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sábado, 13 de julho de 2013

EADE-Estudo Aprofundado da doutrina espírita- Livro 1 - Cristianismo e Espiritismo - Roteiro 16 -Módulo 2 - As Epístolas de Paulo (3)



EADE - LIVRO I
ROTEIRO
16
Objetivos
Analisar os principais ensinos existentes nas epístolas destinadas
aos tessalonicensces, a Timóteo, a Tito, a Filêmon
e aos hebreus.
IDÉIAS PRINCIPAIS
CRISTIANISMO E ESPIRITISMO
MÓDULO II - O CRISTIANISMO
As duas epístolas dirigidas aos tessalonicenses são consideradas os escritos
mais antigos do Novo Testamento. Abrangem instruções para as comunidades
cristãs recém-criadas.
As duas epístolas endereçadas a Timóteo, assim como a que foi enviada a Tito,
são chamadas de “pastorais” porque trazem orientações ao trabalho missionário
desses dois cooperadores e amigos de Paulo.
A carta a Filêmon é, na verdade, um pedido de perdão que Paulo faz em benefício
de Onésimo, um escravo fugitivo.
Ao contrário de todas as precedentes, a epístola aos hebreus teve a sua
autenticidade posta em dúvida desde a Antigüidade. Emmanuel, porém, afirma
que esta carta foi, efetivamente, escrita pelo próprio Paulo que a redigiu com
grande emoção.
AS EPÍSTOLAS DE PAULO (3)
1. Epístolas aos tessalonicenses
As duas epístolas dirigidas aos tessalonicenses são consideradas os primeiros
escritos de Paulo, e, também, os mais antigos do Novo Testamento.
Tessalônica, cidade litorânea, capital da Macedônia, na Grécia, foi visitada por
Paulo, Silas e Timóteo, durante a segunda viagem missionária do apóstolo.
(Atos dos Apóstolo, capítulo 16 a 18)
Após deixar Filipos, Paulo e seus companheiros passaram ali um tempo breve, mais longo
o suficiente para ganhar vários convertidos entre judeus e gregos que freqüentavam a
sinagoga e fundar uma igreja. Segundo Lucas, a oposição forçou os missionários a partir
precipitadamente. Eles seguiram para Acaia e trabalharam brevemente em Atenas e
depois, por um longo período, em Corinto. Foi durante esse período que Timóteo fez a
visita mencionada em I Tessalonicenses, 3:1-6 e que Paulo escreveu a primeira epístola,
sem dúvida de Corinto. 9
A duas epístolas foram redigidas em linguagem simples, focalizando
problemas surgidos na comunidade, ainda na infância da fé, a braços com costumes
e idéias do paganismo circundante, que ameaçavam penetrá-la. Revela
o tipo de pregação usual na igreja primitiva: sermões que se caracterizavam
pela simplicidade e clareza, denominados prédiga. Percebe-se, igualmente, que
Paulo se encontrava na primeira fase de compreensão do Evangelho. 5
O enfoque principal da primeira epístola é a futura vinda do Cristo, chamada
de parusia. Há indicações de que os tessalonicenses não compreenderam
o real sentido da ressureição e a forma de como o Cristo poderia retornar. Daí
SUBSÍDIOS
MÓDULO II
Roteiro 16
EADE - Roteiro 16 - As epístolas de Paulo (3)
a razão das explicações contidas nessa carta. Não há dúvida de que Paulo foi
o seu autor. 10
A segunda epístola suscita problemas para os quais não há respostas consensuais. Sua linguagem
e conteúdo são suficientemente semelhantes aos de Tessalonicenses para indicar
que, se autêntica, foi provavelmente escrita não muito tempo depois da primeira epístola.
[...] A pungência da linguagem de Paulo pode sugerir também que ele próprio estava
sendo alvode ataque particular de pessoas de fora da igreja. [...] Na parte final da carta,
encontramos indícios de que alguns membros da igreja estava vivendo na ociosidade, à
custa dos outros. [...] Isso provocou forte censura de Paulo, que acreditava firmemente
que os cristãos deviam trabalhar para o seu sustento. 10
1.1 - Síntese dos principais ensinos das epístolas aos tessalonicenses
• Exortação a uma vida simples e santificada
Costumes dissolutos e práticas sexuais ultrajantes (encesto, por exemplo)
foram os maiores desafios enfrentados por Paulo junto aos povos gentílicos.
Eles se convertiam ao Cristianismo, mas tinham dificuldades em abrir mão
das práticas às quais estavam acostumados. Resulta o apóstolo lhes falarem
com veemência: “Finalmente, irmãos, vos rogamos e exortamos no Senhor
Jesus que, assim como recebestes de nós, de que maneira convém andar e
agradar a Deus, assim andai, para que continueis a progredir cada vez mais;
porque vós bem sabeis que mandamentos vos temos dado pelo Senhor Jesus.
Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação: que vos abstenhais da
prostituição, que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e
honra, não na paixão de concupiscência, como os gentios, que não conhecem
a Deus. Ninguém oprima ou engane a seu irmão em negócio algum, porque o
Senhor é vingador de todas estas coisas, como também, antes, vo-lo dissemos
e testificamos. Porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a
santificação.” (1Ts 4:1-7)
• Ressurreição do Cristo
Percebe-se que os habitantes da Tessalônica acreditavam que as pessoas
mortas permaneciam dormindo, nada sabendo sobre a ressurreição nem sobre
a reencarnação, idéias comuns que os demais gregos tinham informações,
ainda que rudimentares.
“Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem,
para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança.
Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em
Jesus dormem Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto pela
palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não
precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com
alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram
em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos
arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e
assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros
com estas palavras.” (1Ts 4:13-18)
• A outra vinda do Cristo
“Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e pela
nossa reunião com ele, que não vos movais facilmente do vosso entendimento,
nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como
de nós, como se o Dia de Cristo estivesse já perto. [...] Não vos lembrais de que
estas coisas vos dizia quando ainda estava convosco? [...] Então, irmãos, estai
firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja
por epístola nossa. E o próprio nosso Senhor Jesus Cristo, e nosso Deus e Pai,
que nos amou e em graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança.”
(2Ts 2: 1-2, 5, 15-16)
Dirigindo-se aos irmãos de Tessalonica, o apóstolo dos gentios rogou-lhes concurso em
favor dos trabalhos evangélicos, para que o serviço do Senhor estivesse isento dos homens
maus e dissolutos, justificando apelo com a declaração de que a fé não é de todos.
Através das palavras de Paulo, percebe-se-lhe a certeza de que as criaturas perversas
se aproximariam dos núcleos de trabalho cristianizante, que a malícia delas poderia
causar-lhes prejuízos e que era necessário mobilizar os recursos do espírito contra semelhante
influência. O grande convertido, em poucas palavras, gravou advertência de
valor infinito, porque, em verdade, a cor religiosa caracterizará a vestimenta exterior de
comunidades inteiras, mas a fé será patrimônio somente daqueles que trabalham sem
medir sacrifícios, por instalá-la no santuário do próprio mundo intimo. A rotulagem
