Livro selecionado: "O Evangelho Segundo o Espiritismo"
II Autoridade Da Doutrina Espírita
Controle Universal do Ensino dos Espíritos
Se a doutrina espírita fosse uma concepção puramente humana, não
teria como garantia senão as luzes daquele que a tivesse concebido. Ora,
ninguém neste mundo poderia ter a pretensão de possuir, sozinho, a
verdade absoluta. Se os Espíritos que a revelaram se houvessem
manifestado a apenas um homem, nada lhe garantiria a origem, pois seria
necessário crer sob palavra no que dissesse haver recebido os seus
ensinos. Admitindo-se absoluta sinceridade de sua parte, poderia no
máximo convencer as pessoas do seu meio, e poderia fazer sectários, mas
não chegaria nunca a reunir a todos.
Deus quis que a nova revelação chegasse aos homens por meio mais
rápido e mais autêntico. Eis porque encarregou os Espíritos de a levarem
de um pólo ao outro, manifestando-se por toda parte, sem dar a ninguém o
privilégio exclusivo de ouvir a sua palavra. Um homem pode ser enganado
e pode enganar-se a si mesmo, mas não aconteceria assim, quando milhões
vêem e ouvem a mesma coisa: isto é uma garantia para cada um e para
todos. Demais, pode fazer-se desaparecer um homem, mas não se faz
desaparecerem as massas; podem-se queimar livros, mas não se podem
queimar Espíritos. Ora, queimem-se todos os livros, e a fonte da
doutrina não será menos inesgotável, porque não se encontra na Terra,
surge de toda parte e cada um pode captá-la. Se faltarem homens para a
propagar, haverá sempre os Espíritos, que atingem a todos e que ninguém
pode atingir.
São realmente os próprios Espíritos que fazem a propaganda, com a
ajuda de inumeráveis médiuns, que eles despertam por toda parte. Se
houvesse um intérprete único, por mais favorecido que esse fosse, o
Espiritismo estaria apenas conhecido. Esse intérprete, por sua vez,
qualquer que fosse a sua categoria, provocaria a prevenção de muitos;
não seria aceito por todas as nações. Os Espíritos, entretanto,
comunicando-se por toda parte, a todos os povos, a todas as seitas e a
todos os partidos, são aceitos por todos. O Espiritismo não tem
nacionalidade, independe de todos os cultos particulares, não é imposto
por nenhuma classe social, visto que cada um pode receber instruções de
seus parentes e amigos de além-túmulo. Era necessário que assim fosse,
para que ele pudesse conclamar todos os homens à fraternidade, pois se
não se colocasse em terreno neutro, teria mantido as dissenções, em
lugar de apaziguá-las.
Esta universalidade do ensino dos Espíritos faz a força do
Espiritismo, e é ao mesmo tempo a causa de sua tão rápida propagação.
Enquanto a voz de um só homem, mesmo com o auxílio da imprensa,
necessitaria de séculos para chegar aos ouvidos de todos, eis que
milhares de vozes se fazem ouvir simultaneamente, em todos os pontos da
Terra, para proclamar os mesmos princípios e os transmitir aos mais
ignorantes e aos mais sábios, a fim de que ninguém seja deserdado. É uma
vantagem de que não pôde gozar nenhuma das doutrinas aparecidas até
hoje. Se, portanto, o Espiritismo é uma verdade, ele não teme nem a má
vontade dos homens, nem as revoluções morais, nem as transformações
físicas do globo, porque nenhuma dessas coisas pode atingir os
Espíritos.
Mas não é esta a única vantagem que resulta dessa posição
excepcional. O Espiritismo ainda encontra nela uma poderosa garantia
contra os cismas que poderiam ser suscitados, quer pela ambição de
alguns, quer pelas contradições de certos Espíritos. Essas contradições
são certamente um escolho, mas carregam em si mesmas o remédio ao lado
do mal.
Sabe-se que os Espíritos, em conseqüência das suas diferenças de
capacidade, estão longe de possuir individualmente toda a verdade; que
não é dado a todos penetrar certos mistérios; que o seu saber é
proporcional à sua depuração; que os Espíritos vulgares não sabem mais
do que os homens; que há, entre eles, como entre estes, presunçosos e
falsos sábios, que crêem saber aquilo que não sabem; sistemáticos, que
tomam suas próprias idéias pela verdade; enfim, que os Espíritos da
ordem mais elevada, que são completamente desmaterializados, são os
únicos libertos das idéias e das preocupações terrenas. Mas sabe-se
também que os Espíritos embusteiros não têm escrúpulos para esconder-se
atrás de nomes emprestados, a fim de fazerem aceitar suas utopias. Disso
resulta que, para tudo o que está fora do ensino exclusivamente moral,
as revelações que alguém possa obter são de caráter individual, sem
autenticidade, e devem ser consideradas como opiniões pessoais deste ou
daquele Espírito, sendo imprudência aceitá-las e propagá-las
levianamente como verdades absolutas.
O primeiro controle é, sem contradita, o da razão, ao qual é
necessário submeter, sem exceção, tudo o que vem dos Espíritos. Toda
teoria em contradição manifesta com o bom senso, com uma lógica
rigorosa, com os dados positivos que possuímos, por mais respeitável que
seja o nome que a assine, deve ser rejeitada. Mas esse controle é
incompleto para muitos casos, em virtude da insuficiência de
conhecimentos de certas pessoas, e da tendência de muitos, de tomarem
seu próprio juízo por único árbitro da verdade. Em tais casos, que fazem
os homens que não confiam absolutamente em si mesmos? Aconselham-se com
os outros, e a opinião da maioria lhes serve de guia. Assim deve ser no
tocante ao ensino dos Espíritos, que nos fornecem por si mesmos os
meios de controle.
A concordância no ensino dos Espíritos é portanto o seu melhor
controle, mas é ainda necessário que ela se verifique em certas
condições. A menos segura de todas é quando um médium interroga por si
mesmo numerosos Espíritos sobre uma questão duvidosa. É claro que, se
ele está sob o império de uma obsessão, ou se tem relações com um
Espírito embusteiro, este Espírito pode dizer-lhe a mesma coisa sob
nomes diferentes. Não há garantia suficiente, da mesma maneira, na
concordância que se possa obter pelos médiuns de um mesmo centro, porque
eles podem sofrer a mesma influência.
