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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Pluralidade dos mundos habitados

Pluralidade dos mundos habitados

Paulo da Silva Neto Sobrinho
“Há várias moradas na Casa de meu Pai” – João 14, 2.
O nosso conceito de que Deus fez a terra e tudo que nela há, o sol, a lua e as estrelas para nós é falso e é isto que vem nos deixando com idéias arraigadas não nos permitindo enxergar mais além. Esta visão é bastante egoísta e presunçosa, não há como admitir, nos dias de hoje, que Deus tenha criado tudo para o gozo, contemplação e delícia do ser humano, que na verdade não passa de mais um dos seres da criação divina, cuja diferença para com os animais é ter o raciocínio contínuo. Entretanto mostra, em algumas situações, mais irracional que os próprios animais. Para podermos nos situar, vejamos a grandeza do cosmo. Ao depararmos com sua magnitude chegaremos à conclusão de nossa extrema insignificância perante o Universo.
O cosmo conhecido tem por diâmetro 40.000.000.000 anos-luz. E para quem quiser mensurar o que representa este número, basta multiplicá-lo por 9.467.280.000.000 km, número este que equivale a um ano-luz. Ora, dentro desta extraordinária grandeza não há como pensar que somente a terra, talvez nem um minúsculo grão de areia neste contexto, tenha vida humana. A ciência avança gradativamente e algumas nações gastam fortunas para tentar captar sons de outras galáxias, instrumentos cada vez mais potentes e sensíveis são direcionados para o céu em busca do contato com inteligências extraterrestres. Pode até parecer ficção científica, mas é a nossa pura realidade nos dias de hoje.
Perguntaríamos: Dada a grandeza do cosmo com seus bilhões e bilhões de planetas porque pensar que apenas a terra teria vida? Não poderia Deus ter criado tantos planetas sem que tivessem alguma outra utilidade a não ser iluminar nossas noites escuras? Tem que haver forçosamente, dentro de um senso lógico, vidas em outros planetas. Para se ter uma idéia somente a Via Láctea possui cerca de 200.000 planetas semelhantes a terra. Se há vida na terra porque não poderia haver nestes outros planetas semelhantes ao nosso? Não podemos fugir desta grande possibilidade de que possa haver vidas em outros planetas.
Suponhamos que um homem é colocado num foguete e lançado à Marte, desce lá e se não vê vida humana não quer dizer necessariamente que não há vida em Marte, o que podemos afirmar é que em Marte não há vida igual ou semelhante à da terra. Poderia ocorrer, talvez, que a vida em Marte não seria captada pelos nossos sentidos, como por exemplo, numa gota d’água não enxergamos, a olho nu, os micróbios que nela vivem, mas se colocarmos esta gota diante de um microscópio veremos uma infinidade de seres vivendo nesta gota, ou seja, se tivermos um instrumento apropriado poderíamos deslumbrar com a vida naquele planeta.
E aí as palavras de Jesus, em João 14, 2, “há muitas moradas na casa de meu Pai”, parecem fazer sentido. Não estaria ele falando dos vários planetas habitados?
Preocupado com esta questão Allan Kardec questiona aos espíritos superiores, conforme consta do Livro dos Espíritos, o seguinte:
Pergunta 55 – Todos os globos que circulam no espaço são habitados?
Resposta – Sim, e o homem da terra está longe de ser, como crê, o primeiro em inteligência, em bondade e perfeição. Todavia, há homens que se crêem muitos fortes, que imaginam que somente seu pequeno globo tem o privilégio de abrigar seres racionais. Orgulho e vaidade! Julgam que Deus criou o Universo só para eles.
Pergunta 56 – A constituição física dos mundos é a mesma?
Resposta – Não, eles não se assemelham de modo algum.
Pergunta 67 – A constituição física dos mundos não sendo a mesma para todos, seguir-se-ão tenham organização diferentes os seres que os habitam?
Resposta – Sem dúvida, como para vós os peixes são feitos para viverem na água e os pássaros no ar.
Vamos descrever como seriam estes mundos de acordo com as informações dos espíritos superiores a Kardec.
Classificação dos Mundos
  1. Quanto ao grau de adiantamento ou inferioridade dos seus habitantes
    1. Mundos Inferiores – a existência é toda material, reinam as paixões, quase nula é a vida moral;
    2. Mundos Intermediários – misturam-se o bem e o mal, predominando um ao outro, segundo o grau de adiantamento da maioria dos que os habitam;
    3. Mundos Adiantados – a vida é por assim dizer toda espiritual;
  2. Quanto ao estado em que se acham e da destinação que trazem:
    1. Mundos Primitivos – destinados às primeiras encarnações da alma humana;
    2. Mundos de Expiação e Provas – onde domina o mal (Terra);
    3. Mundos de Regeneração – nos quais as almas ainda têm o que expiar, haurem novas forças repousando das fadigas da luta;
    4. Mundos Ditosos – onde o bem sobrepuja o mal;
    5. Mundos Celestes ou Divinos – habitações de espíritos depurados, onde exclusivamente reina o bem.
Os espíritos que encarnam em um mundo não se acham a ele presos indefinidamente, nem nele atravessam todas as fases do progresso que lhes cumpre realizar, para atingirem a perfeição.
Os mundos estão, também, sob a lei do Progresso.
Características dos Mundos

a) Mundos Inferiores

  • seres rudimentares;
  • forma humana sem beleza;
  • instintos, não há sentimentos de delicadeza ou de benevolência;
  • não tem noção do justo e do injusto;
  • a força bruta é a única lei;
  • carentes de indústrias e de invenções;
  • passam a vida na conquista de alimentos.