de cristianismo será exibida por qualquer pessoa, todavia, a fé cristã revelar-se-á pura,
incondicional e sublime em raros corações. 14
2. Epístolas a Timóteo
As duas epístolas a Timóteo são classificadas de pastorais porque salientam
a firmeza doutrinária e a consagração ao ministério do Senhor. «O caráter que
se diria hoje dogmático e moralista destas cartas é julgado pelos críticos como
sinal de que não saíram da pena do mesmo autor de Romanos ou Gálatas.» 5 Timóteo
foi importante e dedicado servidor do evangelho, além de grande amigo
de Paulo.
Nascido na Ásia Menor de mãe judia e pai gentio, tornou-se companheiro de Paulo e,
segundo Atos, acompanhou-o em sua primeira viagem à Grécia e mais tarde serviu como
emissário junto a comunidades cristãs ali, inclusive Corinto. Paulo chama Timóteo seu
“irmão e colaborador.” 11 (1Tessalonicenses, 3:2; 2 Coríntios,1:1; Romanos, 16:21)
A autoria dessas epístolas é contestada. As dúvidas estão relacionadas,
primeiro, ao vocabulário e o estilo, muito diferente do existente em outras
epístolas, como romanos e coríntios. Segundo há conceitos teológicos referentes
à respeitabilidade pública, próprio das idéias de padres católicos.
Terceiro há uma ordenação eclesiástica, não encontrada nas demais epístolas
paulinas, semelhante aos escritos à existentes no século I d.C. (de Policarpo,
por exemplo). Quarto há trechos em que o autor discute teologicamente com
os opositores, quando Paulo jamais procedeu assim, limitando-se, apenas, a
repreendê-los. 11
2.1 - Síntese dos principais ensinos das epístolas a Timóteo
• Valor da oração
“Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões
e ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que
estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda
a piedade e honestidade. Porque isto é bom e agradável diante de Deus, nosso
Salvador [...]. Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, levantando
mãos santas, sem ira nem contenda.” (1Tm 2:1-2, 8)
• Precauções contra os espíritos enganadores
“Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão
alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios,
pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria
consciência, proibindo o casamento e ordenando a abstinência dos manjares
que Deus criou para os fiéis e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem
deles com ações de graças [...].” (1Tm 4: 1-3)
• Cuidados com os velhos e as viúvas
“Não repreendas asperamente os anciãos, mas admoesta-os como a pais;
aos jovens, como a irmãos; às mulheres idosas, como a mães, às moças, como
a irmãs, em toda a pureza. Honra as viúvas que verdadeiramente são viúvas.
Mas, se alguma viúva tiver filhos ou netos, aprendam primeiro a exercer piedade
para com a sua própria família e a recompensar seus pais; porque isto é
bom e agradável diante de Deus.” (1Tm 5:1-3)
• Exortação à firmeza e constância no ministério
“Timóteo, meu amado filho: graça, misericórdia e paz, da parte de Deus
Pai, e da de Cristo Jesus, Senhor nosso. Dou graças a Deus, a quem, desde
os meus antepassados, sirvo com uma consciência pura, porque sem cessar
faço memória de ti nas minhas orações, noite e dia; desejando muito ver-te,
lembrando-me das tuas lágrimas, para me encher de gozo; trazendo à memória
a fé não fingida que em ti há, a qual habitou primeiro em tua avó Lóide e em
tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti. Por este motivo,
te lembro que despertes o dom de Deus, que existe em ti pela imposição das
minhas mãos. Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza,
e de amor, e de moderação. [...] Tu, porém, tens seguido a minha doutrina,
modo de viver, intenção, fé, longanimidade, caridade, paciência [...].” (2Tm
1:2-7; 3:10)
O discípulo sincero do Evangelho vive em silenciosa batalha no campo do coração.
[...] A vitória do espírito exige esforço integral do combatente. E, mais tarde, o lidador
cristão é convidado a testemunhos mais ásperos, compelido à batalha solitária, sem o
recurso de outros tempos. A lei de renovação modifica-lhe os roteiros, subtrai-lhe as
ilusões, seleciona-lhe os ideais. [...] Quando o aprendiz receber a dor em si próprio,
compreendendo-lhe a santificante finalidade, e exercer a justiça ou aceitá-la, acima
de toda a preocupação dos elos consangüíneos, estará atingindo a sublime posição de
triunfo no combate contra o mal. 18
3. Epístolas a Tito
A epístola a Tito é também chamada de “pastoral”. O discípulo foi importante
associado de Paulo que, como Timóteo, esteve sempre muito próximo
do apóstolo.
Acompanhou Paulo em sua segunda viagem a Jerusalém, serviu como seu emissário a
)
Corinto e foi por ele designado para supervisionar a igreja de Jerusalém. Paulo se refere
a Tito como seu “parceiro e colaborador” (2Cor 8:23). Embora Tito fosse um gentio,
não se exigiu dele que se circuncidasse, a despeito da opinião de alguns líderes cristãos
judeus. Tito simboliza assim a crescente separação entre o Cristianismo e o Judaísmo
à medida que cristãos como ele não eram obrigados a observar muitos aspectos da Leis
Judaica. 12
Os assuntos abordados na epístola a Tito são semelhantes aos existentes nas
cartas dirigidas a Timóteo. Trata-se de diretivas para a organização e conduta
das comunidades confiadas a esses discípulos. Da mesma forma, o estilo de
Paulo, ao se dirigir aos dois amigos, «[...] não é mais apaixonado e entusiasta,
mas mitigado e burocrático. O modo de resolver problemas mudou. Paulo
simplesmente condena falso ensinamento em lugar de argumentar persuasivamente
contra ele.» 1
Em razão dessa drástica mudança de estilo e de argumentação, é compreensível
o questionamento a respeito da autenticidade da epístola. 1 Supõe-se
que a carta tenha sido escrito por um outro discípulo de Paulo, no fim do
século I d.C. 1
3.1 - Síntese dos principais ensinos da epístola a Tito
• O discípulo do Cristo deve exemplificar
“Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina. Os velhos que sejam sóbrios,
graves, prudentes, sãos na fé, na caridade e na paciência. As mulheres idosas,
semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convém a santas, não
caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem, para que ensinem as
mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos,
a serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seu marido, a fim de
que a palavra de Deus não seja blasfemada. Exorta semelhantemente os jovens a
que sejam moderados. Em tudo, te dá por exemplo de boas obras; na doutrina,
mostra incorrupção, gravidade, sinceridade, linguagem sã e irrepreensível, para
que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós. Exorta
os servos a que se sujeitem a seu senhor e em tudo agradem, não contradizendo,
não defraudando, antes mostrando toda boa lealdade [...].” (Tt 2:1-10)
O homem enxerga sempre, através da visão interior. Com as cores que usa por dentro,
julga os aspectos de fora. Pelo que sente, examina os sentimentos alheios. Na conduta
dos outros, supõe encontrar os meios e fins das ações que lhe são peculiares. Daí, o imperativo
de grande vigilância para que a nossa Consciência não se contamine pelo mal.

