Angústia?
Ao que se conhece, todo tratamento para a supressão da ansiedade está baseado ou complementado pelo serviço em favor de alguma causa nobre ou em auxílio de alguém. Faça o melhor que puder, em qualquer situação, com tamanho devotamento à felicidade alheia que não sofrerá arrependimento ou remorso, em tempo de crise. Se você almeja situações que presentemente não consegue alcançar, faça o melhor que possa, onde esteja e, sem dúvida, trabalhando sempre, você atingirá o lugar que deseja. Se você receia a velhice do corpo, lembre-se de que a resistência física avançada no tempo não é a noite de hoje e sim o alvorecer de amanhã. |
pelo Espírito André Luiz - Do livro: Canteiro de Ideías, Médium: Francisco Cândido Xavier. |
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quarta-feira, 4 de setembro de 2013
Angústia
Do projeto de caixa geral de socorro e outras instituições para os espíritas
Do projeto de caixa geral de socorro e outras instituições para os espíritas
(Revista Espírita julho de 1866)
Num dos grupos espíritas de Paris, um médium recebeu ultimamente a comunicação que segue, do Espírito de sua avó:
“Meu caro filho, vou falar-te um instante das questões de caridade que te preocupavam esta manhã, a caminho do trabalho.
“As
crianças que são entregues a amas mercenárias e as mulheres pobres que
são forçadas, com desprezo do pudor que lhes é caro, a servir, nos
hospitais, de material experimental para os médicos e para os estudantes
de medicina, são duas grandes chagas que todos os bons corações devem
aplicar-se em curar, e isto não é impossível. Que os espíritas façam
como os católicos. Que eles economizem um pouquinho por semana e,
capitalizando esses recursos, chegarão a fundações sérias, grandes e
realmente eficazes. A caridade que alivia um mal presente é uma caridade
santa, que eu encorajo com todas as minhas forças, mas a caridade que
se perpetua em fundações imortais como as misérias que são destinadas a
aliviar, é uma caridade inteligente e que me tornaria feliz ao vê-la
posta em prática.
“Gostaria
que um trabalho fosse elaborado com o fito de criar de início um
primeiro estabelecimento de proporções restritas. Quando se tivesse
visto o bom resultado dessa primeira criação, passar-se-ia a outra, que
seria aumentada pouco a pouco, como Deus quer que seja aumentada, porque
o progresso se realiza por uma marcha lenta, sábia, calculada. Repito
que o que proponho não é difícil; não haverá um único espírita
verdadeiro que ousaria faltar ao apelo para o alívio de seus
semelhantes, e os espíritas são bastante numerosos para formar, pela
acumulação de um tanto por semana, um capital suficiente para um
primeiro estabelecimento a serviço das mulheres doentes, que seriam
cuidadas por mulheres, e que deixariam então de ocultar seus sofrimentos
para salvaguardar o seu pudor.
“Entrego
estas reflexões à meditação das pessoas benevolentes que assistem à
sessão, e estou bem convicta que elas darão bons frutos. Os grupos do
interior ligar-se-iam prontamente a uma ideia tão bela e ao mesmo tempo
tão útil e paternal. Além do mais, seria um monumento do valor moral do
Espiritismo tão caluniado, e que continuará a ser encarniçadamente
caluniado ainda por muito tempo.
“Eu
disse que a caridade local é boa e que é útil a um indivíduo, mas ela
não eleva o espírito das massas como uma obra duradoura. Não seria belo
que se pudesse repelir a calúnia dizendo aos caluniadores: “Eis o que
nós fizemos. A árvore se reconhece pelo fruto; uma árvore má não dá bons
frutos, e a boa árvore não os dá maus.”
“Pensai
também nas pobres crianças que saem dos hospitais e que vão morrer em
mãos mercenárias, dois crimes simultâneos: o de entregar a criança
desarmada e fraca e o daquele que a sacrificou sem compaixão. Que todos
os corações elevem seus pensamentos para as tristes vítimas da sociedade
imprevidente, e que procurem encontrar uma boa solução para salvá-las
de suas misérias. Deus quer que tentemos, e dá os meios de alcançar o
objetivo; é preciso agir. Triunfamos quando temos fé, e a fé transporta
montanhas. Que o Sr. Kardec trate da questão em seu jornal, e vereis
como será aclamada com dedicação e entusiasmo.
“Eu
disse que era necessário um monumento material que atestasse a fé dos
espíritas, como as pirâmides do Egito atestam a vaidade dos Faraós, mas,
em vez de fazer loucuras, fazei obras que levam a marca do próprio
Deus. Todo mundo deve compreender-me; não insisto.
“Retiro-me,
meu caro filho. Tua boa avó, como vês, ama sempre os seus netos, como
te amava quando eras criancinha. Quero que tu os ames como eu, e que
penses em encontrar uma boa organização. Tu podes, se quiseres e, se
necessário, nós te ajudaremos. Eu te abençoo
“MARIE G...”
A
ideia de uma caixa central e geral de socorro formada entre os
espíritas já foi concebida e emitida por homens animados de excelentes
intenções, mas não basta que uma ideia seja grande, bela e generosa, é
preciso, antes de tudo, que ela seja exequível. Certamente demos mostras
suficientes de nosso devotamento à causa do Espiritismo para não ser
suspeito de indiferença a respeito disso. Ora, é precisamente por força
de nossa própria solicitude que buscamos alertar contra o entusiasmo que
cega. Antes de empreender uma coisa, é preciso friamente calcular-lhe
os prós e os contras, a fim de evitar revezes sempre desagradáveis, que
não deixariam de ser explorados por nossos adversários. O Espiritismo só
deve marchar com passo firme, e quando põe os pés num lugar, deve estar
seguro de pisar em terreno firme. Nem sempre a vitória é do mais
apressado, mas muito mais seguramente daquele que sabe aguardar o
momento propício. Há resultados que não podem ser senão obra do tempo e
da infiltração da ideia no espírito das massas. Saibamos, pois, esperar
que a árvore esteja formada, antes de lhe pedir uma colheita abundante.
Há
muito tempo nós vos propúnhamos tratar a fundo da questão em tela, para
situá-la no seu verdadeiro terreno e premunir contra as ilusões de
projetos mais generosos do que refletidos, cujo abortamento teria
consequências lamentáveis. A comunicação relatada acima, sobre a qual
tiveram a bondade de pedir nossa opinião, nos oferece a ocasião muito
natural. Examinaremos, pois, tanto o projeto de centralização dos
recursos quanto o de algumas outras instituições e estabelecimentos
especiais para o Espiritismo.
Antes
de tudo convém sondar o estado real das coisas. Sem dúvida os espíritas
são muito numerosos e seu número cresce incessantemente. Sob este ponto
de vista, ele oferece um espetáculo único, o de uma propagação
inusitada na história das doutrinas filosóficas, porque não há uma só,
sem excetuar o Cristianismo, que tenha ligado tantos partidários em tão
poucos anos. Isto é um fato notório que confunde os próprios
antagonistas. E o que não é menos característico, é que essa propagação,
em vez de fazer-se num centro único, opera-se simultaneamente em toda a
superfície do globo e em milhares de centros. Disso resulta que os
adeptos, embora sejam muito numerosos, ainda não formam, em parte
alguma, uma aglomeração compacta.
Essa
dispersão, que à primeira vista parece uma causa de fraqueza, é, ao
contrário, um elemento de força. Cem mil espíritas disseminados num país
fazem mais pela propagação da ideia do que se estivessem amontoados
numa cidade. Cada individualidade é um foco de ação, um germe que produz
brotos; por sua vez, cada broto produz mais ou menos, e os ramos, que
se reúnem pouco a pouco, cobrirão a região mais prontamente do que se a
ação partisse de um ponto único. É absolutamente como se um punhado de
grãos tivesse sido atirado ao vento, em vez de serem postos todos no
mesmo buraco. Graças a essa quantidade de pequenos centros, a doutrina é
menos vulnerável do que se tivesse um só, contra o qual seus inimigos
poderiam dirigir toda a sua força. Um exército primitivamente compacto
que é dispersado pela força ou por qualquer outra causa, é um exército
perdido. Aqui o caso é diferente. A disseminação dos espíritas não é um
caso de dispersão, é o estado primitivo tendendo à concentração, para
formar uma vasta unidade. A primeira está no fim; a segunda está no seu
nascedouro.
Àqueles,
pois, que se lamentam de seu isolamento numa localidade, respondemos:
Agradecei ao céu, ao contrário, por vos haver escolhido como pioneiros
da obra em vossa região. Cabe a vós lançar aí as primeiras sementes.
