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sexta-feira, 5 de abril de 2013

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 92

 
 
O Espírito não se divide; quando, por vezes, aparece em vários lugares diferentes; o que chamam de ubiqüidade, é seu poder de irradiação que pode tanto transmitir anúncios - como no caso de mensagens para os sensitivos - como suas próprias imagens, apresentando-se em muitos lugares ao mesmo tempo. Pelas coisas materiais pode-se analisar as espirituais, mesmo que as comparações sejam pálidas. É o caso da televisão: pode-se projetar a imagem de um homem ou um fato em todas as direções, sendo vistos em vários lugares no mesmo instante. E o poder do Espírito? É bem maior que o dos aparelhos feitos pelos homens. Certamente que pode acontecer com maior evidência. O Cristo pode aparecer nos lugares que desejar na Terra no mesmo instante, a todas as pessoas que achar conveniente, pelo poder da Sua mente, e transmitir mensagens diferentes para cada pessoa ou agrupamentos. Ele é o dirigente máximo de toda a Terra, conhecedor da ciência divina e pode usá-la quando Lhe aprouver.
Os poderes do Espírito superior ultrapassam todas as somas de valores reduzidos, alcançados pelos homens. O homem encarnado vive encarcerado e, mesmo sendo Espírito evoluído, se encontra tolhido na manifestação dos seus próprios valores, como encontra dificuldades de analisar e registrar os fatos, mesmo com os seus dons, ao contrário do Espírito na sua liberdade, sem o fardo de carne, que pode fazê-lo de forma total. São dois estágios bastante diferentes um do outro, e para que não haja um choque maior no desenlace, ao se passar de uma dimensão para outra, a Doutrina dos Espíritos vem preparando, ensinando as primeiras letras do alfabeto espiritual, para que se possa sentir mais segurança e maior fé, no momento em que se deverá passar pela porta estreita e ver a Luz com maior beleza, ver surgir as promessas da ressurreição, que é encontrar a si mesmo, sob a luz da Verdade.
Miramez por João Nunes Maia

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 91

 
“Nenhum; eles passam através de tudo. O ar, a terra, as águas e até mesmo o fogo lhes são igualmente acessíveis.”
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Quando falamos de Espírito, procuramos mostrar seus atributos valiosos, para que se possa sentir a diferença da matéria propriamente dita, em relação à chama divina dotada de consciência. Questionados se a matéria opõe obstáculos ao Espírito, os espíritos responderam com clareza: não. Certamente que o Espírito é livre, que matéria nenhuma opõe obstáculos a ele, no entanto, é bom que compreendamos que estamos tratando do Espírito superior que, pela sua elevação, domina todos os obstáculos físicos. No que tange aos Espíritos inferiores, a matéria pode ser obstáculo incalculável para eles, por se encontrarem materializados e, certamente, sem condições de atravessá-la, como os Espíritos puros, ou mais ou menos evoluídos. O Espírito mais grosseiro se reveste de um perispírito compatível com o seu estado evolutivo, e ao passar pelo fogo pode-se queimar, e em certos casos, ao entrar nas águas, dificilmente se sentir bem. As próprias paredes lhes servem de obstáculos. A chave da sua liberdade está na mente, ligada à emotividade: enquanto desconhecer esse poder grandioso, sofrerá muitas conseqüências, oriundas da ignorância.

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 90

 
 
Os Espíritos em viagens interplanetárias sempre as fazem em grupos afins. O mesmo se dá com os homens em viagens na Terra: gostam de fazê-las em companhia de colegas com eles afinizados. Não obstante, se na Terra há inúmeras dificuldades para grandes viagens, estas também existem no mundo espiritual, e com maiores problemas: não pode faltar harmonia no que tange à mente de cada ser. A desarmonia mental pode levá-los a ambientes desequilibrados, desviando-os das rotas desejadas. Em muitos casos, os benfeitores espirituais costumam levar os seus tutelados em certas viagens, quando estes atendem todas as normas dos seus guias espirituais. Isso sempre acontece, favorecendo ao aprendizado dos discípulos. Na verdade, são experiências deslumbrantes, sendo que todo esforço por parte do candidato para merecê-las ainda é muito pouco em relação às belezas do universo, que encantam e instruem, a nos mostrar o Criador palpitando em tudo que tocamos e presenciamos.
A Terra ainda está classificada entre os mundos inferiores, pelos sentimentos inferiores dos homens. O homem, em geral, é belicoso. As guerras são quistos encravados no planeta em que mora, no entanto, são reflexos dos pensamentos da própria humanidade. O Cristo, podemos dizer, foi um sol que despontou nas sombras do mundo, para libertar os homens de todas as calamidades, mas eles ainda não entenderam o Seu verdadeiro amor para com seus destinos. Ele deixou os recursos para banirmos o monstro das incompreensões e fazermos desaparecer o ódio de todos os povos: o Evangelho, como facho de luz. E os homens ainda não entenderam o objetivo desse legado santo, com a força da santidade de Deus. Aquele que viver os preceitos do Senhor, poderá viajar em todas as direções do universo sem, contudo, sair do corpo, gozando a felicidade do seu íntimo.

Miramez por João Nunes Maia

Aprendendo com o livro dos espiritos questão 89

 
“Quando o pensamento está em alguma parte, a alma também aí está, pois que é a alma quem pensa. O pensamento é um atributo.”
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O Espírito é uma chama divina, consciente, e o pensamento é seu atributo, cuja força pode levá-lo aonde quer que seja, desde que tenha condições para tais viagens. O universo é uma casa grande, mas nem todos os Espíritos podem andar nos departamentos desta casa de Deus. Existem muitos limites, de acordo com a posição da alma na escala a que pertence. Há muitos Espíritos que, ao desencarnarem, não saem das casas onde viveram como encarnados; outros, ficam ligados aos despojos nos cemitérios, e outros, ainda, ficam perambulando pelas ruas e lugares que se afinizaram com os seus sentimentos. O ódio em demasia faz pesar o corpo espiritual; assim a inveja, o ciúme, a maledicência, o orgulho e o egoísmo, de modo que a volitação fica difícil para essas entidades, e os seus corpos ficam chumbados ao solo terreno.
O pensamento é uma propriedade elástica do Espírito e seus poderes ultrapassam as pálidas deduções dos homens. Dependendo de quem pensa, podem os pensamentos, emitidos em determinados lugares, trazer de volta à mente as imagens e as impressões do ambiente que se deseja e deste modo ficar sabendo o que se passa. A força mental do Espírito superior é como um verdadeiro milagre, sob o comando da sua vontade. O poder da mente do Espírito puro é sem limites, porém, mesmo dotado de todas essas conquistas, respeita, dentro da ordem do universo, os seus irmãos menores, que estão passando por certos aprendizados, sob o controle da dor. Todavia, há casos em que eles intervêm com a misericórdia de Deus, em nome da mesma lei de justiça, ajudando aos que sofrem, quando a condição do sofredor pede esse amparo, para que possa servir melhor, aproveitando oportunidade difícil de ser granjeada. Os recursos são diversos e Deus é Amor!
 
