ROTEIRO
21
Objetivos
• Analisar, sob a ótica da Doutrina Espírita, o Apocalipse de
João.
IDÉIAS PRINCIPAIS
CRISTIANISMO E ESPIRITISMO
MÓDULO II - O CRISTIANISMO
• O Divino Mestre chama aos Espaços o Espírito João [...] e o Apóstolo, atônito
e aflito, lê a linguagem
simbólica invisível. [...] Todos os fatos posteriores à
existência de João estão ali
previstos. É verdade que freqüentemente a descrição
apostólica penetra o terreno
mais obscuro; vê-se que a sua expressão humana não
pôde copiar fielmente a
expressão divina das suas visões de palpitante interesse
para a história da Humanidade. Emmanuel: A caminho da luz. Cap. 14.
• O autor do apocalipse abre seu livro apresentando-o como uma
revelação de
Jesus Cristo sobre as coisas que
haviam de acontecer, inclusive a futura vinda do
Mestre à terra, em Espírito, e
cercado da glória de seus anjos. Cairbar Schutel:
Interpretação sintética do
apocalipse, p.16.
O APOCALIPSE DE JOÃO
314
Estudo
Aprofundado da Doutrina Espírita
Introdução
Os textos apocalípticos,
nos dois séculos que precederam a vinda do Cristo,
tiveram muito êxito em alguns
ambientes judaicos. Tendo sido anteriormente
elaborados pelas visões dos
profetas como Esequiel e Zacarias, esse gênero de
escritura desenvolveu-se
também no livro de Daniel. Apenas um apocalipse
ficou registrado no Novo
Testamento. Seu autor é o apóstolo João, autor do
quarto Evangelho,
escrevendo-o quando de seu exílio na ilha de Patmos.
No fim do Novo Testamento
está a Revelação de João, que, assim como o Livro de
Daniel, é um apocalipse, um tipo de literatura conhecido na época. O Apocalipse se
compõe de uma série de
visões que evocam imagens de uma dramática cena final.
Distingue-se do Livro de
Daniel, que é seu equivalente apocalíptico judaico, de duas
maneiras importantes. Em
primeiro lugar, é um livro cristão, no qual Cristo irá assumir
definitivamente o controle
e vencer o mal; em segundo lugar, no Apocalipse o fim do
mundo [fim do mal] já
começou. Não se trata de algo que ocorrerá num futuro distante.
Depois da obra de Jesus
pela salvação, já teve início a batalha decisiva entre o bem e o
mal. O Apocalipse de João
é, pois, mais que uma escritura profética. Redigido durante
as perseguições contra os
cristãos travadas no reinado do (81-96), do imperador Domiciano,
descreve a situação dos
cristãos da época, constantemente ameaçados de martírio.
Acima de tudo, portanto, é
uma escritura consoladora destinada aos cristãos que viviam
naquele período atribulado.
Nela, o Estado romano é chamado de a ‘‘besta’’, ‘‘o dragão’’
ou ‘‘a grande prostituta’’.
Mas, no embate final Cristo, o Cordeiro, vencerá as forças da
escuridão. O livro chega
então ao final com uma visão de ‘‘um novo céu e uma nova
terra’’. Com suas imagens
nascidas de uma necessidade histórica, o Apocalipse é pouco
familiar aos leitores
modernos e já recebeu variadas interpretações através dos tempos.
Pode-se dizer que nenhum
outro livro da Bíblia tem sido tão mal empregado. Com sua
SUBSÍDIOS
MÓDULO II
Roteiro 21
315
Estudo
Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
fé em Deus claramente
expressa, levando a uma vitória final do bem sobre o mal, ele é,
mesmo assim, uma conclusão
apropriada para a maneira como a Bíblia descreve a grave
situação do mundo. 8
1. Orientações para o estudo
do apocalipse
A linguagem simbólica do
Apocalipse de João desestimula, em geral, a sua
leitura. É possível, porém,
torná-la compreensível, observando-se alguns pontos
importantes: o entendimento
do significado de apocalipse, quanto à etimologia
e ao conceito; a
visualização do contexto histórico da Igreja nascente, e a razão
do advento do Apocalipse.