b) Mundos Superiores

  • forma humana, mais embelezada, aperfeiçoada e, sobretudo, purificada;
  • o corpo não tem a materialidade terrestre, não está sujeito às necessidades, nem às doenças ou deteriorações que predominância da matéria provoca;
  • sentidos mais apurados;
  • leveza do corpo permite locomoção rápida e fácil, deslizando pela superfície, usando apenas a vontade;
  • é rápido o desenvolvimento dos corpos e curta ou quase nula a infância;
  • vida mais longa do que na Terra;
  • a morte não causa pavor, é considerada uma transformação feliz;
  • a livre transmissão do pensamento;
  • relações amistosas entre os povos;
  • só a superioridade moral e intelectual estabelece diferença entre as condições e dá a supremacia;
  • a autoridade merece o respeito de todos, pois está estabelecida no mérito e na justiça;
  • amor e fraternidade prendem uns aos outros todos os homens;
  • possuem bens adquiridos mais ou menos por meio da inteligência;
  • o mal, nesses mundos, não existe;
  • os mundos felizes não são orbes privilegiados, visto que Deus não é parcial para qualquer dos seus filhos; a todos dá os mesmos direitos e as mesmas facilidades para chegarmos a tais mundos.

c) Mundos Regeneradores

  • servem de transição entre os mundos de expiação e os mundos felizes;
  • encontra neles a calma e o repouso, acabando por depurar-se;
  • sujeição às leis que regem a matéria;
  • libertos das paixões, isentos do orgulho, da inveja e do ódio;
  • ainda não existe a felicidade perfeita, mas a aurora da felicidade;
  • o homem lá é ainda de carne;
  • ainda tem de suportar provas, porém, sem as pungentes angústias da expiação.
O que isto tudo representa para nós?
  • explica de onde vêem os espíritos que reencarnam na Terra;
  • nos dá a certeza de, conforme o progresso individual, irmos aos mundos mais elevados ou o “reino dos céus”;
  • pouca significância do tempo em que estamos aqui na terra;
  • passagem para o 3º milênio, depuração da terra dos espíritos inferiores, que não desejam progredir e não querem que os outros progridam.
Set/95

Retirado do site Espirito.ogr

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 58

 
A.K.: As condições de existência dos seres que habitam os diferentes mundos hão de ser adequadas ao meio em que lhes cumpre viver. Se jamais houvéramos visto peixes, não compreenderíamos pudesse haver seres que vivessem dentro dágua. Assim acontece com relação aos outros mundos, que sem dúvida contêm elementos que desconhecemos. Não vemos na Terra as longas noites polares iluminadas pela eletricidade das auroras boreais? Que há de impossível em ser a eletricidade, nalguns mundos, mais abundante do que na Terra e desempenhar neles uma função de ordem geral, cujos efeitos não podemos compreender? Bem pode suceder, portanto, que esses mundos tragam em si mesmos as fontes de calor e de luz necessárias a seus habitantes.
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Ninguém é privado das bênçãos de Deus. Todos nós recebemos o que necessitamos para viver. É de raciocínio comum que não podemos dizer que onde não há calor não existe vida, que onde falta a luz visível, escapa a inteligência. Os recursos da Divindade são inumeráveis, os Espíritos tomam corpos diferentes nos diferentes mundos em que habitam. Há almas que pouco dependem do exterior; elas vivem na própria luz que as circunda. O ambiente que conheces na Terra ainda se apresenta muito grosseiro diante de mundos venturosos, onde Espíritos de alta hierarquia estão estagiando, bem como existem planetas inferiores em comparação com o teu, em que os seres, se podemos dizer, humanos, estão desabrochando os primeiros traços da razão, e a sua inferioridade na escala de ascensão requer um mundo de constituição pesada, de ar, alimentos, água e tudo o mais, nas mesmas condições.

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 57

 
 
Escrevemos o que sabemos, mas, nem tudo o que sabemos podemos escrever. Deus é sábio e justo. Somente recebemos o que podemos suportar na escala que já atingimos. O Senhor gosta das diferenças e mutações, portanto criou as leis que as regulam e assistem, e nós devemos fazer o mesmo. Somos todos irmãos uns dos outros, com os mesmos direitos e deveres na pauta da v ida. Não existe nada inferior para o Grande Arquiteto do Universo; tudo é perfeito e está na mais perfeita ordem, compatível com a harmonia divina, só que estamos em estado de despertar. Em uns já afloraram maiores valores, em outros menos, mas carregam consigo todos eles, como bênção do Doador Maior. Não podes pensar que as diferenças físicas, morais e intelectuais possam criar barreiras intransponíveis. Elas são escolas que devemos estudar com amor, para aprendermos com humildade as lições que todas elas nos oferecem.

Aprendendo com Livro dos Espíritos questão 56

 
 
A constituição física dos mundos que circulam no universo apresenta algumas diferenças, principalmente naqueles que não são da mesma idade sideral. A matéria primitiva é a mesma em todos os mundos; a maturidade é que modifica a sua composição. Podemos observar pelos olhos da própria ciência oficial da Terra, pelo trabalho que realiza nas suas pesquisas sobre os planetas vizinhos, que são encontrados neles, segundo seus aparelhos de observação, elementos que existem na Terra e, certamente, outros que escapam às sensibilidades dos instrumentos dos homens. Entretanto, os próprios cientistas revelam as diferenças na atmosfera, umas mais pesadas, outras rarefeitas, as diferenças na gravidade e a liberdade que têm os raios cósmicos, por não encontrarem a camada protetora de ozônio, de que a Terra foi merecedora, a falta de mares e, conseqüentemente, de vegetação, não sendo constatada a presença dos animais. Há muitos mundos que já foram habitados e vivem em outra função que não é a de moradia para Espíritos reencarnados, entretanto, no fundo são todos iguais, por terem nascido da mesma fonte universal, por terem saído das mãos benfeitoras de Deus.
As revelações para os homens deverão ser gradativas. Somente o tempo pode nos dizer quando devem ser descortinadas determinadas verdades. A verdade fora do momento é bem pior que a mentira, cabendo aos instrutores da humanidade regular as mensagens e estabelecer os momentos das revelações. No momento, saber ou não, se os mundos são constituídos dos mesmos elementos, pouco importa. A urgência da atualidade é outra bem diferente: é estudar o amor, analisá-lo e vivê-lo, ou procurar viver essa virtude por excelência. O de que mais precisamos é, pois, do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo no coração, e que ele seja pregado em toda parte, de todas as formas que já existem no mundo. É pura pretensão julgar que estamos com a verdade e as outras religiões e filosofias de posse somente da ilusão. Todos temos trabalhos a realizar diante de Deus e de nossa consciência. Todos somos irmãos, filhos do mesmo Pai. Condenar quem está fazendo o bem é querer impedir a sua propagação.

