Allan Kardec
1. Há um Deus, inteligência suprema, causa primária de todas as
coisas.
A prova da existência de Deus temo-la neste axioma:
Não há. efeito sem causa. Vemos constantemente uma imensidade de
efeitos, cuja causa não está na Humanidade, pois que a Humanidade é
impotente para produzi-los, ou, sequer, para os explicar. A causa
está acima da Humanidade. É a essa causa que se chama Deus, Jeová,
Alá, Brama, Fo-Hi, Grande Espírito, etc.
Tais efeitos absolutamente não se produzem ao acaso, fortuitamente e
em desordem. Desde a organização do mais pequenino inseto e da mais
insignificante semente, até a lei que rege os mundos que circulam no
Espaço, tudo atesta uma idéia diretora, uma combinação, uma
previdência, uma solicitude que ultrapassam todas as combinações
humanas. A causa é, pois, soberana-mente inteligente.
2. Deus é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente,
soberanamente justo e bom.
Deus é eterno. Se tivesse tido começo, alguma coisa houvera existido
antes dele, ou ele teria saído do nada, ou, então, um ser anterior o
teria criado. É assim que, degrau a degrau, remontamos ao infinito
na eternidade.
É imutável. Se estivesse sujeito à mudança, nenhuma estabilidade
teriam as leis que regem o Universo.
É imaterial. Sua natureza difere de tudo o a que chamamos matéria,
pois, do contrário, ele estaria sujeito às flutuações e
transformações da matéria e, então, já não seria imutável.
É único. Se houvesse muitos Deuses, haveria muitas vontades e, nesse
caso, não haveria unidade de vistas, nem unidade de poder na
ordenação do Universo.
É onipotente, porque é único. Se ele não dispusesse de poder
soberano, alguma coisa ou alguém haveria mais poderoso do que ele;
não teria feito todas as coisas e as que ele não houvesse feito
seriam obra de outro Deus.
É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das leis
divinas se revela nas mais mínimas coisas como nas maiores e essa
sabedoria não permite se duvide nem da sua justiça, nem da sua
bondade.
3. Deus é infinito em todas as suas perfeições.
Se supuséssemos imperfeito um só dos atributos de Deus, se lhe
tirássemos a menor parcela de eternidade, de imutabilidade, de
imaterialidade, de unidade, de onipotência, de justiça e de bondade,
poderíamos imaginar um ser que possuísse o que lhe faltasse, e esse
ser, mais perfeito do que ele, é que seria Deus. (Allan Kardec,
Obras Póstumas, Primeira Parte.)
- A
fé viva não é patrimônio transferível. É conquista pessoal. - André
Luiz
Leon Denis
A fé é a confiança da criatura em seus destinos, é o sentimento que
a eleva à infinita Potestade, é a certeza de estar no caminho que
vai ter à verdade. A fé cega é como farol cujo vermelho clarão não
pode traspassar o nevoeiro; a fé esclarecida é foco elétrico que
ilumina com brilhante luz a estrada a percorrer.
Ninguém adquire essa fé sem ter passado pelas tribulações da dúvida,
sem ter padecido as angústias que embaraçam o caminho dos
investigadores. Muitos param em esmorecida indecisão e flutuam longo
tempo entre opostas correntezas. Feliz quem crê, sabe, vê e caminha
firme. A fé então é profunda, inabalável, e habilita-o a superar os
maiores obstáculos. Foi neste sentido que se disse que a fé
transporta montanhas, pois, como tais, podem ser consideradas as
dificuldades que os inovadores encontram no seu caminho, ou seja, as
paixões, a ignorância, os preconceitos e o interesse material.
Geralmente se considera a fé como mera crença em certos dogmas
religiosos, aceitos sem exame. Mas a verdadeira fé está na convicção
que nos anima e nos arrebata para os ideais elevados. Há a fé em si
próprio, em uma obra material qualquer, a fé política, a fé na
pátria. Para o artista, para o pensador, a fé é o sentimento do
ideal, é a visão do sublime fanal aceso pela mão divina nos alcantis
eternos, a fim de guiar a Humanidade ao Bem e à Verdade.
É cega a fé religiosa que anula a razão e se submete ao juízo dos
outros, que aceita um corpo de doutrina verdadeiro ou falso, e dele
se torna totalmente cativa. Na sua Impaciência e nos seus excessos,
a fé cega recorre facilmente à perfídia, à subjugação, conduzindo ao
fanatismo. Ainda sob este aspecto, é a fé um poderoso incentivo,
pois tem ensinado os homens a se humilharem e a sofrerem. Pervertida
pelo espírito de domínio, tem sido a causa de muitos crimes, mas, em
suas conseqüências funestas, também deixa transparecer suas grandes
vantagens.
Ora, se a fé cega pôde produzir tais efeitos, que não realizará a fé
esclarecida pela razão, a fé que julga, discerne e compreende?
Certos teólogos exortam-nos a desprezar a razão, a renegá-la, a
rebatê-la. Deveremos por isso repudiá-la, mesmo quando ela nos
mostra o bem e o belo? Esses teólogos alegam os erros em que a razão
caiu e parecem, lamentavelmente, esquecer que foi a razão que
descobriu esses erros e ajudou-nos a corrigi-los.
A razão é uma faculdade superior, destinada a esclarecer-nos sobre
todas as coisas. Como todas as outras faculdades, desenvolve-se e
engrandece pelo exercício. A razão humana é um reflexo da Razão
eterna. É Deus em nós, disse São Paulo. Desconhecer-lhe o valor e a
utilidade é menosprezar a natureza humana, é ultrajar a própria
Divindade. Querer substituir a razão pela fé é ignorar que ambas são
solidárias e inseparáveis, que se consolidam e vivificam uma à
outra. A união de ambas abre ao pensamento um campo mais vasto:
harmoniza as nossas faculdades e traz-nos a paz interna.
A fé é mãe dos nobres sentimentos e dos grandes feitos. O homem
profundamente firme e convicto é Imperturbável diante do perigo, do
mesmo modo que nas tribulações. Superior às lisonjas, às seduções,
às ameaças, ao bramir das paixões, ele ouve uma voz ressoar nas
profundezas da sua consciência, instigando-o à luta, encorajando-o
nos momentos perigosos.
