desde então transformada em marco de luz para a Humanidade inteira.

Não te meças por aqueles que tombaram, deixando-te empolgar pelas deficiências deles.

A terra não se sente desrespeitada com o cadáver que lhe macule o solo. Recebe a dádiva da decomposição celular como bênção e transforma os tecidos apodrecidos em energias novas que são preciosas a outras vidas.

Se o companheiro ao teu lado cair, por que te desalentares? Encoraja-te e reflete que, apesar do fracasso dele, necessitas chegar ao fim.

Não te intimides com o insucesso alheio. A correnteza não cessa o curso porque a lama se encontra à frente; atravessa as camadas da dificuldade e surge, novamente límpida, adiante para abraçar o mar que a aguarda ao longe.

Se o amigo não teve a felicidade de manter o padrão de equilíbrio que se fazia necessário, na tarefa empreendida, conduze a mensagem que ele não pode levar aos angustiados que te esperam, ansiosos, à frente.

Fita a face dos triunfadores e deixa-te estimular pelo exemplo deles.

O caminho do Calvário é a história de uma grande solidão e toda a Boa Nova é hino de fidelidade ao dever.

O mestre nem sequer repreendeu Judas, ou censurou Pedro, ou doou taça de fel a Tomé, em dúvida.

Fez-se o atestado vivo e imortal do Pai, transformando-se em caminho para todos os arrependidos que O desejam seguir.

Na Boa Nova, a queda de cada discípulo é uma advertência para a vigilância dos que vêm depois; a deserção do aprendiz representa um convite à perseverança dos novos candidatos à escola universal do amor.

Robustece o ânimo, amigo do Cristo, fita o sol generoso a repetir sem cansaço a mensagem da alvorada diariamente, e segue fiel, de fronte erguida e coração içado ao bem, mantendo a tua comunhão com o Mestre nos deveres que te competem, certo de que não seguirás sozinho.

6 - REFERÊNCIAS ENCOMIÁSTICAS

Agredido pela pedrada rude com que a impiedade zurze a sua malquerença ante o bem em triunfo, não desfaleças na desincumbência do ideal.

O petardo que te alcança, mesmo ferindo a sensibilidade da tua alma ou rasgando a tecedura fisiológica do teu corpo, é bênção de que podes retirar incalculáveis resultados opimos.

O agressor é sempre alguém em aturdimento, de quem a Lei, muitas vezes, se utiliza a fim de chamar-te a atenção e situar-te no devido lugar de trabalhador da causa das minorias do Evangelho.

Perigosa, entretanto, na tarefa a que doas o melhor dos teus sentimentos, é a referência encomiástica (laudatória, aplauso), exaltada e perturbadora.

Semelhante a punhal disfarçado em veludo, penetra-te e aniquila as tuas decisões superiores, fazendo-te desfalecer. É comparável a veneno perigoso em taça de cristal transparente. Chega-se aos lábios da alma, produzindo imediata intoxicação.

Necessário colocar-te em atitude de defesa contra os que aplaudem, os que enaltecem, os que, momentaneamente iludidos, podem transformar os teus sentimentos que aspiram à paz, em perturbações que ensejam a glória efêmera.

Sabes pela experiência que o bom amigo traduz os seus sentimentos invariavelmente pelo testemunho da solidariedade silenciosa, da ação produtiva e do amparo fraternal, e não mediante as palavras explosivas, carregadas de lisonja.

O júbilo que explode no momento de exaltação também se converte em máscara de ira no momento de desgraça.

Poderás identificar o apoio ou a ressalva, o acerto ou o equívoco dos teus cometimentos se te exercitares no hábito salutar da reflexão e do exame das atividades encetadas.

"O bom trabalhador", disse Jesus, "é digno do seu salário." E o salário de quem trabalha com o Cristo é a paz da consciência correta.

O lídimo cristão sabe que tudo quanto faça nada faz, em considerando a soma volumosa de bênçãos que usufrui quando nas tarefas do Senhor.