Miramez por João Nunes Maia

Aprendendo com o livro dos Espíritos questão 88

 
 
A vida, principalmente do homem, é um eterno perguntar. E quem pergunta é porque desconhece as leis de Deus vigorando no universo grandioso. Nas regiões superiores não se pergunta; há outro, processo de aprendizado, por não existir ignorância, e quando se ouve a fala é a do Mestre, dentro da Sua espontaneidade, de maneira que os que ouvem assimilam o que corresponde às suas necessidades. Há algumas diferenças no que tange aos planos de vida. Certamente que os que vivem em regiões inferiores têm necessidades que são dispensadas nos planos elevados. Porém, todos caminham para a libertação espiritual. Há regiões no espaço em que habitam Espíritos de formas grotescas, que tomam aparências de verdadeiros animais e vivem como tais. Os sentimentos lembram as formas, e eles passam a viver naquele reino por vezes com as necessidades que convêm àquela classe.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

1019. Poderá jamais implantar-se na Terra o reinado do bem?


“O bem reinará na Terra quando, entre os Espíritos que a vêm habitar, os bons predominarem, porque, então, farão que aí reinem o amor e a justiça, fonte do bem e da felicidade. Por meio do progresso moral e praticando as leis de Deus é que o homem atrairá para a Terra os bons Espíritos e dela afastará os maus. Estes, porém, não a deixarão, senão quando daí estejam banidos o orgulho e o egoísmo.

“Predita foi a transformação da Humanidade e vos avizinhais do momento em que se dará, momento cuja chegada apressam todos os homens que auxiliam o progresso. Essa transformação se verificará por meio da encarnação de Espíritos melhores, que constituirão na Terra uma geração nova. Então, os Espíritos dos maus, que a morte vai ceifando dia a dia, e todos os que tentem deter a marcha das coisas serão daí excluídos, pois que viriam a estar deslocados entre os homens de bem, cuja felicidade perturbariam. Irão para mundos novos, menos adiantados, desempenhar missões penosas, trabalhando pelo seu próprio adiantamento, ao mesmo tempo que trabalharão pelo de seus irmãos mais atrasados. Neste banimento de Espíritos da Terra transformada, não percebeis a sublime alegoria do Paraíso perdido e, na vinda do homem para a Terra em semelhantes condições,
trazendo em si o gérmen de suas paixões e os vestígios da sua inferioridade primitiva, não descobris a não menos sublime alegoria do pecado original? Considerado deste ponto de vista, o pecado original se prende à natureza ainda imperfeita do homem que, assim, só é responsável por si mesmo, pelas suas próprias faltas e não pelas de seus pais.

“Todos vós, homens de fé e de boa-vontade, trabalhai, portanto, com ânimo e zelo na grande obra da regeneração, que colhereis pelo cêntuplo o grão que houverdes semeado. Ai dos que fecham os olhos à luz! Preparam para si mesmos longos séculos de trevas e decepções. Ai dos que fazem dos bens deste mundo a fonte de todas as suas alegrias! Terão que sofrer privações muito mais numerosas do que os gozos de que desfrutaram! Ai, sobretudo, dos egoístas! Não acharão quem os ajude a carregar o fardo de suas misérias.” SÃO LUÍS.

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859. Com todos os acidentes, que nos sobrevêm no curso da vida, se dá o mesmo que com a morte, que não pode ser evitada, quando tem que ocorrer?

“São de ordinário coisas muito insignificantes, de modo que vos podeis prevenir deles e fazer que os eviteis algumas vezes, dirigindo o vosso pensamento, pois nos desagradam os sofrimentos materiais. Isso, porém, nenhuma importância tem na vida que escolhestes. A fatalidade, verdadeiramente, só existe quanto ao momento em que deveis aparecer e desaparecer deste mundo.”


a) - Haverá fatos que forçosamente devam dar-se e que os Espíritos não possam conjurar, embora o queiram?


“Há, mas que tu viste e pressentiste quando, no estado de Espírito, fizeste a tua escolha. Não creias, entretanto, que tudo o que sucede esteja escrito, como costumam dizer. Um acontecimento qualquer pode ser a conseqüência de um ato que praticaste por tua livre vontade, de tal maneira que, se não o houvesses praticado, o acontecimento não seria dado. Imagina que queimas o dedo. Isso nada mais é senão resultado da tua imprudência e efeito da matéria. Só as grandes dores, os fatos importantes e capazes de influir no moral, Deus os prevê, porque são úteis à tua depuração e à tua instrução.”


861. Ao escolher a sua existência, o Espírito daquele que comete um assassínio sabia que viria a ser assassino?


“Não. Escolhendo uma vida de lutas, sabe que terá ensejo de matar um de seus semelhantes, mas não sabe se o fará, visto que ao crime precederá quase sempre, de sua parte, a deliberação de praticá-lo. Ora, aquele que delibera sobre uma coisa é sempre livre de fazê-la, ou não. Se soubesse previamente que, como homem, teria que cometer um crime, o Espírito estaria a isso predestinado. Ficai, porém, sabendo que a ninguém há predestinado ao crime e que todo crime, como qualquer outro ato, resulta sempre da vontade e do livre-arbítrio.

“Demais, sempre confundis duas coisas muito distintas: os sucessos materiais e os atos da vida moral. A fatalidade, que por algumas vezes há, só existe com relação àqueles sucessos materiais, cuja causa reside fora de vós e que independem da vossa vontade. Quanto aos da vida moral esses emanam sempre do próprio homem que, por conseguinte, tem sempre a liberdade de escolher. No tocante, pois, a esses atos, nunca há fatalidade.”
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CONSCIÊNCIA E MEDIUNIDADE

No complexo mecanismo da consciência humana, a paranormalidade desabrocha, alargando os horizontes da percepção em torno das realidades profundas do ser e da vida.

Explodindo com relativa violência em determinados indivíduos, graças a cuja manifestação surgem perturbações de vária ordem, noutros aparece sutilmente, favorecendo a penetração em mais amplas faixas vibratórias, aquelas de onde se procede antes do corpo e para cujo círculo se retorna depois do desgaste carnal.

Irradiando-se como apercebimento da própria alma em torno do mundo que a rodeia, capta e transmite impressões que propõem mais equilíbrio aos quadros da vida.

Além das manifestações peculiares aos seus atributos, enseja o intercâmbio mediúnico sem qualquer receio e ouvirás palavras alentadoras, verás pessoas queridas acercando-se de ti.

Não és uma realidade estática, terminada.

No processo da tua evolução, a mediunidade é campo novo de ação a joeirar, aguardando o arado da tua atenção.

Sem constituir-se um privilégio, é conquista que se te apresenta fascinante, para que mais cresças e melhor desempenhes as tuas tarefas no mundo.

Por ela terás acesso a paisagens felizes, a intercâmbios plenificadores, a momentos de reflexão profunda. Talvez, em algumas ocasiões, te conduza aos sítios do sofrimento e às pessoas angustiadas que também fazem parte do contexto da evolução.

Sintonizarás com a dor, no entanto, para que despertem os teus valores socorristas e ajudes, compreendendo melhor as leis de causa e efeito, que regem no universo.

Nos outros, os momentos de elevação, adquirirás sabedoria e iluminação para o crescimento eterno, conduzindo contigo aqueles que ainda não lograram caminhar sem apoio.

A mediunidade, para ser dignificada, necessita das luzes da consciência enobrecida.

Quanto maior o discernimento da consciência, tanto mass amplas serão as possibilidades do intercâmbio mediúnico.

Antes de estudar a mediunidade mais profundamente, Allan Kardec perguntou aos Mensageiros da Luz, conforme se lê no item 408, de O Livro do Espíritos:

-E qual a razão de ouvirmos, algumas vezes em nós mesmos, palavras pronunciadas distintamente, e que nenhum nexo têm com o que nos preocupa?

Os Veneráveis elucidaram-no:

-É fato: ouvis até mesmo frases inteiras, principalmente quando os sentidos começam a entorpecer-se. É, quase sempre, fraco eco do que diz um espírito que convosco se quer comunicar.

Conscientizando-te desta rica responsabilidade mediúnica ao teu alcance, faze silêncio interior, estuda a tua faculdade e, meditando, entra em sintonia com o teu guia espiritual a fim de que ele te conduza com segurança, iluminando e fortalecendo a tua consciência.


