Entrevistando Chico Xavier
50 -Direito de Planejar
ME - O casal tem o direito de programar o número de filhos em sua própria casa?
Diz Allan Kardec em “O Livro dos Espíritos” que o homem deve corrigir tudo
aquilo que possa ser contrário à natureza. Hoje, dividem-se as opiniões, mas à
frente da problemática da nossa civilização, à frente dos impositivos da
educação e da assistência à família, nós, pessoalmente, acreditamos que o
casal tem direito de pedir a Deus inspiração, de rogar a Jesus as sugestões
necessárias para que não venha a cair em compromissos nos quais os
cônjuges permaneçam frustrados.
Somos filho de família numerosa. Pessoalmente sou descendente de uma
família de 15 irmãos, mas, de 20 anos para cá, a vida no planeta tem sofrido
muitas alterações, e devemos estudar o planejamento com muito respeito à
vida e conseqüentemente a Deus, em nossos deveres uns para com os outros,
e não cairmos, em qualquer calamidade por omissão ou deserção dos nossos
deveres. (julho de 1974).
51 Pílula, Anticoncepcional Aperfeiçoado
MN - Chico, muitos companheiros acreditam que as respostas às perguntas 693, 693ª e 694 de “O Livro dos Espíritos” não facultam aos espíritas a possibilidade de planejarem as suas famílias.
O que pensa a respeito?
Diz Allan Kardec, na questão 693 de “O Livro dos Espíritos”: ‘Deus concedeu
ao homem sobre todos os seres vivos um poder de que ele deve usar sem
abusar”.
De nossa parte, cremos que o problema do planejamento familiar está afeto
ao livre-arbítrio dos casais, de vez que, segundo pensamos, cada casal precisa
saber o que faz, de modo que a família se forme para cooperar na realização
do bem de todos e devido a todos.
Segundo os Benfeitores Espirituais, a ciência terrestre aperfeiçoará de tal
modo os anticoncepcionais que serão eles usados sem quaisquer riscos para a
saúde humana, de modo que a Terra se liberte das calamidades do aborto e a
fim de que o livre-arbítrio funcione, presidindo as responsabilidades dos
parceiros das relações afetivas, que precisam usar a própria consciência nos
compromissos que assumam. (abril de 1982)
MN - É lícito o uso de anticoncepcionais?
Estamos diante de um problema em que os conceitos da Ciência e da vida
familiar devem ser por nós todos respeitados. Esperemos que o tempo nos
faça sentir as vantagens dos anticoncepcionais, compreendendo-se, porém,
que os anticoncepcionais não estarão chegando a Terra sem finalidade justa.
(julho de 1974)
52- Vasectomia
MN - E o problema da vasectomia? Você acha que os homens devem realizar esse tipo de operação para impedir a procriação?
Não é aconselhável. Não devem fazer, porque a mulher terá sempre um
meio de retomar a sua capacidade criativa. A mulher é dotada de recursos que
o homem não tem.
Tenho notado que a vasectomia traz uma profunda angústia ao homem,
porque parece que ele lesou um patrimônio que lhe pertencia, o dom de criar.
Os homens que conheço e que se submeteram a esse tipo de intervenção não
têm alegria de viver. Não se deve violentar os processos da natureza. A mulher
pode utilizar-se de outros processos, mas o homem não. (novembro de 1982)
53- Afronta à Vida
FW - Há mães solteiras que abortam por temor a uma moral, ou convenção social muito rigorosa frente a tal condição materna. O que poderia dizer-nos acerca de tais preconceitos que induzem, pressionam ou indiretamente favorecem o aborto?
Pensamos, como os Amigos Espirituais, que a existência de mães solteiras
sempre dignas do nosso maior respeito, envolve a existência de pais que não
deveriam estar ausentes.
Compreendemos a legitimidade das convenções sociais, veneráveis em
seus fundamentos, mas entendemos que não nos será lícito menosprezar, em
tempo algum, aqueles que não conseguiram se lhes ajustar aos preceitos.
