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sábado, 15 de abril de 2017

O CALVÁRIO E A OBSESSÃO



Ele viera para "que os que não criam, cressem", e, para tanto, deveria doar a vida num supremo sacrifício.
 Sabia que os homens, sanguissedentos, diante do Seu holocausto, passariam a encarar melhor a excelência do amor, entregando-se, posteriormente, em imitação ao seu gesto.
 Para uma tão grandiosa oferenda, porém, conjugaram-se as forças díspares em luta no coração das criaturas.
 Claro que não se fariam necessárias as acusações indébitas, a fuga dos amigos, a traição. . . Aos contumazes perseguidores da verdade não faltariam argumentos e manobras hábeis com que colimariam
 as suas metas nefárias.
 Ele sabia que aquela seria a derradeira jornada a Jerusalém. . .
 Ante a algaravia com que O saudaram à entrada, não entremostrou qualquer júbilo. Enquanto os amigos encaravam os aplausos como sinal evidente de triunfo, nEle ressoavam quais prenúncios das grandes dores. . .
 A ternura e passividade de que dava mostras durante aqueles dias inquietavam os mais afoitos, os discípulos mais invigilantes, os que anelavam pela glória terrena, não obstante as incessantes demonstrações e provas de que não estabeleceria no mundo as balizas do reino de Deus, nem tão-pouco a felicidade real. . .
 A precipitação armou Judas de ansiedade, interiormente visitado pela indução hipnótica de Entidades perversas que lhe aproveitaram o desalinho da emoção, interessadas em desnaturar a mensagem e anular a força do amor pacificante.
 As mesmas mentes desarticuladas pelo ódio, contrapondo-se ao "reino do Cordeiro", ante os receios gerais, perturbaram Pedro logo após a prisão do Amigo, fazendo-o pusilânime, em face da negação que se permitiu repetidas vezes. ..
 As mesmas forças da injunção criminosa em aguerrido combate reuniram-se, açoadas pela inveja e despeito, desde o domingo do triunfo aparente, à entrada de Jerusalém, a fim de converterem o Enviado de Deus, no Excelso Crucificado. . .
 Os ódios, confraternizando com os ciúmes, espalharam injúrias que eram glosadas pela ingratidão de muitos que lhe foram comensais da ternura e receberam de Suas mãos o pábulo da vida estuante.
 Fervilhando as constrições obsidentes que se impunham, os adversários da liberdade espiritual da Terra, em desgoverno no Mundo Espiritual, dominaram os que se não armaram de vigilância e equilíbrio, tornando-se fáceis presas do anti-Cristo, a fim de que a tragédia do Gólgota se consumasse. . .
 Jesus, porém, houvera asseverado: "Quando eu for erguido atrairei todos a mim."
 Nenhuma surpresa, portanto, no Senhor, diante dos contornos volumosos da hecatombe que tomava forma contra Ele.
 Em expressiva serenidade esperou o eclodir apaixonado da força violenta dos fracos.
 A noite fria e angustiante, antes da prisão, não lhe abatera o ânimo. Içara-0 a Deus através da oração e dulcificara-O, fazendo-O atingir a plenitude da auto-doação. ..
 As hordas desenfreadas da Espiritualidade inferior galvanizam no ódio os que se permitem as licenças das paixões dissolventes.
 Sempre se repetirão aquelas cenas nos linchamentos das ruas, nas prisões arbitrárias, nas injustiças tornadas legais, quando as massas afluem aos espetáculos hediondos e se asselvajam, tornando-se homicidas incomparáveis. . .
 Como podiam aquelas gentes desconhecer a brandura do Pastor Divino, esquecer Suas concessões e "prodígios"?
 Como puderam selar os lábios aqueles beneficiários da Sua misericórdia e complacência, ante a arbitrariedade dos crimes que presenciavam?
 A covardia moral, abrindo as faculdades psíquicas ao intercâmbio com os Espíritos imperfeitos e obsessores, todo o bem recebido negou, a fim de poupar-se. Transformou o inocente em algoz, em revolucionário desnaturado e elegeu o crime como elemento de justiça. O grande espetáculo da loucura coletiva se aproxima do Calvário. A obsessão coletiva, como tóxico morbífico, domina os participantes da inominável atuação infeliz.
 Ele não se defende, não reclama, nada pede. Submete-se e confia em Deus.
 As aragens da Natureza, de raro em raro na tarde abafada, saturam-se das vibrações do desespero e do ódio que assomam e dominam os corações entenebrecendo as mentes e explodindo no ar.
 Sempre os homens exigirão uma vítima para a sanha dos seus tormentos.
 Jesus é o exemplo máximo, o ideal para a consunção do desar que vencerá os séculos como a mais horrenda explosão coletiva que pastará à História.
 No bárbaro espetáculo, os pretensos dominadores da Erraticidade inferior crêem-se vitoriosos. . . Supõem estabelecidos os parâmetros dos seus domínios no mundo.
 No entanto, quando o clímax da tarde de horror atemoriza as testemunhas da tragédia, Ele relanceia o olhar dorido e lobriga apenas João, Sua mãe e as poucas mulheres abnegadas aos pés da Cruz, fiéis, macerados e intimoratos, confiando. . .
 É o bálsamo da alegria que Iene as imensas exulcerações que O dilaceram.
 Nem todos desertaram. A fúria possessiva da treva não alcançara os que tiveram acesa a luz da abnegação e do amor.
 Olhou além e mais profundamente os presentes e os que se refugiaram longe deles, os que armaram as cenas, os que se locupletam em gozos mentirosos sobre a fugidiça vitória. Seu olhar penetrou os promotores reais do testemunho, aqueles que transitavam livres das roupagens físicas. . .
 No ápice da dor arquejante, bradou Jesus:
— "Perdoa-os, meu Pai! Eles não sabem o que fazem."
 A sinfonia patética logrou, então, o máximo. Toda a orquestração de dor converteu-se em musicalidade de esperança e amor.
 Ele não perdoava apenas os crucificadores, mas, também, os desertores, os negadores, os receosos e pusilânimes, os ingratos e maledicentes, os insensatos e rebeldes... Na imensa gama dos acolhidos pelo Seu perdão, alcançava os promotores desencarnados dos mil males que engendraram nos homens a prova das suas mazelas e o agravamento das suas penas. . .
 Sua voz alcançou os penetrais do Infinito e lucilou nos báratros das consciências inditosas dos anti-Cristos de todos os tempos, abrindo-lhes os braços da oportunidade ao recomeço e à redenção.
A conspiração para que se consumasse o holocausto do Calvário, em que o Filho de Deus testemunhou seu amor pelos homens, foi tramada pelos inimigos impenitentes desencarnados, vencidos pelo despeito na luta pela vitória da violência com que sintonizaram os transitórios donatários da posição governamental e religiosa da Terra, como daqueles que se lhe entregaram a soldo.
 O perdão doado da culminância da Cruz é a aliança inquebrável da união do Seu amor com todos nós, os caminhantes retardatários da via da evolução, convocando-nos à perene vigilância contra a obsessão e qualquer natureza que nos sitia e persegue implacavelmente. . .
 Amélia Rodrigues