Talvez elas não germinem imediatamente; talvez não chegueis a recolher
os frutos; talvez mesmo tenhais que sofrer em vosso trabalho, mas pensai
que não se prepara uma terra sem trabalho, e tende certeza de que, mais
cedo ou mais tarde, o que tiverdes semeado frutificará. Quanto mais
ingrata for a tarefa, mais méritos tereis, ainda que apenas rasgásseis o
caminho aos que virão depois de vós.
Sem
dúvida, se os espíritas devessem ficar sempre no estado de isolamento,
seria uma causa permanente de fraqueza; mas a experiência prova quanto a
doutrina é vivaz, e sabemos que para cada ramo abatido, há dez que
renascem. Sua generalização é, pois, uma questão de tempo. Ora, por mais
rápida que seja a sua marcha, ainda é preciso o tempo suficiente e,
enquanto se trabalha na obra, é preciso saber esperar que o fruto esteja
maduro antes de colhê-lo.
Essa
disseminação momentânea dos espíritas, essencialmente favorável à
propagação da doutrina, é um obstáculo à execução de obras coletivas de
certa importância, pela dificuldade, senão pela impossibilidade, de
reunir num mesmo ponto elementos bastante numerosos.
Dirão
que é precisamente para obviar esse inconveniente, para apertar os
laços de confraternidade entre os membros isolados da grande família
espírita, que se propõe a criação de uma caixa central de socorro.
Certamente este é um pensamento grande e generoso que seduz à primeira
vista, mas já se refletiu nas dificuldades de execução?
Uma
primeira questão se apresenta. Até onde estender-se-ia a ação dessa
caixa? Limitar-se-ia à França, ou compreenderia os outros países? Há
espíritas em todo o globo. Os de todos os países, de todas as castas e
de todos os cultos não são nossos irmãos? Se, pois, a caixa recebesse
contribuições de espíritas estrangeiros, o que aconteceria
infalivelmente, teria ela o direito de limitar sua assistência a uma
única nacionalidade? Poderia conscienciosamente e caridosamente
perguntar ao que sofre se é russo, polonês, alemão, espanhol, italiano
ou francês? A menos que faltasse ao seu objetivo, ao seu dever, ela
deveria estender a sua ação do Peru à China. Basta pensar na complicação
das engrenagens de tal empresa para ver quanto ela é quimérica.
Suponhamo-la
circunscrita à França, e não seria menos uma administração colossal, um
verdadeiro ministério. Quem quereria assumir a responsabilidade de um
tal manejo de fundos? Para uma gestão dessa natureza não bastariam
integridade e devotamento: seria necessária uma alta capacidade
administrativa. Admitindo-se, entretanto, vencidas as primeiras
dificuldades, como exercer um controle eficaz sobre a extensão e a
realidade das necessidades, sobre a sinceridade da qualidade de
espírita? Semelhante instituição em breve veria surgirem adeptos, ou que
tais se dizem, aos milhões, mas não seriam estes que iriam alimentar a
caixa. A partir do momento que ela existisse, julgá-la-iam inesgotável, e
em breve ela se veria impossibilitada de satisfazer a todas as
exigências de seu mandato. Fundada sobre tão vasta escala,
consideramo-la impraticável, e de nossa parte, não lhe daríamos a mão.
Por
outro lado, não teria ela que temer oposição à sua própria
constituição? O Espiritismo apenas nasce e ainda não está, por toda
parte, em odor de santidade, para que se julgue ao abrigo de suposições
malévolas. Não poderiam enganar-se quanto às suas intenções numa
operação de tal gênero? Não poderiam supor que, sob uma capa, oculte ele
outro objetivo? Numa palavra, fazer assimilações, de que seus
adversários alegariam exceção de justiça para excitar a desconfiança
contra ele? Por sua natureza, o Espiritismo não é nem pode ser uma
filiação, nem uma congregação. Ele deve, pois, no seu próprio interesse,
evitar tudo quanto lhe desse aquela aparência.
Então
é preciso que, por medo, o Espiritismo fique estacionário? Não é
agindo, perguntarão, que ele mostrará o que é, que dissipará a
desconfiança e vencerá a calúnia? Sem sombra de dúvida, mas não se deve
pedir à criança o que exige as forças da idade viril. Longe de servir ao
Espiritismo, seria comprometê-lo e expô-lo aos golpes e à chacota de
seus adversários e ligar seu nome a coisas quiméricas. Certamente ele
deve agir, mas no limite do possível. Deixemos-lhe, pois, tempo de
adquirir as forças necessárias, e então ele dará mais do que se pensa.
Ele não está nem sequer completamente constituído em teoria. Como querem
que ele dê o que só pode ser o resultado da completude da doutrina?
Aliás, há outras considerações que importa levar em conta.
O
Espiritismo é uma crença filosófica, e basta simpatizar com os
princípios fundamentais da doutrina para ser espírita. Falamos dos
espíritas convictos e não dos que afivelam a máscara, por motivos de
interesses ou outros também pouco confessáveis. Esses não se contam,
porquanto neles não há nenhuma convicção. Dizem-se espíritas hoje, na
esperança de daí tirar vantagens; serão adversários amanhã, se não
encontrarem o que buscam, ou então se farão de vítimas de sua dedicação
fictícia, e acusarão os espíritas de ingratidão por não sustentá-los.
Não seriam os últimos a explorar a caixa geral, para se compensar de
especulações abortadas ou reparar desastres causados por sua incúria ou
por sua imprevidência, e a lhe atirar pedras, se ela não os satisfizer.
Isso tudo não deve parecer estranho, porquanto todas as crenças contam
com semelhantes auxiliares e testemunham a representação de semelhantes
comédias.
Há
também a massa considerável dos espíritas por intuição; os que são
espíritas pela tendência e pela predisposição de ideias, sem estudo
prévio; os indecisos, que ainda flutuam, à espera dos elementos de
convicção que lhes são necessários. Sem exagero, podemos estimá-los em
um quarto da população. É o grande canteiro onde se recrutam os adeptos,
mas eles ainda não podem ser levados em conta.
Entre
os espíritas reais, aqueles que constituem o verdadeiro corpo dos
adeptos, há certas distinções a fazer. Na primeira linha há que colocar
os adeptos de coração, animados de fé sincera, que compreendem o
objetivo e o alcance da doutrina e aceitam todas as consequências para
si mesmos; seu devotamento é a toda prova e sem segundas intenções; os
interesses da causa, que são os da Humanidade, são sagrados para eles, e
eles jamais os sacrificarão a uma questão de amor-próprio ou de
interesse pessoal. Para eles, o lado moral não é uma simples teoria;
eles esforçam-se por pregar pelo exemplo; não só têm a coragem de sua
opinião, mas consideram-na uma glória, e, conforme a necessidade, sabem
pagar com sua pessoa.
Vêm
a seguir os que aceitam a ideia como filosofia, porque ela lhes
satisfaz a visão, mas cuja fibra moral não é suficientemente tocada para
compreenderem as obrigações que a doutrina impõe aos que a adotam. O
homem velho está sempre ali, e a reforma de si mesmo lhes parece tarefa
muito pesada. Mas como não estão menos firmemente convencidos, entre
eles encontram-se propagadores e zelosos defensores.
Depois,
há pessoas levianas, para quem o Espiritismo está todo inteiro nas
manifestações. Para eles é um fato, e nada mais. O lado filosófico passa
desapercebido. O atrativo de curiosidade é para eles o móvel principal.
Extasiam-se ante o fenômeno e ficam frios ante uma consequência moral.
Enfim,
há o número ainda muito grande dos espíritas mais ou menos sérios que
não puderam colocar-se acima dos preconceitos e do que os outros dirão,
retidos pelo medo do ridículo, bem como aqueles cujas considerações
pessoais ou de família e interesses por vezes respeitáveis a
administrar, são forçados, de certo modo, a se manterem afastados. Todos
esses, numa palavra, que por uma ou por outra causa, boa ou má, não se
põem em evidência. A maioria não desejaria mais do que confessar-se
espírita, mas não ousam ou não podem. Isso virá mais tarde, à medida que
virem outros fazê-lo e perceberem que não há perigo. Esses serão os
espíritas de amanhã, como outros são os da véspera. Contudo, não se pode
esperar muito deles, porque é necessária uma força de caráter que não é
dada a todos, para enfrentar a opinião em certos casos. É preciso,
pois, levar em consideração a fraqueza humana. O Espiritismo não tem o
privilégio de transformar subitamente a Humanidade, e se a gente pode
admirar-se de uma coisa, é do número de reformas que ele já operou em
tão pouco tempo. Ao passo que nuns, onde encontra o terreno preparado,
ele entra, por assim dizer, de uma vez, noutros só penetra gota a gota,
conforme a resistência que encontra no caráter e nos hábitos.