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 55

 
 
Se alguém que não conhecesse a Terra tivesse uma visão de todas as casas nela construídas, e perguntasse se todas elas são habitadas por seres humanos, o que responderíamos? - "Certamente, que nem todas. Muitas delas estão desabitadas; outras foram feitas com determinados objetivos que não o de moradia; outras serão destruídas por já terem cumprido suas missões"... e, assim, sucessivamente. O mesmo se dá com os mundos que circulam no universo de Deus. Nem todos são habitados, por seres humanos, por formas visíveis. A lógica nos leva a essa realidade, constatada durante nosso aprendizado, nas oportunidades de visitar alguns mundos desabitados, estudando a missão dos mesmos em outros rumos da harmonia divina, quando tivemos a ventura de constatar mundos habitados por seres com aparência idêntica à dos companheiros da Terra, uns mais adiantados, outros mais atrasados. É bom que salientemos que não existe algo inútil no seio da criação, pois, se Deus é a Inteligência Suprema, como iria fazer coisas sem proveito? Isso não cabe na mente do homem dotado de raciocínio e dominado pelo saber.
Quando estamos viajando, temos de aprender primeiro os caminhos do lugar objetivado; e os caminhos para a grande viagem dos conhecimentos exteriores começa por dentro do coração. Muitos insistem, perguntam e estudam, as prováveis vindas de seres superiores à Terra, por veículos siderais, e mesmo nos perguntam se são prováveis essas visitas. Respondemos que sim, com toda a certeza. No entanto, é necessário o preparo, e o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo é a melhor cartilha para tal empreendimento. Podes trocar experiências com irmãos de outros mundos, essa é a lei, mas, é bom te conscientizares do que deves fazer dessas experiências assimiladas dos companheiros de pátrias mais elevadas que a tua. E quando alcançares igualmente outros mundos, que estejas preparado para levar a mensagem da fraternidade nas linhas do amor. Essa é a cooperação de uns para com os outros, no serviço do bem imortal.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

IV – Perda de Pessoas Amadas e Mortes Prematuras


SANSÃO
Antigo membro da Sociedade  Espírita de Paris, 1863

            21
– Quando a morte vem ceifar em vossas famílias, levando sem consideração os jovens em lugar dos velhos, dizeis freqüentemente: “Deus não é justo, pois sacrifica o que está forte e com o futuro pela frente, para conservar os que já viveram longos anos, carregados de decepções: leva os que são úteis e deixa os que não servem para nada mais; fere um coração de mãe, privando-o da inocente criatura que era toda a sua alegria”.
            Criaturas humanas, são nisto que tendes necessidades de vos elevar, para compreender que o bem está muitas vezes onde pensais ver a cega fatalidade. Por que medir a justiça divina pela medida da vossa? Podeis pensar que o Senhor dos Mundos queira, por um simples capricho, infligir-vos penas cruéis? Nada se faz sem uma finalidade inteligente, e tudo o que acontece tem a sua razão de ser. Se perscrutásseis melhor todas as dores que vos atingem, sempre encontraria nela a razão divina, razão regeneradora, e vossos miseráveis interesses representariam umas considerações secundárias, que relegaríeis ao último plano.
            Acreditai no que vos digo: a morte é preferível, mesmo numa encarnação de vinte anos, a esses desregramentos vergonhosos que desolam as famílias respeitáveis, ferem um coração de mãe, e fazem branquear antes do tempo os cabelos dos pais. A morte prematura é quase sempre um grande benefício, que Deus concede ao que se vai, sendo assim preservado das misérias da vida, ou das seduções que poderiam arrastá-lo à perdição. Aquele que morre na flor da idade não é uma vítima da fatalidade, pois Deus julga que não lhe será útil permanecer maior tempo na Terra.
            É uma terrível desgraça, dizeis, que uma vida tão cheia de esperanças seja cortada tão cedo! Mas de que esperanças querem falar? Das esperanças da Terra onde aquele que se foi poderia brilhar, fazer sua carreira e sua fortuna? Sempre essa visão estreita, que não consegue elevar-se acima da matéria! Sabeis qual teria sido a sorte dessa vida tão cheia de esperanças, segundo entendeis? Quem vos diz que ela não poderia estar carregada de amarguras? Considerais como nada as esperanças da vida futura, preferindo as da vida efêmera que arrastais pela Terra? Pensais, então, que mais vale um lugar entre os homens que entre os Espíritos bem-aventurados?
            Regozijai-vos em vez de chorar, quando apraz a Deus retirar um de seus filhos deste vale de misérias. Não é egoísmo desejar que ele fique, para sofrer convosco? Ah! essa dor se concebe entre os que não tem fé, e que vêem na morte a separação eterna. Mas vós, espíritas, sabeis que a alma vive melhor quando livre de seu invólucro corporal. Mães, vós sabeis que vossos filhos bem-aventurados estão perto de vós; sim, eles estão bem perto: seus corpos fluídicos vos envolvem, seus pensamentos vos protegem, vossa lembrança os inebria de contentamento; mas também as vossas dores sem razão os afligem, porque revela uma falta de fé e constituem uma revolta contra a vontade de Deus.
            Vós que compreendeis a vida espiritual, escutai as pulsações de vosso coração, chamando esses entes queridos. E se pedirdes a Deus para os abençoar, sentireis em vós mesmas a consolação poderosa que faz secarem as lágrimas, e essas aspirações sedutoras, que vos mostram o futuro prometido pelo soberano Senhor.

Evangelho Segundo O Espiritismo Cap. 5

O Mandamento Difícil."...Amar ao próximo não parece muito difícil, mas amá-lo como a nós mesmos é quase uma temeridade. Mas Jesus o deu de maneira enérgica, explicando ainda que esse amor corresponde também ao amor a Deus. Amamos naturalmente a nós mesmos com tal afinco que estendemos esse amor à família e o negamos às pessoas estranhas, não raro de maneira agressiva e ciumenta...."(...) “Quando vejo passar pela minha porta um homem condenado pelos outros, logo penso que, por aquela criatura detestada, o Cristo entregou-se à crucificação". Porque, na verdade, Jesus não veio à Terra para salvar a este ou àquele, mas a toda a Humanidade. Se conseguirmos compreender isso, afastaremos da Terra o cancro moral do racismo, da aversão ao estrangeiro, da impiedade para com os infelizes viciados no crime e na maldade, oferecendo-lhes pelo menos um pouco de simpatia..."