domingo, 2 de abril de 2017

Resposta de companheiro



Meu amigo, pede você um roteiro de nosso Plano, que lhe sirva às incursões no campo mediúnico. “A região é quase inexplorada, as surpresas imensas” — diz você desalentado.
Como os velhos portugueses do litoral do Brasil, que perdiam longo tempo, antes de enfrentar a selva fascinante, seus olhos contemplam a magnitude do continente espiritual, sentindo-se você incapaz do serviço de penetração, na terra maravilhosa dos novos conhecimentos. Observa as possibilidades infinitas de realização, a grandeza do serviço a fazer; entretanto, a incerteza impede-lhe a marcha inicial.
Sabe você que os sacrifícios não serão reduzidos. Os bandeirantes antigos, para semearem a civilização no oceano verde, sofreram, muita vez, privações e dificuldades, solidão e angústia indizíveis. Os pioneiros da espiritualidade, nos tempos modernos, para distribuírem a nova luz, na floresta dos sentimentos humanos, não devem nem podem aguardar excursões pacíficas e felizes na esfera imediatista. Experimentarão igualmente os choques do meio, sentir-se-ão quase sós, padecerão a sede do espírito e a fome do coração.
Tochas acesas contra as sombras da ignorância e do convencionalismo inferior, sofrem o desgaste natural de suas possibilidades e energias.
Quem se abalance, pois, no ideal de servir, no campo da mediunidade, espere por lutas árduas de purificação.
A técnica da cooperação com a espiritualidade superior não é diferente daquela que norteia as atividades dos realizadores do progresso humano. É razoável que o individualismo aí prepondere, como coloração inalienável da ação pessoal no trabalho a desenvolver; todavia, esse individualismo deve ajustar-se aos imperativos do supremo bem, apagando-se, voluntariamente, com alegria, para que as claridades da vida mais alta se destaquem no quadro penumbroso da atividade terrestre.
Não é o fenômeno desconcertante e indiscutível a base fundamental da obra. É o espírito de boa-vontade, de sacrifício e renunciação. Ser o medianeiro de fatos transcendentes, que constituam alicerce de grandes e abençoadas convicções, é admirável tarefa, sem dúvida. No entanto, se as demonstrações obedecem a impulsos mecânicos, sem o condimento da compreensão elevada, no setor da responsabilidade, do serviço e do amor fraterno, toda a fenomenologia se reduz a fogo-fátuo. Impressiona e comove, durante a festa, para cair no absoluto esquecimento, nas horas seguintes.
Não basta iniciar a edificação para que o trabalho se realize. É indispensável saber prosseguir e saber terminar. Imprescindível compreender também nesse capítulo que todos os homens do mundo são médiuns, por serem intermediários do bem ou do mal.
As fontes do pensamento procedem de origens excessivamente complexas. E, nesse sentido, cada criatura humana, nos serviços comuns, reflete o núcleo de vida invisível a que se encontra ligada de mente e coração. Não nos cansaremos de repetir que as esferas dos encarnados e desencarnados se interpenetram em toda parte.
Não posso desviar-me, contudo, da linha essencial de sua consulta fraterna. Você, em suma, deseja informar-se quanto ao processo mais eficiente de atender aos imperativos do bem, no intercâmbio com o Plano invisível, e, em face de seu desejo, nada tenho a aconselhar-lhe senão que intensifique sua capacidade receptiva, dilatando conhecimentos, elevando aspirações, purificando propósitos e quebrando a concha do personalismo inferior para poder refletir o infinito.
Mediunidade é sintonia. Cada mente recebe segundo a natureza e extensão da onda de sentimento que lhe é própria.
Subamos, desse modo, a montanha do conhecimento e da bondade. Ajustemo-nos à esfera superior da vida, para merecermos a convivência dos Espíritos Superiores. A virtude primordial em semelhante tarefa não consiste, substancialmente, em ser médium, mas em ser trabalhador fiel do bem, instrumento do Divino Amor, onde quer que você se encontre.
Na execução desse programa, encontrará contínuo engrandecimento de poder espiritual.
Guarde a harmonia de seu vaso físico, faça mais luz em sua mente, intensifique o amor em seu coração e o trabalho será sempre mais lúcido, mais sublime.
Quanto às arremetidas dos descrentes e ironistas do mundo, não se prenda ao julgamento que lhes é peculiar. São mais infelizes que perversos. Em todos os tempos, tanto riem como choram, inconscientemente. Não emito semelhante conceito, para envolver-me em fumaças de superioridade; é que também me demorei longo tempo entre eles, e conheço, de experiência própria, os sorrisos e lágrimas do picadeiro da ignorância.
Siga, portanto, seu caminho, estudando com o Mestre Divino e ouvindo a própria consciência.
Não serei eu, pobre amigo do Plano espiritual, quem lhe vá traçar diretrizes.
No fundo, o que você deseja é o encontro divino com o Senhor, o ideal que me impulsiona agora o espírito de pecador.
Em vista disso, ouçamos juntos a advertência do Evangelho:
— “Negue cada qual a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.” (Lc)
Tem você suficiente disposição para satisfazer o sagrado apelo? Quanto a mim, esteja certo de que, não obstante a condição de alma do outro mundo, é o que estou procurando fazer com toda a sinceridade do coração.

