Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Pedro, o Apóstolo [...]Ignoro a razão por que revestiram a minha figura, na Terra, de semelhantes honrarias. Como homem, não fui mais que um obscuro pescador da Galileia e, como discípulo do Divino Mestre, não tive a fé necessária nos momentos oportunos. O Senhor não poderia portanto, conferir-me privilégios, quando amava todos os seus apóstolos com igual amor.[...] Nada desejais dizer ao mundo sobre a autenticidade dos Evangelhos? — Expressão autêntica da biografia e dos atos do Divino Mestre, não seria possível acrescentar qualquer coisa a esse livro sagrado. Muita iniquidade se tem verificado no mundo em nome do estatuto divino, quando todas as hipocrisias e injustiças estão nele sumariamente condenadas. — E no capítulo dos milagres? — Não é propriamente milagre o que caracterizou as ações práticas do Senhor. Todos os seus atos foram resultantes do seu imenso poder espiritual. Todas as obras a que se referem os Evangelistas são profundamente verdadeiras.[...]Qual o vosso objetivo, atualmente, no Brasil? — Venho visitar a obra do Evangelho aqui instituída por Ismael, filho de Abraão e de Agar e dirigida dos Espaços por abnegados apóstolos da fraternidade cristã.[...]O Reino de Deus ainda é a promessa para todos os pobres e para todos os aflitos da Terra. A Igreja romana, cujo chefe se diz possuidor de um trono que me pertence, está condenada no próprio Evangelho, com todas as suas grandezas bem tristes e bem miseráveis. A cadeira de São Pedro é para mim uma ironia muito amarga… Nestes templos faustosos não há lugares para Jesus, nem para os seus continuadores…



Enquanto a Capital dos mineiros, dirigida pelos seus elementos eclesiásticos, se prepara, esperando as grandes manifestações de fé do segundo congresso Eucarístico Nacional,  chegam os turistas elegantes e os peregrinos invisíveis. Também eu quis conhecer de perto as atividades religiosas dos conterrâneos de Augusto de Lima. 
Na praça Raul Soares,  espaçosa e ornamentada, vi o monumento dos congressistas, elevando-se em forma de altar, onde os atos religiosos serão celebrados. No topo, a custódia, rodeada de arcanjos petrificados, guardando o símbolo suave e branco da eucaristia, e, cá em baixo, nas linhas irregulares da terra, as acomodações largas e fartas, de onde o povo assistirá, comovido, às manifestações de Minas católica.
Foi nesse ambiente que a figura de um homem trajado à israelita, lembrando alguns tipos que em Jerusalém se dirigem, frequentemente, para o lugar sagrado das lamentações, aguçou a minha curiosidade incorrigível de jornalista.
— Um judeu?! — exclamei, aguardando as novidades de uma entrevista.
— Sim, fui judeu, há algumas centenas de anos — respondeu laconicamente o interpelado.
Sua réplica exaltou a minha bisbilhotice e procurei atrair a atenção da singular personagem.
— Vosso nome? — continuei.
— Simão Pedro.
— O Apóstolo?
E a veneranda figura respondeu afirmativamente, colando ao peito os cabelos respeitáveis da barba encanecida.
Surpreso e sedento da sua palavra, contemplei aquela figura hebraica, cheia de simplicidade e simpatia. Ao meu cérebro afluíam dezenas de perguntas, sem que pudesse coordená-las devidamente.
— Mestre — disse-lhe, por fim —, vossa palavra tem para o mundo um valor inestimável. A cristandade nunca vos julgou acessível na face da Terra, acreditando que vos conserváveis no Céu, de cujas portas resplandecentes guardáveis a chave maravilhosa. Não teríeis algumas mensagens do Senhor para transmitir à Humanidade, neste momento angustioso que as criaturas estão vivendo?
E o Apóstolo venerável, dentro da sua expressão resignada e humilde, começou a falar:
— Ignoro a razão por que revestiram a minha figura, na Terra, de semelhantes honrarias. Como homem, não fui mais que um obscuro pescador da Galileia e, como discípulo do Divino Mestre, não tive a fé necessária nos momentos oportunos. O Senhor não poderia portanto, conferir-me privilégios, quando amava todos os seus apóstolos com igual amor.
— É conhecida, na história das origens do Cristianismo, a vossa desinteligência com Paulo de Tarso. Tudo isso é verdadeiro?
— De alguma forma, tudo isso é verdade — declarou bondosamente o Apóstolo. — Mas, Paulo tinha razão. Sua palavra enérgica evitou que se criasse uma aristocracia injustificável, que, sem ele, teria de desenvolver-se fatalmente entre os amigos de Jesus, que se haviam retirado de Jerusalém para as regiões da Bataneia.
— Nada desejais dizer ao mundo sobre a autenticidade dos Evangelhos?
— Expressão autêntica da biografia e dos atos do Divino Mestre, não seria possível acrescentar qualquer coisa a esse livro sagrado. Muita iniquidade se tem verificado no mundo em nome do estatuto divino, quando todas as hipocrisias e injustiças estão nele sumariamente condenadas.
— E no capítulo dos milagres?
— Não é propriamente milagre o que caracterizou as ações práticas do Senhor. Todos os seus atos foram resultantes do seu imenso poder espiritual. Todas as obras a que se referem os Evangelistas são profundamente verdadeiras.
E, como quem retrocede no tempo, o apóstolo monologou:
— Em Cafarnaum, perto de Genesaré, e em Betsaida, muitas vezes acompanhei o Senhor nas suas abençoadas peregrinações. Na Samaria, ao lado de Cesareia de Filipe, vi suas mãos carinhosas dar vista aos cegos e consolação aos desesperados. Aquele sol claro e ardente da Galileia ainda hoje ilumina toda a minha alma e, decorridos tantos séculos depois de minhas lutas no mundo, ao lado de alguns companheiros procuro reivindicar para os homens a vida perfeita do Cristianismo, com o advento do Reino de Deus, que Jesus desejou fundar, com o seu exemplo, em cada coração.
— Os filósofos terrenos são quase unânimes em afirmar que o Cristo não conhecia a evolução da ciência grega, naquela época, e que as suas parábolas fazem supor a sua ignorância acerca da organização política do Império Romano; seus apóstolos falam de reis e príncipes que não poderiam ter existido.
— A ação do Cristo — retrucou o apóstolo — vai mais longe que todas as atividades e investigações das filosofias humanas. Cada século que passa imprime um brilho novo à sua figura e um novo fulgor ao seu ensinamento. Ele não foi alheio aos trabalhos do pensamento dos seus contemporâneos. Naquele tempo, as teorias de Lucrécio, expendidas alguns anos antes da obra do Senhor, e as lições de Filon em Alexandria eram muito inferiores às verdades celestes que ele vinha trazer à Humanidade atormentada e sofredora…
E, quando a figura veneranda de Simão parecia prestes a prosseguir na sua jornada, inquiri, abruptamente:
— Qual o vosso objetivo, atualmente, no Brasil?
— Venho visitar a obra do Evangelho aqui instituída por Ismael,  filho de Abraão  e de Agar  e dirigida dos Espaços por abnegados apóstolos da fraternidade cristã.
— E estais igualmente associado às festas do segundo Congresso Eucarístico Nacional? — perguntei.
Mas, o bondoso Apóstolo expressou uma atitude de profunda incompreensão, ao ouvir as minhas derradeiras palavras.
Foi quando, então, lhe mostrei o rico monumento festivo, as igrejas enfeitadas de ouro, os movimentos de recepção aos prelados, exclamando ele, afinal:
— Não, meu filho!… Esperam-me longe destas ostentações mentirosas os humildes e os desconsolados. O Reino de Deus ainda é a promessa para todos os pobres e para todos os aflitos da Terra. A Igreja romana, cujo chefe se diz possuidor de um trono que me pertence, está condenada no próprio Evangelho, com todas as suas grandezas bem tristes e bem miseráveis. A cadeira de São Pedro é para mim uma ironia muito amarga… Nestes templos faustosos não há lugares para Jesus, nem para os seus continuadores…
— E que sugeris, Mestre, para esclarecer a verdade?
Mas, nesse momento, o Apóstolo venerando enviou-me um gesto compassivo e piedoso, continuando o seu caminho, depois de amarrar, resignadamente, o cordão das sandálias.

.Humberto de Campos
(.Irmão X)


25 de agosto de 1936.