[...] Quando a treva se estende, na intimidade de nossa vida, deploráveis alterações nos
atingem os pensamentos. Virtudes, nessas circunstâncias, jamais são vistas. Os males,
contudo, sobram sempre. Os mais largos gestos de bênção recebem lastimáveis interpretações.
Guardemos cuidado toda vez que formos visitados pela inveja, pelo ciúme,
pela suspeita ou pela maledicência. Casos intrincados existem nos quais o silêncio é o
remédio bendito e eficaz, porque, sem dúvida, cada espírito observa o caminho ou o
caminheiro, segundo a visão clara ou escura de que dispõe. 15
4. Epístolas a Filêmon
Filêmon foi um cristão que viveu na Frigia no primeiro século da era
Cristã.
O principal interesse da breve carta é o destino do escravo de Filêmon, Onésimo. [...]
Parece que esse escravo havia sido de início útil a seu senhor, mas tornara-se inútil porque,
tendo considerado suas condições intoleráveis, fugira de Colossos, provavelmente
levando consigo certos objetos de valor pertencentes a seu patrão. A epístola fala do que
se seguiu à fuga. Tendo se dirigido para uma cidade maior, Onésimo fora detido e posto
na prisão, onde encontrou Paulo. Ali o escravo foi convertido e logo se fez útil a Paulo.
Ao ser libertado, o novo cristão teve de decidir o que fazer com relação aos direitos de
seu senhor prejudicado. Voltar para ele era correr o risco de severa punição, pois fugir
da escravidão era uma transgressão capital e Filêmon teria todo direito de lhe infligir a
pena que quisesse. Encorajado por Paulo, contudo, o escravo decidiu retornar e partiu
para Colossos, na companhia de Tíquico, e levando essa carta de Paulo. [...] Quando a
carta foi entregue, o senhor deve ter enfrentado um dilema. A violação de seus direitos
de propriedade teria gerado indignação, apoiados como eram pela lei romana e o
costume universal.[...] Paulo pedia ao proprietário que acolhesse seu escravo como um
irmão, aceitasse a restituição do que havia perdido e o tratasse como se fosse o próprio
Paulo. [...] o que estava em jogo era mais que perdão, pois Paulo parece ter pedido a
Filêmon não só libertasse Onésimo, mas que até o enviasse de volta a ele, Paulo, para
ajudá-lo no trabalho missionário [...]. Nada se sabe sobre a história posterior dos dois
personagens [...]. 7
Emmanuel faz significativos comentários a respeito da fraterna atitude
de intercessão, operada por Paulo.
Enviando Onésimo a Filêmon, Paulo, nas suas expressões inspiradas e felizes, recomendava
ao amigo lançasse ao seu débito quanto lhe era devido pelo portador. Afeiçoemos
a exortação às nossas necessidades próprias. Em cada novo dia de luta, passamos a ser
maiores devedores do Cristo. Se tudo nos corre dificilmente, é de Jesus que nos chegam
as providências justas. Se tudo se desenvolve retamente, é por seu amor que utilizamos
as dádivas da vida e é, em seu nome, que distribuímos esperanças e consolações. Estamos
empenhados à sua inesgotável misericórdia. Somos dEle e nessa circunstância reside
271
nosso título mais alto. Por que, então, o pessimismo e o desespero, quando a calúnia ou
a ingratidão nos ataquem de rijo, trazendo-nos a possibilidade de mais vasta ascensão?
Se estamos totalmente empenhados ao amor infinito do Mestre, não será razoável compreendermos
pelo menos alguma particularidade de nossa dívida imensa, dispondo-nos
a aceitar pequenina parcela de sofrimento, em memória de seu nome, junto de nossos
irmãos da Terra, que são seus tutelados igualmente? Devemos refletir que quando falamos
em paz, em felicidade, em vida superior, agimos no campo da confiança, prometendo
por conta do Cristo, porqüanto só Ele tem para dar em abundância. Em vista disso, caso
sintas que alguém se converteu em devedor de tua alma, não te entregues a preocupações
inúteis, porque o Cristo é também teu credor e deves colocar os danos do caminho em
sua conta divina, passando adiante. 13
5. Epístolas aos Hebreus
Hebreus é um termo étnico, aplicado aos antigos israelitas ou judeus, como
são denominados no Novo Testamento. Os judeus convertidos ao Cristianismo
preservavam, em geral, traços de sua herança judaica e falavam a língua
hebraica ou aramaica. 8
Discute-se, ainda hoje, o verdadeiro gênero literário desse documento,
escrito e dirigido aos hebreus: carta, discurso, tratado escrito sob forma epistolar?
Há pontos que sugere um discurso espontâneo, característico da língua
falada. 4
Ao contrário de todas as precedentes, a epístola aos hebreus teve a sua
autenticidade posta em dúvida desde a Antigüidade. Raramente se contestou
sua canonicidade, mas a Igreja do Ocidente (romana), até o fim do século IV,
recusou atribuí-la a Paulo. A Igreja Ortodoxa aceitou com reservas a sua forma
literária, conforme escritos de Clemente de Alexandria e de Orígenes. Com
efeito, a linguagem e o estilo desta carta possuem uma pureza e elegância diferentes
dos demais escritos de Paulo. Pode-se, todavia, reconhecer a ressonância
do pensamento paulino onde foi desenvolvido o tema fé. 2
Essas considerações levaram muitos católicos e protestantes a admitir um redator que se
inscreve na ambiência paulina, mas não há acordo quando se trata de identificar o autor
anônimo. Todos tipo de nomes foram propostos, tais como Barnabé, Aristião, Silas,
Apolo, Priscilla e outros. Parece simples tentar traçar seu retrato: trata-se de um judeu
de cultura helenística, familiar na arte oratória, atento a uma interpretação pontual das
passagens veterotestamentárias que utiliza, freqüentemente segundo versão dos LXX
[Bíblia dos setenta sábios ou Septuaginta], para apoiar os seus argumentos. [...] Parece
que o escrito tenha sido na Itália [...] e que tenha sido redigido antes da destruição de
Jerusalém [ano 70 d.C.]. 2
Emmanuel, entretanto, nos afiança que enquanto Paulo aguardava o seu
julgamento, em Roma, gozando de relativa liberdade por ser cidadão romano,
manteve um encontro com os judeus que residiam na cidade imperial. O
esclarecido benfeitor, autor do livro Paulo e Estevão, nos informa que após
o referido encontro, o apóstolo dos gentios iniciou o registro de sua Epístola
aos hebreus.
Aproveitando [...] as últimas horas de cada dia, os companheiros de Paulo viram que ele
escrevia um documento a que dedicava profunda atenção. Às vezes, era visto a escrever
com lágrimas, como se desejasse fazer da mensagem um depósito de santas inspirações.
Em dois meses entregava o trabalho a Aristarco [cooperador de e companheiro de prisão,
em Roma] dizendo: — Esta é a Epístola aos hebreus. Fiz questão de grafá-la, valendo-me
dos próprios recursos, pois que a dedico aos meus irmãos de raça e procurei escrevê-la
com o coração. 17
5.1 - Síntese dos principais ensinos da epístola aos Hebreus
As preocupações destacadas na epístola são: o perigo da apostasia (Hb
6:4-8; 10:19-39); necessidade de confortar os convertidos que lamentam o
abandono do esplendor dos cultos judaicos; fortalecer e tranqüilizar as jovens
comunidades cristãs. 2 (Hb 19:9-10)
Os destinatários da epístola são judeus convertidos que viviam no meio
helenístico ou gentios fascinados pela cultura hebraica. De alguma forma, esses
leitores estavam familiarizados com a Septuaginta, assim como com certas
interpretações tradicionais. 3 (Hb 7:1-3; 11:17-19)
• A superioridade do Cristo
“Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras,
aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho, a quem
constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. O qual, sendo o
resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas
as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação
dos nossos pecados, assentou-se à destra da Majestade, nas alturas; feito tanto
mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que
eles. [...] Pelo que, irmãos santos, participantes da vocação celestial, considerai
a Jesus Cristo, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão, sendo fiel ao que
o constituiu, como também o foi Moisés em toda a sua casa. [...]Visto que temos
um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus,
retenhamos firmemente a nossa confissão.” (Hb 1:1-4; 3;1-2; 4:14)
• Inutilidade dos cultos exteriores
“Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e
mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, nem
por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez
no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção. Porque, se o sangue
dos touros e bodes e a cinza de uma novilha, esparzida sobre os imundos, os
santificam, quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que,
pelo Espírito eterno, se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará a
vossa consciência das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo? E, por isso, é
Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão
das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados
recebam a promessa da herança eterna.” (Hb 9:11-15)
• É necessário perseverar na fé
“Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no Santuário, pelo sangue de
Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua
carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com
verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado da má
consciência e o corpo lavado com água limpa, retenhamos firmes a confissão
da nossa esperança, porque fiel é o que prometeu. E consideremo-nos uns aos
outros, para nos estimularmos à caridade e às boas obras [...].Ora, a fé é o firme
fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não vêem.
Porque, por ela, os antigos alcançaram testemunho. Pela fé, entendemos que
os mundos, pela palavra de Deus, foram criados; de maneira que aquilo que
se vê não foi feito do que é aparente.”(Hb 10:19-24; 11:1-3)
• Não temer as provações
“Portanto, nós também, pois, que estamos rodeados de uma tão grande
nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto
nos rodeia e corramos, com paciência, a carreira que nos está proposta, olhan-do
para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto,
suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.
Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si
mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos. Ainda não
resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado. [...] Portanto, tornai a
levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados, e fazei veredas direitas
para os vossos pés, para que o que manqueja se não desvie inteiramente; antes,
seja sarado.” (Hb 12: 1-4;12-13)
• Ser caridoso permanentemente
“Permaneça a caridade fraternal. Não vos esqueçais da hospitalidade,
porque, por ela, alguns, não o sabendo, hospedaram anjos. Lembrai-vos dos
presos, como se estivésseis presos com eles, e dos maltratados, como sendo-o
vós mesmos também no corpo. [...] Sejam vossos costumes sem avareza,
contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te
desampararei. [...] E não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque,
com tais sacrifícios, Deus se agrada.” (Hb 13:1-3, 5,16)
Aceitar o poder de Jesus, guardar certeza da própria ressurreição além da morte, reconfortar-
se ante os benefícios da crença, constituem fase rudimentar no aprendizado do
Evangelho. Praticar as lições recebidas, afeiçoando a elas nossas experiências pessoais de
cada dia, representa o curso vivo e santificante.[...] Não basta situar nossa alma no pórtico
do templo e aí dobrar os joelhos reverentemente; é imprescindível regressar aos caminhos
vulgares e concretizar, em nós mesmos, os princípios da fé redentora, sublimando a
vida comum. [...] Existem milhares de crentes da Boa Nova nessa lastimável posição de
estacionamento. São quase sempre pessoas corretas em todos os rudimentos da doutrina
do Cristo. Crêem, adoram e consolam-se, irrepreensivelmente; todavia, não marcham
para diante, no sentido de se tornarem mais sábias e mais nobres. Não sabem agir, nem
lutar e nem sofrer, em se vendo sozinhas, sob o ponto de vista humano. Precavendo-se
contra semelhantes males, afirmou Paulo, com profundo acerto: – “Deixando os rudimentos
da doutrina de Jesus, prossigamos até à perfeição, abstendo-nos de repetir muitos
arrependimentos porque então não passaremos de autores de obras mortas.” 16
1. BIBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus,
2002. Item: Introdução às epístolas de são Paulo, p. 1963.
2. ______. Item: Introdução a epístola aos hebreus, p. 2083.
3. ______. p. 2083-2084.
4. ______. p. 2084.
5. ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. São Paulo: Melhoramentos,
1995. Volume 4 (verbete Bíblia: As epístolas), p. 1347.
6. ______. p. 1347-1348.
7. DICIONÁRIO DA BÍBLIA. Vol. 1: as pessoas e os lugares. Organizado por
Bruce M. Metzger, Michael D. Coogan. Traduzido por Maria Luiza X. De
A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2002, Item: Filêmon, p. 92-93.
8. ______. Item: Hebreus, p. 107.
9. ______. Item: Tessalônica, p. 317-318.
10. ______. p. 318.
11. ______. Item: Timóteo, p. 322.
12. ______. Item: Tito, p. 323.
13. XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, verdade e vida. Espírito Emmanuel.
27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 17 (Por Cristo), p. 49-50.
14. ______. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 35. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2006. Cap. 23 (Não é de todos), p. 61-62.
15. ______. Cap. 34 (Guardemos o cuidado), p. 85-86.
16. ______. Cap. 83 (Avancemos além), p. 217-218.
17. ______. Paulo e Estêvão: episódios históricos do Cristianismo primitivo.
Pelo Espírito Emmanuel. 3. ed. Especial. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Segunda
parte, cap. 9 (O prisioneiro do cristo), p. 558.
18. ______. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 25. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2006. Cap. 79 (Em combate), p. 181-182.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