.Irmão X.
LIVRO: PONTOS E CONTOS
S (


sábado, 1 de abril de 2017

Obsessão e dívida


Obsessão e dívida


Quando surgiam casos de obsessão no grupo, recorria-se, imediatamente, a Sinfrônio Lacerda. Era ele, sem dúvida, o companheiro ideal para a situação.
Dotado de altas qualidades magnéticas, sabia orientar como ninguém. Tratava-se, efetivamente, dum amigo generoso e bem-intencionado.
Não regateava a colaboração fraterna aos doentes, nem se inclinava a preferências individuais. Primava pela delicadeza e pela pontualidade onde fosse convidado a contribuir para o bem.
Por sua clarividência admirável, aliada a firme disposição de servir, atingia as melhores realizações.
Especializara-se, por isso, na assistência aos obsidiados, em que obtinha verdadeiros prodígios a lhe coroarem a dedicação.
Sinfrônio, contudo, não obstante a inteireza de caráter e a bondade ativa em determinados setores do serviço, não se conduzia nas mesmas normas, diante dos desencarnados sofredores ou ignorantes.
Dispensava aos médiuns enfermos ou perseguidos o maior carinho, concentrando, porém, sobre as entidades em desequilíbrio a máxima rispidez.
À maneira de grande número de doutrinadores, via nos obsidiados inocentes vítimas e, nos transviados invisíveis, os verdugos de sempre. Em razão disso, tratava os Espíritos infelizes, desapiedadamente.
Não raro, Jerônimo, um de seus mentores espirituais, se lhe fazia visível e recomendava:
— Meu amigo, não te afastes do entendimento necessário. Não vicies o olhar, no capítulo das obsessões. Nem sempre o perseguido está isento de culpas. Os que exibem a carne doente podem ser grandes devedores. Não desejo furtar-te ao espírito de caridade e serviço aos semelhantes, mas devo esclarecer-te que não nos cabe olvidar a obrigação de repartir os recursos do auxílio com as vítimas e os algozes, em porções iguais. Por vezes, Sinfrônio, o desencarnado desditoso é mais digno de amparo que o encarnado aparentemente sofredor. As chagas abertas e as necessidades dolorosas permanecem nos dois Planos. Não te dirijas, pois, às pobres entidades da sombra, com descabidas exigências. Sê enérgico, porque todo sistema de construir ou restaurar demanda robustez de atitudes; entretanto, não sejas cruel nas palavras. Atende aos perturbados da esfera invisível, com decisão e fortaleza de ânimo; todavia, não excluas a fraternidade e a compreensão.
Lacerda, contudo, parecia pouco disposto a observar os pareceres. Não sabia tratar os comunicantes perturbados senão em tom áspero, como quem ordena, sem cogitar dos direitos alheios.
Frequentemente, palestrava sereno e gentil, antes do contato com os irmãos infelizes; no entanto, tão logo se via à frente dos transviados do Além, assumia diversa posição. Emitia conceituação pesada e agressiva, dentro de francas hostilidades.
Desdobrava-se-lhe a experiência sem alterações, quando foi surpreendido por aflitiva ocorrência no próprio lar.
A sua filha Angelina, jovem de quinze anos, revelou perturbações psíquicas muito graves.
Assinalava-se-lhe a enfermidade por desmaios sucessivos e inquietantes. Em plena tranquilidade doméstica, caía, de súbito, palidíssima, ofegante, perdendo a noção de si mesma.
O pai carinhoso, extremamente impressionado com a situação, iniciou o tratamento, através de passes curativos, sem resultados positivos na cura.
Alarmou-se a família, em virtude dos acessos frequentes, e movimentaram-se providências diversas.
A esposa de Sinfrônio reclamou a consulta ao psiquiatra, e o companheiro, embora convicto da legitimidade do fenômeno de obsessão, por verificar a presença do perseguidor, com os próprios olhos, foi compelido a valer-se do especialista, que diagnosticou a epilepsia comum.
As injeções e os comprimidos, porém, não resolveram o problema. A prostração da enferma era cada vez maior.
O genitor, não obstante conhecer centenas de casos daquela natureza, achava-se atônito. A obsessão da filha desconcertava-o. Mobilizara todos os recursos ao seu alcance, sem que se fizesse sentir qualquer resultado satisfatório. Via a entidade perturbadora que lhe minava a tranquilidade doméstica, anotava as ocasiões em que se aproximava sutilmente da jovem, despendia esforços variados, mas não conseguia deslocar o estranho perseguidor.
Às vezes, na intimidade, quando Angelina desfalecia, de súbito, o devotado pai debalde recorria à palavra forte. Acusava o infeliz, asperamente, admoestava-o com rigor. A filha, contudo, parecia piorar com semelhante prática.