Autor: Joanna de Ângelis (espírito)
Psicografia de Divaldo franco. Livro: Momentos de Meditação


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O Espiritismo
www.oespiritismo.com.br

terça-feira, 2 de abril de 2013

Texto em homenagem ao Livro dos Espíritos por Herculano Pires nos 100 anos comemorados em 1957.

Centro Espírita Casas André Luiz Fundação Espírita André Luiz Rádio Boa Nova Editora Mundo Maior TV Mundo Maior

Portal do Espírito

A sua referência sobre Doutrina Espírita na Internet

100 anos de "O Livro dos Espíritos"

José Herculano Pires
Texto em homenagem aos 100 anos comemorado à 18 de abril de 1957
Autorização para disponibilização na Internet gentilmente cedida por Heloísa Pires
Texto transcrito a partir de "O Livro dos Espíritos", edição Centro Espírita Perdão e Caridade (Lisboa - Portugal)

Índice

Introdução ao Livro dos Espíritos

Com este livro, a 18 e abril de 1857, raiou para o mundo a era espírita. Nele se cumpria a promessa evangélica do Consolador, do Paracleto ou Espírito da Verdade. Dizer isso equivale a afirmar que «O Livro dos Espíritos» é o código de uma nova fase da evolução humana. E é exatamente essa a sua posição na história do pensamento. Este não é um livro comum, que se pode ler de um dia para o outro e depois esquecer num canto da estante. Nosso dever é estudá-lo e meditá-lo, lendo-o e relendo-o constantemente.
Sobre este livro se ergue todo um edifício: o da doutrina espírita. Ele é a pedra fundamental do Espiritismo, o seu marco inicial. O Espiritismo surgiu com ele e com ele se propagou., com ele se impôs e consolidou no mundo. Antes deste livro não havia Espiritismo, e nem mesmo esta palavra existia. Falava-se em Espiritualismo e Neo-Espiritualismo, de maneira geral, vaga e nebulosa. Os fatos espíritas, que sempre existiram, eram interpretados das mais diversas maneiras. Mas, depois que Kardec o lançou à publicidade, «contendo os princípios da doutrina espírita», uma nova luz brilhou nos horizonte mentais do mundo.
Há uma seqüência histórica que não podemos esquecer, ao tomar este livro nas mãos. Quando o mundo se preparava para sair do caos das civilizações primitivas, apareceu Moisés, como o condutor de um povo destinado a traças as linhas de um novo mundo: e de suas mãos surgiu a Bíblia. Não foi Moisés quem a escreveu, mas foi ele o motivo central dessa primeira codificação do novo ciclo de revelações: o cristão. Mais tarde, quando a influência bíblica já havia modelado um povo, e quando este povo já se dispersava por todo o mundo gentio, espalhando a nova lei, apareceu Jesus: e das suas palavras, recolhidas pelos discípulos, surgiu o Evangelho.
A Bíblia é a codificação da primeira revelação cristã, o código hebraico em que se fundiram os princípios sagrados e as grandes lendas religiosas dos povos antigos. A grande síntese dos esforços da antiguidade em direção ao espírito. Não é de admirar que se apresente muitas vezes assustadora e contraditória, para o homem moderno. O Evangelho é a codificação da segunda revelação cristã, a que brilha no centro da tríada dessas revelações, tendo na figura do Cristo o sol que ilumina as duas outras, que lança a sua luz sobre o passado e o futuro, estabelecendo entre ambos a conexão necessária. Mas assim como, na Bíblia, já se anunciava o Evangelho, também neste aparecia a predição de um novo código, o do Espírito da Verdade, como se vê em João, XIV. E o novo código surgiu pelas mãos de Allan Kardec, sob a orientação do Espírito da Verdade, no momento exato em que o mundo se preparava para entrar numa fase superior de desenvolvimento.
Hegel, em suas lições de estética, mostra-nos as criações monstruosas da arte oriental, - figuras gigantescas, de duas cabeças e muitos braços e pernas, e outras formas diversas, - como a primeira tentativa do Belo para dominar a matéria e conseguir exprimir-se através dela. A matéria grosseira resiste à força do ideal, desfigurando-o nas suas representações. Mas acaba sendo dominada, e então aparecem no mundo as formas equilibradas e harmoniosas da arte clássica. Atingido, porém, o máximo de equilíbrio possível, o Belo mesmo rompe esse equilíbrio, nas formas românticas e modernas da arte, procurando superar o seu instrumento material, para melhor e mais livremente se exprimir. Essa grandiosa teoria hegeliana nos parece perfeitamente aplicável ao processo das revelações cristãs: das formas incongruentes e aterradoras da Bíblia, passamos ao equilíbrio clássico do Evangelho, e deste à libertação espiritual de «O Livro dos Espíritos».
Cada fase da evolução humana se encerra com uma síntese conceptual de todas as suas realizações. A Bíblia é a síntese da antiguidade, como o Evangelho é a síntese do mundo greco-romano-judaico,, e «O Livro dos Espíritos» a do mundo moderno. Mas cada síntese não traz em si tão somente os resultados da evolução realizada, porque encerra também os germens do futuro. E na síntese evangélica temos de considerar, sobretudo, a presença do Messias, como uma intervenção direta do Alto para a reorientação do pensamento terreno. É graças a essa intervenção que os princípios evangélicos passam diretamente, sem necessidade de readaptações ou modificações, em sua pureza primitiva, para as páginas deste livro, como as vigas mestras da edificação da nova era.

A Codificação Espírita

«O Livro dos Espíritos» não é, porém, apenas, a pedra fundamental ou o marco inicial da nova codificação. Porque é o seu próprio delineamento, o seu núcleo central e ao mesmo tempo o arcabouço geral da doutrina. Examinando-o, em relação às demais obras de Kardec, que completam a codificação, verificamos que todas essas obras partem do seu conteúdo. Podemos definir as várias zonas do texto correspondentes a cada uma delas.
Assim como, na Bíblia, há o núcleo central do Pentateuco, e no Evangelho o do ensino moral do Cristo, no «Livro dos Espíritos» podemos encontrar uma parte que se refere a ele mesmo, ao seu próprio conteúdo: é o constante dos Livros I e II, até o capítulo quinto. Este núcleo representa, dentro da esquematização geral da codificação, que encontramos no livro, a parte que a ele corresponde. Quanto aos demais, verificamos o seguinte:
1º) «O Livro dos Médiuns», seqüência natural deste livro, que trata especialmente da parte experimental da doutrina, tem a sua fonte no Livro II, a partir do capítulo sexto até o final. Toda a matéria contida nessa parte é reorganizada e ampliada naquele livro, principalmente a referente ao capítulo nono: «Intervenção dos Espíritos no mundo corpóreo».
2º) «O Evangelho segundo o Espiritismo» é uma decorrência natural do Livro III, em que são estudadas as leis morais, tratando-se especialmente da aplicação dos princípios da moral evangélica, bem como dos problemas religiosos da adoração, da prece e da prática da caridade. Nessa parte, o leitor encontrará, inclusive, as primeiras formas de «Instruções dos Espíritos», comuns aquele livro, com a transcrição de comunicações por extenso e assinadas, sobre questões evangélicas.
3º) «O Céu e o Inferno» decorre do Livro IV, «Esperanças e Consolações», em que são estudadas os problemas referentes às penas e aos gozos terrenos e futuros, inclusive com a discussão do dogma das penas eternas e a análise de outros dogmas, como o da ressurreição da carne, e os dos paraíso, inferno e purgatório.
4º) «A Gênese, os milagres e as predições», relaciona-se aos capítulos II, III e IV do Livro I, e capítulo IX, X e XI do Livro II, assim como as partes dos capítulos do Livro III que tratam dos problemas genésicos e da evolução física da terra. Por seu sentido amplo, que abrange ao mesmo tempo as questões da formação e do desenvolvimento do globo terreno, e as referentes a passagens evangélicas e escriturísticas, esse livro da codificação se ramifica de maneira mais difusa que os outros, na estrutura da obra-mater.
5º) Os pequenos livros introdutórios ao estudo da doutrina, «O Principiante Espírita» e «O que é o Espiritismo», que não se incluem propriamente na codificação, também eles estão diretamente relacionados com «O Livro dos Espíritos», decorrendo da «Introdução» e dos «Prolegomenos».

