Ao praticar quase uma dezena de abortos, estava convicta de livrar-se para sempre daquele desagradável “contratempo”. Ignorava que em cada gravidez estava presente um espírito reencarnante, interessado em viver e necessitado de uma existência na carne, a fim de realizar alguma tarefa essencial ao seu processo evolutivo.[...] E o que foi programado para você? Quais são seus planos a respeito dessa existência? _ Eu não tenho planos, está entendendo? Não tenho muita escolha, não. _ Sim, mas o que você vai fazer? Vai nascer pobre, com dificuldades, ou como será? Algum lar já deve estar programado para você.- É. Vou nascer numa família de uns dez filhos ou oito. Então minha mãe vai morrer e eu vou ter que criar esse bando de crianças! (Fala destacando certas palavras para dar-lhes ênfase especial).”
Escrito por Herminio C. Miranda
Há dois meses vínhamos trabalhando em nossas atividades mediúnicas, junto de determinada instituição espiritual, quando se manifestou uma entidade feminina, em pranto.
Segundo apuramos depois, vinha de uma existência de irresponsabilidades e crimes contra a natureza humana. Fora uma bela mulher que usou seus encantos pessoais para escravizar pessoas aos seus caprichos e às suas ânsias.
Os homens estendiam-lhe seus mantos para que ela passasse sobre eles, explicou. Levava-os ao desespero, ao alcoolismo e até a última degradação da sarjeta. Casamento? De forma alguma! Precisava gozar a vida.
Filhos? Nem pensar! Por isso, rejeitava-os sistematicamente quando ocorria qualquer gravidez, sempre indesejável e inoportuna.
Ao praticar quase uma dezena de abortos, estava convicta de livrar-se para sempre daquele desagradável “contratempo”. Ignorava que em cada gravidez estava presente um espírito reencarnante, interessado em viver e necessitado de uma existência na carne, a fim de realizar alguma tarefa essencial ao seu processo evolutivo.
Os pequenos fetos arrancados pela violência de seu belo corpo eram prontamente destruídos e logo esquecidos, mas os espíritos, não. Ficaram à sua espera no mundo espiritual para cobrar-lhe, um dia, o assassinato de que haviam sido vítimas.
Depois de muito penar pelos escuros planos da dor, fora recolhida pela instituição de que vínhamos cuidando e que começava a desarticular-se irremediavelmente, por causa do afastamento de seus dirigentes. Não que tivesse resolvido seus problemas pessoais, pelo contrário, dado que, longe de ter iniciado o resgate de suas antigas faltas, continuava a assumir mais responsabilidades ao cometer novos desatinos, pelos quais também teria de responder um dia. Pelo menos tinha, ali, certa “proteção”, a troco dos seus serviços, colaborando para que os objetivos desagregadores das sombras fossem eventualmente alcançados.
Desmantelada a comunidade, contudo, restaram a ela apenas duas opções: assumir, finalmente, suas responsabilidades cármicas e enfrentar as dificuldades do resgate ou ficar novamente entregue às aflições e incertezas do que a Codificação Espírita caracteriza como estado de erraticidade.
Decidiu pelo trabalho da reconstrução de seu atormentado espírito, com todos os seus riscos e sofrimentos, carências e frustrações. Foi honesta conosco ao enfatizar que não era com alegria que resolvera aceitar a pesada carga. A palavra adequada para ela nem era aceitação. Se pudesse, tudo faria para livrar-se daquilo ou, pelo menos, atenuar um pouco o peso que, de repente, parecia ter desabado sobre ela, mas reconhecia, no fundo, que não tinha alternativa. O caminho era aquele mesmo; ela própria o escolhera, ao precipitar-se no abismo de suas paixões.
Teve, contudo, um gesto de grandeza, demonstrando que já começava nela o processo da regeneração. Referindo-se às inúmeras mulheres que continuam a praticar abortos sucessivos, sugeriu-nos:
_ Conta para elas essas coisas, conta. Conta o que está me esperando… Vai falar com elas aí! Vai, fala e escreve. Por que você não faz isso? Conta! Fala!
“Esta história é, portanto, um recado que estou transmitindo em nome e a pedido de alguém que sabe.
