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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

PlANEJAMENTO FAMILIAR, ABORTO, BEBÊ DE PROVETA,Vasectomia...


Entrevistando Chico Xavier


50 -Direito de Planejar

ME - O casal tem o direito de programar o número de filhos em sua própria casa?

Diz Allan Kardec em “O Livro dos Espíritos” que o homem deve corrigir tudo 
aquilo que possa ser contrário à natureza. Hoje, dividem-se as opiniões, mas à 
frente da problemática da nossa civilização, à frente dos impositivos da 
educação e da assistência à família, nós, pessoalmente, acreditamos que o 
casal tem direito de pedir a Deus inspiração, de rogar a Jesus as sugestões 
necessárias para que não venha a cair em compromissos nos quais os 
cônjuges permaneçam frustrados.
Somos filho de família numerosa. Pessoalmente sou descendente de uma 
família de 15 irmãos, mas, de 20 anos para cá, a vida no planeta tem sofrido 
muitas alterações, e devemos estudar o planejamento com muito respeito à 
vida e conseqüentemente a Deus, em nossos deveres uns para com os outros, 
e não cairmos, em qualquer calamidade por omissão ou deserção dos nossos
deveres. (julho de 1974).


51 Pílula, Anticoncepcional Aperfeiçoado
MN - Chico, muitos companheiros acreditam que as respostas às perguntas 693, 693ª e 694 de “O Livro dos Espíritos” não facultam aos espíritas a possibilidade de planejarem as suas famílias.
O que pensa a respeito?

Diz Allan Kardec, na questão 693 de “O Livro dos Espíritos”: ‘Deus concedeu 
ao homem sobre todos os seres vivos um poder de que ele deve usar sem 
abusar”.
De nossa parte, cremos que o problema do planejamento familiar está afeto 
ao livre-arbítrio dos casais, de vez que, segundo pensamos, cada casal precisa 
saber o que faz, de modo que a família se forme para cooperar na realização 
do bem de todos e devido a todos.
Segundo os Benfeitores Espirituais, a ciência terrestre aperfeiçoará de tal 
modo os anticoncepcionais que serão eles usados sem quaisquer riscos para a 
saúde humana, de modo que a Terra se liberte das calamidades do aborto e a 
fim de que o livre-arbítrio funcione, presidindo as responsabilidades dos 
parceiros das relações afetivas, que precisam usar a própria consciência nos
compromissos que assumam. (abril de 1982)


MN - É lícito o uso de anticoncepcionais?


Estamos diante de um problema em que os conceitos da Ciência e da vida 
familiar devem ser por nós todos respeitados. Esperemos que o tempo nos 
faça sentir as vantagens dos anticoncepcionais, compreendendo-se, porém, 
que os anticoncepcionais não estarão chegando a Terra sem finalidade justa. 
(julho de 1974)


52- Vasectomia
MN - E o problema da vasectomia? Você acha que os homens devem realizar esse tipo de operação para impedir a procriação?


Não é aconselhável. Não devem fazer, porque a mulher terá sempre um
meio de retomar a sua capacidade criativa. A mulher é dotada de recursos que 
o homem não tem.
Tenho notado que a vasectomia traz uma profunda angústia ao homem, 
porque parece que ele lesou um patrimônio que lhe pertencia, o dom de criar.
Os homens que conheço e que se submeteram a esse tipo de intervenção não 
têm alegria de viver. Não se deve violentar os processos da natureza. A mulher 
pode utilizar-se de outros processos, mas o homem não. (novembro de 1982)



53- Afronta à Vida


FW - Há mães solteiras que abortam por temor a uma moral, ou convenção social muito rigorosa frente a tal condição materna. O que poderia dizer-nos acerca de tais preconceitos que induzem, pressionam ou indiretamente favorecem o aborto?



Pensamos, como os Amigos Espirituais, que a existência de mães solteiras 
sempre dignas do nosso maior respeito, envolve a existência de pais que não 
deveriam estar ausentes.
Compreendemos a legitimidade das convenções sociais, veneráveis em 
seus fundamentos, mas entendemos que não nos será lícito menosprezar, em 
tempo algum, aqueles que não conseguiram se lhes ajustar aos preceitos.
Sabendo que o aborto, mesmo legalizado no mundo, é uma falha nossa na 
Terra, estamos certos de que ninguém deveria praticá-lo, seja no regime das 
convenções humanas ou fora delas. Cremos, desse modo, que uma legislação 
surgirá no futuro em favor da mulher, que tendo confiado um dia em alguém,
teve coragem de não abandonar a criatura indefesa que esse alguém lhe 
trouxer à vida. Aguardemos, assim, providências humanitárias, em que os 
homens mais responsáveis criem por si disposições legais magnânimas, 
baseadas na justiça da vida, com que venham a sanar a falta deixada pelos 
outros homens, nossos irmãos, que se fizeram pais, sem consciência mais 
ampla das obrigações que assumiram. (agosto de 1976)


Dr. Rossi (CEU) - Na China já está sendo utilizado um medicamento que, quando ingerido nas primeiras semanas, provoca o aborto sem necessidade de intervenção cirúrgica. O que você pensa disso?


Sempre que faço qualquer referência ao aborto, lembro-me da utilidade do 
anticoncepcional como elemento de socorro às necessidades do casal. As 
duas criaturas querem a união, mas não estão em condições de realizarem 
esse ideal; nesse caso, a anticoncepção viria em seu auxílio.
Se minha mãe, quando me esperava, repleta de doenças, quisesse me e
xpulsar, não sei o que seria de mim.
Se há anticoncepcional, por que promover a morte de criaturas nascituras ou 
em formação? Com uma terra tão imensa para ser lavrada e aproveitada, é 
impossível aplaudir o aborto. Somente podemos entender o aborto terapêutico 
quando a vida materna está ameaçada. Lembro-me de minha mãe sofrendo 
por minha causa, e não posso aplaudir. (novembro de 1988)


FW - Existe no Congresso Nacional um projeto legalizando o aborto no Brasil. Seria oportuna uma campanha nacional colhendo manifestações de pessoas e grupos posicionados contra essa legalização?


Não digamos «campanha nacional” porque semelhante legenda está’ 
suscetível de acordar críticas destrutivas em torno do assunto, criando longos 
debates improdutivos.
Consideramos obra de benemerência social o trabalho que se possa efetuar 
para conhecimento dos senhores legisladores e outras autoridades, tanto 
quanto para informação às mulheres, para que colaborem a fim de que a 
legalização do aborto no Brasil ou em qualquer outro país do mundo seja 
frustrada em benefício da maternidade e em louvor da criança.


O serviço dessa natureza, a nosso ver, deve ser realizado com seriedade e 
respeito, porque ele, de qualquer modo, na hipótese da legalização referida, na 
nossa opinião não sofrerá alterações quaisquer, por qüanto além do aborto 
delituoso ser medida inaceitável para o campo de atividades espíritas-cristãs, é, 
acima de tudo, uma afronta às leis naturais da vida. (outubro de 1983)


FW - Já existe uma injeção, à base de ácidos que aplicada diretamente no útero da gestante mata o feto, queimando-o. Que dizer dessa prática?


O processo a que se refere a pergunta — no caso do aborto delituoso —
é comparável a um assassinato na intimidade do corpo feminino. (setembro de 
1983)


FW - Os espíritos abortados perdoam quem pratica, consente ou induz ao aborto?

Não nos seria possível especificar as atitudes da criatura humana nos 
problemas do aborto delituoso. A esfera dos espíritos desencarnados,  
profundamente vinculados à existência, é semelhante à faixa de ação dos 
homens, propriamente considerada. Temos irmãos desencarnados aptos a 
perdoar a irresponsabilidade da mulher ou do homem que pratica ou incentiva 
o aborto delituoso. Existem, também, aqueles outros que influenciam
negativamente na gestação e no desenvolvimento da criança nascitura, em 
lastimáveis processos de obsessão. (setembro de 1983)*


* Nesse mesmo dia, no pátio do Grupo Espírita da Prece, Augusto César Vanucci e sua equipe de artistas apresentava a Chico Xavier a peça Além da Vida, que tem também entre seus quadros um esclarecimento contra o aborto. Eram três horas do amanhecer de domingo, quando o médium Chico Xavier fez a prece de encerramento, todos de mãos dadas, público e artistas. Antes e depois do espetáculo, conversei muito com Vanucci sobre algo novo que surge de forma criativa no Brasil: a arte comoveículo de divulgação do kardecismo consolador. (FW)

MN - Chico, o aborto, está sendo liberado em quase todo o mundo. Você acredita realmente nas tendências cristãs do povo brasileiro para rechaçar uma medida como esta?


Felizmente parece que, no Brasil, pelo menos a maioria das autoridades 
(sejam elas de caráter administrativo ou religioso) é contrária a essa 
calamidade de legalização do aborto.
Acreditamos que em muitos países, talvez pelo interesse em conter a 
explosão demográfica, determinados setores apoiaram ou apóiam o aborto 
legalizado. Mas acreditamos que essas nações voltarão a fazer uma 
reconsideração de comportamento em relação ao assunto, porque em qualquer 
ocasião de conflito internacional a questão do incentivo à maternidade é 
largamente praticado, porque em todos os setores surge logo o estímulo ao 
nascimento de muitas criaturas. Como estamos no Ocidente, sem grandes
guerras desde 1945, em nos referindo à vida ocidental propriamente 
considerada, muitas nações estão achando a legalização do aborto um triunfo 
para as nossas irmãs, as mulheres, mas acreditamos que esses países, 
futuramente, voltarão a fazer uma revisão dessa legislação.
Na condição de cristãos, não podemos apoiar o aborto, que seria um crime 
sempre cometido com absoluta impunidade entre as paredes domésticas.
Acreditamos que o anticoncepcional é um recurso que nos foi concedido na 
Terra pela Divina Providéncia para que a delinqüéncia do aborto seja sustada, 
uma vez que a criatura humana, por necessidade de revitalização de suas 
próprias forças orgânicas, naturalmente precisará do relacionamento sexual,
entre os parceiros que estão compromissados no assunto, mas usarão esse 
agente anticoncepcional para que o crime do aborto seja devidamente evitado 
em qualquer parte do mundo.
Mais hoje, mais amanhã, as nações entrarão em acordo a esse respeito, 
porque não é possível que estejamos exterminando crianças absolutamente 
personificadas, formadas, vivas, com o apoio das autoridades que nos 
governam. É absolutamente impossível aplaudir uma coisa dessas. (junho de
1980)


54- Bebê de Proveta, Escolha de Sexo e Útero de Empréstimo
FW - O que dizer da interferência do homem na intimidade do genes, experimentando desenvolver a vida humana em tubos de ensaio, da seleção e cruzamento em provetas, dos úteros alugados, do desequilibro biológico pela escolha de sexo da futura criança?


Compreendemos que a Ciência, na Terra, dispõe de meios para qualquer 
experimentação nos setores da genética. Os Instrutores Espirituais afirmam, 
entretanto, que esse tipo de experimentação deve merecer o máximo cuidado 
da parte de quantos se encarregam da orientação do mundo. Para evitar 
incursões na teratologia, com evidente menosprezo da personalidade humana;
e afim de coibir abusos que funcionariam em prejuízo do equilíbrio espiritual 
nos grupos sociais da Terra, devemos pedir o amparo da Providência Divina, 
para que a inteligência do homem espere mais alguns séculos afim de entrar 
no assunto. (agosto de 1976)


FW - Ser concebido dentro de uma proveta de laboratório significaria para o nascituro — e ou para seus pais — uma provação a ser aceita e superada?