A Filosofia Espírita

Esta rápida apreciação da estrutura de «O Livro dos Espíritos», em suas ligações com as demais obras da codificação, parece-os suficiente para mostrar que ele constitui, como dissemos, no início, o arcabouço filosófico do Espiritismo. Contém, segundo Kardec declarou no frontispício, «Os princípios da doutrina espírita». É, portanto, o seu tratado filosófico. Embora não tenha sido elaborado em linguagem técnica, e não observe os rigores da minúcias exposição filosófica, é todo um complexo e amplo sistema de filosofia que nele se expõe.
Ao apreciá-lo, sob esse aspecto, devemos considerar que Kardec não era um filósofo, mas um educador, um especialista em pedagogia, discípulo emérito de Pestalozzi. Daí o aspecto antes didático do que propriamente de exposição filosófica que imprimiu ao livro.
Em segundo lugar, a obra não foi propriamente escrita por ele, mas elaborada com as respostas dadas pelos Espíritos às suas perguntas, nas sessões mediúnicas, com as meninas Boudin e Japhet, e mais tarde com outros médiuns.
Em terceiro lugar, o livro não se destinava a forma escola filosófica, a conquistar os meios especializados, mas apenas a divulgar os princípios da doutrina de maneira ampla, convocando os homens em geral para o estudo de uma realidade superior a todas as elucubrações do intelecto.
Em quarto lugar, o próprio Kardec teve o cuidado de advertir, nos «Prolegomenos» , que evitava os prejuízos do espírito de sistema, como vemos neste trecho, em que se refere ao ensino dos Espíritos: «Ce livre est le recueil de leurs enseignements; il a été écrit par l'ordre et sous la dictée d'Esprits supérieurs pour établir les fondements d'une philosophie rationelle, dégagée des préjugés de l'esprit de systhème.»
Como se vê, «estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, livre dos prejuízos do espírito de sistema», e não criar uma nova escola filosófica, o que implicaria toda uma rígida sistematização. Esse propósito vem ao encontro do pensamento dos filósofos modernos, como vemos, por exemplo, em Ernest Cassirer, que em sua «Antropologia Filosófica», referindo-se à inconveniência dos sistemas, diz: «Cada teoria se converte num leito de Procusto, em que os fatos empíricos são obrigados a se acomodar a um padrão preconcebido». Max Scheller, por sua vez, comenta: «Dispomos de uma antropologia científica, outra filosófica e outra teológica, que se ignoram entre si». Kardec esquivou-se precisamente a isso, tanto mais que o espírito de sistema seria a própria negação dos objetivos da doutrina.
Quanto ao problema da linguagem técnica, não devemos nos esquecer de que o livro se destinava ao grande público, e não apenas aos especialistas. Podemos lembrar, a propósito, o exemplo de Descartes, que escreveu o seu «Discurso do Método» em francês, quando o latim era a língua oficial da filosofia, porque desejava dar-lhe maior divulgação. Mesmo que Kardec fosse um filósofo especializado, a linguagem técnica não serviria aos seus propósitos nesta obra.
Quanto ao método didático, não seria este o primeiro livro de filosofia a dele se socorrer. Podemos lembrar, por exemplo, «A Ética», de Espinosa. Kardec inicia este livro com a definição de Deus, como Espinosa naquele, e se não segue a forma geométrica de exposição, por meio de definições, axiomas, proposições e escólios, segue entretanto a forma lógica, através de perguntas e respostas, intercaladas de comentários e explicações. Há, aliás, curiosas similaridade de estrutura, de posição, de ligações histórica e de princípios, entre esses dois livros, reclamando estudo mais aprofundado. Como as há entre o que se pode chamar a revolução cartesiana e o Espiritismo, a começar pelos famosos sonhos de Descartes e a sua convicção de haver sido inspirado pelo Espírito da Verdade.
Yvonne Castellan, num breve, falho, às vezes gritantemente injusto, mas em parte simpático estudo da doutrina referindo-se ao «Livro dos Espíritos», mostra que: «O sistema é completo, e compreende uma metafísica, inteiramente repleta de considerações físicas ou genéticas, e uma moral.» Numa análise mais séria, a autora teria visto que a estrutura é mais complexa do que supôs.
O livro começa pela metafísica, passando depois à cosmologia, à psicologia, aos problemas propriamente espíritas da origem e natureza do espírito e suas ligações com o corpo, bem como aos da vida após a morte, para chegar, com as leis morais, à sociologia e à ética, e concluir, no Livro IV, com as considerações de ordem teológica sobre as penas e gozos futuros e a intervenção de Deus na vida humana. Todo um vasto sistema, sem as exigências opressoras ou os prejuízos do espírito de sistema, numa estrutura livre e dinâmica, em que os problemas são postos em debate.
Lembrando-nos dos primórdios do Cristianismo, podemos dizer que o Espiritismo tem sobre ele uma vantagem, no tocante ao problema filosófico. A simplicidade de «O Livro dos Espíritos» não chegar ao ponto de nos obrigar a adaptar sistema antigos aos nossos princípios, como aconteceu com Santo Agostinho e São Tomás, em relação a Platão e Aristóteles, para a criação da chamada filosofia cristã. O Espiritismo já tem o seu próprio sistema, na forma ideal que o futuro consagrará, e cujas vantagens vimos acima.
Por outro lado, é curioso notar que «O Livro dos Espíritos» se enquadra numa das formas clássicas e mais fecundamente livres da tradição filosófica: o diálogo. Por tudo isso, vê-se que Kardec, sem ser o que se pode chamar um filósofo profissional, tinha muita razão ao afirma, no capítulo VI da «Conclusão», referindo-se ao Espiritismo «Sa force est dans sa philosphie, dans l'appel qu'il fait à la raison, au bon-sens»

A Dialética Espírita

Hegel definiu a estrutura e a função do diálogo, identificando as suas leis com as do próprio ser: tese, antítese e síntese. Mais tarde, Marx e Engels deslocaram o diálogo dessas concepção ontológica, para lhe dar um sentido materialista e revolucionário. Coube a Hamilin, entretanto, defini-lo em seu aspecto mais fecundo, como um processo de fusão necessária da tese e da antítese, na produção de uma nova idéia ou nova tese.
Este, a nosso ver, é o processo dialético do Espiritismo, que em vez de dar ênfase à contradição em si, à luta dos opostos, prefere dá-la à harmonia, à fusão dos contrários, para uma nova criação. E é nesse sentido que se desenvolve o diálogo no «Livro dos Espíritos».
Nunca houve, aliás, um diálogo como este. Jamais um homem se debruçou, com toda a segurança do homem moderno, nas bordas do abismo do incognoscível, para interrogá-lo, ouvir as suas vozes misteriosas, contradizê-lo, discutir com ele, e afinal arrancar-lhe os mais íntimos segredos. E nunca, também, o abismo se mostrou tão dócil, e até mesmo desejoso de se revelar ao homem em todos os seus aspectos.
Sócrates ouvia as vozes do seu «daimon» e discutia com o Oráculo de Delfos. Mas Kardec não se limitou a isso: foi mais longe, dialogando com todo o mundo invisível, analisando rigorosamente as suas vozes, ouvindo inferiores e superiores, para descobrir as leis desse mundo, as formas de vida nele existentes, o mecanismo das suas relações com o nosso.
O método dialético é o processo natural do desenvolvimento, tanto do pensamento como de todas as coisas. Emmanuel, certa vez, comparou o Velho Testamento a um apelo dos homens a Deus, e o Novo Testamento, à resposta de Deus. Aceitando essa imagem, podemos dizer que «O Livro dos Espíritos» é a síntese desse diálogo, é o momento em que segundo a definição de Hamelin, o apelo e a resposta se fundem na compreensão espiritual, abrindo caminho a uma nova fase da vida terrena.

