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terça-feira, 24 de janeiro de 2017

PORQUE A REUNIÃO MEDIÚNICA DEVE SER PRIVATIVA?


“E perguntou-lhe  Jesus  dizendo:  Qual  é  o  teu  nome  ?  E  ele disse: Legião, porque tinham entrado nele muitos demônios. “  Lc ; 8:30
Na  apresentação  do  livro  “Desobsessão”  explicando  a  passagem  acima  citada,
Emmanuel   nos   esclarece   que  Jesus   ao   conversar   fraternalmente  com   o   obsesso, pergunta-lhe o nome ; “o médium , consciente da pressão que sofria por parte das Inteligências  conturbadas  e  errante,  informa  chamar-se ‘Legião ‘ “porque Eles eram muitos. Emmanuel esclarece que o Cristo entendia-se de forma simultânea com o médium e as entidades comunicantes e com isto nos mostra que : “desobsessão não é caça a fenômeno e sim trabalho paciente do amor conjugado ao conhecimento e do raciocínio associado  à  fé”.  E  ,continua  Emmanuel  a  explicação  quanto  a  necessidade  de  : “vulgarizar a assistência sistemática aos desencarnados (...) por intermédio das equipes de companheiros consagrados aos serviços dessa ordem.”(1).
 
 André Luiz na  apresentação desta obra também reforça esta colocação dizendo que : “Cada templo espírita deve e precisa possuir a sua equipe de servidores de desobsessão, quando  não  seja  destinada  a  socorrer  as  vítimas  da  desorientação  espiritual  que  lhe rondam as portas, para defesa e conservação de si mesma.”Allan Kardec, no Projeto 1868 nos diz que : “Um dos  maiores  obstáculos  capazes de retardar a propagação da Doutrina seria a falta de unidade”.

Em se tratando de “prover a Sociedade de um local convenientemente situado e disposto para as reuniões e recepções”, ressalta dentre outros itens, o 3º: “Um compartimento destinado às evocações íntimas, espécie de santuário, que não seria profanado por nenhuma ocupação estranha”. (2 ) Kardec também esclarece em O livro dos médiuns-artigo 17:  Regulamento da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, que: “as sessões serão particulares ou gerais; nunca serão públicas”.  Ele assinala que    as reuniões particulares possibilitam”(...)os assuntos de estudo que mais tranquilidade e concentração reclamem, ou que ela julgue conveniente aprofundar, antes de tratá-lo em presença de pessoas estranhas. ” (3 )
Dentro deste raciocínio André Luiz em Conduta espírita nos informa:

“Abster-se da realização de sessões públicas para assistência a desencarnados sofredores, de vez que semelhante procedimento é falta de caridade para com os próprios espíritos socorridos, que sentem torturados, o comentário crescente e malsão em torno de seu próprio infortúnio. ” ( 4 ) Segundo André Luiz, no livro Desobsessão, cap.18 pag.77: “A desobsessão abrange em si obra hospitalar das mais sérias.
Compreenda-se que o espaço a ela destinado, entre quatro paredes, guarda a importância de uma enfermaria, com recursos adjacentes da Espiritualidade Maior para tratamento e socorro das mentes desencarnadas, ainda conturbadas ou infelizes.
Arrede-se da desobsessão qualquer sentido de curiosidade intempestiva ou de formação espetaculosa.
Coloquemo-nos no lugar dos desencarnados em desequilíbrio e entenderemos, de pronto, a inoportunidade da presença de qualquer pessoa estranha a obra assistencial dessa natureza. (...) Daí nasce o impositivo de absoluto isolamento hospitalar para o recinto dedicado a semelhantes serviços de socorro e esclarecimento, entendendo-se, desse modo, que a desobsessão, tanto quanto possível deve ser praticada de preferência no templo espírita, ao invés de ambientes outros, de caráter particular. “ (5 )
No mesmo livro cap. 21 pag.89“O serviço da desobessão não é um departamento de trabalho para cortesias sociais que, embora respeitáveis, não se compadecem com a enfermagem espiritual a ser desenvolvida, a benefício de irmãos desencarnados que amargas dificuldades atormentam. Ainda assim, há casos em que companheiros da construção espírita-cristã, quando solicitem permissão para isso, podem ter acesso ao serviço, em caráter de observação construtiva; entretanto, é forçoso preservar o cuidado de não acolhe-los em grande número para que o clima vibratório da reunião não venha a sofrer mudanças inoportunas. “( 6 )
Chegada inesperada de doente: (...) a chegada de enfermos ou de obsidiados sem aviso prévio, sejam adultos ou crianças. Necessário que o discernimento do conjunto funcione, ativo. (...) o doente e os acompanhantes podem ser admitidos por momentos rápidos, na fase preparatória dos serviços programados, recebendo passes e orientação para que se dirijam a órgãos de assistência ou doutrinação competentes (...) Findo o socorro breve, retirar-se-ão do recinto. ( 7)
O livro dos médiuns no cap.29 itens 331diz que: “ Uma reunião é um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades são a resultante das de seus membros e formam como que um feixe. Ora, este feixe tanto mais força terá, quanto mais homogêneo for. ” ( 8 ) Segundo a obra Obsessão/ desobsessão, cap.4:-“O ministério da desobsessão só deve ser realizado em equipe. ”-“ (...) o bom êxito dos trabalhos de desobsessão depende muito da equipe de encarnados, que precisa estar ciente de suas responsabilidades.-“ A equipe de encarnados tem assim funções específicas e de grande responsabilidade, mas, ela se submete, a seu turno, àquela outra equipe-a espiritual –que é em verdade a que dirige e orienta os trabalhos em todo o seu desenrolar. “-“ Quando o grupo de encarnados é harmônico, isto é, quando já está afeiçoado aos trabalhos de mediunidade socorrista e coloca-se como dócil instrumento a serviço dos amigos Espirituais, a reunião cresce em produtividade, porque então as duas equipes trabalharão em consonância e a programação será executada de comum acordo. “(...)No capítulo 2 da mesma obra temos as seguintes colocações: -“O aposento destinado à reunião de desobsessão é, dentro do Templo Espírita, o local onde são medicadas, mais diretamente, as almas. “
Baseado na obra “Os mensageiros “de André Luiz, no cap.48 quando o autor nos fala dos desencarnados inconformados com o desencarne, Suely explica que : (...) A sala onde se realizam os trabalhos mediúnicos representa para tais seres a possibilidade de entrarem em contato com os que ainda estão na Terra e de receber destes as vibrações magnéticas que carecem.(...) Motivo pelo qual ele não é um trabalho para principiantes, visto que exige dos participantes a exata noção da gravidade dos momentos que ali serão vividos (...) Por isto é que jamais devem ser abertos ao público.
A sala reservada para tais atividades foi comparada por André Luiz a uma sala cirúrgica, que requer isolamento, respeito, silêncio e assepsia, onde só entram os que se prepararam antecipadamente. Como também é isolada de olhares indiscretos e curiosos. ( 9 ) Hermínio C. Miranda no seu livro Diálogo com as sombras, nos diz que: (...) somente em casos excepcionais se justifica a presença de pessoas estranhas ao grupo, nos trabalhos de desobsessão. Sob condições normais,
ela não é necessária à tarefa que nos incumbe junto aos obsediados que buscam o socorro de um grupo mediúnico. (...) a presença de pessoas perturbadas, no ambiente onde se desenrola o trabalho mediúnico, pode provocar incidentes e dificuldades insuperáveis (...) como regra geral, deve ser preservada a intimidade do trabalho mediúnico. (...) o grupo pode perfeitamente assistir os companheiros encarnados sob a provação da obsessão, sem introduzi-los no seu ambiente de trabalho. (...) Os benfeitores espirituais dispõem de recursos mais seguros e eficazes para isso, não havendo necessidade de correr riscos indevidos. (10 )
O Livro Série: Evangelho e Espiritismo-Mediunidade-6 da UEM esclarece quanto a seguinte pergunta : “As reuniões mediúnicas devem ou podem
 ser públicas?
R: De acordo com a Codificação não devem ser públicas e também por uma questão de segurança e de caridade para com os necessitados. ( 11)-
Em o livro “Recordações da mediunidade”-Yvonne Pereira
-
cap.10 item 6 diz com muita propriedade que: “ (...) Não convirá ao obsidiado assistir às sessões realizadas a seu benefício durante o estado agudo do mal, nem o obsessor deverá ser doutrinado por seu intermédio. (...) O obsidiado, afeito às vibrações dominantes de seu opositor, não estará em condições de se prestar à comunicação normal necessária, é antes um enfermo necessitado de tratamento e não um médium, propriamente. “ ( 12 )
No capítulo “O Psicoscópio” em o livro Nos domínios da mediunidade, o relato nos esclarece quanto a privacidade necessária a uma reunião mediúnica: “(...) –
Esta é a casa espírita onde encontraremos nosso ponto básico de experiências e observações. -
Entramos.
Atravessamos largo recinto, em que estacionavam numerosas entidades menos felizes de nosso plano, o orientador esclareceu: -Vemos aqui o salão consagrado aos ensinamentos públicos.
Todavia, o núcleo que buscamos jaz situado em reduto íntimo, assim como o coração dentro do corpo.( grifos nossos)
Escoados alguns instantes, penetramos acanhado aposento, onde se congregava reduzida assembleia, em silenciosa concentração mental.(...) Sabem que não devem abordar o mundo espiritual sem a atitude nobre e digna que lhes outorgará a possibilidade de atrair companhias edificantes...” (13 )(...)a desobsessão deve ser praticada no templo espírita, ao invés de ambientes outros, de caráter particular. No templo espírita, os instrutores desencarnados conseguem localizar recursos avançados do plano espiritual para o socorro a obsidiados e obsessores. (14 )“Uma reunião mediúnica de caráter público é um risco desnecessário, porque vêm pessoas portadoras de sentimentos os mais diversos, que irão perturbar, invariavelmente, a operação da mediunidade.”
“ A reunião mediúnica não deve ser de caráter público, porque teria feição especulativa, exibicionista, destituída de finalidade superior, atitudes tais que vão de encontro negativamente aos postulados morais da doutrina. “ ( 15 )
“Obreiros devotados, sob a direção de técnicos e diretores(...) preparavam o recinto reservado à pratica dos fenômenos (...).Enquanto isso, foi solicitada ao diretor espiritual do Centro em questão a fineza de recomendar ao diretor espiritual terreno, por via mediúnica, absolutamente não permitir assistência leiga ou desatenciosa aos trabalhos daquela noite, os quais seriam importantes e delicados...”(16)
Podemos concluir que um grupo harmonizado para o trabalho está preparado para compreender a angústia e a desarmonia dos espíritos comunicantes sem desequilibrar o andamento da tarefa. Mas uma pessoa leiga , com certeza exigirá do plano espiritual cuidados para que a sessão possa se realizar, pois muitos não estão preparados para as colocações e revelações íntimas que possam surgir. O trabalho mediúnico , principalmente a reunião de desobsessão como diz Hermínio Miranda “não é para ser divulgado, nem exibido, como espetáculo público.”
REFERÊNCIAS:
1-Xavier, Francisco Cândido e Vieira , Waldo. André Luiz(Espírito).Desobsessão. 9.ed.Rio de Janeiro .FEB.1987. Apresentação. p.13.
2-Kardec, Allan: Obras Póstumas.37.ed.Rio de Janeiro. FEB.2005. p.339
3-___________O Livro dos Médiuns..75.ed.Rio de Janeiro.FEB.2005.Cap.XXX-Cap. III. Art.: 17 / 21.p.448.
4-Vieira, Waldo. Conduta Espírita . André Luiz ( Espírito).13.ed.Rio de Janeiro. FEB.1987. Cap.24 ,p. 90
5-Xavier, Francisco Cândido e Vieira, Waldo. André Luiz (Espírito). Desobsessão .9.ed. Rio de Janeiro.FEB.1987.Cap. 18 p.77
6-Idem , ibidem .Cap. 21 p.89
7-Idem ibidem. Cap. 23 p.95
8-Kardec, Allan: O Livro dos Médiuns.75.ed. Rio de Janeiro.FEB.2005.Cap.29, item 331p.427.
9Schubert,Suely.Obsessão/Desobsessão.10.ed.RiodeJaneiro.FEB.1995.Terceira Parte.Cap.4. p.134
10-Miranda, Hermínio. Diálogo com as Sombras. 9.ed.Rio de Janeiro.FEB.1995. p.86. Os Assistentes.
11-União Espírita Mineira. Série : Evangelho e Espiritismo-Mediunidade-6. BeloHorizonte.1986

12-Pereira,YvonneA.Recordações daMediunidade.10.ed.RiodeJaneiro.FEB.2002.p. 211,Item:6
13-Xavier, Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade. André Luiz.( Espírito)14.ed.Rio de Janeiro.FEB.1985.Cap.2,pag.21.
14-Conselho Federativo daFederaçãoEspírita Brasileira. Orientação ao Centro Espírita .3.ed.Brasília. FEB.1988.Reunião de Desobsessão. Cap. 6-. Item 7 tópico “d “.
15-Franco, Divaldo e Teixeira, Raul. Diretrizes de Segurança.5.ed. Ed.Frater. Niterói .Perg. 42. p.62
16-Pereira,Yvonne.A.Memorias de Um Suicida.14.ed.RiodeJaneiro.FEB.1987.Cap.6.p.14

Fonte:http://www.uemmg.org.br/sites/default/files/public/download/arquivo/reuniao_mediunica_privativa.pdf

A Importância de O Livro dos Médiuns :"(...)Se fazer escola é procurar nesta ciência um objetivo útil e aproveitável para a Humanidade, teremos motivo para nos lisonjearmos com essa censura; mas uma tal escola não tem necessidade de outro chefe senão do bom senso das massas e da sabedoria dos bons Espíritos, que a criariam sem nós; por isso, declinamos a honra de tê-lo fundado, felizes, nós mesmos, em nos alinhar sob a sua bandeira..."

A Importância de O Livro dos Médiuns - Allan Kardec


O Livro dos Médiuns
Revista Espírita, janeiro de 1861

Esta obra, anunciada há muito tempo, mas cuja publicação foi retardada pela sua importância, aparecerá de 5 a 10 de janeiro, na cada dos Srs. Didier & Cia., livreiros editores, cais dos Augustins, no 35 (1-(1) Encontra-se igualmente no escritório da Revista Espírita, rua Sainte-Anne n' 59, passagem Sainte-Anne. Um volume grande in-18 de 500 páginas, Paris, 3 fr.50, franco para o correio. 4 fr.). Ela forma o complemento de O Livro dos Espíritos e encerra a parte experimental do Espiritismo, como o primeiro contém a sua parte filosófica. Procuramos, nesse trabalho, fruto de uma longa experiência e de laboriosos estudos, esclarecer todas as questões que se prendem à prática das manifestações; ele contém, segundo os Espíritos, a explicação teórica dos diversos fenômenos e das condições nas quais podem se produzir; mas a parte concernente ao desenvolvimento e ao exercício da mediunidade foi, sobretudo, de nossa parte, o objeto de uma atenção toda especial.