Não te deixes, portanto, perturbar pela balbúrdia dos companheiros aturdidos, de palavras fáceis, gestos comovidos que te trazem o encômio vulgar, instrumentos, quiçá, de mentes levianas da Espiritualidade inferior interessadas na tua soberba e na tua queda.

Vigia as nascentes donde procede o elogio e não o apliques a ninguém, nem te facultes recebê-lo de ninguém.

E' verdade que todos necessitam do estímulo. Entre o estímulo sadio e a palavra enganosa medeia uma grande distância.

Poderás incutir no teu amigo o estímulo de que ele precisa.

Um gesto de ternura numa expressão da face em júbilo edificante, mediante a palavra bem dosada com expressões de equilíbrio, terçando armas ao lado, quando ele necessita de alguém e participando com ele da experiência da fé, no amanho do solo dos corações com o arado da caridade e a perseverança do tempo, são atestados inequívocos de aplauso nobre.

Encômios, Jesus, o modelo excepcional de todos nós, nunca os recebeu dos que O cercavam. A dúvida, porém, a suspeição rude, a injunção negativa, a coroa de espinhos, o cetro do ridículo, o manto da chocarrice e a cruz da ignomínia sim, Ele os aceitou em silêncio, e, não obstante, representava a Verdade máxima que jamais a Terra recebera.

Não pretendas, a serviço d'Ele, superá-lO sem lograr sequer o que Ele jamais almejou: o triunfo equivocado das criaturas humanas.

Preserva-te nos postulados e tarefas do bem e, ocorra quanto ocorrer, sê-Lhe fiel sem fantasias, sem enganos e sem aceitar as expressões encomiásticas que tantos têm iludido e derrubado no cumprimento do dever.

Joanna de Ângelis

Do Livro : As Leis Morais da Vida

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Na hora do passe





Dirigia José Petitinga distinta organização espírita na capital baiana, quando um rapaz, interessado em grandes projetos de assistência social, veio procurá-lo.


E entre ambos a conversação se alongou.

— Petitinga, não podemos ficar parados. A hora é de trabalho, trabalho…

— Também penso assim.

— Que acha você levantarmos um orfanato para as criancinhas desamparadas de Salvador?

— Excelente projeto.

— E um sanatório para obsidiados?

— Muito importante.

— E uma vila completa para os nossos irmãos infelizes que moram em casebres misérrimos? Uma vila, Petitinga, em que pudéssemos reunir muitas famílias?

— O plano é uma bênção.

— Um lar para velhinhos é uma necessidade… Às vezes volto para a casa, à noite, e vejo anciãos na calçada. Que diz você de um albergue moderno, de amplas proporções?

— Isso seria uma concessão de Deus.


 — Noto igualmente que precisamos de um instituto diferente para os alcoolizados. Uma casa-hospital, em que os internados esqueçam o vício… Que opinião é a sua?


— Nem tenho expressões. Uma obra dessas é um monumento de amor.

 — E uma escola? Que diz você de uma escola? — Uma escola, em bases espíritas, é caminho do Reino de Deus.

Petitinga não cabia em si de contente.

Afinal — pensava — surpreendera ave rara.

Alguém que iria longe, homem disposto a trabalhar e a sofrer pela causa.

E como o tempo passava e tinha serviço urgente, convidou:

— Bem, meu amigo, a sua palavra brilha para mim. Continuemos conversando em serviço. Estou justamente na hora do passe a dois irmãos tuberculosos e terei muito prazer no seu concurso…

Mas o moço, incompreensivelmente, alterou o semblante. Fez-se lívido. Repetiu, várias vezes, o gesto de quem expulsa a poeira do paletó, e ele, que sonhava tantas obras de caridade, respondeu, desenxabido:

— Ora, Petitinga, isso não. Você compreende. Não posso buscar moléstias contagiosas. Tenho família.

E lá se foi…


Livro : A Vida Escreve


.Hilário Silva/Psicografia de Francisco C. Xavier



quinta-feira, 28 de março de 2019

HIGIENE DA ALMA (BEM-AVENTURADOS OS LIMPOS DE CORAÇÃO - MT 5:8)

 

I.
IMPUREZAS E SEUS EFEITOS

Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos antigos?