sábado, 15 de abril de 2017

Em sessão prática


A situação no grupo doutrinário apresentava anormalidades significativas. Desentendiam-se os companheiros entre si. Olvidando obrigações respeitáveis, confiavam-se a críticas acerbas. Acentuavam-se hostilidades mal-disfarçadas de cizânia, orientadas pela incompreensão. Ninguém se lembrava d’Aquele humilde e divino servidor que lavara os pés dos próprios companheiros. Cada aprendiz da comunidade chamava a si a posição de comando e o direito de julgar asperamente.
Debalde os mentores espirituais da casa convidavam à ponderação e ao entendimento recíproco.
Os operários descuidados recebiam-lhes as palavras, sem maior atenção pelas advertências educativas.
É que Cláudio e Elias, os dois abnegados diretores invisíveis do agrupamento, não se inclinavam a exortações contundentes.
Entre os desencarnados de nobre estirpe, há também fidalguia, cavalheirismo e gentileza e, na opinião deles, não deviam tratar os irmãos de trabalho como se fossem crianças inconscientes.
Certa noite em que as vibrações antagônicas se fizeram mais fortes, anulando os melhores esforços no campo da espiritualidade edificante, Elias dirigiu-se a Cláudio, sugerindo, esperançoso:
— Creio de grande eficácia a visita de alguns sofredores ao núcleo dos nossos amigos encarnados. Poderiam assim observar, de perto, os efeitos escuros da vaidade e da indisciplina. Amanhã, teremos sessão prática, de há muito tempo esperada, e admito a oportunidade de semelhante lição.
— Excelente medida! — exclamou o colega, satisfeito — não seria razoável recordar obrigações comuns, de modo direto, a cooperadores nossos que estudam o Evangelho, todos os dias. Afinal de contas, não obstante mergulhados na carne, possuem tantos deveres para com Jesus quanto nós, e, se já receberam inúmeras mensagens sobre as necessidades de ordem e concurso fraterno, como insistir com eles no serviço a fazer? O alvitre é, portanto, providencial. Traremos à reunião alguns infelizes, desviados da reta conduta. Observando-lhes os padecimentos, é provável que sintam a lição, com segurança, tornando aos rumos legítimos…
Com efeito, na, noite imediata, duas entidades perturbadas foram trazidas à sessão.
Mais de trinta frequentadores passaram a ouvir a palestra dolorosa.
O doutrinador Silvério Matoso fazia paciente esforço para acalmar os desventurados que choravam ruidosamente, através das organizações mediúnicas.
— Desgraçado de mim! — comentava um deles — sou um réprobo, amaldiçoado de todos! onde o meu equilíbrio? perdi tudo… Não tenho recursos para a locomoção, quanto antigamente!… Vivo no seio de tempestade sem bonança…
Enquanto as lágrimas lhe corriam, copiosas, da face, clamava o outro:
— Que será de mim, relegado às trevas? para onde se foram os miseráveis que me ataram ao poste do martírio? Malditos sejam!.
Acostumado à doutrinação, Matoso dizia, fraternalmente:
— Meus amigos, abstende-vos da desesperação e da revolta! confiemos no Divino Poder! Inspirado diretamente por Elias, o benfeitor espiritual que se esforçava intensamente por gravar a lição da hora, prosseguia, enérgico:
— Viveis presentemente as realidades da alma. Notastes agora que o relaxamento interior no mundo ocasiona grandes males. Desditosos todos aqueles que conhecem o bem e o não praticam! desventurados os rebeldes, os hipócritas e os indiferentes, porque a morte do corpo revela a verdade pura, e as almas transviadas não encontram senão abismos e trevas, lágrimas e tormentos. Jesus, porém, é a fonte inesgotável das bênçãos de paz renovadora. Tende calma e esperança!…
— Sou, todavia, um infame — soluçava uma das entidades comunicantes —, repetidamente escutei palavras da fé santificante e do bem salvador, mas nunca cedi a ninguém. Quis viver as minhas fraquezas, alimentá-las e defendê-las com todas as forças. Nunca ponderei, intimamente, quanto às realidades eternas. Ao alcance de meu coração, fluíam ensinamentos e socorros de toda sorte. Fui muita vez convidado ao Evangelho do Cristo; entretanto, zombei de todas as oportunidades de renovação espiritual. Considerava meus melhores amigos, no capítulo da religião, tão egoístas e mentirosos quanto eu mesmo. Agora… quantas lágrimas devo chorar, eu que desprezei a paz divina e preferi as vibrações infernais?
— E eu? — exclamava o mais revoltado poderá haver trevas mais densas que as minhas? haverá dor maior que esta a devastar-me? Sinto-me desequilibrado, sem direção… Um náufrago perdido no abismo é mais feliz que eu… Rodeiam-me quadros de horror… Experimento fogo e gelo ao mesmo tempo… Podereis, acaso, compreender-me, a mim que penetrei o vale fundo da desgraça?!…
Matoso, porém, orientado espiritualmente por Elias, interferiu, solícito:
— Olvidai, meus irmãos, as algemas da vida material e ligai-vos ao Senhor, pelo coração. É indispensável extirpar a raiz dos enganos adquiridos na Terra! A vida não se resume a impressões físicas, a fantasia corporal; é vibração da eternidade, da divina eternidade! acalmai os sentimentos em desequilíbrio para recolherdes a dádiva dos conhecimentos superiores. Esquecei o mal, tornai ao caminho reto! Atravessais, agora, a zona escura das consequências do erro. É necessário renovar as próprias forças, a fim de reacenderdes a lâmpada da fé.
Assim, Matoso, devagarinho, convenceu as pobres almas desiludidas e desesperadas. Exaltou a necessidade de disciplina, com a desistência do egoísmo e da vaidade, azorragando os maus costumes e os vícios vulgares.
Em terminando a longa palestra, ambos os comunicantes se revelavam diferentes. Despediram-se, revestidos de coragem, esperança e bom ânimo.
A assembleia de ouvintes encarnados mantinha-se sob forte impressão e, entre os invisíveis, Elias e Cláudio aguardavam, ansiosos, a colheita de ensinamentos.
Teriam os circunstantes compreendido que as lições se destinavam a eles mesmos? que ainda se encontravam na carne, com sublimes oportunidades em mão? guardariam as experiências ouvidas? ponderariam sobre as lutas que aguardam os rixosos e imprevidentes, além do túmulo? modificariam as diretrizes?
Ambos os orientadores, benevolentes e sábios, esperavam a manifestação dos amigos, por identificarem o aproveitamento havido, quando a Senhora Costa quebrou o silêncio, murmurando:
— Viram vocês quanta dureza e intransigência?
— É… é… — comentou o velho Silva Torres — pregam eles numerosas peças neste mundo para chorarem no outro..
— E nós, os médiuns — acrescentou Dona Segismunda Fernandes —, devemos suportar semelhantes Espíritos como se fôssemos caixas de pancada.
— Esses infelizes não chegaram a ser identificados — observou Alberto Lima, um dos companheiros mais entusiastas do núcleo —, e foi pena. Pareciam muito cultos e, sobremaneira, versados em matéria religiosa.
— Notei, porém — aduziu outro confrade —, que se não fora a palavra convincente de Matoso teríamos sofrido desastre. Tenho a ideia de que tratamos com entidades não somente sofredoras, mas igualmente perversas.
E o próprio doutrinador da casa,, que recebera a inspiração brilhante de Elias, partilhando a conversação, afiançou, contente:
— Em suma, estou satisfeito. Guardo a convicção de que esses desventurados integram a falange perturbadora que me persegue o lar.
Elias e Cláudio, invisíveis ao raio de observação comum, entreolhavam-se com indizível desapontamento.
Os companheiros encarnados mantinham-se prontos para o comentário cintilante e vivo. Qualificavam os comunicantes, queixavam-se dos sacrifícios a que eram obrigados por semelhantes visitas, reclamavam-lhes a ficha individual, situavam-nos entre os verdugos da vida privada; todavia, não houve um só que entendesse a lição legítima da noite, nela reconhecendo uma advertência do Alto para reajustamento de roteiro, enquanto era tempo.
Ninguém percebeu que, doutrinando os Espíritos, o grupo estava sendo igualmente doutrinado.

.Irmão X
(.Humberto de Campos)
Livro: Pontos e Contos

O CALVÁRIO E A OBSESSÃO



Ele viera para "que os que não criam, cressem", e, para tanto, deveria doar a vida num supremo sacrifício.
 Sabia que os homens, sanguissedentos, diante do Seu holocausto, passariam a encarar melhor a excelência do amor, entregando-se, posteriormente, em imitação ao seu gesto.
 Para uma tão grandiosa oferenda, porém, conjugaram-se as forças díspares em luta no coração das criaturas.
 Claro que não se fariam necessárias as acusações indébitas, a fuga dos amigos, a traição. . . Aos contumazes perseguidores da verdade não faltariam argumentos e manobras hábeis com que colimariam
 as suas metas nefárias.
 Ele sabia que aquela seria a derradeira jornada a Jerusalém. . .
 Ante a algaravia com que O saudaram à entrada, não entremostrou qualquer júbilo. Enquanto os amigos encaravam os aplausos como sinal evidente de triunfo, nEle ressoavam quais prenúncios das grandes dores. . .
 A ternura e passividade de que dava mostras durante aqueles dias inquietavam os mais afoitos, os discípulos mais invigilantes, os que anelavam pela glória terrena, não obstante as incessantes demonstrações e provas de que não estabeleceria no mundo as balizas do reino de Deus, nem tão-pouco a felicidade real. . .
 A precipitação armou Judas de ansiedade, interiormente visitado pela indução hipnótica de Entidades perversas que lhe aproveitaram o desalinho da emoção, interessadas em desnaturar a mensagem e anular a força do amor pacificante.
 As mesmas mentes desarticuladas pelo ódio, contrapondo-se ao "reino do Cordeiro", ante os receios gerais, perturbaram Pedro logo após a prisão do Amigo, fazendo-o pusilânime, em face da negação que se permitiu repetidas vezes. ..
 As mesmas forças da injunção criminosa em aguerrido combate reuniram-se, açoadas pela inveja e despeito, desde o domingo do triunfo aparente, à entrada de Jerusalém, a fim de converterem o Enviado de Deus, no Excelso Crucificado. . .
 Os ódios, confraternizando com os ciúmes, espalharam injúrias que eram glosadas pela ingratidão de muitos que lhe foram comensais da ternura e receberam de Suas mãos o pábulo da vida estuante.
 Fervilhando as constrições obsidentes que se impunham, os adversários da liberdade espiritual da Terra, em desgoverno no Mundo Espiritual, dominaram os que se não armaram de vigilância e equilíbrio, tornando-se fáceis presas do anti-Cristo, a fim de que a tragédia do Gólgota se consumasse. . .
 Jesus, porém, houvera asseverado: "Quando eu for erguido atrairei todos a mim."
 Nenhuma surpresa, portanto, no Senhor, diante dos contornos volumosos da hecatombe que tomava forma contra Ele.
 Em expressiva serenidade esperou o eclodir apaixonado da força violenta dos fracos.
 A noite fria e angustiante, antes da prisão, não lhe abatera o ânimo. Içara-0 a Deus através da oração e dulcificara-O, fazendo-O atingir a plenitude da auto-doação. ..
 As hordas desenfreadas da Espiritualidade inferior galvanizam no ódio os que se permitem as licenças das paixões dissolventes.
 Sempre se repetirão aquelas cenas nos linchamentos das ruas, nas prisões arbitrárias, nas injustiças tornadas legais, quando as massas afluem aos espetáculos hediondos e se asselvajam, tornando-se homicidas incomparáveis. . .
 Como podiam aquelas gentes desconhecer a brandura do Pastor Divino, esquecer Suas concessões e "prodígios"?
 Como puderam selar os lábios aqueles beneficiários da Sua misericórdia e complacência, ante a arbitrariedade dos crimes que presenciavam?
 A covardia moral, abrindo as faculdades psíquicas ao intercâmbio com os Espíritos imperfeitos e obsessores, todo o bem recebido negou, a fim de poupar-se. Transformou o inocente em algoz, em revolucionário desnaturado e elegeu o crime como elemento de justiça. O grande espetáculo da loucura coletiva se aproxima do Calvário. A obsessão coletiva, como tóxico morbífico, domina os participantes da inominável atuação infeliz.
 Ele não se defende, não reclama, nada pede. Submete-se e confia em Deus.
 As aragens da Natureza, de raro em raro na tarde abafada, saturam-se das vibrações do desespero e do ódio que assomam e dominam os corações entenebrecendo as mentes e explodindo no ar.
 Sempre os homens exigirão uma vítima para a sanha dos seus tormentos.
 Jesus é o exemplo máximo, o ideal para a consunção do desar que vencerá os séculos como a mais horrenda explosão coletiva que pastará à História.
 No bárbaro espetáculo, os pretensos dominadores da Erraticidade inferior crêem-se vitoriosos. . . Supõem estabelecidos os parâmetros dos seus domínios no mundo.
 No entanto, quando o clímax da tarde de horror atemoriza as testemunhas da tragédia, Ele relanceia o olhar dorido e lobriga apenas João, Sua mãe e as poucas mulheres abnegadas aos pés da Cruz, fiéis, macerados e intimoratos, confiando. . .
 É o bálsamo da alegria que Iene as imensas exulcerações que O dilaceram.
 Nem todos desertaram. A fúria possessiva da treva não alcançara os que tiveram acesa a luz da abnegação e do amor.
 Olhou além e mais profundamente os presentes e os que se refugiaram longe deles, os que armaram as cenas, os que se locupletam em gozos mentirosos sobre a fugidiça vitória. Seu olhar penetrou os promotores reais do testemunho, aqueles que transitavam livres das roupagens físicas. . .
 No ápice da dor arquejante, bradou Jesus:
— "Perdoa-os, meu Pai! Eles não sabem o que fazem."
 A sinfonia patética logrou, então, o máximo. Toda a orquestração de dor converteu-se em musicalidade de esperança e amor.
 Ele não perdoava apenas os crucificadores, mas, também, os desertores, os negadores, os receosos e pusilânimes, os ingratos e maledicentes, os insensatos e rebeldes... Na imensa gama dos acolhidos pelo Seu perdão, alcançava os promotores desencarnados dos mil males que engendraram nos homens a prova das suas mazelas e o agravamento das suas penas. . .
 Sua voz alcançou os penetrais do Infinito e lucilou nos báratros das consciências inditosas dos anti-Cristos de todos os tempos, abrindo-lhes os braços da oportunidade ao recomeço e à redenção.
A conspiração para que se consumasse o holocausto do Calvário, em que o Filho de Deus testemunhou seu amor pelos homens, foi tramada pelos inimigos impenitentes desencarnados, vencidos pelo despeito na luta pela vitória da violência com que sintonizaram os transitórios donatários da posição governamental e religiosa da Terra, como daqueles que se lhe entregaram a soldo.
 O perdão doado da culminância da Cruz é a aliança inquebrável da união do Seu amor com todos nós, os caminhantes retardatários da via da evolução, convocando-nos à perene vigilância contra a obsessão e qualquer natureza que nos sitia e persegue implacavelmente. . .
 Amélia Rodrigues