Para produzir tais resultados, necessita a fé repousar na base
sólida que lhe oferecem o livre exame e a liberdade de pensamento.
Em vez de dogmas e mistérios, cumpre-lhe reconhecer tão-somente
princípios decorrentes da observação direta, do estudo das leis
naturais. Tal é o caráter da fé espírita.
A filosofia dos Espíritos vem oferecer-nos uma fé racional e, por
isso mesmo, robusta, O conhecimento do mundo invisível, a confiança
numa lei superior de justiça e progresso imprime a essa fé um duplo
caráter de calma e segurança.
Efetivamente, que poderemos temer, quando sabemos que a alma é
imortal e quando, após os cuidados e consumições da vida, além da
noite sombria em que tudo parece afundar-se, vemos despontar a suave
claridade dos dias infindáveis?
Essencializados da idéia de que esta vida não é mais que um instante
no conjunto da existência integral, suportaremos, com paciência, os
males inevitáveis que ela engendra. A perspectiva dos tempos que se
nos abrem dar-nos-á o poder de dominar as mesquinharias presentes e
de nos colocarmos acima dos vaivéns da fortuna. Assim,
sentir-nos-emos mais livres e mais bem armados para a luta.
O espírita conhece e compreende a causa de seus males; sabe que todo
sofrimento é legítimo e aceita-o sem murmurar; sabe que a morte nada
aniquila, que os nossos sentimentos perduram na vida de além-túmulo
e que todos os que se amaram na Terra tornam a encontrar-se,
libertos de todas as misérias, longe desta lutuosa morada; conhece
que só há separação para os maus. Dessas crenças resultam-lhe
consolações que os indiferentes e os cépticos ignoram. Se, de uma
extremidade a outra do mundo, todas as almas comungassem nessa fé
poderosa, assistiríamos à maior transformação moral que a História
jamais registrou.
Mas essa fé, poucos ainda a possuem, O Espírito de Verdade tem
falado à Terra, mas insignificante número o tem ouvido atentamente.
Entre os filhos dos homens, não são os poderosos os que o escutam,
e, sim, os humildes, os pequenos, os deserdados, todos os que têm
sede de esperança. Os grandes e os afortunados têm rejeitado os seus
ensinos, como há dezenove séculos repeliram o próprio Cristo. Os
membros do clero e as associações sábias coligaram-se contra esse
“desmancha-prazeres”, que vinha comprometer os interesses, o repouso
e derruir-lhes as afirmações. Poucos homens têm a coragem de se
desdizerem e de confessarem que se enganaram. O orgulho escraviza-os
totalmente! Preferem combater toda a vida esta verdade ameaçadora
que vai arrasar suas obras efêmeras. Outros, muito secretamente,
reconhecem a beleza, a magnitude desta doutrina, mas se atemorizam
ante suas exigências morais. Agarrados aos prazeres, almejando viver
a seu gosto, Indiferentes à existência futura, afastam de seus
pensamentos tudo quanto poderia induzi-los a repudiar hábitos que,
embora reconheçam como perniciosos, não deixam de ser afagados. Que
amargas decepções irão colher por causa dessas loucas evasivas!
A nossa sociedade, absorvida completamente pelas especulações, pouco
se preocupa com o ensino moral. Inúmeras opiniões contraditórias
chocam-se; no meio desse confuso turbilhão da vida, o homem poucas
vezes se detém para refletir.
Mas todo ânimo sincero, que procura a fé e a verdade, há de
encontrá-la na revelação nova. Um influxo celeste estender-se-á
sobre ele a fim de guiá-lo para esse sol nascente, que um dia
Iluminará a Humanidade Inteira. (Leon Denis, Depois da Morte, Quinta
Parte, cap. 44.)
-
Não apague o archote da fé em seus dias claros, para que não falte
luz a você nos dias escuros. - André Luiz
Poder
da fé. - A fé religiosa. Condição da fé inabalável. - Parábola da
figueira
seca. - Instruções dos Espíritos:
A fé: mãe da esperança e da caridade. - A fé humana e a divina.
Poder da fé
1.
Quando ele veio ao encontro do povo, um homem se lhe aproximou e,
lançando-se de joelhos a seus pés, disse: Senhor, tem piedade do
meu filho, que é lunático e sofre muito, pois cai muitas vezes no
fogo e muitas vezes na água. Apresentei-o aos teus discípulos, mas
eles não o puderam curar.
Jesus respondeu. dizendo: Ó raça incrédula e depravada, até
quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui
esse menino. - E tendo Jesus ameaçado o demônio, este saiu do
menino, que no mesmo instante ficou são. Os discípulos vieram então
ter com Jesus em particular e lhe perguntaram: Por que não pudemos
nós outros expulsar esse demônio? - Respondeu-lhes Jesus: Por
causa da vossa incredulidade. Pois em verdade vos digo, se tivésseis
a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta montanha:
Transporta-te daí para ali e ela se transportaria, e nada vos seria
impossível. (S. MATEUS, cap. XVII, vs. 14 a 20.) 2.
No sentido próprio, é certo que a confiança nas suas próprias forças
toma o homem capaz de executar coisas materiais, que não consegue
fazer quem duvida de si. Aqui porém unicamente no sentido moral se
devem entender essas palavras. As montanhas que a fé desloca são as
dificuldades, as resistências, a má-vontade, em suma, com que se
depara da parte dos homens, ainda quando se trate das melhores
coisas. Os preconceitos da rotina, o interesse material, o egoísmo,
a cegueira do fanatismo e as paixões orgulhosas são outras tantas
montanhas que barram o caminho a quem trabalha pelo progresso da
Humanidade. A fé robusta dá a perseverança, a energia e os recursos
que fazem se vençam os obstáculos, assim nas pequenas coisas, que
nas grandes. Da fé vacilante resultam a incerteza e a hesitação de
que se aproveitam os adversários que se têm de combater; essa fé não
procura os meios de vencer, porque não acredita que possa vencer.
