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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Vida e Valores (O repouso necessário)

Vida e Valores (O repouso necessário)

Na Terra nós estamos submetidos a várias leis: às leis que regem o mundo físico, à lei do magnetismo, à lei da atração gravitacional, às leis da eletricidade, todas as leis que movimentam o nosso mundo. São as leis físicas, digamos assim.
Mas, também estamos movidos às Leis Morais. Aquelas leis que regem o mundo da alma, o mundo da consciência, o nosso mundo da ética interna. E é exatamente nesse grande mundo das Leis Morais que vamos encontrar uma lei importantíssima para nossa vida na Terra. É a Lei do Trabalho.
Essa Lei do Trabalho nos leva a entender que toda a ocupação útil é trabalho. Naturalmente, toda ocupação útil tem que ser útil para o bem geral. Não se imagina uma coisa útil negativamente. É uma coisa útil que tem utilidade para todos, para nós e para todos.
Então, não é problema pensar que nós temos que trabalhar. Estamos na Terra e precisamos nos desenvolver.
O trabalho é uma forma importante com que a Divindade nos permite trocar os nossos conhecimentos, as nossas bagagens, as experiências que trazemos de outras existências corporais, aquilo que a alma armazenou em si.
Um é artista plástico, outro é cantor, outro é musicista, outro é engenheiro, outro é padeiro, outro é plantador, é lavrador, cada qual com sua habilidade.
Oferecemos isso à sociedade e a sociedade, em troca, nos recompensa com aquilo que chamamos salário, nosso soldo, nossa remuneração. Até aí tudo está bem.
O que não podemos esquecer é que, quando se perguntou aos Bons Espíritos, aos Guias da Humanidade, qual era o limite do trabalho, eles ripostaram dizendo que o limite do trabalho é o limite das forças.
O que nos leva a entender que nós vamos trabalhar até onde nosso corpo suporte, até onde nossa mente resista, até onde consigamos servir sem nos atormentar, sem nos aturdir.
Por isso então, se trabalhamos além daquilo que o corpo suporta, que a mente resiste, entramos numa onda de desgaste, de estiramento, que passamos a chamar de estresse.
Os estresses são sempre negativos porque nos levam a processos de fobias, de depressões, de emoções exacerbadas, de irritabilidade, de agressividade.
Os estresses são capazes de fazer verdadeiro pandemônio em nossas vidas.
Então a Divindade que é perfeita, a Inteligência Suprema do Universo, estabeleceu, ao lado da Lei do Trabalho, a Lei do Repouso.
É importante que tenhamos essa consciência de que não estamos no mundo apenas para trabalhar como workaolics, como criaturas viciadas em trabalho, neuroticamente envolvidas no trabalho e, se não trabalharmos, não seremos felizes.
Porque Deus estabeleceu que caberia a cada qual de nós respeitar os limites do seu corpo, respeitar os degraus de sua mente e partir para o repouso sempre que isso se fizesse necessário.
Então vale a pena sentir, vale a pena aquilatar o quanto nós estamos trabalhando para ganhar a vida, para ganhar dinheiro, para melhorar as nossas condições sócio-econômicas.
Mas não podemos descurar da nossa saúde física, da nossa saúde mental, do nosso equilíbrio espiritual. Nada de trabalharmos excessivamente, até entrarmos numa linha atormentadora de estresse. Não há nenhuma necessidade.
Precisamos trabalhar no limite das forças. E é por essa razão mesma que nós aprendemos que precisamos trabalhar e repousar.
A sociedade estabeleceu os dias úteis, aqueles dias em que nós trabalhamos afanosamente, e os dias de repouso, os feriados, o sábado e domingo.
A lenda bíblica diz que Deus criou o mundo em seis dias e que no sétimo dia teria descansado. Naturalmente não se pode pensar nessa questão de descanso por parte do Criador.
O que nós aprendemos é que esses seis dias da criação se referem aos períodos geológicos pelos quais o nosso planeta passou.
Mas uma coisa é verdade, tenha descansado ou não, o Criador nos conduz a trabalhar e repousar.
Porque nós temos uma limitação orgânica, temos uma capacidade própria. Se ultrapassarmos essa capacidade vamos sofrer, em termos mentais, um curto circuito.
Vamos sofrer em termos corporais um processo de debacle, de amolentamento, de enfermidades, de patologias decorrentes dessa excessiva exigência que possamos fazer ao nosso corpo físico.
Por isso, vale a pena pensar que se é da Lei Divina que tenhamos que trabalhar, se gostamos de trabalhar para ter a liberdade em nossa vida, ganhar nosso dinheiro, nosso próprio salário, não deveremos perder de vista, e não temos porque perder de vista a importância de descansar, de repousar. Mas ter o cuidado para que o nosso repouso não se equipare à preguiça.
Repouso e preguiça têm paredes contígüas.
* * *
Cada vez que nós pensamos nessa parede contígüa entre descanso e preguiça ou nessa cortina muito tênue entre uma coisa e outra, ficamos a imaginar como é que os Espíritos Superiores, os Espíritos Angélicos repousam. Ou será que não repousam?
Aprendemos com esses seres Superiores que a forma que as almas mais gabaritadas, mais iluminadas, aquelas que vão vencendo as diversas condições do mundo, as atrapalhações da Terra e as necessidades materiais, descansam de uma forma muito inusitada: mudando de atividades.
É comum que, aqui na Terra, entre nós, muita gente nos diga isso. Quando desejam descansar, trocam de atividades, e ao trocar de atividades relaxam a mente daquela pressão, daquela tensão que estavam vivendo antes.
Digamos que tenhamos um trabalho braçal, que nos cansa os músculos, que nos desgasta o corpo físico. Depois nós vamos ouvir uma música, vamos assistir a um filme, vamos disputar algum torneio mental de uma brincadeira ligeira, palavras cruzadas, uma leitura simples.
Aqueles que vivem com trabalho intelectual muito exigente e têm que ficar o tempo todo concentrados em textos, em livros, em correções de trabalhos, em maquetes, em projetos, ocupados com a mente ali detida, poderão fazer o contrário para descansar: jogar tênis, basquete, futebol, vôlei, ir à praia, correr, caminhar.
Então é importante que nós tenhamos uma saída bastante plausível para que a alma respire.
Há muita gente que trabalha nos seus escritórios durante a semana e, nos finais de semana, gosta de cuidar de jardins. São hobbys. Outros gostam de consertar sapatos, costurar, são outros hobbys.
E, a partir disso, vamos vendo quanto é que as criaturas conseguem gradativamente, depois do seu trabalho estafante, a bênção do descanso, do repouso.
Muita gente que, durante a semana inteira, come em restaurantes, se alimenta fora de casa, quando chega em casa, nos finais de semana ou num feriado, gosta de ir para a cozinha, liberar a secretária doméstica, liberar a esposa e o grande prazer relaxante é cozinhar.
Vamos encontrando as mais variadas, as mais diversificadas possibilidades da criatura descansar.
O que Jesus Cristo nos recomenda através das lições dos Imortais é que, para cada período trabalhado, nós possamos ter um período de repouso, de refazimento das forças físicas e mentais.
Há um livro notável de Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, e nas suas páginas vamos achar a necessidade de cuidar do corpo e do Espírito.
Do mesmo modo que o corpo precisa ser bem acompanhado, bem cuidado, para que se preste àquela missão que nos trouxe à Terra, àqueles comprometimentos que nos trouxeram ao mundo, às lutas expiatórias, às nossas provações, ao nosso aprendizado e crescimento, também é importante que não descuidemos do Espírito.
Volta e meia assistir a um concerto, assistir a um teatro, a um balé, assistir a uma coisa que nos dê estesia à alma. Participar de uma exposição, visitar uma feira, uma bienal de livro, uma bienal de arte, seja o que for, mas que nós nos sintamos criaturas privilegiadas, arejadas por aquela dimensão que se apresentou para nós.
Por isso trabalhar é fundamental. O trabalho é a expressão de Deus entre nós.
Jesus Cristo ensinou que o Pai trabalha sempre, que Ele trabalha igualmente. Nada obstante, os Espíritos que respondem em Seu nome nos disseram que, ao lado da Lei do Trabalho, o contraponto é a Lei do Repouso.
Já que o trabalho é toda ocupação útil e que deveremos desenvolver essas ocupações úteis até o limite das forças, quando essas forças chegarem ao seu limite, é preciso buscar o repouso, dormir o número de horas que sejam suficientes para refazer o nosso corpo físico, sem que nisso esteja incursa a preguiça, a má vontade.
Se tivermos que levantar cedo para atender à nossa profissão, não há outro jeito, levantaremos cedo.
Mas, sempre que pudermos nos acomodaremos mais cedo, iremos dormir mais cedo, dando conta do tempo que o organismo precisa para se refazer.
E é desse modo, então, que a vida da Terra, a nossa experiência corporal no mundo, atrelando trabalho e repouso, nos levará a essa felicidade íntima de quem soube produzir, de quem soube crescer, sem se tornar suicida, na exploração indevida do próprio corpo.
Daí, vale a pena pensar que se Deus trabalha incessantemente, se Jesus Cristo, como Seu Filho Maior entre nós, trabalha também, cabe-nos nos servir do trabalho sem perder de vista as bênçãos do repouso físico.
Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 115, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em outubro de 2007. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 20.07.2008.
Em 25.08.2008.