domingo, 2 de abril de 2017

Resposta de companheiro



Meu amigo, pede você um roteiro de nosso Plano, que lhe sirva às incursões no campo mediúnico. “A região é quase inexplorada, as surpresas imensas” — diz você desalentado.
Como os velhos portugueses do litoral do Brasil, que perdiam longo tempo, antes de enfrentar a selva fascinante, seus olhos contemplam a magnitude do continente espiritual, sentindo-se você incapaz do serviço de penetração, na terra maravilhosa dos novos conhecimentos. Observa as possibilidades infinitas de realização, a grandeza do serviço a fazer; entretanto, a incerteza impede-lhe a marcha inicial.
Sabe você que os sacrifícios não serão reduzidos. Os bandeirantes antigos, para semearem a civilização no oceano verde, sofreram, muita vez, privações e dificuldades, solidão e angústia indizíveis. Os pioneiros da espiritualidade, nos tempos modernos, para distribuírem a nova luz, na floresta dos sentimentos humanos, não devem nem podem aguardar excursões pacíficas e felizes na esfera imediatista. Experimentarão igualmente os choques do meio, sentir-se-ão quase sós, padecerão a sede do espírito e a fome do coração.
Tochas acesas contra as sombras da ignorância e do convencionalismo inferior, sofrem o desgaste natural de suas possibilidades e energias.
Quem se abalance, pois, no ideal de servir, no campo da mediunidade, espere por lutas árduas de purificação.
A técnica da cooperação com a espiritualidade superior não é diferente daquela que norteia as atividades dos realizadores do progresso humano. É razoável que o individualismo aí prepondere, como coloração inalienável da ação pessoal no trabalho a desenvolver; todavia, esse individualismo deve ajustar-se aos imperativos do supremo bem, apagando-se, voluntariamente, com alegria, para que as claridades da vida mais alta se destaquem no quadro penumbroso da atividade terrestre.
Não é o fenômeno desconcertante e indiscutível a base fundamental da obra. É o espírito de boa-vontade, de sacrifício e renunciação. Ser o medianeiro de fatos transcendentes, que constituam alicerce de grandes e abençoadas convicções, é admirável tarefa, sem dúvida. No entanto, se as demonstrações obedecem a impulsos mecânicos, sem o condimento da compreensão elevada, no setor da responsabilidade, do serviço e do amor fraterno, toda a fenomenologia se reduz a fogo-fátuo. Impressiona e comove, durante a festa, para cair no absoluto esquecimento, nas horas seguintes.
Não basta iniciar a edificação para que o trabalho se realize. É indispensável saber prosseguir e saber terminar. Imprescindível compreender também nesse capítulo que todos os homens do mundo são médiuns, por serem intermediários do bem ou do mal.
As fontes do pensamento procedem de origens excessivamente complexas. E, nesse sentido, cada criatura humana, nos serviços comuns, reflete o núcleo de vida invisível a que se encontra ligada de mente e coração. Não nos cansaremos de repetir que as esferas dos encarnados e desencarnados se interpenetram em toda parte.
Não posso desviar-me, contudo, da linha essencial de sua consulta fraterna. Você, em suma, deseja informar-se quanto ao processo mais eficiente de atender aos imperativos do bem, no intercâmbio com o Plano invisível, e, em face de seu desejo, nada tenho a aconselhar-lhe senão que intensifique sua capacidade receptiva, dilatando conhecimentos, elevando aspirações, purificando propósitos e quebrando a concha do personalismo inferior para poder refletir o infinito.
Mediunidade é sintonia. Cada mente recebe segundo a natureza e extensão da onda de sentimento que lhe é própria.
Subamos, desse modo, a montanha do conhecimento e da bondade. Ajustemo-nos à esfera superior da vida, para merecermos a convivência dos Espíritos Superiores. A virtude primordial em semelhante tarefa não consiste, substancialmente, em ser médium, mas em ser trabalhador fiel do bem, instrumento do Divino Amor, onde quer que você se encontre.
Na execução desse programa, encontrará contínuo engrandecimento de poder espiritual.
Guarde a harmonia de seu vaso físico, faça mais luz em sua mente, intensifique o amor em seu coração e o trabalho será sempre mais lúcido, mais sublime.
Quanto às arremetidas dos descrentes e ironistas do mundo, não se prenda ao julgamento que lhes é peculiar. São mais infelizes que perversos. Em todos os tempos, tanto riem como choram, inconscientemente. Não emito semelhante conceito, para envolver-me em fumaças de superioridade; é que também me demorei longo tempo entre eles, e conheço, de experiência própria, os sorrisos e lágrimas do picadeiro da ignorância.
Siga, portanto, seu caminho, estudando com o Mestre Divino e ouvindo a própria consciência.
Não serei eu, pobre amigo do Plano espiritual, quem lhe vá traçar diretrizes.
No fundo, o que você deseja é o encontro divino com o Senhor, o ideal que me impulsiona agora o espírito de pecador.
Em vista disso, ouçamos juntos a advertência do Evangelho:
— “Negue cada qual a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.” (Lc)
Tem você suficiente disposição para satisfazer o sagrado apelo? Quanto a mim, esteja certo de que, não obstante a condição de alma do outro mundo, é o que estou procurando fazer com toda a sinceridade do coração.