Perguntaram os fariseus e escribas, ao verem alguns discípulos de Jesus comerem sem antes de lavar as mãos (Mc 7:1/5).

Lavar as mãos antes de se alimentar é um bom preceito de higiene, Jesus não estaria contra essa prática, mas escribas e fariseus tornavam esses e outros preceitos, úteis embora mas de ordem terrena, como condição de pureza espiritual.

Por que transgredís vós o mandamento de Deus pela vossa tradição? Respondeu Jesus.
Deus ordenou: Honra a teu pai e à tua mãe. Vós dizeis: Qualquer que disser ao pai ou à mãe é corbã (oferta ao Senhor) o que poderias aproveitar de mim, esse não precisa honrar nem a seu pai nem a sua mãe. E assim invalidastes pela vossa tradição o mandamento de Deus (Mt 15:3/9).

Mostrava Jesus que eles, quando lhes interessava, burlavam a lei que, no momento, pretendiam defender.

E, chamando a si a multidão, que vivia sobrecarre¬gada e confusa ante tantas ordenações, disse: Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai dele, isso é que contamina o homem (Mc 7:15).

Mais tarde, os discípulos interrogaram Jesus a respeito, pedindo explicasse melhor o que queria dizer com isso (Mc 7:20/23), ao que o Mestre complementou:

O que sai do homem isso contamina o homem. Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução (perversão de costumes), a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem.
POR QUE NOS PREOCUPARMOS EM SER PUROS?

Pelas consequências que as impurezas acarretam.

Impurezas físicas causam odores desagradáveis e, quando se acumulam, acarretam dificuldade das funções, irritações na pele ou dificuldade na audição, e até doenças.

Espiritualmente, as impurezas da alma produzem emanações negativas, desagradáveis, deficiência e desequilíbrio das funções espirituais, e até reflexos no físico.

Ao paralítico de Betesda, que estivera enfermo por 38 anos, Jesus que o curara, disse: Eis que já estás são; não peques mais, para que não te suceda algo pior (Jo 5:1/15).

II. AÇÃO DO ESPÍRITO SOBRE OS FEUIDOS

Como é possível que o espírito influa no físico? No livro A Gênese, Allan Kardec esclarece, falando das leis e as forças (cap. VI, item 10) e sobre as criações fluídicas (cap. XIV, itens 14/21), que merecem ser consultados. Do muito que ali aprendemos, resumamos o essencial.
FLUIDO CÓSMICO UNIVERSAL

E a matéria cósmica primitiva. Dá origem ao que é material no universo, substâncias e coisas, e à parte material que existe nos seres.

Preenche o espaço e envolve e penetra os corpos.

A esse ECU. são inerentes as leis e forças que regem o mundo e que conhecemos como gravidade, coesão, afinidade, atração, magnetismo, eletricidade ativa, movimentos vibratórios, como o som, a luz e o calor.
FLUIDOS ESPIRITUAIS

E' a denominação de um de seus estados, porque constituem esses fluidos a atmosfera dos seres espirituais.

Nessa atmosfera sutil ocorrem fenômenos especiais. Assim, como a atmosfera de ar veicula o som, a atmosfera espiritual, fluídica, veicula o pensamento.
E é o meio onde se forma a luz peculiar ao mundo espiritual, que não se ilumina pela luz do sol ou a artificial.
AÇÃO SOBRE FLUIDOS

Dessa atmosfera fluídica, espíritos retiram elementos sobre os quais agem. O homem age sobre a matéria, e o espírito, sobre os fluidos.
O homem age com as mãos e a força muscular, o espírito, com o pensamento e a vontade.
O homem, no laboratório ou na cozinha, dispõe dos elementos, que junta, separa ou combina, e com as substâncias edifica e constrói.
O espírito, agindo sobre os fluidos, os dirige, aglomera ou dispersa e combina, modificando propriedades, organizando formas.
Seu próprio corpo espiritual é assim formado, mas também as vestes, objetos e ambientes do plano fluídico.