3. Noutra acepção, entende-se como fé a confiança que se tem na
realização de uma coisa, a certeza de atingir determinado fim. Ela
dá uma espécie de lucidez que permite se veja, em pensamento, a meta
que se quer alcançar e os meios de chegar lá, de sorte que aquele
que a possui caminha, por assim dizer, com absoluta segurança. Num
como noutro caso, pode ela dar
lugar a que se executem grandes coisas. A fé sincera e verdadeira é
sempre calma; faculta a paciência que sabe esperar, porque, tendo
seu ponto de apoio na inteligência e na compreensão das coisas, tem
a certeza de chegar ao objetivo visado. A fé vacilante sente a sua
própria fraqueza; quando a estimula o interesse, toma-se furibunda e
julga suprir, com a violência, a força que lhe falece. A calma na
luta é sempre um sinal de força e de confiança; a violência, ao
contrário, denota fraqueza e dúvida de si mesmo.
4. Cumpre não confundir a fé com a presunção. A verdadeira fé se
conjuga à humildade; aquele que a possui deposita mais confiança em
Deus do que em si próprio, por saber que, simples instrumento da
vontade divina, nada pode sem Deus. Por essa razão é que os bons
Espíritos lhe vêm em auxílio. A presunção é menos fé do que orgulho,
e o orgulho é sempre castigado, cedo ou tarde, pela decepção e pelos
malogros que lhe são infligidos.
5. O poder da fé se demonstra, de modo direto e especial, na ação
magnética; por seu intermédio, o homem atua sobre o fluido, agente
universal, modifica-lhe as qualidades e lhe dá uma impulsão por
assim dizer irresistível. Daí decorre que aquele que a um grande
poder fluídico normal junta ardente fé, pode, só pela força da sua
vontade dirigida para o bem, operar esses singulares fenômenos de
cura e outros, tidos antigamente por prodígios, mas que não passam
de efeito de uma lei natural. Tal o motivo por que Jesus disse a
seus apóstolos: se não o curastes, foi porque não tínheis fé.
A fé religiosa. Condição da fé inabalável:
6. Do ponto de vista religioso, a fé consiste na crença em dogmas
especiais, que constituem as diferentes religiões. Todas elas têm
seus artigos de fé. Sob esse aspecto, pode a fé ser raciocinada ou
cega. Nada examinando, a fé cega aceita, sem verificação, assim o
verdadeiro como o falso, e a cada passo se choca com a evidência e a
razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo. Em assentando no erro,
cedo ou tarde desmorona; somente a fé que se baseia na verdade
garante o futuro, porque nada tem a temer do progresso das luzes,
dado que o que é verdadeiro na obscuridade, também o é à luz
meridiana. Cada religião pretende ter a posse exclusiva da verdade;
preconizar alguém a fé cega sobre um ponto de crença é confessar-se
impotente para demonstrar que está com a razão.
7. Diz-se vulgarmente que a fé não se prescreve, donde resulta
alegar muita gente que não lhe cabe a culpa de não ter fé. Sem
dúvida, a fé não se prescreve, nem, o que ainda é mais certo, se
impõe. Não; ela se adquire e ninguém há que esteja impedido de
possuí-la, mesmo entre os mais refratários. Falamos das verdades
espirituais básicas e não de tal ou qual crença particular. Não é à
fé que compete procurá-los; a eles é que cumpre ir-lhe, ao encontro
e, se a buscarem sinceramente, não deixarão de achá-la. Tende, pois,
como certo que os que dizem: "Nada de melhor desejamos do que crer,
mas não o podemos", apenas de lábios o dizem e não do íntimo,
porquanto, ao dizerem isso, tapam os ouvidos. As provas, no entanto,
chovem-lhes ao derredor; por que fogem de observá-las? Da parte de
uns, há descaso; da de outros, o temor de serem forçados a mudar de
hábitos; da parte da maioria, há o orgulho, negando-se a reconhecer
a existência de uma força superior, porque teria de curvar-se diante
dela. Em certas pessoas, a fé parece de algum modo inata; uma
centelha basta para desenvolvê-la. Essa facilidade de assimilar as
verdades espirituais é sinal evidente de anterior progresso. Em
outras pessoas, ao contrário, elas dificilmente penetram, sinal não
menos evidente de naturezas retardatárias. As primeiras já creram e
compreenderam; trazem, ao renascerem, a intuição do que souberam:
estão com a educação feita; as segundas tudo têm de aprender: estão
com a educação por fazer. Ela, entretanto, se fará e, se não ficar
concluída nesta existência, ficará em outra. A resistência do
incrédulo, devemos convir, muitas vezes provém menos dele do que da
maneira por que lhe apresentam as coisas. A fé necessita de uma
base, base que é a inteligência perfeita daquilo em que se deve
crer. E, para crer, não basta ver; é preciso, sobretudo,
compreender. A fé cega já não é deste século (1), tanto assim que
precisamente o dogma da fé cega é que produz hoje o maior número dos
incrédulos, porque ela pretende impor-se, exigindo a abdicação de
uma das mais preciosas prerrogativas do homem: o raciocínio e o
livre-arbítrio. É principalmente contra essa fé que se levanta o
incrédulo, e dela é que se pode, com verdade, dizer que não se
prescreve. Não admitindo provas, ela deixa no espírito alguma coisa
de vago, que dá nascimento à dúvida. A fé raciocinada, por se apoiar
nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então
crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque
compreendeu. Eis por que não se dobra. Fé inabalável só o é a que
pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade. A
esse resultado conduz o Espiritismo, pelo que triunfa da
incredulidade, sempre que não encontra oposição sistemática e
interessada.
Parábola da figueira seca:
8. Quando saiam de Betânia, ele teve fome; e, vendo ao longe uma
figueira, para ela encaminhou-se, a ver se acharia alguma coisa;
tendo-se, porém, aproximado, só achou folhas, visto não ser tempo de
figos. Então, disse Jesus à figueira: Que ninguém coma de ti
fruto algum, o que seus discípulos ouviram. - No dia seguinte,
ao passarem pela figueira, viram que secara até á raiz. - Pedro,
lembrando-se do que dissera Jesus, disse: Mestre, olha como secou
a figueira que tu amaldiçoaste. - Jesus, tomando a palavra, lhes
disse: Tende fé em Deus. - Digo-vos, em verdade, que aquele que
disser a esta montanha: Tira-te daí e lança-te ao mar, mas sem
hesitar no seu coração, crente, ao contrário, firmemente, de que
tudo o que houver dito acontecerá, verá que, com efeito, acontece.