Vida e Valores (Valorize seu dia: violência cotidiana)

Vida e Valores (Valorize seu dia: violência cotidiana)

É curioso notar como nos estarrecem as notícias que as mídias projetam em torno da violência.Em toda parte as notícias dos crimes, das guerras nos causam verdadeiro estupor.

É muito comum que as pessoas registrem tudo isto com uma certa dose de angústia, como se o mundo estivesse de mal a pior.

E, quando pensamos nessas questões da violência, que a televisão mostra, que as emissoras de rádio, que os jornais escritos apresentam; quando pensamos nessa violência que está nos filmes, nas telenovelas, que está em toda parte na sociedade, sentimos um aperto muito grande no coração.

Afinal de contas, que mundo é este? Em que mundo nós estamos vivendo?

Esta é uma pergunta crucial, porque quando nos perguntamos, que mundo é este, em que mundo estamos vivendo, não podemos esquecer que nós fazemos parte deste mundo. Não é um mundo lá fora, como se fôssemos dele independentes.

Este mundo no qual  estamos identificando tantas catástrofes de violência, tantas tragédias comportamentais, é o mundo que  estamos fazendo.

Por causa disso vale a pena nos perguntarmos: O que é que está acontecendo neste capítulo da violência no nosso cotidiano?

Não existe um único dia sequer que não tenhamos notícias de assassinatos, de homicídios, de estupros, de sequestros, de atentados em toda parte. Na sociedade mais próxima, onde estamos e na sociedade do mundo em geral. Parece que o ser humano adentrou caminhos nunca dantes trilhados.

Mas, isso não é bem verdade porque bastará que olhemos a História para percebermos que essa realidade da violência, nesses tempos que vivemos no mundo, é mais conhecida, mas não é uma coisa nova É mais divulgada, mas não é uma coisa recente.

Cabe-nos verificar de onde é que vem essa onda de violência tão terrível na nossa vida cotidiana.

É por causa disso que nos cabe ver como podemos fazer, agir, viver para dar conta desse quadro tão angustiante que aí está em nosso mundo.

Violência, violações, violar - todos esses verbos e substantivos expressam uma patologia da criatura humana. Expressam um tormento pelo qual passa o indivíduo.

Compete-nos identificar onde começa a violência e teremos surpresas muito curiosas ao percebermos, ao registrarmos que todo e qualquer processo de violência que explode na macrosociedade, que avança no mundo em geral, tem começo no indivíduo.

Sim, é no indivíduo que todo esse processo começa. Somos essencialmente portadores desse vírus da violência.

Quando pensamos nessa verdade, sentimos uma certa frieza na espinha, um calafrio que nos passa na espinha porque jamais imaginaríamos que toda essa onda de tormentos sociais, de sequestros, violências, mortes, estupros tivesse começo na nossa atitude pessoal.

Parece que estamos fazendo as coisas às escondidas, temos a sensação de que ninguém nos vê ou, muitas vezes, fazemos abertamente para que sejamos vistos. É a questão da adrenalina. Fazer alguma coisa errada no meio de tanta gente, produz uma adrenalina mas, ao mesmo tempo, indica um desequilíbrio.

É desse modo que a violência vai ganhando expressividade, que a violência vai se disseminando na sociedade em que vivemos. Ao pensarmos nessa disseminação da violência nos cabe cumprir aquilo que viemos à Terra fazer: dar boa conta da nossa administração existencial, dar boa conta de nossa vida, viver de tal modo que não sejamos nós os fatores pré-disponentes da violência. Que não carreguemos em nós essa força que promove a violência mas que consigamos, gradativamente, trabalhar num sentido oposto e verificar que a violência tem nascedouro em nós e, por isso, terá que encontrar seu término também em nós.

*   *   *

Se nos damos conta de que é no indivíduo que tem nascedouro a violência, fica muito mais explícita a sua origem e, naturalmente, a sua solução.

Em verdade,  todos precisamos nos dar conta dos quadros de violência dos quais fazemos parte.

A violência das palavras ásperas, das palavras grosseiras, a violência da pornografia. Falamos o que queremos como se todas as pessoas tivessem a obrigação de nos ouvir o verbo como a gente o queira expressar. E a vida não é bem assim. Se impomos a alguém ouvir-nos nas coisas ruins que queremos dizer,  estamos impondo às pessoas violentamente, as nossas ideias.

Se fazemos na nossa casa uma festa e porque estamos na nossa casa  ignoramos que os outros vizinhos também estão nas suas casas, fazemos barulho até a hora que  bem entendamos porque os outros terão que nos aceitar assim,  é violência. Porque se temos direito a fazer barulho em nossa casa, os nossos vizinhos têm direito a ter silêncio em suas casas.