Todos
esses adeptos se incluem no cômputo, e por mais imperfeitos que sejam,
são sempre úteis, embora num limite restrito. Até nova ordem, se
servissem apenas para diminuir as fileiras da oposição, isto já seria
alguma ciosa. É por isso que não se deve desdenhar nenhuma adesão
sincera, mesmo parcial.
Mas
quando se trata de uma obra coletiva importante, para a qual cada um
deve trazer seu contingente de ação, como seria a de uma caixa geral,
por exemplo, convém levar em conta essas considerações, porque a
eficácia do concurso que se pode esperar está na razão da categoria a
que pertencem os adeptos. É bem evidente que não se pode contar muito
com os que não levam a sério o lado moral da doutrina e, ainda menos,
com os que não ousam mostrar-se.
Restam,
pois, os adeptos da primeira categoria. Desses, certamente, tudo se
pode esperar. São os soldados de vanguarda, e que o mais das vezes não
esperam o chamado quando se trata de dar provas de abnegação e
devotamento, mas numa cooperativa financeira, cada um contribui conforme
os seus recursos, e o pobre não pode dar senão o seu óbolo. Aos olhos
de Deus, esse óbolo tem um grande valor, mas para as necessidades
materiais ele tem apenas o seu valor intrínseco. Tirando todos aqueles
cujos meios de subsistência são limitados, aqueles mesmo que tiram a
subsistência do seu trabalho, o número dos que poderiam contribuir um
pouco largamente e de maneira eficaz é relativamente restrito.
Uma
observação ao mesmo tempo interessante e instrutiva é a da proporção
dos adeptos segundo as categorias. Essa proporção variou sensivelmente e
se modifica em razão do progresso da doutrina; mas neste momento ela
pode ser avaliada aproximadamente da maneira seguinte:
1.ª categoria, espíritas completos, de coração e devotamento, 10%;
2ª categoria, espíritas incompletos, buscando mais o lado científico que o lado moral, 25%;
3ª categoria, espíritas levianos, só interessados nos fatos materiais, 5%, (esta proporção era inversa há dez anos);
4ª categoria, espíritas não confessos ou que se ocultam, 60%.
Relativamente
à posição social, evidenciam-se duas classes gerais: de um lado,
aqueles cuja fortuna é independente; do outro, os que vivem do trabalho.
Em 100 espíritas da 1.ª categoria, há em média 5 ricos para 95 trabalhadores;
na 2ª, 70 ricos para 30 trabalhadores; na 3ª, 80 ricos para 20
trabalhadores; e na 4.ª, 99 ricos para l trabalhador.
Seria
ilusão pensar que em tais condições uma caixa geral pudesse satisfazer a
todas as necessidades, quando a do mais rico banqueiro não bastaria.
Não seriam milhares de francos necessários anualmente, mas alguns
milhões.
De
onde vem essa diferença na proporção entre os que são ricos e os que
não o são? A razão é muito simples: os aflitos acham no Espiritismo uma
imensa consolação que os ajuda a suportar o fardo das misérias da vida;
dá-lhes a razão dessas misérias e a certeza de uma compensação. Assim,
não nos surpreende que, tirando mais proveito do benefício, eles o
apreciem mais e o tomem mais a sério do que os felizes do mundo.
As
pessoas se admiraram que, quando semelhantes projetos vieram a público,
nós não nos apressamos em apoiá-los e patrociná-los. É que, antes de
tudo, apegamo-nos a ideias positivas e práticas; o Espiritismo é para
nós uma coisa muito séria para empenhá-lo prematuramente em vias onde
pudesse encontrar decepções. De nossa parte, não há nisso nem
despreocupação nem pusilanimidade, mas prudência, e sempre que ele
estiver maduro para avançar, não ficaremos na retaguarda. Não é que nos
atribuamos mais perspicácia do que aos outros; é que a nossa posição,
permitindo-nos a visão de conjunto, permite-nos julgar os pontos fortes e
os fracos, talvez melhor do que aqueles que se acham num círculo mais
restrito. Aliás, damos a nossa opinião e não pretendemos impô-la a
ninguém.
O
que acaba de ser dito a respeito da criação de uma caixa geral e
central de socorro, aplica-se naturalmente aos projetos de fundação de
estabelecimentos hospitalares e outros. Ora, aqui a utopia é ainda mais
evidente. Se é fácil pôr um projeto no papel, não é o mesmo quando se
chega às vias e meios de execução. Construir um edifício ad hoc já é uma enormidade, e quando estivesse pronto, seria preciso provê-lo de pessoal suficiente e capaz,
depois assegurar a sua manutenção, porque tais estabelecimentos custam
muito e nada rendem. Não são apenas grandes capitais que se requerem,
mas grandes rendimentos. Admitamos, entretanto, que à força de
perseverança e de sacrifícios chegue-se a criar, como dizem, um pequeno
modelo; quão mínimas não seriam as necessidades que ele poderia
satisfazer em relação à massa e à disseminação dos necessitados em um
vasto território! Seria uma gota d’água no oceano, e se há tantas
dificuldades para um só, mesmo em pequena escala, muito pior seria se se
tratasse de multiplicá-los. O dinheiro assim empregado, portanto, não
resultaria em proveito senão de alguns indivíduos, ao passo que,
judiciosamente repartido, ajudaria a viver um grande número de
infelizes.
Seria
um modelo, um exemplo, que seja, mas por que aplicar-se em criar
quimeras, quando as coisas existem prontas, montadas, organizadas, com
meios poderosos de que jamais disporão os particulares? Esses
estabelecimentos deixam a desejar; há abusos; eles não suprem todas as
necessidades, isto é evidente, contudo, se os compararmos ao que eram há
menos de um século, constataremos uma imensa diferença e um progresso
constante. A cada dia vê-se a introdução de um melhoramento. Não
podemos, pois, duvidar que com o tempo novos progressos sejam
realizados, pela força das coisas. As ideias espíritas devem,
infalivelmente, apressar a reforma de todos os abusos, porque, melhor
que outras, elas penetram os homens com o sentimento do dever; por toda
parte onde elas penetrarem, os abusos cairão e o progresso se efetivará.
Portanto, em difundi-las é que se faz necessário empenhar-se: aí está a
coisa possível e prática; aí está a verdadeira alavanca, alavanca
irresistível quando ela tiver adquirido uma força suficiente pelo
desenvolvimento completo dos princípios e pelo número dos adeptos
sérios. A julgar o futuro pelo presente, podemos afirmar que o
Espiritismo terá levado à reforma de muitas coisas muito antes que os
espíritas tenham podido acabar o primeiro estabelecimento do gênero
desse de que falamos, se algum dia o empreendessem, mesmo que todos
tivessem que dar um cêntimo por semana. Por que, então, gastar suas
energias em esforços supérfluos, em vez de concentrá-las no ponto
acessível e que seguramente deve conduzir ao objetivo? Mil adeptos
ganhos para a causa e espalhados em mil lugares diversos apressarão mais
a marcha do progresso do que um edifício.
Diz
o Espírito que ditou a comunicação acima que o Espiritismo deve se
afirmar e mostrar o que é por um monumento durável à caridade. Mas de
que serviria um monumento à caridade, se a caridade não estiver no
coração? Ele ergue uma obra mais durável que um monumento de pedra: é a
doutrina e suas consequências, para o bem da Humanidade. É para isso que
cada um deve trabalhar com todas as suas forças porque ele durará mais
que as pirâmides do Egito.
Pelo
fato de que esse Espírito se engana, segundo nós, sobre esse ponto,
isto nada lhe tira de suas qualidades. Incontestavelmente, ele está
animado de excelentes sentimentos, mas um Espírito pode ser muito bom,
sem ser um apreciador infalível de todas as coisas; nem todo bom soldado
é necessariamente um bom general.
Um
projeto de realização menos quimérica é o da formação de sociedades de
socorros mútuos entre os espíritas de uma mesma localidade. Mas, ainda
aqui, não é possível isentar-se de algumas das dificuldades que
assinalamos: a falta de aglomeração e a cifra ainda pequena daqueles com
os quais se pode contar para um concurso efetivo. Outra dificuldade vem
da falsa assimilação que se faz dos espíritas a certas classes de
indivíduos. Cada profissão apresenta uma delimitação claramente marcada.