Ao conversar conosco, naquela noite, já há algum tempo se encontrava recolhida pelos trabalhadores do bem, a uma comunidade de recuperação. O diálogo que se lê, a seguir, é a fiel transcrição da nossa conversa. A primeira fala é dela, e estava em pranto logo que se manifestou.
_ Não me leva! Não me leva pra lá! Eu não quero ir! Eu não tenho onde ficar!
_ Tem sim. Todos nós estamos guardados em Deus. Todos temos para onde ir.
Ninguém será jogado fora.
_ Nunca tive nada de meu. Nunca tive pra onde ir. E agora, não quero ir para lá também. Não quero! Não quero ir pra lá pra nascer de novo… Que eu vou ganhar aí, no mundo?
_ Você vai ganhar aquilo que perdeu. As coisas que você fez errado, vai ter oportunidade de fazer de novo, de acertar. Vai ser recebida por pessoas que querem te ajudar…
_ Será que querem mesmo? Toda vida fui recebida por pessoas que queriam saber o que podiam tirar de mim.
_ Sim, mas havia alguma razão para que isso acontecesse dessa maneira, não é, minha filha? Você não acha que a pessoa que concordou em receber você como filha, quer ajudar? Você conhece a pessoa?
_ Não conheço, não. (Não é verdade isto, como veremos).
_ Você já sabe quem vai recebê-la?
_ Não sei quem vai, eu sei é que…
_ Talvez você não esteja compreendendo bem isso aí.
_ O que eu não estou compreendendo? Estou compreendendo agora…
_ Você não queria? Preferia continuar assim como está? É isso?
_ Não sei o que eu preferiria, não. Às vezes acho que vai ser bom nascer de novo… Você esquece… todo mundo te pega no colo porque você é um neném. Até você lembrar de novo, já descansou um bom tempo.
Refere-se, portanto, à terrível pressão das lembranças desagradáveis, dos remorsos dolorosos, das angústias do ser que se reconhece culpado e contempla, desalentado, a penosíssima tarefa da recuperação espiritual.
_ È que você tem muitas agonias no espírito – diz o doutrinador -, mas a Lei é generosa e pacificadora. Ela nos concede o esquecimento exatamente para que possamos recomeçar tudo de novo.
_ Às vezes eu acho que deveria ser bom, mas quando penso em tudo quanto vou ter que passar… que me disseram lá que eu vou ter que passar…
_ Pois é, minha irmã, mas a gente está devendo à Lei… É preciso passar por essas coisas para aprender. Você não acha? É preciso ter paciência. Você precisa aceitar isso. Se fôssemos perfeitos, bonzinhos, caridosos, não estaríamos passando por tantas coisas, não é? Você está lembrando de uma vida em que foi maltratada, foi espoliada, mas não se lembra das outras, quando foi a sua vez de espezinhar, de maltratar…
_ Eu não acho que fosse uma pessoa capaz de fazer isso. Eu não acho…
_ Por que você acha, então, que a Lei lhe pediu isso?
_ Não interessa a Lei de Deus! Interessa é o que vou ter de passar por isso e ponto final!
_ Sei, minha querida. Mas não é só. Interessa saber que você vai ficar boa.
Você não é uma pessoa má. Você não faria mais aquilo que fez.
_ Como é que você diz que eu fiz? Você sabe o que eu fiz?
_ Se você passou pelas coisas que passou, é porque devia.
_ Outra vez! Ter de viver de novo, ter que… aguentar tudo!
_ Você já conversou sobre isso com os nossos companheiros?
_ Já, já… Mais de uma vez.
_ E o que foi programado para você? Quais são seus planos a respeito dessa existência?
_ Eu não tenho planos, está entendendo? Não tenho muita escolha, não.
_ Sim, mas o que você vai fazer? Vai nascer pobre, com dificuldades, ou como será? Algum lar já deve estar programado para você.
_ É. Vou nascer numa família de uns dez filhos ou oito. Então minha mãe vai morrer e eu vou ter que criar esse bando de crianças! (Fala destacando certas palavras para dar-lhes ênfase especial).”
“_ Sim, mas isso não é uma oportunidade muito boa para você?