Começamos a nos aperceber das atitudes violentas junto à família: o esposo machista, violento, grosseiro com a esposa; a esposa patologicamente feminista e que acha que a sua palavra tem que ser a última,  não ouve a mais ninguém; as agressões contra os filhos; a pancadaria; as brigas entre irmãos dentro de casa são aspectos os mais variados da violência no cotidiano.

Curioso é que não percebemos que isso é violência.

Parece-nos uma coisa muito normal, muito corriqueira nos agredirmos e depois, tudo parece voltar ao normal. Mas as coisas não voltam ao normal que estavam, nunca mais chegamos ao nível zero. Estamos sempre ajuntando lixo nas nossas relações.

E por causa disso mesmo a violência tem começo dentro de nós, estoura nas nossas relações, dentro de casa, no nosso trabalho, com as pessoas com as quais convivemos. Graças a isso é que, a cada dia, a violência urbana aumenta mais.

Parece que o problema da violência urbana é do Governo. Mas o governo da minha casa sou eu, o governo da minha rua sou eu, o governo do meu bairro somos nós.

Então, como fazer para mudar esse quadro que nos incomoda tanto?

Temos que apelar para esse processo de autoeducação. Precisamos aprender a voltar às origens da boa relação.

Saber o que falar perto de quem, respeitar senhoras, crianças, respeitar outras pessoas porque todas as vezes que nós dizemos o que queremos, diz o ditado popular,  ouvimos as coisas que não queremos e não gostamos.

Quando dizemos uma palavra de má qualidade, uma palavra de baixo calão, uma palavra indevida, instigamos a reação das pessoas, das que aceitam o que  dissemos e daquelas que se rebelam contra o que  dissemos.

É da microviolência, digamos assim, a violência do indivíduo, a violência de cada um que nasce a macroviolência.

É da nossa violência individual que advém a grande violência social, não tenhamos nenhuma dúvida.

Quando vemos, numa guerra, soldados se engalfinhando, a guerra não começou com os soldados, começou com cada um dos indivíduos que somaram energias envenenadas.

E essa energia envenenada, essas forças negativas vão impondo à sociedade o desbordar, o desaguar das nossas negatividades reunidas.

Muito mais do que podemos imaginar somos os agentes da violência no nosso cotidiano.

Muito mais do que podemos supor damos ensejo à violência urbana, comentando-a, divulgando-a, devorando essas notícias nos jornais, nas revistas que vendem a rodo o sangue pisado das vítimas sociais.

Quando começamos a fazer essas reflexões, quando partimos para esses entendimentos, agora parece que conseguimos encontrar a saída, a renovação pessoal, o esforço por nos apaziguar, o esforço por nos tranquilizar e fazer com que a cada dia, ao nosso redor, haja harmonia, haja paz.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 152,
apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da
Federação Espírita do Paraná. Programa gravado
 em julho de 2008. Exibido pela NET, Canal 20,
Curitiba, no dia 31 de maio de 2009.
Em 10.08.2009.

Vida e Valores (O anticoncepcional)

Vida e Valores (O anticoncepcional)

A Dra. Susan Blackmore, da Universidade de Bristol, na Inglaterra, juntamente com o Dr. Colin Blackwell, estabeleceram suas visões a respeito do anticoncepcional. Sim, a respeito da pílula.
E, nas falas de ambos, conseguimos ler que eles interpretam a pílula anticoncepcional como tendo sido um grandíssimo movimento revolucionário na década de 1960, que teve o poder, teve o condão de dar liberdade às práticas sexuais.
Asseveram que o anticoncepcional deu à mulher essa possibilidade de dirigir seu corpo e não permitir a fecundidade, quando não tivesse nela qualquer interesse.
Foram mostrando como é que o anticoncepcional mexeu na maneira como a mulher era vista no contexto social. A visão machista da mulher foi forçada a sofrer alterações de monta.
Também lembraram que, graças ao incremento dos anticonceptivos, a mulher pôde ocupar o lugar que lhe cabia e que lhe era negado, no contexto social.
O anticoncepcional igualmente promoveu uma grandíssima revolução na questão que era bastante discutida sobre a divisão do trabalho. O que cabia à mulher, o que cabia aos homens.
Ao longo de muitas décadas, desde a de 1960, essa questão do anticoncepcional ganhou bastante destaque. No entanto, desde a década de 1940, bioquímicos, químicos trabalharam buscando uma solução para o que chamavam de grave problema das relações sexuais: a procriação.
E, a partir disso, na América do Norte, nos Estados Unidos, os pesquisadores trataram de investigar um produto à base da testosterona, o hormônio masculino, para que houvesse uma pílula para os homens. E isso porque eram os homens tradicionalmente, historicamente, que tinham uma vida mais liberada, que tinham uma vida mais solta, mais libertina. Então, seria válido, pensavam eles, criar-se uma pílula para os homens.
O que acontece é que, depois da pílula criada e em fase de testes, os pesquisadores foram a muitos presídios norte-americanos e ofereceram aos presidiários, com a devida autorização da Justiça, a oportunidade de eles servirem de cobaia ao uso da pílula, sob a condição de que receberiam indultos e, até mesmo, liberações totais de suas penas.
Ao longo das consequências, os pesquisadores notaram algo que não esperavam. Em função dos órgãos sexuais masculinos serem externos, aquele produto gerou sobre os homens, primeiro, uma impotência precoce; depois, uma retração do órgão genital.
Pode-se bem perceber que os pesquisadores interromperam ali o trabalho. Não era conveniente, à época, criar-se uma pílula para o homem, capaz de produzir tamanho desastre na autoestima masculina.
Então, se voltaram para a mulher, cujos órgãos sexuais são internos e à base de estrogênio, de progesterona, ainda em quantidades nada científicas, apresentaram as primeiras pílulas. As primeiras mulheres que se decidiram por usá-las, se saíram muito mal.
Os problemas de mama, os cânceres abundaram até que, ao longo do tempo, a própria farmacologia, a bioquímica foram ajustando os níveis de estrogênio, de progesterona para que os médicos, ao conhecer o funcionamento orgânico de suas pacientes, pudessem indicar essa ou aquela pílula.
Deste modo, o problema grave foi atenuado, mas cada mulher responde por si, em virtude do uso que faça indiscriminado ou não, de anticonceptivos.
Não há dúvida de que a mulher tem o direito de se proteger, de se cuidar, mas não apenas em termos corporais.
*   *   *
O cuidado com o corpo é fundamental. Nenhuma mulher tem a obrigação de reproduzir aleatoriamente, reproduzir por reproduzir. Ela tem direito a se cuidar, tem o dever de se cuidar.
 Nada obstante, a mulher obedece a um programa no plano da Divindade. Lemos em O livro dos Espíritos, uma pergunta que é dirigida aos Imortais a respeito da missão do homem e da mulher: Qual é a mais importante para o Criador?
E a resposta incisiva das Entidades Espirituais, que orientam o planeta, é que a missão que Deus concedeu à mulher é superior àquela concedida ao homem, porque é a mulher que o educa.
Dessa maneira, começamos a perceber que seria lamentável se a mentalidade feminina descesse para esses patamares e fizesse com que a mulher se convertesse meramente numa máquina de fazer sexo. Cabe a ela a procriação, sem dúvida, mas cabe a ela o amor.
A mulher é essencialmente mãe, mesmo quando não tenha filhos do seu próprio corpo. A mulher é essencialmente mestra, professora. É essencialmente orientadora.
A natureza, nas mãos de Deus, fez com que a mulher tivesse uma sensibilidade maior. Então, qualquer produto químico que no organismo do homem realize um determinado efeito, em razão da sensibilidade feminina, no seu organismo, esse efeito será mais drástico.
É por essa razão que, quando percebemos esse uso indiscriminado de pílulas, desde as meninas novas até suas mães, até mulheres maduras, apenas para evitar-se a gravidez, lamentamos profundamente.
Porque naturalmente pensamos que a pílula, o anticoncepcional, não deveria existir apenas com esse propósito. Originalmente mesmo, o anticoncepcional surgiu para equilibrar o ciclo menstrual das mulheres. Não era chamado de anticoncepcional.
Os médicos descobriram que, ao regularizar o ciclo feminino, também agia sobre a hipófise, provocando sobre essa glândula um estado orgânico na mulher como se ela estivesse grávida. E, a partir daí, ela simulando essa gravidez, impede o amadurecimento de novos óvulos.
Essa era a função do anticoncepcional, como elemento utilizável pelas mulheres: fazer com que o organismo simulasse o tempo todo que a mulher está num estado de gestação, pela não ação da hipófise. Verificamos que a mulher simula, durante um longuíssimo tempo, algo que não é real e, obviamente, haverá consequências sobre o seu organismo.
Muitas alegam: Mas foi recomendação do meu médico!
Mas a orientação médica desses dias, com as exceções louváveis, é uma orientação materialista.
Grande número de facultativos não admite a existência da alma, do ser espiritual, não admite que nós sejamos Espíritos e que não estamos na Terra apenas para fazer sexo pelo sexo.
O sexo, ao lado da função procriadora, deve alimentar as almas que se unem pelos vínculos do respeito e do amor.
Deve servir para os grandes feitos da inteligência, para iluminar as criaturas e esses hormônios trocados, esses elementos trocados, do psiquismo de um para o psiquismo de outro, tem um endereço mais alto, que é a felicidade íntima da criatura.
É por essa razão que, quando o homem visita o bordel, o lupanar, para apenas auferir o prazer sensorial, aquilo não o satisfaz e ele tem que voltar de novo, como alguém que, na sede, decidir-se por beber água do mar. Pela sua salinidade, ela não sacia a sede.
É a partir disso então que, diante do anticoncepcional tão desbragadamente utilizado, vale a pena pensar que a mulher tem uma função diante das Leis Divinas. Usando ou não o contraceptivo, pensar que ela é a grande geradora da vida, a grande colaboradora de Deus, pelo mundo afora.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 198, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.
Programa gravado em agosto de 2009.
Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 15.08.2010.                                                                                           Em 16.11.2010.