Consideramos o assunto com sadio otimismo, desde que o óvulo fertilizado 
em proveta, com o apoio de autoridades respeitáveis, para a implantação no 
claustro feminino revele senso de maturidade espiritual na mulher que assume 
a maternidade consciente, em plenitude de responsabilidade entre a vida que
passa a acalentar no próprio regaço. (setembro de 1978)


FW - A circunstância de ser concebido artificialmente, e só dois dias e meio depois ser transportado para o últero materno, significaria para o espírito que vai nascer desse recurso de manipulação científica alguma limitação espiritual para o bebê?

Não vemos qualquer limitação espiritual para o bebê, de vez que o processo 
da reencarnação para o espírito experimenta menos riscos, porqüanto estará 
sob o apoio mais completo da responsabilidade humana.


FW - A fecundação e criação de bebês de proveta em série, quem sabe até em escala industrial, o que representa uma hipótese possível, não trará para a humanidade problemas psíquicos e espirituais de envergadura imprevisível?


A evolução moral dos povos não permitirá a criação de semelhante indústria, ou o homem estará rebaixando o nível de conhecimento superior em que se 
encontra, com perigosos comprometimentos para a humanidade inteira.


FW - Sabendo-se que nada no Universo acontece por acaso, e sim que tudo obedece aos planos e à permissão do Alto, é razoável deduzirmos que os espíritos que devem vir à luz ao nosso Mundo por este caminho são previamente preparados para esta via de nascimento?


Sim, quando a Ciência na Terra, iluminada pela bênção da fé na imortalidade 
puder intervir no auxílio, realmente digno, ao trabalho da genética no campo 
humano, sem nenhuma disposição para extravagâncias e abusos através de 
experimentações absolutamente desaconselháveis, a implantação do óvulo 
fertilizado no claustro da mulher responsável evitará muitos desastres na 
reencarnação, especialmente os que se referem ao aborto sem justificativas.


FW - Quais, então, são os perigos presentes e futuros que essa manipulação dos gens pode gerar à vida nos dois planos da matéria?


O materialismo inteligente e cruel, sem qualquer idéia de Deus e da 
imortalidade da alma, é o perigo que ameaça a manipulação dos recursos 
genéticos sem responsabilidade, mas devemos confiar nos homens de bom 
senso e de espírito humanitário que, através das legislações dignas, podem e 
devem coibir quaisquer abusos suscetíveis de aparecer no campo das 
pesquisas de caráter delituoso e inconseqüente. Confiemos no amparo e na 
inspiração dos Mensageiros do Cristo, em auxílio das coletividades humanas.
(Respostas de Emmanuel)


55-Mãe de Aluguel
FW - Aluguel de úteros maternos é uma realidade a ser alcançada
brevemente por cientistas e pesquisadores.
Procede mal uma mulher que, por necessidade econômica e material, alugue seu útero para a gestação de um óvulo fecundado que não lhe pertence? Tal subterfúgio ou recurso extra não traria conseqüências ao nascituro?

As mães incapazes de amamentar os próprios filhos recorrem aos préstimos 
de companheiras que as assessoram nesse mister ou aproveitam outros 
recursos para a alimentação dos recém-natos. Quando a mulher se dispõe a 
ser mãe, consciente e digna do elevado encargo de se responsabilizar por 
determinadas vidas, sem possibilidades próprias para isso, julgamos justo que 
uma companheira, se possível, tome a si o trabalho de gestar, em favor dela, o 
filho ou os filhos que essa mulher digna da maternidade consciente se propõe 
receber nos próprios braços.


FW - Transgredirá a lei moral de Deus a mulher solteira que queira ter filhos sem o intercurso sexual com seu companheiro masculino, ou seja, engravidando através da inseminação artificial?


No caso, o problema é estritamente de natureza consciencial. (setembro de
1978)


MN - Quando a mãe de aluguel dá à luz uma criança deficiente e a mãe que a encomendou não a aceita, como resolver o impasse do ponto de vista legal e espiritual? Nesse particular, a adoção deve ser incentivada, tendo em vista o número de rejeições constatadas, isto é, a devolução das crianças adotadas?


O assunto nos parece demasiadamente complexo, porque se assumo 
determinado compromisso, a meu ver, não deve existir algo que me impeça a 
obrigação de cumpri-lo.
Não entendo rejeição, em matéria de dever voluntariamente procurado ou 
aceito. Diante, porém, da insegurança compreensível de muita gente, que 
vacila ante os resultados das próprias escolhas, cremos que a Justiça entrará 
na solução dos problemas em foco, afim de que ninguém faça a alguém 
joguete dos caprichos a que se afeiçoem. (novembro de 1983)
Do livro “Lições de Sabedoria 

Entrevistando Chico Xávier ( continuação)"Educação e Religião,Crianças,filhos adotivos."

42
Lenda Hindu
Ao final da sessão em que o médium Luiz Antonio Gasparetto, em transe,
pintou telas com assinaturas de Picasso, Manet, Modigliani, Tissot, Delacroix,
Van Gogh e vários outros, Chico Xavier submeteu-se a uma espécie de
sabatina acessível às centenas de pessoas presentes à reunião do Grupo
Espírita da Prece.
Por exemplo, discutia-se o problema de meninos integrantes de lares bem
postos que cedo se mostram ineducáveis, seduzidos por viciações e estilos de
vida que por vezes os levam ao suicídio entre a idade de 12 a 14 anos. Uma
educadora participante fazia colocações do problema abrangendo desde Freud
até as modernas conquistas pedagógicas nesse campo. Depois de ouvi-la,
Chico Xavier, fez o seguinte comentário: Vocês, de certo, conhecem a lenda
hindu do marajá que não permitia fossem contrariados os desejos de seu filho
de seis anos? Não conhecem?
Então vamos lá! Certo dia esse menino manifestou desejo de montar num
elefante, no que foi prontamente atendido pelos servos do poderoso marajá.
Sucedeu que uma vez montado não quis descer do lombo do animal. Os
servos lhe serviram ali mesmo o café e as demais refeições e, à noite, como se
negasse a descer da montaria arranjaram uma cama para que dormisse como
melhor lhe apetecesse. No dia seguinte, preocupado com a permanência do
filho naquela situação, mandou chamar um médico, um psicólogo e um
professor, mas estes não conseguiram que a criança arredasse pé dali.
Finalmente, já aflito, o marajá mandou buscar às pressas um velho tibetano
que vivia na montanha e tinha fama de muito sábio. Ali chegando, o ancião,
inicialmente, pediu uma escada, no que foi atendido. Tendo subido cochichou
meia dúzia de palavras ao ouvido da criança. Foi o bastante para que esta de
pronto descesse do animal. Encantado com o notável feito, perguntou o
marajá: «Mas, afinal, o que é que o senhor disse ao meu filho que fez com que
ele descesse tão depressa?”
‘Disse-lhe” — retrucou o sábio montanhês — «que se não descesse dali
imediatamente iria lhe aplicar uma boa surra de vara”. (FW, agosto de 1976)

43
Diálogo de Amor
FW - Voltando ao problema do jovem - prossegue a educadora —sou a favor
de que se diga a verdade ao adolescente, principalmente quanto ao tóxico. Há
jornais que fazem mal veiculando notícias segundo as quais a maconha não
afeta os tecidos nervosos.
Afirmo que afeta, e muito.
Entendemos que, com esses jovens, está faltando um diálogo de amor. Na
base, porém, é falta de apoio familiar, com raízes na religiosidade. Também
sou a favor de que se diga a verdade aos moços, mas para exemplificar,
estamos numa reunião, o jovem envolvido em tóxicos vem aqui ouve a verdade
sobre as conseqüências do que está fazendo, percebe que realmente tal
prática é um malefício, mas depois sai, chega em casa e encontra a mesma
incompreensão, a mesma falta de apoio. Teria valido só o saber a verdade?
Não esqueçamos que temos responsabilidade nos problemas afetivos que
tenhamos suscitado neles. Todos somos filhos e — 50% — sócios de Deus.
Qwando Jesus disse “Crescei e Multiplicai vos’ não foi só em sentido reprodutivo
mas, também, com vistas ao desenvolvimento das virtudes espirituais. A
paternidade é uma oportunidade evolutiva que a Graça Divina concede às
criaturas. (agosto de 1976)

144
Kramer versus Kramer
MN - O filme Kramer versus Kramer questiona o problema da paternidade e
da maternidade a partir da separação de uma casal e da educação do filho
resultante dessa união. Você acha que a Jurisprudência deveria introduzir
novos critérios nas questões da família e permitir ao pai, em maior número de
casos, ficar com a guarda do filho?
Nós que lidamos com o assunto de reencarnação, somos compelidos a
entender que no espírito feminino ou da criatura que atravessou larga faixa de
séculos no campo da feminilidade, o amor está plasmado para a criatividade
perante a vida.
Por enquanto, eu não posso conceber que no espírito de masculinidade haja
recursos suficientes para que a criação dos filhos ou a condução da criança,
em si, encontre um campo bastante fortalecido para que a criatura se
desenvolva em nosso meio terrestre. Creio que seja uma inversão de valores.
Não posso entender muito bem esta parte, pelo menos para os próximos
anos, porque então teríamos de educar a mulher para ter as atividades do
homem e educar o homem para ter as atividades da mulher o que seria um
contra-senso, sobretudo se fôssemos exigir isso de um momento para outro.
(junho de 1980)

WAC - Márcia, a mulher vem buscando, seguidamente, a sua independência,
tendo surgido com isso, certos movimentos feministas. Você tem
conversado alguma coisa com Chico Xavier quanto a esses movimentos?
Márcia - Algumas vezes conversamos a este respeito, e o que ele retratou
através de suas respostas foi que a mulher tem um papel muito importante,
assim como o homem, no desenvolvimento da própria sociedade. Que ela tem
sua função dentro do lar e mesmo no campo da vida profissional, sempre
caminhando ao lado do homem, para que, realmente, possa se efetivar um
progresso maior. E, ainda, que o verdadeiro feminismo é aquele da
maternidade, da mulher procurar se colocar na condição de um espírito no
mundo, servindo como tarefa maior na sua missão dentro da família.
(Entrevista em julho de 1990)

145
Mais Assistência à Criança
MN - Foi feito um simpósio em São Paulo cujo tema central foi A Morte e
suas diferentes interpretações quanto ao caminho a seguir após a sua
inexorável ocorrência. Dizem que o fluxo foi enorme, sobretudo de jovens.
Você não vê nesses assuntos todos uma ligação comum: a criança precisa ser
melhor alertada quanto à sua verdadeira destinação na Terra?
A criança precisa de mais assistência na Terra, isto é afirmação inegável em
quaisquer das áreas da evolução terrestre. Quanto aos problemas da morte,
creio que as religiões são ainda as melhores escolas para articular as
respostas devidas sobre o tema, porque a morte é um fenômeno da vida que
exige o máximo de responsabilidade para ser tratada com acerto. (março de
1983)