A Legitimidade do Livro

Ao publicar «A Gênese», em 1868, Kardec pôde acentuar que «O Livro dos Espíritos», lançado dez anos antes, continuava tão sólido como então. Nenhum dos seus princípios fundamentais havia sido abalado pela experiência, todos permaneciam em pé. Hoje, cem anos depois, se ainda vivesse entre nós, o codificador poderia dizer o mesmo.
E isso num século em que o mundo se transformou de maneira vertiginosa, em que a chamada ciência positiva foi revirada de ponta a ponta, em que as concepções filosóficas sofreram tremendos impactos. Há conceitos que, à primeira vista, parecem desmentidos, ou pelo menos postos em dúvida pela ciência. É o caso do fluido universal, mas somente quando o confundimos com o conceito científico do éter espacial.
Na verdade, o desenvolvimento da ciência se processa exactamente na direcção dos princípios espíritas. A desintegração da matéria pela física nuclear, a concepção da matéria como concentração de energia, a percepção cada vez mais clara de uma estrutura matemática do universo, a conclusão a que alguns cientistas são forçados a chegar, de que, por trás da energia parece haver outra coisa, que seria o pensamento, tudo isso nos mostra que Kardec tinha razão ao proclamar que nem Deus, nem a religião verdadeira, nem portanto o Espiritismo tinham nada a perder com o avanço da ciência. Pelo contrário, só tem a ganhar, como os fatos demonstram, dia a dia.
Essa segurança dos princípios espíritas decorre da legitimidade da fonte espiritual deste livro, da pureza dos seus meios de transmissão mediúnica, da precisão do método kardeciano.
A fonte, como se vê pela revelação espontânea e inesperada do Espírito da Verdade a Kardec, segundo as anotações autobiográficas de «Obras Póstumas», e pela confirmação posterior de tantos outros Espíritos, ou como se pode constatar, lógica e historicamente, pelo processo de restabelecimento do Cristianismo, que o Espiritismo realiza, é a mesma de que precedeu aquele. Não é Kardec, nem este ou aquele Espírito em particular, nem um grupo de homens, mas toda a falange do Espírito da Verdade, enviada à terra em cumprimento da promessa de Jesus a fonte espiritual de «O Livro dos Espíritos».
Quanto aos meios mediúnicos de transmissão, correspondiam à pureza da fonte. As médiuns que serviram a esse trabalho foram duas meninas, Caroline e Julie Boudin, de 16 e 14 anos respectivamente, a que mais tarde se juntaria outra menina, a Srta. Japhet, no processo de revisão do livro. As reuniões se realizavam na casa da família Boudin, na intimidade do lar, entre pessoas amigas, e as respostas dos Espíritos eram transmitidas por meio da cesta de bico, a que se adaptava um lápis. As meninas punham as mãos sobre a cesta e esta se movimentava, escrevendo as mensagens, com absoluta impossibilidade de ação dos médiuns na escrita. Mais tarde, seguindo instruções dos próprios Espíritos, Kardec submete o livro ao controle de outros médiuns, mas todos escolhidos criteriosamente. Além disso, as respostas dos Espíritos eram confrontadas com as comunicações obtidas em outros grupos, em obediência ao princípio da universalidade das revelações, que veremos a seguir.
O método de Kardec transformou-se no método da própria doutrina, e tem, na sua própria simplicidade, a garantia da sua eficiência. Podemos resumi-lo assim:
1.º) Escolha de colaboradores mediúnicos insuspeitos, tanto do ponto de vista moral, quando da pureza das faculdades e da assistência espiritual;
2.º) Análise rigorosa das comunicações, do ponto de vista lógico, bem como do seu confronto com as verdades científicas demonstradas, pondo-se de lado tudo aquilo que não possa ser logicamente justificado;
3.º) Controle dos Espíritos comunicantes, através da coerência de suas comunicações e do teor de sua linguagem;
4.º) Consenso universal, ou seja, concordância de várias comunicações, dadas por médiuns diferentes, ao mesmo tempo e em vários lugares, sobre o mesmo assunto.
Armado desses princípios, escudado rigorosamente nesse critério, Kardec pôde realizar a difícil tarefa de reunir a série de informações que lhe permitiram organizar o livro. Interessante lembrar que esse mesmo critério, em parte, havia sido ensinado por João, em sua primeira epístola (IV:1) bem como pelo apóstolo Paulo, em sua primeira epístola aos coríntios. As raízes do método kardeciano estão no Novo Testamento.
Não se pode confundir, porém, o método doutrinário com os métodos de investigação científica dos fenômenos espíritas. No trato mediúnico, a premissa da existência do Espírito e da possibilidade da comunicação já está firmada. O que importa é o controle da legitimidade da comunicação. Na pesquisa científica, tudo ainda está para ser descoberto e provado. As investigações científicas podem variar infinitamente de processos e métodos, de acordo com os investigadores. As sessões mediúnicas não podem fugir ao método kardeciano, que se comprovou na prática, há um século, o único realmente eficiente, e que procede, como vimos, das reuniões mediúnicas da era apostólica.
Problemas secundários, como o da assinatura de certas comunicações por nomes céleres, são explicados por Kardec na «Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita», publicando apenas a mensagem, como fez com a maioria das respostas deste livro. Essas assinatura, segundo dizem, afastam da obra muitos leitores, que a consideram mistificação grosseira.
A explicação está na sinceridade de Kardec e na sua fidelidade ao Espíritos que lhe revelaram a doutrina. Ocultar-lhes os nomes seria deixar uma possibilidade de lhe atribuírem a obra, e ele sempre fez questão de precisar que não passava de um colaborador dos autores espirituais. Além disso, suas explicações a respeito são absolutamente claras, para todos os que estão aptos a compreender o fenômeno espírita em sua plenitude