Pode facilmente estabelecer-se uma sociedade de socorro mútuo entre
pessoas de uma mesma profissão, entre pessoas de um mesmo culto, porque
elas se distinguem por alguma coisa de característica, e por uma posição
de certo modo oficial e reconhecida. Assim não se dá com os espíritas,
que não são registrados como tais em parte alguma, e cuja crença não é
atestada por nenhum título. Há espíritas de todas as classes sociais, em
todas as profissões, em todos os cultos, e em parte alguma eles
constituem uma classe distinta. Sendo o Espiritismo uma crença fundada
numa convicção íntima, da qual não se deve satisfação a ninguém,
conhecemos apenas aqueles que se põem em evidência ou que frequentam os
grupos, e não o número considerável daqueles que, sem se ocultar, não
fazem parte de nenhuma reunião regular. Eis por que, a despeito da
certeza em que se está de que os adeptos são numerosos, é difícil chegar
a uma cifra suficiente, quando se trata de uma operação coletiva.
Acerca
das sociedades de socorros mútuos, apresenta-se outra consideração. O
Espiritismo não forma, nem deve formar classe distinta, pois se dirige a
todos; por seu princípio, ele deve estender sua caridade
indistintamente, sem inquirir sobre a crença, porque todos os homens são
irmãos. Se ele fundar instituições de caridade exclusivas para os seus
adeptos, é forçado a perguntar ao que reclama assistência: “Sois dos
nossos? Que prova nos dais? Se não, nada podemos fazer por vós.” Assim,
ele mereceria a censura de intolerância que dirige aos outros. Não, para
fazer o bem, o espírita não deve sondar a consciência e a opinião, e
mesmo que tenha diante de si um inimigo de sua fé, mas infeliz, ele deve
ir em seu auxílio, no limite de suas faculdades. É agindo assim que o
Espiritismo mostrará o que ele é, e provará que vale mais do que o que
se lhe opõem.
As
sociedades de socorros mútuos se multiplicam por todos os lados e em
todas as classes de trabalhadores. É uma excelente instituição, prelúdio
do reino da fraternidade e da solidariedade, de que se sente
necessidade. Elas beneficiam os espíritas que delas participam, como a
todo mundo. Por que fundá-las só para eles, com exclusão dos outros? Que
ajudem a propagá-las, porque são úteis; que, para torná-las melhores,
nelas façam penetrar o elemento espírita, nelas entrando eles próprios, o
que seria mais proveitoso para eles e para a doutrina. Em nome da
caridade evangélica inscrita em sua bandeira; em nome dos interesses do
Espiritismo, nós os concitamos a evitar tudo quanto possa estabelecer
uma barreira entre eles e a Sociedade. Agora que o progresso moral tende
a reduzir as que dividem os povos, o Espiritismo não deve erigi-las;
sua essência é de penetrar em toda parte; sua missão, melhorar tudo o
que existe; ele nisso falharia se se isolasse.
Devendo,
pois, ser individual a beneficência, e neste caso, sua ação não será
mais limitada do que se for coletiva? A beneficência coletiva tem
vantagens incontestáveis, e longe de censurá-la nós a encorajamos. Nada
mais fácil do que praticá-la nos grupos, recolhendo por meio de
cotizações regulares ou de donativos facultativos os elementos de um
fundo de socorro. Mas então, agindo num círculo restrito, o controle das
verdadeiras necessidades é fácil; o conhecimento que delas se pode ter
permite uma distribuição mais justa e mais proveitosa. Com uma módica
quantia, bem distribuída e dada com discernimento, podem ser
prestados mais serviços reais do que com uma grande soma dada sem
conhecimento de causa e por assim dizer ao acaso. É, pois, necessário
dar-se conta de certos detalhes, se não se quiser gastar seus recursos
sem proveito. Ora, compreende-se que tais cuidados seriam impossíveis se
se operasse em vasta escala. Aqui nada de dédalo administrativo, nada
de pessoal burocrático. Algumas pessoas de boa vontade, e eis tudo.
Não
podemos senão encorajar com todas as forças a beneficência coletiva nos
grupos espíritas. Nós conhecemos alguns em Paris, no interior e no
Estrangeiro, que são fundados, senão exclusivamente, pelo menos
principalmente com esse objetivo, e cuja organização nada deixa a
desejar. Lá, membros dedicados vão a domicílio inquirir dos sofrimentos e
levar o que às vezes vale mais do que os socorros materiais: as
consolações e o encorajamento. Honra a eles, porque bem merecem do
Espiritismo! Que cada grupo assim haja em sua esfera de atividade, e
todos juntos realizarão maior soma de bens do que uma caixa central
quatro vezes mais rica.
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
LEI DE CONSERVAÇÃO
02
- Lei de Conservação
Pergunta
711 -O uso dos bens da Terra é um direito de todos os homens? - "Esse
direito é consequente da necessidade de viver. Deus não imporia
um dever sem dar ao homem o meio de cumprí-lo."
Pergunta
715 - Como pode o homem conhecer o limite do necessário? - "Aquele
que é ponderado o conhece por intuição. Muitos só
chegam a conhecê-lo por experiência e à sua própria
custa."
1
- O DINHEIRO
De
fato, o dinheiro constitui pesada responsabilidade para o seu possuidor.
Não
compra a felicidade e, muitas vezes, torna-se responsável por incontáveis
desditas.
Apesar
disso, a sua ausência quase sempre se transforma em fator de desequilíbrio
e miséria com que se atormentam multidões em desvario.
O
dinheiro, em si mesmo, não tem culpa: não é bom nem mau.
A
aplicação que se lhe dá, torna-o agente do progresso social,
do desenvolvimento técnico, do conforto físico e, às vezes,
moral, ou causa de inomináveis desgraças.
Sua
validade decorre do uso que lhe é destinado. Com ele se adquirem o pão,
o leite, o medicamento, dignificando o homem pelo trabalho.
Sua
correta aplicação impõe responsabilidade e discernimento,
tornando-se fator decisivo na edificação dos alicerces das nações
e estabilizando o intercâmbio salutar entre os povos.
Por meio dele irrompem o vício e a corrupção, que arrojam criaturas levianas em fundos despenhadeiros de loucura e criminalidade.
Por meio dele irrompem o vício e a corrupção, que arrojam criaturas levianas em fundos despenhadeiros de loucura e criminalidade.
Para
consegui-lo, empenham-se os valores da inteligência, em esforços
exaustivos, por meio dos quais são fomentados a indústria, o comércio,
as realizações de alto porte, as ciências, as artes, os
conhecimentos.
No
submundo das paixões, simultaneamente, dele se utilizando, a astúcia
e a indignidade favorecem os disparates da emoção, aliciando as
ambições desregradas para o consórcio da anarquia com o
prazer.
Por
seu intermédio, uns são erguidos aos píncaros da paz, da
glória humana, enquanto outros são arrojados às fumas pestilentas
do pavor e da desagregação moral em que sucumbem.
Sua
presença ou ausência é relevante para a quase totalidade
dos homens terrenos.
Para
o intercâmbio, no movimento das trocas de produtos e valores, o dinheiro
desempenha papel preponderante.
Graças
a ele, estabelecem-se acordos de paz e por sua posse explodem guerras calamitosas.
Usa-o
sem escravizar-te.
Possui-o
sem deixar-te por ele possuir. Domina-o antes que te domine.
Dirigi-o
com elevação, a fim de que não sejas mal conduzido.
Mediante
sua posse, faze-te pródigo, sem te tornares perdulário.
Cuida
de não submeter tua vida, teus conceitos, tuas considerações
e amizades ao talante do seu condicionamento.
Previdente,
multiplica-o a benefício de todos, sem a avareza que alucina ou a ambição
que tresvaria.
De
como te servires do dinheiro, construirás o céu da alegria ou
o inferno de mil tormentos para ti mesmo.
Se
te escasseia nas mãos a moeda, não te suponhas vencido.
Ter
ou deixar de ter, importa pouco, na economia moral da tua existência.
O
importante será a posição que assumas em relação
à posse.
Não
te desesperes pela ausência do dinheiro. Como há aqueles que se
fizeram servos do que têm, há-os, também, escravizados aos
que gostariam de ter.
O
dinheiro é meio, não meta.
Imprescindível
colocar-te jubilosamente na situação que a vida te brindou, padronizando
as diretrizes e os desejos pessoais dentro dos limites transitórios da
experiência educativa por que passas, conseqüência natural
do mau uso que fizeste do dinheiro que um dia possuíste.
Por
outros recursos poderás ajudar o próximo e erigir a felicidade
pessoal, conforme as luminosas lições com que o Evangelho te pode
enriquecer a vida.