46
Crianças Desequilibradas
Geraldo Lemos Neto - Chico, temos visto muitas crianças sendo
encaminhadas às reuniões de tratamento desobsessivo. Que fazer diante deste
problema, cada vez mais freqüente?
Os Amigos Espirituais nos tem falado amiúde acerca da questão da criança
em desequilíbrio, o que demanda larga dose de compreensão e carinho da
família a que pertença.
Lembram-nos os nossos mentores que em matéria de desajustes infantis o
remédio eficaz será sempre o do acendrado amor dos pais, no recesso do
próprio lar. O amor em família é a construção da harmonia com vistas ao futuro
promissor de cada qual. Desajustes, muitas vezes, nada mais são que o reflexo
da falta de amor nos lares, gerando perturbações.
Ao tratarmos questões como a desobsessão, os Instrutores Espirituais nos
recomendam a utilização cotidiana de bom-senso. E o bom-senso nos indica
que a mente infantil não está preparada para compreender os complexos
fundamentos de uma reunião de desobsessão; que provavelmente as crianças
se impressionariam de maneira contraproducente se freqüentassem estes
serviços espirituais.
Então, se os pais não estão com o tempo necessário de dedicação e amor
para com as crianças dentro do próprio lar; se, por outro lado, não convém à
mente infantil em desajuste freqüentar as reuniões de desobsessão, logo,
devemos suplicar à bondade infinita de Deus que inspire aos trabalhadores das
casas espíritas dedicados à evangelização infantil, que organizem em seus
quadros de serviços reuniões apropriadas ao amparo e ao acolhimento de
crianças desajustadas. Reuniões específicas para a mente infantil, que
funcionariam vinculadas aos núcleos ativos de desobsessão do centro.
Reuniões intermediárias de socorro e esclarecimento evangélico. Esta
colaboração poderia trazer muitos benefícios em favor da tranqüilidade familiar.
(outubro de 1991)

47
Ensino da Religião
Chico Xavier escreve aos amigos do Instituto Espírita de Educação de São
Paulo:
Muito me alegram as notícias das belas realizações do Instituto Espírita de
Educação, que os estimados companheiros estão sustentando com tanto valor.
Entendo que, sem educação, todo o nosso esforço será sempre aquele das
iniciativas, por vezes admiráveis, das palavras e dos gestos exteriores
respeitáveis e nobres na obra do bem que acabam comumente entre a
ineficácia e o desencanto. Com a educação, porém, o serviço do bem assume
as suas características de eternidade.
Prosseguindo, pondera: Pensei muito no que me conta a sua bondade,
acerca do Externato Hilário Ribeiro, fundado para representar a missão de
escola-modelo do instituto. Guardo a certeza de que vocês saberão mantê-la
no elevado nível para que foi criada e ainda ontem, ouvindo o nosso abnegado
Emmanuel, disse-me ele que vocês permanecem sob esclarecida assistência
espiritual em andamento.
Consultado acerca do ensino espírita no Instituto, Chico expressa assim o
seu anseio:
Diante, contudo, de sua manifestação clara e sincera para comigo e na
condição de servo e aprendiz dos companheiros de São Paulo, que me
habituei a querer e a admirar profundamente, medito no que poderá suceder,
amanhã, se a escola-modelo do Instituto omitir, deliberadamente, o ensino da
Doutrina Espírita à infância. Nossos benfeitores espirituais costumam dizer-me
que o Evangelho do Senhor e o tesouro das bênçãos divinas que nos investirá
na posse do Céu em nós mesmos, e que a Doutrina Espírita é a chave que
Jesus nos envia para penetrar-lhe a Glória e a riqueza, entrando na luz da vida
eterna. Se negamos aos pequeninos, filhos de espíritas ou não, numa escolamodelo
espírita, essa chave do Senhor que é a Doutrina Espírita, não será o
caso de estarmos em simples acomodação social, prosseguindo nos velhos
moldes do verniz para a inteligência com descaso do coração? Falamos
habitualmente que formaremos alicerces evangélicos no espírito da
fraternidade cristã dentro da escola, mas não socorremos a alma da criança
com o conhecimento justo.
Claro que não me refiro a cursos minuciosos para os meninos, mas às
noções de nossa redentora Doutrina, como seja a sobrevivência além da
morte, a comunicação espiritual e a reencarnação que, a meu ver, assimiladas
na infância, fortalecem a criatura para todos os dias da existência.
Tenho a escola como sendo nossa mãe. E aquilo que verte do coração
maternal é luz para todos os filhinhos. Assim sendo, com todo o meu respeito a
vocês, creio que a Doutrina Espírita, em noções simples e leves, deve ser
ensinada a todas as crianças e aquelas que não desejam recolher esse
alimento de luz, naturalmente devem ser livres para se retirarem sem qualquer
constrangimento.
Não emito essa opinião por fanatismo religioso. Tenho a felicidade de
possuir afeições nos mais vários setores de fé, inclusive a de contar com a
amizade de padres católicos e pastores protestantes, a quem respeito e estimo
com muito prazer, veneração e sinceridade.
Entretanto, eu faltaria com a minha consciéncia se não conversasse com o
querido amigo, sobre o assunto, com a lealdade que lhe devo, reconhecendo
embora que os amigos do instituto, atentos a circunstáncias que ignoro,
saberão conduzir a escola com a bênção de Jesus para os mais altos destinos.
Redobremos os nossos esforços, a fim de que, numa ação conjunta, possamos
resolver o mais momentoso problema doutrinário, introduzindo nas nossas
escolas, sem espírito sectário, o ensino da Religião como matéria de cultura
geral, à semelhança do que se faz com a Ciência e a Filosofia, sem o que não
podemos atender aos reclamos do transcendente da criatura, comprometendo,
portanto, a sua educação integral.

48
Uma Orientação sobre Filhos Adotivos
Há pouco tempo, depois de uma palestra, uma senhora me procurou para
expôr o seu problema. Não pudera gerar seus próprios filhos e, em
conseqüência, adotara três lindas crianças.
Ninguém, a não ser o médico pediatra conhecia o problema; nos éramos a
segunda pessoa com quem conversava abordando o assunto que a
preocupava muito.
Durante a sua narrativa percebemos o imenso amor pelas crianças; de
quando em vez, seus olhos marejavam. Contou que seu esposo era excelente,
um verdadeiro pai também para as duas garotas e o robusto menino. Os três
foram adotados quando ainda contavam poucos dias.
Conversamos com ela longamente, dando-lhe as explicações espíritas de
praxe, alicerçadas na reencarnação e na lei de causa e efeito. De nossa parte,
comovidos, dissemos a ela que não se precipitasse nada, porqüanto ela estava
em dúvida se dizia ou não a verdade para os filhos.
Sentimos que ela era muito mais mãe deles do que as que puderam gerá los.
No final falamos com aquela senhora que, se surgisse oportunidade,
procurariamos ouvir nosso irmão Chico sobre o assunto.
Num sábado à noite, no Grupo Espírita da Prece, após as tarefas habituais,
expusemos para ele o caso. Depois de ouvir-nos, foi claro em dizer que ela
deveria revelar para as crianças a verdade, porqüanto não conhecia ninguém
que sabendo de tudo depois de crescido não se revoltasse; a idade infantil —
os três irmãos têm idades que variam de seis a oito anos — era propícia,
favorável.
Mas diga a ela, Baccelli — prosseguiu Chico — que tem que ser com muito
amor, muito carinho. Se um animal nos atende quando nos dirigimos a ele com
amor, quanto mais um ser humano! Diga a ela para reuni-los, orar com eles e
dizer que gostaria muito que tivessem nascido dela, mas que Deus resolveu
diferente.
Sim, quantos ficam sabendo depois de adultos — e não há nenhum que não
fique sabendo — a verdade a respeito de suas origens e se rebelam, saem de
casa, causam desgostos, procuram as drogas, quando não o suicídio.
Ao contrário, contando a verdade, as crianças crescem com reconhecimento,
estima, gratidão e compreensão.
Quando não se conta, arrisca-se a ver o amor transformar-se em inexplicável
aversão; quando se diz a verdade, o máximo que pode acontecer é ter os
nomes de “pai” e “mãe” substituidos por “tio e “tia”.
Aquela senhora daria a vida pelos seus filhos adotivos, mas temos certeza
que ela compreendeu e, com a revelação, surgiu um relacionamento muito
mais forte, muito mais sadio, consciente, entre ela e os meninos.
Esconder a realidade é trair-lhes a confiança, e poucos entenderão que tal foi
feito por muito amor. Mas há também os que ocultam por preconceito, por
vergonha de não terem podido gerar seus próprios rebentos.
Aqui a culpa, se é que podemos classificar a atitude de culpa, é maior,
porqüanto pensou-se mais em si do que nos filhos, no trauma que mais tarde
poderia vir a pesar-lhes nos ombros. Enfim, a verdade deve ser dita mas com
amor; verdade dita com carinho nunca magoa ninguém.
Estamos escrevendo enfocando o tema porque sabemos que por aí afora
existem centenas de pais vivendo drama semelhante; o período infantil é o
mais propício à revelação.
Escreveu o célebre Gibran: “Os filhos vêm através de vós, mas não vêm de
vós...”. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, lemos:
“O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito” , quer
dizer: Pai mesmo só Deus o é.

Nossos filhos não são nossos filhos, são, antes, irmãos. Os corpos que têm é
que são filhos dos nossos corpos, mais nada.
E, depois, o que é mais importante: os filhos consangüíneos ou os filhos do
coração? Os chamados filhos adotivos são os do coração; estão unidos a nós
por indestrutíveis laços espirituais.
É puro convencionalismo humano o que nos leva a classificá-los de adotivos;
somos todos adotivos uns do outro.
É preciso contar a verdade, para não chorar depois, ou vê-los chorar mais
tarde, perdendo a confiança, sentindo-se abortados do nosso carinho. (agosto
de 1983)

49
Ano Internacional da Criança
Na tela imensa da História,
A Era Cristã se eleva
Por luz num trono de treva
Sobre trágico estopim,
O mundo traz na memória
O terror da força bruta,
Vinte séculos de luta
Entre Jesus e Caim.
Depois de trezentos anos
De sacrifícios pungentes,
Os cristãos puros e crentes
Altearam-se em valor;
Aderindo aos novos planos
Da argúcia de Constantino,
Mudou-se-lhes o destino
Ao pulso do Imperador.
Desde o encontro de Nicéa,
A Cristandade partida
Na vivência dividida,
Por vezes, perde a razão;
Nas divergências de idéia,
Olvida ensinos e luzes
E explode em crises e obuses
Rugindo condenação.
Nos chamados Tempos Novos
Da cultura de alto nível,
A guerra, — loba terrível,
Parece oculta no ar.
Na trilha dos grandes povos,
Clama o Progresso: — “ao Porvir”!...
Pede o ódio: — “destruir”,
E o Tempo roga: — “Marchar”!...
O mundo atônito avança,
A Ciência vai à Lua,
O cérebro continua
Colecionando lauréis;
Nas almas, a insegurança
Gera conflitos violentos,
Nos países—armamentos,
Nos Lares — provas cruéis.
Na bárbara desavença,
A Criança vem à vida
117
Muitas vezes esquecida
Em lúgubres escarcéus.
Hoje, — Infância que não pensa
Atirada à indisciplina,
Amanhã, — queda e ruína
No abismo dos grandes réus.
Multidões gritam nas praças
Protestos, lutas e esquemas,
Apresentando os problemas
A que o Homem se conduz,
Indagam nações e raças:
“Antes que a Paz surja tarde,
Que gênio nos tome e guarde?”
Responde o Brasil: “Jesus”!
Castro Alves (novembro de 1979)