_ Não vou poder me casar porque estou criando irmãos. Não vou poder estudar porque estou criando irmãos. Não vou passear, não vou me divertir… Vou ficar dentro de casa cuidando de irmãos…
_ Sim, mas esses irmãos não são escolhidos ao acaso, não é? São seres ligados a você. São pessoas às quais você deve esse favor, esse compromisso, essa oportunidade. Em algum ponto de suas vidas passadas, você tirou alguma coisa delas.
_ Sabe? Desgraçada a mulher que não usa bem o sexo!
_ É. Isso é verdadeiro, sim. Você tem razão.
_ Desgraçada dela! Quer dizer, não vou casar, mas vou ter que sustentar criança, vou ter que tomar conta de crianças… Vou ter que ser mãe das crianças! Só porque fiz alguns abortinhos…
_ Só porque?…
_ Qual a mulher que não fez um aborto na vida?
_ Pois é, minha filha, mas você acha isso certo?
_ Eu, quando fiz, achava. Achava que era!
_ Hoje você não acha, mas o erro ficou lá, de alguma forma.
_ E eu que não dou para esse negócio de ser mãe! Você já imaginou?
_ Você terá que aprender, irmã.
_ Não dou pra isso. Eu nunca quis filho, justamente por causa disso.
_ É, mas a sua mãe teve você…
_ Aí foi problema dela. Ela quis… Eu não quis ter nenhum e não tive. Não tem escolha. Tem?
_ Tem a escolha e tem a responsabilidade também, não é?
_ Agora, não. Ou você aceita isso, ou então continua na vida que quiser.
Quer dizer… Eu não tenho mais a vida que eu quiser, porque onde eu estava com os meus amigos, não dá mais. Então você fica entre a cruz e a caldeirinha…
_ A não ser a penosa reencarnação que estava programada para ela, a única opção viável agora seria uma indefinida fase de agonias, vagando sem rumo pela vastidão dos mundos de desarmonia e de angústia, perseguida implacavelmente pelos adversários que a insensatez criou para ela. Ante tais perspectivas, ambas assustadoras e aflitivas, o mal menor ainda era a reencarnação que, sem ser compulsória, apresentava-se como única alternativa aceitável.
_ Eram seus amigos? Pergunta o doutrinador.
_ Eram, sim, meus amigos. Então, vou ter que ir, vou ter que nascer, vou ter que cuidar desse bando de crianças. Vou criar mesmo! Quando a mãe morrer, o último vai ser um bebê. Acabou de nascer, ela morre… E eu vou criar todo mundo. Você já viu?
_ Você não acha que é uma oportunidade de mostrar que sabe fazer alguma coisa? Quando você terminar essa existência, se houver cumprido direitinho suas tarefas, sua consciência estará em paz. Na próxima vida, depois dessa, você já não terá mais esses compromissos. Vai ter oportunidade de ser feliz, ter o seu marido, seu lar, sua casa… o que você desejar, enfim.
_ Você já imaginou que destino triste?
_ Sei, minha querida. Mas você poderia ter aceitado essas crianças quando tinha condições, e não quis, não é? Não precisava ser triste. Se eles tivessem sido seus filhos, naquela outra vida, você não teria tido grandes dificuldades. Você não dispunha de recursos? Na ocasião em que podia você não quis. Agora…
_ Sabe para onde vou ter que ir? Disseram que vou ter que ir para a Argentina, porque lá é que está o pessoal todo. Tenho que ir… E o pior é que vou ser uma moça bonita. Os homens vão querer casar comigo e eu não vou poder casar. Nenhum vai querer aceitar aquele bando de crianças.
_ Quem sabe não aparece um companheiro que queira?
_ Não! Está lá!… Não. Já sei que não vou. Já me disseram: “Você não vai casar. Se casar, vai complicar tudo!”
_ Então, veja bem. Você rejeitou essas crianças quando poderia tê-las aceito, com muito maior facilidade. Não quis. É direito seu…
_ É. Eu andei fazendo uns abortozinhos… Mas eu… não é porque eu não gostava; eu não podia ter filhos!
_ Como não podia?
_ Não podia… Eu não queria casar. Eu queria uma vida livre. Quer dizer…
_ Então, você escolheu, tomou uma decisão e a responsabilidade ficou.
_ Mas eu nunca achei que fosse uma coisa tão ruim assim.