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O Mandamento Difícil
O mandamento central dos Evangelhos, e por isso mesmo o mais complexo e o mais difícil, é o de amar ao próximo como a nós mesmos e a Deus sobre todas as coisas. Amar ao próximo não parece muito difícil, mas amá-lo como a nós mesmos é quase uma temeridade. Mas Jesus o deu de maneira enérgica, explicando ainda que esse amor corresponde também ao amor a Deus. Amamos naturalmente a nós mesmos com tal afinco que estendemos esse amor à família e o negamos às pessoas estranhas, não raro de maneira agressiva e ciumenta. Podemos explicar isso, psicologicamente, pelo egocentrismo da infância, que é uma exigência da formação da personalidade. Se a criança não fosse — como se costuma dizer — o centro do mundo, e não se apegasse a essa centralização, seria facilmente absorvida na mundanidade e dispersa na temporalidade, para usarmos a terminologia de Heideggard. Para manter a sua unidade ôntica, ou seja, para ser ela mesma, a criança tem de se apegar com unhas e dentes ao seu ego, esse pivô interno, em torno do qual desenvolvem-se as energias da afetividade e da criatividade. O mundo nos atrai e tenta absorver-nos num processo de dispersão centrífuga. Se não tivéssemos o pivô do ego, com suas energias centralizadoras, o ser estaria sujeito a se perder na dispersão das energias ôntica. O normal é que essas duas correntes energéticas se contrabalancem, sem o que teríamos o indivíduo egoísta ou o indivíduo amorfo, sem nunca atingirmos a formação da personalidade que define o homem. A permanente ameaça e o temor da dispersão gera no homem a reação de defesa contra a eternidade.
Nas tribos selvagens as crianças recém-nascidas são consideradas criaturas estranhas e misteriosas, que chegam não se sabe de onde. Por isso são tratadas com carinho na primeira e segunda infância, mas depois submetidas a períodos de observação quanto às tendências que devem revelar. Só adquirem um nome e se integram na tribo depois de reconhecidas como em condições para tanto. Nas civilizações encontramos um desenvolvimento agudo do sociocentrismo, em que os estrangeiros são considerados impuros, como na Antiga Israel, ou considerados bárbaros, como na Roma Antiga. O próprio instinto de conservação, que começa na lei física da inércia e se prolonga nas coisas e nos seres, até ao homem, e suas instituições, completa esse quadro defensivo. Não há dúvida que a nossa desconfiança em relação ao próximo provém dessas forças instintivas. Só conseguimos vencê-las quando nos sentimos onticamente maduros, como seres formados e definidos em nossa personalidade. Quanto mais inseguros nos sentimos, tanto mais difícil se torna a nossa aceitação do próximo, sem prevenções e desconfianças. Nossa primeira atitude ante um desconhecido é sempre de reserva ou de antipatia. Somente nos reencontros reencarnatórios de criaturas afins, com um passado de relações felizes ou uma afinidade vibratória semelhante, os primeiros contatos podem ser expansivos.
A sabedoria dos ensinos de Jesus se revela precisamente nesses casos em que se mostra de maneira evidente. Com o ensino do amor ao próximo Jesus agiu sobre a indevida extensão dessas forças preservadoras num tempo de maturidade. Não foi somente com o ensino do monoteísmo, da unicidade de Deus, que ele procurou acordar-nos para a fraternidade humana. Completando a ação reformista e dando mais ênfase à necessidade de amarmos a todos os nossos semelhantes, ele definiu a família humana como decorrente da paternidade universal de Deus.
Stanley Jones, pastor metodista, chamado O Cavaleiro do Reino de Deus, por suas pregações profundamente humanistas, descobriu a maneira cristã de combater essa aversão ao estranho, dizendo: “Quando vejo passar pela minha porta um homem condenado pelos outros, logo penso que, por aquela criatura detestada, o Cristo entregou-se à crucificação". Porque, na verdade, Jesus não veio à Terra para salvar a este ou àquele, mas a toda a Humanidade. Se conseguirmos compreender isso, afastaremos da Terra o cancro moral do racismo, da aversão ao estrangeiro, da impiedade para com os infelizes viciados no crime e na maldade, oferecendo-lhes pelo menos um pouco de simpatia. Com isso, pingamos uma gota de amor na taça de fel que o nosso irmão leva aos lábios todos os dias.
Mais estranho nos parece o mandamento: “Amai aos vossos inimigos". Entretanto, se não fizermos isso, nunca aprenderemos realmente a amar. Porque o verdadeiro amor nunca é discriminativo, mas abrangente, envolvendo num só objeto de afeição todas as criaturas. Como ensina Kardec, não podemos amar a um inimigo como amamos a um amigo, que conhecemos pela experiência da convivência, depositando nele a nossa confiança.
Amar ao inimigo não é fácil, exige principalmente o sacrifício do perdão e do esquecimento do que ele nos fez de mal. E por isso mesmo esse amor é sublime, podendo levar o inimigo a se transformar no nosso maior e mais reconhecido amigo. Não podemos, porém, agir com ingenuidade nesses casos.
Temos de usar sempre, como Jesus ensinou, a mansidão das pombas e a prudência das serpentes. Diz o povo que “Quem faz um cesto faz um cento". O homem, herdeiro dos instintos animais, é também herdeiro dos instintos espirituais de que trata Kardec, e possui o poder discriminador da consciência. Agindo sempre com a devida prudência, pode apagar as mágoas da inimizade sem entregar-se às armadilhas da traição. Assim, o processo de amar o inimigo não pode ser imediato, mas progressivo, segundo a prudência dos selvagens no trato com os novos e ainda desconhecidos companheiros que chegam à tribo vestidos com a roupagem da inocência, segundo a expressão kardeciana. O que importa, no caso, não é o milagre da conversão do inimigo em amigo, mas o despertar no homem da compreensão verdadeira do amor.