(S. MARCOS, cap. Xl, vs. 12 a 14 e 20 a 23.)
9. A figueira que secou é o símbolo dos que apenas aparentam
propensão para o bem, mas que, em realidade, nada de bom produzem;
dos oradores que mais brilho têm do que solidez, cujas palavras
trazem superficial verniz, de sorte que agradam aos ouvidos, sem
que, entretanto, revelem, quando perscrutadas, algo de substancial
para os corações. E de perguntar-se que proveito tiraram delas os
que as escutaram. Simboliza também todos aqueles que, tendo meios de
ser úteis, não o são; todas as utopias, todos os sistemas ocos,
todas as doutrinas carentes de base sólida. O que as mais das vezes
falta é a verdadeira fé, a fé produtiva, a fé que abala as fibras do
coração, a fé, numa palavra. que transporta montanhas. São árvores
cobertas de folhas porém, baldas de frutos. Por isso é que Jesus as
condena à esterilidade, porquanto dia virá em que se acharão secas
até à raiz. Quer dizer que todos os sistemas, todas as doutrinas que
nenhum bem para a Humanidade houverem produzido, cairão reduzidas a
nada; que todos os homens deliberadamente inúteis, por não terem
posto em ação os recursos que traziam consigo, serão tratados como a
figueira que secou.
10. Os médiuns são os intérpretes dos Espíritos; suprem, nestes
últimos, a falta de órgãos materiais pelos quais transmitam suas
instruções. Daí vem o serem dotados de faculdades para esse efeito.
Nos tempos atuais, de renovação social, cabe-lhes uma missão
especialíssima; são árvores destinadas a fornecer alimento
espiritual a seus irmãos; multiplicam-se em número, para que abunde
o alimento; há-os por toda a parte, em todos os países em todas as
classes da sociedade, entre os ricos e os pobres, entre os grandes e
os pequenos, a fim de que em nenhum ponto faltem e a fim de ficar
demonstrado aos homens que todos são chamados. Se porém, eles
desviam do objetivo providencial a preciosa faculdade que lhes foi
concedida, se a empregam em coisas fúteis ou prejudiciais, se a põem
a serviço dos interesses mundanos, se em vez de frutos sazonados dão
maus frutos se se recusam a utilizá-la em beneficio dos outros, se
nenhum proveito tiram dela para si mesmos, melhorando-se, são quais
a figueira estéril. Deus lhes retirará um dom que se tornou inútil
neles: a semente que não sabem fazer que frutifique, e consentirá
que se tornem presas dos Espíritos maus.
INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS - A fé: mãe da esperança e da
caridade:
11. Para ser proveitosa, a fé tem de ser ativa; não deve
entorpecer-se. Mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus,
cumpre-lhe velar atentamente pelo desenvolvimento dos filhos que
gerou. A esperança e a caridade são corolários da fé e formam com
esta uma trindade inseparável. Não é a fé que faculta a esperança na
realização das promessas do Senhor? Se não tiverdes fé, que
esperareis? Não é a fé que dá o amor? Se não tendes fé, qual será o
vosso reconhecimento e, portanto, o vosso amor? Inspiração divina, a
fé desperta todos os instintos nobres que encaminham o homem para o
bem. É a base da regeneração. Preciso é, pois, que essa base seja
forte e durável, porquanto, se a mais ligeira dúvida a abalar que
será do edifício que sobre ela construirdes? Levantai,
conseguintemente, esse edifício sobre alicerces inamovíveis. Seja
mais forte a vossa fé do que os sofismas e as zombarias dos
incrédulos, visto que a fé que não afronta o ridículo dos homens não
é fé verdadeira. A fé sincera é empolgante e contagiosa; comunica-se
aos que não na tinham, ou, mesmo, não desejariam tê-la. Encontra
palavras persuasivas que vão à alma. ao passo que a fé aparente usa
de palavras sonoras que deixam frio e indiferente quem as escuta.
Pregai pelo exemplo da vossa fé, para a incutirdes nos homens.
Pregai pelo exemplo das vossas obras para lhes demonstrardes o
merecimento da fé. Pregai pela vossa esperança firme, para lhes
dardes a ver a confiança que fortifica e põe a criatura em condições
de enfrentar todas as vicissitudes da vida.
Tende, pois, a fé, com o que ela contém de belo e de bom, com a sua
pureza, com a sua racionalidade. Não admitais a fé sem comprovação,
cega filha da cegueira. Amai a Deus, mas sabendo porque o amais;
crede nas suas promessas, mas sabendo porque acreditais nelas; segui
os nossos conselhos, mas compenetrados do um que vos apontamos e dos
meios que vos trazemos para o atingirdes. Crede e esperai sem
desfalecimento: os milagres são obras da fé. - José, Espírito
protetor. (Bordéus, 1862.)