Lições de Sabedoria
Marlene Nobre

Entrevistando Chico Xavier:SÉTIMA PARTE - SEXO E RESPONSABILIDADE: CASAMENTO, ENCONTROS E DESENCONTROS

FW - O próprio Cristo revelou-nos que João Batista era a reencarnação do
profeta Elias.
Registra a Bíblia que Elias mandara degolar diversos filisteus. Sabemos
também que João Batista foi degolado a pedido da mulher de Herodes,
Herodíades e sua filha Salomé. Jesus amava João Batista, mas de qualquer
forma a lei cármica — causa e efeito, crime e castigo, — funcionou também
para o anunciador dos Novos Tempos. É assim que a morte de João Batista
deve ser interpretada?
Antes de responder por escrito, Chico faz um breve comentário:
Observe que após a morte de Batista, que entristeceu ao Mestre, Jesus
prefere não mais falar no Precursor. Por quê? Se João Batista tivesse se
encomendado à Misericórdia Divina e não só à Sua Justiça é bem possível que
outro teria sido o seu fim.
Todos nós, inferiores ou evoluídos, devemos invocar sempre misericórdia,
que é amor sublime. Em seguida toma do lápis e registra o seguinte: Conforme
ensinamentos da Espiritualidade Superior, sempre que estejamos em função
da justiça devemos exercê-la com misericórdia. Cremos sinceramente que
João Batista, o Precursor, era Elias reencarnado. O respeito devido ao
Evangelho não nos permite anatomizar o problema da morte de João Batista.
Mas perguntamos a nós mesmos, na intimidade de nossas orações, se ele não
se teria exonerado do rigor do carma, caso agisse com misericórdia no
exercício do que era considerado de justiça para a família de Herodes. É um
ponto de minhas reflexões na veneração com que cultivo o amor pelos vultos
inesquecíveis do Cristianismo. (FW, julho de 1976)
==================================================================
Família
FW - Como devemos entender a expressão “almas gêmeas” dentro da
conceituação de que os espíritos não têm sexo?
Diz «O Livro dos Espíritos” que os espíritos não possuem sexo como
entendemos na Terra, mas percebamos “como entendemos”, de vez que, do
ponto de vista da comunhão das criaturas, cada qual no corpo ou fora do corpo
tem o magnetismo que se lhe faz peculiar. A saudade de alguém é a fome do
magnetismo desse alguém (grifo do entrevistador), razão pela qual o amor
é uma lei para nós todos, mas as ligações afetivas são conexões particulares,
em vista da comunhão das pessoas umas com as outras no curso do tempo e
na construção dos ideais que lhes são comuns. (janeiro de 1977)
ME - Do ponto de vista espiritual como definir o lar e a família?
Outra afirmativa de nosso Emmanuel é de que o lar é uma bénção de Deus
para os homens e de que a família é uma criação dos homens onde eles
podem servir a Deus, desde que aceitem com amor o sacrifício e a renúncia, o
trabalho e o serviço por alicerces de nossa felicidade em comum. (julho de
1974)


ME - Qual o mecanismo ideal para atingir a paz e a segurança entre os
familiares vinculados à mesma casa e ao mesmo nome?
Cremos que este problema será perfeitamente solucionado quando esquecermos
a afeição possessiva, a idéia de que somos pertences uns dos
outros, quando nos respeitarmos profundamente, cada qual procurando
trabalhar e servir, mostrando sua própria habilitação, o rendimento de serviço
dentro da vocação com a qual nasceu, dentro do lar, respeitando-se uns aos
outros.
Desse modo, com o respeito recíproco e o amor que liberta, o amor que não
escraviza, o problema da paz em família estará perfeitamente assegurada na
solução devida. (julho de 1974)

40
Namoro e Noivado
ME - Por que motivo casais que noivavam apaixonadamente experimentam
a diminuição do interesse afetivo nas relações recíprocas, após o nascimento
dos filhos?
Grande número dos enlaces na Terra obedecem a determinações de resgate
escolhidas pelos próprios cônjuges, antes do renascimento no berço físico e
aqueles amigos que serão filhos do casal, muitas vezes transformam ou,
melhor, omitem as dificuldades prováveis do casamento para que os cônjuges
se aproximem segundo os preceitos das leis divinas e formem o lar,
transformando determinadas dificuldades em motivos de maior amor, de
compreensão maior.
O namoro, o noivado, muitas vezes, estão presididos pelos espíritos
familiares que serão os filhos do casal. Quando esses mesmos espíritos se
transformam em nossos filhos parece que há diminuição de amor, mas isso
não acontece. Existe, sim, a poda da paixão, no capítulo das afeições
possessivas que nós devemos evitar. (julho de 1974)


ME - Os casais que experimentam menos interesse afetivo em torno das
relações mútuas após a chegada dos filhos devem continuar unidos mesmo
assim?
Os nossos amigos espirituais explicam que ninguém pode exigir de alguém
espetáculos de grandeza e que determinadas situações heróicas podem ser
abraçadas pela criatura humana, mas tanto quanto possível por amor aos
filhos. Por amor aos nossos familiares devemos sofrer qualquer espécie de
dificuldade para sustentar a família e resguardar a invulnerabilidade do lar,
porque muitas vezes nos sacrificamos de modo absoluto em grandes avais
para os quais não estamos preparados, em favor de nossos amigos, por que é
que não podemos também sofrer ou lutar por amor aos nossos filhos, aos
nossos descendentes? É uma pergunta a nós todos. (julho de 1974)


FW - A propósito, há casais que têm afinidades espirituais mas não se
acertam em termos de conjugação amorosa. Esta última, por si só, é motivo
suficiente para separação, para desquite do casal?
O assunto implica problemas de consciência pertinentes a cada um. De
nossa parte, consideramos que compromisso traduz débito, livremente
assumido, e qualquer débito pode ser adiado no resgate, segundo as
condições dos devedores, mas será sempre trazido pela contabilidade do
tempo à consideração dos responsáveis para ajusta liquidação. (outubro de
1976)

41
Divórcio, Dificuldades no Relacionamento

ME - Chico Xavier, os espíritos amigos apresentam algum ponto de vista
sobre o divórcio no Brasil?
Allan Kardec no capítulo 22 de «O Evangelho Segundo o Espiritismo”
assevera que o divórcio é uma lei humana que veio consagrar determinada
situação já existente entre os cônjuges. Do ponto de vista humano
naturalmente que seria crueldade fugirmos da possibilidade do divórcio em
determinadas situações da vida e em determinados setores de nossos
problemas, quando estamos certos de que as organizações bancárias do
mundo nos concedem reformas e determinados prazos para resgate de certas
dívidas.
Mas, devemos estar igualmente conscientes de nossa situação no Brasil e
podem os perfeitamente reconhecer que ainda estamos imaturos para receber
o divórcio da magnanimidade da nossa Justiça porque somos um pouco
jovens. Precisamos habilitar a consciéncia coletiva para uma conquista de
tamanha expressão na vida da criatura e na vida planetária. (julho de 1974)


ME - Chico, esta é uma pergunta ligada à anterior e foi formulada pela
direção do jornal “5 de Março”: Qual a posição do Espiritismo em relação ao
divórcio?
Retornamos apalavra a Allan Kardec em “O Evangelho Segundo o
Espiritismo “. No capítulo 22 Kardec assevera que o divórcio vem consagrar
uma situa ção já existente, mas não podemos deixar de apresentar uma
ressalva, quanto a nós outros em nosso país, que estamos procurando Jesus.
Nós queremos Nosso Senhor Jesus Cristo e devemos esperar e trabalhar
muito para que a compreensão e o amor reinem sobre nós todos, a fim de
aguardarmos uma realização como esta, embora sob o ponto de vista humano,
do ponto de vista da humanidade, em geral, o divórcio é uma lei
compreensível.
Devemos entender que em efetuando casamento, cada um de nós não está
criando uma união de anjos e sim um ajuste respeitabilíssimo de criaturas
humanas em que um e outro cônjuge apresentam determinadas nuances de
incompreensão, às vezes de grandes dificuldades, que devem ser
compreendidas pela outra parte no campo das relações recíprocas. (julho de
1974)

* * *
Parece que a vida entre um desquitado e um solteiro é normal, no mundo
evoluído de hoje, mas não o é, pois, socialmente, o preconceito existe; aquele
mesmo que faz o missivista misturar as tiranias dos homens com pretensas
determinações de Deus. Nas relações sociais, familiares, nos assentamentos
dos clubes recreativos, nas justificações tributárias, nas inscrições, nos títulos,
nos documentos pessoais, tudo é difícil aos que se unem, sob a égide do amor,
para ensaiarem uma nova vida. Quando, então, estes “marcados” vão
matricular os seus filhos nos estabelecimentos escolares, é que sentem o peso
de uma pena, por sinal, “imprescritível” e que cruelmente atinge seres
inocentes, que nada têm a ver com o peixe.
Talvez seja por isso que, através de Chico Xavier, num Pinga-Fogo célebre,
as vozes do Alto se fizeram sentir através deste “baba”, na expressão de
Bannerjee, respondendo aquele médium a uma pergunta formulada pelo nobre
deputado federal, Freitas Nobre: Nós que vivemos hoje em dimensões tão
grandes de compreensão humana, consideramos o divórcio como medida
humana, legítima, porqüanto «dói ao nosso coração” quando ouvimos, nas
palavras públicas de nossos grandes magistrados, a palavra, desculpem-me, a
palavra «concubina’ para designar senhoras distintíssimas... E Chico Xavier,
depois de outras considerações, obtemperou: Peçamos a Deus que as nossas
autoridades possam ouvir os nossos sentimentos... Nós vamos esperar que dia
melhores venham para a família brasileira, e que o divórcio possa ser
consagrado, por nós todos, como medida humana...
Chico Xavier, com aquela sua ímpar humildade, no fim fez um apelo à Igreja:
Por isso mesmo, fazemos votos para que o Soberano Ponttfice, que nós
tratamos com a máxima veneração e que suas eminências, os senhores
arcebispos e bispos do Brasil, possam também abençoar estes “nossos
ideais”para que o divórcio venha tranqüilizar tantos que necessitam de
semelhante medida... (Mario B. Tamasia, abril de 1975)
* * *
Uma senhora trajando costume cinza indaga do médium o que deveria fazer
alguém que, amando muito o esposo, fosse por este preterida em favor de
outra?
Minha irmã, na vida tenho amado entranhadamente pessoas que me
abandonaram sem que, pelo menos, me dissessem o porquê. Se eu tivesse
perdido essas pessoas por morte, não resistiria. Mas como os motivos foram
outros, na própria frieza ou indiferença a que me relegaram encontrei forças que
me reconduziram à recuperação, convidando-me a prosseguir a luta pelo
equilíbrio restaurador. No decorrer da existência, assim como há encontros que
são reencontros, há encontros que são dolorosos desencontros. (FW, agosto
de 1976)

Encontro pela Paz -Vibrações negativas (inveja) de outras pessoas podem
destruir a união de um casal?
Quando o casal não está ligado por afinidades espirituais ou quando a união
esponsalícia não se baseia no espírito de responsabilidade ante os
compromissos assumidos, qualquer pequena perturbação pode ser utilizada
por motivação a conflitos e separações que, na essência, não mostram razão
de ser. (MN, outubro de 1983)

* * *
Nair Belo e Hebe Camargo lembraram a incompatibilidade entre os casais. O
que poderia ser feito para acalmar tais situações?
O médium lembrou a terapêutica através da imunização espiritual. A palavra
deve ser centralizada no bem. Se não falarmos no erro ele não vai adiante.
Devemos ser as estações terminais de toda fofoca.
Chico lembrou o caso do moço João de Deus que recebeu uma carta, por
seu intermédio, da esposa, inocentando-o de toda a culpa porque ele era
acusado de tê-la assassinado. Eles tinham vindo de uma festa há 6 ou 8km de
sua casa e ao regressarem, já no aposento de dormir, uma bala disparada
acidentalmente quando o marido tirara o cinto com o revólver, atingira-a em
cheio.
.Ela pedia a Jesus a oportunidade de escrever para que os jurados e o juiz a
ouvissem. Ela desejava que ele fosse feliz no segundo casamento com o
filhinho que Deus lhe enviara e que ela não pudera lhe dar. E realmente o
moço foi inocentado pelo tribunal. (MN, janeiro de 1986)


Livro: Lições de Sabedoria.
Marlene Nobre

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Por que Sofremos?