O Problema Científico

Kardec examina o problema científico do Espiritismo nos capítulos VII e VII da «Introdução ao estudo da doutrina espírita». Vejamos um trecho bastante esclarecedor, cuja tradução o leitor encontrará no lugar próprio desta edição: «La science propement dite, comme science, est donc incompétente pour se prononcer dans la question du spiritisme: elle n'a pas à s'en occuper, et son jugement, quel qu'il soit, favorable ou non, ne saurait être d'aucun poids.»
Não obstante, Kardec insiste no caráter científico da doutrina. Caráter próprio, como ele explica nos capítulos citados, pois se trata de uma ciência que deve ter os seus próprios métodos, uma vez que o seu objeto não é a matéria, mas o espírito.
Por que essa insistência no caráter científico? Porque «O Livro dos Espíritos» vem abrir uma nova era no estudo dos problemas espirituais. Até a sua publicação, esses problemas eram tratados de maneira empírica ou apenas imaginosa. As religiões, como seus intrincados sistemas teológicos, ou as ordens ocultas, as corporações místicas e teosóficas, deslocavam os problemas do espírito para o terreno do mistério. O conhecimento humano se dividia, para nos servirmos das expressões de Santo Agostinho, na «iluminação divina» e na «experiência».
O Espiritismo veio modificar essa ordem de coisas, mostrando a possibilidade de encararmos os problemas espirituais através da experiência agostiniana, ou seja, através da mesma razão que aplicamos aos problemas materiais. Nesse sentido, «O Livro dos Espíritos» se apresenta como um divisor de águas. Tudo aquilo que, antes dele, constitui o espiritualismo, pode ser chamado «espiritualismo utópico», e tudo o que vem com ele e depois dele, seguindo a sua linha doutrinária, «espiritualismo científico», como fazem os marxistas com o socialismo de antes e depois de Marx.
Esta a posição especial de «O Livro dos Espíritos», no plano da cultura espiritual. Com ele, o espírito e os seus problemas saíram do terreno da abstração, para se tornarem acessíveis à investigação racional, e até mesmo à pesquisa experimental. O sobrenatural tornou-se natural. Tudo se reduziu a um questão de conhecimento das leis que regem o universo.
A tese espinosiana da impossibilidade do milagre, como violação da ordem natural, veio comprovar-se nas suas demonstrações. E as leis dessa ordem, como vemos no capítulo primeiro do Livro III, são todas naturais, quer digam respeito às relações materiais, quer às espirituais e morais. Não existe o sobrenatural, senão para a ignorância humana das leis naturais, uma vez que o universo é um sistema único, e todas as suas partes se entrosam na grande estrutura.

O Problema Religioso

A natureza religiosa do «Livro dos Espíritos», ressalta desde as suas primeiras páginas. Como já vimos, Kardec o inicia pela definição de Deus Mas o Deus espírita não é antropomórfico, não é um ser constituído à imagem e semelhança do homem, como o das religiões. A definição espírita é incisiva: «Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.»
Assim como, para Espinosa, Deus é a substância infinita, para Kardec é a inteligência infinita. Mas assim como erraram os que confundiram a substância espinosiana com o Universo, assim também se enganam os que confundem a inteligência infinita com o homem finito, e a religião espírita com os formalismos religiosos.
Os atributos de Deus não se confundem com os precários atributos humanos: ele é eterno, imutável, imaterial, único, todo poderoso, soberanamente justo e bom. Deus não se confunde com o Universo, pois é o criador e o mantenedor do Universo. Entretanto, ao tratar da justiça de Deus, vemos Kardec empregar uma terminologia antropomórfica, falando em castigos e recompensas, o que tem dado motivo a afirmar-se que o Deus espírita é semelhante ao das religiões.
A explicação desse fato, que à primeira vista parece contraditória, está no item décimo do capítulo primeiro: «L'homme peut-il comprendre la nature intime de Dieu? Non, c'est un sens qui lui manque.» E logo a seguir vem a explicação de Kardec a respeito. Mais adiante, no item treze, encontramos a resposta de que os atributos de Deus, a que nos referimos acima, são apenas uma interpretação humana, aquilo que o homem pode conceber a respeito de Deus, nos eu estágio atual de evolução. Kardec, portanto, emprega a linguagem que podemos empregar, de maneira compreensiva, para tratar de Deus. Não humaniza a Deus, mas apenas o coloca ao alcance da compreensão humana.
Não obstante, a natureza de Deus, como inteligência infinita e causa primária, é sempre resguardada. Vemos isso em todo o primeiro capítulo e em muitas outras passagens do livro. No capítulo sobre o Panteísmo, qualquer confusão entre o Criador e a Criação foi afastada. O Deus espírita não é antropomórfico, mas também não é panteísta. Por outro lado, «O Livro dos Espíritos» veda imediatamente o caminho às especulações ilusórias e imaginosas sobre a natureza de Deus.
Uma vez que falta ao homem o meio de compreendê-lo, inútil será tentar a sua definição através de suposições ingênuas ou atrevidas. É o que vemos no item 14.º do primeiro capítulo, no estabelecimento de um princípio que define de maneira absoluta a posição do Espiritismo em face do problema, separando-o decisivamente de todas as escolas de teologia especulativa ou de ocultismo de qualquer espécie. Vejamos esse trecho fundamental no original francês, podendo o leitor encontrar a sua tradução no lugar próprio deste volume:
«Dieu existe, vous v'en pouvez douter, c'est l'essentielç; croyez-moi, n'allez pas au delà; ne vous égarez pas dans un labyrinthe d'ou vous ne pourriez sortir; cela ne vous rendrait pas meilleurs, mas peut-être un peu plus orgueilleux, parce que vous croiriez savoir, et qu?en réalité vous ne sauriez rien, Laissez donc de côté tous ces systèmes; vous avez assez de choses que vous touchent plus directement, à commencer par vouas memes; étudiez vos propes imperfections afin de vous en débarrasser, cela vous sera plus utile que de vouloir pénétrer ce qui est impénetrable.»
Deus, como inteligência infinita ou suprema, é o que é. Não comporta especulações ociosas, definições imaginosas. O homem deve conter-se nos limites de si mesmo, cuidar das suas imperfeições, melhorar-se. Basta-lhe saber que Deus existe, e que é justo e bom. Disso ele não pode duvidar, porque «pela obra se reconhece o obreiro», a própria natureza atesta a existência de Deus, sua própria consciência lhe diz que ele existe, e a lei geral da evolução comprova a sua justiça e a sua bondade. Descartes dizia que Deus está na consciência do homem como a marca do obreiro na sua obra. Os Espíritos confirmam esse princípio, mas vão além, mostrando que a marca do obreiro está em todas as coisas, na natureza inteira. A negação de Deus é, para o Espiritismo, como a negação do sol. O ateu, o descrente, não é um condenado, um pecador irremissível, maus um cego, cujos olhos podem ser abertos, e realmente o serão. Porque Deus é necessariamente existente, segundo o princípio cartesiano. Nada se pode entender sem Deus. Ele é o centro e a razão de ser de tudo quanto existe. Tirar Deus do Universo é como tirar o sol do nosso sistema. Simples absurdo.
Mas, pelo fato de não ter a forma humana, de não se assemelhar ao homem, no tocante à constituição física deste, não se segue que Deus esteja distante do homem e indiferente a ele. O Deus espírita se assemelha ao aristotélico, pelo seu poder de atração, mas se afasta dele, quanto à indiferença em relação ao cosmos. Porque Deus é providência, Deus é amor, é o criador e o pai de tudo e de todos.
O Universo se define por uma tríade, semelhante às tríades druídicas: Deus, espírito e matéria. Vemos isso no item 27, quando Kardec pergunta se existem dois elementos gerais, o espírito e a matéria, e os Espíritos respondem: «Oui, e par dessus tout cela Dieu, le créatur, le père de toutes choses; ces trois choses sont le principe de tout ce qui existe, la trinité universelle.» A matéria, porém, não é só o elemento palpável, pois há nela o fluido universal, o seu lado fluidico, que desempenha o papel de intermediário entre o plano espiritual e o propriamente material.
Diante dessa concepção, surge um problema de ordem teológica e escriturística. Se Deus não se assemelha ao homem, como entender-se a passagem bíblica segundo a qual ele criou o homem à sua imagem e semelhança? A explicação vem no item 88, quando Kardec pergunta pela forma do Espírito, não daquele que ainda está revestido do corpo espiritual ou perispírito, mas do Espírito puro.
Vejamos a pergunta e a resposta no original, cuja tradução o leitor pode encontrar no lugar próprio do livro: «Les Espirits ont-ils une forme déterminée, limitée et constante? A vos yeux, non: aux nôtres, oui; c'est, si vous le voulez, une flame, une lueur, ou une étincelle éthérée.» Como se vê, o homem, na sua essência, naquilo unicamente em que ele pode assemelhar-se a Deus: não é um animal de carne e osso, nem mesmo uma forma humana em corpo espiritual, mas uma centelha etérea. Foi assim que Deus o fez à sua imagem e semelhança.
Colocado o problema fundamental de Deus e da criação, «O Livro dos Espíritos» entra pelo controvertido terreno da destinação humana. Sua concepção deísta do Universo é necessariamente teológica. Tudo avança para Deus, do átomo ao arcanjo, como vimos no item 540, e á frente dessa marcha, no plano terreno, encontra-se o homem. Vemo-lo numa escala evolutiva, na terra como no espaço: do imbecil ao sábio, do criminoso ao santo.
A «escala espírita», que começa no item 100, nos oferece uma visão esquemática dessa escada de Jacó, que vai da terra ao céu. O estudo da «progressão dos espíritos», que começa no item 114, nos mostra a necessidade do esforço próprio para que o Espírito se realize a si mesmo, revelando-nos ao mesmo tempo o papel da Providência, sempre amorosamente voltada para as criaturas. No estudo sobre «anjos e demônios», que se inicia no item 128, defrontamo-nos com um debate teórico sobre passagens evangélicas. O problema da justiça de Deus é equacionado à luz dos ensaios de Cristo, no seu verdadeiro sentido.
A seguir, «O Livro dos Espíritos» trata da encarnação dos Espíritos e da finalidade da vida terrena. Combate o materialismo, mostrando a sua inconsistência. Não são os estudos que levam o homem a ele, não é o desenvolvimento do conhecimento que o torna materialista, mas apenas a sua vaidade. É o que vemos no item 148: «Il n'est pas vrai que le matérialisme soit une conséquence de ces études; c'est l'homme que en tire une fausse conséquence, car il peut abuser de tout, même des veilleurs choses».
Kardec corrobora a tese dos Espíritos: o materialismo é uma aberração da inteligência. É o que nos diz no início do seu comentário: «Par une aberration de l'inteligence, il y a des gens qui ne voient dans les êtres organiques que l'action de la matière et à rapportent tous nos actes».
E assim prossegue o livro, todo ele impulsionado pelo sopro do espírito, impregnado pelo sentimento religioso, e mais particularmente, pelo sentido cristão desse sentimento. Quando, no item 625, Kardec pergunta qual o tipo humano mais perfeito que Deus ofereceu ao homem, para lhe servir de guia e modelo, a resposta é incisiva: «Voyes Jésus». E Kardec comenta: «Jésus est pour l'homme le type de la perfection morale à laquele peut prètendre l'humanité sur la terre. Dieu nous l'offre comme le plus parfait modelo, et la doctrine qu'il a enseignée est la plus pure expression de sa loi, parce qu'il etat animé de l'esprit divin, et l'etre le plus pur qui ait paru sur la terre».
A religião espírita se traduz em espírito e verdade. O que interessa a Deus não é a precária exterioridade dos ritos e do culto convencional, quase sempre vazio: é o pensamento e o sentimento do homem. A adoração da divindade é uma lei natural, quanto a lei de gravidade. O homem gravita para Deus como a pedra gravita para a terra e esta para o sol. Mas as manifestações exteriores da adoração não são necessárias.
No item 653 vemos a clara resposta dos Espíritos a respeito: «La véritable adoration est dans le coeur. Dans toutes vos actions songez toujours qu'un maitre vous regarde». A vida contemplativa é condenada porque inútil, assim também a monacal, pois Deus não que o cultivo egoísta do sentimento religioso, mas a prática da caridade, a experiência viva e constante do amor, através das relações humanas.
«O Livro dos Espíritos» não deixa de lado o problema do culto religioso, que necessita manifestar a sua religiosidade: Essa manifestação se verifica nas formas naturais de adoração, uma das quais é a prece. Pela prece o homem pensa em Deus, aproxima-se dele, põe-se em comunicação com ele. É o que vemos a partir do item 658. Pela prece, o homem pode evoluir mais depressa, elevar-se mais rapidamente sobre si mesmo. Mas a prece também não pode ser apenas formal. Por ela, podemos fazer três coisas: louvar, pedir e agradecer a Deus, mas desde que o façamos como o coração, e não apenas com os lábios.
Temos assim a religião espírita, que mais tarde se definirá de maneira mais objectiva ou directa em «O Evangelho segundo o Espiritismo». Uma religião psíquica, como a chamou Conan Doyle, equivalente à «religião dinâmica» de Bergson. No capítulo V da «Conclusão», Kardec afirma: «Le spiritisme est fort parce qu'il s'appuis sur les bases mêmes de la religon: Dieu, l'âme, les peines et recompenses futures; parce que surtout il montre ces peines et ces recompenses comme des conséquences naturelles de la vie terrestre, et que rien, dans le tableau qu'il offre de l'avenir, ne peut être désavoué par la raison la plus exigente». Enfim: religião positiva, baseada nas leis naturais, destituída de aparatos misteriosos e da teologia imaginosa.
Para completar o quadro religioso de «O Livro dos Espíritos» temos ainda o capítulo XII do Livro III e todo o Livro IV. NO capítulo referido, Kardec trata do aperfeiçoamento moral do homem, encara os problemas referentes às virtudes e aos vícios, às paixões, ao egoísmo, define por fim o caráter do homem de bem e conclui com uma mensagem de Santo Agostinho sobre a maneira de nos conhecermos a nós mesmos. No Livro IV temos um capítulo sobre as penas e gozos terrenos, que é um código da vida moral na terra, verdadeiro catecismo da conduta espírita, e um capítulo sobre as penas e gozos futuros, sobre as conseqüência espirituais do nosso comportamento terreno.