Atormentado pela ineficiência do seu método, Sinfrônio, esperançoso, organizou um programa de reuniões semanais, no próprio ambiente da família, buscando atender ao caso complexo.
As manifestações através da obsidiada começaram imprecisas; entretanto, a entidade perturbadora não conseguia articular palavra. Incorporava-se em Angelina, prostrava-a dolorosamente, mas tanto o comunicante quanto a médium pareciam enfermos espirituais em posição grave.
Sinfrônio, na maioria das vezes, internava-se pela extrema excitação.
— No dia em que eu puder falar a esse obsessor infame, na certeza de ser ouvido — comentava, irritadiço —, expulsá-lo-ei para sempre. Movimentarei todos os meus recursos magnéticos para enxotá-lo como se fosse um cão.
Depois de dez meses, decorridos sobre as reuniões sistemáticas, certa noite articulou o infeliz as primeiras frases angustiosas.
Sinfrônio escutou-lhe as lamentações, num misto de sentimentos contraditórios, experimentando, acima de tudo, certa satisfação por atingir a presa na esfera verbal.
— Desventurado salteador das trevas — exclamou o doutrinador após ouvi-lo —, é chegado o momento de tua rendição! Vai-te daqui! Ouve-me as determinações!… Não mais voltes a esta casa! nunca, nunca mais!…
— Não é possível — gemeu o infortunado —, Angelina e eu estamos ligados, desde muitos séculos… e não somente nós ambos sofremos nesta situação… Você também, Sinfrônio, foi meu perverso inimigo… Algemas de ódio me ligam ao seu lar, muito antes que as paredes de sua casa se levantassem…
Sinfrônio Lacerda, neurastênico, interceptou-lhe a confissão e, concentrando todo o seu potencial magnético, bradou, autoritário:
— Nem mais uma palavra! não desejamos ouvir-te! Retira-te, cruel perseguidor!… Ordeno! afasta-te, afasta-te!…
Como se a mísera entidade fora premida por uma pinça de vastas proporções, desgarrou, de chofre, caindo, porém, Angelina em terrível imobilidade.
Esforçou-se o pai por despertá-la, mas em vão. Três, quatro, cinco horas escoaram aflitivas.
Agravado assim o problema, foi chamado o médico, que identificou o estado comatoso.
Depois de catorze horas de angústia, Sinfrônio Lacerda, chorando pela primeira vez, convidou alguns irmãos para uma prece de socorro urgente, desfazendo-se em lágrimas na rogativa de auxílio aos benfeitores espirituais.
Finda a súplica, Jerônimo, o sábio mentor que o acompanhava de perto, falou, conselheirático:
— Meu amigo, todas as obsessões, quanto as moléstias de qualquer procedência, podem ser tratadas, mas nem todas podem ser curadas, segundo os propósitos do homem. 37 No caso de Angelina, temo-la profundamente unida ao obsessor, desde alguns séculos, quase na mesma proporção de tempo em que os dois se encontram intimamente associados ao teu próprio Espírito. No passado, perturbaste-lhes o lar e, agora, consoante a Lei Divina, procuram-te ansiosos de equilíbrio no caminho reto. Com o teu poder magnético, isolaste o perseguidor, violentamente, mas não podes sustentar semelhante medida, sem grave dano para ti mesmo. Não se arranca o carvalho de trezentos anos sem algum trabalho, como não se pode desfazer uma construção milenária, de um minuto para outro, sem ofensa à harmonia geral. 40 Se não buscares a mesma entidade para junto da filha, utilizando o mesmo influxo magnético, por intermédio do qual a afastaste, Angelina desencarnará, em breves horas, para reunir-se ao companheiro.
— Sim, agora compreendo — soluçou o pai aflito.
E, acabrunhado, indagou:
— Jerônimo, meu benfeitor, como proceder então? Ensina-me o caminho da ação por amor de Deus!
O venerável amigo, com serena inflexão de voz, respondeu, comovidamente:
— Esqueceste, Sinfrônio, que há doutrinações pela palavra e doutrinações através do exemplo. Traze o obsessor e recebe-o no teu santuário doméstico, afetuosamente, qual se o fizesse a um filho. Cura-lhe as mágoas, orienta-o para o Senhor. Ama-o, quanto puderes, porque só o amor pode curar o ódio.
E, reparando que Lacerda chorava resignado, copiando a atitude do aprendiz inquieto, quando em dificuldade na lição, Jerônimo concluiu:
— Não te sintas humilhado, meu filho! Tens agora muitos conhecimentos e possibilidades, mas tens igualmente muitas dívidas. E quem deve, Sinfrônio, precisa desembaraçar-se do débito, a fim de seguir, em paz, na gloriosa e divina jornada para Deus.