O Espiritismo experimental está cercado de muito mais dificuldades do que se crê geralmente, e os escolhos que aí se encontram são numerosos; é o que causa tantas decepções entre aqueles que dele se ocupam sem terem a experiência e os conhecimentos necessários. Nosso objetivo foi de premunir contra esses escolhos, que não são sempre sem inconvenientes para quem se aventure com imprudência sobre este terreno novo. Não poderíamos negligenciar um ponto tão capital, e o tratamos com um cuidado igual à sua importância.

Os inconvenientes nascem, quase sempre, da leviandade com que se trata uma questão tão séria. Os Espíritos, quaisquer que sejam, são as almas daqueles que viveram, e no meio dos quais estaremos, infalivelmente, de um instante para outro; todas as manifestações Espíritas, inteligentes ou outras, têm, pois, por objeto nos colocar em relação com essas mesmas almas; se respeitamos os seus restos mortais, com mais forte razão devemos respeitar o ser inteligente que sobreviveu, e que lhe é a verdadeira individualidade; se fazer um jogo das manifestações é faltar com esse respeito que reclamaremos, talvez, para nós mesmos amanhã, e que jamais se viola impunemente.

O primeiro momento da curiosidade causada por esses fenômenos estranhos passou; hoje que se lhe conhece a fonte, guardemo-nos de profaná-la com divertimentos inoportunos, e esforcemo-nos para neles haurir o ensinamento próprio para assegurar a nossa felicidade futura; o campo é bastante vasto, e o objetivo bastante importante, para cativar toda a nossa atenção. E para fazer o Espiritismo entrar neste caminho sério que todos os nossos esforços tenderam até este dia; se esta nova obra, em fazendo-o melhor compreendido ainda, pode contribuir para impedir de desviá-lo de sua destinação providencial, estaremos largamente pagos pelos nossos cuidados e nossas vigílias.

Este trabalho, não o dissimulamos, levantará mais de uma crítica de parte daqueles a quem constrange a severidade dos princípios, e daqueles que, vendo a coisa de um outro ponto de vista, já nos acusam de querer fazer escola no Espiritismo. Se fazer escola é procurar nesta ciência um objetivo útil e aproveitável para a Humanidade, teremos motivo para nos lisonjearmos com essa censura; mas uma tal escola não tem necessidade de outro chefe senão do bom senso das massas e da sabedoria dos bons Espíritos, que a criariam sem nós; por isso, declinamos a honra de tê-lo fundado, felizes, nós mesmos, em nos alinhar sob a sua bandeira, e não aspirando senão um a modesto título de propagador; se lhe fosse necessário um nome, escreveríamos em seu frontispício: Escola do Espiritismo moral e filosófico, e para ela convidaríamos todos aqueles que têm necessidade de esperanças e de consolações. ALLAN KARDEC. 
 
 
Fonte:http://sociedadecaminhodapaz.blogspot.com.br/2010/09/importancia-de-o-livro-dos-mediuns.html


quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

As Obras Fundamentais da Doutrina Espírita estão ultrapassadas? "a Obra considerada pelos companheiros como “ultrapassada“, ao contrário das “complementares“, foi ditada por uma plêiade de Espíritos de alta evolução moral e intelectual, do porte de São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís, Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin, Swedenborg, dentre outros, sob o comando nada mais nada menos de O Espírito da Verdade. "





Por Maria das Graças Cabral

É muito comum ouvirmos nestes novos tempos por parte de uma legião de espíritas, que as Obras Fundamentais estão ultrapassadas, por não haverem acompanhado aos avanços da humanidade.

Em contrapartida, as denominadas ‘”obras complementares”, tornaram-se dignas de toda a credibilidade, merecedoras de todo o respeito, formando uma verdadeira legião de seguidores, em detrimento das ‘ultrapassadas‘ Obras Básicas.

Vale lembrar que as referidas obras ’complementares’, são comunicações de origem mediúnica, advindas de um único Espírito, sob a supervisão de um outro Espírito (mentor do médium), através de um único médium. Tal análise se estende a todas as outras milhares de obras literárias que abarrotam as prateleiras das livrarias do Brasil e do mundo, e que se auto intitulam espíritas. 

Já a Obra considerada pelos companheiros como “ultrapassada“, ao contrário das “complementares“, foi ditada por uma plêiade de Espíritos de alta evolução moral e intelectual, do porte de São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís, Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin, Swedenborg, dentre outros, sob o comando nada mais nada menos de O Espírito da Verdade. 

Oportuno ressaltar, que as comunicações dos Espíritos Superiores que deram origem à Codificação Espírita, aconteceram através de milhares de médiuns, nos mais diversos grupos espíritas espalhados pelo mundo, submetidas todas ao Controle Universal das Comunicações Espíritas, conforme palavras de Allan Kardec, o Codificador, na Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo.


Deve-se também levar em conta, no que concerne às ’ultrapassadas’ Obras Fundamentais, que o referido Codificador (Allan Kardec), tratava-se de um homem de elevada intelectualidade e moralidade, que não tendo o dom mediúnico, utilizava-se de todo o seu intelecto, conhecimento, racionalidade e bom senso, para analisar, avaliar e organizar as comunicações recebidas através dos médiuns, sob a fiscalização dos Espíritos Superiores, as quais vieram compor o “corpo doutrinário“ da Codificação Espírita. 

Mas voltemos à questão das emblemáticas ‘obras complementares’. Percebe-se a confusão que se faz entre, avanço tecnológico do mundo contemporâneo, e evolução moral do espírito humano. 

No que concerne às já “ultrapassadas” Obras Fundamentais, podemos indagar aos que assim a consideram, em quais dos seus aspectos as mesmas já foram ultrapassadas ou estão incompletas? Seria em seu aspecto Filosófico, devidamente organizado em “O Livro dos Espíritos“? 

Segundo Allan Kardec “O Livro dos Espíritos é o compêndio dos ensinamentos dos Espíritos Superiores. Foi escrito por ordem e sob ditado dos Espíritos superiores para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, livre dos prejuízos do espírito de sistema. Nada contém que não seja a expressão do seu pensamento, e não tenha sofrido o controle dos mesmos. A ordem e a distribuição metódica das matérias assim como as notas e a forma de algumas partes da redação constituem a única obra daquele que recebeu a missão de o publicar” , ou seja, de Allan Kardec. (L.E, p. 52) 

Pergunta-se: - Quais as áreas do conhecimento tratadas em O Livro dos Espíritos, que já está ultrapassada, precisando de complementação? - Quais dos mais variados e vastos assuntos tratados na referida obra, que vai da “Teologia Espírita” às “Esperanças e Consolações“, já não atendem aos “avanços” do Espírito humano?