_ Você não achou, mas a Lei sabe que era. E hoje você sabe que é tão grave que vai precisar fazer um sacrifício maior para se recompor.
_ Mas, então, por que… (para, hesita, pensa). Ah!, não. A moça disse lá.
Eu perguntei: “Então por que eu não caso e eles não vêm como meus filhos?”
Eles me disseram que há uns tão revoltados comigo que nunca vingariam como filho.
Entende? Não iam conseguir. Eu também ia rejeitar e eles me rejeitariam e iria ser uma confusão danada! Então, vindo com outra mãe, eu vou ser irmã e isso é diferente.
_ É. Você vê como tudo é lógico e direitinho…
_ Que lógico? Sei lá… Não estou pensando nisso. Estou pensando no problema em si. É, podiam ser meus filhos, porque aí eu casava e teria alguém para me sustentar, para me dar uma vida melhor.
Você já imaginou? Eu vou trabalhar que nem uma desesperada!
_ O trabalho não mata ninguém, minha irmã. Pelo contrário, ocupar as mãos com algum trabalho digno…
_ Não vou ocupar, não, vou esfolar…
_ Não importa. Depois que você abandonar esse corpo, seu espírito estará em paz, estará redimido, pelo menos quanto a esse aspecto.
_ Pois é, mas será que eu vou aguentar? E que vou ter que… Eu, uma criança ainda… Você imagina? Já estou vendo o drama todo na minha frente.
_ Mas, minha querida, não há outro caminho. É esse aí que você tem que aceitar. É por ali mesmo que você tem de passar. Você não quis passar da outra vez, que era mais fácil, vai passar agora que é difícil. É como se você tivesse de fazer uma caminhada com um belo dia de sol, e você não quis.
Agora vai fazer com chuva mesmo.
_ Eu disse pra eles: “Então porque não faz o seguinte: o meu futuro pai não casa com outra mulher, para ter uma madrasta para cuidar?
E eu vou ajudar a cuidar das crianças…”
_ Isso não resolveria os problemas ali. Você tem de assumir a responsabilidade que rejeitou da outra vez…
_ Lavar, passar e ainda costurar a máquina!
_ Não é vexame nenhum isso aí…
_ Eu, uma escrava daquele bando de crianças…
_ Se você os tivesse aceitado da outra vez, eles iriam crescer e ajudar, quando você fosse mais velha. Iriam trabalhar… Talvez você terminasse a vida em perfeita paz e conforto.
_ Não sei, não. Por que a gente…
_ É. Você tem razão. Por que a gente erra, não é? Uma pena…
_ Não é porque a gente erra, não. Não estou dizendo isso. Meu deus do céu, como é que você fica? Você vai para o mundo, o mundo tem uma porção de coisas que são atraentes, que você quer. Você é uma mulher bonita, você… ué!
Você não tem que viver? A gente tem os instintos… Você tem que viver. Por que Deus criou essas coisas?
_ Está muito bem. Mas você pode exercer seus instintos, atender suas solicitações, mas não precisa matar ninguém, não é , minha irmã?
_ Que matei? Aborto não é matar ninguém!
_ É um assassinato. Não há diferença. A criatura não pode nem defender-se.
_ Engraçado! No meio disso tudo, desse bando de crianças… até me mostraram lá um “retrato”, tem um menino… um só… que eu não vou ter problema com ele.
Ele gosta de mim. De onde ele gosta de mim, não sei. Ainda não apurei isso.
Ele gosta de mim. Então, dizem que ele pediu, ele quer vir… É o segundo irmão: eu, depois ele, porque assim ele vai ajudar.
_ Que bom! Já vai melhorar um pouco o sofrimento.
_ Ah, que nada! Acontece que ele está pedindo isso. É diferente. Eu, não: eu tenho que aceitar, contra a minha vontade. Porque, vou lhe falar com toda franqueza, se fosse para dizer “Você escolhe”, eu não ia, não. Não ia, porque tenho minhas dúvidas se vou aguentar um negócio desses. É um “negócio” muito pesado. Não estou acostumada com isso. Eu tive uma vida de princesa, de rainha, com todo mundo… Quer dizer, não fui princesa ou rainha, foi uma vida de princesa, de rainha, todo mundo fazendo o que eu queria, com os homens ali, botando a capa no chão pra eu pisar por cima e passar… Agora, de repente… Quer dizer, estou acostumada com isso… Nunca usei minhas mãos para lavar roupa. Agora, você já imaginou? Eu tenho que lavar roupa, com as minhas mãos! Com estas mãos aqui… Vou ter que ficar numa máquina costurando. Vou ter que criar calos. Tudo por causa de irmão! Vou ter uma raiva danada deles! Tenho medo!