.Irmão X
(.Humberto de Campos)

segunda-feira, 27 de março de 2017

Joana de Ângelis: Espiritizar, Qualificar, Humanizar “Ah! Irmão Divaldo, não aguento mais. Estou cansada de fazer caridade. Eu não aguento mais, é tanto pobre. Eu disse: “minha filha, então deixe”. Ela: “O Senhor está me mandando deixar de fazer a caridade?” Eu disse: “Não, eu estou mandando você descansar, porque a caridade está lhe fazendo mal. Já imaginou a caridade fazer mal a quem a faz? Algo não está funcionando! Ou você está exibindo-se sem o sentido de caridade, me perdoe a franqueza, pois quero lhe ajudar, ou você está saturada. Faça uma pausa”



Fonte: Novos Rumos para o Centro Espirita/Divaldo Pereira Franco/Joanna de Ângelis- LEAL Editora(1999)

“Joanna de Ângelis, fazendo uma análise da nossa Casa, o Centro Espírita Caminho da Redenção, faz três anos, propôs-nos novas diretrizes para o Centro Espírita onde mourejamos. Essas diretrizes ela apresentou em três verbos: Espiritizar, Qualificar, Humanizar.
Pode parecer um absurdo espiritizar o Centro Espírita e um tanto paradoxal. No entanto, há Centro Espírita que só tem o rótulo mas não tem espiritismo. Vamos por partes, porque é muito delicado.
Fui convidado a proferir uma conferência em um Centro Espírita no sul do país. Normalmente, quando recebo convite, não atendo, porque pode ser entusiasmo da pessoa.
No segundo convite eu digo: “para o ano, volte a escrever.” Isso é para ver se a pessoa está mesmo interessada. Para o ano a pessoa volta a escrever e eu digo: “para o ano, na programação, nós vamos agendar.”
E, naquela Casa, fui postergando por um período de seis a oito anos, por falta de tempo, até que o presidente insistiu tanto que fiquei constrangido e dei um jeito.
Disse-lhe, na carta: “mande-me as datas que lhe são ideais e eu escolherei aquela compatível com minha programação.” Estabelecemos a data e por seis meses correspondemos-nos e tudo foi muito bem.
No dia marcado cheguei à cidade e fui a uma bela instituição. Edifício monumental. Uma grande sala. Quando cheguei à porta, fui recebido por uma comissão muito gentil e estabeleceu-se o seguinte diálogo:
– Senhor Divaldo, o Presidente pede desculpas por não ter podido vir receber o Senhor.
Eu disse: “é muito natural, não há problema.”
– Aqui está o Vice-Presidente, o Secretário, o Tesoureiro, e nós desejamos recebê-lo, porque o nosso Presidente está, no prédio vizinho, fazendo cromoterapia.
– “Eu não sabia que ele era cromoterapeuta,” falei. “Ele é profissional, naturalmente?”
– “Não! Ele é espírita”, responderam-me.
– Deixe-me ver: ele é o Presidente do Centro e é o presidente da cromoterapia? Ele me convidou para vir aqui durante oito anos. Marcou a data e foi fazer a cromoterapia!
– É porque a cromoterapia é muito importante. Está salvando milhares de vida.
– Que graça! Eu sempre pensei que o Espiritismo está salvando milhões de vidas.
Será esta a imagem de um Centro Espírita? Em absoluto. O Centro Espírita não tem que se envolver com nenhuma terapia alternativa. É até um desrespeito, porque o cromoterapeuta é alguém que estudou. Ele tem sua clínica e o Centro Espírita não se pode transformar numa clínica alternativa.
É lugar de transformação moral do indivíduo, onde se viaja ao cerne do problema para arrancá-lo. Se transformarmos um Centro Espírita em uma clínica, para lá vão pessoas aturdidas. Qualquer coisa esdrúxula que anunciemos no jornal haverá uma massa incontável que adere por necessidade de pedir socorro.
Mas o Espiritismo não ilude, não mente e nem posterga a ação, porque ele é herança de Jesus. E Jesus, com todo o amor, dizia a verdade. Seja o nosso falar: sim, sim, não, não, conforme Ele o fazia. Não iremos dizer de forma grotesca ou agressiva, mas iremos dizer de uma forma verdadeira. É melhor, às vezes, perder o amigo agora porque não conivimos e o termos depois, do que o apoiarmos e o perdermos em definitivo, quando ele notar a nossa fraude.
Espiritizar
Então, Joanna de Ângelis manda Espiritizar.
Tenho ouvido oradores em casas Espíritas apresentarem temas maravilhosos, mas que não são nada espíritas. Temas que podem narrar no Rotary, na Maçonaria, no Lions, numa reunião social. Na Casa Espírita pode-se abordar qualquer tema, à luz do Espiritismo. Fazer as conotações espíritas.