Estudos Futuros

Este, em linhas gerais, o livro que a 18 de Abril deste ano completou cem anos, e cujo primeiro centenário foi celebrado em todo o mundo civilizado, pelos adeptos do Espiritismo. Sua estrutura, como se vê, o coloca entre os tratados filosóficos, e seu conteúdo se relaciona com todos os aspectos fundamentais do conhecimento. Sua simplicidade aparente é tão ilusória como a da superfície tranqüila de um grande rio.
Como no «Discurso do Método», de Descartes, a clareza do texto pode enganar o leitor desprevenido. As coisas mais profundas e complexas aparecem na linguagem mais direta e simples, e a compreensão geral do livro só pode ser alcançada por aquele que for capaz de apreender todos os nexos entre os diversos assuntos nele tratados.
Até hoje, cem anos depois de sua publicação, «O Livro dos Espíritos» vem sendo lido e meditado, no mundo inteiro, mas pouco se tem cuidado de analisá-lo em suas múltiplas implicações e em sua mais profunda significação. Acreditamos que o segundo século do Espiritismo, que se iniciou neste ano, será assinalado por uma atitude mais consciente dos próprios espíritas em face deste livro, e que estudos futuros virão revelar, cada vez de maneira mais clara, o seu verdadeiro papel na história do conhecimento.
Para concluir, lembremos que sir Oliver Lodge, o grande físico inglês, uma das mais altas expressões de cultura científica do nosso tempo, considerou o Espiritismo, no seu livro sobre «A imortalidade pessoal», como «uma nova revolução copérnica». E Léon Denis, o sucessor de Kardec, legítima expressão da cultura francesa, proclamou no Congresso Espírita Internacional de Paris, em 1925, e no seu livro «Le Genie Celtique et le Monde Invisible», de 1927, que o Espiritismo tende a reunir e a fundir, numa síntese grandiosa, todas as formas do pensamento e da ciência.