A única garantia segura do ensino dos Espíritos está na concordância
das revelações feitas espontaneamente, através de um grande número de
médiuns, estranhos uns aos outros, e em diversos lugares.
Compreende-se que não se trata aqui de comunicações relativas a
interesses secundários, mas das que se referem aos próprios princípios
da doutrina. A experiência prova que, quando um novo princípio deve ser
revelado, ele é ensinado espontaneamente, ao mesmo tempo, em diferentes
lugares, e de maneira idêntica, senão na forma, pelo menos quanto ao
fundo. Se, portanto, apraz a um Espírito formular um sistema excêntrico,
baseado em suas próprias idéias e fora da verdade, pode-se estar certo
de que esse sistema ficará circunscrito, e cairá diante da unanimidade
das instruções dadas por toda parte, como já mostraram números exemplos.
É esta unanimidade que tem posto abaixo todos os sistemas parciais
surgidos na origem do Espiritismo, quando cada qual explicava os
fenômenos a seu modo, antes que se conhecessem as leis que regem as
relações do mundo visível com o mundo invisível.
Esta é a base em que nos apoiamos, para formular um princípio da
doutrina. Não é por concordar ele com as nossas idéias, que o damos como
verdadeiro. Não nos colocamos, absolutamente, como árbitro supremo da
verdade,e não dizemos a ninguém: "Crede em tal coisa, porque nós vo-la
dizemos". Nossa opinião não é, aos nossos próprios olhos, mais do que
uma opinião pessoal, que pode ser justa ou falsa, porque não somos mais
infalíveis do que os outros. E não é também porque um princípio nos foi
ensinado que o consideramos verdadeiro, mas porque ele recebeu a sanção
da concordância.
Na nossa posição, recebendo as comunicações de cerca de mil centros
espíritas sérios, espalhados pelos mais diversos pontos do globo,
estamos em condições de ver quais os princípios sobre que essa
concordância se estabelece. É esta observação que nos tem guiado até
hoje, e é igualmente ela que nos guiará, através dos novos campos que o
Espiritismo está convocado a explorar. É assim que, estudando
atentamente as comunicações recebidas de diversos lugares, tanto da
França como do exterior, reconhecemos, pela natureza toda especial das
revelações, que há uma tendência para entrar numa nova via, e que chegou
o momento de se dar um passo à frente. Essas revelações, formuladas às
vezes com palavras veladas, passaram quase sempre despercebidas para
muitos daqueles que as obtiveram, e muitos outros acreditaram tê-las
recebido sozinhos. Tomadas isoladamente, elas seriam para nós sem valor;
somente a coincidência lhes confere gravidade. Depois, quando chega o
momento de publicá-las, cada um se lembrará de haver recebido instruções
no mesmo sentido. É esse o movimento geral que observamos e estudamos,
com a assistência dos nossos guias espirituais, e que nos ajuda a
avaliar a oportunidade de fazermos uma coisa ou de nos abstermos.
Esse controle universal é uma garantia para a unidade futura do
Espiritismo, e anulará todas as teorias contraditórias. É nele que, no
futuro, se procurará o criterium da verdade. O que determinou o sucesso
da doutrina formulada no O Livro dos Espíritos e no O Livro dos Médiuns,
foi que, por toda parte, cada qual pode receber, diretamente dos
Espíritos, a confirmação do que eles afirmavam. Se, de todas as partes,
os Espíritos os contradissessem, esses livros teriam, após tão longo
tempo, sofrido a sorte de todas as concepções fantásticas. O apoio mesmo
da imprensa não os teria salvo do naufrágio, enquanto que, privados
desse apoio, não deixaram de fazer rapidamente o seu caminho, porque
tiveram o dos Espíritos, cuja boa vontade compensou, com vantagem, a má
vontade dos homens. Assim acontecerá com todas as idéias emanadas dos
Espíritos ou dos homens, que puderem suportar a prova desse controle,
cujo poder ninguém pode contestar.
Suponhamos, portanto, que alguns Espíritos queiram ditar, com
qualquer título, um livro de sentido contrário; suponhamos mesmo que com
intenção hostil, e com o fim de desacreditar a doutrina, a male
volência suscitasse comunicações apócrifas. Que influência poderiam ter
esses escritos, se eles são desmentidos de todos os lados pelos
Espíritos? É da adesão desses últimos que se precisa assegurar, antes de
lançar um sistema em seu nome. Do sistema de um só, ao sistema de
todos, há a distância da unidade ao infinito. Que podem, mesmo, todos os
argumentos dos detratores contra a opinião das massas, quando milhões
de vozes amigas, vindas do espaço, chegam de todas as partes do
Universo, e no seio de cada família os repelem vivamente? A experiência
já não confirmou a teoria, no tocante a este assunto? Que foi feito de
todas essas publicações que deviam, segundo afirmavam, destruir o
Espiritismo? Qual delas conseguiu, pelo menos, deter-lhe a marcha? Até
hoje não se havia considerado a questão desse ponto de vista, sem dúvida
um dos mais graves? Cada um contou consigo mesmo, sem contar com os
Espíritos.
O princípio da concordância é ainda uma garantia contra as alterações
que, em proveito próprio, pretendessem introduzir no Espiritismo as
seitas que dele quisessem apoderar-se, acomodando-o à sua maneira. Quem
quer que tentasse fazê-lo desviar de seu fim providencial fracassaria,
pela bem simples razão de que os Espíritos, através da universalidade
dos seus ensinos, farão cair toda modificação que se afaste da verdade.
Resulta de tudo isto uma verdade capital: é que quem desejasse
atravessar-se na corrente de idéias estabelecida e sancionada, poderia
provocar uma pequena perturbação local e momentânea, mas jamais dominar o
conjunto, mesmo no presente, quanto menos no futuro.