Se aconteceu uma tragédia na cidade vamos examiná-la, à luz do Espiritismo. Está no momento da clonagem. Vamos falar sobre clonagem, à luz da Doutrina Espírita. Está nos noticiários a corrupção. Vamos falar sobre a corrupção e a terapia Espírita.
Infelizmente não está ocorrendo isso. Convida-se, às vezes, oradores admiráveis, fascinantes, porém, totalmente deslocados. Palestras que se pode ouvir em qualquer lugar.
Na Casa Espírita vão as pessoas atormentadas, buscando consolação, com a alma despedaçada pela morte de seres queridos e, se ouvem uma coisa que nada tem a ver com a proposta da Doutrina Espírita, saem desoladas. Agindo assim, estaremos fraudando a proposta do Espiritismo.
Temos visto congressos espíritas – não é crítica, é análise – em que se aborda Terapia pela dança. É uma maravilha. Mas não num congresso espírita. Vamos fazer isso num congresso de Yoga, que respeitamos muito, ou num congresso de psicoterapia e então coloquemos música, metais, cristais, mas não num congresso espírita.
Ah! É porque nossos irmãos estão doentes, justificam. Nesse caso, falemos das causas das doenças. Das causas anteriores das aflições. Das causas atuais das aflições.
A terapia da dança podemos encontrar em qualquer setor do mundo social, respeitável e nobre. Mas quando vamos à Casa Espírita, esperamos encontrar a proposta espírita.
O Centro Espírita tem que ser o lugar de Doutrina Espírita.
Daí o Centro Espírita tem que ser espiritizado. É a proposta de Joanna de Ângelis.
Qualificar
A segunda vertente de sua proposta é Qualificar.
Vivemos hoje a época da qualidade total. Qualificação é indispensável. Nós, às vezes vamos à Casa Espírita com nossos hábitos ancestrais, o que é natural. Mas o fato de entrarmos na Casa Espírita não muda nossa existência. Levamos a nossa qualificação muitas vezes empírica, singela, e vamos exercer certas funções para as quais não estamos qualificados.
Vemos, por exemplo, um literato, que não entende absolutamente de contabilidade, sendo o tesoureiro do Centro. Vamos ver o indivíduo aplicando a terapia dos passes, mas que, de maneira nenhuma se preparou para isso. Vamos ver no atendimento fraterno uma pessoa que tem muito bom coração mas não tem o menor tato psicológico.
Temos que qualificar-nos.
O que é qualificar? É adquirir características essenciais, típicas das finalidades que vamos exercer na vida prática.
Se eu, por exemplo, quero dedicar-me ao atendimento fraterno, devo fazer um curso. Por isso, os Centros Espíritas devem estar vinculados ao chamado movimento organizado, porque as nossas Casas Federativas dispõem de equipes para nos esclarecer, para nos informar, para ministrar cursos.
Quando vemos, por exemplo, a Federação Espírita do Paraná (FEP), oferecer-nos o jornal Mundo Espírita por um preço irrisório, que muitos ainda não pagam, chegar às nossas mãos todo o mês, com pontualidade, trazendo-nos mensagens libertadoras de consciência, comovo-me com esse trabalho.
Se ligarmos o rádio, aí está um programa de orientação espírita, o Momento Espírita, já transmitido por uma cadeia de rádios em várias cidades do País. Seria interessante se cada um dos senhores, nas suas cidades, entrassem em contato com a FEP e, ao invés de fazer programa de rádio sem nenhuma habilidade, sem qualificação, colocassem o programa que é transmitido em Curitiba, que é de excelente qualidade, narrado por pessoa qualificada, desde a voz, uma voz agradável, muito bem empostada. É uma mensagem muito bem trabalhada, apresentando várias conotações para o enriquecimento das pessoas espíritas e não espíritas.
Muitas pessoas confundem qualificação com elitismo. E as pessoas dizem: “está elitizando!”.
Minha mãe era analfabeta e eu dialogava com ela. Qualificamo-la. Ela tornou-se uma excelente bordadeira, uma excelente cozinheira. Conheço tanta gente instruída que não sabe enfiar a linha na agulha e que não sabe pregar um botão.
Daí, meus amigos, qualificar não é elitizar, não é intelectualizar. É equipar de recursos para fazer bem aquilo que gostaria de fazer. Evitar o aventureirismo.
Humanizar
Humanizar é fazer com que nós, de vez em quando, tornemos à nossa simplicidade, ao nosso bom humor, ao nosso lado humano. A vida nos impõe rotinas e, quando menos esperamos, estamos fazendo aquilo rotineiramente, sem emoção. Nós nos transformamos em máquinas.