Cristo reina!

Cristo reina!

Na Terra, vivem-se momentos de importantes transformações que influem sobre os indivíduos que, por seu turno, igualmente, se inscrevem no contexto das transmutações de si mesmos.
O hálito de Jesus Cristo envolve o mundo, sem dúvida, e Ele convoca Seus discípulos para o trabalho de redenção humana, pela via do amor.
Pelo orbe, pervagando os caminhos de todos, a loucura infanticida aterroriza; porém, Jesus reúne grupos de almas que se dedicam a salvar muitos dos recém chegados à atmosfera terrena, com boa-vontade e ternura.
Vêem-se quadros de abandono infantil em toda parte, entretanto, Jesus organiza falanges de devotados espíritos que se empenham em adotar e orientar, alimentar e manter crianças atingidas pela friagem de tantos corações.
Acompanham-se os que se agregam às indústrias da morte, mas um número imenso de lidadores ajusta-se às empresas da vida, em nome do Senhor.
Descobre-se o egoísmo a explorar comunidades inteiras dos menos afortunados de cultura intelectual, espalhando a miséria; entanto, o Cristo, sobrepujando o mal passageiro, prepara homens e mulheres que conduzem, ensinam, servem e amam, desinteressadamente, os irmãos do caminho.
Muitos entoam as cantilenas da guerra e da desagregação, enquanto o Mestre tem Seus servidores da paz e da construção do bem, difundindo luz sobre o Planeta.
Tantos seguem frios, indiferentes, desajustando-se na praça do gozo intérmino das sensações grosseiras; porém, Cristo arrebanha os Seus seguidores, dispostos e fiéis, aquecidos pela fraternidade que lhes propicia emoções sutis, que os aproxima do Reino, estendendo harmonias no mundo.
Deficientes físicos e doentes mentais acham apoio e proteção, sob o patrocínio Dele.
Macróbios desditosos encontram novo lar de afeto, sob a égide Dele.
Indigentes das sarjetas recebem assistência fraterna nas noites de abandono, sob inspiração Dele.
Governantes de sociedades e de povos se reúnem para o diálogo, nas decisões graves do momento humano, sob os auspícios Dele.
Almas delicadas que saem a servir, renunciando às próprias vidas para dá-las aos outros, fazem-no por amor a Ele.
Cristo reina sempre!
Em todas e quaisquer cogitações planetárias, somente Nele tem-se roteiro seguro para seguir-se em frente, firmemente.
Por mais se discuta sobre Sua figura excelsa, contra ou a favor, a realidade é que Jesus prossegue a Estrela fulgurante na noite caliginosa da Humanidade, anunciando a Boa Nova do Seu Natal, capaz de penetrar e sensibilizar, ativar e clarificar o âmago de todos aqueles que, mergulhados nas difíceis lutas da Terra, fazem-se homens de boa-vontade, espalhando bênçãos em Seu Nome.
Camilo
Mensagem psicografada pelo médium J. Raul Teixeira, em 15.10.1986, na Sociedade Espírita Fraternidade – Niterói – RJ.
Publicada no Jornal Mundo Espírita de dezembro de 1986.

E a Vida Continua... título de livro ditado por André Luíz que estreará como tema de filme.

E a Vida Continua...

Ayrton Paiva
André Luiz é o pseudônimo do médico que viveu no Rio de Janeiro e que, após sua desencarnação, passa  por um período de adaptação, até tornar-se cidadão da Colônia Espiritual “Nosso Lar”.

Atendendo às características da sua personalidade, logo se integra no estudo e em ações teórico-práticas
na nova dimensão de vida em que se encontra. Transforma seus estudos e trabalhos em emocionantes e esclarecedoras reportagens, que se consubstanciam em livros, captados pela admirável mediunidade de Francisco Cândido Xavier.
Inicia esses relatos na instigadora obra Nosso Lar e prossegue em muitas outras.
No livro E a Vida Continua..., André Luiz descreve suas observações, estudos e trabalhos na Espiritualidade.
Ao apresentá-lo, Emmanuel assim se expressa: Conquanto as personagens da história aqui relacionadas   todas elas figuras autênticas, cujos nomes foram naturalmente modificados para não ferir corações amigos na Terra – tenham tido, como já dissemos, experiências muito diversas daquelas que caracterizam as trilhas do próprio André Luiz, em seus primeiros tempos na Espiritualidade, é justo considerar que os graus de conhecimento e responsabilidade variam ao infinito.