1.1 - Significado de
apocalipse
O termo ‘‘apocalipse’’ é a
transcrição duma palavra grega que significa revelação; todo
apocalipse supõe, pois, uma
revelação que Deus fez aos homens, revelação de coisas ocultas
e só por Ele conhecidas,
especialmente de coisas referentes ao futuro. É difícil definir
exatamente a fronteira que
separa o gênero apocalíptico do profético, do qual, de certa
forma, ele não é mais que
prolongamento; mas enquanto os antigos profetas ouviam as
revelações divinas e as
transmitiam, oralmente, o autor de um apocalipse recebia suas
revelações em forma de
visões, que consignava em livro. Por outro lado, tais visões não
têm valor por si mesmas,
mas pelo simbolismo que encerram, pois em apocalipse tudo
ou quase tudo tem valor
simbólico: os números, as coisas, as partes do corpo e até os
personagens que entram em
cena. Ao descrever a visão, o vidente traduz em símbolos as
idéias que Deus lhe sugere,
procedendo então por acumulação de coisas, cores, números
simbólicos, sem se
preocupar com a incoerência dos efeitos obtidos. Para entendê-lo,
devemos, por isso,
apreender a sua técnica e retraduzir em idéias os símbolos que ele
propõe, sob pena de
falsificar o sentido de sua mensagem. 4
No Livro Como ler o apocalipse, o autor explica o estilo e a forma de
escritura
do apocalipse.
O apocalipse foi [...] um
modo de escrever muito popular nos dois séculos antes de Cristo
e nos dois séculos depois
dele. [...] O mais importante escritor apocalíptico do Antigo
Testamento é o autor do
Livro de Daniel. Ele viveu na época da dominação selêucida
na Palestina, mas
especificamente no tempo de Antíoco Epifanes IV (175-162 a.C.).
Esse rei impôs, pela força,
a cultura e a religião dos gregos. Esse fato provocou a revolta
dos Macabeus. A função do
Livro de Daniel era apoiar e incentivar a resistência dos
Macabeus contra a dominação
estrangeira. [...] Ninguém podia dizer as coisas às claras.
Era necessário usar uma
linguagem camuflada, incentivando a resistência e driblando a
marcação do poder opressor.
6
316
Estudo
Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
Foi assim que surgiu a
literatura apocalíptica.
1.2 - O contexto histórico da
Igreja nascente
É indispensável inserir o
Apocalipse no seu ambiente histórico para
compreendê-lo um pouco
mais.
É [...] indispensável [...]
reinserí-lo no ambiente histórico que lhe deu origem: um período
de perturbações e de
violentas perseguições contra a Igreja nascente. Pois, do mesmo modo
que os apocalipses que o
precederam (especialmente o de Daniel) e nos quais manifestamente
se inspira, é escrito de
circunstância, destinado a reerguer e a robustecer o ânimo dos cristãos,
escandalizados, sem dúvida,
pelo fato de que perseguição tão violenta se tenha desencadeado
contra a Igreja daquele que
afirmara: ‘‘Não temais, eu venci o mundo’’ (João, 16:33). 4
No momento em que João
escreve o seu livro de visões, a igreja primitiva
sofre terrível perseguição
de Roma e dos cidadãos do Império Romano (a
‘‘Besta’’), por instigação
de ‘‘Satanás’’ (o adversário, por excelência, do Cristo
– ou anticristo). 5 O próprio João se
encontrava prisioneiro na Ilha de Patmos,
quando escreveu o seu
Apocalipse, na época (81-96) do imperador Domiciano.
Solidário com os
companheiros submetidos aos martírios das perseguições, o
Apocalipse de João nos
apresenta três conteúdos básicos: o protesto contra as
injustiças sociais, o
sofrimento que aguardam os perseguidores e a vitória do
bem, manifestada no amor do
Cristo pela Humanidade.
1.3 - A razão do advento do
Apocalipse de João
Alguns anos antes de
terminar o primeiro século, após o advento da nova doutrina, já
as forças espirituais
operam uma análise da situação amargurosa do mundo, em face
do porvir. Sob a égide de
Jesus, estabelecem novas linhas de progresso para a civilização,
assinalando os traços
iniciais dos países europeus dos tempos modernos. Roma
já não representa, então,
para o plano invisível, senão um foco infeccioso que é preciso
neutralizar ou remover.
Todas as dádivas do Alto haviam sido desprezadas pela cidade
imperial, transformada num
vesúvio de paixões e de esgotamentos.