.Irmão X.
LIVRO: PONTOS E CONTOS
S (


sábado, 1 de abril de 2017

Obsessão e dívida


Obsessão e dívida


Quando surgiam casos de obsessão no grupo, recorria-se, imediatamente, a Sinfrônio Lacerda. Era ele, sem dúvida, o companheiro ideal para a situação.
Dotado de altas qualidades magnéticas, sabia orientar como ninguém. Tratava-se, efetivamente, dum amigo generoso e bem-intencionado.
Não regateava a colaboração fraterna aos doentes, nem se inclinava a preferências individuais. Primava pela delicadeza e pela pontualidade onde fosse convidado a contribuir para o bem.
Por sua clarividência admirável, aliada a firme disposição de servir, atingia as melhores realizações.
Especializara-se, por isso, na assistência aos obsidiados, em que obtinha verdadeiros prodígios a lhe coroarem a dedicação.
Sinfrônio, contudo, não obstante a inteireza de caráter e a bondade ativa em determinados setores do serviço, não se conduzia nas mesmas normas, diante dos desencarnados sofredores ou ignorantes.
Dispensava aos médiuns enfermos ou perseguidos o maior carinho, concentrando, porém, sobre as entidades em desequilíbrio a máxima rispidez.
À maneira de grande número de doutrinadores, via nos obsidiados inocentes vítimas e, nos transviados invisíveis, os verdugos de sempre. Em razão disso, tratava os Espíritos infelizes, desapiedadamente.
Não raro, Jerônimo, um de seus mentores espirituais, se lhe fazia visível e recomendava:
— Meu amigo, não te afastes do entendimento necessário. Não vicies o olhar, no capítulo das obsessões. Nem sempre o perseguido está isento de culpas. Os que exibem a carne doente podem ser grandes devedores. Não desejo furtar-te ao espírito de caridade e serviço aos semelhantes, mas devo esclarecer-te que não nos cabe olvidar a obrigação de repartir os recursos do auxílio com as vítimas e os algozes, em porções iguais. Por vezes, Sinfrônio, o desencarnado desditoso é mais digno de amparo que o encarnado aparentemente sofredor. As chagas abertas e as necessidades dolorosas permanecem nos dois Planos. Não te dirijas, pois, às pobres entidades da sombra, com descabidas exigências. Sê enérgico, porque todo sistema de construir ou restaurar demanda robustez de atitudes; entretanto, não sejas cruel nas palavras. Atende aos perturbados da esfera invisível, com decisão e fortaleza de ânimo; todavia, não excluas a fraternidade e a compreensão.
Lacerda, contudo, parecia pouco disposto a observar os pareceres. Não sabia tratar os comunicantes perturbados senão em tom áspero, como quem ordena, sem cogitar dos direitos alheios.
Frequentemente, palestrava sereno e gentil, antes do contato com os irmãos infelizes; no entanto, tão logo se via à frente dos transviados do Além, assumia diversa posição. Emitia conceituação pesada e agressiva, dentro de francas hostilidades.
Desdobrava-se-lhe a experiência sem alterações, quando foi surpreendido por aflitiva ocorrência no próprio lar.
A sua filha Angelina, jovem de quinze anos, revelou perturbações psíquicas muito graves.
Assinalava-se-lhe a enfermidade por desmaios sucessivos e inquietantes. Em plena tranquilidade doméstica, caía, de súbito, palidíssima, ofegante, perdendo a noção de si mesma.
O pai carinhoso, extremamente impressionado com a situação, iniciou o tratamento, através de passes curativos, sem resultados positivos na cura.
Alarmou-se a família, em virtude dos acessos frequentes, e movimentaram-se providências diversas.
A esposa de Sinfrônio reclamou a consulta ao psiquiatra, e o companheiro, embora convicto da legitimidade do fenômeno de obsessão, por verificar a presença do perseguidor, com os próprios olhos, foi compelido a valer-se do especialista, que diagnosticou a epilepsia comum.
As injeções e os comprimidos, porém, não resolveram o problema. A prostração da enferma era cada vez maior.
O genitor, não obstante conhecer centenas de casos daquela natureza, achava-se atônito. A obsessão da filha desconcertava-o. Mobilizara todos os recursos ao seu alcance, sem que se fizesse sentir qualquer resultado satisfatório. Via a entidade perturbadora que lhe minava a tranquilidade doméstica, anotava as ocasiões em que se aproximava sutilmente da jovem, despendia esforços variados, mas não conseguia deslocar o estranho perseguidor.
Às vezes, na intimidade, quando Angelina desfalecia, de súbito, o devotado pai debalde recorria à palavra forte. Acusava o infeliz, asperamente, admoestava-o com rigor. A filha, contudo, parecia piorar com semelhante prática.
Atormentado pela ineficiência do seu método, Sinfrônio, esperançoso, organizou um programa de reuniões semanais, no próprio ambiente da família, buscando atender ao caso complexo.
As manifestações através da obsidiada começaram imprecisas; entretanto, a entidade perturbadora não conseguia articular palavra. Incorporava-se em Angelina, prostrava-a dolorosamente, mas tanto o comunicante quanto a médium pareciam enfermos espirituais em posição grave.
Sinfrônio, na maioria das vezes, internava-se pela extrema excitação.
— No dia em que eu puder falar a esse obsessor infame, na certeza de ser ouvido — comentava, irritadiço —, expulsá-lo-ei para sempre. Movimentarei todos os meus recursos magnéticos para enxotá-lo como se fosse um cão.
Depois de dez meses, decorridos sobre as reuniões sistemáticas, certa noite articulou o infeliz as primeiras frases angustiosas.
Sinfrônio escutou-lhe as lamentações, num misto de sentimentos contraditórios, experimentando, acima de tudo, certa satisfação por atingir a presa na esfera verbal.
— Desventurado salteador das trevas — exclamou o doutrinador após ouvi-lo —, é chegado o momento de tua rendição! Vai-te daqui! Ouve-me as determinações!… Não mais voltes a esta casa! nunca, nunca mais!…
— Não é possível — gemeu o infortunado —, Angelina e eu estamos ligados, desde muitos séculos… e não somente nós ambos sofremos nesta situação… Você também, Sinfrônio, foi meu perverso inimigo… Algemas de ódio me ligam ao seu lar, muito antes que as paredes de sua casa se levantassem…
Sinfrônio Lacerda, neurastênico, interceptou-lhe a confissão e, concentrando todo o seu potencial magnético, bradou, autoritário:
— Nem mais uma palavra! não desejamos ouvir-te! Retira-te, cruel perseguidor!… Ordeno! afasta-te, afasta-te!…
Como se a mísera entidade fora premida por uma pinça de vastas proporções, desgarrou, de chofre, caindo, porém, Angelina em terrível imobilidade.
Esforçou-se o pai por despertá-la, mas em vão. Três, quatro, cinco horas escoaram aflitivas.
Agravado assim o problema, foi chamado o médico, que identificou o estado comatoso.
Depois de catorze horas de angústia, Sinfrônio Lacerda, chorando pela primeira vez, convidou alguns irmãos para uma prece de socorro urgente, desfazendo-se em lágrimas na rogativa de auxílio aos benfeitores espirituais.
Finda a súplica, Jerônimo, o sábio mentor que o acompanhava de perto, falou, conselheirático:
— Meu amigo, todas as obsessões, quanto as moléstias de qualquer procedência, podem ser tratadas, mas nem todas podem ser curadas, segundo os propósitos do homem. 37 No caso de Angelina, temo-la profundamente unida ao obsessor, desde alguns séculos, quase na mesma proporção de tempo em que os dois se encontram intimamente associados ao teu próprio Espírito. No passado, perturbaste-lhes o lar e, agora, consoante a Lei Divina, procuram-te ansiosos de equilíbrio no caminho reto. Com o teu poder magnético, isolaste o perseguidor, violentamente, mas não podes sustentar semelhante medida, sem grave dano para ti mesmo. Não se arranca o carvalho de trezentos anos sem algum trabalho, como não se pode desfazer uma construção milenária, de um minuto para outro, sem ofensa à harmonia geral. 40 Se não buscares a mesma entidade para junto da filha, utilizando o mesmo influxo magnético, por intermédio do qual a afastaste, Angelina desencarnará, em breves horas, para reunir-se ao companheiro.
— Sim, agora compreendo — soluçou o pai aflito.
E, acabrunhado, indagou:
— Jerônimo, meu benfeitor, como proceder então? Ensina-me o caminho da ação por amor de Deus!
O venerável amigo, com serena inflexão de voz, respondeu, comovidamente:
— Esqueceste, Sinfrônio, que há doutrinações pela palavra e doutrinações através do exemplo. Traze o obsessor e recebe-o no teu santuário doméstico, afetuosamente, qual se o fizesse a um filho. Cura-lhe as mágoas, orienta-o para o Senhor. Ama-o, quanto puderes, porque só o amor pode curar o ódio.
E, reparando que Lacerda chorava resignado, copiando a atitude do aprendiz inquieto, quando em dificuldade na lição, Jerônimo concluiu:
— Não te sintas humilhado, meu filho! Tens agora muitos conhecimentos e possibilidades, mas tens igualmente muitas dívidas. E quem deve, Sinfrônio, precisa desembaraçar-se do débito, a fim de seguir, em paz, na gloriosa e divina jornada para Deus.

.Irmão X
(.Humberto de Campos)

segunda-feira, 27 de março de 2017

Joana de Ângelis: Espiritizar, Qualificar, Humanizar “Ah! Irmão Divaldo, não aguento mais. Estou cansada de fazer caridade. Eu não aguento mais, é tanto pobre. Eu disse: “minha filha, então deixe”. Ela: “O Senhor está me mandando deixar de fazer a caridade?” Eu disse: “Não, eu estou mandando você descansar, porque a caridade está lhe fazendo mal. Já imaginou a caridade fazer mal a quem a faz? Algo não está funcionando! Ou você está exibindo-se sem o sentido de caridade, me perdoe a franqueza, pois quero lhe ajudar, ou você está saturada. Faça uma pausa”



Fonte: Novos Rumos para o Centro Espirita/Divaldo Pereira Franco/Joanna de Ângelis- LEAL Editora(1999)