Evelina Serpa e Ernesto Fantini encontram-se numa estância de águas medicinais, em Poços de Caldas e, por aparente acaso, ficam sabendo que estão com a mesma doença renal e que, em breve, deverão submeter-se a delicada e perigosa cirurgia. Aos poucos, do diálogo sobre a doença, diagnóstico e terminologia científica da enfermidade, a troca de informações e o partilhamento de ideias e dores vai unindo cada vez mais, sob o aspecto espiritual, aquelas duas almas que não haviam encontrado parceiros afins com seus sentimentos e emoções.
“A mirada recíproca lhes fazia observar que haviam caminhado, a passos compridos, para a intimidade profunda.
Onde vira antes aquela jovem senhora que a beleza e o raciocínio tanto favoreciam? – pensava Ernesto, atordoado.

Em que lugar teria encontrado alguma vez aquele cavalheiro maduro e inteligente que tão bem conjugava simpatia e compreensão?
– ‘refletia a senhora Serpa, incapaz de esconder o agradável assombro que a dominava’.” (Op.cit., p. 22 e 23.)
Chega o momento da partida e ambos já com o destino marcado para a cirurgia.
“[...] – Bem senhor Fantini, se houver outra vida, além desta, e se for a vontade de Deus que venhamos a sofrer, em breve, a grande mudança, creio que nos veremos de novo e seremos lá bons amigos... [...].” (Op. cit., p. 29.)

Mentalmente “procuremos enxergar” o reencontro.
“Evelina despertou num quarto espaçoso, com duas janelas deixando ver o céu.
Emergia de um sono profundo, pensou [...].” (Op. cit., p. 39.) Sim, era muito mais que um sono profundo... Passam os primeiros instantes.
Subitamente, sente-se como estivesse num agradável balneário. Ao derredor, pessoas simpáticas e amigas que ela, porém, não conhecia.
“Evelina interrogava-se, quanto ao melhor processo de estabelecer contato com alguém, quando viu um homem, não longe, que a fitava, evidentemente assombrado. Oh! não era aquele cavalheiro, exatamente Ernesto Fantini, o improvisado amigo das termas?

O coração bateu-lhe agitado e estendeu, na direção dele, os dois braços, dando-lhe a certeza de que o aguardava, de alma aberta.
Fantini, pois era ele mesmo, ergueu-se da poltrona em que se guardava e avançou para ela, a passos rápidos.
– Evelina!... Dona Evelina!... Estarei realmente vendo a senhora?
– Eu mesma! – respondeu a moça, chorando de alegria.
O recém-chegado não foi estranho à emotividade daquele minuto inesquecível. Lágrimas lhe rolaram no rosto simpático e sisudo, lágrimas que ele buscava enxugar, embaraçado, procurando sorrir.” (Op. cit., p. 46.)

Trocam impressões sobre os novos momentos que estão vivendo após a cirurgia, e as situações estranhas que estão acontecendo.
Estariam “mortos”? Mas estavam vivos!
De início, julgam estar em hospital especializado para restabelecimento, mas os fatos vão se sobrepondo até descobrirem que a vida continua, mesmo depois da morte.
Duas almas afins se reencontram.
Após a morte, a vida continua... e o amor também, principalmente o amor, cujas raízes se prendem no solo do tempo distante.
Mesmo nesse plano espiritual passam por provas.Aprendem a trabalhar para o bem do semelhante sob a tutela e orientação do Irmão Cláudio e Instrutor Ribas.
Socorrem familiares em tramas de desequilíbrio e sofrimento.

Finalmente:

A casa festejava os dois obreiros que haviam sabido vencer com devotamento e humildade, os tropeços iniciais do levantamento de bem-aventurado futuro!...
Rodeado de assessores, Ribas saudou-os no limiar e, tomando-os nos braços, como a filhos queridos, ergueu os olhos para o Alto e rogou, comovidamente:
– Senhor Jesus, abençoa os teus servos que se consagram hoje um ao outro em sublime união!... [...] (Op. cit., p. 255.)
Breve E a Vida Continua... – O Filme estará em apresentação nos cinemas.

A voz da consciência( Revista O Reformador)

A voz da consciência

Geraldo Campetti Sobrinho
Espiritismo é uma doutrina que abrange os aspectos religioso, filosófico e científico. Ficamos admirados com as respostas esclarecedoras que esta Doutrina fornece a qualquer questão formulada pelo ser humano, na busca do entendimento sobre a vida, a dor, o destino. Nenhuma dúvida fica sem explicação à luz do Espiritismo.
Basta percorrermos a leitura de O Livro dos Espíritos para confirmar que a principal obra espírita trata de todos os assuntos de interesse do homem.
Uma dúvida comum é quanto ao bem e ao mal. Como sabemos se estamos fazendo a coisa certa ou se estamos nos equivocando?
Vamos conferir a resposta.
Uma das perguntas mais conhecidas da obra basilar é a de número 621: Onde está escrita a lei de Deus?
E a resposta é decisiva: “Na consciência”.
A lei divina, sinônimo das leis naturais, está escrita na consciência.
Aprendemos nas lições espíritas que agimos no bem quando nossas ações estão em conformidade
com a lei de Deus, e praticamos o mal quando dela nos distanciamos.
Se há incerteza quanto à prática do bem ou do mal, basta consultarmos nossa consciência para saber se estamos agindo num sentido ou em outro.
Daí a necessidade de nos conhecermos para agirmos de forma integrada com o meio ambiente, com Deus, com o próximo e conosco mesmos.
Esse dispositivo íntimo chamado voz da consciência apontará o melhor caminho a ser seguido e a melhor escolha a ser realizada.
É necessário que nos preparemos para ouvir essa voz interna.
Se assim fizermos, estaremos sintonizados com nossa intuição e certamente passaremos a errar menos e a acertar mais nas ações cotidianas de nossa existência.

Referências:

KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 17, it. 3 e 4.
______. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 621.

Estêvão e o Evangelho ( Revista o Reformador)

Estêvão e o Evangelho

Flávio Rey de Carvalho

Em meio às comemorações dos 70 anos da obra Paulo e Estêvão, escrita pelo Espírito Emmanuel por intermédio da psicografia de Francisco Cândido Xavier, muito se tem falado de Saulo e Paulo, porém, pouco sobre Estêvão – o primeiro mártir do Cristianismo –, que ocupa papel relevante na obra em questão.
Tanto é que Emmanuel afirmou:
“Sem Estevão, não teríamos Paulo de Tarso”.1 Por conseguinte, o objetivo deste artigo consiste em destacar alguns breves pontos relativos à conduta adotada por Estêvão, quando ainda encarnado, para lidar com o entendimento do Evangelho e a sua explanação.