Essencial
é viver bem e em paz com ou sem o dinheiro.
2
- DESPERDÍCIOS
Há
muito desperdício no mundo, fomentando larga faixa de miséria
entre os homens.
O
que há abundante em tua mesa falta em muitos lares.
O
excesso nas tuas mãos é escassez em inúmeras famílias.
O
que te sobra e atiras fora, produz ausência em outros lugares.
O
desperdício é fator expressivo de ruína na comunidade.
O
homem, desejando fugir das realidades transcendentes da vida, afoga-se na fantasia,
engendrando as "indústrias da inutilidade", abarrotando-se
com os acúmulos, padecendo sob o peso constritor da irresponsabilidade,
em que sucumbe por fim.
A
vida é simples nas suas exigências quase ascéticas. Muitos
cristãos distraídos, porém, ataviam-se, complicam os deveres,
sobrecarregam-se do dispensável, desperdiçam valores, tempo e
oportunidades edificantes para o próprio burilamento.
Desperdiçam palavras, amontoando-as em verbalismo inútil a fim de esconderem as verdades; desperdiçam tempo em repousos e férias demorados, que anestesiam os centros combativos de ação da alma encarnada;
Desperdiçam palavras, amontoando-as em verbalismo inútil a fim de esconderem as verdades; desperdiçam tempo em repousos e férias demorados, que anestesiam os centros combativos de ação da alma encarnada;
-desperdiçam
alimentos em banquetes, recepções, festas extravagantes com que
disputam vaidades;
-desperdiçam
medicamentos em prateleiras empoeiradas, aguardando, no lar, doenças
que não chegarão, ou, em se apresentando, encontram-nos ultrapassados;
-desperdiçam
trajes e agasalhos em armários fechados, que não voltarão
a usar;
-desperdiçam
moedas irrecuperáveis em jogos e abusos de todo gênero, sem qualquer
recato ou zelo; desperdiçam a saúde nas volúpias do desejo
e nas inquietações da posse com sofreguidão;
-desperdiçam
a inteligência, a beleza, a cultura, a arte nos espetáculos do
absurdo e da incoerência, a fim de fazerem a viagem da recuperação
do que estragaram, em alucinada correria para lugar nenhum ...
Não
se recupera a malbaratada oportunidade. Ninguém volta ao passado, na
busca de refazê-lo, encaminhá-lo noutro rumo.
O
desperdício alucina o extravagante e exaure o necessitado que se lhe
faz vítima.
Há,
sim, muito e incompreensível desperdício na Terra.
Reparte
a tua fartura com a escassez do teu próximo.
Divide
os teus recursos, tuas conquistas e vê-los-ás multiplicados em
mil mãos que se erguerão louvando e abençoando as tuas,
generosas.
Passarás
pelo mundo queiras ou não. Os teus feitos ficarão aguardando o
teu retorno.
Como
semeares, assim colherás.
O
que desperdiçares hoje, faltar-te-á amanhã, não
o duvides.
Sê
pródigo sem ser perdulário, generoso sem ser desperdiçador
e o que conseguirás será crédito ou débito na contabilidade
da tua vida perene.
3
- PRESENÇA DO EGOÍSMO
No
fundo das desgraças humanas o egoísmo sempre aparece como causa
essencial.
Urde
a agressividade e inspira a fuga ao dever sob disfarces inescrupulosos com que
passa ignorado.
Remanescente
das paixões que predominam em a natureza animal, vige com vigor, logrando
triunfos de mentira com que não consegue saciar a sede dos gozos nem
organizar o bastião de segurança em que busca apoio para a sistemática
autodefesa.
Examinemo-lo
em algumas nuanças:
O
mentiroso acredita que se exime à responsabilidade do cometimento que
oculta e, não raro, avança no rumo da infâmia ou calúnia
logo a oportunidade se lhe faça propícia.
O
egoísmo é-lhe o nefando inspirador.
O
perseguidor crê-se amparado pela necessidade do desforço justo
ou que procura justificar, transformando-se em implacável algoz.
O
egoísmo sustenta-o na empresa inditosa.
O sensualista perverte o próximo, desrespeitando a honestidade das vítimas que lhe caem nas armadilhas.
O sensualista perverte o próximo, desrespeitando a honestidade das vítimas que lhe caem nas armadilhas.
O
egoísmo absorvente emula-o ao desar contínuo. O avaro amealha
com sofreguidão, cobrando à sociedade um tributo absurdo, devorando
os bens alheios e permitindo-se devorar pela sandice.
O
egoísmo faz-se-lhe a força que o propele na infeliz tarefa.
O
assaltante de qualquer denominação apropria-se indebitamente,
utilizando-se, subrepticiamente, da astúcia, da temeridade, do cinismo,
da loucura.
O
egoísmo domina-o feroz.
O
misantropo arroga-se direitos na infelicidade que se impõe e exerce enérgico
domínio em torno dos próprios passos com que não amaina
a melancolia em que se compraz.
O
egoísmo concita-o à lamentável situação.
O
vício de qualquer tipo, exercendo dominação sobre o homem,
sem facultar a outrem qualquer ensancha de prazer.
Crê-se
merecedor de tudo e a si mesmo se concede somente direitos e permissividades.
Morbo
pestilencial, no entanto, consome aquele que o agasalha e vitaliza.
Destrói
em volta, sem embargo aniquila-se.
O
conhecimento da vida espiritual constitui o antídoto eficaz a tão
violento quão generalizado mal: o egoísmo.
Descarta-te
de excessos e, disposto a vencê-lo, distribui o que te seja também
necessário.
Não
é uma conclamação à imprevidência, tampouco
apoio à avareza.
Imprescindível
combater por todos os modos possíveis esse adversário que se assenhoreia
da alma e lhe estrangula as possibilidades de libertação.
Ama
e espraia-te.
Desculpa
e cresce na fraternidade. Serve e desdobra a esperança.
Ora
e dilata os valores da iluminação espiritual, clarificando mentes
e corações no propósito excelente de vencer em definitivo
esse verdugo que tem sido a matriz de todos os males que pesam
na economia moral, social e espiritual da Humanidade.
4
- AMOR-PRÓPRIO
É
dos mais perigosos inimigos do homem. Ardilosamente oculta as intenções
de que se nutre e exterioriza falsas argumentações com que se
impõe, malévolo.
Ataca
no momento azado, após realizar hábeis manobras, persistentes
e vigorosas.
Consegue
ocultar os objetivos reais que o açulam e enfileira-se com destaque entre
os mais graves destruidores da harmonia íntima da criatura.
Intoxica
quem o conduz e desfere dardos venenosos com segurança, produzindo vítimas
que tombam, inermes, sob seus certeiros aguilhões.
Impiedoso,
compraz-se quando esmaga e afivela à face a máscara de falsa compaixão
com que dissimula os sorrisos da vitória nefasta.
Desvela-se
sob artifícios e consegue desviar a atenção da sua tarefa
lúgubre.
A
queda do próximo alegra-o; a desdita de alguém emula-o; o descoroçoamento
do lutador fascina-o; a derrota do adversário diverte-o ...
Este
venal servidor da desdita chama-se amor-próprio.
Fere-se
com facilidade e melindra-se sob pretextos imaginosos e fúteis.
Arregimenta
o desculpismo para si mesmo e a fiscalização severa para os outros.
Por
artimanhas domina os sentimentos e perturba o discernimento de quem lhe dá
guarida.
Filho
dileto do orgulho, é irmão gêmeo do egoísmo e célula
cancerígena responsável por muitos reveses na vida das criaturas.
Combate-o
com todas as forças.
Não
lhe dês guarida nem convivas com as suas astúcias.
O
amor a si mesmo recomendado por Jesus não objetiva os triunfos imediatos
nem as situações acomodatícias.
Ajuda
o Espírito a emergir das torpezas e a libertar-se das contingências
transitórias, mediante a autodoação, a renúncia,
a abnegação e o amor ao próximo.
Vidas
que se podiam glorificar pelas oportunidades ditosas que fruem, malogram quando
o amor-próprio as dirige.
Construções
superiores do bem soçobram quando o amor-próprio as sitia.
Grupamentos
humanos de relevância se desagregam quando o amor-próprio semeia
o separatismo .
...
E as guerras - conseqüência dos pequeninos conflitos que se travam
nos grupos familiares - decorrem do amor-próprio doentio de governos
arbitrários e enlouquecidos que tripudiam sobre os direitos humanos,
e, transformados em abutres, logo sucumbem sobre os escombros dos vencidos em
que se refestam ...