E resulta mais, que as instruções dadas pelos Espíritos, sobre os
pontos da doutrina ainda não esclarecidos, não teriam força de lei,
enquanto permanecessem isoladas, só devendo, por conseguinte, ser aceita
sob todas as reservas, a título de informações.
Daí a necessidade da maior prudência na sua publicação, e no caso de
julgar-se que devem ser publicadas, só devem ser apresentadas como
opiniões individuais, mais ou menos prováveis, mas tendo, em todo o
caso, necessidade de confirmação. É esta confirmação que se deve
esperar, antes de apresentar um princípio como verdade absoluta, se não
se quiser ser acusado de leviandade ou de credulidade irrefletida.
Os Espíritos Superiores procedem, nas suas revelações, com extrema
prudência. Só abordam as grandes questões da doutrina de maneira
gradual, à medida que a inteligência se torna apta a compreender as
verdades de uma ordem mais elevada, e que as circunstâncias são
propícias para a emissão de uma idéia nova. Eis porque, desde o começo,
eles não disseram tudo, e nem o disseram até agora, não cedendo jamais à
impaciência de pessoas muito apressadas, que desejam colher os frutos
antes de amadurecerem. Seria, pois, inútil, querer antecipar o tempo
marcado pela Providência para cada coisa, porque então os Espíritos
verdadeiramente sérios recusam-se positivamente a ajudar. Os Espíritos
levianos, porém, pouco se incomodando com a verdade, a tudo respondem. É
por essa razão que, sobre todas as questões prematuras, há sempre
respostas contraditórias.
Os princípios acima não são o resultado de uma teoria pessoal, mas a
forçosa conseqüência das condições em que os Espíritos se manifestam. É
evidente que, se um Espírito diz uma coisa num lugar, enquanto milhões
dizem o contrário por toda parte, a presunção de verdade não pode estar
com aquele que ficou só, e nem aproximar-se da sua opinião, pois
pretender que um só tenha razão, contra todos, seria tão ilógico de
parte de um Espírito como de parte dos homens. Os Espíritos
verdadeiramente sábios, quando não se sentem suficientemente
esclarecidos sobre uma questão, não a resolvem jamais de maneira
absoluta. Declaram tratar do assunto de acordo com a sua opinião
pessoal, e aconselham esperar-se a confirmação.
Por maior, mais bela e justa que seja uma idéia, é impossível que
reúna, desde o princípio, todas as opiniões. Os conflitos que dela
resultam são a conseqüência inevitável do movimento que se processa, e
são mesmo necessários, para melhor fazer ressaltar a verdade. É também
útil que eles surjam no começo, para que as idéias falsas sejam mais
rapidamente desgastadas. Os espíritas que revelam alguns temores devem
ficar tranqüilos. Todas as pretensões isoladas cairão, pela força mesma
das coisas, diante do grande e poderoso criterium do controle universal.
Não será pela opinião de um homem que se produzirá a união, mas pela
unanimidade da voz dos Espíritos. Não será um homem, e muito menos nós
que qualquer outro, que fundará a ortodoxia espírita. Nem será tampouco
um Espírito, vindo impor-se a quem quer que seja. É a universalidade dos
Espíritos, comunicando-se sobre toda a Terra, por ordem de Deus. Este é
o caráter essencial da doutrina espírita, nisto está a sua força e a
sua autoridade. Deus quis que a sua lei fosse assentada sobre uma base
inabalável, e foi por isso que não a fez repousar sobre a cabeça frágil
de um só.
É diante desse poderoso areópago, que nem conhece o conluio, nem as
rivalidades ciumentas, nem o sectarismo, nem as divisões nacionais, que
virão quebrar-se todas as oposições, todas as ambições, todas as
pretensões à supremacia individual, que nós quebraríamos nós mesmos, se
quiséssemos substituir esses decretos soberanos por nossas próprias
idéias. Será ele somente que resolverá todas as questões litigiosas, que
fará calar as dissidências e dará falta ou razão a quem de direito.
Diante desse grandioso acordo de todas as vozes do céu, que pode a
opinião de um homem ou de um Espírito? Menos que uma gota d'água que se
perde no oceano, menos que a voz de uma criança abafada pela tempestade.
A opinião universal, eis portanto o juiz supremo, aquele que
pronuncia em última instância. Ela se forma de todas as opiniões
individuais. Se uma delas é verdadeira, tem na balança o seu peso
relativo; se uma é falsa, não pode sobrepujar as outras. Nesse imenso
concurso, as individualidades desaparecem, e eis aí um novo revés para o
orgulho humano.
Esse conjunto harmonioso já se esboça; portanto, este século não
passará antes que ele brilhe em todo o seu esplendor, de maneira a
resolver todas as incertezas; porque daqui para diante vozes poderosas
terão recebido a missão de se fazerem ouvir, para reunir os homens sob a
mesma bandeira, uma vez que o campo esteja suficientemente preparado.
Enquanto isso, aquele que flutuar entre dois sistemas opostos poderá
observar em que sentido se forma a opinião geral: é o indício seguro do
sentido em que se pronuncia a maioria dos Espíritos, dos diversos pontos
sobre os quais se comunicam; é um sinal não menos seguro de qual dos
dois sistemas predominará.
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terça-feira, 14 de agosto de 2012
Evangelho em Casa por Meimei
terceira
reunião
Meimei
No primeiro domingo de
maio, o grupo mostrava-se a postos, na hora prevista.
Achavam-se
presentes não apenas Dona Romualda e Milota, que voltavam aos estudos, mas
também Dona Matilde, uma senhora simpática que as seguia.
Explicara
Dona Romualda que ela e a filha; extremamente beneficiadas na semana
anterior, não hesitavam em trazer Dona Matilde às orações, para que se
reconfortasse, porquanto a estimada senhora, além de haver perdido o único
filhinho, vitimado por insidiosa moléstia, lutava imensamente no lar, com
a presença de sofredora irmã obsidiada.