O Divino Mestre chama aos
Espaços o Espírito João, que ainda se encontrava preso nos
liames da Terra, e o
Apóstolo, atônito e aflito, lê a linguagem simbólica do invisível.
Recomenda-lhe o Senhor que
entregue os seus conhecimentos ao planeta como advertência
a todas as nações e a todos
os povos da Terra, e o velho Apóstolo de Patmos
transmite aos seus
discípulos as advertências extraordinárias do Apocalipse.
Todos os fatos posteriores
à existência de João estão ali previstos. É verdade que freqüentemente
a descrição apostólica
penetra o terreno mais obscuro; vê-se que a sua expres317
Estudo
Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
são humana não pôde copiar
fielmente a expressão divina das suas visões de palpitante
interesse para a história
da Humanidade. As guerras, as nações futuras, os tormentos
porvindouros, o
comercialismo, as lutas ideológicas da civilização ocidental, estão ali
pormenorizadamente
entrevistos. E a figura mais dolorosa, ali relacionada, que ainda
hoje se oferece à visão do
mundo moderno, é bem aquela da igreja transviada de Roma,
simbolizada na besta
vestida de púrpura e embriagada com o sangue dos santos. 17
2. Plano geral da obra
O apocalipse de João é
constituído de um prólogo, de duas partes e de
um epílogo:
2.1 - Prólogo
No prólogo (1:1-3), João
faz a abertura do seu livro, apresentando-o como
uma revelação de Jesus
Cristo sobre ‘‘as coisas que devem acontecer’’ (1:1, 3).
Indica quem são os
destinatários: ‘‘os servos de Jesus Cristo’’ (1:1); a forma
como a revelação divina se
deu: ‘‘Ele a manifestou com sinais por meio do seu
Anjo, ao seu servo João’’
(1:1); fornece uma dimensão temporal — ainda que
imprecisa — sobre a
concretização dos fatos revelados: ‘‘o tempo está próximo’’
(1:3).
2.2 - Primeira parte
(capítulos: 1, 2 e 3)
A primeira parte do
Apocalipse está escrita na forma de diálogo. Apresenta
três subdivisões: a)
saudação às comunidades (1:4-8); b) confiança na ressurreição
do Cristo (1:9-20) e c)
cartas às sete igrejas da Ásia (2:1-22; 3:1-22).
Revela uma ação pastoral do
apóstolo para com os cristãos — representados
simbolicamente pelas ‘‘sete
igrejas da Ásia’’ (1:4) —, e expressa uma mensagem
de apoio aos que sofrem
perseguições em nome do Cristo.
O propósito da mensagem
[...] é encorajar a comunidade cristã que passa por uma
terrível provação: após o
magnífico desenvolvimento na época de sua fundação, agora
a Igreja parece seriamente
ameaçada na unidade de sua fé (movimentos heréticos), na
pureza dos costumes
(relaxamento da vida religiosa, diminuição da caridade). Devido
as perseguições, João
pretende sustentar a coragem dos cristãos ‘‘até a morte’’ (2:14),
garantindo-lhes a presença
divina do Cristo, que vencerá o Dragão. 20
João narra como ocorreu a
sua percepção mediúnica.
As [...] palavras que ouviu
‘‘como a voz de trombeta’’ (1:10), e a recomendação que teve
318
Estudo
Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
de se dirigir às ‘‘sete
igrejas’’, representadas por ‘‘sete candeeiros’’, assistidas por ‘‘sete
espíritos’’ (1:10-20). 11
Cada carta é específica e
contém elogios e críticas, advertências e incentivos, como convinha.