Conforme nos explicou Allan Kardec, na introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo:

Toda a gente admira a moral evangélica; todos lhe proclamam a sublimidade e a necessidade; muitos, porém, assim se pronunciam por fé, confiados no que ouviram dizer, ou firmados em certas máximas que se tornaram proverbiais. Poucos, no entanto, a conhecem a fundo e menos ainda são os que a compreendem e lhe sabem deduzir as consequências.
A razão está, por muito, na dificuldade que apresenta o entendimento do Evangelho que, para o maior número dos seus leitores, é ininteligível.A forma alegórica e o intencional misticismo da linguagem fazem que a maioria o leia por desencargo de consciência e por dever, como leem as preces, sem as entender, isto é, sem proveito. Passam-lhes despercebidos os preceitos morais, disseminados aqui e ali, intercalados na massa das narrativas. Impossível, então, apanhar-se-lhes o conjunto e tomá-los para objeto de leitura e meditações especiais.2

Na citação, Kardec diagnosticou a dificuldade de assimilação que há entre os conteúdos que constam dos textos evangélicos (nos quais estão os exemplos e as lições morais do Cristo) e a capacidade geral de cognição das pessoas. A tentativa de se inventariar as causas que motivam esse fato escapa à proposta deste artigo que, conforme já dito, busca somente destacar alguns pontos norteadores – com base em algumas frases de Estêvão – que possam nos ajudar na jornada da busca pelo entendimento do Evangelho assim como pela assimilação e pela aplicação prática de seus conteúdos.

Por volta de 35 d.C., Saulo de Tarso, que ocupava destacada posição no Sinédrio e era conhecido como fervoroso defensor da Lei de Moisés, seguiu, juntamente com seu amigo Sadoc, para verificar (no intuito de interditar) as pregações que ocorriam em humilde igreja em Jerusalém onde alguns homens, denominados do “Caminho”,3 supostamente estariam divulgando princípios “desonestos” em detrimento da Lei Mosaica.

Naquele dia, a pregação foi feita por Estêvão – “moço, magro e pálido, em cuja assistência os mais infelizes julgavam encontrar um desdobramento do amor do Cristo”.4 Durante a preleção, conforme descreveu Emmanuel:

Saulo de Tarso [...] verificou a diferença entre a Lei e o Evangelho anunciado por aqueles homens estranhos, que a sua mentalidade não podia compreender.
Analisou, de relance, o perigo que os novos ensinos acarretavam para o judaísmo dominante. Revoltara-se com a prédica ouvida, nada obstante a sua ressonância de misteriosa beleza. Ao seu raciocínio, impunha-se eliminar a confusão que se esboçava, a propósito de Moisés [...].5

Seguem-se então, por iniciativa do doutor da lei, séries de questionamentos e ataques direcionados verbalmente a Estêvão que, com serenidade e inspiração superior, soube contemporizar a situação oferecendo – conforme recomendara Jesus – a outra face.6
Acerca da questão, esclarecemos que não é nosso objetivo descrever os detalhes do debate ocorrido entre ambos, mas destacar três pontos da fala de Estêvão que nos podem ser úteis para o estudo e para a compreensão do Evangelho.

Em relação ao entendimento do Evangelho, durante a sua explanação, Estêvão revelou:
[...] Se não vos falei como desejáveis, falei como o Evangelho nos aconselha, arguindo a mim próprio na íntima condenação de meus grandes defeitos. [...]7
Para melhor compreendermos a citação, recorremos ao livro Luz imperecível – organizado por Honório Onofre de Abreu –, que nos elucida:
Incorporando-nos às figuras do próprio texto, habilitamo-nos a detectar em nós próprios, padrões ou atitudes, de ordem positiva ou negativa que lhes eram
peculiares [àquela época], a nos sugerirem [hoje] implementação de recursos ou mudanças de base, nas profundezas da alma.
A partir daí o texto vivifica. Pela autoanálise e na aplicação do “conhece-te a ti mesmo” levantamos caracteres peculiares àqueles personagens e que podem ou não estar presentes em nossa intimidade, tais sejam: hipocrisia, extremismo fanatizante, conhecimento não acionado, cegueira, paralisia ou surdez espirituais, ou quem sabe, nossa posição cadaverizada na indiferença ou na cristalização ante a dinamização da vida.8 (Grifo nosso.) Outro ponto relevante a ser ressaltado, refere-se ao reconhecimento e ao respeito às nossas limitações circunstanciais e contingenciais de cunho cognitivo. Segundo Estêvão:

– No tocante ao Evangelho [...], já vos ofereci os elementos de que podia dispor, esclarecendo o que tenho ao meu alcance [...].9
Conforme explicou Emmanuel, as lições do Evangelho são como as “pérolas” que vamos colecionando individualmente, ao longo de nossa marcha evolutiva espiritual, até formar um colar. A montagem desse colar advém, incondicionalmente, do aprendizado, da assimilação e da aplicação das lições morais, legadas a nós por Jesus.Assim, não podemos ter tudo de uma só vez, visto que “cada conceito do Cristo ou de seus colaboradores diretos adapta-se a determinada situação do Espírito, nas estradas da vida”.10 E argumenta o autor espiritual:

[...] o Evangelho, em sua expressão total, é um vasto caminho ascensional, cujo fim não poderemos atingir, legitimamente, sem conhecimento e aplicação de todos os detalhes.
[...] A mensagem do Cristo precisa ser conhecida, meditada, sentida e vivida. [...]11

Por último, Estêvão mencionou que, quando se trata do Evangelho:

[...] Jesus teve a preocupação de recomendar a seus discípulos que fugissem do fermento das discussões e das discórdias. Eis por que não será lícito perdermos tempo em contendas inúteis, quando o trabalho do Cristo reclama o nosso esforço. [...]9

É incongruente cogitar o contrário, visto que o objetivo máximo do Evangelho é o de promover a harmonização dos Espíritos – por intermédio do incentivo à cooperação e à fraternidade, em contraposição ao orgulho e ao egoísmo – à Lei Divina de Amor, força que rege e harmoniza todo o Universo.
Conforme explicou Emmanuel, é “indispensável abrir o coração à bondade, o cérebro à compreensão, a existência ao trabalho, o passo ao bem, o verbo à fraternidade...”12
Com tais diretrizes pinçadas do debate entre Saulo e Estêvão, o simples folhear superficial e automatizado das páginas evangélicas, sem reflexão e sem busca pelo entendimento, feito por mero “desencargo de consciência” e por simples “dever”– conforme consta na citação de Kardec no início do artigo – consiste em nada mais do que atividade inócua para a promoção do melhoramento do Espírito imortal. É chegado o momento de permitirmos que o Evangelho paulatinamente penetre em nosso âmago, isto é, conhecendo-o, meditando-o, sentindo-o e, finalmente, vivendo-o. Para isso, quando formos estudar a Boa Nova,procuremos seguir as recomendações de Estêvão, que foi o orientador espiritual de Paulo de Tarso na sua missão de divulgação do Cristianismo:
1) arguir a si próprio, estabelecendo uma relação de empatia com o conteúdo do texto;
2) entender o conteúdo do texto com moderação, respeitando seus limites cognitivos de modo a evitar cogitações e palpitesinfundados;
3) evitar discussões e discórdias, permitindo que o Evangelho cumpra o seu papel, isto é, promover a harmonização dos Espíritos à Lei Divina de Amor.