PRECE INCIAL
Ante a quietude do recinto, Veloso
orou com o habitual sentimento:
-Cristo, Senhor Nosso, agora que
começamos a ver, em espírito, guia=nos no caminho da verdade para que a
sombra da ilusão não mais nos envolva.
Inclina-nos para o bem de que necessitamos, e faze-nos conhecer os teus
desígnios, a fim de que abracemos na vida o que seja melhor para nós.
Assim seja.
LEITURA
Concluída a
prece, Veloso passou o Novo Testamento às mãos de Milota, que, após
abri-lo, fez a reentrega do livro em que o orientador, depois de atento
exame, leu o versículo 15, do capítulo 4, da Carta do Apóstolo Paulo aos
Efésios:
“Antes, seguindo a verdade em caridade,
cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo”.
Indicando Marta para a continuidade da
tarefa, passou a ler em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no
capítulo IX, a mensagem sob o título “A Paciência”, assinada por “Um
Espírito Amigo”.
COMENTÁRIO
O diretor da reunião passou a
elucidar:
-Analisemos
a mensagem que estamos recebendo em nossas preces de hoje. O
Apóstolo Paulo recomenda-nos “seguir a verdade em caridade”, para que
venhamos a crescer no entendimento de Jesus, e O Evangelho Segundo o
Espiritismo, na advertência da Esfera Superior, assevera-nos que “a
paciência também é uma caridade”, e que nos cabe pratica-la, em
obediência aos ensinos do Mestre.
Quero crer
que, na essência, estamos sendo prevenidos contra qualquer manifestação de
crítica em nosso caminho.
Que os
outros possuem defeitos, tanto quanto os temos, é inegável. Mas, perdermos
tempo na fixação deles, esquecendo que a vida evolui com a bênção de Deus,
é futilidade e perturbação.
Maledicência
não resolve problema algum. Além disso, é sempre um corredor para a vala
das trevas.
Destacando
os males alheios, olvidamos aqueles que são nossos.
E,
censurando, adotamos invariavelmente, perante a pessoa reprovada, a
posição desagradável do aguilhão que lhe agita, no corpo, a parte
ulcerada, sem dar-lhe remédio.
A crítica é
semelhante à soda cáustica sobre a ferida ou ao petróleo no incêndio.
Só a loucura
utilizaria uma e outro, à guisa de bálsamo para sanar uma chaga ou à
feição da água para extinguir o fogo.
A palavra
maliciosa não ajuda nem mesmo aos nossos irmãos caídos no crime, visto que
a acusação apenas lhes agrava o desprezo para consigo próprios e a revolta
para com os outros.
Quem faz a
crítica de alguém, adotando semelhante procedimento, decerto indica a si
mesmo para fazer algo melhor que o criticado.
Ora, como
fazer é mais importante que falar, faça o melhor quem se disponha à
reprovação.
Sabemos que
as idéias são corporificadas em obras por nós mesmos.
Se tivermos,
portanto, que condenar esse ou aquele companheiro de trabalho ou de luta,
ao invés de amargura-lo ou complica-lo, usando irritação e azedume,
ajudamo-lo com o nosso próprio exemplo.
Se uma
criatura de nossas relações parece preguiçosa, não precisamos atrair-lhe a
antipatia, ironizando-lhe a conduta.
Trabalhemos
nós mesmos, de maneira a acorda-la silenciosamente para o serviço.
Surgindo
viciado esse ou aquele amigo, não é justo que lhe busquemos a aversão com
palavras cruéis, mas sim que lhe doemos, na demonstração de nossos
exemplos, uma idéia nova da vida, para que se restaure.
E não nos
esqueçamos de que, às vezes, tudo resulta de mera suposição, porquanto, em
muitos sucessos, o que se nos afigura preguiça ou viciação pode ser doença
ainda oculta.
Nós, os
cristãos, não vêem Jesus exercendo a função de crítico em hora alguma.
Aliás, empenhou-se em mostrar as qualidades nobres de todas as criaturas
que lhe desfrutaram a convivência, aproveitando-as, sem se deter no que
haviam sido, para ajuda-las a se encontrarem, como deviam ser. E, por fim,
achou mais justo concretizar os seus princípios de perfeição na renúncia
suprema, que clamar, ante o povo, contra os juízes de sua causa.
É
indispensável satisfazer à sábia fórmula do Evangelho, buscando “seguir
a verdade em caridade”, porque a verdade, sem amor para com o próximo,
é como luz que cega ou braseiro que requeima.
Xingamentos,
maldições, pragas, desesperos e exigências, não auxiliam. Servem apenas à
intolerância e à separação que, em muitos casos, precedem a enfermidades e
o crime.
Cultivemos o
bom exemplo. Nele deixou-nos o Cristo a única solução para os problemas de
soerguimento e conduta.
Quanto mais
unidos a Jesus, mais amplas se nos fará a integração espontânea na
caridade, em cujo clima toda censura desaparece.
CONVERSAÇÃO
Veloso fez o sinal característico
de quem havia terminado e já se inclinavam todos à conversação, quando um
pássaro irrompeu no aposento, entrando pela janela escancarada.
Houve
surpresa.
Lina
deslocou-se, à pressa, com o evidente intuito de aprisiona-lo.
O pai
adiantou-se, porém, e explicou:
-Ajudemos a
pobre ave, Deve sentir-se desorientada na volta ao ninho.
Dito isso,
abriu uma outra janela, que se encontrava cerrada.
Volteando no
aposento revelava-se o passarinho assustadiço e cansado.
Após o
auxílio de Veloso, que o seguia de pé, ganhou o espaço livre e
desapareceu.
Os presentes
sorriram, aliviados, e o entendimento da noite começou:
VELOSO
(Dirigindo-se a Lina) – Observou, minha filha? A ave repentinamente
encarcerada suspirava pela liberdade. Não seria caridoso detê-la.
CLÀUDIO – É
como se um de nós estivesse perdido, a distância de nossa casa, não é,
papai? Naturalmente, que o senhor e mãezinha ficariam ansiosos à nossa
espera...
VELOSO –
Isso mesmo, meu filho.