_ Se cometer tolice, você vai complicar-se ainda mais. Olhe que aí não vai ser mais caminhar na chuva, não; vai ser muito pior.
_ Por que isso? Será que você não “dava” um jeito? Você conhece eles lá (os nossos amigos espirituais). Você não pode pedir pra eles… “maneirar” um pouquinho o negócio pra mim? Vai lá, fala, pede… Diz que eu sou sua parenta, sua conhecida… qualquer coisa.
_ Você acha que eu vou chegar lá pregando mentira?
_ Mas você não diz que sou sua irmã? Então! Você podia ir lá falar…
“_ Minha filha, você sabe lá? Se fossem cobrar tudo mesmo, aí, sim, você não iria aguentar.
_ Mas você não acha que isso é demais?
_ Não. Não acho.
_ Puxa! Que você está pensando? São dez crianças! São nove porque eu sou o dez… Vou ser mãe de nove crianças.
_ Imagine se fossem 30 ou 40…
_ É, você é doido mesmo…
_ Imagine se você tivesse que nascer cega ou paralítica, ou surda…
_ Ah, pelo menos ia ter alguém que cuidasse de mim.
_ Não sei. Muita gente passa a vida toda cega, sem ter quem cuide.
A solidão é uma coisa terrível, minha irmã. Afinal de contas, você vai ter uma família. Quando eles crescerem, mesmo que não te retribuam, vai haver um para te ajudar, amar e respeitar. Vai partilhar com você essas agonias todas. Mas, quem sabe, mesmo entre eles, os outros sete ou oito, alguns pensem: “Essa irmã sacrificou-se. Eu não gostava dela, mas, afinal de contas, ela foi boa para a gente.”
_ Não está com jeito, não. Do jeito que eu vejo, vai ser tudo um bando de ingratos, que vão fazer de mim gato e sapato. Isso é que eu acho.
_ Se você usar sua inteligência, sua capacidade de amar, poderá transformá-los em seres que te amem.
_ E a minha vida de moça?
_ Isso é tão importante assim? Você teve uma vida de moça e não a utilizou corretamente. Você mesma disse aí, no princípio, que não usou bem os seus encantos. Usou-os para dominar, para corromper, enfim, para fazer tudo quanto veio à cabeça.
_ Isso tudo é tão complicado! Se a gente soubesse a confusão que dá, não faria certas coisas. Vou lhe contar, não faria mesmo!
_ Veja bem. Você sabe agora. Agora você está sabendo.
_ Pois é, mas agora que eu sei, é tarde. Vou ter que aguentar. E tem mais, eu não lhe falei. Vou ter um pai, não é? Mas esse pai vai ser um alcoólatra.
Disseram-me que, numa outra vida, eu fiz dele um alcoólatra. Ele teve um desgosto e deu de beber, beber… e acabou morto, numa sarjeta, por minha causa, porque se apaixonou por mim. Agora, que mulher pode ter culpa se um homem se apaixona por ela? Eu tenho culpa? Se amanhã você se apaixona por mim… Vamos ver.
O que eu vou fazer? Você se apaixonou porque quis. Mas aí, deixa eu contar, pra você ver o quadro como é preto. Então, vou ter esse pai, que vai ser outra carga em cima de mim. Quer dizer, vou ter que ficar com o peso todo, porque ele vai chegar em casa bêbado. Vou ter que ajudar, vou ter que… Ó meu Deus! Parece coisa de novela, não parece? Parece história de folhetim. Se contar, ninguém acredita. E eu vou… Quer dizer… É um romance que já está escrito. Já foi escrito! Mostraram-me tudo lá. E um romance que já está escrito!
(Trecho do livro As mil faces da realidade espiritual, escrito por Herminio C. Miranda - Ed.CEAC)