Fonte : Portal do Espírito

O Livro dos Espíritos - Farol a indicar caminhos

O Livro dos Espíritos - Farol a indicar caminhos

A. Merci Spada Borges
A história das civilizações se perpetua através dos livros, proporcionando o enriquecimento histórico e cultural dos povos. O livro, cada vez mais lido, torna-se instrumento atuante sobre a mente humana. Os livros tanto podem enriquecer, ampliar, libertar, quanto deturpar ou escravizar consciências. Portanto, é necessário valorizar aqueles que dignificam o homem.
Sob a luz abençoada do Consolador, O livro dos espíritos comemora 156 anos a iluminar consciências. Segundo publicação do próprio Codificador:
    Contém a doutrina completa, como a ditaram os próprios Espíritos, com toda a sua filosofia e todas as suas consequências morais. É a revelação do destino do homem, a iniciação no conhecimento da natureza dos Espíritos e nos mistérios da vida de além-túmulo. Quem o lê compreende que o Espiritismo objetiva um fim sério, que não constitui frívolo passatempo.

    Seu conteúdo se distribui em quatro partes; os temas, adredemente escolhidos, são desenvolvidos de forma muito original: perguntas e respostas. É uma disposição que facilita agradavelmente a leitura e o seu entendimento.

    A primeira edição dessa obra monumental foi revelada ao público a 18 de abril de 1857. Não foi por acaso que essa data ficou gravada nos anais do Espiritismo. Tão importante se tornou que, na atualidade, foi instituída como Dia Nacional do Espiritismo.

    O êxito do lançamento foi esplêndido. A primeira edição esgotou-se rapidamente. Em março de 1860, após revista, corrigida e ampliada, foi lançada a segunda edição, com seu conteúdo e formato definitivos. Completou-se, dessa forma, o primeiro livro da Codificação Espírita em toda sua amplitude filosófica e moral.

    O Espírito Baluze, em comunicação mediúnica e espontânea, faz referência a esse estandarte do Espiritismo:   
    E quando tantas esperanças não pedem senão para se espalhar,quando tantas outras regiões estão, como essa, numa prostração mortal, desejamos que, em todos os corações, em todos os recantos perdidos deste mundo, penetre O livro dos espíritos. Só a doutrina que ele encerra será capaz de mudar o espírito das populações [...].3 (Destaque nosso.)

    Em 1868, ao ser lançada A gênese,Allan Kardec ressalta em suas páginas:
O livro dos espíritos só teve consolidado o seu crédito, por ser a expressão de um pensamento coletivo, geral. Em abril de 1867,completou o seu primeiro período decenal. Nesse intervalo, os princípios fundamentais, cujas bases ele assentara, foram sucessivamente completados e desenvolvidos, por virtude da progressividade do ensino dos Espíritos.
Nenhum, porém, recebeu desmentido da experiência; todos,sem exceção, permaneceram de pé, mais vivazes do que nunca, enquanto que, de todas as ideias contraditórias que alguns tentaram opor-lhe, nenhuma prevaleceu[...].4 (Destaque nosso.)

    Tão importante se tornou O livro dos espíritos que os jornais da época se apressaram a publicar artigos favoráveis sobre essa obra monumental:
O livro dos espíritos, do Sr.Allan Kardec, é uma página nova do grande livro do infinito, e estamos persuadidos de que um marcador assinalará essa página. Ficaríamos desolados se pensassem que acabamos de fazer aqui um anúncio bibliográfico; se pudéssemos supor que assim fora, quebraríamos a nossa pena imediatamente. Não conhecemos absolutamente o autor, mas confessamos abertamente que ficaríamos felizes em conhecê-lo. Aquele que escreveu a introdução que inicia O livro dos espíritos deve ter a alma aberta a todos os sentimentos nobres.[...]
    A todos os deserdados da Terra,a todos os que caminham e caem, regando com suas lágrimas o pó da estrada, diremos:
Lede O livro dos espíritos; isso vos tornará mais fortes. Também aos felizes, aos que pelos caminhos só encontram os aplausos da multidão ou os sorrisos da fortuna, diremos: Estudai-o; ele vos tornará melhores.5 (Destaques nosso.)

    Chegara o momento em que o eminente trabalhador deveria retornar ao lar espiritual. Completara galhardamente a missão a que viera: a Codificação estava estruturada no Pentateuco Consolador. Tendo o grande missionário desencarnado, foi publicada a sua biografia, de que extraímos o seguinte excerto:
    Data do aparecimento de O livro dos espíritos a fundação do Espiritismo que, até então, só contara com elementos esparsos, sem coordenação, e cujo alcance nem toda gente pudera apreender. A partir daquele momento, a doutrina prendeu a atenção dos homens sérios e tomou rápido desenvolvimento. Em poucos anos, aquelas ideias conquistaram numerosos aderentes em todas as camadas sociais e em todos os países. Esse êxito sem precedentes decorreu sem dúvida da simpatia que tais ideias despertaram, mas também é devido, em grande parte, à clareza com que foram expostas e que é um dos característicos dos escritos de Allan Kardec.6 (Destaque nosso.)

    O Sr. Camille Flammarion fez um discurso emocionante junto ao túmulo de Kardec:
[...] Quando, pelo ano de 1850,as manifestações, novas na aparência, das mesas girantes,das pancadas sem causa ostensiva,dos movimentos insólitos de objetos e móveis começaram a prender a atenção pública, determinando mesmo, nos de imaginação aventureira, uma espécie de febre, devida à novidade de tais experiências, Allan Kardec, estudando ao mesmo tempo o magnetismo e seus singulares efeitos, acompanhou com a maior paciência e clarividência judiciosa as experimentações e as tentativas numerosas que então se faziam em Paris. Recolheu e pôs em ordem os resultados conseguidos dessa longa observação e com eles compôs o corpo de doutrina que publicou em 1857, na primeira edição de O livro dos espíritos. Todos sabeis que êxito alcançou essa obra, na França e no estrangeiro. Havendo atingido a 16a edição, tem espalhado em todas as classes esse corpo de doutrina elementar [...].7 (Destaque nosso.)

    Doze anos depois de seu lançamento,precisamente em maio de 1869, após a desencarnação do amorável Codificador, O livro dos espíritos alcançou sua décima sexta edição francesa. E, nos dias atuais, após 156 anos de divulgação, a obra basilar da Codificação já foi traduzida para as mais diversas línguas do mundo, entre elas o japonês. O livro dos espíritos é o alicerce sólido, a pedra angular dessa consoladora Doutrina, revivescência do Evangelho de Jesus.8

Referências:

1KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2012. pt. 1, cap. 3, Do
método, it. 35.
2______. Revista espírita: jornal de estudos psicológicos, ano 3, n. 3, p. 154 e 155, mar. 1860. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3. ed.
2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. À venda O livro dos espíritos – Segunda edição.
3______. ______. ano 9, n. 5, p. 199, mai.1866. Trad. Evandro Noleto Bezerra.2. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Lembrança retrospectiva de um Espírito.
4______. A gênese. Trad. Guillon Ribeiro,52. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB,2012. Introdução, p. 16.
5______. Revista espírita: jornal de estudos psicológicos. ano 1, n. 1, p. 64 e 65,jan. 1858. Trad. Evandro Noleto Bezerra.
4. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011.
A Doutrina Espírita, p. 64 e 65.
6______. ______. ano 12, n. 5, p. 188 e 189, mai. 1869. Trad. Evandro Noleto Bezerra.3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009.
Biografia do sr. Allan Kardec.
7______. ______. p. 197. Discursos pronunciados junto ao túmulo. O espiritismo e a ciência.
8WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco. Allan Kardec – Pesquisa biobibliográfica e ensaios de interpretação. 4. ed. Rio de Janeiro:FEB, 1998. v. 3, cap. 1, As obras espíritasde Allan Kardec.