De Saulo a Paulo de Tarso- Palestra : Raul Teixeira


Entrevista com Divaldo Franco - Primeira parte



A revista eletrônica “O Consolador”, redigida especialmente para circular na internet, ofereceu ao jornal “Mundo Espírita”, na íntegra, a entrevista concedida pelo médium e conferencista Divaldo Franco, por ocasião do primeiro aniversário da Revista. É a soma dos esforços de líderes espíritas de todo o Brasil, entre eles José Passini, Ricardo Baesso de Oliveira, Arthur Bernardes de Oliveira, Jorge Hessen, José Carlos Munhoz Pinto, Orson Peter Carrara e Astolfo O. de Oliveira Filho, todos residentes no Brasil, e as confreiras Elsa Rossi, Claudia Werdine e Kátia Fabiana Fernandes, radicadas na Europa.

A entrevista foi dividida em três blocos: temas de natureza doutrinária, questões e problemas da atualidade e assuntos pertinentes ao Movimento Espírita. Neste número, publicamos a primeira parte e, no número de agosto próximo, a parte final.

Ei-la, a seguir, na íntegra:

O Consolador – Nossos animais de estimação ficam por algum tempo numa espécie de erraticidade, no chamado mundo espiritual, ou são de imediato encaminhados a uma nova encarnação?
O egrégio Codificador do Espiritismo informa-nos que o período em que os animais se demoram na erraticidade é breve, logo retornando à reencarnação. Nada obstante, a mediunidade vem demonstrando que ocorrem períodos mais longos, conforme encontramos narrações nas obras ditadas pelo Espírito André Luiz ao venerando médium Francisco Cândido Xavier, assim como Charles à nobre médium Yvonne do Amaral Pereira. Essas informações não colidem com a palavra do mestre de Lyon, porque o desdobramento dos estudos doutrinários estava previsto por ele, ampliando as informações contidas nas obras básicas.

Recordo-me, por exemplo, de Sultão, o cão que acompanhava o padre Germano, conforme narrado nas Memórias do Padre Germano, de Amália Domingo Soler, e da vida de Dom Bosco, que era defendido por um cão, nas diversas vezes em que atentaram contra a sua vida.

Pessoalmente, já tive diversas experiências com animais, especialmente cães desencarnados, que permanecem na erraticidade há algum tempo.

O Consolador – Para haver gravidez, independentemente do desejo dos pais e do reencarnante, existe necessidade de autorização das autoridades espirituais?
Certamente que sim, porquanto no mapa da reencarnação dos futuros pais já se encontram delineados os filhos que devem, que podem ou que queiram ter. Graças a isso, ocorrem as facilidades na concepção ou os grandes impedimentos que vêm sendo vencidos pela ciência, através dos tempos, facultando a ocorrência, sempre sob supervisão espiritual.

O Consolador – Você acha válida a proposta de Kardec pertinente à atualização periódica dos ensinamentos espíritas, tendo em vista o avanço da Ciência? Se acha válida, como devemos implementar essa medida?
Creio que o pensamento do preclaro Codificador encontra-se firmado no seu bom senso e na percepção dos notáveis avanços que teriam a ciência e a tecnologia do futuro, conforme vem ocorrendo. Em razão disso propôs que, pelo menos uma vez em cada quarto de século, fosse realizada uma atualização dos ensinamentos espíritas. Nada obstante, também me pergunto como isso seria realizado, por exemplo, na atualidade, com tantas correntes dissonantes em nosso Movimento, pelo menos no Brasil...

O Consolador – Em sua opinião, os Espíritos desencarnados mantêm relações sexuais tal qual se verifica na crosta?
Conforme a questão nº 200 de O Livro dos Espíritos, o Espírito é, em si mesmo, assexuado, sendo-lhe a anatomia uma contribuição para o fenômeno da procriação. Ao desencarnar, no entanto, o Espírito mantém as suas tendências, especialmente aquelas de natureza inferior às quais aferrou-se em demasia, prosseguindo com as construções mentais que lhe eram habituais. Como resultado, acreditam-se capazes de intercursos sexuais nas regiões inferiores onde se encontrem, como efeito da condensação das energias viciosas no perispírito. Frustrantes e perturbadoras, essas relações são degradantes e afligentes, porquanto são mais mentais que físicas, dando lugar a processos de loucura e de perversão...

O Consolador – Como deve posicionar-se um casal espírita diante do diagnóstico de anencefalia no filho que se encontra na fase de gestação.
Espírita ou não, o casal que gera um filho anencéfalo e cuja anomalia é detectada ainda na vida fetal, deve amar a esse Espírito que irá reencarnar-se com a problemática a que faz jus em razão de atos praticados anteriormente e que lhe modelaram a forma atual. A vida fetal não pode ser interrompida, senão quando a gestante encontra-se ameaçada.

Diversos anencéfalos, mesmo diante dos prognósticos médicos de que não sobreviveriam ao nascimento, demoram-se despertando mais amor até o momento em que concluem o período de que necessitam para a libertação.

O Consolador – Qual deve ser, à luz do Espiritismo, a posição de uma jovem e sua família diante de uma gravidez originada de um estupro?
Embora lamentável e dolorosa a circunstância traumática da ocorrência, é dever da jovem e dos seus familiares manterem a gravidez, auxiliando o Espírito que se reencarna em situação aflitiva e angustiante. Compreende-se a dor da vítima e dos seus familiares, no entanto, não se tem o direito de matar o ser reencarnante que necessita do retorno naquela maneira, a fim de crescer para Deus. Não raro, esses seres que renascem nessa conjuntura tornam-se amorosos e profundamente agradecidos àqueles que lhe propiciaram o recomeço terrestre: a mãe e os familiares.

O Consolador – Como sabemos, a depressão é um problema que aflige muitas pessoas nos dias atuais. Em uma obra espírita recente lemos que a depressão, em qualquer de suas variantes, é sempre conseqüência da posição de arrogância cultivada pelo ser na aventura de superar a si mesmo e aos semelhantes. É verdade essa informação?
Sem dúvida, anuímos que não há enfermidades, mas enfermos, isto é: o Espírito é sempre o incurso no processo de evolução, trazendo as marcas do passado que se manifestam como enfermidades ou processos outros degenerativos de que necessita para resgatar os comportamentos equivocados e infelizes. A culpa, consciente ou não, desempenha na depressão, entre outros fatores endógenos e exógenos, um papel de alta relevância. No entanto, centrar todas as causas na posição de arrogância do Espírito parece-me algo desproposital. Esse conceito deve ter as suas raízes na opinião dos estudiosos que afirmam tratar-se a depressão de um conflito que se deriva da necessidade de impor-se, de dominar, e, não conseguindo, o indivíduo tomba na armadilha do grave transtorno.

O Consolador – Se é verdade que o advento do mundo de regeneração está tão próximo, qual será a situação dos nossos amigos terrenos que ainda vivem tão primitivamente em tribos existentes em muitos lugares do mundo?
É verdade, sim, que o advento do mundo de regeneração está próximo, mas não imediato, e aqueles Espíritos que ainda se encontram em fase primitiva estão tendo a oportunidade de despertar para a realidade, dando continuidade ao processo evolutivo em outro planeta, caso não logrem fazê-lo aqui mesmo, qual ocorre periodicamente com as grandes migrações de um para outro sistema, conforme ensina a Doutrina.

O Consolador – Se a Terra está em evolução, por que ainda tantos crimes hediondos acontecem, especialmente com crianças? Como explicar tantas atrocidades?
Vivemos o momento da grande transição de mundo de provas e de expiações para mundo de regeneração, que ainda se demorará ocorrendo por algum tempo na Terra.

É natural que estejam reencarnando, neste período, Espíritos inferiores que estavam retidos em regiões punitivas desde há muito, em face da crueldade de que são portadores. Muitos deles fizeram parte das tribos bárbaras que invadiram a Europa: hunos, godos, visigodos, normandos e que, agora, estão sendo beneficiados pela oportunidade de optar pelo Bem. Permanecendo vinculados ao primarismo em que se comprazem, serão exilados para outros planetas na escala dos mundos inferiores, a fim de se depurarem, retornando oportunamente, porque “o Pai não deseja a morte do pecador mas sim a do pecado”, conforte acentuou Jesus.

As atrocidades que sucedem amiúde, especialmente com crianças – Espíritos velhos em reencarnação libertadora – são também um convite à reflexão das demais pessoas, que marcham indiferentes aos acontecimentos dolorosos em relação ao seu próximo...

Resgatando os seus graves delitos, esses Espíritos não necessitariam que outros fossem o instrumento da sua libertação, pois a Divindade possui mecanismos especiais que dispensam o concurso desses infelizes, mas se utiliza do seu estado primitivo para que se executem as propostas do progresso.

O Consolador – Como você vê a oficialização do casamento entre homossexuais e a adoção de filhos por parte deles?
A questão é momentosa, em face das ocorrências desse gênero que não mais podem permanecer ignoradas pela sociedade. O homossexualismo sempre esteve presente no processo histórico, aceito em um período, noutro combatido, desprezado em uma ocasião e noutra ignorado, mas sempre presente... Penso que se trata de uma conquista em relação aos direitos humanos a legalização de algo que permanecia à margem, dando lugar a situações graves e embaraçosas.

Quanto à adoção de filhos, penso que, do ponto de vista psicológico, será gerado algum conflito na prole em relação à imagem do pai ou da mãe, conforme o caso, que se apresentará confusa e perturbadora. O tempo demonstrará o acerto ou o equívoco de tal comportamento.