A fé
humana e a divina:
12. No homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é
a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em
gérmen no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe
cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação da sua vontade. Até
ao presente, a fé não foi compreendida senão pelo lado religioso,
porque o Cristo a exalçou como poderosa alavanca e porque o têm
considerado apenas como chefe de uma religião. Entretanto, o Cristo,
que operou milagres materiais, mostrou, por esses milagres mesmos, o
que pode o homem, quando tem fé, isto é, a vontade de querer e a
certeza de que essa vontade pode obter satisfação. Também os
apóstolos não operaram milagres, seguindo-lhe o exemplo? Ora, que
eram esses milagres, senão efeitos naturais, cujas causas os homens
de então desconheciam, mas que, hoje, em grande parte se explicam e
que pelo estudo do Espiritismo e do Magnetismo se tornarão
completamente compreensíveis? A fé é humana ou divina, conforme o
homem aplica suas faculdades à satisfação das necessidades terrenas,
ou das suas aspirações
celestiais e futuras. O homem de gênio, que se lança à realização de
algum grande empreendimento, triunfa, se tem fé, porque sente em si
que pode e há de chegar ao fim colimado, certeza que lhe faculta
imensa força. O homem de bem que, crente em seu futuro celeste,
deseja encher de belas e nobres ações a sua existência, haure na sua
fé, na certeza da felicidade que o espera, a força necessária, e
ainda aí se operam milagres de caridade, de devotamento e de
abnegação. Enfim, com a fé, não há maus pendures que se não chegue a
vencer. O Magnetismo é uma das maiores provas do poder da fé posta
em ação. É pela fé que ele cura e produz esses fenômenos singulares,
qualificados outrora de milagres. Repito: a fé é humana e divina. Se
todos os encarnados se achassem bem persuadidos da força que em si
trazem, e se quisessem pôr a vontade a serviço dessa força, seriam
capazes de realizar o a que, até hoje, eles chamaram prodígios e
que, no entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades
humanas. - Um Espírito Protetor. Paris, l863. (A FÉ
TRANSPORTA MONTANHAS, Capítulo XIX -
O Evangelho Segundo o Espiritismo.)
(1)
Kardec escreveu essa palavras no século XIX. Hoje, o espírito humano
tornou-se ainda mais exigente: a fé cega está abandonada; reina
descrença nas Igrejas que a impunham. As massas humanas vivem sem
ideal, sem esperança em outra vida e tentam transformar o mundo pela
violência. As lutas econômicas engendraram as mais exóticas
doutrinas de ação e reação. Duas guerras mundiais assolaram o
planeta, numa ânsia furiosa de predomínio econômico. Toda a
esperança da Humanidade hoje se apóia no Espiritismo, na restauração
do Cristianismo, baseada em fatos que demonstram os princípios
básicos da Doutrina cristã: eternidade da vida, responsabilidade
ilimitada de pensamentos, palavras e atos. Sem a Terceira Revelação
o mundo estaria irremediavelmente perdido pelo choque das mais
desencontradas ideologias materialistas e violentistas. - A Editora
da FEB, em 1948
- A
fé nunca será produto para mercado humano. - André Luiz
Os
males da Humanidade provêm da imperfeição dos homens; pelos seus
vícios é que eles se prejudicam uns aos outros. Enquanto forem
viciosos, serão infelizes, porque a luta dos interesses gerará
constantes misérias.
Sem dúvida, boas leis contribuem para melhorar o estado social, mas
são impotentes para tornar venturosa a Humanidade, porque mais não
fazem do que comprimir as paixões ruins, sem as eliminar. Em segundo
lugar, porque são mais repressivas do que moralizadoras e só
reprimem os mais salientes atos maus, sem lhes destruir as causas.
Aliás, a bondade das leis guarda relação com a bondade dos homens;
enquanto estes se conservarem dominados pelo orgulho e pelo egoísmo,
farão leis em benefício de suas ambições pessoais. A lei civil
apenas modifica a superfície; somente a lei moral pode penetrar o
foro íntimo da consciência e reformá-lo.
Reconhecido, pois, que o atrito oriundo do contacto dos vícios é que
faz infortunados os homens, o único remédio para seus males está em
se melhorarem eles moralmente. Uma vez que nas imperfeições se
encontra a causa dos males, a felicidade aumentará na proporção em
que as imperfeições diminuírem.
Por melhor que seja uma instituição social, sendo maus os homens,
eles a falsearão e lhe desfigurarão o espírito para a explorarem em
proveito próprio. Quando os homens forem bons, organizarão boas
instituições,
que serão duráveis, porque todos terão interesse em conservá-las.
A questão social não tem, pois, por ponto de partida a forma de tal
ou qual instituição; ela está toda no melhoramento moral dos
indivíduos e das massas. Aí é que se acha o princípio, a verdadeira
chave da felicidade do gênero humano, porque então os homens não
mais cogitarão de se prejudicarem reciprocamente. Não basta se cubra
de verniz a corrupção, é indispensável extirpar a corrupção.
O princípio do melhoramento está na natureza das crenças, porque
estas constituem o móvel das ações e modificam os sentimentos.
Também está nas idéias inculcadas desde a infância e que se
identificam com o Espírito; está ainda nas idéias que o
desenvolvimento ulterior da inteligência e da razão podem
fortalecer, nunca destruir. É pela educação, mais do que pela
instrução, que se transformará a Humanidade.
O homem que se esforça seriamente por se melhorar assegura para si a
felicidade, já nesta vida. Além da satisfação que proporciona à sua
consciência, ele se isenta das misérias materiais e morais, que são
a conseqüência inevitável das suas imperfeições. Terá calma, porque
as vicissitudes só de leve o roçarão. Gozará de saúde, porque não
estragará o seu corpo com os excessos. Será rico, porque rico é
sempre todo aquele que sabe contentar-se com o necessário. Terá a
paz do espírito, porque não experimentará necessidades fictícias,
nem será atormentado pela sede das honrarias e do supérfluo, pela
febre da ambição, da inveja e do ciúme. Indulgente para com as
imperfeições alheias, menos sofrimentos lhe causarão elas, que,
antes, lhe inspirarão piedade e não cólera. Evitando tudo o que
possa prejudicar o seu próximo, por palavras e por atos, procurando,
ao invés, fazer tudo o que possa ser útil e agradável aos outros,
ninguém sofrerá com o seu contacto.
Garante a sua felicidade na vida futura, porque, quanto mais ele se
depurar, tanto mais se elevará na hierarquia dos seres inteligentes
e cedo abandonará esta terra de provações, por mundos superiores,
porquanto o mal que haja reparado nesta vida não terá que o reparar
em outras existências; porquanto, na erraticidade, só encontrará
seres amigos e simpáticos e não será atormentado pela visão
incessante dos que contra ele tenham motivos de queixa.
Vivam juntos alguns homens, animados desses sentimentos, e serão tão
felizes quanto o comporta a nossa terra. Ganhem assim, passo a
passo, esses sentimentos todo um povo, toda uma raça, toda a
Humanidade e o nosso globo tomará lugar entre os mundos ditosos.