Jesus
caluniado, agredido, desrespeitado, abandonado e crucificado, lecionando o amor
fraternal - antítese do amor-próprio - e atestando a suprema força
de que se encontrava investido, ofertou-nos, sábio, a mensagem-advertência
salvadora contra esse inimigo que habita em nós e deve ser combatido
sem tréguas: o amor-próprio.
5
- RENOVAÇÃO
A
poda propicia a renovação da planta.
A
drenagem faculta a modificação do campo. A decantação
aprimora a qualidade do líquido.
O
cautério enseja a laqueação de vasos e a destruição
dos tecidos contaminados.
A
modificação dos hábitos viciosos fomenta o entusiasmo que
liberta do comodismo pernicioso e da atividade perturbadora.
Imperioso
o esforço para a renovação que gera bênção
e é matriz de prodigiosas conquistas.
Renovar
idéias
- haurindo no manancial inesgotável do Evangelho a inspiração
superior.
Renovar
palestras
- mediante o exercício salutar do pensamento comedido e nobre.
Renovar
atividades
- colocando o "sal" da alegria e a gota de amor em cada tarefa a ser
realizada.
Renovar
objetivos
- pelo estudo contínuo das metas e meios para a libertação
espiritual, tendo em vista a decisão irrevogável de triunfar sobre
as imposições afligentes
que conspiram no mundo contra a paz verdadeira do Espírito.
Renovar
é processo fecundo de produzir. Não apenas renovar para variar,
antes reativar os valores que jazem vencidos pela rotina pertinaz, ou redescobrir
os ideais que, a pouco e pouco, são consumidos pelo marasmo, vencidos
pela modorra, desarticulados pelas contingências da mecânica realizadora.
A
renovação interior - poda moral - desse modo, exige disciplina
e sacrifício para lograr o êxito que se pretende colimar.
Diante
da questão desagradável, que já consegues resolver, renova
a paciência e tenta uma vez mais.
Ante
a pessoa irritante que já conseguiu fazer-se antipática, renova
conceitos e insiste na fraternidade um pouco mais.
Em
face do antagonista gratuito que logra desagradar-te, renova o esforço
de vencer-te e sê gentil ainda mais.
Perante
o sofrimento que parece destruir-te, renova-te pela oração e confia
mais.
O
discípulo do Evangelho, que desdenha o milagre da renovação,
pode ser comparado ao trabalhador que menospreza a esperança - tornando-se
vítima fácil para o fracasso.
Jesus,
o Sublime Exemplo, ensinando a perene urgência da renovação
dos propósitos superiores, cercou-se de pessoas difíceis de ser
amadas, compreendidas, ajudadas, não desperdiçando situações
nem circunstâncias negativas, armadilhas e astúcias em momentos
de aflitivas conjunturas, propiciando-nos, assim, a demonstração
do valor do ideal e da vivência do bem, conseguindo todos renovar e tudo
modificar, em razão dos objetivos elevados do Seu ministério entre
os homens.
Sem
reclamar contra o pecado, renovou os pecadores. Sem invectivar a astúcia,
renovou as vítimas da perturbação bem urdida.
Sem
reagir contra os que O perseguiam em caráter contumaz, renovou todos
os que se facultavam à Sua palavra.
Toda
a mensagem que nos legou, mediante palavras ou ações, constitui
um poema e um hino de bênçãos à renovação
do homem, do mundo e da Humanidade.
6
- HEROÍSMO DA RESIGNAÇÃO
O
imediatismo dos interesses apaixonados confunde-a com demência ou a tem
em conta de deficiência de forças para poder investir violentamente
contra as circunstâncias.
Não
falta quem se rebele contra os seus necessários impositivos.
Tacham-na
de cobardia moral.
Crêem-na
ultrapassada, nos dias voluptuosos do tecnicismo moderno.
Todavia,
a resignação é bênção lenificadora,
quando a vida responde em dor e sombra, infortúnio e dificuldade aos
apelos do homem.
Alternativa
redentora, que somente os bravos se conseguem impor, reforça os valores
espirituais para as lutas mais ingentes da inteligência e do sentimento.
Não
deflui de uma atitude de medo, porquanto isso seria injustificado ante as Leis
Superiores, mas resulta de morigerada e lúcida reflexão que favorece
o perfeito entendimento das imposições evolutivas.
O conhecimento dos fatores causais dos sofrimentos premia o homem com a tranqüila responsabilidade que assume, em relação aos gravames que os motivaram.
O conhecimento dos fatores causais dos sofrimentos premia o homem com a tranqüila responsabilidade que assume, em relação aos gravames que os motivaram.
Quiçá
a resignação exija mais dinâmica da coragem para submeter-se,
do que requereria a reação rebelada da violência.
Entrementes,
a atitude resignada não significa parasitismo nem desinteresse pela luta.
Ao contrário, enseja fecundo labor ativo de reconstrução
interior, fixação de propósitos salutares em programa eficaz
de enobrecimento.
Ceder,
agora, a fim de conseguir mais tarde. Aguardar o momento oportuno, de modo a
favorecer-se com melhores resultados
Reagir
pela paciência e mediante a confiança imbatível em Deus,
apesar do quanto conspire, aparentemente contra.
Crer
sem desfalecimento, embora as aparências aziagas.
Porfiar
no serviço edificante sem engendrar técnicas da astúcia
permissiva, quando tudo se apresenta em oposição.
Manter-se
na alegria, não obstante sofrendo ou incompreendido, abandonado ou vencido,
expressa os triunfos da resignação no homem consciente dos objetivos
reais da existência na Terra.
O
metal em altas temperaturas funde-se. O rio caudaloso na planície espalha-se.
A
semente no solo adubado transforma-se.
O
cristão ativo na construção do testemunho resigna-se.
A
própria reencarnação é um ato de submissão,
quanto a desencarnação, desde que ocorrem independentemente da
vontade do aprendiz que se deve resignar às exigências superiores
da evolução.
Resignação,
por conseguinte, é conquista da não violência do Espírito
que supera paixões e impulsos vis, a fim de edificar-se e triunfar sobre
si mesmo e, em conseqüência, sobre os fatores negativos que lhe obstaculam
o avanço libertador.
Joanna
de Ângelis
LEI DE ADORAÇÃO
01
- Lei de Adoração
Perg.
649 L.E. - Em que consiste a adoração? - "Na elevação
do pensamento a Deus. Deste, pela adoração, aproxima o homem sua
alma".
Perg.
659 L.E. - Qual o caráter geral da prece? -"A prece é um
ato de adoração. Orar a Deus é pensar n'Ele; é aproximar-se
d'Ele; é pôr-se em comunicação com Ele. A três
coisas podemos propor-nos por meio da prece: louvar, pedir, agradecer."
1
- AMAR A DEUS
Amor
é vida.
Sem
o amor de Deus que tudo vitaliza, a Criação volveria ao caos do
princípio.
Antes,
portanto, do amor não havia Criação, porque Deus é
Amor.
Sem
amor ao próximo não se pode amar a Deus. Nesse particular, o Evangelho
é todo um hino ao Criador, mediante o eloqüente testemunho de amor
ao próximo, apresentado por Jesus.
Em
todos os Seus passos o amor se exterioriza numa canção de feitos,
renovando, ajudando e levantando os Espíritos.
Não
podendo o homem romper a caixa escura do egoísmo, saindo de si na direção
da criatura, sua irmã, dificilmente compreenderá o impositivo
do amor transcendente em relação à Divindade.
Quando
escasseiam os recursos da elevação interior pelo pensamento vinculado
ao Supremo Construtor do Cosmo, devem abundar os esforços no labor da
fraternidade em direção às demais criaturas, do que decorre,
inevitavelmente, a vinculação amorosa com Deus. Porquanto ninguém
pode pensar no próximo sem proceder a uma imperiosa necessidade de fazer
interrogações que levam à Causa Central.
O
homem constitui, indubitavelmente, um enigma que só à luz meridiana
da reencarnação - técnica do amor e da Justiça Divina
- pode ser entendido.
Na
vida, sob qualquer expressão, está manifesto o amor.
Mediante
o amor animam-se as forças atuantes e produtivas da Natureza, no mineral,
no vegetal, no animal, no homem e no anjo.
Dilata,
desse modo, as tuas expressões íntimas, dirigindo-as para o bem
e não te preocupes com o mentiroso triunfo do mal aparente.
Exalça
a vida e não te detenhas na morte. Glorifica o dever e não te
reportes à anarquia.
Fala
corretamente e retificarás os conceitos infelizes.
Se
te impressionam as transitórias experiências do primitivismo e
da barbárie que ainda repontam na Terrra, focaliza a beleza e superarás
as sombras e inquietações ...