As Quatro Legítimas Verdades

As Quatro Legítimas Verdades

Autor: Manoel Philomeno de Miranda (espírito), psicografia de Divaldo Franco.

(...) Foi o Dr. Carneiro de Campos quem me respondeu:


- "Ao convidar o caro Miranda para esta excursão de trabalho, não lhe quisemos detalhar o compromisso em tela porque muitas dificuldades estavam em pauta, aguardando solução. A fim de não deixá-lo ansioso, resolvemos esperar a ajuda divina para inteirá-lo depois, qual ocorre neste momento."
Fazendo uma pausa breve, deu continuidade à narração:
- "Oportunamente, ao ser liberado das Regiões infernais antigo comandante das forças do mal - que reencontrou em Jesus a porta estreita da salvação graças aos esforços sacrificiais e renúncias imensas de sua genitora - aqueles que permaneceram no esquema da impiedade reuniram-se para tomar providências em conjunto contra o que denominam como os exércitos do Cordeiro, que detestam.
"Estes seres, que se extraviaram em diversas reencarnações, assumindo altíssimas responsabilidades negativas para eles mesmos, procedem, na sua maioria, de Doutrinas religiosas cujos nomes denegaram com as suas condutas relapsas, atividades escusas e cones extravagantes, nas quais o luxo e os prazeres tinham primazia em detrimento dos rebanhos que diziam guardar, mas que somente exploravam, na razão do quanto os desprezavam.
Ateus e cínicos, galgavam os altos postos que desfrutavam mediante o suborno, o homicídio, as perversões sexuais, a politicagem sórdida, morrendo nos tronos das honras e glórias mentirosas, para logo enfrentarem a consciência humilhada e, sob tormentos inenarráveis, sintonizando com os sequazes que os aguardavam no Além, sendo reconvocados aos postos de loucura, dispostos a enfrentar Jesus e Deus, que negam e dizem desprezar..."
Após ligeira interrupção e medindo bem as palavras, prosseguiu:
- "As figuras mitológicas dos demônios e seus reinos, os abismos infernais e os seus torturadores de almas são relatos inicialmente feitos por pessoas que foram até ali conduzidas em desdobramento espiritual - por afinidade moral ou pelos Mentores, a fim de advertirem as criaturas da Terra - antros sórdidos que aqueles governam e onde instalaram o terror, dando a equivocada idéia de que naquelas paragens não há tempo a transcorrer, num conceito absurdo de eternidade a que se aferram diversas religiões, as quais mais atemorizam do que educam.