Mas o plural ‘‘igrejas’’ no
final de cada carta mostra que se pretendia que fosse
lida por todas as igrejas. 8
«Nessa visão salienta-se
‘‘espada de dois gumes’’ que sai da boca do excelso
Espírito (Jesus).» 11
2.3 - Segunda parte
(capítulos: 4 a 21)
Representa a essência da
obra, tem um caráter profético-escatológico
(previsões sobre o fim do
mundo) e abrange duas visões paralelas: a primeira
(4,18; 11,1) diz respeito
aos destinos do mundo; a segunda (11: 9; 21:5) informa
sobre o futuro da Igreja. 20
Podemos considerar cinco
subdivisões (ou seções) nessa parte: a) introdutória
(4:1-5;14) – fala sobre o
trono, o Cordeiro e sobre o livro com sete selos;
b) seção dos selos (6:1-7, 17) – são pontos importantes sobre a abertura dos
quatro primeiros selos,
sobre o clamor dos mártires (quinto selo) e a resposta
de Deus ao clamor (sexto
selo); c) seção das trombetas (8:1-11;14) – o toque da
trombeta anuncia o
julgamento de Deus; d) seção dos
três sinais (11;15;16:16) –
são sinais que marcam
acontecimentos: o sinal da mulher, o sinal dos dragãos
e o sinal dos anjos com
pragas; e) sessão conclusiva (16;17;2:5) – mostra que o
Cristo julga e vence o mal.
No capítulo IV, o autor
continua escrevendo sobre a sua visão, cheia de quadros que
se desdobram às suas vistas
e que representam as letras com que se escrevem as ‘‘coisas
espirituais’’, que as
palavras humanas não podem traduzir. A linguagem espiritual se
manifesta por meio de
símbolos que ferem a imaginação e dão uma idéia relativa das
coisas que existem.
Entretanto, não podem ser percebidas pelos nossos sentidos materiais,
grosseiros. 13
Revela a existência de uma
comunidade de Espíritos de puros, representados
por ‘‘vinte e quatro
anciãos’’, os ‘‘Espíritos de Deus’’, indicados por ‘‘sete
lâmpadas de fogo’’.
O seguinte resumo fornece
informações gerais sobre a segunda parte do
Apocalipse:
A primeira visão começa com
a apresentação do trono de Deus (4,1-11) e do Cordeiro
vitorioso (5,1-14) e
concentra-se em dois motivos: a abertura dos 7 selos (6,1; 8,1), símbolo
319
Estudo
Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
da preparação no céu dos
flagelos que recairão sobre o mundo (dos primeiros 4 selos sairão
os famosos 4 cavalos), e o
som das 7 trombetas (8,2; 11,18) que significam a execução
daqueles flagelos na terra.
A segunda visão começa com um duplo acontecimento: no céu,
a luta do dragão (satanás)
contra a mulher (que representa o povo eleito) (12,1-18); na
terra, as duas bestas (que
simbolizam o Império Romano e os falsos profetas) (13,1-18).
A esta dupla cena
contrapõe-se a aparição do Cordeiro no monte Sião* seguido da multidão
de fiéis (14,1-5). O juízo
escatológico é expresso por meio de várias representações:
os 7 flagelos e as 7 taças
(15-16), acompanhados da ‘‘condenação da grande prostituta’’
(Roma também chamada
Babilônia ou nova Babilônia) (17-18), depois a vitória sobre
as bestas (19,11-21) e
sobre o Dragão com que se inaugura o reinado ‘‘de mil anos’’ de
Cristo (20,1-10) e por fim
a vitória definitiva sobre o mal (20,11-25). 20
2.4 - O epílogo (22:16-21)
No epílogo há uma
recomendação severa, uma proibição categórica àqueles
que lerem o livro, ou que o
reimprimirem, de alterar qualquer coisa do que
nele se acha escrito. O
apóstolo previa as mistificações sectárias, os enxertos, as
mutilações que havia de
sofrer a Árvore da Vida, pelos papas e pelos concílios,
e ameaçou, severamente,
àqueles que modificassem o seu Apocalipse. 16
3. Análise espírita do
apocalipse
3.1 - As sete igrejas – são as comunidades cristãs cujas
caracte-rísticas
indicam os diferentes tipos
de cristãos: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes,
Filadélfia, Laodicéia.
A igreja de Éfeso, que fora
fundada por Paulo, e continuou sendo por muitos séculos
um dos principais centros
da Igreja Oriental, era zelosa em guardar-se contra a heresia,
mas carecia de amor
cristão. A igreja de Esmirna parece ter resistido bem à importunação
(perseguição) e, por vezes,
prisão dos seus membros. Pérgamo era um centro
religioso importante, com
um famoso santuário de Zeus, um templo de Asclépio com
uma renomada escola de
medicina, e um templo de Augusto; ‘‘o trono de Satã’’ pode
designar qualquer um
desses, mas provavelmente refere-se ao culto do imperador. [...]