Sabendo que o aborto, mesmo legalizado no mundo, é uma falha nossa na
Terra, estamos certos de que ninguém deveria praticá-lo, seja no regime das
convenções humanas ou fora delas. Cremos, desse modo, que uma legislação
surgirá no futuro em favor da mulher, que tendo confiado um dia em alguém,
teve coragem de não abandonar a criatura indefesa que esse alguém lhe
trouxer à vida. Aguardemos, assim, providências humanitárias, em que os
homens mais responsáveis criem por si disposições legais magnânimas,
baseadas na justiça da vida, com que venham a sanar a falta deixada pelos
outros homens, nossos irmãos, que se fizeram pais, sem consciência mais
ampla das obrigações que assumiram. (agosto de 1976)
Dr. Rossi (CEU) - Na China já está sendo utilizado um medicamento que, quando ingerido nas primeiras semanas, provoca o aborto sem necessidade de intervenção cirúrgica. O que você pensa disso?
Sempre que faço qualquer referência ao aborto, lembro-me da utilidade do
anticoncepcional como elemento de socorro às necessidades do casal. As
duas criaturas querem a união, mas não estão em condições de realizarem
esse ideal; nesse caso, a anticoncepção viria em seu auxílio.
Se minha mãe, quando me esperava, repleta de doenças, quisesse me e
xpulsar, não sei o que seria de mim.
Se há anticoncepcional, por que promover a morte de criaturas nascituras ou
em formação? Com uma terra tão imensa para ser lavrada e aproveitada, é
impossível aplaudir o aborto. Somente podemos entender o aborto terapêutico
quando a vida materna está ameaçada. Lembro-me de minha mãe sofrendo
por minha causa, e não posso aplaudir. (novembro de 1988)
FW - Existe no Congresso Nacional um projeto legalizando o aborto no Brasil. Seria oportuna uma campanha nacional colhendo manifestações de pessoas e grupos posicionados contra essa legalização?
Não digamos «campanha nacional” porque semelhante legenda está’
suscetível de acordar críticas destrutivas em torno do assunto, criando longos
debates improdutivos.
Consideramos obra de benemerência social o trabalho que se possa efetuar
para conhecimento dos senhores legisladores e outras autoridades, tanto
quanto para informação às mulheres, para que colaborem a fim de que a
legalização do aborto no Brasil ou em qualquer outro país do mundo seja
frustrada em benefício da maternidade e em louvor da criança.
O serviço dessa natureza, a nosso ver, deve ser realizado com seriedade e
respeito, porque ele, de qualquer modo, na hipótese da legalização referida, na
nossa opinião não sofrerá alterações quaisquer, por qüanto além do aborto
delituoso ser medida inaceitável para o campo de atividades espíritas-cristãs, é,
acima de tudo, uma afronta às leis naturais da vida. (outubro de 1983)
FW - Já existe uma injeção, à base de ácidos que aplicada diretamente no útero da gestante mata o feto, queimando-o. Que dizer dessa prática?
O processo a que se refere a pergunta — no caso do aborto delituoso —
é comparável a um assassinato na intimidade do corpo feminino. (setembro de
1983)
FW - Os espíritos abortados perdoam quem pratica, consente ou induz ao aborto?
Não nos seria possível especificar as atitudes da criatura humana nos
problemas do aborto delituoso. A esfera dos espíritos desencarnados,
profundamente vinculados à existência, é semelhante à faixa de ação dos
homens, propriamente considerada. Temos irmãos desencarnados aptos a
perdoar a irresponsabilidade da mulher ou do homem que pratica ou incentiva
o aborto delituoso. Existem, também, aqueles outros que influenciam
negativamente na gestação e no desenvolvimento da criança nascitura, em
lastimáveis processos de obsessão. (setembro de 1983)*
* Nesse mesmo dia, no pátio do Grupo Espírita da Prece, Augusto César Vanucci e sua equipe de artistas apresentava a Chico Xavier a peça Além da Vida, que tem também entre seus quadros um esclarecimento contra o aborto. Eram três horas do amanhecer de domingo, quando o médium Chico Xavier fez a prece de encerramento, todos de mãos dadas, público e artistas. Antes e depois do espetáculo, conversei muito com Vanucci sobre algo novo que surge de forma criativa no Brasil: a arte comoveículo de divulgação do kardecismo consolador. (FW)
MN - Chico, o aborto, está sendo liberado em quase todo o mundo. Você acredita realmente nas tendências cristãs do povo brasileiro para rechaçar uma medida como esta?