No que concerne à importância da obra, oportuno transcrevermos Herculano Pires, quando assim se expressa: - “O Livro dos Espíritos não é, apenas, a pedra fundamental ou o marco inicial da nova codificação. Porque é o próprio delineamento, o seu núcleo central e ao mesmo tempo o arcabouço geral da doutrina. Examinando-o, em relação às demais obras de Kardec, que completam a codificação, verificamos que todas essas obras partem do seu conteúdo”. (L.E, p. 12) (grifei)

Em nota de rodapé de O Livro dos Espíritos, assevera o referido autor: “Os Espíritos aludem à eternidade espiritual da doutrina, de sua permanente projeção na Terra. Mas devemos distinguir entre as suas manifestações falseadas, no passado, e a manifestação pura que se encontra neste livro. Os traços da doutrina espírita marcam o roteiro da evolução humana na Terra, mas só com este livro ela se apresentou definida e completa. Por isso, o Espiritismo é, na Terra, uma doutrina moderna”. (L.E, p. 116) (grifei)

Na realidade, pode-se constatar que a cada momento, quando retomamos o estudo de O Livro dos Espíritos, nos deparamos com novos ensinamentos e questionamentos que nos passaram despercebidos em leituras anteriores. 

Entende-se portanto improvável e inadmissível, que em uma única encarnação, consigamos alcançar e apreender em profundidade, toda a grandiosidade dos ensinamentos dos Espíritos Superiores, aplicando-os por conseguinte em nossas vidas. Aliás, tal constatação é feita por vários e respeitados estudiosos da Doutrina Espírita, tais como J. Herculano Pires, Divaldo Pereira Franco, Raul Teixeira, dentre outros.

Bem, então seria a Ciência que demonstrou a superação da Doutrina Espírita? Ou seja, conseguiu provar a inexistência dos Espíritos ou dos fenômenos Espíritas? - À esse respeito ninguém melhor que Kardec quando assim se expressa: “As ciências comuns se apóiam nas propriedades da matéria, que podem ser experimentadas e manipuladas à vontade; os fenômenos espíritas se apóiam na ação de inteligências que têm vontade própria e nos provam a todo instante não estarem submetidas ao nosso capricho. As observações, portanto, não podem ser feitas da mesma maneira, num e noutro caso”. (L.E, p. 36) (grifei)

Adiante assevera o codificador: “A ciência propriamente dita, como ciência é incompetente, para se pronunciar sobre a questão do Espiritismo: não lhe cabe ocupar-se do assunto e seu pronunciamento a respeito, qualquer que seja, favorável ou não, nenhum peso teria”. (L.E, p. 36) (grifei)

Se a ciência tradicional não tem “competência” para considerar “ultrapassada” a Doutrina Espírita - seria então o seu aspecto religioso que estaria ultrapassado, precisando de “obras complementares“? Mas o aspecto religioso da Doutrina Espírita está amparada na moral do Cristo! Então esta moral está ultrapassada?

A esse respeito, vale ressaltar, que embora transcorridos dois milênios da passagem de Jesus pelo planeta Terra, seus ensinamentos embasados na Lei de Amor, ainda estão por acontecer. 

Então, qual o grande problema que vem causando a cizânia no Movimento Espírita? De um lado, aqueles que defendem o “resgate” do estudo das Obras Fundamentais da Codificação, sendo considerados por parte dos defensores das “obras complementares” de “ortodoxos” ou “puristas”.

De outro lado, os que se consideram “avançados”, ou “evolucionistas” os quais entendem que realmente a Doutrina Espírita está “ultrapassada” e precisa de “obras complementares” com informações mais “avançadas“ que acompanham a evolução científica, e a evolução do pensamento humano. 

Estes companheiros que se consideram “livres” e “avançados‘, não sujeitos ao “dogmatismo” dos “ortodoxos” entendem que a humanidade agora já está preparada para receber as novas “revelações“ trazidas nas “obras complementares“! 

Entretanto é sabido que uma obra filosófica e/ou científica e/ou religiosa, só poderia ser considerada “ultrapassada“, quando seus conceitos e princípios estivessem em total desacordo com as provas científicas, ou que ultrapassassem os limites da razão e do bom senso. Foi o que ocorreu por exemplo, com certas crenças do catolicismo que foram contestados e comprovados pela ciência tradicional, e tornaram-se para os seus seguidores dogmas de fé, (portanto inquestionáveis). No que concerne à Doutrina Espírita isto não acontece, por ser uma doutrina evolucionista, racional e não dogmática. 

Por outro lado, devemos por em pauta que as novas revelações trazidas por companheiros do plano espiritual, objetivando “complementar” as “ já ultrapassadas” Obras Básicas, não poderiam em hipótese alguma estar em desacordo com qualquer dos princípios doutrinários das obras às quais se propõem “co 
Entretanto, no que concerne ao acima exposto, basta que nos proponhamos com a mente e o coração abertos a um estudo sério e efetivo das Obras Fundamentais, para que facilmente identifiquemos nas ditas “obras complementares“, vários aspectos contraditórios aos princípios doutrinários espíritas. Portanto, tais novidades não poderiam ser considerados “ensinos complementares“. 

Para uma melhor compreensão, façamos uma analogia com a Constituição Federal que é a Lei Maior de um país. Esta Lei Maior estabelece os princípios fundamentais sobre os quais se erguerá todo o ordenamento jurídico de uma nação. As leis “complementares“ advindas, deverão obrigatoriamente para efeitos de validade estarem plenamente acordes com os princípios constitucionais. 

Da mesma forma, as Obras Fundamentais como o próprio nome sugere, trazem os princípios fundamentais, ou seja, a base da Doutrina dos Espíritos, devendo portanto serem respeitados por qualquer obra posterior que se queira considerar espírita!

Isto posto, gostaria de deixar claro que não defendemos uma ortodoxia reacionária, objetivando a criação de um INDEX de obras a serem queimadas por não serem as Obras Fundamentais, ou por estarem em desacordo com estas. 


Defendemos sim, o estudo sério das Obras da Codificação, objetivando o conhecimento e discernimento, para uma segura avaliação e identificação do que não pode e nem deve ser considerado obra espírita. E o mais temerário - que é a atribuição e titulação de “obra complementar” da Doutrina Espírita!

É fato que o Espiritismo vem vivenciando uma ortodoxia e um grande dogmatismo. Mas não por parte de uma minoria que busca resgatar o estudo dos princípios doutrinários postulados nas Obras Fundamentais, posto que, estas estão relegadas ao total descaso pela grande maioria dos espíritas, sob alegativa de estarem as mesmas ultrapassadas; ou por serem consideradas de leitura difícil, cansativa e chata. 

Entendo que a grande ortodoxia e dogmatismo que desperta as mais exacerbadas reações, vem sendo praticada por parte de uma verdadeira legião de espíritas de comportamento intolerante e agressivo, que de forma enceguecida defendem ferozmente não só as chamadas “obras complementares“, mas principalmente as figuras que as representam, em detrimento dos Espíritos Superiores que nos trouxeram os Princípios Espíritas, e do próprio Codificador, Allan Kardec.

Aliás, no que diz respeito a Kardec, já ouvi por parte de espíritas defensores das “obras complementares“, referências de profundo desprezo, como - Quem é Kardec? Por acaso é o “dono” do Espiritismo? Não é “apenas” o Codificador?

Bem, para finalizar, é fato que realmente ocorreu um “racha” no Movimento Espírita, onde os seguidores das “obras complementares”, infelizmente formaram uma verdadeira “seita” saída das hostes espíritas, adotando como verdades inquestionáveis e absolutas tudo o que preconiza as referidas obras. É uma pena!

Mas, como todos acreditamos que o Espírito é imortal, sabemos que tudo é uma questão de tempo... Desencarnaremos e estaremos diante de nós mesmos, sob as Lei imutáveis de Deus. Vamos então confirmar por nós mesmos tudo o que nos dizem as Obras Fundamentais da Doutrina Espírita!  