A igreja de Tiatira
abundava em amor e fé, serviço e resignação paciente, mas tolerava
os ensinamento malignos de
uma profetisa, Jesabel. A igreja de Sardes estava florescendo
externamente, mas não sem
sério dano para a sua vida espiritual. Filadélfia, por outro
lado, era uma cidade em que
os cristãos estavam isolados do restante da comunidade,
mas a igreja permanecera
fiel. Em Laodicéia a igreja parecia estar florescendo, mas era
espiritualmente pobre. 9
_____________
* Sião: outro nome de Jerusalém.
320
Estudo
Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
O conjunto formado pelas
sete igrejas, simbolicamente representadas pela
luz dos sete candelabros,
revela a imagem da Igreja do Cristo, «[...] com suas
heresias, disputas, e fé
débil, mas também com sua fé, esperança e amor». 10
3.2 - A besta apocalíptica – refere-se tanto ao Império Romano (o poder
constituído que fere,
persegue e maltrata) quanto aos falsos profetas — também
chamados de ‘‘dragão’’ —,
mistificadores que deturpam a mensagem do
Evangelho. Emmanuel nos
esclarece a respeito do assunto.
A [...] besta poderia dizer
grandezas e blasfêmias por 42 meses, acrescentando
que o seu número era o 666
(Apoc. XIII, 5 e 18). Examinando-se a
importância dos símbolos
naquela época e seguindo o rumo certo das interpretações,
podemos tomar cada mês como
sendo de 30 anos, em vez de 30
dias, obtendo, desse modo,
um período de 1260 anos comuns, justamente o
período compreendido entre
610 e 1870, da nossa era, quando o Papado se
consolidava, após o seu
surgimento, com o imperador Focas, em 607, e o decreto
da infalibilidade papal com
Pio IX, em 1870, que assinalou a decadência e
a ausência de autoridade do
Vaticano, em face da evolução científica, filosófica
e religiosa da Humanidade.
Quanto ao número 666, sem
nos referirmos às interpretações com os
números gregos, em seus
valores, devemos recorrer aos algarismos romanos,
em sua significação, por
serem mais divulgados e conhecidos, explicando que
é o Sumo-Pontífice da
igreja romana quem usa os títulos de vicarivs generalis
dei in terris, vicarivs filii
dei e dvx cleri que significam vigário-geral de Deus
na Terra, vigário do Filho
de Deus e príncipe do clero.
Bastará ao estudioso um
pequeno jogo de paciência, somando os algarismos
romanos encontrados em cada
titulo papal a fim de encontrar a mesma
equação de 666, em cada um
deles. Vê-se, pois, que o Apocalipse de João tem
singular importância para
os destinos da Humanidade terrestre. 18
3.3 - A espada de dois gumes - É o símbolo do poder e da justiça. É a palavra
divina, que no dizer de são
Paulo, é poderosa arma, com a qual será restabelecida o reinado do
Cristo na Terra. É,
finalmente, o Evangelho, o Verbo, essa espada que vibra golpes arrojados
matando a hipocrisia,
aniquilando o erro e defendendo os espíritos de boa vontade na luta
terrível das ‘‘trevas’’
contra a ‘‘luz’’. 12
321
Estudo
Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
3.4 - A obra divina – o céu está representado pelo mar: ‘‘um mar de
vidro
semelhante ao cristal’’
(4:6). O poder, a criação, a sabedoria e a eternidade são
simbolizados,
respectivamente, por quatro criaturas viventes: ‘‘o leão, o novilho,
o homem e a águia voando’’
(4:7-8). 13
3.5 - O livro dos selos – é entendido como:
O [...] ‘‘livro do futuro’’,
que, fechado para todos, só podia ser aberto pelo ‘‘Cordeiro’’,
Jesus, o Cristo, que
‘‘venceu ao romper os 7 selos’’. (5:5) Então, aparece, a João, o ‘‘Cordeiro
com sete chifres e sete
olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a Terra’’.
O número sete simboliza a
perfeição, é o número completo, dá idéia do desenvolvimento
integral do espírito. Vemos
sete virtudes, que encarnam a perfeição; as sete cores, os sete
sons, as sete formas (cone,
triângulo, círculo, elipse, parábola, hipérbole, trapézio); os
sete dias etc. O chifre, na
velha poesia hebraica, é o símbolo da força. 14
3.6 - A abertura dos selos – está escrito assim: ‘‘e vi quando o Cordeiro
abriu um dos sete selos, e
ouvi uma das quatro criaturas viventes dizendo, como
em voz de trovão: Vem!