Será isto uma utopia, uma quimera? Sê-lo-á para aquele que não crê
no progresso da alma; não o será, para aquele que crê na sua
perfectibilidade indefinida.
O progresso geral é a resultante de todos os progressos individuais;
mas, o progresso individual não consiste apenas no desenvolvimento
da inteligência, na aquisição de alguns conhecimentos. Nisso mais
não há do que uma parte do progresso, que não conduz necessariamente
ao bem, pois que há homens que usam mal do seu saber. O progresso
consiste, sobretudo, no melhoramento moral, na depuração do
Espírito, na extirpação dos maus germens que em nós existem. Esse o
verdadeiro progresso, o único que pode garantir a felicidade ao
gênero humano, por ser o oposto mesmo do mal. Muito mal pode fazer o
homem de inteligência mais cultivada; aquele que se houver adiantado
moralmente só o bem fará. É, pois, do interesse de todos o progresso
moral da Humanidade.
Mas, que importam a melhora e a felicidade das gerações futuras,
àquele que acredita que tudo se acaba com a vida? Que interesse tem
ele em se aperfeiçoar, em se constranger, em domar suas paixões
inferiores, em se privar do que quer que seja a benefício de outrem?
Nenhum. A própria lógica lhe diz que seu interesse está em gozar
depressa e por todos os meios possíveis, visto que amanhã, talvez,
ele nada mais será.
A doutrina do "nada" é a paralisia do progresso humano, porque
circunscreve as vistas do homem ao imperceptível ponto da presente
existência; porque lhe restringe as idéias e as concentra
forçosamente na vida material. Com essa doutrina, o homem nada sendo
antes, nem depois, cessando com a vida todas as relações sociais, a
solidariedade é vã palavra, a fraternidade uma teoria sem base, a
abnegação em favor de outrem mero embuste, o egoísmo, com a sua
máxima — cada um por si, um direito natural; a vingança, um ato de
razão; a felicidade, privilégio do mais forte e dos mais astuciosos;
o suicídio, o fim lógico daquele que, baldo de recursos e de
expedientes, nada mais espera e não pode safar-se do tremedal1.
Uma sociedade fundada sobre o "nadismo" traria em
si o gérmen de sua próxima dissolução.
Outros, porém, são os sentimentos daquele que tem fé no futuro; que
sabe que nada do que adquiriu em saber e em moralidade lhe estará
perdido; que o trabalho de hoje dará seus frutos amanhã; que ele
próprio fará parte das gerações porvindouras, mais adiantadas e mais
ditosas. Sabe que, trabalhando para os outros, trabalha para si
mesmo. Sua visão não se detém na Terra, abrange a infinidade dos
mundos que lhe servirão um dia de morada; entrevê o glorioso lugar
que lhe caberá, como o de todos os seres que alcançam a perfeição.
Com a fé na vida futura, dilata-se-lhe o círculo das idéias; o
porvir lhe pertence; o progresso pessoal tem um fim, uma utilidade
real. Da continuidade das relações entre os homens nasce a
solidariedade; a fraternidade se funda numa lei da Natureza e no
interesse de todos.
A crença na vida futura é, pois, elemento de progresso, porque
estimula o Espírito; somente ela pode dar ao homem coragem nas suas
provas, porque lhe fornece a razão de ser dessas provas,
perseverança na
luta contra o mal, porque lhe assina um objetivo. A formar essa
crença no espírito das massas é, portanto, o em que devem aplicar-se
os que a possuem.
Entretanto, ela é inata no homem. Todas as religiões a proclamam.
Por que, então, não deu, até hoje, os resultados que se deviam
esperar? É que, em geral, a apresentam em condições que a razão não
pode aceitar. Conforme a pintam, ela rompe todas as relações com o
presente; desde que tenha deixado a Terra, a criatura se torna
estranha à Humanidade: nenhuma solidariedade existe entre os mortos
e os vivos; o progresso é puramente individual; cada um, trabalhando
para o futuro, unicamente para si trabalha, só em si pensa e isso
mesmo para uma finalidade vaga, que nada tem de definido, nada de
positivo, sobre que o pensamento se firme com segurança; enfim,
porque é mais uma esperança que uma certeza material. Daí resulta,
para uns, a indiferença, para outros, uma exaltação mística que,
isolando da Terra o homem, é essencialmente prejudicial ao progresso
real da Humanidade, porquanto negligencia os cuidados que reclama o
progresso material, para o qual a Natureza lhe impõe o dever de
contribuir.
Todavia, por muito incompletos que sejam os resultados, não deixam
de ser efetivos. Quantos homens não se sentiram encorajados e
sustentados na senda do bem por essa vaga esperança! Quantos não se
detiveram no declive do mal, pelo temor de comprometer o seu futuro!
Quantas virtudes nobres essa crença não desenvolveu! Não desdenhemos
as crenças do passado, por imperfeitas que sejam, quando conduzem ao
bem: elas estavam em correspondência com o grau de adiantamento da
Humanidade.
Mas, tendo progredido, a Humanidade reclama crenças em harmonia com
as novas idéias. Se os elementos da fé permanecem estacionários e
ficam distanciados pelo espírito, perdem toda influência; e o bem
que hajam produzido, em certo tempo, não pode prosseguir, porque
aqueles elementos já não se acham à altura das circunstâncias.
Para que a doutrina da vida futura doravante dê os frutos que se
devem esperar, é preciso, antes de tudo, que satisfaça completamente
à razão; que corresponda à idéia que se faz da sabedoria, da justiça
e da bondade de Deus; que não possa ser desmentida de modo algum
pela Ciência. É preciso que a vida futura não deixe no espírito nem
dúvida, nem incerteza; que seja tão positiva quanto a vida presente,
que é a sua continuação, do mesmo modo que o amanhã é a continuação
do dia anterior. É necessário seja vista, compreendida e, por assim
dizer, tocada com o dedo. Faz-se mister, enfim, que seja evidente a
solidariedade entre o passado, o presente e o futuro, através das
diversas existências.