LINA – (Como
querendo modificar o ambiente em que se via reprovada) – Papai, hoje tenho
um assunto em que preciso muito de seus conselhos.
VELOSO –
Diga, filha. Estamos aqui para ouvir-nos uns aos outros.
LINA – Tia
Júlia e Silvia zombam de nós, quando o senhor está ausente. Dizem que
Espiritismo é ilusão e que nós não devemos crer na comunicação dos que
“morreram”...
D. Zilda –
Vocês estão rixando em matéria de religião?
LINA – Nos
não, mãezinha. Elas é que se riem de nós.
VELOSO –
Filha, ainda hoje, o nosso tema foi a caridade para com todos. Júlia e
Silvia não estão podendo compreende-las, ainda mais. A Doutrina Espírita
confirma o Evangelho de Nosso Senhor. E ninguém poderá negar, em sã
consciência, que Jesus voltou do túmulo pela ressurreição, a conversar com
os discípulos e a orienta-los. Mas discutir, quase sempre é instalar a
irritação na própria alma. Nós, os espíritas, segundo crêem, devemos
responder aos que nos critiquem, mesmo aos mais amados, com os nossos
próprios exemplos. Calemo-nos, fazendo o melhor ao nosso alcance, em favor
dos que nos cercam. Nossa Doutrina necessita ser lida e conhecida,
antes de tudo, em nossos atos.
CLÁUDIO – Quem sabe tia Júlia e Silvia
virão a receber algum conselho de vovó Rosália? Ela estará conosco, no
domingo próximo, que será Dia das Mães, e, como é velha, poderá falar sem
que elas se riam...
VELOSO –
Filho, não diga que vovó é velha. A palavra “velha”, em nos referindo às
pessoas, é vocábulo descabido. Há criaturas que mostrando longa
experiência no corpo, revelam consigo maior mocidade que a dos jovens;
porquanto, a mocidade, acima de tudo, é um estado da alma. Quando
afirmamos que alguém está velho, insinuamos que está gasto e imprestável e
essa não é definição que se faça para quem quer que seja...
D. ZILDA – A
observação é muito oportuna. Aliás, não se pode olvidar que os meninos e
moços de hoje serão as pessoas amadurecidas de amanhã.
VELOSO –
Sim, o tempo é instrutor da vida para todos, Mas, voltemo-nos para nossas
visitas. Dona Romualda trouxe-nos Dona Matilde. Procuremos ouvi-las.
D. ROMUALDA
– Nossa Matilde tem uma irmã bastante obsidiada.
D. MATILDE –
É minha irmã Iracema. Há dois meses grita sem cessar, atacada por
Espíritos turbulentos e viciosos... Soube que os prezados amigos mantém
aqui está reunião espírita e decidi-me a rogar-lhes cooperação...
VELOSO – Sim
podemos incluir nossa irmã enferma em nossas preces.
D. ROMUALDA
– Mas, não podemos fazer aqui alguma doutrinação direta, atraindo os
obsessores? Matilde é médium e serviria na posição de instrumento...
VELOSO –
Decerto há que considerar algum engano... O culto do Evangelho no lar não
inclui o tratamento dos desencarnados infelizes. Essa tarefa permanece
mais sob a responsabilidade dos nossos templos.
D. ROMUALDA
– Então não se justifica o socorro aos Espíritos infelizes, acaso
existentes em nosso ambiente doméstico...
VELOSO – De
modo algum. Indiscutivelmente, se o problema surge no ambiente familiar, é
claro o impositivo de fazer-se o possível no amparo aos sofredores dessa
espécie; contudo, a própria vida nos ensina que a delinqüência pode ser
interpretada por enfermidade da alma, e, assim, os delinqüentes devem ser
internados em lugar adequado ao tratamento preciso. Insistir pela
manifestação dos Espíritos conturbados, no culto evangélico mais íntimo
seria o mesmo que buscar pessoas desorientadas na praça pública a fim de
tumultuar-nos serviço tão grave.
D. MATILDE –
Sua opinião é respeitável... Mas, sou médium escrevente e ficaria
confortada se pudesse aproveitar a oportunidade, pelo menos para receber,
se possível, a palavra de Jorge, meu irmão há tempos desencarnado, que me
vem amparando, de mais perto. Trata-se de um mentor esclarecido...
VELOSO –
Nesse caso, a argumentação é diferente. O amigo espiritual que nos ajude é
sempre visita estimável. A educação não pode cerrar as portas a quantos
lhe possam acender novas luzes. Ao término de nossa reunião, esperaremos a
palavra do benfeitor a que se reporta.
D. ROMUALDA
– As explicações são muito lógicas.
D. ZILDA –
Não podemos esquecer igualmente que, em nossas tarefas evangélicas do lar,
os vários irmãos desencarnados sofredores, que porventura nos acompanhem,
ouvem palavras de consolação e absorvem idéias renovadoras.
D. ROMUALDA
– (Designando Dona Matilde que chora em silêncio) – Além das muitas
provações em casa, Matilde acaba de perder um filhinho devorado pelo
câncer... Menino de apenas alguns meses de idade...
D. MATILDE –
Meu pobre David! Desencarnar canceroso aos dez meses! ... (Dirigindo-se ao
diretor da reunião) – Qual a sua opinião irmão Veloso? Teria sido um fim
de prova?
VELOSO –
(Após meditar alguns instantes) – Tivemos um caso semelhante em nosso
templo espírita, há precisamente dois meses. Confortando o pai sofredor,
um amigo espiritual explicou-nos que o pequenino havia perpetrado o
suicídio, em existência anterior. Depois de vasto período de agonia
purgativa, nas esferas inferiores, reencarnou-se com as seqüelas da
tortura que infligira a si próprio, a projetar no corpo tenro os
desajustamentos de que se fazia portador. Quanto ao pequeno David, em que
órgão se lhe manifestou a enfermidade?
D. MATILDE –
Nos intestinos.
VELOSO – É
possível tenha ele usado violento corrosivo na existência última,
adquirindo grande perturbação no corpo espiritual.