Afinal, nos dizem os Espíritos que uma encarnação é menos que um minuto diante da eternidade. Paz!



 Maria das Graças Cabral   
 http://umolharespirita1.blogspot.com.br/

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Regiões Umbralinas



Regiões Umbralinas


Realmente, existem regiões espirituais próximas à Crosta cuja paisagem é desoladora, regiões onde prevalece a sombra , como projeção mental do remorsos dos irmãos desencarnados que habitam transitoriamente... São regiões de penumbra, onde prevalece o sofrimento e onde  os espíritos libertos do corpo vagueiam , á procura de si mesmos... . Regiões inóspitas, arenosas por vezes, pantanosas outras tantas, onde os companheiros desencarnados expiam as suas faltas entre lamentações e recriminações que não cessam...
Homens e mulheres que deixaram o corpo, desnorteados, praticaram crimes, fizeram sofrei, foram injustos, espezinharam, comprometeram a felicidade do semelhante... Homens e mulheres fora do corpo que se recusam a subir, porque o arrependimento lhes pesa de maneira excessiva e os prende à retaguarda, como se ansiassem por voltar atrás para reparar os males praticados...
Espíritos que se tornam prisioneiros de mentes poderosas porém desprovidas de qualquer impulso generoso...Espíritos intelectualizados que caíram sucessivas vezes por suas artimanhas inconfessáveis e que lutam nas paragens espirituais para se manterem como estão; fogem à reencarnação, não desejam esclarecimento, porquanto o esclarecimento os colocaria diante de si mesmos para indispensável reparação; inutilmente lutam contra os Desígnios Superiores e permanecem em situação estacionária por longo tempo.
Muitos desses irmãos, aos quais nos referimos, se arrastam nas regiões de sofrimento que interpenetram a Terra, não claro, por dezenas de anos, ocultam-se na noite ou fogem à claridade solar, não conseguindo fitar nada que lhes lembre uma réstia de luz; não ousam pronunciar o nome de Deus, balbuciam palavras de desespero entrecortadas de blasfêmias e gritos de revolta, erguem os punhos, socando o ar, como se estivessem desafiando a Divindade, cospem para o alto, como se ansiassem, de novo, por cuspir na face imaculada dp Senhor, qual outrora os homens fizeram antes de setenciá-Lo à morte ignominiosa na cruz. São regiões extensas, nebulosas, regiões e muitos relâmpagos e trovoes mas nenhuma chuva, solo estéril por vezes, charcos habituados por aves de rapina e outros espíritos, praticamente sepultados vivos em lama até o pescoço, como se estivessem se debatendo numa luta infindável, para não serem tragados de vez...
Evidentemente, a região espiritual que descrevemos não é uma criação de Deus, que apenas criou o belo, de Deus, que tão somente disse;” Faça-se a luz, e a luz se fez....”Essas regiões purgatoriais, que começam aqui mesmo , nas vizinhanças do solo terrestre, são criadas pelas mentes enfermiças no corpo e, principalmente, fora do corpo, que se agrupam por afinidade, que naturalmente as atrai pelo remorso, pela revolta, pela cólera, pelos sentimentos subalternos e paixões exacerbadas.
Não acreditamos, todavia, que esses nossos irmãos estejam assim relegados à própria sorte. Grupos missionários, falanges iluminadas periodicamente descem às entranhas das obscuras dimensões espirituais, resgatando espíritos perturbados, assim como habitualmente os nossos companheiros visitam as favelas, os bairros da periferia, os casebres nos morros, aqueles que habitam palhoças ou verdadeiras ruínas; os devotados Benfeitores da Vida Maior organizam excursões socorristas e adentram as trevas com o Evangelho nas mãos, à semelhança de sublime archote desfazendo a escuridão...
Oremos por todos eles e por todos nós, que, quase sempre, na intimidade de nós mesmos, nos situamos, ainda mourejando no corpo de carne, em regiões espirituais idênticas, pela invigilância, pelo sentimento de orgulho e de ambição, pelos desequilíbrios que albergamos, pelas nossas aflições e pensamentos contra os nossos irmãos em Humanidade


                     Livro : Falando a Mediunidade
                   Carlos A. Baccelli
                   Odilon Fernandes

sábado, 26 de novembro de 2016



Revista Espírita 1867 » Dezembro » Um ressurrecto contrariado - Extraído da viagem de Sr. Hugo à Zelândia
  




O episódio seguinte é tirado do relato publicado pelo jornal la Liberté, de uma viagem do Sr. Victor Hugo à Holanda, na província de Zelândia. O artigo se acha no número de 6 de novembro de 1867:

“Acabávamos de entrar na cidade. Eu tinha os olhos erguidos, e chamava a atenção de Stevens, meu vizinho de banco no carro, para o pitoresco recorte dentado de uma sucessão de telhados hispano-flamengos, quando, por sua vez, ele me tocou no ombro, e me fez sinal para olhar o que se passava no cais.
“Uma multidão barulhenta de homens, mulheres e crianças cercava Victor Hugo. Descendo da viatura, escoltado pelas autoridades da cidade, ele avançava, com um ar simplesmente emocionado, a cabeça descoberta, com dois ramalhetes nas mãos e duas meninas de vestido branco ao seu lado.
“Eram as duas meninas que acabavam de lhe oferecer as flores.
“Que dizeis, por esse tempo de visitas coroadas e de ovações artificiais ou oficiais, desta entrada singularmente triunfal de um homem universalmente popular que chega de improviso a uma região perdida, de cuja existência ele nem mesmo suspeitava, e que aí se encontra muito naturalmente em seus Estados? Quem teria podido fazer o poeta prever que essa cidadezinha desconhecida, cuja silhueta tinha considerado de longe e com curiosidade, era a sua boa cidade de Ziéricsée?
“Durante o jantar, o Sr. Van Maenen disse a Victor Hugo:
“─ Sabeis quem são as duas lindas meninas que vos ofere­ceram flores?
“─ Não.
“─ São as filhas de um fantasma.
“Isto exigia uma explicação, e o capitão nos contou a seguinte aventura estranha:
“Isto fora há cerca de um mês. Uma tarde, ao crepúsculo, uma viatura onde estavam um homem e um menino entrava na cidade. É preciso dizer que pouco antes esse homem havia perdido a esposa e um dos filhos, com o que ficara muito triste. Embora ainda tivesse duas meninas e o menino que estava com ele nesse momento, ele não se havia consolado e vivia melancólico.
“Naquela tarde sua viatura seguia por um desses caminhos aterrados e abruptos que são, à direita e à esquerda, ladeadas por um fosso de água estagnada e às vezes profunda. De súbito o cavalo, sem dúvida mal dirigido através da bruma da tarde, bruscamente perdeu o equilíbrio e rolou ladeira abaixo para o fosso, arrastando consigo o carro, o homem e a criança.
“Houve nesse grupo de seres precipitados um momento de angústia atroz, de que ninguém foi testemunha, e um esforço obscuro e desesperado para a salvação. Mas o mergulho se fez com a confusão da queda, e tudo desapareceu na cloaca, que se fechou com a espessa lentidão da lama.
“Só o menino, que como por milagre ficou fora do fosso, gritava e chamava lamentoso, agitando os bracinhos. Dois camponeses que atravessavam um campo de garança, a alguma distância, ouviram os gritos e acorreram. Retiraram o menino.
“O menino gritava: ‘Meu papai! meu papai! eu quero o meu papai!’
“─ E onde está o teu papai?
“─ Ali, dizia o menino, mostrando o fosso.
“Os dois camponeses compreenderam e puseram-se ao trabalho. Ao cabo de um quarto de hora retiraram a viatura quebrada; depois de meia hora tiraram o cavalo morto. O pequeno continuava gritando e pedia seu pai.
“Enfim, após novos esforços, do mesmo buraco do fosso que o carro e o cavalo, pescaram e trouxeram para fora da água algo inerte e fétido que estava inteiramente negro e coberto de lodo: era o cadáver do pai.
“Tudo isto tinha levado cerca de uma hora. O desespero do menino redobrava; ele não queria que seu pai estivesse morto. Entretanto os camponeses o julgavam bem morto. Mas como o menino lhes suplicasse e se agarrasse a eles e eles fossem pessoas dispostas, tentaram, para acalmar o menino, o que se faz sempre em tais casos na região, e se puseram a rolar o afogado no campo de garança.
“Rolaram-no assim um bom quarto de hora. Nada mudou. Rolaram-no ainda mais. A mesma imobilidade. O pequeno acompanhava, chorando. Recomeçaram uma terceira vez, e iam renunciar, enfim, quando lhes pareceu que o cadáver movia o braço. Continuaram. O outro braço se agitou. Eles se obstinaram. O corpo inteiro deu vagos sinais de vida e o morto começou a ressuscitar lentamente.
“Isto é extraordinário, não é? Pois bem! Eis o que é ainda mais inusitado. O homem suspirou lentamente, voltando à vida e gritou com desespero: “Ah! Meu Deus! Que foi que fizestes? Eu estava tão bem onde estava! Estava com minha mulher, com meu filho. Eles tinham vindo a mim e eu tinha ido a eles. Eu os via, estava no Céu, estava na luz. Ah! Meu Deus! Que foi que fizestes? Não estou mais morto!”
“O homem que assim falava acabara de passar uma hora no lodo. Tinha o braço quebrado e contusões graves.
“Levaram-no para a cidade, e apenas acaba de se curar, acrescentou o Sr. Van Maenen, acabando de nos contar esta história. É o Sr. D..., uma das mais altas inteligências, não só da Zelândia, mas da Holanda. É um dos nossos melhores advogados. Aqui todo mundo o estima e o honra. Quando ele soube, Sr. Victor Hugo, que íeis passar pela cidade, quis a qualquer custo sair da cama, que ainda não havia deixado há um mês, e hoje fez a sua primeira saída para apresentar-se diante de vós e vos apresentar suas duas filhinhas, às quais tinha dado flores para vós.
“Houve um grito unânime em toda a mesa.
“Estas são coisas que só acontecem na Zelândia! Os viajan­tes aqui não vêm, mas os habitantes revivem.
“Deveriam tê-lo convidado para o jantar, aventurou a parte feminina da mesa.
“─ Convidá-lo! exclamei. Mas já éramos doze! Este não seria bem o momento de convidar um fantasma. Senhoras, gostaríeis de ter um morto como décimo terceiro?
“─ Há dois enigmas nesta história, disse Victor Hugo, que tinha ficado silencioso: o enigma do corpo e o da alma. Não me encarrego de explicar o primeiro, nem de dizer como pode um homem ficar submerso durante uma hora inteira numa cloaca sem que se siga a morte. A asfixia, cremos, ainda é um fenômeno mal conhecido. Mas o que compreendo admiravelmente é a lamentação dessa alma. Pois quê! Ela já tinha saído da vida terrena, desta sombra, deste corpo sujo, destes lábios negros, deste fosso negro! Ela tinha começado a evasão encantadora. Através da lama, ela havia chegado à superfície da cloaca e ali, ligada ainda apenas por uma última pena de sua asa a este horrível último suspiro estrangulado no pântano, ela já respirava silenciosamente a fresca inefável de fora da vida. Ela já podia voar para os seus amores perdidos e atingir a mulher e erguer-se até a criança. De repente, a semi fugida se arrepia; ela sente que o laço terrestre, em vez de se romper inteiramente, se reata; que em vez de subir na luz, ela desce bruscamente na noite, e que ela, a alma, teve que entrar violentamente no cadáver. Então ela solta um grito terrível.
“O que disto resulta para mim, acrescentou Victor Hugo, é que a alma pode ficar um certo tempo acima do corpo, em estado flutuante, já não sendo mais prisioneira e ainda não estando liberta. Esse estado flutuante é a agonia, é a letargia. O estertor é a alma que se lança fora da boca aberta e que aí recai por instantes, e que se sacode, arquejante, até que se quebre o fio vaporoso do último sopro. Parece-me que a vejo. Ela luta, escapa-se um pouco dos lábios, neles entra novamente, foge de novo, depois dá um grande golpe de asa, e ei-la que voa de um jacto e desaparece no azul imenso. Está livre. Mas algumas vezes também o agonizante volta à vida: então a alma desesperada volta ao agonizante. O sonho por vezes nos dá a sensação dessas estranhas idas e vindas da prisioneira. Os sonhos são alguns passos quotidianos da alma fora de nós. Até que tenha comple­tado seu tempo no corpo, a alma faz, cada noite, no nosso sono, o giro no pátio do sonho.

“PAUL DE LA MILTIÈRE.”

O fato em si mesmo é eminentemente espírita, como se vê. Mas se existe algo de mais espírita ainda, é a explicação dada pelo Sr. Victor Hugo. Dir-se-ia tirada textualmente da Doutrina. Aliás, não é a primeira vez que ele se exprime neste sentido. Lembramo-nos do encantador discurso que ele pronunciou, há cerca de três anos, no túmulo da jovem Emily Putron (Revista Espírita de fevereiro de 1865). Certamente o mais convicto espírita não falaria de outro modo. A tais pensamentos não falta absolutamente senão a palavra, mas que importa a palavra se as ideias se impõem! Por seu nome autorizado, o Sr. Victor Hugo é um de seus vulgarizadores. Entretanto, aqueles que os aclamam ridicularizam o Espiritismo, nova prova de que não sabem em que este consiste. Se eles soubessem, não tratariam a mesma ideia de loucura em uns e de verdade sublime em outros.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Brilhe vossa Luz


“De tal modo brilhe a vossa luz diante dos homens, que eles vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mateus 05:16)

Fazer brilhar nossa luz é apagar nossas imperfeições e refletir em nossa vida, nos nossos atos e pensamentos, sentimentos e vibrações, a Luz Pura do Cristo. É chegar à condição declarada por Paulo de Tarso: “(...) já não sou eu quem vivo, mas o Cristo que vive em mim” (Gálatas 02:20). Para chegar a esta condição, o caminho é longo e se inicia no autoconhecimento: identificar o que trazemos para melhorar, o que temos de modificar, o que devemos desenvolver. É novamente o trabalho do autoamor, o qual, bem conduzido, nos leva à reforma íntima. Um roteiro prático para tal é sugerido por Santo Agostinho, à questão 919 de “O Livro dos Espíritos”.

O apóstolo Paulo de Tarso, em três cartas a três povos distintos, aponta a necessidade de praticarmos o Bem, fazendo nossa parte para que a porta do Bem seja a “porta larga” da Terra.