Tal a idéia que da vida futura apresenta o Espiritismo, O que a essa
idéia dá força é que ela absolutamente não é uma concepção humana
com o mérito apenas de ser mais racional, sem contudo oferecer mais
certeza do que as outras. Ë o resultado de estudos feitos sobre os
testemunhos oferecidos por Espíritos de diferentes categorias, nas
suas manifestações, que permitiram se explorasse a vida extra
corpórea em todas as suas fases, desde o extremo superior ao extremo
inferior da escala dos seres. As peripécias da vida futura, por
conseguinte, já não constituem uma simples teoria, ou uma hipótese
mais ou menos provável: decorrem de observações. São os habitantes
do mundo invisível que vêm, eles próprios, descrever os seus
respectivos estados e há situações que a mais fecunda imaginação não
conceberia, se não fossem patenteadas aos olhos do observador.
Ministrando a prova material da existência e da imortalidade da
alma, iniciando-nos em os mistérios do nascimento, da morte, da vida
futura, da vida universal, tornando-nos palpáveis as inevitáveis
conseqüências do bem e do mal, a Doutrina Espírita, melhor do que
qualquer outra, põe em relevo a necessidade da melhoria individual.
Por meio dela, sabe o homem donde vem, para onde vai, por que está
na Terra; o bem tem um objetivo, uma utilidade prática. Ela não se
limita a preparar o homem para o futuro, forma-o também para o
presente, para a sociedade. Melhorando-se moralmente, os homens
prepararão na Terra o reinado da paz e da fraternidade.
A Doutrina Espírita é assim o mais poderoso elemento de moralização,
por se dirigir simultaneamente ao coração, à inteligência e ao
interesse pessoal bem compreendido.
Por sua mesma essência, o Espiritismo participa de todos os ramos
dos conhecimentos físicos, metafísicos e morais. São inúmeras as
questões que ele envolve, as quais, no entanto, podem resumir-se nos
pontos seguintes que, considerados verdades inconcussas, formam o
programa das crenças espíritas. (Obras Póstumas, Allan Kardec, 99 -
CREDO ESPÍRITA - Preâmbulo.)
(1) Lama, torpeza, degradação moral (Nota do
Instituto André Luiz)
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-
Fé espírita no clima da família, fonte do Espiritismo no campo
social. - André Luiz
VIVER
PELA FÉ
Emmanuel
“Mas o
justo viverá pela fé.” — Paulo. (Romanos, capítulo 1, versículo 17.)
Na
epístola aos romanos, Paulo afirma que o justo viverá pela fé.
Não poucos aprendizes interpretaram erradamente a assertiva.
Supuseram que viver pela fé seria executar rigorosamente as
cerimônias exteriores dos cultos religiosos.
Freqüentar os templos, harmonizar-se com os sacerdotes, respeitar a
simbologia sectária, indicariam a presença do homem justo. Mas nem
sempre vemos o bom ritualista aliado ao bom homem. E, antes de tudo,
é necessário ser criatura de Deus, em todas as circunstâncias da
existência.
Paulo de Tarso queria dizer que o justo será sempre fiel, viverá de
modo invariável, na verdadeira fidelidade ao Pai que está nos céus.
Os dias são ridentes e tranqüilos? tenhamos boa memória e não
desdenhemos a moderação.
São escuros e tristes? confiemos em Deus, sem cuja permissão a
tempestade não desabaria. Veio o abandono do mundo? o Pai jamais nos
abandona. Chegaram as enfermidades, os desenganos, a ingratidão e a
morte? eles são todos bons amigos, por trazerem até nós a
oportunidade de sermos justos, de vivermos pela fé, segundo as
disposições sagradas do Cristianismo. (Emmanuel, Caminho, Verdade e
Vida, 23, FCXavier, FEB)
* * *
EM TI
MESMO
“Tens
fé? Tem-na em ti mesmo, diante de Deus.” — Paulo. (Romanos, capítulo
14, versículo 22.)
No
mecanismo das realizações diárias, não é possível esquecer a
criatura aquela expressão de confiança em si mesma, e que deve
manter na esfera das obrigações que tem de cumprir à face de Deus.
Os que vivem na certeza das promessas divinas são os que guardam a
fé no poder relativo que lhes foi confiado e, aumentando-o pelo
próprio esforço, prosseguem nas edificações definitivas, com vistas
à eternidade.
Os que, no entanto, permanecem desalentados quanto às suas
possibilidades, esperando em promessas humanas, dão a idéia de
fragmentos de cortiça, sem finalidade própria, ao sabor das águas,
sem roteiro e sem ancoradouro.
Naturalmente, ninguém poderá viver na Terra sem confiar em alguém de
seu círculo mais próximo; mas, a afeição, o laço amigo, o calor das
dedicações elevadas não podem excluir a confiança em si mesmo,
diante do Criador.
Na esfera de cada criatura, Deus pode tudo; não dispensa, porém, a
cooperação, a vontade e a confiança do filho para realizar. Um pai
que fizesse, mecanicamente, o quadro de felicidades dos seus
descendentes, exterminaria, em cada um, as faculdades mais
brilhantes.
Por que te manterás indeciso, se o Senhor te conferiu este ou aquele
trabalho justo? Faze-o retamente, porque se Deus tem confiança em ti
para alguma coisa, deves confiar em ti mesmo, diante dEle.
(Emmanuel, Caminho, Verdade e Vida, 14, FCXavier, FEB)
- Em
fotografia precisamos da chapa impressionável para deter a imagem,
tanto quanto em eletricidade carecemos do fio sensível para a
transmissão da luz. No terreno das vantagens espirituais, é
imprescindível que o candidato apresente uma certa “tensão
favorável”. Essa tensão decorre da fé. Certo, não nos reportamos
ao fanatismo religioso ou à cegueira da ignorância, mas sim à
atitude de segurança íntima, com reverência e submissão, diante das
Leis Divinas, em cuja sabedoria e amor procuramos arrimo. - André
Luiz
TENHAMOS
FÉ
Emmanuel
”... vou
preparar-vos lugar.” — Jesus. (João, capítulo 14, versículo 2.)