D. ROMUALDA
– Como vemos, a Doutrina Espírita pede estudo para que venhamos a
entender os nossos problemas.
D. ZILDA – O
que mais lamento é a minha dificuldade para ler. Trabalho num
estabelecimento escolar e lido com crianças durante o dia inteiro.
Entretanto, se procuro ler esse ou aquele volume que não se refira à
escola, começo imediatamente a cochilar. É um sono terrível...
D. ROMUALDA
– De qualquer modo, no entanto, precisamos conhecer e confrontar, porque a
vida, em si mesma, é um grande livro sem letras, em que as lições são as
nossas próprias experiências.
VELOSO –
Dona Romualda está certa. Todo dia é ocasião de aprender.
D. ZILDA –
(Fixando carinhosamente Lina e Marta, depois de pequeno intervalo em que
Dona Matilde enxuga as lágrimas) – Tenho hoje uma comunicação para o
grupo. Marta anunciou no culto da semana passada que Lina passou a
auxilia-la espontaneamente. Acontece que, com isso, Marta agora vem
cooperando com mais tempo e carinho nos serviços da casa. A providência
aliviou-me bastante e, podendo dispor assim de novos recursos, dediquei-me
a nova tarefa. (E abrindo pequeno pacote que trouxera para a mesa) – Com
possibilidades novas, fiz nesta semana um enxoval para bebê, que
ofereceremos, em nome do nosso culto evangélico, a alguma de nossas irmãs
em necessidade maiores e que esteja aguardando a hora divina da
maternidade.
LINA – Oh!
Mãezinha!...
MARTA – Que
peças lindas!
CLÁUDIO –
Tudo tão bonito!...
VELOSO –
Estou feliz, vendo nossa casa começando a produzir o bem para os outros,
sem prejuízo do orçamento doméstico. Disse-nos o Apóstolo que a fé sem
obras é morta. Do ponto de vista do Evangelho, tudo segue melhorando,
quando sentimos necessidade de auxiliar com desinteresse. Anotamos hoje um
ensinamento edificante. O Evangelho ajudou nossa Lina a cumprir o próprio
dever. O Evangelho e Lina cooperaram com Marta, a fim de que esta pudesse
fazer um pouco a mais em seu trabalho e, agora, o Evangelho, Lina e Marta
auxiliaram nossa Zilda a socorrer, em nome de nosso conjunto, a outro lar
em lutas maiores que as nossas. Agradeçamos a Deus semelhantes bênçãos!...
NOTA SEMANAL
O silêncio envolveu a assembléia,
prenunciando o encerramento, e Veloso tomou a palavra sorrindo:
-Já que
nossa Zilda experimenta cansaço, relatarei aqui um episódio curioso que me
foi narrado por um amigo. Poderemos denomina-lo:
O SUSTENTO DO CORPO E DO ESPÍRITO
Certo
aprendiz, em conversa com o professor, queixou-se de grande incapacidade
para reter as lições.
Sentia-se
sonolento, desmemoriado...
Ao cabo
de alguns instantes de leitura, esquecia de todo os textos mais
importantes, ainda mesmo os que se referissem às suas mais prementes
necessidades.
Que fazer
para evitar a perturbação?
Travou-se
então entre os dois o seguinte diálogo:
-Meu
filho, quando tens sede, foges do copo d’água?
-Impossível. Morreria torturado.
-Quando
nu, abandonas a veste?
-De modo
algum. Não dispenso o agasalho.
-Esqueces
de levar o alimento à boca, ao te apresentarem a refeição?
-Nunca.
Como poderia andar sem comer?
-Pois
também não podes viver sem educação – concluiu o orientador – Lembra-te
dessa verdade e estarás acordado para os ensinamentos de nossos mestres.
O mentor
do grupo esboçou silencioso gesto de bom humor e salientou:
-Nossa
alma precisa estudar e conhecer, tanto quanto nosso corpo necessita de
respirar e nutrir-se.
ENCERRAMENTO
Veloso pediu aos circunstantes
alguns minutos de silêncio para que Dona Matilde pudesse funcionar como
médium de instrução e consolo.
Atendida a
solicitação, a senhora amiga desse assinalar a presença do irmão
desencarnado, a que se referira, e, tomando do lápis, psicografou-lhe a
seguinte mensagem:
Meus Irmãos.
Deus seja louvado!
A Terra é nossa escola e a dor é nossa lição.
Tende paciência para que o aprendizado não se perca.
Não podemos olvidar que o farão das provas corresponde sempre às nossas
forças.
Matilde; guardemos esperança.
Nosso David permanece sob a assistência de abnegados Benfeitores da Vida
Maior e nossa irmãzinha doente nunca esteve desamparada.
Os Mensageiros Divinos estão a postos.
Confiemos em Deus.
Jorge.
Veloso, satisfeito, destacou a
importância dos conselhos recebidos e orou, encerrando a reunião.
-Amado
Jesus, procurando-te a luz divina no Evangelho que nos deixaste, queremos
ser mais úteis. Agrademos, Senhor, o amparo que nos dispensas e contamos
com o teu auxílio para que sejamos amanhã melhores que hoje. Assim seja.
*
Lina e Cláudio serviram a água
fluidificada aos presentes e, enquanto se comentavam, em torno, a
excelência da palavra do Cristo aos corações, Dona Romualda pedia a Dona
Zilda algumas instruções sobre a melhor maneira de instituir o culto do
Evangelho em sua própria casa.
Da Obra “EVANGELHO
EM CASA” – Espírito: MEIMEI –
Médium: FRANCISCO
CÂNDIDO XAVIER
Evangelho em Casa-Por Memei
primeira
reunião
Meimei
Encorajada pelo esposo,
Dona Zilda, naquele belo domingo de abril, colocou sobre a mesa a melhor
toalha de que dispunha.
Alinhou dois
livros carinhosamente tratados – um exemplar do Novo Testamento e outro de
O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Em seguida,
trouxe pequeno vaso com água pura.
Soaram seis
horas da tarde.