Felizmente parece que, no Brasil, pelo menos a maioria das autoridades
(sejam elas de caráter administrativo ou religioso) é contrária a essa
calamidade de legalização do aborto.
Acreditamos que em muitos países, talvez pelo interesse em conter a
explosão demográfica, determinados setores apoiaram ou apóiam o aborto
legalizado. Mas acreditamos que essas nações voltarão a fazer uma
reconsideração de comportamento em relação ao assunto, porque em qualquer
ocasião de conflito internacional a questão do incentivo à maternidade é
largamente praticado, porque em todos os setores surge logo o estímulo ao
nascimento de muitas criaturas. Como estamos no Ocidente, sem grandes
guerras desde 1945, em nos referindo à vida ocidental propriamente
considerada, muitas nações estão achando a legalização do aborto um triunfo
para as nossas irmãs, as mulheres, mas acreditamos que esses países,
futuramente, voltarão a fazer uma revisão dessa legislação.
Na condição de cristãos, não podemos apoiar o aborto, que seria um crime
sempre cometido com absoluta impunidade entre as paredes domésticas.
Acreditamos que o anticoncepcional é um recurso que nos foi concedido na
Terra pela Divina Providéncia para que a delinqüéncia do aborto seja sustada,
uma vez que a criatura humana, por necessidade de revitalização de suas
próprias forças orgânicas, naturalmente precisará do relacionamento sexual,
entre os parceiros que estão compromissados no assunto, mas usarão esse
agente anticoncepcional para que o crime do aborto seja devidamente evitado
em qualquer parte do mundo.
Mais hoje, mais amanhã, as nações entrarão em acordo a esse respeito,
porque não é possível que estejamos exterminando crianças absolutamente
personificadas, formadas, vivas, com o apoio das autoridades que nos
governam. É absolutamente impossível aplaudir uma coisa dessas. (junho de
1980)
54- Bebê de Proveta, Escolha de Sexo e Útero de Empréstimo
FW - O que dizer da interferência do homem na intimidade do genes, experimentando desenvolver a vida humana em tubos de ensaio, da seleção e cruzamento em provetas, dos úteros alugados, do desequilibro biológico pela escolha de sexo da futura criança?
Compreendemos que a Ciência, na Terra, dispõe de meios para qualquer
experimentação nos setores da genética. Os Instrutores Espirituais afirmam,
entretanto, que esse tipo de experimentação deve merecer o máximo cuidado
da parte de quantos se encarregam da orientação do mundo. Para evitar
incursões na teratologia, com evidente menosprezo da personalidade humana;
e afim de coibir abusos que funcionariam em prejuízo do equilíbrio espiritual
nos grupos sociais da Terra, devemos pedir o amparo da Providência Divina,
para que a inteligência do homem espere mais alguns séculos afim de entrar
no assunto. (agosto de 1976)
FW - Ser concebido dentro de uma proveta de laboratório significaria para o nascituro — e ou para seus pais — uma provação a ser aceita e superada?
Consideramos o assunto com sadio otimismo, desde que o óvulo fertilizado
em proveta, com o apoio de autoridades respeitáveis, para a implantação no
claustro feminino revele senso de maturidade espiritual na mulher que assume
a maternidade consciente, em plenitude de responsabilidade entre a vida que
passa a acalentar no próprio regaço. (setembro de 1978)
FW - A circunstância de ser concebido artificialmente, e só dois dias e meio depois ser transportado para o últero materno, significaria para o espírito que vai nascer desse recurso de manipulação científica alguma limitação espiritual para o bebê?