“Joanna de Ângelis, fazendo uma análise da nossa Casa, o Centro Espírita Caminho da Redenção, faz três anos, propôs-nos novas diretrizes para o Centro Espírita onde mourejamos. Essas diretrizes ela apresentou em três verbos: Espiritizar, Qualificar, Humanizar.
Pode parecer um absurdo espiritizar o Centro Espírita e um tanto paradoxal. No entanto, há Centro Espírita que só tem o rótulo mas não tem espiritismo. Vamos por partes, porque é muito delicado.
Fui convidado a proferir uma conferência em um Centro Espírita no sul do país. Normalmente, quando recebo convite, não atendo, porque pode ser entusiasmo da pessoa.
No segundo convite eu digo: “para o ano, volte a escrever.” Isso é para ver se a pessoa está mesmo interessada. Para o ano a pessoa volta a escrever e eu digo: “para o ano, na programação, nós vamos agendar.”
E, naquela Casa, fui postergando por um período de seis a oito anos, por falta de tempo, até que o presidente insistiu tanto que fiquei constrangido e dei um jeito.
Disse-lhe, na carta: “mande-me as datas que lhe são ideais e eu escolherei aquela compatível com minha programação.” Estabelecemos a data e por seis meses correspondemos-nos e tudo foi muito bem.
No dia marcado cheguei à cidade e fui a uma bela instituição. Edifício monumental. Uma grande sala. Quando cheguei à porta, fui recebido por uma comissão muito gentil e estabeleceu-se o seguinte diálogo:
– Senhor Divaldo, o Presidente pede desculpas por não ter podido vir receber o Senhor.
Eu disse: “é muito natural, não há problema.”
– Aqui está o Vice-Presidente, o Secretário, o Tesoureiro, e nós desejamos recebê-lo, porque o nosso Presidente está, no prédio vizinho, fazendo cromoterapia.
– “Eu não sabia que ele era cromoterapeuta,” falei. “Ele é profissional, naturalmente?”
– “Não! Ele é espírita”, responderam-me.
– Deixe-me ver: ele é o Presidente do Centro e é o presidente da cromoterapia? Ele me convidou para vir aqui durante oito anos. Marcou a data e foi fazer a cromoterapia!
– É porque a cromoterapia é muito importante. Está salvando milhares de vida.
– Que graça! Eu sempre pensei que o Espiritismo está salvando milhões de vidas.
Será esta a imagem de um Centro Espírita? Em absoluto. O Centro Espírita não tem que se envolver com nenhuma terapia alternativa. É até um desrespeito, porque o cromoterapeuta é alguém que estudou. Ele tem sua clínica e o Centro Espírita não se pode transformar numa clínica alternativa.
É lugar de transformação moral do indivíduo, onde se viaja ao cerne do problema para arrancá-lo. Se transformarmos um Centro Espírita em uma clínica, para lá vão pessoas aturdidas. Qualquer coisa esdrúxula que anunciemos no jornal haverá uma massa incontável que adere por necessidade de pedir socorro.
Mas o Espiritismo não ilude, não mente e nem posterga a ação, porque ele é herança de Jesus. E Jesus, com todo o amor, dizia a verdade. Seja o nosso falar: sim, sim, não, não, conforme Ele o fazia. Não iremos dizer de forma grotesca ou agressiva, mas iremos dizer de uma forma verdadeira. É melhor, às vezes, perder o amigo agora porque não conivimos e o termos depois, do que o apoiarmos e o perdermos em definitivo, quando ele notar a nossa fraude.
Espiritizar
Então, Joanna de Ângelis manda Espiritizar.
Tenho ouvido oradores em casas Espíritas apresentarem temas maravilhosos, mas que não são nada espíritas. Temas que podem narrar no Rotary, na Maçonaria, no Lions, numa reunião social. Na Casa Espírita pode-se abordar qualquer tema, à luz do Espiritismo. Fazer as conotações espíritas.
Se aconteceu uma tragédia na cidade vamos examiná-la, à luz do Espiritismo. Está no momento da clonagem. Vamos falar sobre clonagem, à luz da Doutrina Espírita. Está nos noticiários a corrupção. Vamos falar sobre a corrupção e a terapia Espírita.
Infelizmente não está ocorrendo isso. Convida-se, às vezes, oradores admiráveis, fascinantes, porém, totalmente deslocados. Palestras que se pode ouvir em qualquer lugar.
Na Casa Espírita vão as pessoas atormentadas, buscando consolação, com a alma despedaçada pela morte de seres queridos e, se ouvem uma coisa que nada tem a ver com a proposta da Doutrina Espírita, saem desoladas. Agindo assim, estaremos fraudando a proposta do Espiritismo.
Temos visto congressos espíritas – não é crítica, é análise – em que se aborda Terapia pela dança. É uma maravilha. Mas não num congresso espírita. Vamos fazer isso num congresso de Yoga, que respeitamos muito, ou num congresso de psicoterapia e então coloquemos música, metais, cristais, mas não num congresso espírita.
Ah! É porque nossos irmãos estão doentes, justificam. Nesse caso, falemos das causas das doenças. Das causas anteriores das aflições. Das causas atuais das aflições.
A terapia da dança podemos encontrar em qualquer setor do mundo social, respeitável e nobre. Mas quando vamos à Casa Espírita, esperamos encontrar a proposta espírita.
O Centro Espírita tem que ser o lugar de Doutrina Espírita.
Daí o Centro Espírita tem que ser espiritizado. É a proposta de Joanna de Ângelis.
Qualificar
A segunda vertente de sua proposta é Qualificar.
Vivemos hoje a época da qualidade total. Qualificação é indispensável. Nós, às vezes vamos à Casa Espírita com nossos hábitos ancestrais, o que é natural. Mas o fato de entrarmos na Casa Espírita não muda nossa existência. Levamos a nossa qualificação muitas vezes empírica, singela, e vamos exercer certas funções para as quais não estamos qualificados.
Vemos, por exemplo, um literato, que não entende absolutamente de contabilidade, sendo o tesoureiro do Centro. Vamos ver o indivíduo aplicando a terapia dos passes, mas que, de maneira nenhuma se preparou para isso. Vamos ver no atendimento fraterno uma pessoa que tem muito bom coração mas não tem o menor tato psicológico.
Temos que qualificar-nos.
O que é qualificar? É adquirir características essenciais, típicas das finalidades que vamos exercer na vida prática.
Se eu, por exemplo, quero dedicar-me ao atendimento fraterno, devo fazer um curso. Por isso, os Centros Espíritas devem estar vinculados ao chamado movimento organizado, porque as nossas Casas Federativas dispõem de equipes para nos esclarecer, para nos informar, para ministrar cursos.
Quando vemos, por exemplo, a Federação Espírita do Paraná (FEP), oferecer-nos o jornal Mundo Espírita por um preço irrisório, que muitos ainda não pagam, chegar às nossas mãos todo o mês, com pontualidade, trazendo-nos mensagens libertadoras de consciência, comovo-me com esse trabalho.
Se ligarmos o rádio, aí está um programa de orientação espírita, o Momento Espírita, já transmitido por uma cadeia de rádios em várias cidades do País. Seria interessante se cada um dos senhores, nas suas cidades, entrassem em contato com a FEP e, ao invés de fazer programa de rádio sem nenhuma habilidade, sem qualificação, colocassem o programa que é transmitido em Curitiba, que é de excelente qualidade, narrado por pessoa qualificada, desde a voz, uma voz agradável, muito bem empostada. É uma mensagem muito bem trabalhada, apresentando várias conotações para o enriquecimento das pessoas espíritas e não espíritas.
Muitas pessoas confundem qualificação com elitismo. E as pessoas dizem: “está elitizando!”.
Minha mãe era analfabeta e eu dialogava com ela. Qualificamo-la. Ela tornou-se uma excelente bordadeira, uma excelente cozinheira. Conheço tanta gente instruída que não sabe enfiar a linha na agulha e que não sabe pregar um botão.
Daí, meus amigos, qualificar não é elitizar, não é intelectualizar. É equipar de recursos para fazer bem aquilo que gostaria de fazer. Evitar o aventureirismo.
Humanizar
Humanizar é fazer com que nós, de vez em quando, tornemos à nossa simplicidade, ao nosso bom humor, ao nosso lado humano. A vida nos impõe rotinas e, quando menos esperamos, estamos fazendo aquilo rotineiramente, sem emoção. Nós nos transformamos em máquinas.
Visitei uma instituição e uma senhora me disse assim:
“Ah! Irmão Divaldo, não aguento mais. Estou cansada de fazer caridade. Eu não aguento mais, é tanto pobre.
Eu disse: “minha filha, então deixe”.
Ela: “O Senhor está me mandando deixar de fazer a caridade?”
Eu disse: “Não, eu estou mandando você descansar, porque a caridade está lhe fazendo mal. Já imaginou a caridade fazer mal a quem a faz? Algo não está funcionando! Ou você está exibindo-se sem o sentido de caridade, me perdoe a franqueza, pois quero lhe ajudar, ou você está saturada. Faça uma pausa”.
Ela: “O que será dos pobres?”
Eu: “Minha filha, eles são filhos de Deus. Antes de você chegar Deus já tomava conta. Você está só dando uma mãozinha para você, não para eles, porque, afinal, isso aqui nem é caridade, é paternalismo. Você está mantendo muita gente na miséria, que já podia estar libertada, porque você me disse que já atendeu a avó, a filha e agora está atendendo a neta.
Como é que você conseguiu manter na miséria três gerações? Que a avó e a filha fossem pobres necessitadas, é aceitável, mas a neta já teríamos que libertar da miséria de qualquer jeito. Colocando-a na escola, equipando-a, arranjando-lhe trabalho. Isso não é caridade. Está lá no Evangelho: “Transformai as vossas esmolas em salário”.
Então, repouse um pouco. É uma rotina. Você quer abarcar um número de pessoas que você não pode abraçar. Diminua. Faça com qualidade e procure fazer em profundidade. Faça o bem.
Nós não podemos salvar o mundo e perder a nossa alma. A tese é de Jesus Cristo: “Que vos adianta salvar o mundo e perder-se a si mesmo!” Nós não estamos aqui para salvar o mundo. Estamos aqui para salvar-nos e ajudar o mundo para que cada um nele se salve.
Então, humanizar é neste sentido. É esta proposta de voltarmos a ser gente. Não ficarmos nos considerando muito importantes. O Presidente do Centro, o dono do Centro, o super-médium, a pessoa mais formidável do século. Voltarmos às nossas origens. A simplicidade de coração, a afabilidade, a doçura (textos do Evangelho Segundo o Espiritismo), a cordialidade, o bom trato.
Se o doente é insistente, se o pobre é impertinente, nós estamos ali porque queremos. Não foi o pobre que pediu para nós irmos lá. Nós é que nos oferecemos. Então temos a escusa de estarmos cansados, de estarmos irritados. “Eu também tenho problemas”.
Então vá resolver seus problemas. Não os traga para a Casa Espírita. E notem que esta tríade está perfeitamente de acordo com o pensamento kardequiano: trabalho, solidariedade e tolerância.
Qual é o trabalho? ESPIRITIZAR-SE. O trabalho de adquirir o conhecimento espírita, de perseverar no estudo. Minha mãe era analfabeta. Eu lia para ela, estudava, comentava. Ela acompanhava. Aprendeu a Doutrina Espírita dentro dos seus limites.
Solidariedade. QUALIFICAR-SE, para servir melhor, para ser mais solidário.
Tolerância: ser mais HUMANO. Quando somos mais humanos, somos tolerantes. E esta tríade não é propriamente de Allan Kardec. Ele a tirou de Pestalozzi, seu professor, que tinha como base educacional três palavras: trabalho, solidariedade e perseverança. Allan Kardec, que foi seu discípulo, tomou a tríade e adaptou-a, substituindo perseverança por tolerância.
Assim, o Centro Espírita é a nossa oficina. Quando nós entramos na Casa Espírita devemos sentir os eflúvios do amor, da fraternidade. Não é o lugar dos conflitos, das picuinhas, das nossa dificuldades, das nossas diferenças, que nós as temos, mas das nossas identidades, das nossas compreensões, do nosso esforço para sermos melhor.
Daí a nova proposta do Centro Espírita: voltar às bases do pensamento de Allan Kardec. Reviver o trabalho, a solidariedade e a tolerância. Sermos realmente irmãos.
Esta é a nossa família ampliada. Se entre aqueles com os quais compartimos idéias, que são perfeitamente consentâneas com as nossas, nós temos dificuldades de relacionamento, como é que iremos nos relacionar com o mundo agressivo, com a sociedade que não nos aceita, com aqueles que nos hostilizam, com aqueles que nos perseguem?
O Centro Espírita é o lugar onde nós treinamos as virtudes básicas: a fé, a esperança e a caridade.

Fonte: http://mensageiro.comunhaoespirita.org.br/?p=2044

DIVALDO LÊ VÁRIAS VEZES "O LIVRO DOS ESPÍRITOS"



                        
Conta Divaldo: "Quando eu comecei o exercício da mediunidade - se hoje enfrento dificuldades, imaginem há 30 anos atrás o que é que eu era -, via os Espíritos, sentia-os, mas não compreendia o fenômeno. Certo dia apareceu-me um Espírito e disse-me:
-          Divaldo, você é médium, mas não é espírita, não é verdade?
Ao que confirmei:
-          Não senhor, não sou espírita.
-          Mas deve sê-lo! E a única forma de ser espírita é começar pelo começo: estudar O Livro dos Espíritos.
Eu nunca tinha ouvido falar em O Livro dos Espíritos, em 1948. Procurei-o muito até que o encontrei. Era um livro grosso, bem gordinho - porque os livros lidos engordam; aqueles bonitinhos, na estante, são para decorar, comprados a metro, ficam belos, lustrosos e magros. Quando o olhei, pensei, surpreso:
-          Meu Deus, será que eu vou aguentar ler este livro todo até o fim?
Porque eu estava acostumado a ler "Guri", "Gibi", o "Globo Juvenil", que eram as revistas da época. Como o Espírito me mandara lê-lo, tomei-o e o li. Quando deparei a letra miúda da "Introdução" comecei a saltar trechos que não me pareciam interessantes, tal a minha ignorância. Depois, tomava assim casualmente e virava diversas páginas. Acabei a "Introdução" em alguns minutos. No capítulo do "Prolegômenos", perturbei-me por ignorar o significado da palavra, que perguntei ao Espírito amigo e ele respondeu-me:
-          Compre um dicionário, porque o Espiritismo também é doutrina de cultura. À medida em que você conhecer o Espiritismo, melhorará o seu vocabulário, o seu conhecimento.
Comprei o dicionário, mas fui tão sem sorte que nele não havia a palavra "Prolegômenos".
Adquiri, então, um outro dicionário maior. Em dois dias, eu acabei de ler O Livro dos Espíritos. Quando o Espírito amigo me apareceu - ainda me lembro como hoje - indaguei:
-          E agora, qual o livro que devo ler?
Ele respondeu:
-     O Livro dos Espíritos.
-          Mas, meu irmão - esclareci - eu já o li.
Ele insistiu:
-          Leia-o de novo, Divaldo.
Pensei:
-          Vai ver que ele notou que eu saltei algumas páginas.
Voltei a ler a extraordinária obra. Fui descobrindo tesouros valiosos. Demorei dois meses ou mais e li-o até a última palavra. Quando o Espírito aparecer-me, disse-lhe:
-          Agora eu o li de ponta a ponta. Qual é o livro que deverei ler?
E ele:
-          Volte a ler com mais atenção O Livro dos Espíritos.
Obedeci. Durante a leitura eu tinha que parar para meditar, porque as respostas eram tão extraordinárias que me conduziam a demoradas reflexões.
Demorei-me quase um ano na leitura. Memorizei questões e detive-me a pensar.
Posteriormente, indaguei ao Benfeitor Espiritual:
-          E agora qual o livro que deverei ler?
Ele orientou-me:
-          Bem, agora você pode ler O Livro dos Médiuns, mas vai continuar estudando O Livro dos Espíritos até além da morte. Porque, à medida que você tenha tirocínio, melhor o entenderá. Se você aplicar cem anos da sua vida examinando o conhecimento geral à luz de O Livro dos Espíritos, os cem anos serão insuficientes para penetrá-lo na sua totalidade, já que ele é como a seiva e a síntese da cultura universal, que só daqui há muito tempo o homem entenderá em toda a sua profundidade."
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

No trabalho profilático. "Como é indispensável o labor da evangelização da criança quanto do jovem, de modo a termos no porvir do mundo as almas devidamente preparadas, para os embates a serem superados, desde as fases iniciais da reencarnação, o que diminuirá as dores físicas e morais do Planeta!