Visitei uma instituição e uma senhora me disse assim:
“Ah! Irmão Divaldo, não aguento mais. Estou cansada de fazer caridade. Eu não aguento mais, é tanto pobre.
Eu disse: “minha filha, então deixe”.
Ela: “O Senhor está me mandando deixar de fazer a caridade?”
Eu disse: “Não, eu estou mandando você descansar, porque a caridade está lhe fazendo mal. Já imaginou a caridade fazer mal a quem a faz? Algo não está funcionando! Ou você está exibindo-se sem o sentido de caridade, me perdoe a franqueza, pois quero lhe ajudar, ou você está saturada. Faça uma pausa”.
Ela: “O que será dos pobres?”
Eu: “Minha filha, eles são filhos de Deus. Antes de você chegar Deus já tomava conta. Você está só dando uma mãozinha para você, não para eles, porque, afinal, isso aqui nem é caridade, é paternalismo. Você está mantendo muita gente na miséria, que já podia estar libertada, porque você me disse que já atendeu a avó, a filha e agora está atendendo a neta.
Como é que você conseguiu manter na miséria três gerações? Que a avó e a filha fossem pobres necessitadas, é aceitável, mas a neta já teríamos que libertar da miséria de qualquer jeito. Colocando-a na escola, equipando-a, arranjando-lhe trabalho. Isso não é caridade. Está lá no Evangelho: “Transformai as vossas esmolas em salário”.
Então, repouse um pouco. É uma rotina. Você quer abarcar um número de pessoas que você não pode abraçar. Diminua. Faça com qualidade e procure fazer em profundidade. Faça o bem.
Nós não podemos salvar o mundo e perder a nossa alma. A tese é de Jesus Cristo: “Que vos adianta salvar o mundo e perder-se a si mesmo!” Nós não estamos aqui para salvar o mundo. Estamos aqui para salvar-nos e ajudar o mundo para que cada um nele se salve.
Então, humanizar é neste sentido. É esta proposta de voltarmos a ser gente. Não ficarmos nos considerando muito importantes. O Presidente do Centro, o dono do Centro, o super-médium, a pessoa mais formidável do século. Voltarmos às nossas origens. A simplicidade de coração, a afabilidade, a doçura (textos do Evangelho Segundo o Espiritismo), a cordialidade, o bom trato.
Se o doente é insistente, se o pobre é impertinente, nós estamos ali porque queremos. Não foi o pobre que pediu para nós irmos lá. Nós é que nos oferecemos. Então temos a escusa de estarmos cansados, de estarmos irritados. “Eu também tenho problemas”.
Então vá resolver seus problemas. Não os traga para a Casa Espírita. E notem que esta tríade está perfeitamente de acordo com o pensamento kardequiano: trabalho, solidariedade e tolerância.
Qual é o trabalho? ESPIRITIZAR-SE. O trabalho de adquirir o conhecimento espírita, de perseverar no estudo. Minha mãe era analfabeta. Eu lia para ela, estudava, comentava. Ela acompanhava. Aprendeu a Doutrina Espírita dentro dos seus limites.
Solidariedade. QUALIFICAR-SE, para servir melhor, para ser mais solidário.
Tolerância: ser mais HUMANO. Quando somos mais humanos, somos tolerantes. E esta tríade não é propriamente de Allan Kardec. Ele a tirou de Pestalozzi, seu professor, que tinha como base educacional três palavras: trabalho, solidariedade e perseverança. Allan Kardec, que foi seu discípulo, tomou a tríade e adaptou-a, substituindo perseverança por tolerância.
Assim, o Centro Espírita é a nossa oficina. Quando nós entramos na Casa Espírita devemos sentir os eflúvios do amor, da fraternidade. Não é o lugar dos conflitos, das picuinhas, das nossa dificuldades, das nossas diferenças, que nós as temos, mas das nossas identidades, das nossas compreensões, do nosso esforço para sermos melhor.
Daí a nova proposta do Centro Espírita: voltar às bases do pensamento de Allan Kardec. Reviver o trabalho, a solidariedade e a tolerância. Sermos realmente irmãos.
Esta é a nossa família ampliada. Se entre aqueles com os quais compartimos idéias, que são perfeitamente consentâneas com as nossas, nós temos dificuldades de relacionamento, como é que iremos nos relacionar com o mundo agressivo, com a sociedade que não nos aceita, com aqueles que nos hostilizam, com aqueles que nos perseguem?
O Centro Espírita é o lugar onde nós treinamos as virtudes básicas: a fé, a esperança e a caridade.