"Mártires e santos, profetas e escritores, artistas e poetas de quase todos os povos e épocas, os que eram médiuns, visitaram esses Núcleos terrificadores e conheceram os seus habitantes, trazendo, na memória, nítidas, as suas configurações, que as fantasias e lendas enriqueceram com variações de acordo com a cultura, a região e o tempo, presentes, portanto, na historiografia da humanidade.
Variando de denominação, cada grupamento, como ocorre na Terra, tem o seu chefe e se destina a uma finalidade coercitiva, reparadora. Periodicamente esses chefes se reúnem e elegem um comandante a quem prestam obediência e submissão, concedendo-lhe regalias reais... As ficções mais audaciosas não logram conceber a realidade do que ocorre em tais domínios.
"Sandeus e absolutos, anularam a consciência no mal e na força, tornando-se adversários voluntários da Luz e do Bem, que pretendem combater e destruir.
"Não se dão conta de que tal ocorre, porque vivem em um planeta ainda inferior em processo de desenvolvimento, onde aqueles que o habitam, também são atrasados, padecendo limites, em trânsito do instinto para a razão. lnobstante, porém, luz, nesta época, o Consolador e em toda parte doutrinas de amor e paz inauguram a Nova Idade na Terra, convidando o homem ao mergulho interior, ao rompimento dos grilhões da ignorância, à solidariedade, ao bem... A ciência dá as mãos à moral, e a filosofia redescobre a ética, para que a religião reate a criatura ao seu Criador em um holismo profundo de fé, conhecimento e caridade, numa síntese de sabedoria transcendental.
"Tudo marcha na direção de Deus, é inelutável".
A Grande Causa, a Inteligência Suprema, é o fulcro para o qual convergem todos, mediante a vigorosa atração da Sua própria existência.
"As lutas de oposição desaparecem com relativa rapidez, rompendo-se as barricadas e trincheiras que se tomam inúteis. A trajetória do progresso é irrefreável. Só o Amor tem existência real e perene, lei que é da vida, por ser a própria Vida. "
Calou-se, novamente, e relanceou o olhar pelo veludo da noite salpicado de gemas estelares, dando prosseguimento:
- "Na reunião que eles convocaram naquela oportunidade, ficou estabelecido que o novo substituto deveria ser impiedoso ao extremo, sem qualquer sensibilidade, cuja existência execranda no planeta houvesse espalhado o terror e cuja memória inspirasse revolta e ódio... Após um mês voltariam a reunir-se.
"Naturalmente, foram buscados os sicários mais abjetos da Humanidade, que fossilizavam nos antros mais hediondos das regiões subterrâneas de sofrimentos, de onde foram retirados temporariamente para apresentação de planos, sua avaliação de possibilidades de execução e logo votação.
"Difícil imaginar tais conciliábulos e conseqüente escrutínio para a eleição de um Chefe.
"Recordando as reuniões de antigos religiosos, ontem como hoje, cada representante se vestiu com as roupagens e características do seu poder, e, acolitados pelo subalternos, compareceram em massa, diversos deles conduzindo os seus candidatos para o pleito macabro e ridículo.
"A extravagância e o cinismo ilimitados fizeram-se presentes nas figuras grotescas, asselvajadas umas, animalescas outras, em um cenário de horror, para o que seria o grande momento de decisão, a conquista do mundo humano por tais assaltantes espirituais.
"Mais de uma vintena de algozes da sociedade foram apresentados ao terrível parlamento. Alguns encontravam-se hebetados em padecimentos que se auto-impuseram; outros pareciam desvairados, e um número menor, com facies patibular e olhos miúdos, fuzilantes, chamaram mais a atenção dos governantes e da turbamulta alucinada que repletava as galerias daquele simulacro infeliz de tribunal de julgamento e seleção.
"Nomes que fizeram tremer a Terra, no passado remoto como no mais recente, foram pronunciados, enquanto, pessoalmente, eles se apresentavam ou eram trazidos. Vários em estado de loucura foram apupados, embora os seus defensores prometessem despená-los e colocá-los lúcidos para o ministério que lhes seda delegado. A balbúrdia ensurdecedora interrompeu várias vezes as decisões.
Os árbitros, porém, ameaçaram expulsar a malta, que foi atacada por mastins ferozes, até o momento em que assomou ao pódio um ser implacável, com postura temerária, passos lentos, coxeando, corpo balouçante com ginga primitiva, que, erguendo os braços para dominar o cenário, com facilidade o logrou, graças ao terror que expressava nos olhos fulminantes.
"Quem o conduzia deu ligeira notícia do candidato, sem ocultar a felicidade que o dominava:
- Tenho a honra de apresentar o inexcedível conquistador que submeteu o mundo conhecido do seu tempo, na Ásia, e esteve na Terra, novamente, apenas uma vez mais. As suas façanhas ultrapassaram em muito outros dominadores, graças à sua absoluta indiferença pela vida e aos métodos que utilizava para a destruição da raça humana. Fundou o segundo império mongol, realizando guerras cruentas.
"A sua existência corporal transcorreu durante o século XIV, havendo renascido na Ásia Central, próximo a Samarcanda. Informando descender de Gengis Khan, aos cinqüenta anos de idade alargou seus domínios do Eufrates à Índia, impondo-se ao Turquestão, Coraçã, Azerbajá, Curdistão, Afeganistão, Fars. Logo depois, invadiu a Rússia, a Índia, deixando um rastro de dezenas de milhares de cadáveres, somente em Delhi, às portas da cidade e nos seus arredores... Cruel até o excesso, realizou alguns trabalhos de valor na sua pátria, porém as suas memórias são feitas de atrocidade e horror, por cujas razões, ao desencarnar, mergulhou nas regiões abismais onde foi localizado, nas Trevas..."
O narrador fez breve silêncio para logo prosseguir ,
- "A medida que a arenga apaixonada conquistava os eleitores triunfantes, o horror mais humilhava os presentes, que silenciaram diante do certamente vencedor hediondo.
"Encerrada a apresentação do candidato, foi ele aceito por quase todos os chefes e aclamado como o Soberano Gênio das Trevas, que se encarregada de administrar os corretivos na humanidade, a qual ele propunha submeter e explorar.
"Não ignoramos que o intercâmbio de energias psicofísicas entre os seres inferiores desencarnados e os homens é muito maior do que se imagina. Legiões de dezenas de milhões de criaturas de ambos os planos se encharcam de vitalidade, explorando-se, umas às outras, mediante complexos processos de vampirização, simbiose, dependência, gerando uma psicosfera morbífica, aterradora. Somente o despertar da consciência logra interromper o comércio desastroso, no qual se exaurem os homens, e mais se decompõem moralmente os Espíritos. Para sustentarem tão tirânica interdependênda, são criados mecanismos e técnicas contínuas de degradação das pessoas, que espontaneamente se deixam consumir por afinidade com os seres exploradores, viciados inclementes, amolentados secularmente na extravagante parasitose. Pululam, incontáveis, os casos dessa natureza. Enfermidades degenerativas do organismo físico, desequilibrados mentais desesperadores, disfunções nervosas de alto porte, contendas, lutas, ódios, paixões asselvajadas, guerras e tiranias têm a sua geratriz nesses antros de hediondez, onde as Forças do Mal, em forma de novos Lucíferes da mitologia, pretendem opor-se a Deus e tomar-lhe o comando. Vão e inqualificável desvario este do ser humano inferior. !
"O homem marcha, na Terra como nos círculos espirituais mais próximos, ignorando ou teimando desconhecer a sua realidade como ser imortal, Espírito eterno que é, em processo de ascensão. Dando preferência à sensação, na qual se demora espontaneamente, em detrimento das emoções enobrecidas, jugula-se à dependência do prazer, cristalizando as suas aspirações no gozo imediato e retendo-se nas faixas punitivas do processo evolutivo. Face a tal comportamento, reencarna e desencarna por automatismo, sob lamentáveis condições de perturbação, perplexidade e interdependência psíquica.
As obsessões que atravessam decênios sucedem-se. O algoz de hoje, ao reencarnar-se, toma-se a vítima que por sua vez, mais tarde, dá curso ao processo infeliz até quando as Soberanas Leis interferem com decisão.
"As religiões, através dos seus sacerdotes, ministros, guias e chefes, na maioria aferradas aos dogmas ultramontanos, preferem não descerrar a cortina da ignorância, mantendo os seus rebanhos submissos, pelo menos convencionalmente, em mecanismos de rude hipocrisia, desinteressadas do homem real, integral, espiritual. Sucede que grande número desses condutores religiosos está vinculado aos sicários espirituais, que os mantêm em dependência psíquica, explorados, para que preservem o estado de coisas conforme se encontra. Por tal razão, quando as doutrinas libertadoras se apresentam empunhando as tochas do discernimento, seus apologistas, membros divulgadores e realizadores, são perseguidos, cumulados de aflições e tormentos, para que desistam, desanimem ou se submetam aos mentirosos padrões dos triunfos terrenos."
O Benfeitor calou-se por ligeiro espaço de tempo, e, lúcido, adiu:
"Pode parecer que o Pai Misericordioso permanece indiferente ao destino dos filhos sob o domínio das sombras de si mesmos. No entanto, não é assim. lncessantemente Sua Voz convida ao despertamento, à reflexão, à ação correta, usando os mais diversos instrumentos, desde as forças atuantes do Universo aos missionários e apóstolos da Verdade, que não são escutados nem seguidos.
"Os líderes da alucinação tornam-se campeões das massas devoradoras, enquanto as vozes do bem clamam no deserto. Milhares de obreiros desencarnados operam em silêncio, nas noites terrestres, acendendo luzes espirituais, em momentosos intercâmbios que são considerados, no estado de consciência lúcida, no corpo, como sonhos impossíveis, fantasias, construções arquetípicas, em conspiração sistemática a favor das teses materialistas.

Essas explicações, algumas esdrúxulas, travestidas de científicas, são aceitas, inclusive, pelos religiosos, que aí têm seus mecanismos escapistas para fugirem aos deveres e responsabilidades maiores.