Na segunda carta ao povo de Corinto, Paulo lembra a necessidade de levarmos adiante o Bem que recebemos:
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação, que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação (...)” (2ª carta de Paulo aos Coríntios 01:03-04)


Em sua carta a seus patrícios hebreus, Paulo alerta que devemos focar nossa atenção em nossa evolução moral, ou nossa salvação:
“Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, e que acompanham a salvação (...)” (Carta de Paulo aos Hebreus 06:09)


Escrevendo aos habitantes da Galácia, Paulo esclarece que o foco exclusivo nas ilusões mundanas a nada leva, enquanto que o trabalho pela evolução moral traz benefícios imperecíveis:
“Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará vida eterna.” (Carta de Paulo aos Gálatas 06:08)


Pratiquemos, portanto:
  • Consolar. Consolo é palavra formada pela união de duas palavras do latim: cum + solis (com + sol). Portanto, consolar é levar a Luz e calor ao coração, após as “tempestades” das provas a que todos estamos sujeitos para nosso aprendizado e evolução;
  • Solidariedade. É a ação de solidar, ou oferecer solo para os que, por traumas em sua história de vidas, ficaram “sem chão”, física e/ou emocionalmente;
  • Misericórdia. É a união das palavras do latim misereo (miséria) + cor (coração) sentimento de empatia, de colocar a miséria do próximo em nosso próprio coração.
Carla e Hendrio

domingo, 25 de setembro de 2016

D. Pedro II "Apenas quero dizer que não só os republicanos, mas também nós, os da monarquia, estávamos redondamente enganados. O erro da nossa visão, quando na Terra, foi supor no Brasil o mesmo espírito anglo-saxônio que a Inglaterra legara aos norte-americanos. Eu também fui apaixonado pelo liberalismo, mas a verdade é que, em nossa terra, prevaleciam outros fatores mesológicos e, até agora, não temos sabido conciliar os interesses da nação com esses imperativos."[...]Não posso aplaudir nenhum movimento de destruição, pois entendo que, sobre a revolução, deve pairar o sentimento nobre da evolução geral de todos, dentro da maior concórdia espiritual. 19 Considere que, examinando a minha consciência, não me lembro de haver fortalecido nenhum sentimento de rebeldia nos meus tempos de governo; entretanto, muito sofri, verificando que eu poderia ter suavizado a luta entre os nossos estadistas e os políticos da América espanhola.

Novas mensagens — Humberto de Campos ©

 