O senhor
Veloso, chefe da família, entrou no aposento acompanhado de Lina e
Cláudio, filhinhos do casal, quase meninos, e de Marta, jovem servidora
que parecia ter mais de vinte anos de idade.
Dona Zilda
perguntou pela filha mais velha, Silvia, e por Dona Júlia, a irmã viúva
que residia junto deles, na mesma casa.
Veloso,
porém, notificou que ambas se haviam esquivado. Não desejavam partilhar o
nosso hábito doméstico.
Sem mais
demora, como se todos já houvessem estabelecido o propósito de a ninguém
reprovar, o pequeno grupo assentou-se tranqüilo.
Pairava
brando silêncio, quando Veloso ergueu a voz e orou, comovido.
PRECE INICIAL
Senhor
Jesus!
Quando
Deus não é colocado por centro de nossa vida, perdemos o rumo, quais
viajores que se distancia, da luz, caindo nas trevas... E és entre nós,
Senhor, a imagem mais fiel do Pai que nos criou.
Para nos
reunires a Ele. Concede-nos, assim, a força de percorre-lo! Inspira-nos a
compreensão de tua palavra, porquanto sabemos que o Reino de Deus, como
felicidade eterna, há de começar em nós mesmos.
Guia-nos,
Mestre, e ajuda-nos a entender-te à vontade! Assim seja.
LEITURA
Finda a prece, solicitou Veloso que
a filhinha abrisse o Novo Testamento ao acaso.
Efetuada a
operação, Lina passou o livro ao exame paterno.
O diretor da
pequenina assembléia deteve-se, por momentos, contemplando a fisionomia da
página, e leu, depois, o versículo 14, do capítulo 4, nos Apontamentos do
Apóstolo João Evangelista:
“Mas,
aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que
eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna”.
Logo após, atendendo à recomendação do
esposo, Dona Zilda consultou o Evangelho Segundo o Espiritismo, igualmente
ao acaso, e leu nas “Instruções dos Espíritos”, do capítulo XVII, a
mensagem de Lázaro, intitulada “O Dever”.
COMENTÁRIO
Feito silêncio, Veloso analisou,
sereno:
-Em nossa reunião temos o objetivo
de estudar os ensinamentos do Cristo, de modo a percebermos com mais
segurança o quadro de nossas obrigações.
Aceitamos a Doutrina Espírita, em
nome de Jesus, entretanto, como dignifica-la, sem conhecimento das lições
do Divino Mestre?
Na informação do evangelista, diz o
Senhor: “Quem beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque essa
água se fará nele qual fonte de água viva”.
Anotemos, em seguida, nos
ensinamentos coligidos por Allan Kardec, a palavra de Lázaro quanto à
excelência do dever como “Lei da Vida”.
Naturalmente, aludindo à água que
nos oferta, reportava-se Jesus aos princípios redentores de que se fez
mensageiro.
Quem lhes absorva a essência
sublime decerto se renovará integralmente, abrindo novo caminho aos
próprios pés.
E, ligando a promessa do Senhor à
conceituação da mensagem lida, reconheceremos claramente que Jesus não
apenas nos reconfortou a existência física, descerrando-nos luminosa
esperança ao sentimento ou curando-nos os corpos doentes, mas, acima de
tudo, nos traçou normas de ação, ante as quais nos compete aperfeiçoar o
senso de disciplina.
A fim de compreendermos semelhante
verdade, estampou as suas instruções em sua própria conduta.
Desceu das Esferas Superiores, sem
preocupar-se com a dureza de nossos corações, e distribuiu amor e luz com
todas as criaturas.
Começou, no entanto, pelos mais
infortunados e mais tristes.
Andou entre os homens sem deles
exigir considerações e privilégios.
Nasceu numa estrebaria e morreu
numa cruz.
Amparou a quantos lhe partilharam a
marcha, sem pedir agradecimento ou moeda.
Todavia, cada máxima que lhe saiu
da boca representa um artigo da Lei Divina para a edificação do Reino de
Deus entre nós.
O Reino de Deus inclui, porém, todo
o Universo.
Assim, pois, onde palpite a
consciência, seja na Terra ou noutros mundos, os princípios de Jesus
constituem a religião viva.
Não é difícil, desse modo, aprender
que o Celeste Amigo demarcou-nos a estrada real para a verdadeira
felicidade, assim como entendemos trilhos sólidos, de acordo com a
experiência da engenharia, para que a locomotiva alcance a meta.
Que acontece, entretanto, ao
comboio que abandona as linhas da vida férrea? Descarrila, provocando
desastres. Ameaça a vida dos passageiros, além de estragar a si próprio.
Interpretemos nossos desejos e
ideais, tarefas e obrigações, como sendo passageiros que
transportamos conosco, e façamos de nossa mente o maquinista.
Se o maquinista não obedece às
regras instituídas para a viagem, que é a nossa própria existência,
converte-se a vida em aventura perigosa, na qual arruinamos os interesses
e aspirações de que sejamos depositários, e perturbamos, conseqüentemente,
a nós mesmos.
As lições de Jesus, portanto,
indicando-nos a bondade e o serviço, a paciência e a humildade, a caridade
e o perdão, expressam a senda que nos cabe trilhar, se quisermos viver em
harmonia com a Lei de Deus.
CONVERSAÇÃO
Terminando o comentário,
Veloso explicou que seria interessante uma palestra rápida, a fim de que
as idéias do “culto evangélico” fossem colocadas em movimento.
Depois da troca de expressivo olhar
com a mãezinha, foi Lina quem tomou a iniciativa, perguntando:
-Papai, por que motivo não temos um
retrato de Jesus, diante de nós, em nossas preces?
E o entendimento estabeleceu-se,
afável.
VELOSO – Filhinha; decerto não
somos contra o trabalho artístico que mentaliza o Divino Mestre as telas e
esculturas que encontramos a cada passo, e um lar espírita pode guardar
perfeitamente semelhantes recordações, sempre que não atentem conta a
dignidade do Senhor e contra o respeito que devemos à obra cristã;
contudo, nas atividades de nossa Doutrina, dispensamos apetrechos
materiais, a fim de que não olvidemos a presença do Eterno Amigo dentro de
nós mesmos.