O trabalho do Espiritismo dirigido à humanidade deve atender aos esforços da cura da alma, mas não deverá perder o foco quanto às lidas preventivas em nossa seara.
Tem sido comum a chegada de grandes levas de necessitados às instituições espíritas, tangidas por dramas intensos e dores pungentes, aguardando socorro para toda gama de dificuldades que se abatem sobre as suas vidas.
Ergue-se, porém, a urgência de tratar desses magotes de padecentes aproveitando o ensejo para vacinar a todos com as medicações que o Espiritismo oferece, a fim de se evitar a reincidência dolorosa.
Como é importante no seio do nosso Movimento o atendimento aos sofredores e perturbados da erraticidade, para que sejam liberados de tormentos e conflitos!
Será indispensável, contudo, que haja empenho nosso para que as populações sejam instruídas, orientadas para o bem, a tal ponto que não haja, no futuro, necessidade de novos enfermos desencarnados, tendo em vista que o Espiritismo pode prevenir, no íntimo dos seres, a eclosão das infelicidades que os conduzem às reuniões em que os padecentes são atendidos.
Como é indispensável o labor da evangelização da criança quanto do jovem, de modo a termos no porvir do mundo as almas devidamente preparadas, para os embates a serem superados, desde as fases iniciais da reencarnação, o que diminuirá as dores físicas e morais do Planeta!
Com esse mister evangelizador, a criança e o moço de agora lograrão a referida vacinação, considerando-se a condição de carência espiritual em que renasce na Terra a grande massa dos Espíritos.
A profilaxia é importantíssima para que, aos poucos, eliminemos os quadros de dores e de lágrimas de sofrimentos na Terra.
O trabalho da orientação dos mais jovens, desde a atualidade, diminuirá a quantidade de pobres materiais e de desditosos morais, uma vez que, embora o Espiritismo nos inspire o atendimento e o socorro a quem precisa, esclarece-nos, ao mesmo tempo, quanto às razões de haverem chegado à reencarnação com essas carências.
Somente o ensinamento do bem, iniciado no âmago dos lares e fortificado e emoldurado pelo trabalho de verdadeiros bandeirantes do amor fraterno, os evangelizadores, será capaz de dinamizar os planos do Criador para as Suas criaturas terrenas, e será desse modo que o glorioso Espiritismo atenderá, por nosso intermédio, à sua missão de consolador, sem qualquer dúvida, mas, fundamentalmente, expressará a sua marca de Verdade, que deverá acompanhar-nos até os tempos vindouros do Planeta, quando seremos, então, um único rebanho conduzido por um só Pastor, que é o nosso amado Jesus.
Trabalhar, sim, para resolver os enigmáticos dramas do mundo mas prevenir, também e principalmente, pois que há problemas no orbe que já não precisariam mais ocorrer nesses dias venturosos do Espiritismo implantado entre nós.

Benedita Fernandes
Mensagem psicográfica recebida pelo médium José Raul Teixeira, na Reunião Ordinária do Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira, no dia 8 de novembro de 2008, em Brasília, DF.


Fonte: http://www.sef.org.br/sef/no-trabalho-profilatico-mensagem-psicografada-medium-raul-teixeira/

Dificuldades no Movimento Espírita "Não te deixes desalentar pela sensação de que o Espiritismo em nada te auxilia, considerando os golpes contundentes que te ferem cotidianamente, impondo-te lágrimas em que se mesclam dores, mágoas e revoltas...


Não te aturdas pelo que vês nas fileiras da Seara Espírita, que almejavas grandiosa e bela: a apatia no campo moral de tantos, dando a impressão de que isso é coisa natural; os desatinos que não são freados pelo bom-senso, comprometendo o nome da gloriosa Doutrina; a maledicência que alcança largas praias da vida dos nossos arraiais, como se devessem fazer parte das nossas ocupações cotidianas; os descompassos entre as lições teóricas conhecidas e as atividades práticas diárias cheias de hostilidades.
Não te deixes desalentar pela sensação de que o Espiritismo em nada te auxilia, considerando os golpes contundentes que te ferem cotidianamente, impondo-te lágrimas em que se mesclam dores, mágoas e revoltas.
Não te rebeles ao verificar que muitos que ocupam posições destacadas no Movimento do luarizado Espiritismo, agem como se nada tivessem a ver com a magnitude da mensagem, uma vez que somente anseiam pelas coisas do mundo material, com cinismo e desplante, preocupados tão só em fixar-se nas posições que lhes proporcionam maior visibilidade, bastando-lhes o ensejo exibicionista, em função dos quais afirmou Jesus que “já teriam obtido o seu galardão”, ou seja, o que desejavam.
Não te atormentes, pois, uma vez que o planeta terreno atravessa momentos de seriíssimas definições e redefinições, de cujo processo ninguém pode escapar, enquanto se persistir na busca do progresso.
A Terra, em razão disso, traz sobre seu dorso e nas esferas do seu campo psíquico, entidades nos mais diferenciados estágios de aprimoramento, de desenvolvimento geral, dentre os quais são muitos os que se aninham na má vontade, esforçando-se por retardar o dia luminoso da grande renovação planetária.
Nesse estado de coisas, não estaria o Movimento Espírita indene a semelhantes presenças ou livres dessas almas que, em si mesmas atordoadas, causam atordoamento onde quer que chegam, quer estejam no corpo físico, reencarnadas, quer ainda se achem aguardando novas oportunidades, na erraticidade.
Do mesmo modo que encontramos almas irresponsáveis que se valem do nome de Jesus, a fim de explorar a boa fé dos ingênuos e dos incautos, dos ignorantes e dos parvos, nas mais distintas confissões de fé ou fora delas, temos em nosso Movimento os que, da mesma maneira, evocam o nome do Senhor, admitindo sempre que não há nenhuma necessidade de que levem a sério o trabalho e os deveres que lhes cabem, já que os Guias do mundo são dotados de grande generosidade, são misericordiosos.
Almas infantilizadas, nas quais ainda é verdoso o senso moral, enxameiam, orgulhosas umas, vaidosas outras, prepotentes tantas, que, mesmo reconhecendo suas incapacidades, fazem questão de assumir posições e cargos de responsabilidade, que sabem que não responderão a contento, pelo fato de tais situações lhes conferir projeção ou destaque social.
Há os que não têm nenhuma noção do campo de atividades em que se acham, mas não recuam, não procuram orientar-se de modo a produzir o melhor para a Doutrina. Permanecem como estão, supondo que os Espíritos do Senhor lhes suprirão a má vontade e o relaxamento.
Desgraçadamente, tais irmãos do mundo estão distribuídos por todos os campos da vida social e se fazem temerários aventureiros nas esferas da política ou da administração das coisas públicas; achamo-los à frente de empresas que deveriam ser produtivas para o progresso da sociedade e que seguem a passos tartaruguescos; temo-los liderando movimentos artísticos e culturais, onde nada funciona a contento, onde coisa alguma de expressivamente bom acontece para suas áreas, do mesmo modo como os deparamos à frente de grupos familiares e de instituições religiosas.
Vemos que cada um anseia por extrair benefícios imediatos da situação em que se aloja, desacreditando, convictamente, da vida imortal para além da matéria densa do mundo. Não te desarmonizes, pois, perante esse quadro sinistro, conflitivo e cheio de contradições da sociedade.
Trata de cumprir o que a ti te cabe, sem que as atitudes alheias te induzam ao desgoverno de ti mesmo, ou ao relaxamento para com teus compromissos perante a existência.
Cumpre-te pautar a vida nos passos dos ensinos do grande Mestre Jesus Cristo; aprende com Ele que a cada um será conferido de conformidade com as próprias atuações nos trilhos da vida.
Aprende, ainda, a não depositar os ensinos rútilos do Espiritismo sob mãos francamente incapazes ou sob mentalidades insanas, pois que, sem contestação, mais cedo ou mais tarde, tudo elas conseguirão desvirtuar, tudo irão degenerar sob os mais tolos ou obscuros argumentos.
Trata, pois, de mergulhar a mente nos ensinamentos felizes do Cordeiro de Deus e ajusta os teus passos na trilha por Ele deixada, e não te importunarás com os companheiros desviados da estrada por livre deliberação, conseguindo, então, não oferecer suas pérolas aos porcos, tampouco desejarás depositar vinho novo em barril velho, procurando, aí, sim, apesar das pelejas ardentes e das lágrimas inevitáveis dos teus testemunhos, seguir fiel e renovado, cheio de possibilidades para entender, orientar e socorrer a quantos o necessitem, na busca do Reino dos Céus, por meio dos roteiros do Espiritismo.
Com o tempo, na medida em que se renovem os humanos, também renovar-se-á o nosso bendito Movimento Espírita que, somente então, conseguirá refletir o brilho intraduzível do estelar Espiritismo.
Assim, não te descompenses. Procura fazer o que te cabe para ser feliz, levando contigo os que estejam sintonizados com o ideal de vida abundante e de paz insuplantável que adotaste para alicerçar a tua existência.

Hugo Reis
Mensagem psicografada por Raul Teixeira, em 11.02.2008, na Sociedade Espírita Francisco de Assis de Amparo aos Necessitados – SEFAN, em Ponta Grossa – PR.

Fonte:http://www.sef.org.br/sef/dificuldades-no-movimento-espirita-mensagem-psicografada-medium-raul-teixeira/

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO


Parábola: significa narrativa curta ou apólogo, muitas vezes erroneamente definida também como fábula. Sua característica é ser protagonizada por seres humanos e possuir sempre uma razão moral que pode ser tanto implícita como explícita. Ao longo dos tempos vem sendo utilizada para ilustrar lições de ética por vias simbólicas ou indiretas. Eram as histórias geralmente extraídas da vida cotidiana utilizadas por Jesus Cristo para ensinar aos seus discípulos. Segundo Marcos 4, versos 11-12, eram utilizadas por Jesus para que somente seus discípulos as entendessem plenamente. Este gênero já era utilizado por muitos dos antigos profetas.
Sacerdote: é uma autoridade ou ministro religioso, habilitado para dirigir ou participar em rituais sagrados de uma religião em particular. Eles também têm a autoridade ou o poder de administrar os ritos religiosos, em especial, os ritos de sacrifício e expiação de uma divindade ou divindades. Seu cargo ou posição é chamado de Sacerdócio, um termo que pode também se aplicar a essas pessoas coletivamente.