2 D. Pedro II


1 Enquanto os vivos se reuniam em torno do monumento que o Brasil erigiu ao Patriarca da Independência, no Rio de Janeiro, os grandes “mortos” da pátria igualmente se colocavam entre os encarnados, aliando-se ao povo carioca nas suas comovedoras lembranças.
2 Também acorri ao local da festa votiva dos brasileiros, acompanhado do meu amigo José Porfírio de Miranda, antigo milionário do Pará, que a borracha elevara às culminâncias da fortuna, conduzindo-o, em seguida, aos declives da miséria, nos seus caprichosos movimentos.
3 Os vivos e os mortos do Brasil se reuniam na mesma vibração afetiva das recordações suaves, enviando ao nobre organizador da vida política da nacionalidade um pensamento de amizade e de veneração.
4 Antigo companheiro nosso, também no Plano Invisível, em plena via pública acercou-se de mim, exclamando:
— Chegas um pouco tarde. José Bonifácio já não está presente mas poderás ainda conseguir uma proveitosa entrevista para os teus leitores. Sabes quem saiu daqui neste momento?
— Quem? pergunto eu, na minha fome de notícias.
— O Imperador.
— D Pedro II?
— Ele mesmo. Após lembrar a grande figura do Patriarca, dirigiu-se com alguns amigos para Petrópolis, a reavivar velhas lembranças…
5 Em meu íntimo, havia um alvoroço de emoções. Lembrei-me de que, em toda a minha existência de jornalista no mundo, só enxergara um monarca diante dos meus olhos: o rei Alberto I, dos Belgas, quando, no Clube dos Diários, a elite dos intelectuais do país lhe oferecera a homenagem de uma comovida admiração. E ponderei se haveria mérito em consultar o pensamento de um rei, no outro mundo, onde todas as majestades desaparecem. Recordei a figura do grande imperador que Victor Hugo considerava o monarca republicano. Com os olhos da imaginação, vi-o, de novo, na intimidade dos Paços de São Cristóvão: o perfil heráldico, onde um sorriso de bondade espalhava o perfume da tolerância; as barbas compridas e brancas, como as dos santos das oleografias católicas; o olhar cheio de generosidade e de brandura, irradiando as mais doces promessas.
6 Um vivo, em havendo de ir a Petrópolis, é obrigado ao trajeto penoso dos ônibus, embora as perspectivas maravilhosas do mais belo trecho de todas as estradas do Brasil; os desencarnados, porém, não necessitam de semelhantes sacrifícios. Num abrir e fechar de olhos, eu e o meu amigo nos encontrávamos na encantadora cidade das hortênsias, onde os milionários do Rio de Janeiro podem descansar nas mais variadas épocas do ano.
7 Não fomos encontrar o Imperador nos antigos edifícios em que estabelecera a residência patriarcal de sua família mas justamente num recanto de jardim, contemplando as deliciosas paisagens da Serra da Estela e apreciando o sabor das recordações amigas e doces.
8 Acerquei-me da sua individualidade, com um misto de curiosidade e de profundo respeito, procurando improficuamente identificar os dois companheiros que o rodeavam.
— Majestade! — tentei chamar-lhe a atenção com a minha palavra humilde e obscura.
— Aproximem-se, meus amigos! — respondeu-me com benevolência e carinho. — Aqui não existe nenhuma expressão de majestade. Cá estão, fraternalmente comigo, o Afonso  n  e o Luís,  n   como três irmãos, sentindo eu muito prazer na companhia de ambos. Se o mundo nos irmana sobre a Terra, a morte nos confraterniza no Espaço infinito, sob as vistas magnânimas do Senhor.
9 E, fazendo uma pausa, como quem reconhece que há tempo de falar e tempo de ouvir, conforme nos aconselha a sabedoria da Bíblia, exclama o Imperador com bondade:
— A que devo o obséquio da sua interpelação?
10 — Majestade! — respondi, confundido com a sua delicadeza — desejara colher a vossa opinião com respeito ao Brasil e aos brasileiros. Estamos no limiar do cinquentenário de República e seria interessante ouvir o vosso conselho paternal para os vivos de boa vontade. Que pensais destes quarenta e tantos anos de novo regime?
— Minha palavra — retrucou D. Pedro — não pode ter a importância que a sua generosidade lhe atribui. Que poderia dizer do Brasil, senão que continuo a amá-lo com a mesma dedicação de todos os dias! Do Plano Invisível, para o mundo, prosseguimos no mesmo labor de construção da nacionalidade. 11 As convenções políticas dos homens não atingem os Espíritos desencarnados. O exílio termina sempre na sepultura, porque a única realidade é o amor, e o amor, eliminando todas as fronteiras, nos ligou para sempre ao torrão brasileiro. Não tenho o direito de criticar a República, mesmo porque todos os fenômenos políticos e sociais do nosso país tiveram os seus pródromos no mundo espiritual, considerando-se a missão do Brasil dentro do Evangelho. 12 Apenas quero dizer que não só os republicanos, mas também nós, os da monarquia, estávamos redondamente enganados. O erro da nossa visão, quando na Terra, foi supor no Brasil o mesmo espírito anglo-saxônio que a Inglaterra legara aos norte-americanos. Eu também fui apaixonado pelo liberalismo, mas a verdade é que, em nossa terra, prevaleciam outros fatores mesológicos e, até agora, não temos sabido conciliar os interesses da nação com esses imperativos.
13 A ausência de tradição nos elementos de nossa origem, como povo, estabeleceu uma descentralização de interesses, prejudicial ao bem coletivo do pais. Para a formação nacional, não vieram da metrópole os espíritos mais cultos. Pesando, de um lado, os africanos, revoltados com o cativeiro, e, de outro, os índios, revoltados com a invasão do estrangeiro na terra que era propriedade deles, a balança da evolução geral ficou seriamente comprometida. Sentimentos excessivos de liberdade não nos permitiram um refinamento de educação política. Todos querem mandar e ninguém se sente na obrigação de obedecer. 14 Quando no Império, possuíamos a autoridade centralizadora da Coroa, prevalecendo sobre as ambições dos grupos partidários que povoavam os nossos oito milhões e meio de quilômetros quadrados; mas, quando os republicanos sentiram de perto o peso das responsabilidades que tomaram à sua conta, os espíritos mais educados reconheceram o desacerto das nossas concepções administrativas. 15 Enquanto as nações da Europa e os Estados Unidos podiam empregar livremente em nosso país os seus capitais, a título de empréstimos vultosos que desbaratavam compulsoriamente a nossa economia, o Brasil podia descansar na monocultura, fazer a política dos partidos e adiar a solução dos seus problemas para o dia seguinte, dentro de um regime para o qual não se achava preparado em 1889. 16 Mas, quando se manifestou a crise mundial de 1929, todas as instituições políticas sofreram as mais amplas renovações, dentro dos movimentos revolucionários de 1930. Os capitais estrangeiros não puderam mais canalizar suas disponibilidades para a nossa terra, controlados pelos governos autárquicos dos tempos que correm, e o Brasil acordou para a sua própria realidade. Aliás, nós, os desencarnados há muito tempo procuramos auxiliar os vivos na sua tarefa.
17 — Quer dizer que também tendes inspirado os labores dos estadistas brasileiros?
— Sim, de modo indireto, pois não podemos interferir na liberdade deles. Há alguns anos, procurei auxiliar Alberto Torres nas suas elucubrações de ordem social e política. Em geral, nós, os desencarnados, buscamos influenciar, de preferência, os organismos mais sensíveis à nossa ação e Torres era o instrumento de nossas verdades para a administração. A realidade, porém, é que ele falou como Jeremias [Oh! Jerusalém!…]. Somente a gravidade da situação conseguiu despertar o espírito nacional para novas realizações.
18 — Majestade, as vossas palavras me dão a entender que aprovais o novo estado de coisas do Brasil. Aplaudistes, então, a queda da denominada república velha, sob as vibrações revolucionárias de 1930?
— Com as minhas palavras — disse ele bondosamente — não desejo exaltar a vaidade de quem quer que seja, nem deprimir o esforço de ninguém. Não posso aplaudir nenhum movimento de destruição, pois entendo que, sobre a revolução, deve pairar o sentimento nobre da evolução geral de todos, dentro da maior concórdia espiritual. 19 Considere que, examinando a minha consciência, não me lembro de haver fortalecido nenhum sentimento de rebeldia nos meus tempos de governo; entretanto, muito sofri, verificando que eu poderia ter suavizado a luta entre os nossos estadistas e os políticos da América espanhola. 20 Outra forma de ação  n  poderíamos ter empregado no caso de Rosas e de Oribe e mesmo em face do próprio Solano López, cuja inconsciência nos negócios do povo ficou evidentemente patenteada. E note-se que o problema se constituía de graves questões internacionais. O nosso mal foi sempre o desconhecimento da realidade brasileira. Os nossos períodos históricos têm sofrido largamente os reflexos da vida e da cultura europeias. 21 Nos tempos do Império, procurei saturar-me dos princípios democráticos da política francesa, tentando aplicá-los, amplamente, ao nosso meio, longe das nossas realidades práticas. Os republicanos, como Benjamim Constant, Deodoro, etc., deram-se a estudar a “República Americana”, de Bryce, distantes dos nossos problemas essenciais. 22 Quando regressei das lutas terrestres, procurei imediatamente colaborar na consolidação do novo regime, a fim de que a divisão e os desvarios de muitos dos seus adeptos não terminassem no puro e simples desmembramento do País. Graças a Deus, conseguimos conduzir Prudente de Morais ao poder constitucional, para acabarmos reconhecendo agora as nossas realidades; mais fortes. 23 Devo, todavia, fazer-lhe sentir que não me reconheço com o direito de opinar sobre os trabalhos dos homens públicos do País. Cabe-me, sim, rogar a Deus que os inspire, no cumprimento de seus austeros deveres, diante da pátria e do mundo. O grande caminho da atualidade é a organização da nossa Economia, em matéria de política, e o desenvolvimento da Educação, no que concerne ao avanço sociológico dos tempos que passam. Os demais elementos de nossas expressões evolutivas dependem de outros fatores de ordem espiritual, longe de todas as expressões transitórias da política dos homens.
24 A essa altura, notei que a minha curiosidade jornalística começava a magoar a venerável entidade e mudei repentinamente de assunto.
— Majestade, que dizeis da grande figura hoje lembrada?
— O vulto de José Bonifácio foi sempre objeto de meu respeito e de minha amizade. E olhe que foi ele o mais sensato organizador da nacionalidade brasileira, cujo progresso acompanha, carinhosamente, com a sua lealdade sincera. Hoje, que se comemora o centenário de sua desencarnação, devemos relembrar o seu regresso de novo ao Brasil, em meados do século passado, tendo sido uma das mais elevadas expressões de cultura, na Constituinte de 1891.
25 Dispunha-me a obter novos esclarecimentos; mas o Imperador, acompanhado de amigos, retirava-se quase que abruptamente da nossa companhia, correspondendo fraternalmente a outros apelos sentimentais.
Palavras amigas de adeus e votos de ventura no Plano Imortal, e eu e o meu amigo José Porfírio lá ficávamos com a suave impressão da sua palavra sábia e benevolente.
26 Daí a momentos, o meu companheiro quebrava o silêncio de minha meditação:
— Humberto, os monarquistas tinham razão!… Este velho é um poço de verdade e de experiência da vida! Você deve registar esta entrevista, oferecendo aos vivos estas palavras quentes de conhecimento e de sabedoria!
27 E aqui estou escrevendo para os meus ex-companheiros pelo estômago e pelo sofrimento.
Acreditarão no humilde cronista desencarnado?
Não guardo dúvidas nesse sentido. Penso que obteria mais amplos resultados, se fosse ao Cemitério do Caju e gritasse a palavra do Imperador para dentro de cada túmulo.

.Humberto de Campos
(.Irmão X)


[1] Afonso Celso de Assis Figueiredo — Visconde de Ouro Preto. Foi presidente do último gabinete ministerial que teve a monarquia.

[2] Luís Filipe Gastão de Orleãns, Conde d’Eu. Foi genro de D Pedro II por ter casado com a princesa Isabel.

[3] Outra forma de ação… — Alusão às lutas e à guerra em que se envolveu o Brasil com as Repúblicas do Uruguai, da Argentina e do Paraguai.
 
Citação parcial para estudo, de acordo com o artigo 46, item III, da Lei de Direitos Autorais.

Fonte:http://bibliadocaminho.com/ocaminho/TXavieriano/Livros/Nms/Nms02.htm