O Consolador – Qual deve ser o posicionamento dos espíritas em relação às pesquisas com células-tronco embrionárias?
A reencarnação, conforme nos ensina a Doutrina Espírita, tem início no momento da fecundação do óvulo, a partir de cujo momento passa a existir vida, seja pelo processo biológico natural, seja in vitro. Qualquer tentativa de interrupção do desenvolvimento do futuro zigoto, que é o ser humano em formação, constitui um crime.

As pesquisas com as células-tronco embrionárias são de resultado ainda incerto, embora se apresentem teoricamente positivas, porquanto não está comprovado que os resultados sejam os anelados, mesmo porque existe alto risco como a geração de tumores, provável rejeição...

Em face dos bons resultados conseguidos com as células-tronco adultas, é mais válido que se prolonguem as experiências, com menores risos e excelentes resultados em doenças como a leucemia, o acidente vascular cerebral, etc.

Continuando os esforços dos pesquisadores, certamente hão de surgir alternativas tão benéficas como as que se esperam das células-tronco embrionárias.

O Consolador – O terrorismo vem causando muitos males em todos os cantos da Terra. Muitas vidas foram e continuarão sendo ceifadas em nome do fanatismo religioso. Como entender que alguém possa morrer e matar em nome de Deus?
Infelizmente, o fanatismo de qualquer natureza responde pela predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual do ser (questão 742 de O Livro dos Espíritos), dando lugar a atrocidades inimagináveis. Entretanto, o suicídio através de bombas e de outras formas hediondas constitui o mais degradante processo de conduta em relação à dignidade humana, porque a vida física é sublime dom concedido por Deus, que ninguém tem o direito de interromper, porque faculta o desenvolvimento intelecto-moral do Espírito.

Tal comportamento demonstra o estágio primário em que ainda se reencarnam muitos Espíritos desvairados sem possibilidade de manter o equilíbrio...

O Consolador – Qual deve ser a atitude dos dirigentes espíritas relativamente a essa enxurrada de obras mediúnicas de origem duvidosa que tem infestado o mercado de publicações espíritas nos últimos tempos?
Vivemos um momento de grandes equívocos na sociedade, em face do tumulto que ocorre em toda parte. Nesse sentido, há uma grande busca por notoriedade, pela fama. Pessoas imprevidentes, portadoras ou não de mediunidade, são tomadas de improviso por tais inquietações e, porque entraram em contato com o Espiritismo, logo se acreditam portadoras de faculdades extraordinárias, em razão do campo fértil para a credulidade e tornam-se, de um para outro momento, psicógrafos, expositores, debatedores de relevo. Nunca será demais que os dirigentes espíritas e todos nós estejamos vigilantes, observando as recomendações da Doutrina, mantendo critérios cuidadosos, a fim de não sermos enganados nem enganarmos a ninguém. Por outro lado, Espíritos perversos, adversários do Bem, aproveitam-se do descalabro existente e inspiram pessoas invigilantes, presunçosas, falsamente humildes, mas prepotentes, tornando-as portadoras de mensagens destituídas de autenticidade, que geram confusão e dificuldades no Movimento Espírita. Alguns desses descuidados irmãos auto-elegem-se herdeiros de personalidades históricas e missionários do amor, utilizando-lhes indevidamente o nome, apropriando-se da sua herança para o exibicionismo no banquete da fatuidade, o que é realmente lamentável.

O Consolador – Como resgatar as velhas e boas sessões práticas de doutrinação de Espíritos desencarnados que tantos benefícios trouxeram a companheiros em dificuldade, na carne ou fora dela, em face da penúria de bons medianeiros com que se vêm defrontando nossos centros espíritas?
Penso que se torna inadiável o dever de voltarmos à simplicidade e à humildade, evitando-se as complexidades que ora se apresentam em torno da mediunidade, exigindo-se estudos úteis, indiscutivelmente, mas que se prolongam por vários anos, evitando-se o treinamento edificante e salutar.

Por outro lado, um expressivo número de pessoas recusa-se a servir de instrumento aos sofredores, aspirando ao contato com os anjos e serafins, sem se recordar de que a mediunidade está a serviço da consolação e da iluminação de consciências.

No silêncio do anonimato nas instituições espíritas, sem alarde nem divulgação, devem ser instalados os grupos sinceros de devotados servidores de Jesus, a fim de trabalharem em favor da doutrinação dos irmãos em sofrimento, por cujo meio ascendemos na direção do Servidor Incessante, que é Jesus.

O Consolador – Como despertar o interesse de jovens e adolescentes para o estudo da Doutrina Espírita?
O Espiritismo é, essencialmente, uma doutrina para jovens e adolescentes, tendo em vista o seu conteúdo iluminativo, de fácil aplicação no cotidiano e libertador de tabus e influências perniciosas. Esclarecendo a mente e confortando o sentimento, o Espiritismo fascina as mentes juvenis, convidando-as a reflexões demoradas e a comportamentos saudáveis.

Infelizmente, o exemplo dos pais no lar, nem sempre compatível com as lições ministradas pela Doutrina Espírita, constitui um grande impedimento para o estudo e a vivência dos postulados espiritistas por esses candidatos juvenis.

Tomando conhecimento da filosofia espírita e da necessidade de aplicação em todos os momentos, os jovens decepcionam-se no lar, quando verificam a diferença de comportamento dos pais, no que se refere àquilo em que dizem crer e a maneira pela qual se conduzem.
Desse modo, o exemplo no lar é de fundamental importância para o despertamento dos jovens e adolescentes para o estudo e a vivência do Espiritismo, ao mesmo tempo em que instrutores jovens e sinceros tornem-se líderes em relação aos demais membros do grupo juvenil.
Fonte: Jornal Mundo Espírita - Julho/2008
 

domingo, 9 de dezembro de 2012

...A abnegação, em toda a parte, é sempre uma estrela sublime. Basta mostrar-se para que todos gravitemos em torno de sua luz...Cap. 16 Débito Alviado .

16 - DÉBITO ALIVIADO
Ação e Reação André Luiz /Chico Xavier

Em nossos estudos da lei de causa e efeito, não nos esqueceremos de Adelino
Correia, o irmão da fraternidade pura.
Na véspera de belo acontecimento que nos permitiremos narrar, visitamo-lo em
companhia de Silas, que no-lo apresentou nas atividades de um templo espírita-cristão.
Ouvimo-lo em preciosos comentários do Evangelho, sob o influxo de
iluminados instrutores, dos quais assimilava as correntes mentais com a docilidade
confiante de um homem profundamente habituado à oração.
Falara com mestria, arrancando-nos lágrimas pela emotividade com que nos
tangia as fibras mais íntimas. Singelamente trajado, denotava a condição do trabalhador
em experiências difíceis. Mas o estágio de prova a que parecia enredar-se era mais
amplo. Adelino revelava longa faixa de eczema na pele à mostra. Certa porção da
cabeça, os ouvidos e muitos pontos da face exibiam placas vermelhas, sobre as quais se
formavam diminutas vesículas de sangue, ao passo que as demais regiões da epiderme
surgiam gretadas, evidenciando uma afecção cutânea largamente cronicificada. Além
disso, acanhado e tristonho, indicava tormentos ocultos a lhe dominarem a mente.
Contudo, trazia nos olhos, maravilhosamente lúcidos, a marca da humildade. Vários
amigos espirituais assistiam-no, atentos.
Doce velhinha desencarnada abeirou-se de nós e, demonstrando gozar da
intimidade do orientador de nossas excursões, falou-lhe, afetuosa:
- Assistente amigo, venho rogar-lhe socorro em benefício da saúde de nosso
Adelino. Noto-o mais incomodado, ultimamente, pela dor das feridas não cicatrizadas...
- Sim, sim... - respondeu Silas, cordialmente - o caso dele merece de todos nós
especial carinho.
- Porque pensa ele nas necessidades dos outros, sem refletir nas necessidades
próprias... - acrescentou a anciã, comovida.
O assessor de Druso prosseguiu, com carinho:
- Dois de nossos médicos o vêm assistindo atenciosamente, quando se encontra
ausente do vaso físico por influência do sono.
E, afagando-lhe a cabeça:
- Esteja tranqüila. Correia, em breve, estará plenamente restaurado.
Os múltiplos serviços da casa desdobravam-se, eficientes, e Adelino, dentro
deles, atraía-nos a atenção pela segurança espiritual com que se conduzia.
Cercado pelas vibrações radiantes dos seus pensamentos, centralizados no santo
objetivo do bem, afigurava-se-nos um companheiro vestido de luz.
Alguns instantes após o afastamento da velhinha, apareceu-nos simpático rapaz,
igualmente já desenfaixado da matéria física, que, depois de saudar-nos, rogou,
reverente, ao nosso orientador:
- Peço vênia para solicitar-lhe valioso obséquio... – Fale sem receio.
E o jovem recém-chegado explicou, de olhos úmidos:
- Meu caro Assistente, sei que o nosso Adelino vem atravessando certa crise
financeira... Pelo muito que auxilia os outros, descura-se das suas próprias necessidades.
Pelo amparo que ele oferece constantemente à minha pobre mãe encarnada, insisto no
apoio de sua amizade para que seja favorecido. Ainda na semana passada, ouvindo as
súplicas de minha genitora viúva, em grande penúria para atender ao tratamento de dois
dos meus manos enfermos, procurei-o, em lágrimas, transmitindo-lhe apelos mentais
para que nos protegesse e, sem qualquer vacilação, acreditando obedecer aos seus
impulsos, visitou-nos a casa, entregando à minha sofredora mãezinha a importância de
que necessitava... ó meu Assistente, rogo-lhe por amor a Jesus!... Não deixe em
dificuldade quem tanto nos auxilia!...
Silas acolheu a petição com risonha benevolência e disse:
- Descansemos. Adelino permanece na rede de simpatia fraternal que teceu para
o asilo de si mesmo. Incumbem-se muitos amigos de supri-lo com os recursos
indispensáveis ao fiel desempenho da tarefa a que se dedicou
. As circunstâncias na luta
material harmonizar-se-ão em favor dele, atendendo-lhe aos méritos conquistados.
Efetivamente, o serviço espontâneo na afetuosa defesa do amigo que ali
enxergávamos, prestativo e confiante, era um tema de amizade e gratidão a estudar.
- Dir-se-ia - observou Hilário, intrigado - que todos os tarefeiros, em trânsito
nesta casa, são devedores do irmão sob nossa vista...
- Sim - aprovou Silas, paciente -, os créditos de Adelino são realmente enormes,
não obstante os débitos a que ainda está preso
... Cultiva, no entanto, a ventura de
substancializar a fé e o conhecimento superior que os Mensageiros de Jesus lhe confiam
em obras de genuíno amor fraternal, a lhe granjearem larga soma de reconhecimento.
Logo após, o mentor amigo recomendou-nos aproveitar os minutos em atuação
fraternal, no instituto evangélico em que nos abrigávamos, até que pudéssemos tomar
contacto mais amplo com o servidor, cuja existência atual se desdobrava sob os
auspícios da Mansão que nos patrocinava os estudos.
Em face da simpatia que Adelino despertava igualmente em nós, acercamo-nos
dele, a fim de ofertar-lhe, de algum modo, o contingente de nossas forças, na
movimentação dos passes magnéticos que passara agora a administrar, em favor de
alguns enfermos.