"Desnecessário confirmar que as nobres conquistas das ciências da alma, inclusive as abençoadas experiências de Freud, de Jung e outros eminentes estudiosos, fundamentam-se em fatos incontestáveis. Algumas das suas conclusões merecem, porém, reestudo, reexame e conotações mais modernas, nunca descartando a possibilidade espiritualista, hoje considerada pelas novas correntes dessas mesmas doutrinas.
"Quando as criaturas despertarem para a compreensão dos fenômenos profundos da vida, sem castração ou fugas, sem ganchos psicológicos ou transferências, romper-se-ão as algemas da obsessão na sua variedade imensa, ensejando o encontro do ser com a sua consciência, o descobrimento de si mesmo e das finalidades da existência corporal no mapa geral da sua trajetória eterna."
Mais uma vez, o venerável Instrutor fez uma pausa, facultando-nos assimilar o conteúdo das suas palavras, para logo dar continuidade:
- "Posteriormente informado das razões que o elevaram ao supremo posto, representativo daqueles grupos hostis, o Chefe pediu um prazo para elaboração de planos, solicitando a presença de hábeis conselheiros de períodos diferentes da História, a ele semelhantes na estrutura psíquica, de modo a inteirar-se das ocorrências no planeta.
"As reuniões sucederam-se tumultuadas, violentas, sempre acalmadas pela agressividade do Soberano, que, ciente das novas revelações da Verdade na Terra, do advento do Consolador e seu programa de reestudo e vivência do Cristianismo, das incursões modernas do Espiritualismo ancestral na sociedade contemporânea, todos formando diques contra as águas volumosas da destruição, resolveu escutar fracassados conhecedores do comportamento das criaturas, tanto na área sexual como na econômica e na social - pois que nesses recintos transitam aqueles que se comprometeram negativamente perante a Vida - após o que estabeleceu o seu programa, que ironicamente denominou como as quatro legítimas verdades, em zombeteira paráfrase ao código de Buda em relação ao sofrimento: as quatro Nobres Verdades.
"Em reunião privada com os chefes de grupos, explicitou o programa que elaborara para ser aplicado em todas as suas diretrizes e com pormenorizado zelo.
"Primeiro: o homem - redefiniu o novo Soberano das Trevas - é um animal sexual que se compraz no prazer. Deve ser estimulado ao máximo, até a exaustão, aproveitando-se-lhe as tendências, e, quando ocorrer o cansaço, levá-lo aos abusos, às aberrações. Direcionar esse projeto aos que lutam pelo equilíbrio das forças genésicas é o empenho dos perturbadores, propondo encontros, reencontros e facilidades com pessoas dependentes dos seus comandos que se acercarão das futuras vítimas, enleando-as nos seus jogos e envolvimentos enganosos. Atraído o animal que existe na criatura, a sua dominação será questão de pouco tempo. Se advier o despertamento tardio, as conseqüências do compromisso já serão inevitáveis, gerando decepções e problemas, sobretudo causando profundas lesões na alma. O plasma do sexo impregna os seus usuários de tal forma que ocasiona rude vinculação, somente interrompida com dolorosos lances passionais de complexa e difícil correção.
"Segundo: o narcisismo é filho predileto do egoísmo e pai do orgulho, da vaidade, inerentes ao ser humano. Fomentar o campeonato da presunção nas modernas escolas do Espiritualismo, ensejando a fascinação, é item de alta relevância para a queda desastrosa de quem deseja a preservação do ideal de crescimento e de libertação. O orgulho entorpece os sentimentos e intoxica o indivíduo, cegando-o e enlouquecendo-o. Exige corte, e suas correntes de ambição impõem tributários de sustentação. Pavoneando-se, exibindo-se, o indivíduo desestrutura-se e morre nos objetivos maiores, para cuidar apenas do exterior, do faustoso - a mentira de que se insufla.
"Terceiro: o poder tem prevalência em a natureza humana. Remanescente dos instintos agressivos, dominadores e arbitrários, ele se expressa de várias formas, sem disfarce ou escamoteado, explorando aqueles que se lhe submetem e desprezando-os ao mesmo tempo, pela subserviência de que se fazem objeto, e aos competidores e indomáveis detestando, por projetar-lhe sombra. O poder é alçapão que não poupa quem quer que lhe caia na trampa. Ademais a morte advém, e a fragilidade diante de outras forças aniquila o iludido.




"Quarto: o dinheiro, que compra vidas e escraviza almas, será outro excelente recurso decisivo. A ambição da riqueza, mesmo que mascarada, supera a falsa humildade, e o conforto amolenta o caráter, desestimulando os sacrifícios. Sabe-se que o Cristianismo começou a morrer, quando o martirológio foi substituído pelo destaque social, e o dinheiro comprou coisas, pessoas e até o reino dos céus, aliciando mercenários para manter a hegemonia da fé...
"Quem poderá resistir a essas quatro legítimas verdades? - interrogou -. Certamente, aquele que vencer uma ou mais de uma, tombará noutra ou em várias ao mesmo tempo.
"Gargalhadas estrepitosas sacudiram as furnas. E a partir de então, os técnicos em obsessão, além dos métodos habituais, tomaram-se especialistas no novo e complexo programa que em todos os tempos sempre constituiu veículo de desgraça, agora mais bem aplicado, redundando em penosas derrotas. Não será necessário que detalhemos casos a fim de analisarmos resultados."
Aprofundando reflexões, o Amigo concluiu:
"Precatem-se, os servidores do Bem, das ciladas ultrizes do mal que tem raízes no coração, e estejam advertidos. Suportem o cerco das tentações com estoicismo e paciência, certos de que o Pai não lhes negará socorro nem proteção, propiciando-lhes o que seja mais . importante e oportuno. Ademais, não receiem as calúnias dos injuriadores que os não consigam derrubar. Quando influenciados pelos assessores dos Gênios, mantenham-se intimoratos nos ideais abraçados. A vitória tem a grandeza da dimensão da luta travada.
"Este desafio, que nos tem merecido a mais ampla e minudente consideração, qual ocorre com inúmeros Benfeitores do Mundo Maior, é uma das razões de nos encontrarmos em atividade com o irmão Vicente e os membros da Casa que ele dirige.
"Agora, sigamos ao trabalho que nos espera. "
Havia no ar da noite silenciosa a presença de bênçãos que aspiramos em longos haustos, enquanto nos dirigíamos para a sede dos nossos labores.
Reflexões Necessárias
Não tive tempo de arregimentar perguntas, tal o esfervilhar de pensamentos que me agitavam a casa mental.
A narração breve do Instrutor fornecia-me explicações para melhor entender vários acontecimentos infelizes que pairavam agitando a economia moral da sociedade, especial e particularmente dos cristãos novos, dos espiritualistas modernos e dos estudiosos da mente que, interessados nos padrões éticos e superiores do comportamento, subitamente naufragavam nos ideais ou os abandonavam, padecendo graves ulcerações espirituais. Compreendia melhor a irrupção do sexo desvairado a partir dos anos sessenta deste século, o alucinar pelas drogas, a mudança dos padrões morais e o crescimento da violência, o abandono a que as gerações jovens foram atiradas, as falsas aberturas para a liberdade sem responsabilidade pelos atos praticados, a música ensurdecedora, a de metais, a de horror, a satânica, e tantas outras ocorrências...
Está claro que o processo antropossociológico da evolução, às vezes, deve arrebentar determinados compromissos para abrir novos espaços experimentais, que irão compor o quadro das necessidades evolutivas do homem e da mulher. A moral social, geográfica, aparente, deve ceder lugar à universal, à que está ínsita em a Natureza, àquela que dignifica e promove, superando e abandonando as aparências irrelevantes e desacreditadas.
Verificava que a transição histórica de um para outro período é semelhante a um demorado parto, doloroso e complexo, do qual nascem novos valores e a vida enfloresce.
Não seriam, os períodos de convulsão danosa, gerados por mentes destruidoras sediadas no Além?
Teriam gênese, em programações semelhantes, as súbitas alterações sociais que sacudiam até ao desmoronamento, nações e povos, abalando a Humanidade?