Olhei, e eis um cavalo branco, e o que estava montado
sobre ele tinha um arco; e
foi-lhe dada uma coroa, e ele saiu vencendo e para vencer’’
(6:1-2). Existem inúmeras
interpretações para essas palavras de João: umas
mais seguras, outras nem tanto.
Não é fácil encontrar um consenso. Podemos,
no entanto, dizer que todo
o sentido teológico do Apocalipse fundamenta-se
em três pilares: Deus,
Cristo e a Igreja. Deus é ‘‘o Alfa e o Ômega, o Princípio
e o Fim’’ (1:8); é ‘‘Aquele
que vive nos séculos dos séculos’’ (10:5); é o ‘‘Senhor
do Universo’’ (1:8). Jesus
Cristo é o tema central do Apocalipse, que é, verdadeiramente,
a sua ‘‘revelação’’; ele é
o Filho do homem, é o Cordeiro imolado
que redimiu os homens ‘‘de
todas as tribos, línguas e povos’’ (5; 9), ao mesmo
tempo é o vitorioso sobre
os inimigos debelados (19:11-16). Cristo é o ‘‘Logos de
Deus’’ (19:13), que está
junto de Deus. Os animais citados nos textos, sobretudo
os cavalos, ora são
interpretados como forças positivas atuando na sociedade,
ora são forças negativas,
dependendo da interpretação que se lhes dê. 7 Por
exemplo: há quem suponha
que o cavalo branco e o cavaleiro, portando um
arco, citados na abertura
do primeiro selo, sejam alusões à ganância — sempre
presente na história humana
— e, também, aos partos, povo que usava o arco
como arma de guerra, criava
cavalos brancos e era inimigo dos romanos. 7 Por
outro lado, Cairbar Schutel
afirma que a abertura do primeiro selo representa
a vinda do Espiritismo e
que o cavaleiro com o arco teria sido Allan Kardec. 15
Há, porém, um consenso de
que o cavalo vermelho do segundo selo simboliza
322
Estudo
Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
a guerra (6:3); o cavalo
negro do terceiro selo representa a fome e a carestia
que a guerra acarreta
(6:5); o quarto cavalo, o esverdeado, retrata a peste e a
morte (6:7). O quinto selo
reapresenta os mártires pedindo a Deus justiça para
a terra, ou o fim da
desordem que campeia no mundo.
Reproduzem o clamor dos
justos de todos os tempos, ansiosos de que
termine a inversão dos
valores na história da humanidade.
3.7 - A prostituta - na segunda parte do apocalipse aparece, em
diferentes
capítulos, a figura de duas
mulheres, sendo que uma delas está vestida de
púrpura escarlate, usa
pérolas, tem na mão um cálice cheio de abominações,
e em sua testa está
escrito: ‘‘mistério’’, ‘‘a grande babilônia’’; ‘‘a prostituta’’; ‘‘a
grande prostituta’’.
Supõe-se que seja uma alusão à Igreja Católica Romana, em
razão de esta ter dado as
costas à Lei de Deus e ter incorporado, à mensagem
cristã, práticas dos povos
pagãos. A propósito, esclarece Emmanuel.
A Igreja Católica [...],
que tomou a si o papel de zeladora das idéias e das realizações cristãs,
pouco após o regresso do
Divino Mestre às regiões da Luz, falhou lamentavelmente
aos seus compromissos
sagrados. Desde o concílio ecumênico de Nicéia, o Cristianismo
vem sendo deturpado pela
influenciação dos sacerdotes dessa Igreja, deslumbrados
com a visão dos poderes
temporais sobre o mundo. Não valeu a missão sacrossanta do
iluminado da Úmbria
[Francisco de Assis], tentando restabelecer a verdade e a doutrina
de piedade e de amor do
Crucificado para que se solucionasse o problema milenar da
felicidade humana.