Essa "criação" do espírito é consciente ou não, como também na Terra muitas pessoas respiram, ouvem e digerem, sem saber como tudo isso se processa.
IMPREGNAÇÃO DOS FLUIDOS E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Em princípio, fisicamente, os fluidos são neutros, nem bons nem maus. Quando recebem a ação do pensamento e sentimento dos espíritos, encarnados ou não, ficam impregnados por eles e, então, adquirem certas qualidades: como, por exemplo, os fluidos de ódio, inveja, tristeza, ou os de benevolência, alegria e compaixão, que causam efeitos diversificados, excitantes ou calmantes, reparadores ou repulsivos.

Pensamentos e sentimentos maus corrompem os fluidos, como agem os ácidos; os bons os restauram, equilibrando, fortalecendo; os iguais se combinam, os diferentes se repelem e os bons superam os maus, pois a lei divina estabelece sempre o predomínio do bem, do que é positivo.

Pelos nossos pensamentos e sentimentos, quando constantes e intensos:
Imprimimos características especiais:

- nos fluidos do nosso perispírito, acarretando efeitos benéficos ou maléficos sobre nosso corpo. Ex. Os fluidos de tristeza podem causar languidez, depressão; os de cólera, aceleração prejudicial, excitação.

- nos fluidos ambientes, em que, a seguir, temos de viver. Assim, o fumante que impregna de nicotina suas próprias vias respiratórias mas, pela fumaça que expele, embaça a atmosfera em que ele mesmo tem de respirar.

Estruturamos nossa aura

Emanamos usual e constantemente um tipo de fluido que nos envolve e acompanha em todos os nossos movimentos. É a nossa atmosfera individual, como diz Allan Kardec, ou a "túnica de forças eletromagnéticas", o "hálito mental", de que fala André Luiz.

No desencarnado, a aura resulta apenas das emanações perispirituais; no encarnado ela é a difusão dos campos energéticos que partem do perispírito (que não fica circunscrito pelo corpo, irradia ao seu derredor, formando um halo em volta do corpo físico), mais as irradiações das células físicas.

Pelos fluidos que irradiamos, e o ambiente que formamos, assim, os espíritos podem saber, sem que precisemos falar, qual o tipo, a natureza, de nossos pensamentos e sentimentos habituais.

Estabelecemos afinidade fluídica

Conforme o tipo de fluidos que produzimos habitualmente, oferecemos afinidade, possibilidade de combinação, com os fluidos dos que pensem ou sintam igual a nós. Essa combinação resulta em aumento de nossa potência fluídica, ou em "brecha", quando enseja a corrupção de nossos fluidos ou assimilação de fluidos inferiores.

Conclusão

Há relação de causa e efeito entre espírito e corpo e as impurezas espirituais podem causar desequilíbrio espiritual, sintonia com outras influências semelhantes, refletindo prejudicialmente no físico.
Importa ser puro para manter a nossa integridade, nosso equilíbrio, e ser feliz!
III. IDENTIFICAÇÃO DAS IMPUREZAS

Sofremos angústia, insatisfação, doenças, desarmonias. E' sinal de impurezas, como disse Jesus, dentro do coração. Vigiai, diz Salomão, dia e noite o coração, porque é dele que nos vem, todo o mal e todo o bem, lembra-nos o Marquês de Maricá.

As impurezas estão no coração, no interior de nós mesmos. O sentimento íntimo é que leva a agir e causar efeitos, Como vigiar o coração, examinar o nosso íntimo? Para isso temos a consciência.

Vinícius diz que o espelho reflete nosso exterior: postura, veste, penteado, e a consciência reflete o nosso interior; o caráter, o sentimento. Estamos sabendo usar o espelho da consciência?

Costumamos consultá-lo?

E como está nossa consciência: é um espelho bem polido? Superfície bem plana, regular? Ou está embaçado, com irregularidades?

Se for assim, teremos imagens distorcidas da realidade interior. Existem atos que para o selvagem parecem "normais", como a antropofagia, e que podem causar horror e asco aos civilizados.