Era curioso pensar que nós mesmos, no primeiro encontro fortuito, nos
sentíamos prontos a partilhar-lhe as tarefas, tão-somente atraídos por sua irradiante
bondade.
A abnegação, em toda a parte, é sempre uma estrela sublime. Basta mostrar-se
para que todos gravitemos em torno de sua luz.

Findo o serviço da noite, Silas e nós acompanhamo-lo ao reduto doméstico.
Esperava-o, no limiar, a genitora que, evidentemente, ultrapassava os sessenta
de idade.
Silas deu-se pressa em no-la apresentar, explicando:
- É nossa irmã Leontina, carinhosa mãe de Correia, mãe e amiga a tutelar-lhe a
existência.
Reparando na avançada madureza do amigo que nos tomava a atenção, meu
colega indagou:
- Adelino não é casado?
- Sim, nosso irmão é casado, mas não conta com a presença da esposa.
A resposta dava-nos a entender que o companheiro atravessava provas perante
as quais nos cabia respeitosa discrição.
E, enquanto mãe e filho se entregavam a doce entendimento, Silas fez-nos
penetrar em aposento próximo.
Junto á porta de entrada, alinhavam-se três leitos, ocupados por outras tantas
criancinhas.
Loura menina de seus nove a dez anos presumíveis, ao lado de dois petizes de
escura tez, recordava a Branca de Neve entre dois anões.
Todos dormiam, placidamente.
Afagando a boneca viva, o Assistente informou:
- Esta é Marisa, a filhinha de Correia, de quem a mãezinha se distanciou em
definitivo, há seis anos.
Designando, em seguida, os dois meninos de cor, aduziu:
- E estes pequeninos são Mário e Raul, dois enjeitados que Adelino abraçou por
filhos do coração.
Ação e Reação André Luiz
Hilário e eu, adivinhando as aflições ocultas que decerto enxameavam na
existência do chefe da casa, silenciávamos, de propósito, em reverente expectativa.
Entendendo-nos a atitude, Silas passou a falar-nos mais longamente, aclarando:
- Para exaltar o santificante esforço de um amigo, a fim de estudarmos juntos
um processo de dívida aliviada, permitimo-nos algo dizer em torno do passado recente
do companheiro que visitamos, agora empenhado ao labor do seu resgate.
Qual se quisesse centralizar os recursos da memória, emudeceu por instantes e,
finalmente, continuou:
- Em meados do século precedente, Adelino era filho bastardo de um jovem
muito rico que o recebeu das mãos da genitora escrava, que desencarnou ao trazê-lo à
luz. Martim Gaspar, o moço afazendado que lhe foi o pai solteiro, era homem de
coração enrijecido, muito cedo acostumado ao orgulho tiranizante, em face da incúria
do lar em que nascera. Abusava das donzelas cativas a seu talante e, em muitas
ocasiões, vendeu-as com os próprios filhos recém-natos para lhes não ouvir os choros e
petitórios. Temido na casa grande da qual se fizera absoluto senhor, por morte do velho
pai, que, em vão, buscara tardiamente controlar-lhe os instintos, sabia usar o tronco e o
chicote, sem qualquer compaixão. Era execrado pela maioria dos servos e bajulado de
quantos lhe obtinham os favores, a troco de lisonja servil. Entretanto, para o filho
Martim - o mesmo Adelino de agora -, a sua ternura e dedicação não mostravam
limites. Inexplicavelmente para ele mesmo, amava-o com desvelado enternecimento, a
ponto de providenciar-lhe educação esmerada na própria fazenda. Entre pai e filho
estabeleceram-se, dessa forma, os mais santos laços afetivos. Eram companheiros
inseparáveis nos jogos e nos estudos, no serviço e na caça. Foi assim que Gaspar, não
obstante cruel para com os outros rebentos da própria carne, nas senzalas sofredoras,
não hesitou em legitimá-lo como filho, perante as autoridades do tempo, tornando-o
partícipe de seu nome e de sua herança. Pai e filho contavam, respectivamente,
quarenta e três e vinte e um anos de idade, quando Gaspar, embora solteirão
amadurecido, resolveu casar-se, em grande metrópole, desposando Maria Emília,
leviana jovem de vinte primaveras que, trazida à grande casa rural, desenvolveu sobre o
enteado estranha fascinação. Martim, extremamente amado pelo genitor, atraído agora
para os encantos femininos da madrasta, passou a experimentar torturantes conflitos
sentimentais. Ele, que se julgava o melhor amigo de Gaspar, entrou a detestá-lo. Não lhe
tolerava a posse sobre a mulher que desejava, sabendo-se por ela ardentemente querido,
porquanto Maria Emília, pretextando essa ou aquela necessidade, sabia isolá-lo em
viagens diversas, nas quais lhe exacerbava a afeição juvenil. Ambos souberam furtar-se
a qualquer desconfiança e, totalmente entregue à paixão que o requestava, o jovem
Martim, desprevenido, planejou o medonho parricídio em que se enliçou, desventurado.
Sabendo o genitor acamado, em tratamento do fígado enfermo, tomou a cooperação de
dois capatazes da sua inteira confiança, Antônio e Lucidio, igualmente verdugos de
meninas cativas, e, certa noite, administrou-lhe uma poção entorpecente, com
aprovação da madrasta... Tão logo se pôs o doente a dormir, coadjuvado pelos dois
cúmplices que odiavam o patrão, espalhou substâncias resinosas no leito paterno,
simulando, logo após, o incêndio no qual o mísero Gaspar, em horríveis padecimentos,
se ausentou do corpo. Conduzido o pai ao sepulcro e apoderando-se-lhe dos haveres,
tentou a felicidade ao pé de Maria Emília; todavia, o genitor desencarnado, a inflamarse
em cólera, envolveu-o em nuvens de fluidos inflamados, contra os quais o infeliz
não possuía defesa... Apegando-se ao afeto da companheira, Martim procurou
anestesiar a consciência e esquecer... esquecer... Confiou a fazenda aos cuidados de
ambos os cúmplices do tenebroso delito e, arrimando-se à companhia da mulher,
demandou à Europa, em busca de repouso e distração. Tudo, porém, debalde... Ao fim
de cinco anos de resistência, tombou integralmente vencido, sob o jugo do Espírito
paternal que o cercava, incessantemente, apesar de invisível. Abriu-se-lhe a pele em
chaga, como se chamas ocultas o requeimassem. Circunscrito ao leito de dor e
constantemente empolgado pelo remorso, recapitulava mentalmente a morte do
genitor, em urros de martírio selvagem... Não sabia, desse modo, senão chorar, gritando
a esmo o arrependimento de que se via possuído, no que foi interpretado à conta de
louco pela própria companheira, que se dava pressa em reconhecer-lhe a suposta
alienação mental, de modo a inocentar-se perante os amigos e servidores. Foi algemado
a semelhante suplício que Martim recebeu escárnio e abandono, dentro do próprio
círculo doméstico, vindo a expirar em tremenda flagelação. Martim Gaspar, o genitor
assassinado, aguardou-o no túmulo, arrastando-o para as sombras infernais, onde passou
a exercer pavorosa vingança... O desditoso filho desencarnado sofreu terríveis
humilhações e indescritíveis tormentos, durante onze anos sucessivos, em cárceres de
treva, até que, amparado por Mensageiros de Jesus, que lhe promoveram o resgate,
ingressou em nosso instituto, ao que fui informado, em lamentável situação. Tendo
entrado em sintonia com o genitor, sequioso de vindita, através das brechas mentais do
remorso e do arrependimento tardio, foi hipnotizado por gênios perversos, que o fizeram
sentir-se dominado de chamas torturantes.
Fixada a imaginação dele em semelhante
quadro de angústia, o próprio Martim nutria com o pensamento culposo as labaredas em
que se torturava sem consumir-se, até que foi convenientemente aliviado e socorrido por
nossos instrutores, através de recursos magnéticos que lhe sanaram o doloroso
desequilíbrio. Devotou-se, então, depois de melhorado, aos serviços mais duros de
nossa organização, conquistando com o tempo apreciáveis lauréis que lhe valeram a
volta à esfera humana, com o direito de iniciar o pagamento da larga dívida em que se
onerou, desavisado. Cultuando a prece com a renovação do mundo íntimo, renasceu de
espírito inclinado à fé religiosa, ardente e operante, encontrando no Espiritismo com
Jesus, ao influxo dos amigos desencarnados que o assistem, precioso campo de
fortalecimento moral e trabalho
digno, no qual tem sabido estender, com louvável
aproveitamento das horas, o seu raio de ação no estudo edificante e na caridade pura,
atraindo em seu favor as mais amplas simpatias, por parte de irmãos encarnados e
desencarnados, que lhe devem generosidade e carinho. Atirado a imensas dificuldades
materiais, desde cedo cresceu órfão de pai, de vez que não valorizou no passado a
ternura paterna, lutando com extrema pobreza e com enfermidade constante...
Custodiado, porém, por benfeitores da nossa Mansão, foi conduzido a um templo
espírita, ainda muito jovem, onde, submetido a tratamento da epiderme esfogueada,
entrou no conhecimento de nossa Renovadora Doutrina... A leitura dos princípios
espíritas, ao sol do Evangelho do Senhor, constituiu para ele recordações naturais dos
ensinamentos assimilados em nossa casa, antes da reencarnação. Desde aí, aceitou
nobremente a responsabilidade de viver e buscou, acima de tudo, aplicar a si próprio as
diretrizes regeneradoras da fé que abraça.
Disciplinou-se. Rendeu sincero preito às suas obrigações e, não obstante os
entraves orgânicos, muito moço se dedicou às representações comerciais, de cujos
labores retira os abençoados recursos que sabe repartir com necessitados numerosos,
reservando para si tão-somente o indispensável. Não é um rico da Terra, na acepção do
conceito, mas um trabalhador da fraternidade que sabe dar o próprio coração naquilo
que distribui.
Trilhando o caminho da simplicidade e da renúncia edificante, modificou as
impressões de muitos dos companheiros de outro tempo, que, nas baixas camadas da
sombra, se lhe haviam transformado em perseguidores e desafetos, obsessores esses
que, em lhe observando os exemplos novos, se sentiam moralmente desarmados para os
conflitos que se propunham manter. É assim que não deixa de ressarcir as suas culpas,
sofrendo-lhes o gravame em si mesmo.