Sabia o Mestre que, até à construção do Reino Divino na Terra,
quantos o acompanhassem viveriam na condição de desajustados,
trabalhando no progresso de todas as criaturas, todavia, “sem lugar”
adequado aos sublimes ideais que entesouram.
Efetivamente, o cristão leal, em toda parte, raramente recebe o
respeito que lhe é devido:
Por destoar, quase sempre, da coletividade, ainda não completamente
cristianizada, sofre a descaridosa opinião de muitos.
Se exercita a humildade, é tido à conta de covarde.
Se adota a vida simples, é acusado pelo delito de relaxamento.
Se busca ser bondoso, é categorizado por tolo.
Se administra dignamente, é julgado orgulhoso.
Se obedece quanto é justo, é considerado servil.
Se usa a tolerância, é visto por incompetente.
Se mobiliza a energia, é conhecido por cruel.
Se trabalha, devotado, é interpretado por vaidoso.
Se procura melhorar-se, assumindo responsabilidades no esforço
intensivo das boas obras ou das preleções consoladoras, é indicado
por fingido.
Se tenta ajudar ao próximo, abeirando-se da multidão, com os seus
gestos de bondade espontânea, muitas vezes é tachado de personalista
e oportunista, atento aos interesses próprios.
Apesar de semelhantes conflitos, porém, prossigamos agindo e
servindo, em nome do Senhor.
Reconhecendo que o domicílio de seus seguidores não se ergue sobre o
chão do mundo, prometeu Jesus que lhes prepararia lugar na vida mais
alta.
Continuemos, pois, trabalhando com duplicado fervor na sementeira do
bem, à maneira de servidores provisoriamente distanciados do
verdadeiro lar.
“Há muitas moradas na Casa do Pai.”
E o Cristo segue servindo, adiante de nós.
Tenhamos fé.
(Emmanuel, Fonte Viva, 44, FCXavier, FEB)
“E ele
lhe disse: Tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou; vai em paz.” —
(LUCAS, CAPÍTULO 8, VERSÍCULO 48.)
É
importante observar que o Divino Mestre, após o benefício
dispensado, sempre se reporta ao prodígio da fé, patrimônio sublime
daqueles que O procuram.
Diversas vezes, ouvimo-lo na expressiva afirmação: — “A tua fé te
salvou.” Doentes do corpo e da alma, depois do alívio ou da cura,
escutam a frase generosa. É que a vontade e a confiança do homem são
poderosos fatores no desenvolvimento e iluminação da vida.
O navegante sem rumo e que em nada confia, somente poderá atingir
algum porto em virtude do jogo das forças sobre as quais se
equilibra, desconhecendo, porém, de maneira absoluta, o que lhe
possa ocorrer.
O enfermo, descrente da ação de todos os remédios, é o primeiro a
trabalhar contra a própria segurança. O homem que se mostra
desalentado em todas as coisas, não deverá aguardar a cooperação
útil de coisa alguma.
As almas vazias embalde reclamam o quinhão de felicidade que o mundo
lhes deve. As negações, em que perambulam, transformam-nas, perante
a vida, em zonas de amortecimento, quais isoladores em eletricidade.
Passa corrente vitalizante, mas permanecem insensíveis.
Nos empreendimentos e necessidades de teu caminho, não te isoles nas
posições negativas.
Jesus pode tudo, teus amigos verdadeiros farão o possível por ti;
contudo, nem o Mestre e nem os companheiros realizarão em sentido
integral a felicidade que ambicionas, sem o concurso de tua fé,
porque também tu és filho do mesmo Deus, com as mesmas
possibilidades de elevação. (Emmanuel, Pão Nosso, 113, FCXavier,
FEB)
- A
provação é o metro de avaliação de nossa própria fé. - André Luiz
FÉ E
PERSEVERANÇA
Meimei
Três rapazes suspiravam por encontrar o Senhor, a fim de fazer-lhe
rogativas.
Depois de muitas orações, eis que, certa vez, no
campo em que trabalhavam, apareceu-lhes o carro do Senhor, guiado
pelos anjos.
Radiante de luz, o Divino Amigo desceu da carruagem e pôs-se a
ouvi-los.
Os três ajoelharam-se em lágrimas de júbilo e o primeiro implorou a
Jesus o favor da riqueza. O Mestre, bondoso, determinou que um dos
anjos lhe entregasse enorme tesouro em moedas, O segundo suplicou a
beleza perfeita e o Celeste Benfeitor mandou que um dos servidores
lhe desse um milagroso ungüento a fim de que a formosura lhe
brilhasse no rosto. O terceiro exclamou com fé:
— Senhor, eu não sei escolher... Dá-me o que for justo, segundo a
tua vontade.
O Mestre sorriu e recomendou a um dos seus anjos lhe entregasse uma
grande bolsa.
Em seguida, abençoou-os e partiu...
O moço que recebera a bolsa abriu-a, ansioso, mas, oh!
desencanto!... Ela continha simplesmente uma enorme pedra.
Os companheiros riram-se dele, supondo-o ludibriado, mas o jovem
afirmou a sua fé no Senhor, levou consigo a pedra e começou a
desbastá-la, procurando, procurando...
Depois de algum tempo, chegou ao coração do bloco endurecido e
encontrou aí um soberbo diamante. Com ele adquiriu grande fortuna e
com a fortuna construiu uma casa onde os doentes pudessem encontrar
refúgio e alivio, em nome do Senhor.
Vivia feliz, cuidando de seu trabalho, quando, um dia, dois enfermos
bateram à porta. Não teve dificuldade em reconhecê-los. Eram os dois
antigos colegas de oração, que se haviam enganado com o ouro e com a
beleza, adquirindo apenas doença e cansaço, miséria e desilusão.
Abraçaram-se, chorando de alegria e, nesse instante, o Divino Mestre
apareceu entre eles e falou:
— Bem-aventurados todos aqueles que sabem aproveitar as pedras da
vida, porque a fé e a perseverança no bem são os dois grandes
alicerces do Reino de Deus. (Meimei, do livro "Pai Nosso", 14,
FCXavier, FEB)
"Conserve a própria fé por tal modo que você não possa se afligir
excessivamente em nenhuma dificuldade."
- André Luiz
Instituto André Luíz