Partindo do princípio de que a vida real e causal é a que tem origem e vigência na Erraticidade, no mundo espiritual, conforme os acontecimentos, suas matrizes desencadeadoras estão aqui e daqui partem por indução, inspiração e interferência direta, através da reencarnação de membros encarregados de perturbar a ordem geral. Embora suponham estar agindo por vontade própria, ei-los sob o Comando Divino, que os utiliza indiretamente para despertar as consciências adormecidas, para as altíssimas finalidades da vida.
Recordava-me de amigos que haviam reencarnado com tarefas específicas e nobres, para agirem com elevação e desdobrarem o programa de iluminação espiritual, e que derraparam lamentavelmente, alguns sendo retirados antes de mais infelizes comprometimentos, e outros abraçando esdrúxulas condutas, fazendo-se crer auto-suficientes, superiores, revoltados...
Tinha em mente as tarefas estabelecidas e aceitas com entusiasmo antes da reencarnação ou ditadas mediunicamente, que produziam impactos felizes, mas que logo pareciam perder o significado para os seus responsáveis, que as abandonavam ou as alteravam a bel-prazer para seguirem noutros rumos...
Observava sempre a facilidade com que certos líderes carismáticos eram seguidos por multidões hipnotizadas, e astros do desequilíbrio galvanizavam as massas, aturdindo-as, fazendo-as adorá-los, naturalmente sob controles espirituais poderosos das Trevas.
O caso Davi, mais especificamente, tornava-se um exemplo concreto da consumação das quatro legítimas verdades perturbadoras. Todo o empenho de seus Mentores e de alguns amigos encarnados não resultou positivo, intoxicado que estava pela presunção narcisista, atraído pelo sexo irresponsável, fascinado pelo dinheiro e, no íntimo, ambicionando o destaque, o poder...
O labor de Jesus, o Cordeiro sacrificado, é todo de abnegação e renúncia, de amor e humildade, de persuasão afetuosa, jamais de imposição arbitrária.
Como efeito, crêem os apressados, que vitórias são a da ganância, da força e do brilho rápido das luzes da fama...
Compreendia melhor, a partir daquele momento, que as imperfeições da criatura humana são as responsáveis pelo fracasso de bem organizados planos, pelas perturbações que se generalizam, pelas opções extravagantes, pelo desdobrar das paixões asselvajadas, em razão do nível inferior de consciência no patamar em que transita a maioria das pessoas. Não obstante, estimuladas essas expressões primárias em domínio ou ainda remanescentes no ser, é fácil entender a loucura avolumada na Terra, a falência dos padrões éticos e o anseio pelo retomo às manifestações primevas do ser.
Raciocinando sobre os planos do Soberano Gênio das Trevas, tomaram-se-me lógicas as ocorrências que antes me pareciam absurdas, quase impossíveis de acontecer. <
No momento em que a cultura atinge as suas mais altas expressões; quando a Ciência mais se aproxima de Deus auxiliada pela Tecnologia, e o homem sonha com a possibilidade de detectar vida fora da Terra, igualmente campeiam a hediondez do comportamento agressivo; a excessiva miséria de centenas de milhões de pessoas, social e economicamente abandonadas à fome, às doenças, à morte prematura; o erotismo extravagante em generalização; a correria às drogas e aos excessos de toda natureza, tornando-se para mim um verdadeiro paradoxo da sociedade. <
O homem e a mulher terrestres, ricos de aspirações enobrecidas, ainda não conseguem desligar-se dos grilhões dos instintos perturbadores, muitas vezes amando e matando, salvando vidas e estiolando-as em momentos de alegria ou de revolta. Essa visão aflige-me como sendo um espetáculo inesperado no processo da evolução.
Aprofundando, agora, a reflexão nas paisagens da obsessão dos grupos humanos e da procedência de um programa de paulatina subjugação mental das massas, melhor passei a entender a luta ancestral, quase mitológica, do Bem e do Mal, das forças existentes em a natureza humana propelindo para um outro comportamento.
Observava, desde há algum tempo, a conduta de pessoas dedicadas ao Espiritualismo, que se apresentavam portadores de idéias materialistas-utilitaristas, sempre usando a verruma, a acidez e a zombaria contra os seus confrades, por pensarem de forma diferente e não se lhes submeterem à presunção, aos caprichos, ao comando mental. Pugnando sempre contra, e atacando, descobrem erros em tudo e todos, apresentando-se com desfaçatez como defensores do que chamam a Verdade, somente eles possuindo visão e interpretação correta do pensamento que vitalizam e divulgam. E claro que sempre os houve em todas as épocas da Humanidade, porém agora são mais audaciosos.
Indaguei-me, naquele momento, se não estariam a soldo psíquico de tais manipuladores de obsessões ou se não seriam alguns membros desses grupos ora reencarnados? Sem qualquer censura a esses indivíduos, alguns certamente sinceros na forma de se conduzirem, inquiri-me: por que não concediam o direito aos demais de serem conforme lhes aprouvesse, enquanto eles seguiriam na sua maneira especial de entendimento?
Há, sem dúvida, muitas complexidades no processo da evolução, que se vão delineando e explicando lentamente, à medida que os Espíritos galgam degraus mais elevados. Por isso mesmo, as revelações se fazem gradativamente, dando, cada uma, tempo para que a anterior seja digerida pelas mentes e aplicadas nos grupos sociais.
A Sabedoria Divina jamais deixou a criatura sem os promotores do progresso, que vêm arrancando o ser da ignorância para o conhecimento.
Essas reflexões levaram-me a uma melhor compreensão do próximo, ensejando-me simpatia e amor pelos companheiros da retaguarda, encarnados ou não, e maior respeito pelos nobres Guias da Humanidade, sempre pacientes e otimistas, incansáveis na tarefa que abraçam como educadores amoráveis que são.
Tem sido sempre crescente o meu afeto a Allan Kardec, por ele haver facultado à mediunidade esclarecida elucidar o comportamento humano e permitir a penetração do entendimento no mundo espiritual. Graças ao Espiritismo, novos descortinos e constantes informações ajudam o ser humano a compreender a finalidade da sua existência na Terra, as metas que lhe cumpre alcançar através de contínuos testes e desafios.
Olhando a multidão ainda em movimento pelas ruas por onde transitávamos na grande cidade, um sentimento de ternura e compaixão amorosa assomou-me, levando-me às lágrimas.
Percebendo-me a emoção silenciosa, o Dr. Carneiro de Campos enlaçou-me o ombro, e falou:
- "Há muito por fazer em favor do nosso próximo, onde quer que se encontre. Aqueles que já despertamos para a compreensão da Vida, temos a tarefa de acordar os que se demoram adormecidos, sem lhes impor normas de conduta ou oferecer-lhes paisagens espirituais que ainda não podem penetrar. Se alguns pudessem conhecer a realidade que ora enfrentamos, enlouqueceriam de pavor, se suicidariam, tombariam na hebetação... O nosso dever induz-nos a ajudá-los a elevar-se, a pouco e pouco, identificando as finalidades existenciais e passando a vivê-las melhor."
Fazendo uma pausa oportuna, continuou:
- "Em nossa esfera de ação encontramos, a cada instante, irmãos equivocados, iludidos pelas reminiscências terrestres, defendendo os interesses malsãos dos familiares e afetos, preocupados com as querelas do corpo já diluído no túmulo, negando-se à realidade na qual se encontram. Agimos com eles pacientemente, amorosamente, confiando no tempo. Ora, em relação aos encarnados, a questão faz-se mais complexa, exigindo-nos maior quota de compreensão e de bondade. O anestésico da matéria, que bloqueia muitas percepções do Espírito, terá que ser vencido vagarosamente, evitando-se choques danosos ao equilíbrio mental e emocional dos indivíduos.
"Assim, prossigamos confiantes, insistindo e perseverando, sem aguardar resultados imediatos, impossíveis de ser atingidos."
Chegamos, por fim, ao núcleo das atividades, onde outros deveres nos aguardavam.

Livro: Trilhas da Libertação

Transformação Interior e o Mundo de Regeneração


Transformação Interior e o Mundo de Regeneração
 Autor: Manoel Philomeno de Miranda (espírito)

“A fim de que o mundo se transforme é necessário que haja a modificação do ser humano para melhor, por ser a célula máter da sociedade. Enquanto mantiver a enfermidade espiritual resultante do atraso evolutivo, nenhuma força externa conseguirá alterar a marcha moral do planeta, desde que os seus habitantes recusem-se à transformação interior.
Os momentos que vivemos são de esforço autoiluminativo, graças às revelações que descem à Terra com maior frequência e às informações seguras em torno do processo de mudança, oferecendo a visão do futuro que a todos nos espera.
As lições do Mestre de Nazaré, desde há dois mil anos, convocam-nos ao procedimento moral correto, à convivência pacífica e ao cumprimento dos deveres de solidariedade e apoio aos que se encontram na retaguarda da ignorância, ou sofrendo os necessários fenômenos de recuperação pela dor, mediante os testemunhos, através das experiências aflitivas...
Cada um deve preparar-se para acompanhar a marcha do progresso, integrando a legião dos construtores do novo período da Humanidade. Anunciado por Jesus esse período de transição, tanto como referendado pelo Apocalipse, narrado por João evangelista e os profetas que se manifestaram a esse respeito ao longo da História, chega o momento de cumprir-se os divinos desígnios que reservam para a Terra generosa o destino regenerador, sem as marcas do sofrimento na sua feição pungitiva e desesperadora.
As forças do mal, porém, teimam em manter o quadro atual de desolação, ao lado dos abusos de toda ordem, porque pretendem continuar explorando psiquicamente os incautos que se lhes vinculam através dos hábitos doentios em que se comprazem na ilusão material.
A morte inevitável, porém, a todos arrebata, e quando despertam no além-túmulo, estorcegam na realidade, lamentando os equívocos e necessitando de oportunidade para reparação. Esse não mais se dará no planeta Terra, que deixará de ser de provas, mas em outro de natureza inferior, onde se deverá expungir a maldade e a falência moral em situação muito mais aflitiva e mais amarga."