A
maneira mais agradável de adorar a Deus é elevar o pensamento
a Ele, por meio do culto ao bem e do amor ao próximo.
Desce
à dor e ergue o combalido à saúde íntima; mergulha
no paul e levanta ao planalto os que ali encontres; curva-te para socorrer,
no entanto, ascende no rumo de Deus pelo pensamento ligado ao Seu amor e vencerás
os óbices.
Se
desejas, todavia, compreender a necessidade de amar a Deus, acompanha o desabrochar
de uma rosa, devolvendo o perfume à vida, o que extrai do solo em húmus
e adubo ... Fita uma criança, detém-te num ancião ...
Ama,
portanto, pelo caminho, quanto possas - plantas, animais, homens, e te descobrirás,
por fim, superiormente, amando a Deus.
2
- ORAÇÃO NO LAR
A
transformação do lar em célula viva do Cristianismo operante
constitui labor impostergável.
Por
mais valiosas se façam as conquistas externas na atividade quotidiana,
com vistas ao progresso e à felicidade, se tais aquisições
não encontrarem fundações de segurança no reduto
doméstico far-se-ão edificações em constante perigo.
Isto,
porque, o lar é a matriz geradora da comunidaade ditosa, sobre o qual
repousam os sustentáculos das nacionalidades progressistas.
Os
distúrbios internos em qualquer máquina de serviço provocam
prejuízo na rentabilidade, quando não e dá a paralisação
do trabalho com danos imprevisíveis.
A
família é o fulcro da maior importância para o homem.
Não
obstante os complexos mecanismos da reencarnação, os criminógenos
ou os estímulos honoráveis encontram no núcleo familiar
as condições fomentadoras para o eclodir das paixões insanas
como o das sublimes. Obviamente, nesse capítulo, de quando em quando
surgem exceções, como atestando que o diamante valioso, apesar
de tombado na lama, fulgura, precioso, ou a pedra bruta, embora o engaste nobre
e o estojo especial, de forma alguma adquire valor.
Num
lar lucilado pela oração em conjunto onde, a par do exemplo salutar
dos cônjuges, a palavra do Senhor recebe consideração e
apontamentos superiores, ao menos periodicamente, os dramas passionais, as ocorrências
infelizes, os temores e as discórdias cedem lugar à compreensão
fraternal, à caridade recíproca, à paciência, ao
amor.
Ali
se caldeiam os complexos fenômenos da evolução e se resolvem
em clima de entendimento os problemas urgentes que dizem respeito à recuperação
de cada um. Não apenas se ajustam e se sustentam afetivamente os nubentes,
como se organizam os programas iluminativos, retemperando-se ânimo e ideais
sob a inspiração do Cristo sempre presente.
Companheiros
sinceros queixam-se quanto aos danos promovidos pelos modernos veículos
de comunicação de massa.
Diversos
expositores do verbo espírita invectivam contra as permissividades hodiernas.
Mentes
lúcidas, considerando a áspera colheita de espinhos da atualidade,
reagem com emoção por meio da palavra falada ou escrita.
Muitos
oferecem programas complexos de ação, talvez impraticáveis,
debatem, acusam, vociferam ...
Mas
pouco fazem realmente.
O
trabalho do bem é paulatino, e a reforma moral, para ser autêntica,
será sempre individual, bem laborada, sacrificial.
As
técnicas ajudam, todavia, só a persuasão honesta, mediante
a qual o homem se conscientiza das necessidades reais, consegue lograr libertá-lo
dos compromissos inditosos, engajando-o nas disposições restauradoras.
De
pouca monta o esforço para ajudar a renovação do próximo,
se não ensinar fixado ao exemplo da própria modificação
íntima para melhor.
O
exercício evangélico na família a pouco e pouco, em clima
de cordialidade e simpatia, consegue neutralizar a má propaganda, as
investidas violentas do crime de todo porte que se insinuam e irrompem dominadoras.
Ao
realizares o Culto Evangélico do lar não te excedas em tempo,
a fim de serem evitados a monotonia e o desinteresse.
Não
o imponhas aos que te não compartem as idéias ou preferem, por
enquanto, outros rumos.
Tenta
a argumentação honesta e branda, convincennte e autêntica.
Insiste
junto aos filhinhos para que comunguem contigo do pão do Espírito,
conforme de ti recebem o pão do corpo.
Faze,
porém, a tua parte.
Se
sentires a tentação do desânimo, a amargura da decepção,
recorda-te do otimismo dos primeiros cristãos e não desfaleças.
Orando em conjunto, recomendavam os invigilantes, os perturbadores e inditosos
ao Senhor, haurindo forças na comunhão fraterna para os testemunhos
com que ensementaram na Humanidade as excelências da Boa Nova, que ora
te alcança o Espírito sem as agruras da perseguição
externa e das dolorosas injunções da impiedade humana.
Acenda
o sol do Evangelho em casa, reúne-te com os teus para orar e jamais triunfarão
trevas em teu lar, em tua família, em teu coração.
3
- DECISÃO NA VERDADE
"
... Havendo eu sido cego, agora vejo." (João: 9-25)
O
jovem padecia de cegueira desde o nascimento. Jamais conhecera a luz.
Sua
vida se encontrava povoada de trevas, em cujos meandros tateava com aflição.
Jesus
abriu-lhe os olhos, concedendo-lhe diamantina claridade da visão.
Inundado
pela luz externa que o fascinou, enriqueceu-se de gratidão por Aquele
que o libertou.
Instado
à informação do fato, deu-a inciso, conciso, num eloqüente
testemunho de júbilo.
Não
acreditado pelos que o cercavam e inquiriam, reafirmou a ocorrência, asseverando
haver sido ele o antigo cego, em face da dúvida que o cercava.
Convidado
a opinar sobre quem o beneficiara, fez-se conclusivo: "É um profeta!"
Intimado
a injuriar e desmerecer o desconhecido benfeitor, a ingratidão de muitos
que logo olvidam o socorro
recebido, permitindo-se a dúvida, ao lado da subserviência aos
transitórios triunfadores, foi explíciito:
-
"Se é pecador, não o sei; uma coisa eu sei: havendo eu sido
cego, agora vejo".
Não
lhe importava quem Ele era e sim o que lhe fizera.
Defrontam-se
no ensino evangélico as duas conjunturas habituais: luz e treva.
Enfrentam-se
as duas situações: verdade e mentira.
Duela
a suspeita com a convicção.
Teima
a pusilanimidade contra o sentimento leal. Insiste o despeito, agredindo a nobreza.
O
fato, porém, triunfa.
O
bem relevante sobrenada entre as águas turvas do
mal enganoso.
Nada
importava ao jovem, agora vidente. O essencial era que se encontrava a ver.
Nem
assim, diante das evidências, cessava a hostiilidade contra o "Filho
de Deus".
O
cipoal das paixões humanas, mediante as habilidades da astúcia,
abria-se em ardis infelizes, tentando apanhar o incomparável Amigo dos
sofredores.
Hoje,
no entanto, ainda é assim.
Tropeçam
e atropelam-se os cegos do corpo com os do Espírito. Os últimos
são piores do que os primeiros porque se negam a ver, preferindo a urdidura
da infâmia e da perversidade na qual se distraem e anestesiam a razão.
Cuida-te
contra a cegueira imposta pelos preconceitos,
pelo orgulho, pelos descalabros de todo porte.
Já
fizeste o teu encontro com Jesus.
Agora
vês. Beneficia-te da claridade a fim de proogredires.
Não
mais acondiciones trevas morais nas antigas sombras dominadoras das paisagens
íntimas.
Sai
na direção do dia de sol para servir.
Caminha
no rumo da luz e referta-te de claridades divinas, difundindo a esperança
e a alegria.
Confessa
o teu Amigo Sublime perante todos e segue, intimorato, ajudando em nome d'Ele
os que ainda se debatem na escuridão donde saíste e que anseiam,
também, pela bênção da visão a fim de enxergarem.
4
- MUITOS CHAMADOS
(MATEUS XXII: 1 A 14)
Mesmo
hoje é assim ...
Atônitas,
as multidões procuram a diretriz do reino dos céus; não
obstante, engalfinham-se nas tórridas lutas pela posse da Terra.
Fascinam-se
com as narrativas evangélicas e comovem-se ante os padecimentos do Senhor
quando lêem a Sua vida; todavia não se resolvem a seguir em definitivo
os roteiros iluminativos, por meio dos quais os valores humanos mudam de expressão.
Examinando,
igualmente, o comportamento de muitos companheiros de lides, verificarás
que a parábola expressiva do Senhor mantém-se em plena atualidade
para eles também.