A importância desse problema, na educação para a morte, relaciona-se com a questão da sobrevivência. As pesquisas da Ciência Espírita mostraram que muitos dos nossos sofrimentos na Terra provêm das malquerenças do passado. Um inimigo no Além representa quase sempre ligações negativas, de forma obsessiva, para o que ficou na Terra sem saber perdoar. A técnica espírita da desobsessão — de libertar o homem das vibrações de ódio e vingança dos inimigos mortos — é precisamente a da reconciliação de ambos nas sessões ou através de orações reconciliadoras.
A situação obsessiva é grandemente desfavorável para o que continua vivo na Terra, pois este se esqueceu dos males cometidos e o Espírito obsessor, vingativo, lembra-se claramente de tudo. Por isso, as práticas violentas do exorcismo, judeu ou cristão, com ameaças e exprobrações negativas do obsedado, podem levar ao auge o ódio do obsessor.
A condição do obsessor no plano espiritual — alimentando o ódio que levou da Terra — é também de responsabilidade do obsedado que não soube perdoar e pedir perdão. Todos os sofrimentos de uma situação de penoso desajuste no após-morte são produzidos pela dureza de coração do que continuou na Terra ou a ela voltou para o necessário reajuste. Por isso, Jesus advertiu que devemos acertar o passo com o nosso adversário enquanto estamos a caminho com ele. Conhecidos estes princípios de maneira racional, podemos influir no alívio da pesada atmosfera moral que pesa sobre a Terra em momentos como este que estamos vivendo. Não se trata de problemas que devam ser resolvidos por este ou aquele tribunal, humano ou divino. A solução está sempre em nossas mãos, pois foi com elas que praticamos os crimes que agora dardejam sobre a nossa consciência como os raios de Júpiter.
Nos tenebrosos anais da pesquisa psíquica mundial encontramos numerosos casos, descritos em minúcias pelos protagonistas de tragédias dessa espécie. Daí a advertência de Jesus, que parece temerária aos inscientes: “O que xinga o seu irmão de raca está condenado ao fogo do inferno". A palavra raca éuma injúria grandemente ofensiva, mas o castigo parece exagerado. Devemos lembrar que o fogo inferno não é eterno, como querem os teólogos, mas que a dor da consciência fora da matéria queima como fogo. Tivemos a oportunidade de conviver alguns dias com um assassino que matara seu adversário a faca, pelas costas. Era um homem de formação protestante, que continuava apegado ao Evangelho e se justificava com passagens vingativas da Bíblia, apoiadas por Deus. Repeliu as nossas explicações de que a Bíblia é uma coletânea de livros judeus e nos disse, com assustadora firmeza: “Se ele me aparecesse agora redivivo, eu o mataria de novo". Episódios como esse nos mostram como os sentimentos humanos podem perdurar nos Espíritos encarnados ou desencarnados, de maneira assustadora.
O ódio desse homem não se extinguira com o sangue do inimigo. Nenhuma sombra de remorso transparecia nos seus olhos carregados de ódio e ameaças. Faltava-lhe, porém, o conhecimento das leis morais. Mais tarde, segundo nos disseram, o seu coração se abrandou. Tivera um sonho com o adversário morto, que lhe pedia perdão, em lágrimas, por havê-lo levado ao desespero do crime.
As tragédias dessa espécie, em que a vítima geralmente é responsável pelo crime, por motivos de sua intransigência, são em maior número do que supomos. Torna-se bem claro, nesses casos, o processo dialético da evolução humana. Nesse criminoso aparentemente insensível havia um coração profundamente ferido pela intransigência do adversário. Questões formais de honra, de direitos violados, de prepotência e humilhação torturaram a mente do assassino e o levaram ao crime. Cometido este, decorridos amargos anos de prisão, com a família na miséria e enxovalhada pela mancha criminosa, a vítima transformada em carrasco não conseguia perdoar o morto. Os instintos animais, em fermentação na sua afetividade e na sua consciência, não lhe permitiam abrir-se para a compreensão da gravidade do seu ato. Ao mesmo tempo, o assassinado, nos planos espirituais inferiores, remoia o seu ódio e a sua frustração, acusando o assassino de lhe haver tirado a vida. A troca de vibrações mentais entre ambos mantinha-os na mesma luta. Somente a interferência da misericórdia divina conseguira abrir uma fresta de luz na mente do assassinado, para que ele caísse em si e reconhecesse a sua culpabilidade. Para a sociedade terrena a tragédia terminara nas grades de uma prisão, mas para o mundo espiritual ela prosseguia. Na consciência do assassinado a visão da realidade até então oculta despertava os instintos espirituais, os anseios de superação das condições animalescas a que se entregara na carne.
A Educação para a Morte teria libertado ambos na própria vida carnal, levando-os à compreensão de que não eram feras em luta na selva, mas criaturas humanas dotadas de potencialidades divinas. Não lhes haviam faltado os socorros espirituais da intuição e do chamado terreno no campo religioso. Um era protestante e o outro católico, ambos tiveram contato com os Evangelhos desde a infância, mas a reação hipnótica dos interesses mundanos os havia imantado fortemente à matéria, fazendo-os esquecer a natureza espiritual da criatura humana. As religiões, por seu lado, imantadas às interpretações dogmáticas, não puderam ampará-los com a explicação racional da situação que enfrentavam. No entanto, há dois mil anos, Jesus já advertia: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas!”