Para que nossa consciência possa ser um bom espelho é preciso que esteja evangelizada. Ao jeito do mundo, pode parecer que Tudo está bem! Somos bons! Mas, espelhando-nos no Cristo, veremos as causas de nossas impurezas, que oferecem sintonia a espíritos inferiores e acarretam males a nós próprios e ao nosso redor.
IV. HIGIENE DA ALMA

Ao enxergar impurezas em nós, certamente vamos querer nos limparmos, para nos libertarmos das angústias e males. Mas como é difícil mudar sentimento e pensamento!

Ação externa

Comecemos pela expressão deles. Se não podemos deixar de sentir e pensar no mal, pelo menos não cheguemos à ação.

Não é sermos "sepulcros caiados"?

É Jesus quem recomenda evitemos de concretizar o mal, quando diz:

Se a tua mão ou o teu pé te escandalizar, corta-o, e atira-o para longe de ti (...) se o teu olho te escandalizar, arrancão e lança-o para longe de ti. Não quer o Mestre que nos mutilemos, mas, que vigiemos o que nos vai no íntimo e controlemos os órgãos do sentido, nossa locomoção e ação.

Confirmando o ensino evangélico, o Espiritismo esclarece: Há pecado por pensamento (O Evangelho segundo o Espiritismo, 7, item 7), porque os fluidos atendem ao seu comando. Quem pensa no mal e nisso se compraz, alimenta o desejo, o mal está na plenitude de sua força, o progresso por se fazer. A quem o pensamento do mal acode mas contra ele reage, há progresso em vias de realizar-se. Naquele que nem sequer concebe mais a idéia do mal, o progresso já está realizado.

Ambiente

O meio em que convivemos influi bastante, na medida em que, se falta censura social, há maior facilidade para a expressão do mal que mora no íntimo.

Influi, também, porque, pensando e sentindo, gastamos fluidos, perda que compensamos haurindo fluidos do exterior. Se o ambiente fluídico em que estivermos for espiritualmente insalubre?

Absorveremos fluidos maus.

Mas o lírio, mesmo no lodo, no meio da podridão, não consegue permanecer alvo e puro? Sim, porque nasceu lá, mas, se tivesse de nele penetrar, não se contaminaria? Deus o prendeu lá por raízes, mas ele abre suas pétalas acima do lodo. Se ficar no mesmo nível, se prejudicará.

Jesus não convivia com pecadores? De fato, e dizia: "Os sãos não precisam de médico mas os enfermos". Mas é que estava com eles como o médico convivendo com os enfermos.
Médico das almas, tinha sabedoria e resistência moral para lidar com eles, ajudando-os sem se contaminar. Enquanto nós somos ainda convalescentes das mesmas moléstias da alma.

Os pecadores queriam conhecer Jesus e sua mensagem para sararem, por isso iam até ele, que os recebia caridosamente. Nós, porém, queremos ir ao ambiente mau, para quê?

Quando Jesus ou seus discípulos iam aos ambientes maus, era a trabalho, não para diversão, e não se demoravam. E Jesus recomendava:

Não ireis pelo caminho dos gentios nem entrareis em cidade de samaritanos (Mt 10:5), porque eram ambientes fluídicos que podiam influir negativamente.

Sem deixar de socorrer aos que precisem, quando necessário, evitemos frequentar os maus ambientes, em que os fluidos são prejudiciais.

Ação interna

Purificai as mãos, pecadores, aconselha Tiago, em sua carta (4:8), significando controlai a ação externa, o ambiente; e vós, de duplo ânimo, quem tiver maior disposição para o bem, para o progresso, purificai os corações. A correção do íntimo vai requerer um esforço maior.

Será difícil demais a purificação de nossa alma?

Permitam uma analogia singela. A borracha que estávamos usando para apagar o que estava escrito ficou suja. Como a limparemos?

Empregando-a na sua própria função, porém em papel limpo.

Também temos a faculdade de nos limparmos, no próprio exercício de nossas funções naturais: pensar, sentir e querer.
E assim que agimos sobre os fluidos, damos a eles características. Se queremos renovar nosso interior, basta pensar, sentir e querer, porém não repetindo atividades inferiores e, sim, nos aplicando em atividades nobres, como a oração, o estudo e o serviço espiritual e fraterno.