Entretanto, pelos valores que entesoura, devotado ao bem alheio, resgata o
pretérito com o alívio possível, ganhando tempo e adquirindo novas bênçãos. Ajudando
aos outros, desbasta, dia a dia, o montante dos seus débitos, de vez que a Misericórdia
do Pai Celestial permite que os nossos credores atenuem o rigor da cobrança, sempre
que nos vejam oferecendo ao próximo necessitado aquilo que lhes devemos...
Silas confiou-se a pausa breve, mas Hilário, tanto quanto eu fascinado por sua
exposição clara e sensata, rogou, sedento de ensino:
- Continue, Assistente. Esta lição viva ilumina-nos de esperança... Como se
explica estar Adelino ganhando tempo?
Nosso amigo sorriu e acrescentou:
- Correia, que não merecia a ventura do lar tranqüilo por haver arruinado o lar
paterno, casou-se e padeceu o abandono da companheira que lhe não entendeu o
coração.
Avançando para a terna Marisa que dormia, acentuou:
- Assim, pela vida útil a que se consagra e pela caridade incessante que passou a
exercer, atraiu para junto de si, como filha da sua carne, a antiga madrasta que desviou
dos braços paternais, hoje reencarnada junto dele para reeducar-se ao calor de seus
exemplos nobres, guardando a dor de saber-se filha de pobre mulher que renegou o
tálamo conjugal, tanto quanto ela mesma o menosprezou no passado recente. Mas... não
é apenas essa a vantagem de Adelino...
Silas pousou levemente a destra nos pequenos que ressonavam e prosseguiu:
- Dedicando-se de alma e corpo à sua renovação com o Cristo, nosso amigo
recolheu como filhos adotivos os dois cúmplices do parricídio tremendo, os antigos
capatazes Antônio e Lucídio, que, abusando de humildes donzelas escravizadas, de
quem furtavam os filhinhos para exterminar ou vender, não encontraram senão o alcoice
por berço, vindo para o círculo afetivo do companheiro de outro tempo, no sangue
africano que tanto enxovalharam, de modo a lhe receberem o amparo moral à reforma
precisa.
Enquanto nos edificávamos com o precioso ensinamento, Silas observou:
- Como é fácil de reconhecer, nosso irmão, através da responsabilidade espíritacristã,
corretamente sentida e vivida, conquistou a felicidade de reencontrar os laços do
pretérito criminoso para o necessário reajuste, ao passo que, se houvesse desertado da
luta pela irreflexão da companheira ou se tivesse cerrado a porta do coração a dois
meninos infelizes, teria adiado para futuros séculos o nobre trabalho que está fazendo
agora...
Dispúnhamo-nos a formular novas indagações, mas Correia despedira-se da
mãezinha e viera ocupar um leito modesto, não longe das crianças.
Demonstrando hábitos respeitáveis, sentou-se em prece.
Foi quando Silas, recomendando-nos cooperação, abeirou-se dele e aplicou-lhe
passes magnéticos, esclarecendo-nos, logo após:
- Ainda pela utilidade que sabe imprimir aos seus dias, Adelino mereceu a
limitação da enfermidade congenial de que é portador. Tendo sofrido, por longo tempo,
o trauma perispirítico do remorso, por haver incendiado o corpo do próprio pai, nutriu
em si mesmo estranhas labaredas mentais que, como já lhes disse, o castigaram
intensamente além-túmulo... Renasceu, por isso, com a epiderme atormentada por
vibrações calcinantes que, desde cedo, se lhe expressaram na nova forma física por
eczema de mau caráter... Semelhante moléstia, em face da dívida em que se empenhou,
deveria cobrir-lhe todo o corpo, durante muitos e angustiosos lustros de sofrimento
mas, pelos méritos que ele vai adquirindo, a enfermidade não tomou proporções que o
impeçam de aprender e trabalhar, porquanto granjeou a ventura de continuar a servir,
pelo seu impulso espontâneo na plantação constante do bem.
A essa altura, talvez porque o dono da casa se dispusesse ao refúgio dos
travesseiros, o Assistente convidou-nos à retirada.
De volta à Mansão, prosseguiu nosso amável mentor tecendo brilhantes
comentários em torno do "amor que cobre a multidão dos pecados", como ensinou o
Apóstolo, quando Hilário, interpretando-me as indagações, considerou de improviso:
- Assistente, com uma elucidação assim tão clara, é justo aspiremos a saber
determinadas minudências que a ela digam respeito. Poderemos, acaso, inteirar-nos
quanto à situação de Martim Gaspar, o genitor que padeceu o martírio do fogo em sua
carne?
Porque Silas se detivesse em silêncio, meu colega continuou:
- Terá ciência do trabalho renovador de Adelino? Devotar-lhe-á, ainda,
menosprezo e ódio?
- Martim Gaspar - respondeu por fim o interlocutor -, infatigável que era na
violência, foi igualmente tocado pelos exemplos de nosso amigo. Observando-lhe a
transformação, abandonou as companhias indesejáveis a que se adaptara e rogou asilo,
em nosso instituto, vai para alguns anos, onde aceitou severas disciplinas...
- E onde se encontra agora? - insistiu Hilário, ansioso - porventura será
permitido vê-lo, para anotar-lhe as alterações?
Nesse instante, porém, varávamos a entrada do santuário de nossas obrigações,
e Silas, sem mais possibilidades de alongar-se, afagou os ombros de nosso
companheiro, dizendo:
- Acalme-se, Hilário. É possível estejamos de regresso ao assunto em breves
horas.
Despedimo-nos, conservando as anotações, à maneira de estudo interrompido,
aguardando seqüência.
No dia seguinte, porém, grata surpresa visitou-nos o coração.
Quando o relógio anunciou alta noite na extensa faixa planetária em que se
mantinha o nosso domicílio, o Assistente veio buscar-nos, prestimoso.
Demandaríamos à esfera carnal, mas, naquela hora, em companhia de Druso, o
orientador da instituição.
Regozijamo-nos, embora curiosos.
Era a primeira vez que viajaríamos junto ao grande mentor que nos conquistara
a mais ampla reverência. E, se é verdade que o privilégio nos alegrava, ao mesmo tempo
indagávamos do motivo pelo qual se ausentaria ele da casa que não lhe dispensava a
presença.
Entretanto, não houve oportunidade para longas divagações.
Em companhia de Druso, que se fazia seguir por Silas, por duas das irmãs
altamente responsáveis em serviços da Mansão e por nós outros, utilizamo-nos do meio
mais rápido para a excursão, cujo objetivo desconhecíamos, porquanto a maior
autoridade nos trabalhos normais do instituto decerto não disporia de tempo para uma
viagem que não fosse a mais curta possível.
Grande era o meu desejo de provocar o verbo do Assistente para a conversação
educativa em torno do problema que abordáramos na noite anterior; todavia, a presença
de Druso como que nos inibia a disposição de ferir qualquer tema que não partisse dele
mesmo, cuja dignidade não nos privava da expressão livre, mas nos infundia incoercível
respeito.
Foi assim que no trajeto ligeiro lhe ouvimos a conceituação oportuna e sábia,
em torno de múltiplas questões de justiça e trabalho, admirando-lhe, cada vez mais, a
cultura e a benevolência.
Espantado, no entanto, reconheci que a nossa equipe estacionou à porta do lar
de Adelino, que deixáramos na véspera.
Dois auxiliares que conhecíamos de perto esperavam-nos no limiar.
Depois de recíprocas saudações, um deles avançou para Druso e anunciou,
reverente:
- Diretor, o pequenino recém-nato estará conosco, dentro de meia hora.
O grande mentor agradeceu e convidou-nos a acompanhá-lo.
Na paisagem doméstica que nos era familiar, o relógio marcava duas horas e
vinte minutos da madrugada.
Atônitos, seguimos o orientador que tomara a vanguarda, penetrando o
aposento em que Adelino, ao que nos foi permitido supor, começava a dormir.
Druso acariciou-lhe a fronte por momentos e vimos Correia erguer-se do corpo
de carne, qual se fora movido por alavancas magnéticas poderosas, caindo nos braços
do grande orientador, à maneira de criança enternecida e feliz.
- Meu amigo - disse-lhe Druso, entre grave e terno -, chegou a hora do
reencontro...
Correia começou a chorar, aterrorizado, sem conseguir desenfaixar-se-lhe dos
braços acolhedores.
- Oremos juntos - acrescentou o bondoso amigo.
E, levantando os olhos para o Alto, sob nossa profunda atenção, Druso
suplicou:
- "Deus de Bondade, Pai de Infinito Amor, que criaste o tempo como incansável
guardião de nossas almas destinadas ao Teu seio, fortalece-nos para a renovação
necessária!... e Tu, que nos conheces os crimes e deserções, concede-nos a bênção das
dores e das horas para redimi-los, unge-nos com o entendimento de Tuas leis, para que
não repilamos as oportunidades do resgate!”
“Emprestaste-nos os tesouros do trabalho e do sofrimento, como favores de Tua
misericórdia, para que nos consagremos à reabilitação dolorosa, mas justa...”
“Nós, os prisioneiros da culpa, somos também operários de nossa libertação, ao
bafejo de Teu carinho.”
"Ó Pai, infunde-nos coragem para que nossas fraquezas sejam esquecidas,
inflama em nosso espírito o entusiasmo santo do bem, para que o mal não nos apague os
bons propósitos, e conduze-nos pelo carreiro da renunciação para que a nossa memória
não se aparte de Ti!...”
"Que possamos orar como Jesus, o Divino Mestre que nos enviaste aos
corações, a fim de que nos rendamos, de todo, aos Teus desígnios!...”
Depois de leve pausa, repetiu em pranto a prece dominical:
- "Pai Nosso, que estás nos Céus, santificado seja o Teu nome. Venha a nós o
Teu reino. Faça-se a Tua vontade, assim na Terra como nos Céus. O pão nosso de cada
dia dá-nos hoje. Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos
devedores. Não nos deixes cair em tentação e livra-nos de todo mal, porque Teus são o
reino, o poder e a glória para sempre. Assim seja.”
Quando a sua voz emudeceu, profunda emotividade exercia sobre nós
inexpressável domínio.
Reconduzido ao veículo carnal, Adelino acordou em copiosas lágrimas...
Reconhecia-se-lhe o júbilo intimo, se bem não pudesse guardar a consciência
integral da comunhão conosco.
Ação e Reação André Luiz
Findos alguns minutos de expectação, que transcorreram céleres, escutamos lá
fora o choro convulso de uma criança tenra...
Enlaçado por Druso, o dono da casa ausentou-se do leito e, incontinenti, abriu a
porta que comunicava o interior com a calçada externa, em cujas lajes, vigiado por
amigos da Mansão, pobre recém-nato vagia aflitivamente.
Tomado de surpresa, Correia ajoelhou-se, enquanto o grande orientador lhe
dizia com segurança:
- Adelino, eis o pai ofendido que, enjeitado pelo coração materno que ainda não
mereceu, vem ao encontro do filho regenerado!
Correia não lhe ouviu a palavra, na acústica da carne, mas registrou-a no templo
mental, como apelo do amor celeste que lhe trazia ao coração mais uma criança
abandonada e infeliz... Tomado de alegria, para ele inexplicável, abraçou o pequerrucho
com espontâneo gesto de amor e, após conchegá-lo de encontro ao peito, voltou para
dentro, gritando jubiloso:
- Meu filho!... meu filho!...
Silas, entre Hilário e eu, comunicou-nos, emocionado:
- Martim Gaspar retorna à experiência física, asilando-se nos braços do filho
que o desprezou.
Não tivemos, contudo, qualquer ensejo a mais dilatada conversação. Druso,
enxugando as lágrimas, advertiu-nos em voz alta, qual se estivesse falando para si
mesmo:
- Oxalá, quando estivermos de novo em pleno nevoeiro da carne, possamos,
também nós, abrir o coração ao excelso amor de Jesus, para que não venhamos a falir
nas provas necessárias!...
E havia tanto recolhimento e tanta angústia naquele olhar que nos habituara ao
mais doce enternecimento e ao mais profundo respeito que, de volta à Mansão, nenhum
de nós ousou quebrar-lhe o doloroso e expressivo silêncio.