Referências:

1XAVIER, Francisco C. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 4. ed. esp. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Breve notícia, p. 9.
2KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Introdução, p. 24.
3Segundo Emmanuel, trata-se de “primitiva designação do Cristianismo”. Cf. XAVIER, Francisco C. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 4. ed. esp. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Pt. 1, cap. 3, nota de rodapé 1, p. 61.
4XAVIER, Francisco C. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 4. ed. esp. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Pt. 1, cap. 5, p. 92-93.
5______. ______. p. 97.
6“Ouvistes que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente’. Eu, porém, vos digo para não se opor ao malvado. Pelo contrário, ao que te bater na face direita, vira- lhe também a outra.” In: DIAS, Haroldo D. (Tradutor.) O novo testamento. Brasília: Edicei, 2010. Mateus, 5:38-39.
7XAVIER, Francisco C. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 4. ed. esp. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Pt. 1, cap. 5, p. 100.
8ABREU, Honório Onofre de (Org.). Luz imperecível: estudo interpretativo do Evangelho à luz da Doutrina Espírita. 6. ed. Belo Horizonte: UEM, 2009. Apresentação, p. 23.
9XAVIER, Francisco C. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 4. ed. esp. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Pt. 1, cap. 5, p. 101.
10______. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Interpretação dos Textos Sagrados, p. 14.
11______. Renúncia. Pelo Espírito Emmanuel. 3. ed. esp. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Pt. 2, cap. 3, p. 328.
12XAVIER, Francisco C. Bênção de paz. 15. ed. São Bernardo do Campo: GEEM, 2010. Cap. 35, p. 102.

Os Órfãos

Livro selecionado: "O Evangelho Segundo o Espiritismo"

Os Órfãos
Um Espírito Protetor
Paris, 1860
18. Meus irmãos, amai os órfãos! Se soubésseis quanto é triste estar só e abandonado, sobretudo quando criança! Deus permite que existam órfãos, para nos animar a lhes servirmos de pais. Que divina caridade, a de ajudar uma pobre criaturinha abandonada, livrá-la da fome e do frio, orientar sua alma, para que ela não se perca no vício! Quem estende a mão a uma criança abandonada é agradável a Deus, porque demonstra compreender e praticar a sua lei. Lembrai-vos também de que, freqüentemente, a criança que agora socorreis vos foi cara numa encarnação anterior, e se o pudésseis recordar, o que fazeis já não seria caridade, mas o cumprimento de um dever. Assim, portanto, meus amigos, todo sofredor é vosso irmão e tem direito à vossa caridade. Não a essa caridade que magoa o coração, não a essa esmola que queima a mão que a recebe, pois os vossos obolos são freqüentemente muito amargos! Quantas vezes eles seriam recusados, se a doença e a privação não os esperassem no casebre! Dai com ternura, juntando ao benefício material o mais precioso de todos: uma boa palavra, uma carícia, um sorriso amigo. Evitai esse ar protetoral, que revolve a lâmina no coração que sangra, e pensai que, ao fazer o bem, trabalhais para vós e para os vossos.
19. Que pensar das pessoas que, sofrendo ingratidão por benefícios prestados, não querem mais fazer o bem, com medo de encontrar ingratos?
Guia Protetor
Sens, 1862
Essas pessoas têm mais egoísmo do que caridade, porque fazer o bem somente para receber provas de reconhecimento, é deixar de lado o desinteresse, e o único bem agradável a Deus é o desinteressado. São ainda orgulhosas, porque se comprazem na humildade do beneficiado, que deve rojar-se aos seus pés para agradecer-lhes. Aquele que busca na Terra a recompensa do bem que faz, não a receberá no céu, mas Deus a reservará para o que assim não procede.
É necessário ajudar sempre aos fracos, mesmo sabendo-se de antemão que os beneficiados não agradecerão. Sabei que, se aquele a quem ajudais esquecer o benefício, Deus o considerará mais do que se fosseis recompensado pela sua gratidão. Deus permite que às vezes sejais pagos com a ingratidão, para provar a vossa perseverança em fazer o bem.
Como sabeis, aliás, se esse benefício, momentaneamente esquecido, não produzirá mais tarde os seus frutos? Ficai certos, pelo contrário, de que é uma semente que germinará com o tempo. Infelizmente, não vedes nunca além do presente; trabalhais para vós, e não tendo em vista os semelhantes. A benemerência acaba por abrandar os corações mais endurecidos; pode ficar esquecida aqui na Terra, mas quando o Espírito se livrar do corpo, ele se lembrará, e essa lembrança será o seu próprio castigo. Então, ele lamentará a sua ingratidão, desejará reparar a sua falta, pagar a sua dívida noutra existência, aceitando mesmo, freqüentemente, uma vida de devotamento ao seu benfeitor. É assim que, sem o suspeitardes, tereis contribuído para o seu progresso moral, e reconhecereis então toda a verdade desta máxima: um benefício jamais se perde. Mas tereis também trabalhado para vós, pois tereis o mérito de haver feito o bem com desinteresse, sem vos deixar abater pelas decepções.
Ah, meus amigos, se conhecêsseis todos os laços que, na vida presente, vos ligam às existências anteriores! Se pudésseis abarcar a multiplicidade das relações que aproximam os seres uns dos outros, para o seu mútuo progresso, admiraríeis muito melhor a sabedoria e a bondade do Criador, que vos permite reviver para chegardes a Ele!
20. A beneficência é bem compreendida, quando se limita ao círculo de pessoas da mesma opinião, da mesma crença ou do mesmo partido?
São Luís
Paris, 1860
Não, pois é sobretudo o espírito de seita e de partido que deve ser abolido, porque todos os homens são irmãos. O verdadeiro cristão vê irmãos em todos os seus semelhantes, e para socorrer o necessitado, não procura saber a sua crença, a sua opinião, seja qual for. Seguiria ele o preceito de Jesus Cristo, que manda amar até mesmo os inimigos, se repelisse um infeliz, por ter crença diferente da sua? Que o socorra, pois, sem lhe interpelar a consciência, mesmo porque, se for um inimigo da religião, será esse o meio de fazer que ele a ame. Repelindo-o, só faria que a odiasse.
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A Cólera

Livro selecionado: "O Evangelho Segundo o Espiritismo"