Já fazemos tudo isso! Sim, esporadicamente, com intermitência e misturado com o mal. Por isso não mantemos constantemente um bom estado vibratório, elevado, sereno.

Ainda bem que ao menos o fazemos de vez em quando. A um repórter que duvidava dos efeitos duradouros das reuniões para despertar o fervor religioso, o evangelista ponderou: Os efeitos de um banho não duram muito, mas precisamos do banho e nos faz bem.

Porém, só a ação equilibrada e constante pode nos dar a segurança de ter sempre uma boa estabilidade moral e física.
O PASSE

E como um banho de fluidos bons! Um recurso de renovação, de purificação fluídica, ou como diz Emmanuel, uma transfusão de energias psicofísicas de uma pessoa para outra.

Pode dar passe quem está bem de saúde e tem fluidos bons, porque sabe manter o equilíbrio emocional, bons pensamentos, sentimentos e atos.

Quem fizer o mesmo também terá bons fluidos e geralmente não precisará tomar passe.

Deve receber passe quem está carente de fluidos, enfermo, em desgaste emocional ou por estar sofrendo grande influência de espíritos sofredores ou maus.

O passe é, então, recurso misericordioso, providencial, ajuda a recompor as energias e a prosseguir caminhando.

Mas quem está equilibrado, com boa vitalidade, não deve tomar passe, porque ele é como um remédio, só toma quem precisa.

Para receber bem o passe, o assistido precisa estar receptivo, desejoso de receber a ajuda, e confiante no seu bom efeito, o que pode ser conseguido com uma orientação fraterna, a preleção evangélico-doutrinária e a prece.

Para o bom efeito do passe durar, quem o recebeu deverá manter a boa conduta, corrigindo atitudes erradas, cultivando bons pensamentos e sentimentos, procurando praticar atos bons. De outro modo, os bons fluidos recebidos no passe serão consumidos rapidamente, porque as atitudes e ações erradas provocarão novos desgastes, fazendo que volte a ficar carente.

Se insistirmos demais em receber passe, sem valorizar o auxílio fluídico recebido pela manutenção da boa conduta, o passe pode acabar deixando de fazer efeito em nós, porque ele é como um empréstimo para quem está em penúria, mas não para que vivamos indefinidamente à custa de outros. A lei divina não permitirá isso, pois dá "a cada um segundo suas obras".
COURAÇA FLUÍDICA

O perispírito é uma fonte fluídica permanentemente ao dispor de nosso pensamento e vontade. Podemos formar nele para nós como que uma couraça fluídica que neutraliza, modifica e repele os maus fluidos.

A solução, portanto, está no agir de cada criatura.

Um dos fariseus convidou Jesus para jantar. O Mestre aceitou, entrou em casa dele e tomou lugar à mesa. E eis que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que ele estava à mesa na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento; e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com unguento.

Ao ver isto, o fariseu que o convidara disse consigo mesmo:

Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, porque é pecadora.

Dirigiu-se Jesus ao fariseu e lhe disse:

— Simão, uma coisa tenho a dizer-te.

Certo credor tinha dois devedores: um lhe devia 500 denários e o outro 50. Não tendo nenhum dos dois com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Qual deles, portanto, o amará mais?

- Suponho que aquele a quem mais perdoou.

— Julgaste bem. Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; esta, porém, regou os meus pés com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. Não me deste ósculo; ela, entretanto, desde que entrei não cessa de me beijar os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta com bálsamo ungiu os meus pés. Por isso te digo:

Perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama.

Quem ama age e age bem, corrigindo ou compensando erros.

Quem ama pouco, não age suficientemente para o bem; nessa pouca atividade para o bem, encontra sua própria condenação.

Dedicando-nos ao bem apagaremos o mal em nós; iremos nos purificando, nos libertando do erro.

Não apenas isso. Passaremos a sentir a vida em maior plenitude, a perceber mais e melhor em nós mesmos, a pujança do espírito e seu mundo maravilhoso.

Então, entenderemos a afirmativa de Jesus:

Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus (Mt 5:8).
Therezinha Oliveira