Levitas: Aos que crêem nas Escrituras, é inegável que Levi tenha sido uma tribo como as outras, separada, porém por Deus para exercer o sacerdócio. Entretanto, a situação da tribo no momento em que o Pentateuco teria sido escrito, bem como sua posição na sociedade judaica após o exílio na Babilônia geram discussão entre estudiosos.
Alguns acreditam que Levi tenha sido uma das tribos que teria fugido do Egito, e ao chegar a Canaã teriam se aliado a outras tribos hebraicas autóctones, e, após a organização destas tribos e sua fusão em uma só nação, os levitas teriam sido designados ao sacerdócio.
Outra corrente acredita que os levitas teriam sido uma casta à parte do sistema tribal existente, uma elite com poderes políticos originados de sua relação de exclusividade com Deus. Essa não era uma postura incomum no Oriente Médio antigo ou em outras regiões, e observava-se a existência de classes sacerdotais rígidas na Mesopotâmia e na Índia fundamentadas no direito exclusivo destas classes em interferir junto a Deus pela ordem de suas sociedades.

Samaritanos: são um pequeno grupo étnico-religioso aparentado aos judeus que habita nas cidades de Holon e Nablus situadas em Israel e na Cisjordânia respectivamente. Designam-se a si próprios como Shamerim o que significa "os observantes" (da Lei); desde há alguns anos os Samaritanos tem vindo igualmente a usar o termo "israelita-samaritanos".
A religião dos Samaritanos baseia-se no Pentateuco, tal como o judaísmo. Contudo, ao contrário deste, o samaritanismo rejeita a importância religiosa de Jerusalém. Os samaritanos não possuem rabinos e não aceitam o Talmud (registro das discussões rabínicas que pertencem à lei, ética, costumes e história do judaísmo.) dos judeus ortodoxos.
Os samaritanos não se consideram judeus, mas descendentes dos antigos habitantes do antigo reino de Israel (ou reino da Samaria). Os judeus ortodoxos consideram-nos por sua vez descendentes de populações estrangeiras, que adotaram uma versão adulterada da religião hebraica; como tal, recusam-se a reconhecê-los como judeus ou até mesmo como descendentes dos antigos israelitas. O Estado de Israel reconhece-os como judeus.

A Parábola do Bom Samaritano

(Lucas, 10:25-37)
Narra o evangelista Lucas que Jesus Cristo, certa vez, procurado por um doutor da lei, este lhe perguntou: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
Percebendo o objetivo capcioso da indagação, ele limitou-se a indagar: O que está escrito na lei? Como lês?
A réplica do escriba não tardou: Amará ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao próximo como a ti mesmo.
Face o acerto da resposta, o Senhor lhe disse: Respondeste bem; faze isso e desfrutarás da vida eterna.
O inquiridor, entretanto, não ficou satisfeito e para justificar-se, aventurou nova pergunta: Quem é o meu próximo?
A fim de elucidar melhor a questão, o Cristo propôs-lhe uma parábola, dizendo:
Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos de salteadores, os quais, após despojá-lo de tudo, espancaram-no, deixando-o moribundo à margem da estrada.
Coincidentemente descia pelo mesmo caminho um sacerdote. Vendo-o, passou de largo.
Logo a seguir descia um levita, cujo procedimento não foi diferente daquele do sacerdote.
Entretanto, dentro em pouco surge um samaritano que, vendo-o naquele estado deplorável, moveu-se de íntima compaixão e, descendo de sua cavalgadura, levou-o a uma hospedaria, onde continuou a cuidar dele.
Tendo que partir, no dia seguinte, deu dois dinheiros ao hospedeiro, recomendando-lhe que continuasse a dar-lhe assistência, prontificando-se a pagar, em sua volta, tudo aquilo que excedesse a importância deixada.
Após ensinar essa parábola, indagou Jesus: Qual destes três te parece que foi o próximo do homem que havia sido vítima dos salteadores, merecendo do doutor da lei a resposta: O que usou de misericórdia para com ele.
Diante desse discernimento aduziu o Senhor: Vai, e faze da mesma maneira.

O ensino propiciado por Jesus Cristo nessa edificante parábola é dos mais significativos. Nele podemos apreciar o exercício da caridade despretensiosa, incondicional, em seu sentido amplo, sem limitações.
O samaritano, considerado herege e apóstata pelos judeus ortodoxos, foi o paradigma tomado pelo Mestre para nos ensejar tão profundo ensinamento.
O grande mérito da parábola consiste em fazer evidenciar aos nossos olhos que, o indivíduo que se intitula religioso e se julga virtuoso aos olhos de Deus, nem sempre é o verdadeiro expoente de virtudes que julga possuir. Ensina aos outros como fazer caridade, mas ele nem de longe quer praticá-la.
O sacerdote que passou primeiramente, certamente atribuía a si qualidades excepcionais e se julgava zeloso cumpridor da lei e dos preceitos religiosos. Ao deparar com o moribundo, com certeza balbuciou uma prece em seu favor, mas daí até a ajuda direta a distância é enorme. O mesmo deve ter sucedido com o levita.
O samaritano, considerado desprezível pelos judeus ortodoxos, mas cumpridor dos seus deveres humanos, não se limitou a condoer-se do moribundo. Chegou-se a ele e o socorreu da melhor forma possível, levando-o em seguida a um lugar de repouso onde o assistiu melhor, recomendando-o ao hospedeiro e prontificando-se a ressarcir todos os gastos quando da sua volta.
A caridade foi ali dispensada a um desconhecido, e quem a praticou não objetivou recompensa, o que não é muito comum na Terra, onde todos aqueles que praticam atos caridosos, logo pensam nas recompensas futuras, na retribuição na a vida espiritual.
Os samaritanos eram dissidentes do sistema religioso implantado na Judéia - eram os protestantes da época. Com o fito de demonstrar a precariedade dos ensinamentos da religião oficial, Jesus Cristo figurava os samaritanos como sendo aqueles que melhor mente havia assimilado os seus ensinos, concretizando em atos tudo aquilo que aprendiam através das palavras.
Além de nos ensinar o feito generoso do samaritano da parábola, o Mestre também os tomou como paradigmas em outras circunstâncias, para ilustração reportemo-nos ao majestoso ensino sobre a Mulher Samaritana (João, 4:5-30) e o da cura de dez leprosos, dentre os quais apenas um que era samaritano lembrou-se de voltar para render graças a Deus pela cura obtida (Lucas, 17:11-19).
(Jornal Mundo Espírita de Janeiro de 1998)
No Novo Testamento, samaritano é o nome dado aos habitantes do distrito de Samaria; mas o nome tem profundos matizes religiosos. Para os judeus, os Samaritanos eram um grupo herético e cismático e por isso, eram repudiados e odiados mais do que os pagãos A origem do cisma entre judeus e samaritanos se aprofunda na primitiva história israelita. Os judeus que se estabeleceram em Jerusalém após o Edito de Ciro (538 a.C) não consideravam a comunidade que habitava no distrito de Samaria, e antigo centro de Israel, como verdadeiros israelitas. Eles eram descendentes de uma população mista de assírios e mesopotâmicos. Essas populações tinham introduzido na terra de Israel o culto a seus próprios deuses

Samaritano era tido como herege, infiel, macumbeiro, sincretista.
O levita ou fariseu era só de fachada, tipo fanáticos sem citar denominações.
O sacerdote pode ser qualquer sacerdote de qualquer religião que coloca o ofício antes da caridade. Ser sacerdote de verdade é amar a DEUS servindo aos irmãos necessitados e não fazer pregações, cultos, giras, missas. Isto pode até ter seu valor, mas DEUS espera antes que a caridade para quem necessita venha sempre primeiro.

Foi um tapa para fanáticos e religiosos de fachada, pois Jesus usou a imagem de alguém que era tido como macumbeiro, feiticeiro, herege que era a imagem do samaritano.
Jerusalém e Jerico

Descia um homem de Jerusalém a Jericó...
Para entender isso, há que compreender que, de fato, para ir de Jerusalém a Jericó se desce, pois Jerusalém situa-se a 2.000 metros de altitude, e Jericó, junto ao mar Morto, está a 250 metros abaixo do nível do mar.

PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO

"Levantando-se um doutor da lei experimentou-o, dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Respondeu-lhe Jesus: Que é o que está escrito na lei? como lês tu? Respondeu ele: Amará ao Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda a sua alma, de toda a tua força e de todo o teu entendimento e ao próximo como a ti mesmo. Replicou-lhe Jesus: Respondeste bem; faze isso e viverás. Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: E quem é o meu próximo? Prosseguindo Jesus disse: Um homem descia de Jerusalém a Jericó; e caiu nas mãos de salteadores que, depois de o despirem e espancarem, se retiraram, deixando-o meio morto.

Por uma coincidência descia por aquele caminho um sacerdote; e quando o viu, passou de largo. Do mesmo modo também um levita, chegando ao lugar e vendo-o, passou de largo. Um samaritano, porém, que ia de viagem, aproximou-se do homem, e, vendo-o teve compaixão dele; e chegando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; e pondo-o sobre seu animal, levou-o para uma hospedaria e tratou-o. No dia seguinte tirou dois denários, deu-os ao hospedeiro e disse: Trata-o, e quanto gastares de mais, na volta to pagarei.

Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? Respondeu o doutor da lei: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Disse-lhe Jesus: “Vai e faze tu o mesmo”.

(Lucas, X, 25-37)

Segundo nos dita CAIRBAR SCHUTEL

Se examinarmos atentamente a Doutrina de Jesus, veremos em todos os seus princípios a exaltação da humildade e a humilhação do orgulho. As personalidades mais impressionantes e significativas de suas parábolas são sempre os pequenos, os humildes, os repudiados pelas seitas dominantes, os excomungados pela fúria e ódio sacerdotal, os acusados pelos doutores da lei. pelos rabinos, pelos fariseus e escribas do povo, em suma, os chamados heréticos e descrentes! Todos estes são os preferidos de Jesus, e julgados mais dignos do Reino dos Céus que os potentados da sua época, que os sacerdotes ministradores da lei, que os grandes, os orgulhosos, os representantes da alta sociedade!

Leiam a passagem da "mulher adúltera", a Parábola do Publicano e do Fariseu, a do Filho Pródigo, a da Ovelha Perdida, a do Administrador Infiel, a do Rico e o Lázaro; veja o encontro de Jesus com Zaqueu, ou com Maria de Betânia, que lhe ungiu os pés; a Parábola do Grão de Mostarda em contra posição à frondosa Figueira sem Frutos, e a do Tesouro Escondido em contraposição à dos tesouros terrenos e das ricas pedrarias que adornavam os sacerdotes! Esta afirmação se confirma com esta sentença do Mestre aos fariseus e doutores da lei: "Em verdade vos afirmo que as meretrizes e os pecadores vos precederão no Reino dos Céus!