CLÁUDIO – E a água, papai?... Por
que a água na mesa?
VELOSO – Meu filho, a água é,
reconhecidamente, um dos corpos mais sensíveis à magnetização. Nessa
condição, armazena os recursos balsamizantes e curativos que nos são
trazidos pelos Emissários Divinos ou por nossos Amigos Espirituais, em
visita ao nosso recinto de orações.
LINA – Se tia Júlia mora conosco,
não compreendo as razões por que se afasta de nossas preces.
D. ZILDA – Júlia tem idéias
religiosas diferentes das nossas.
LINA – E Silvia?
VELOSO – Silvia é hoje uma jovem
com vinte anos. Cresceu sem que lhe dedicássemos qualquer cuidado ao
problema da fé. Quando pequenina Ilda e nós, muito inexperientes em
matéria de responsabilidade, confiamo-la à guarda moral de Júlia. Não
podemos agora lhe reclamar uma atitude para a qual, em verdade, não a
preparamos. (E sorrindo) – Segundo é fácil de notas, estamos começando o
nosso culto do Evangelho em casa com um atraso de vinte anos...
CLAUDIO – Com que fim precisamos
estudar o Evangelho?
D. ZILDA – Para melhorar o coração,
meu filho, para aprendermos que todos somos filhos de Deus e que devemos
viver no mundo como irmãos uns dos outros.
MARTA – Para cumprirmos nossos
deveres com alegria.
CLAUDIO – Quer dizer (e fez um
rosto brejeiro) que Lina não deve rusgar tanto com a empregada.
VELOSO – Meu filho, retifique a
expressão, Marta não é nossa empregada, como se fora nossa escrava, e você
se referiu a ela em tom de desprezo. É um erro ferir, mesmo sem intenção,
aqueles que trabalham conosco, tratando-os como se estivéssemos em posição
inferior. Marta é abnegada auxiliar no estabelecimento de ensino a que
presta serviço e quanto seu pai é colaborador no escritório de que recebe
o pão. Sem que as mãos dela nos preparem a mesa, ser-nos-á difícil o
desempenho das nossas obrigações.
D. ZILDA – Nosso culto do Evangelho
é, assim, um meio para nos sentirmos mais compreensivos. Nem Lina precisa
agastar-se com Marta nem nós mesmos uns com os outros. A cada qual de nós
cabe o máximo de esforço para que a bondade e a ordem, o serviço e a
gentileza permaneçam aqui com todos, para que a felicidade, brilhando
conosco, se irradie de nós para os que nos cercam.
NOTA SEMANAL
Findo o entendimento geral, Veloso
disse:
-Concluamos nossos estudos, cada
semana, com alguma nota que nos enriqueça a meditação.
Nesse sentido, lembro-me hoje de
uma lenda que pertence ao pensamento mundial. Adaptando-a as nossas
necessidades, nomeá-la-ei:
O DEVER ESQUECIDO
Certo rei muito poderoso, sendo
obrigado a longa ausência, tomou de grande fortuna e entregou-se ao filho,
confiando-lhe a incumbência de levantar grande casa, tão bela quanto
possível.
Para
isso, o tesouro que lhe deixava nas mãos era suficiente.
Acontece,
porém, que o jovem, muito egoísta, arquitetou o plano de enganar o próprio
pai, de modo a gozar todos os prazeres imediatos da vida.
E passou
a comprar materiais inferiores.
Onde lhe
cabia empregar metais raros, utilizava latão; nos lugares em que devia
colocar o mármore precioso, punha madeira barata, e nos setores de
serviço, em que obra reclamava pedra sólida, aplicava terra batida...
Com isso,
obteve largas somas que consumiu, desorientado, junto de amigos loucos.
Quando o
monarca voltou, surpreendeu o príncipe abatido e cansado, a apresentar-lhe
uma cabana esburacada, ao invés de uma casa nobre.
O rei, no
entanto, deu-lhe a chave do pequeno casebre e disse-lhe, bondoso:
-A casa
que mandei edificar é para você mesmo, meu filho... Não me parece a
residência sonhada por seu pai, mas devo estar satisfeito com a que você
próprio escolheu...
Após ligeira pausa, Veloso advertiu:
O conto
impele-nos a judiciosas apreciações, quanto ao cumprimento exato de nossos
deveres.
Comparemos o soberano a Deus, nosso Pai.
O
príncipe da história poderia ter sido qualquer alma de nós.
A fortuna
para construirmos a moradia de nossa alma é a vida que Deus nos empresta.
Quase
sempre, contudo, gastamos o tesouro da existência em caprichosa ilusão,
para acabarmos relegados, por nossa própria culpa, aos pardieiros
apodrecidos do sofrimento.
Mas,
aqueles que se consagram à bênção do dever, por mais áspero que seja,
adquirem a tranqüilidade e a alegria que o Supremo Senhor lhe reserva, por
executarem, fiéis, a sua divina vontade, que planeja sempre o melhor a
nosso favor.
ENCERRAMENTO
Atendendo à solicitação de Veloso,
Dona Zilda orou, no encerramento:
-Senhor, agradecemos a riqueza
que nos concedeste, a exprimir-se no lar que nos reúne.
Aqui nos situaste por amor, para
que aprendamos a servir ao próximo, servindo a nós mesmos.
Inspira-nos resoluções elevadas,
a fim de que a correção no desempenho de nossos deveres nos faça mais
felizes e mais úteis.
Não permitas, Jesus amado,
venhamos a esquecer as nossas obrigações, perante os teus ensinamentos, e
abençoa-nos, hoje e sempre, Assim seja.
**
Dona Zilda distribuiu a água
cristalina em pequenas porções com os familiares, enquanto a alegria lhes
clareava o semblante. E Veloso, satisfeito, notou que Lina abraçava Marta,
pela primeira vez, de modo diferente...
Da Obra “EVANGELHO
EM CASA” – Espírito: MEIMEI –
Médium: FRANCISCO
CÂNDIDO XAVIER
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