Fonte: http://mensageiro.comunhaoespirita.org.br/?p=2044

DIVALDO LÊ VÁRIAS VEZES "O LIVRO DOS ESPÍRITOS"



                        
Conta Divaldo: "Quando eu comecei o exercício da mediunidade - se hoje enfrento dificuldades, imaginem há 30 anos atrás o que é que eu era -, via os Espíritos, sentia-os, mas não compreendia o fenômeno. Certo dia apareceu-me um Espírito e disse-me:
-          Divaldo, você é médium, mas não é espírita, não é verdade?
Ao que confirmei:
-          Não senhor, não sou espírita.
-          Mas deve sê-lo! E a única forma de ser espírita é começar pelo começo: estudar O Livro dos Espíritos.
Eu nunca tinha ouvido falar em O Livro dos Espíritos, em 1948. Procurei-o muito até que o encontrei. Era um livro grosso, bem gordinho - porque os livros lidos engordam; aqueles bonitinhos, na estante, são para decorar, comprados a metro, ficam belos, lustrosos e magros. Quando o olhei, pensei, surpreso:
-          Meu Deus, será que eu vou aguentar ler este livro todo até o fim?
Porque eu estava acostumado a ler "Guri", "Gibi", o "Globo Juvenil", que eram as revistas da época. Como o Espírito me mandara lê-lo, tomei-o e o li. Quando deparei a letra miúda da "Introdução" comecei a saltar trechos que não me pareciam interessantes, tal a minha ignorância. Depois, tomava assim casualmente e virava diversas páginas. Acabei a "Introdução" em alguns minutos. No capítulo do "Prolegômenos", perturbei-me por ignorar o significado da palavra, que perguntei ao Espírito amigo e ele respondeu-me:
-          Compre um dicionário, porque o Espiritismo também é doutrina de cultura. À medida em que você conhecer o Espiritismo, melhorará o seu vocabulário, o seu conhecimento.
Comprei o dicionário, mas fui tão sem sorte que nele não havia a palavra "Prolegômenos".
Adquiri, então, um outro dicionário maior. Em dois dias, eu acabei de ler O Livro dos Espíritos. Quando o Espírito amigo me apareceu - ainda me lembro como hoje - indaguei:
-          E agora, qual o livro que devo ler?
Ele respondeu:
-     O Livro dos Espíritos.
-          Mas, meu irmão - esclareci - eu já o li.
Ele insistiu:
-          Leia-o de novo, Divaldo.
Pensei:
-          Vai ver que ele notou que eu saltei algumas páginas.
Voltei a ler a extraordinária obra. Fui descobrindo tesouros valiosos. Demorei dois meses ou mais e li-o até a última palavra. Quando o Espírito aparecer-me, disse-lhe:
-          Agora eu o li de ponta a ponta. Qual é o livro que deverei ler?
E ele:
-          Volte a ler com mais atenção O Livro dos Espíritos.
Obedeci. Durante a leitura eu tinha que parar para meditar, porque as respostas eram tão extraordinárias que me conduziam a demoradas reflexões.
Demorei-me quase um ano na leitura. Memorizei questões e detive-me a pensar.
Posteriormente, indaguei ao Benfeitor Espiritual:
-          E agora qual o livro que deverei ler?
Ele orientou-me:
-          Bem, agora você pode ler O Livro dos Médiuns, mas vai continuar estudando O Livro dos Espíritos até além da morte. Porque, à medida que você tenha tirocínio, melhor o entenderá. Se você aplicar cem anos da sua vida examinando o conhecimento geral à luz de O Livro dos Espíritos, os cem anos serão insuficientes para penetrá-lo na sua totalidade, já que ele é como a seiva e a síntese da cultura universal, que só daqui há muito tempo o homem entenderá em toda a sua profundidade."