E para melhor testemunho desta verdade, que aparece aos olhos de todos os que penetram o Evangelho em Espírito, do que esta Parábola do Bom Samaritano? Os samaritanos eram considerados heréticos aos olhos do judeus ortodoxos; por isso mesmo eram desprezados, anatematizados e perseguidos. Pois bem, esse que, segundo a afirmação dos sacerdotes era um descrente, um condenado, foi justamente o que Jesus escolheu como figura preeminente de sua parábola. O interessante ainda, é que a referida parábola foi proposta a um doutor da lei, a um judeu da alta sociedade que, para tentar o Mestre, foi inquiri-lo a respeito da vida eterna. O judeu doutor não ignorava os mandamentos, e como os podia ignorar se era doutor! Mas, com certeza, não os praticava!

Conhecia a teoria, mas desconhecia a prática. O amor de toda a alma, de todo o coração, de todo o entendimento e de toda a força que o doutor judeu conhecia, não era ainda bastante para fazê-lo cumprir seus deveres para com Deus e o próximo. Amava, como amavam os fariseus, como os escribas amavam e como amam os sacerdotes atuais, os padres contemporâneos e os doutores da lei de nossos dias. Era um amor muito diferente e quiçá oposto ao que preconizou o Filho de Deus.

É o amor do sacerdote, que, vendo o pobre ferido, despido e espancado, quase morto, passou de largo; é o amor do levita (padre também da Tribo de Levi), que, vendo caído, ensangüentado, nu e arquejante à beira do caminho, por onde passava, um pobre homem, também se fez ao largo; é o amor dos egoístas, o amor dos que não compreenderam ainda o que é o amor; é o amor do sectário fanático que ama a abstração mas desama a realidade!

Salientando na sua parábola essas personalidades poderosas da sua época, e cujo exemplo é fielmente imitado pelo sacerdócio atual, quis Jesus fazer ver aos que lessem o seu Evangelho que a santidade dessa gente não chega ao mínimo do Reino dos Céus, ao passo que os excomungados pelas igrejas, que praticam o bem, se acham no caminho da vida eterna. De fato, quem é o meu próximo, se não o que necessita de meus serviços, de minha palavra, de meus cuidados, de minha proteção?

Não é preciso ser cristão para se saber isto que o próprio doutor da lei afirmou em resposta à interpretação de Jesus: "O próximo do ferido foi aquele que usou de misericórdia para com ele". Ao que Jesus disse, para lhe ensinar o que precisava fazer a fim de herdar a vida eterna: "Vai e faze tu a mesma coisa". O equivale a dizer: Não basta, nem é preciso ser doutor da lei, nem sacerdote, nem fariseu, nem católico, nem protestante, nem assistir a cultos ou cumprir mandamentos desta ou daquela igreja, para ter a vida eterna; basta ter coração, alma e cérebro, isto é, ter amor, porque o que verdadeiramente tem amor, há de auxiliar o seu próximo com tudo o que lhe for possível auxiliar: seja com dinheiro, seja moralmente ensinando os que não sabem, espiritualmente prodigalizando afetos e descerrando aos olhos do próximo as cortinas da vida eterna, onde o espírito sobrevive ao corpo, onde a vida sucede à morte, onde a palavra de Jesus triunfa dos preceitos e preconceitos sacerdotais!

Finalmente, a Parábola do Bom Samaritano refere-se verdadeiramente a Jesus; o viajante ferido é a Humanidade saqueada de seus bens espirituais e de sua liberdade, pelos poderosos do mundo; o sacerdote e o levita significam os padres das religiões que, em vez de tratarem dos interesses da coletividade, tratam dos interesses dogmáticos e do culto de suas igrejas; o samaritano que se aproximou e atou as feridas, deitando nelas azeite e vinho, é Jesus Cristo. O azeite é o símbolo da fé, o combustível que deve arder nessa lâmpada que dá claridade para a vida eterna - a sua doutrina; o vinho é o suco da vida, é o Espírito da sua palavra; os dois denários dados ao hospedeiro para tratar do doente, são a caridade e a sabedoria; o mais que o "enfermeiro" gastar, resume-se na abnegação, nas vigílias, na paciência, na dedicação, cujos feitos serão todos recompensados. Enfim, o hospedeiro representa os que receberam os seus ensinos e os "denários" para cuidarem do "viajante ferido e saqueado".


Qual o ensinamento que o Mestre aí nos dá?

O de que para entrarmos na posse da vida eterna não basta memorizarmos textos da Sagrada Escritura. O que é preciso, o que é essencial, para a consecução desse objetivo, é pormos em prática, é vivermos a lei de amor e de fraternidade que ele nos veio revelar e exemplificar.

Haja vista que o seu interpelante, no episódio em tela, é um doutor em teologia, que provou ser versado em religião, visto que repetiu de cor, sem pestanejar, palavra por palavra, o conteúdo dos dois principais mandamentos divinos.

Mas... conquanto fosse um mestre religioso e, nessa condição, conhecesse muito bem a lei e os profetas, não estava tranqüilo com a própria consciência; sentia, lá no íntimo da alma, que algo ainda lhe faltava. Daí a sua pergunta: "Mestre, que hei de fazer para alcançar a vida eterna?"

Não o martirizasse uma dúvida atroz sobre se seriam suficientes os seus conhecimentos teológicos e os privilégios de sua crença para ganhar o reino do céu, e não se teria ele dirigido ao Mestre da forma como o fez.

Notemos agora que - e isso é de suma importância -, em sua resposta, Jesus não disse, absolutamente, que havia uma "predestinação eterna", isto é, "uma providência especial, que assegura aos deitos graças eficazes para lhes fazer alcançar, infalivelmente a glória eterna"; também não falou que havia uma "salvação pela graça, mediante a fé; nem tão-pouco indicou como processo salvacionista a filiação a esta ou àquela igreja; assim como não cogitou de saber qual a idéia que o outro fazia dele, se o considerava Deus ou não.

Ante a citação feita pelo doutor da lei, daqueles dois mandamentos áureos que sintetizam todos os deveres religiosos, disse-lhe apenas: "Faze isso e viverás" o que equivale a dizer: aplica todas as tuas forças morais, intelectuais e afetivas na produção do BEM, em favor de ti mesmo e do próximo, e ganharás a vida eterna!

O tal, porém, nem sequer sabia quem era o seu próximo! Como, pois, poderia amá-lo conhecer a si mesmo, a fim de se tornar digno do Reino?

Jesus, então, extraordinário pedagogo que era, serenamente, sem impacientar-se, conta-lhe a parábola do "bom samaritano", através da qual elucida o assunto, fazendo-o compreender que ser próximo de alguém é assisti-lo em suas aflições, é socorrê-lo em suas necessidades, sem indagar de sua crença ou nacionalidade. E após argüi-lo, vendo que ele entendera a lição, conclui, apontando-lhe o caminho do céu em meia dúzia de palavras:

- "Pois vai e faze o mesmo."

Se a salvação dos homens dependesse realmente de "opiniões teológicas" ou de "sacramentos" desta ou daquela espécie, como querem fazer crer os atuais doutores da lei, não seria essa a ocasião azada, oportuna, propícia, para que Jesus o afirmasse peremptoriamente?

Mas não! Sua doutrinação é completamente diferente disso tudo: Toma um homem desprezível aos olhos dos judeus ortodoxos, tido e havido por eles como herege - um samaritano - e, incrível! aponta-o como "modelo", como "padrão", aos que desejem penetrar nos tabernáculos eternos!

É que aquele renegado sabia praticar boas obras, sabia amar os seus semelhantes, e para Jesus, o que importa, o que vale, o que pesa, não são os "credos" nem os "formalismos litúrgicos", mas os "bons sentimentos", porque são eles que modelam idéias e dinamizam ações, caracterizando os verdadeiros súditos do Reino Celestial.

Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, diz que no quadro desta parábola é preciso separar a figura da alegoria. A homens que estavam ainda na infância da espiritualidade, Jesus precisou utilizar-se de imagens materiais, surpreendentes e capazes de impressionar. Mas ao lado dessa parte acessória e figurada do quadro, há uma idéia dominante: a da felicidade que espera o justo e da infelicidade reservada ao mau. Jesus não fala das convenções externas da religião; simplesmente quer exaltar a caridade, o único meio de salvação da alma.
É por esta razão que Jesus coloca o Samaritano, considerado herético, acima do ortodoxo que falta com a caridade.
Fora da caridade não há salvação
10. Meus filhos, na máxima: Fora da caridade não há salvação, estão encerrados os destinos dos homens, na Terra e no céu; na Terra, porque à sombra desse estandarte eles viverão em paz; no céu, porque os que a houverem praticado acharão graças diante do Senhor. Essa divisa é o facho celeste, a luminosa coluna que guia o homem no deserto da vida, encaminhando-o para a Terra da Promissão. Ela brilha no céu, como auréola santa, na fronte dos eleitos, e, na Terra, se acha gravada no coração daqueles a quem Jesus dirá: Passai à direita, benditos de meu Pai. Reconhecê-los-eis pelo perfume de caridade que espalham em torno de si Nada exprime com mais exatidão o pensamento de Jesus, nada resume tão bem os deveres do homem, como essa máxima de ordem divina. Não poderia o Espiritismo provar melhor a sua origem, do que apresentando-a como regra, por isso que é um reflexo do mais puro Cristianismo. Levando-a por guia, nunca o homem se transviará. Dedicai-vos, assim, meus amigos, a perscrutar-lhe o sentido profundo e as conseqüências, a descobrir-lhe, por vós mesmos, todas as aplicações. Submetei todas as vossas ações ao governo da caridade e a consciência vos responderá. Não só ela evitará que pratiqueis o mal, como também fará que pratiqueis o bem, porquanto uma virtude negativa não basta: é necessária uma virtude ativa. Para fazer-se o bem, mister sempre se torna a ação da vontade; para se não praticar o mal, basta as mais das vezes a inércia e a despreocupação.
Meus amigos, agradecei a Deus o haver permitido que pudésseis gozar a luz do Espiritismo. Não é que somente os que a possuem hajam de ser salvos; é que, ajudando-vos a compreender os ensinos do Cristo, ela vos faz melhores cristãos. Esforçai-vos, pois, para que os vossos irmãos, observando-vos, sejam induzidos a reconhecer que verdadeiro espírita e verdadeiro cristão são uma só e a mesma coisa, dado que todos quantos praticam a caridade são discípulos de Jesus, sem embargo da seita a que pertençam. Paulo, o apóstolo. (Paris, 1860.).
GRAÇAS A DEUS!
Fonte :http://espiritismo-nascimento.blogspot.com.br/2011/08/parabola-do-bom-samaritano.html 
Prof: Edgard