Não vemos qualquer limitação espiritual para o bebê, de vez que o processo
da reencarnação para o espírito experimenta menos riscos, porqüanto estará
sob o apoio mais completo da responsabilidade humana.
FW - A fecundação e criação de bebês de proveta em série, quem sabe até em escala industrial, o que representa uma hipótese possível, não trará para a humanidade problemas psíquicos e espirituais de envergadura imprevisível?
A evolução moral dos povos não permitirá a criação de semelhante indústria, ou o homem estará rebaixando o nível de conhecimento superior em que se
encontra, com perigosos comprometimentos para a humanidade inteira.
FW - Sabendo-se que nada no Universo acontece por acaso, e sim que tudo obedece aos planos e à permissão do Alto, é razoável deduzirmos que os espíritos que devem vir à luz ao nosso Mundo por este caminho são previamente preparados para esta via de nascimento?
Sim, quando a Ciência na Terra, iluminada pela bênção da fé na imortalidade
puder intervir no auxílio, realmente digno, ao trabalho da genética no campo
humano, sem nenhuma disposição para extravagâncias e abusos através de
experimentações absolutamente desaconselháveis, a implantação do óvulo
fertilizado no claustro da mulher responsável evitará muitos desastres na
reencarnação, especialmente os que se referem ao aborto sem justificativas.
FW - Quais, então, são os perigos presentes e futuros que essa manipulação dos gens pode gerar à vida nos dois planos da matéria?
O materialismo inteligente e cruel, sem qualquer idéia de Deus e da
imortalidade da alma, é o perigo que ameaça a manipulação dos recursos
genéticos sem responsabilidade, mas devemos confiar nos homens de bom
senso e de espírito humanitário que, através das legislações dignas, podem e
devem coibir quaisquer abusos suscetíveis de aparecer no campo das
pesquisas de caráter delituoso e inconseqüente. Confiemos no amparo e na
inspiração dos Mensageiros do Cristo, em auxílio das coletividades humanas.
(Respostas de Emmanuel)
55-Mãe de Aluguel
FW - Aluguel de úteros maternos é uma realidade a ser alcançada
brevemente por cientistas e pesquisadores.
Procede mal uma mulher que, por necessidade econômica e material, alugue seu útero para a gestação de um óvulo fecundado que não lhe pertence? Tal subterfúgio ou recurso extra não traria conseqüências ao nascituro?
As mães incapazes de amamentar os próprios filhos recorrem aos préstimos
de companheiras que as assessoram nesse mister ou aproveitam outros
recursos para a alimentação dos recém-natos. Quando a mulher se dispõe a
ser mãe, consciente e digna do elevado encargo de se responsabilizar por
determinadas vidas, sem possibilidades próprias para isso, julgamos justo que
uma companheira, se possível, tome a si o trabalho de gestar, em favor dela, o
filho ou os filhos que essa mulher digna da maternidade consciente se propõe
receber nos próprios braços.
FW - Transgredirá a lei moral de Deus a mulher solteira que queira ter filhos sem o intercurso sexual com seu companheiro masculino, ou seja, engravidando através da inseminação artificial?
No caso, o problema é estritamente de natureza consciencial. (setembro de
1978)
MN - Quando a mãe de aluguel dá à luz uma criança deficiente e a mãe que a encomendou não a aceita, como resolver o impasse do ponto de vista legal e espiritual? Nesse particular, a adoção deve ser incentivada, tendo em vista o número de rejeições constatadas, isto é, a devolução das crianças adotadas?
O assunto nos parece demasiadamente complexo, porque se assumo
determinado compromisso, a meu ver, não deve existir algo que me impeça a
obrigação de cumpri-lo.
Não entendo rejeição, em matéria de dever voluntariamente procurado ou
aceito. Diante, porém, da insegurança compreensível de muita gente, que
vacila ante os resultados das próprias escolhas, cremos que a Justiça entrará
na solução dos problemas em foco, afim de que ninguém faça a alguém
joguete dos caprichos a que se afeiçoem. (novembro de 1983)
Do livro “Lições de Sabedoria