Livro: Educação Para a Morte
Herculano Pires

Educação para a Morte.(...)"“Sócrates, os juízes te condenaram à morte”. O filósofo respondeu calmamente: “Eles também já estão condenados”. A mulher insistiu no seu desespero: “Mas é uma sentença injusta!” E ele perguntou: “Preferias que fosse justa?” A serenidade de Sócrates era o produto de um processo educacional: a Educação para a Morte..."

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Educação para a Morte
Vou me deitar para dormir. Mas posso morrer durante o sono.
Estou bem, não tenho nenhum motivo especial para pensar na morte neste momento. Nem para desejá-la. Mas a morte não é uma opção, nem uma possibilidade. É uma certeza. Quando o Júri de Atenas condenou Sócrates à morte ao invés de lhe dar um prêmio, sua mulher correu aflita para a prisão, gritando-lhe: “Sócrates, os juízes te condenaram à morte”. O filósofo respondeu calmamente: “Eles também já estão condenados”. A mulher insistiu no seu desespero: “Mas é uma sentença injusta!” E ele perguntou: “Preferias que fosse justa?” A serenidade de Sócrates era o produto de um processo educacional: a Educação para a Morte.
É curioso notar que em nosso tempo só cuidamos da Educação para a Vida. Esquecemo-nos de que vivemos para morrer. A morte é o nosso fim inevitável. No entanto, chegamos geralmente a ela sem o menor preparo. As religiões nos preparam, bem ou mal, para a outra vida. E depois que morremos encomendam o nosso cadáver aos deuses, como se ele não fosse precisamente aquilo que deixamos na Terra ao morrer, o fardo inútil que não serve mais para nada.
Quem primeiro cuidou da Psicologia da Morte e da Educação para a Morte, em nosso tempo, foi Allan Kardec. Ele realizou uma pesquisa psicológica exemplar sobre o fenômeno da morte. Por anos seguidos falou a respeito com os Espíritos de mortos. E, considerando o sono como irmão ou primo da morte, pesquisou também os Espíritos de pessoas vivas durante o sono. Isso porque, segundo verificara, os que dormem saem do corpo durante o sono. Alguns saem e não voltam: morrem. Chegou, com antecedência de mais de um século, a esta conclusão a que as ciências atuais também chegaram, com a mesma tranquilidade de Sócrates, a conclusão de Victor Hugo: “Morrer não é morrer, mas apenas mudar-se”.
As religiões podiam ter prestado um grande serviço à Humanidade se houvessem colocado o problema da morte em termos de naturalidade. Mas, nascidas da magia e amamentadas pela mitologia, só fizeram complicar as coisas. A mudança simples de que falou Victor Hugo transformou-se, nas mãos de clérigos e teólogos, numa passagem dantesca pela selva Selvaggia da "DIVINA COMÉDIA". Nas civilizações agrárias e pastoris, graças ao seu contato permanente com os processos naturais, a morte era encarada sem complicações. Os rituais suntuosos, os cerimoniais e sacramentos surgiram com o desenvolvimento da civilização, no deslanche da imaginação criadora. A mudança revestiu-se de exigências antinaturais, complicando-se com a burocracia dos passaportes, recomendações, trânsito sombrio na barca de Caronte, processos de julgamento seguido de condenações tenebrosas e assim por diante. Logo mais, para satisfazer o desejo de sobrevivência, surgiu a monstruosa arquitetura da morte, com mausoléus, pirâmides, mumificações, que permitiam a ilusão do corpo conservado e da permanência fictícia do morto acima da terra e dos vermes. Morrer já não era morrer, mas metamorfosear-se, virar múmia nos sarcófagos ou assombração maléfica nos mistérios da noite. As múmias, pelo menos, tiveram utilidade posterior, como vemos na História da Medicina, servindo para os efeitos curadores do pó de múmia. E quando as múmias se acabaram, não se achando nenhuma para remédio, surgiram os fabricantes de múmias falsas, que supriam a falta do pó milagroso. Os mortos socorriam os vivos na forma lobateana do pó de pirimpimpim.
Muito antes de Augusto Comte, os médicos haviam descoberto que os vivos dependiam sempre e cada vez mais da assistência e do governo dos mortos. De toda essa embrulhada resultou o pavor da morte entre os mortais. Ainda hoje os antropólogos podem constatar, entre os povos primitivos, a aceitação natural da morte. Entre as tribos selvagens da África, da Austrália, da América e das regiões árticas, os velhos são mortos a pauladas ou fogem para o descampado a fim de serem devorados pelas feras. O lobo ou o urso que devora o velho e a velha expostos voluntariamente ao sacrifício será depois abatido pelos jovens caçadores que se alimentam da carne do animal reforçada pelos elementos vitais dos velhos sacrificados. É um processo generoso de troca no qual os clãs e as tribos se revigoram.
O pavor maior da morte provém da ideia de solidão e escuridão. Mas os teólogos acharam que isso era pouco e oficializaram as lendas remotas do Inferno, do Purgatório e do Limbo, a que não escapam nem mesmo as crianças mortas sem batismo. De tal maneira se aumentaram os motivos do pavor da morte, que ela chegou a significar desonra e vergonha. Para os judeus, a morte se tornou a própria impureza. Os túmulos e os cemitérios foram considerados impuros. Os cenotáfios — túmulos vazios construídos em honra aos profetas — mostram bem essa aversão à morte. Como podiam eles aceitar um Messias que vinha da Galileia dos Gentios, onde o Palácio de Herodes fora construído sobre terra de cemitérios? Como aceitar esse Messias que morreu na cruz, vencido pelos romanos impuros, que arrancara Lázaro da sepultura (já cheirando mal) e o fizera seu companheiro nas lides sagradas do messianismo?