A Cólera
Um Espírito Protetor
Bordeaux, 1863
9. O orgulho vos leva a vos julgardes mais do que sois, a não aceitar uma comparação que vos possa rebaixar, e a vos considerardes, ao contrário, de tal maneira acima de vossos irmãos, seja na finura de espírito, seja no tocante à posição social, seja ainda em relação às vantagens pessoais, que o menor paralelo vos irrita e vos fere. E o que acontece, então? Entregai-vos à cólera.
Procurai a origem desses acessos de demência passageira, que vos assemelham aos brutos, fazendo-vos perder o sangue-frio e a razão; procurai-a, e encontrareis quase sempre por base o orgulho ferido. Não é acaso o orgulho ferido por uma contradita, que vos faz repelir as observações justas e rejeitar, encolerizados, os mais sábios conselhos? Até mesmo a impaciência, causada pelas contrariedades, em geral pueris, decorre da importância atribuída à personalidade, perante a qual julgais que todos devem curvar-se.
No seu frenesi, o homem colérico se volta contra tudo, à própria natureza bruta, aos objetos inanimados, que despedaça, por não o obedecerem. Ah! Se nesses momentos ele pudesse ver-se a sangue-frio, teria horror de si mesmo ou se reconheceria ridículo! Que julgue por isso a impressão que deve causar aos outros. Ao menos pelo respeito a si mesmo, deveria esforçar-se, pois, para vencer essa tendência que o torna digno de piedade.
Se pudesse pensar que a cólera nada resolve, que lhe altera a saúde, compromete a sua própria vida, veria que é ele mesmo a sua primeira vítima. Mas ainda há outra consideração que o deveria deter: o pensamento de que torna infelizes todos os que o cercam. Se tem coração, não sentirá remorsos por fazer sofrer as criaturas que mais ama? E que mágoa mortal não sentirá se, num acesso de arrebatamento, cometesse um ato de que teria de recriminar-se por toda a vida!
Em suma: a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede que se faça muito bem, e pode levar a fazer-se muito mal. Isso deve ser suficiente para incitar os esforços para dominá-la. O espírita, aliás, é incitado por outro motivo: o de que ela é contrária à caridade e à humildade cristãs.
Hahnemann
Paris, 1863
10. Segundo a idéia muito falsa de que não se pode reformar a própria natureza, o homem se julga dispensado de fazer esforços para se corrigir dos defeitos em que se compraz voluntariamente, ou que para isso exigiram muita perseverança. É assim, por exemplo, que o homem inclinado à cólera se desculpa quase sempre com o seu temperamento. Em vez de se considerar culpado, atribui a falta ao seu organismo, acusando assim a Deus pelos seus próprios defeitos. É ainda uma conseqüência do orgulho, que se encontra mesclado a todas as suas imperfeições.
Não há dúvida que existem temperamentos que se prestam melhor aos atos de violência, como existem músculos mais flexíveis, que melhor se prestam a exercícios físicos. Não penseis, porém, que seja essa a causa fundamental da cólera, e acreditai que um Espírito pacífico, mesmo num corpo bilioso, será sempre pacífico, enquanto um Espírito violento, num corpo linfático, não seria dócil. Nesse caso, a violência apenas tomaria outro caráter. Não dispondo de seu organismo apropriado à sua manifestação, a cólera seria concentrada, enquanto no caso contrário seria expansiva.
O corpo não dá impulsos de cólera a quem não os tem, como não dá outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito. Sem isso, onde estariam o mérito e a responsabilidade? O homem que é deformado não pode tornar-se direito, porque o Espírito nada tem com isso, mas pode modificar o que se relaciona com o Espírito, quando dispõe de uma vontade firme. A experiência não vos prova, espíritas, até onde pode ir o poder da vontade, pelas transformações verdadeiramente miraculosas que se operam aos vossos olhos? Dizei, pois, que o homem só permanece vicioso porque o quer, mas que aquele que deseja corrigir-se sempre o pode fazer. De outra maneira, a lei do progresso não existiria para o homem.
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O Mal e o Remédio

O Mal e o Remédio
• Santo Agostinho •
Paris, 1863
19. Vossa terra é por acaso um lugar de alegrias, um paraíso de delícias? A voz do profeta não soa ainda aos vossos ouvidos? Não clamou ele que haveria choro e ranger de dentes para os que nascessem neste vale de dores? Vós que nele viestes viver, esperai portanto lágrimas ardentes e penas amargas, e quanto mais agudas e profundas forem as vossas dores, voltai os olhos ao céu e bendizei ao Senhor, por vos ter querido provar! Oh, homens! Não reconhecereis o poder de vosso Senhor, senão quando ele curar as chagas de vosso corpo e encher os vossos dias de beatitude e de alegria? Não reconhecereis o seu amor, senão quando ele adornar vosso corpo com todas as glórias, e lhe der o seu brilho e o seu alvor? Imitai aquele que vos foi dado para exemplo. Chegado ao último degrau da abjeção e da miséria, estendido sobre um monturo, ele clamou a Deus: "Senhor! Conheci todas as alegrias da opulência, e vós me reduzistes à mais profunda miséria! Graças, graças, meu Deus, por terdes querido provar o vosso servo!" Até quando os vossos olhos só alcançarão os horizontes marcados pela morte? Quando, enfim, vossa alma quererá lançar-se além dos limites do túmulo? Mas ainda que tivésseis de sofrer uma vida inteira, que seria isso, ao lado da eternidade de glória reservada àquele que houver suportado a prova com fé, amor e resignação? Procurai, pois, a consolação para os vossos males no futuro que Deus vos prepara, e vós, os que mais sofreis, julgar-vos-eis os bem-aventurados da Terra.
Como desencarnados, quando vagueáveis no espaço, escolhestes a vossa prova, porque vos consideráveis bastante fortes para suportá-la. Por que murmurais agora? Vós que pedistes a fortuna e a glória, o fizestes para sustentar a luta com a tentação e vencê-la. Vós, que pedistes para lutar de alma e corpo contra o mal moral e físico, sabíeis que quanto mais dura fosse a prova, mais gloriosa seria a vitória, e que, se saísseis triunfantes, mesmo que vossa carne fosse lançada sobre um monturo, na ocasião da morte, ela deixaria escapar uma alma esplendente de alvura, purificada pelo batismo da expiação e do sofrimento.
Que remédios, pois, poderíamos dar aos que foram atingidos por obsessões cruéis e males pungentes? Um só é infalível: a fé, voltar os olhos para o céu. Se, no auge de vossos mais cruéis sofrimentos, cantardes em louvor ao Senhor, o anjo de vossa guarda vos mostrará o símbolo da salvação e o lugar que devereis ocupar um dia. A fé é o remédio certo para o sofrimento. Ele aponta sempre os horizontes do infinito, ante os quais se esvaem os poucos dias de sombras do presente. Não mais nos pergunteis, portanto, qual o remédio que curará tal úlcera ou tal chaga, esta tentação ou aquela prova. Lembrai-vos de que aquele que crê se fortalece com o remédio da fé, e aquele que duvida um segundo da sua eficácia é punido, na mesma hora, porque sente imediatamente as angústias pungentes da aflição.
O Senhor pôs o seu selo em todos os que crêem nele. Cristo vos disse que a fé transporta montanhas. Eu vos digo que aquele que sofre e que tiver a fé como apoio, será colocado sob a sua proteção e não sofrerá mais. Os momentos mais dolorosos serão para ele como as primeiras notas de alegria da eternidade. Sua alma se desprenderá de tal maneira de seu corpo, que, enquanto este se torcer em convulsões, ela pairará nas regiões celestes, cantando com os anjos os hinos de reconhecimento e de glória ao Senhor.
Felizes os que sofrem e choram! Que suas almas se alegrem, porque serão atendidas por Deus.
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