As castas, as seitas, as
classes religiosas, a intolerância de clericalismo constituíram
enormes barreiras a
abafarem a voz da realidades cristãs. A moral católica falhou aos
seus deveres e às suas
finalidades. 19
3.8 - O juízo final – a doutrina religiosa que trata das ‘‘últimas
coisas’’
é conhecida como escatologia. Todas as religiões cristãs, à exceção do Espiritismo,
acreditam, pregam e
divulgam a idéia do ‘‘Juízo ou Julgamento Final’’,
do ‘‘Fim do mundo ou dos
Tempos’‘. São interpretações literais do Velho e do
Novo Testamentos . Neste
último, a parábola dos bodes e das ovelhas (Mateus,
25:31-46) é uma das mais
citadas.
A doutrina de um juízo
final, único e universal, pondo fim para sempre à Humanidade,
repugna à razão, por
implicar a inatividade de Deus, durante a eternidade que precedeu
à criação da Terra e
durante a eternidade que se seguirá à sua destruição. 1
Moralmente, um juízo
definitivo e sem apelação não se concilia com a bondade infinita
do Criador, que Jesus nos
apresenta de contínuo como um bom Pai, que deixa sempre
323
Estudo
Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
aberta uma senda para o
arrependimento, e que está pronto sempre a estender os braços
ao filho pródigo. 2
3.9 - A humanidade nova - o capítulo 21 nos fala de uma “Jerusalém
celeste’’ ou ‘‘Jerusalém
libertada’’, símbolo da Humanidade regenerada. Durante
milênios, a civilização
humana amargou dolorosas provações em razão
dos erros cometidos contra
a Lei de Deus. Uma geração nova surge, afinal, na
Terra. «Nestes tempos,
porém, não se trata de uma mudança parcial, de uma
renovação limitada a certa
região, ou a um povo, a uma raça. Trata-se de um
movimento universal, a
operar-se no sentido do progresso
moral». 3
324
Estudo
Aprofundado da Doutrina Espírita
1. KARDEC, Allan. A gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 46. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 2005. Cap.
17, item 64, p.398.
2. ______. Item 66, p.399.
3. ______. Cap. 18, item 6,
p. 404.
4. BIBLIA DE JERUSALÉM.
Diversos tradutores. Nova edição, revista e ampliada.
São Paulo: Editora Paulus,
2002, p. 2139.
5. ______. p. 2140.
6. BORTOLINI, José. Como ler o apocalipse. 63. ed. São Paulo: editora Paulus,
2003. Introdução, p. 8.
7. ______. Segunda parte,
cap. 3, p.58.
8. HELLEN, V., NOTAKER, H.
E GAARDER,J. O livro das religiões. Tradução
de Isa Mara Lando. São
Paulo: Companhia das Letra, 2000, item: O apocalipse
(ou Revelação), p.223-224.
9. DICIONÁRIO DA BÍBLIA.
Vol. 1: as pessoas e os lugares. Organizado por
Bruce M. Metzger, Michael D. Coogan. Tradução de Maria Luiza X. De A.
Borges. Rio de Janeiro:
Zahar Ed., 2002, p. 295-296 (As sete igrejas).
10. ______.p. 296.
11. SCHUTEL, Cairbar. Interpretação sintética do apocalipse. 6. ed. Matão
[SP]:2004. Introdução ao
Apocalipse, p. 16.
12. ______. p. 16-17.
13. ______. p. 17.
14. ______. O livro dos
sete selos, p. 19.
15. ______. O primeiro selo
p. 21.
16. ______.Conclusão, p.
105.
17. XAVIER, Francisco
Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel.
32. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2005. Cap. 14 (A edificação cristã), item: O
Apocalipse de João,
p.126-127.
18. ______. Item: A besta
do apocalipse, p. 128.
19. ______. Emmanuel. Pelo
Espírito Emmanuel. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2004. Cap. 6 (Pela
revivescência do cristianismo), item: A falha da igreja
romana, p 44-45.
20.
http://www2.uol.com.br/jubilaeum/historia_linha.htm
21.
http://www.veritatis.com.br/artigo.asp?pubid=1436
REFERÊNCIAS
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
325
Estudo
Aprofundado da Doutrina Espírita
Fazer uma explanação
inicial sobre o apocalipse
de João, sua organização e
finalidades. Sugerir
a formação de grupos para
estudar e apresentar
conclusões dos conteúdos
existentes nos itens 2 e
3 dos subsídios deste Roteiro.