Ainda em nossos dias o respeito aos mortos está envolvido numa forma velada de repulsa e depreciação. A morte transforma o homem em cadáver, risca-o do número dos vivos, tira-lhe todas as possibilidades de ação e, portanto, de significação no meio humano. “O morto está morto”, dizem os materialistas e o populacho ignaro. O Papa Paulo VI declarou, e a imprensa mundial divulgou em toda parte, que “existe uma vida após a morte, mas não sabemos como ela é”. Isso quer dizer que a própria Igreja nada sabe da morte, a não ser que morremos. A ideia cristã da morte, sustentada e defendida pelas diversas igrejas, é simplesmente aterradora. Os pecadores ao morrer se veem diante de um Tribunal Divino que os condena a suplícios eternos. Os santos e os beatos não escapam às condenações, não obstante a misericórdia de Deus, que não sabemos como pode ser misericordioso com tanta impiedade. As próprias crianças inocentes, que não tiveram tempo de pecar, vão para o Limbo misterioso e sombrio pela simples falta do batismo. Os criminosos broncos, ignorantes e todo o grosso da espécie humana são atirados nas garras de Satanás, um anjo decaído que só não encarna o mal porque não deve ter carne. Mas com dinheiro e a adoração interesseira a Deus essas almas podem ser perdoadas, de maneira que só para os pobres não há salvação, mas para os ricos o Céu se abre ao impacto dos tedéuns suntuosos, das missas cantadas e das gordas contribuições para a Igreja. Nunca se viu soberano mais venal e tribunal mais injusto. A depreciação da morte gerou o desabrido comércio dos traficantes do perdão e da indulgência divina. O vil dinheiro das roubalheiras e injustiças terrenas consegue furar a Justiça Divina, de maneira que o desprestígio dos mortos chega ao máximo da vergonha. A felicidade eterna depende do recheio dos cofres deixados na Terra.
Diante de tudo isso, o conceito da morte se azinhavra nas mãos dos cambistas da simonia, esvazia-se na descrença total, transforma-se no conceito do nada, que Kant definiu como conceito vazio. O morto apodrece enterrado, perdeu a riqueza da vida, virou pasto de vermes e sua misteriosa salvação depende das condições financeiras da família terrena. O morto é um fraco, um falido e um condenado, inteiramente dependente dos vivos na Terra.
O povo não compreende bem todo esse quadro de misérias em que os teólogos envolveram a morte, mas sente o nojo e o medo da morte, introjetados em sua consciência pela farsa dos poderes divinos que o ameaçam desde o berço ao túmulo e ao além-túmulo. Não é de admirar que os pais e as mães, os parentes dos mortos se apavorem e se desesperem diante do fato irremissível da morte. Jesus ensinou e provou que a morte se resolve na Páscoa da ressurreição, que ninguém morre, que todos temos o corpo espiritual e vivemos no além-túmulo como vivos mais vivos que os encarnados. Paulo de Tarso proclamou que o corpo espiritual é o corpo da ressurreição (cap. 12 da primeira Epístola aos Coríntios), mas a permanente imagem do Cristo crucificado, das procissões absurdas do Senhor Morto — heresia clamorosa —, as cerimônias da Via-Sacra e as imagens aterradoras do Inferno Cristão — mais impiedoso e brutal do que os Infernos do Paganismo — marcados a fogo na mente humana através de dois milênios, esmagam e envilecem a alma supersticiosa dos homens.
Não é de admirar que os teólogos atuais, divididos em várias correntes de sofistas cristãos moderníssimos, estejam hoje proclamando, com uma alegria leviana de debiloides, a Morte de Deus e o estabelecimento do Cristianismo Ateu. Para esses novos teólogos, o Cadáver de Deus foi enterrado pelo Louco de Nietsche, criação fantástica e infeliz do pobre filósofo que morreu louco.
O clero cristão — tanto católico como protestante — tanto do Ocidente como do Oriente, perdeu a capacidade de socorrer e consolar os que se desesperam com a morte de pessoas amadas. Seus instrumentos de consolação perderam a eficiência antiga, que se apoiava no obscurantismo das populações permanentemente ameaçadas pela Ira de Deus. A Igreja, Mãe da Sabedoria Infusa, recebida do Céu como graça especial concedida aos eleitos, confessa que nada sabe sobre a vida espiritual e só aconselha aos fiéis as práticas antiquadas das rezas e cerimônias pagas, para que os mortos queridos sejam beneficiados no outro Mundo ao tinir das moedas terrenas. O Messias espantou a chicote os animais do Templo que deviam ser comprados para o sacrifício redentor no altar simoníaco e derrubou as mesas dos cambistas, que trocavam no Templo as moedas gregas e romanas pelas moedas sagradas dos magnatas dispenseiros da misericórdia divina. O episódio esclarecedor foi suplantado na mente popular pelo impacto esmagador das ameaças celestiais contra os descrentes, esses rebeldes demoníacos. Em vão o Cristo ensinou que as moedas de César só valem na Terra. Há dois mil anos essas moedas impuras vêm sendo aceitas por Deus para o resgate das almas condenadas. Quem pode, em sã consciência, acreditar hoje em dia numa Justiça Divina que funciona com o mesmo combustível da Justiça Terrena? Os sacerdotes foram treinados a falar com voz empostada, melíflua e fingida, para, à semelhança da voz das antigas sereias, embalar o povo nas ilusões de um amor venal e sem piedade. Voz doce e gestos compassivos não conseguem mais, em nossos dias, do que irritar as pessoas de bom senso. O Cristo Consolador foi traído pelos agentes da misericórdia divina que desceu ao banco das pechinchas, no comércio impuro das consolações fáceis. Os homens preferem jogar no lixo as suas almas, que Deus e o Diabo disputam não se sabe porquê.