Psicografia de Divaldo Franco


Livro: Amanhecer de uma nova era

Cada Qual

Cada Qual

Autor: Emmanuel (espírito)

“Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo”. - Paulo. I
(Corintios, 12:4).

Em todos os lugares e posições, cada qual pode revelar qualidades
divinas para a edificação de quantos com ele convivem.
Aprender e ensinar constituem tarefas de cada hora, para que
colaboremos no engrandecimento do tesouro comum
de sabedoria e de amor.
Quem administra, mais frequentemente pode expressar
a justiça e a magnanimidade.
Quem obedece, dispõe de recursos mais amplos para
demonstrar o dever bem cumprido.
O rico, mais que os outros, pode multiplicar o trabalho
e dividir as bênçãos.
O pobre, com mais largueza, pode amealhar a fortuna
da esperança e da dignidade.
O forte, mais facilmente, pode ser generoso, a todo instante.
O fraco, sem maiores embaraços, pode mostrar-se humilde,
em quaisquer ocasiões.
O sábio, com dilatados cabedais, pode ajudar a todos,
renovando o pensamento geral para o bem.
O aprendiz, com oportunidades multiplicadas, pode distribuir
sempre a riqueza da boa-vontade.
O são, comumente, pode projetar a caridade em todas as direções.
O doente, com mais segurança, pode plasmar as lições
da paciência no ânimo geral.
Os dons diferem, a inteligência se caracteriza por diversos graus,
o merecimento apresenta valores múltiplos, a capacidade é fruto
do esforço de cada um, mas o Espírito Divino que sustenta
as criaturas é substancialmente o mesmo.
Todos somos suscetíveis de realizar muito, na esfera de trabalho
em que nos encontramos.
Repara a posição em que te situas e atende aos imperativos do
Infinito Bem. Coloca a Vontade Divina acima de teus desejos,
e a Vontade Divina te aproveitará.

Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Livro: Fonte Viva

quarta-feira, 10 de julho de 2013

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9.7.13

DESENCARNA HERMÍNIO MIRANDA


Hermínio (05/01/1920 - 08/07/2013)

"O pássaro agora voa liberto. Nós, que não mais podemos vê-lo, já sentimos saudades do seu canto."

Jáder Sampaio

Na década de 80 a União Espírita Mineira, em associação com a Aliança Municipal Espírita de Belo Horizonte, trouxe três estudiosos do espiritismo para um seminário sobre mediunidade. Jorge Andréa dos Santos, Suely C. Schubert e Hermínio C. Miranda.

Hermínio estava incomodado com o púlpito. Não era expositor, dizia, apenas escritor. Assentado, com um maço de páginas nas mãos, começou a ler seu discurso. E que discurso! Superado o impacto inicial de ouvir uma leitura, as palavras dele criavam vida após sair do papel. Eram tantas informações e com tanta elegância, que eu me dividia entre as anotações furiosas que fazia e a atenção necessária para acompanhar cada nuance, cada expressão, cada frase. Se ele temia o público, arrisco minha opinião póstuma: ele fez bonito!

Hermínio era reservado, tinha uma personalidade anglo-saxônica. A esposa completava-lhe o que lhe faltava. Recordo-me dela expansiva, simpática, calorosa. Os dois formavam um belo casal, cada um admirado por suas qualidades díspares.

Hermínio já era nonagenário, com extensa contribuição ao espiritismo e ao movimento espírita. Durante anos manteve uma coluna no Reformador, chamada "Lendo e Comentando". Ela trouxe aos trópicos de forma sistemática o que se pesquisava sobre comunicação dos espíritos e reencarnação nas terras anglófonas. Creio que das páginas do Reformador saiu o material para a composição dos livros "Sobrevivência e Comunicabilidade dos Espíritos" e "Reencarnação e Imortalidade".

Um de seus trabalhos sistemáticos foi com o atendimento aos espíritos. Apesar da personalidade reservada, ele mostrava um senso de percepção incomum e uma capacidade de diálogo transformadora. Como gravasse seus atendimentos, pode nos oferecer uma quadrilogia de livros intitulada "Histórias que os espíritos contaram", hoje publicada pela editora Correio Fraterno. A teoria do seu trabalho diferenciado, no qual incluiu técnicas dos magnetizadores do século XIX, encontra-se em dois livros: Diálogo com as sombras (FEB) e Diversidade dos Carismas (Lachâtre).

As incursões pelo magnetismo não se restringiram ao mundo das sombras, e ele fez sessões de regressão de memória com algumas pessoas. Luciano dos Anjos foi um sujet pleno de recordações da França revolucionária, que ele registrou no livro "Eu sou Camille Desmoulins", publicado em 1989, no bicentenário da revolução francesa, com uma explicação do autor que assegurava não ter podido publicar antes, e não estar se aproveitando das comemorações. Para quem agora escreve, seria uma simetria histórica.

Simetria histórica é um dos conceitos que ele desenvolveu e que foi empregado em muitos dos seus livros. As Marcas do Cristo (FEB), é um exemplo deste tipo de trabalho, no qual Hermínio compara a personalidade e história de Paulo de Tarso com a de Martinho Lutero. Este conceito seria empregado pela Dra. Nadia Luz, em sua tese de doutoramento em história, publicada na coleção Espiritismo na Universidade.

As biografias foram também uma de suas paixões. Ele publicou diversas, recuperando para o movimento espírita personalidades que passariam despercebidas nos dias de hoje, apesar de sua relevância. Guerrilheiros da Intolerância (Lachâtre), Hahnnemann, apóstolo da medicina espiritual (CELD), O pequeno laboratório de Deus (Lachâtre) e Swedenborg, uma análise crítica, são alguns dos exemplos.

Um de seus interesses era com a psicologia, na sua interseção com os fenômenos espirituais. Um de seus livros neste campo tornou-se best seller: Nossos filhos são espíritos (Lachâtre). Autismo, uma leitura espiritual (Lachâtre) e Condomínio Espiritual (Lachâtre) são alguns dos trabalhos com este perfil.

Creio que um dos temas que mais o intrigava era a transformação do cristianismo. Ele contribuiu com Os cátaros e a heresia católica (Lachâtre), Cristianismo, a mensagem esquecida (Lachâtre), Candeias da noite escura (FEB) e O evangelho gnóstico de Tomé (Lachâtre).

Das traduções, sua obra prima, é A história triste, de Patience Worth, que desenterrou do esquecimento juntamente com Memória Cósmica, cuja tradução está perdida em seu hard-disk.

Os livros do egito, que povoa suas recordações de além cérebro, o Edwin Drood, o livro de Dickens completado pela mediunidade e igualmente desenterrado por Hermínio, O processo dos espíritas, que reconta a injusta perseguição da sociedade francesa a um dos continuadores de Kardec, Leymarie, e muitos e muitos livros que não vou ficar citando, trazem seu nome e são frutos das suas horas de trabalho sério.

Voa, meu amigo, voa. Vai conhecer novos mundos, recordar mais vivências, reviver os tempos do Cristo. Voa bem alto, para que um dia possa retornar falando das luzes e do futuro.

Fonte:http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/2013/07/desencarna-herminio-miranda.html?showComment=1373378084511