Depois
de experimentarem o contato com as legitimidades do Espírito, sentem-se
dominados pelo desejo sincero de espraiarem as certezas que a Boa Nova lhes
oferece. Entretanto, aos primeiros impedimentos e problemas, perfeitamente consentâneos
com a posição evolutiva que os caracteriza, reagem, dizendo-se
descrentes, atormentam-se e debandam.
Acreditam
que são credores de especiais concesssões, tendo em vista haverem
recebido o convite para o banquete na corte do Grande Rei e o terem aceitado
com demonstrações de vivo entusiasmo ...
Não
lhes acode, porém, ao discernimento, que para qualquer solenidade se
fazem indispensáveis compostura própria e traje adequado.
Tais
são as ações nobilitantes que conferem investidura e insígnias
para o comparecimento ao ágape real.
Por
isso, as multidões esfaimadas de amor e sabedoria ainda não se
resolveram fartar-se nos celeiros sublimes da Revelação Espírita
ora ao alcance de todos, demorando-se em contínua aflição.
Buscando
os tesouros do espírito, disputam, aguerridamente, as posses que os "ladrões
roubam, as traças roem e a ferrugem gasta ... "
Já
que recebeste o chamado para a transformação moral ao alento da
luz espírita que te aclara os dédalos do mundo interior, não
titubeies. Estuga o passo na senda habitual e reflete, deixando-te permear pelas
lições de esperança e renovação com que te
armarás para os combates ásperos contra os severos adversários
que a quase todos vencem: o egoísmo, o orgulho, a ira, o ciúme
e seus sequazes, ensinando, pelo exemplo, fraternidade e amor.
Não
te preocupes pelo proselitismo como pelo arrrastamento das multidões
à fé que te comove.
Recorda-te
de Jesus que não veio para compactuar com as comezinhas paixões,
tampouco para agradar os campeões da insensatez - maneira segura de conseguir
simpatizantes e adeptos - antes para inaugurar o principado da felicidade ao
qual são "muitos chamados", porém poucos escolhidos".
5
- BENFEITORES DESENCARNADOS E PROBLEMAS HUMANOS
A
promoção dos chamados mortos à categoria de benfeitores
e santos resulta de um atavismo religioso de que o homem só a esforço
insistente consegue liibertar-se.
Enquanto
transitam pelo corpo material, os menos projetados na sociedade são teimosamente
ignorados, quando não sistematicamente abandonados.
Sofredores
que por decênios de dor e amargura suportaram em silêncios estóicos
a pesada canga das aflições;
pessoas humildes que se apagaram nos labores singelos; enfermos em indigência
e desprezo, atados a cruzes de demorada agonia; lutadores anônimos que
esbarraram em dificuldades e padeceram ignomínias da imprevidência
dos seus verdugos; pais e mães inclusos nos cárceres dos deveres
sacrificiais, relegados às posições inferiores do lar,
tão logo retomam à pátria são içados pelas
consciências culpadas à condição santificante com
que assim esperam exculpar-se à indiferença e ao desprezo que
lhes impuseram.
Não apenas estes, porém, que merecem pelos padecimentos sofridos uma liberação abençoada.
Não apenas estes, porém, que merecem pelos padecimentos sofridos uma liberação abençoada.
Crê-se,
no entanto, que a morte é ponte para a santificação, mesmo
a daqueles que não a merecem.
Supõem
que, com a desencarnação, ao se esquecerem com facilidade os descalabros
que foram cometidos, pode-se conferir-Ihes uma situação ditosa,
ao paladar da trivialidade a que se entregam.
Não
o fazem, porém, por amor.
Como
exploraram e feriram, usaram e maceraram os que lhes dependiam, direta ou indiretamente,
esperam continuar exigindo ajudas que não merecem, em comércio
de escravidão contínua com os que já partiram ...
Mentes
viciadas pela acomodação aos velhos hábiitos da preguiça
e da rebeldia, não logram desprenderrse dos problemas pessoais mesquinhos
a que se aferrram, por Ihes aprazer enganar e enganar-se.
Dizem-se
em sofrimento e preferem a condição de vítima da Divindade
à de colaboradores de Deus.
Asseveram
que só o insucesso Ihes ocorre e demoram-se na lamentação
ao invés da ação saneadora do mal.
Teimam
por receber tratamento especial dos Céus, e, sem embargo, não
se facultam crescer, sintonizanndo com as leis superiores que regem a vida.
Rogam
bens que não sabem aplicar, desperdiçando valioso tempo em consultas
inúteis e conversações fúteis em que mais se anestesiam
na autopiedade e na ilusão.
Afirmam
que os seus mortos estão no paraíso enquanto eles jazem na Terra,
esquecidos.
Fiéis
ao ludíbrio pelo artificialismo das oferendas materiais, prometem-lhes
missas, "sessões solenes", cultos especiais, flores e outras
manobras artificiais com que gostam de insistir na vaidosa presunção
da astúcia sistemática.
Em
vão, porém.
Quando
ditosos, os desencarnados são apenas amigos generosos que intercedem,
ajudam e inspiram, mas não podem modificar os compromissos que os seus
afeiçoados assumiram desde antes do berço, conforme não
se eximiram eles mesmos aos braços da cruz em que voaram no rumo da felicidade.
Quando
em desdita no além-túmulo, são para eles inócuas
todas as expressões dos chamados "cultos externos" das religiões
terrestres.
A
oração ungida de amor, as ações caridosas em sua
homenagem refrigeram-nos e ajudam-nos a entender melhor a própria situação,
armazenando forças para as reencarnações futuras.
Desse
modo, esforça-te para resolver os teus problemas sem perturbar os que
agora merecem a justa paz depois das lutas ásperas que sofreram.
Respeita
a memória dos desencarnados e sem os títulos mentirosos da Terra,
tem-nos em conta de amigos queridos não subalternos que te poderão
ajudar, porém que necessitam, a seu turno, de evoluir também.
6
- AGRADECIMENTO
Seja qual for a ocorrência que te surpreenda, concitando-te ao júbilo ou à aflição, dá graças.
Seja qual for a ocorrência que te surpreenda, concitando-te ao júbilo ou à aflição, dá graças.
Não
te olvides do valor da gratidão nos passos da vida.
A
cada instante estás chamado ao reconhecimento pelas concessões
que te enriquecem em experiências, em iluminação, em saúde,
em paz e não apenas ante os valores transitórios das moedas e
dos títulos que muito se disputam na Terra.
Não
te impeças a emoção do reconhecimento, a exteriorização
dos sentimentos da gratidão.
Há
pessoas que, não obstante a elevação de propósitos,
se sentem constrangidas, angustiando-se sem encontrarem a forma de expressar
as graças de que estão possuídas. Outras acreditam que
não se faz necessário apresentar ao benfeitor os protestos de
reconhecimento, porque são mais valiosos os que se demoram silenciados.
Não
têm razão os que assim pensam e agem.
Uma
palavra de bondade ou uma frase simples, porém imantada pela unção
da sinceridade, estimula e alegra quem recebe, concitando a novos cometimenntos,
à continuação dos gestos de enobrecimento e amor.
Embora
quem se faz útil e goste de ajudar não se deva prender à
resposta do beneficiado, não há por que se desconsidere o dever
do amor retributivo.
O
amor que enfrenta a hostilidade e a transforma ressurge como compreensão
no agressor, assim retribuindo a afeição recebida.
Agradece,
desse modo, as coisas que te cheguem, como sejam e de que se constituam. Favores
divinos objetivam tua felicidade.
Se
defrontas problemas, agradece a oportunidade e desafio para a luta pela paz.
Se
tropeças na incompreensão, agradece o ensejo de provar a excelência
dos teus sentimentos.
Se
despertas na enfermidade, agradece a concessão do sofrimento purificador.
Se
recebes bondade e afeição, agradece a dádiva para o esforço
evolutivo.
Se
colhes alegrias e saúde, agradece o tesouro que deves aplicar nas finalidades
superiores da vida.
O
espinho, o pedregulho chamam a atenção do viandante para o solo
por onde transita; o aguilhão impele à rota correta; o testemunho
de qualquer condição revela as qualidades íntimas.
Gratidão
é sentimento nobre - cultiva-o para o próprio bem.
O
sol aquece, a noite tranqüiliza, a chuva alimenta, o adubo fertiliza, a
poda revigora - tudo são bênçãos da vida.
Agradece
sem cessar as doações divinas que fruis e esparze gratidão
onde estejas, com quem te encontres, diante de tudo que recebas ou que te aconteça.
Joanna
de Ângelis
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