Livro: Educação para a Morte
Herculano Pires

JOSÉ HERCULANO PIRES, EXPLICA AS DESENCARNAÇÕES COLETIVAS:

DESENCARNAÇÕES COLETIVAS
JOSÉ HERCULANO PIRES, EXPLICA AS DESENCARNAÇÕES COLETIVAS:
No Centro Espírita Lola Nave, da capital paulista, foi feito um diálogo aberto e livre de perguntas e respostas durante os trabalhos espíritas na noite de 1° de julho passado, trazendo à baila acontecimentos como o choque no pouso do avião da TAM, o afundamento do navio Titanic, a derrubada das Torres Gêmeas do Worl Trad Center, em Nova Iorque, o acidente do submarino atômico russo e trazendo nesse enfoque de resgates coletivos o incêndio do Edifício Joelma, e o incêndio do Edifício Andraus, em São Paulo e outros tantos acidentes trágicos, registrados ao longo do tempo.
Reportamo-nos aos escritos psicografados pelo médium Francisco Cândido Xavier e interpretaados por J. Herculano Pires, no livro Chico Xavier pede licença (GEEM), por Espíritos diversos.
No capítulo As Leis da Consciência, Herculano comenta a resposta de Emmanuel no capítulo anterior - Desencarnações coletivas, em que o benfeitor espiritual responde à pergunta: "Sendo Deus a Bondade Infinita, por que permite a morte aflitiva de tantas pessoas enclausuradas e indefesas, como nos casos de grandes incêndios?"
"A resposta de Emmanuel vem do plano espiritual e acentua o aspecto terreno dos encarnados em virtude de um fator psicológico: o das leis da consciência. Obedecendo a essas leis, as vítimas de mortes coletivas aparecem como as mais severas julgadoras de si mesmas. São almas que se punem a si próprias em virtude de haverem crescido em amor e trazerem consigo a justiça imanente. Se no passado erraram, agora surgem como heroínas do amor no sacrifício reparador.
As leis da Justiça Divina estão escritas na consciência humana. Caim matou Abel por inveja e a sua própria consciência o acusou do crime. Ele não teve a coragem heróica de pedir a reparação equivalente, mas Deus o marcou e puniu. Faltava-lhe crescer em amor para punir-se a si mesmo. O símbolo bíblico nos revela a mecânica da autopunição cumprindo-se compulsoriamente. Mas, nas almas evoluídas a compulsão é substituída pela compaixão.
Para a boa compreensão desse problema precisamos de uma visão clara do processo evolutivo do homem. Como selvagem ele ainda se sujeita mais aos instintos do que à consciência. Por isso não é inteiramente responsável pelos seus atos. Como civilizado ele se investe do livre-arbítrio que o torna responsável. Mas o amor ainda não o ilumina com a devida intensidade. As civilizações antigas (como o demonstra a própria Bíblia) são cenários de apavorantes crimes coletivos, porque o homem amava mais a si mesmo do que aos semelhantes e a Deus. Nas civilizações modernas, tacadas pela luz do Cristianismo, os processos de autopunição se intensificam.
O suicídio de Judas é o exemplo da autopunição determinada por uma consciência evoluída. O que ocorreu com Judas em vida, ocorre com as almas desencarnadas que enfrentam os erros do passado na vida espiritual. Para encontrar o alívio da consciência elas sentem a necessidade (determinada pela compaixão) de passar pelo sacrifício que impuseram aos outros. Mas o que é esse sacrifício passageiro, diante da eternidade do espírito? A misericórdia divina se manifesta na reabilitação da alma após o sacrifício para que possa atingir a felicidade suprema na qualidade de herdeira e co-herdeira de Cristo, segundo a expressão do apóstolo Paulo.
Encarando a vida sem a compreensão das leis da consciência e do processo da reencarnação não poderemos explicar a Justiça de Deus - principalmennte nos casos brutais de mortes coletivas. Os que assim perecem estão sofrendo a autopunição de que suas próprias consciências sentiram necessidade na vida espiritual. A diferença entre esses casos e o de Judas é que essas vítimas não são suicidas, mas criaturas submetidas à lei de ação e reação.
Judas apressou o efeito da lei ao invés de enfrentar o remorso na vida terrena. Tornou-se um suicida e aumentou assim a própria culpa, rebelando-se contra a Justiça Divina e tentando escapar dela."
ARTHUR PUXIAN - Jornal O Semeador - setembro/07

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Desencarnações Coletivas (Emmanuel)



Emmanuel
Sendo Deus a Bondade Infinita, por que permite a morte aflitiva de tantas pessoas enclausuradas e indefesas, como nos casos dos grandes incêndios?
(Pergunta endereçada a Emmanuel por algumas dezenas de pessoas em reunião pública, na noite de 23-2-1972, em Uberaba, Minas).
RESPOSTA:
Realmente reconhecemos em Deus o Perfeito Amor aliado à Justiça Perfeita. E o Homem, filho de Deus, crescendo em amor, traz consigo a Justiça imanente, convertendo-se, em razão disso, em qualquer situação, no mais severo julgador de si próprio.
Quando retornamos da Terra para o Mundo Espiritual, conscientizados nas responsabilidades próprias, operamos o levantamento dos nossos débitos passados e rogamos os meios precisos a fim de resgatá-los devidamente.
É assim que, muitas vezes, renascemos no Planeta em grupos compromissados para a redenção múltipla.
***
Invasores ilaqueados pela própria ambição, que esmagávamos coletividades na volúpia do saque, tornamos à Terra com encargos diferentes, mas em regime de encontro marcado para a desencarnação conjunta em acidentes públicos.
Exploradores da comunidade, quando lhe exauríamos as forças em proveito pessoal, pedimos a volta ao corpo denso para facearmos unidos o ápice de epidemias arrasadoras.
Promotores de guerras manejadas para assalto e crueldade pela megalomania do ouro e do poder, em nos fortalecendo para a regeneração, pleiteamos o Plano Físico a fim de sofrermos a morte de partilha, aparentemente imerecida, em acontecimentos de
sangue e lágrimas.
Corsários que ateávamos fogo a embarcações e cidade na conquista de presas fáceis, em nos observando no Além com os problemas da culpa, solicitamos o retorno à Terra para a desencarnação coletiva em dolorosos incêndios, inexplicáveis sem a reencarnação.
***
Criamos a culpa e nós mesmos engenhamos os processos destinados a extinguir-lhe as conseqüências. E a Sabedoria Divina se vale dos nossos esforços e tarefas de resgate e reajuste a fim de induzir-nos a estudos e progressos sempre mais amplos no que diga respeito à nossa própria segurança.
É por este motivo que, de todas as calamidades terrestres, o Homem se retira com mais experiência e mais luz no cérebro e no coração, para defender-se e valorizar a vida.
***
Lamentemos sem desespero, quantos se fizerem vítimas de desastres que nos confrangem a alma. A dor de todos eles é a nossa dor. Os problemas com que se defrontaram são igualmente nossos.
Não nos esqueçamos, porém, de que nunca estamos sem a presença de Misericórdia Divina junto às ocorrências da Divina Justiça, que o sofrimento é invariavelmente reduzido ao mínimo para cada um de nós, que tudo se renova para o bem de todos e que Deus nos concede sempre o melhor.
(Transcrito do livro: XAVIER, Francisco C. Autores diversos. Chico Xavier pede licença. S.Bernardo do Campo: Ed. GEEM. Cap. 19).