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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Desencarnações Coletivas (Emmanuel)



Emmanuel
Sendo Deus a Bondade Infinita, por que permite a morte aflitiva de tantas pessoas enclausuradas e indefesas, como nos casos dos grandes incêndios?
(Pergunta endereçada a Emmanuel por algumas dezenas de pessoas em reunião pública, na noite de 23-2-1972, em Uberaba, Minas).
RESPOSTA:
Realmente reconhecemos em Deus o Perfeito Amor aliado à Justiça Perfeita. E o Homem, filho de Deus, crescendo em amor, traz consigo a Justiça imanente, convertendo-se, em razão disso, em qualquer situação, no mais severo julgador de si próprio.
Quando retornamos da Terra para o Mundo Espiritual, conscientizados nas responsabilidades próprias, operamos o levantamento dos nossos débitos passados e rogamos os meios precisos a fim de resgatá-los devidamente.
É assim que, muitas vezes, renascemos no Planeta em grupos compromissados para a redenção múltipla.
***
Invasores ilaqueados pela própria ambição, que esmagávamos coletividades na volúpia do saque, tornamos à Terra com encargos diferentes, mas em regime de encontro marcado para a desencarnação conjunta em acidentes públicos.
Exploradores da comunidade, quando lhe exauríamos as forças em proveito pessoal, pedimos a volta ao corpo denso para facearmos unidos o ápice de epidemias arrasadoras.
Promotores de guerras manejadas para assalto e crueldade pela megalomania do ouro e do poder, em nos fortalecendo para a regeneração, pleiteamos o Plano Físico a fim de sofrermos a morte de partilha, aparentemente imerecida, em acontecimentos de
sangue e lágrimas.
Corsários que ateávamos fogo a embarcações e cidade na conquista de presas fáceis, em nos observando no Além com os problemas da culpa, solicitamos o retorno à Terra para a desencarnação coletiva em dolorosos incêndios, inexplicáveis sem a reencarnação.
***
Criamos a culpa e nós mesmos engenhamos os processos destinados a extinguir-lhe as conseqüências. E a Sabedoria Divina se vale dos nossos esforços e tarefas de resgate e reajuste a fim de induzir-nos a estudos e progressos sempre mais amplos no que diga respeito à nossa própria segurança.
É por este motivo que, de todas as calamidades terrestres, o Homem se retira com mais experiência e mais luz no cérebro e no coração, para defender-se e valorizar a vida.
***
Lamentemos sem desespero, quantos se fizerem vítimas de desastres que nos confrangem a alma. A dor de todos eles é a nossa dor. Os problemas com que se defrontaram são igualmente nossos.
Não nos esqueçamos, porém, de que nunca estamos sem a presença de Misericórdia Divina junto às ocorrências da Divina Justiça, que o sofrimento é invariavelmente reduzido ao mínimo para cada um de nós, que tudo se renova para o bem de todos e que Deus nos concede sempre o melhor.
(Transcrito do livro: XAVIER, Francisco C. Autores diversos. Chico Xavier pede licença. S.Bernardo do Campo: Ed. GEEM. Cap. 19).

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

CÓLERA E NÓS: ..."se não dispomos suficientemente de humildade e compaixão, eis que a altivez ferida se assemelha em nós ao estopim afogueado de que a cólera irrompe em fuzilaria de pensamentos descontrolados, arruinando-nos preciosas edificações espirituais do presente e do futuro..."




 Emmanuel
Tema – Prejuízos da Irritação.


Não farias explodir uma bomba dentro e casa, comprometendo a vida daqueles que mais amas. No entanto, por vezes, não vacilamos em detonar a dinamite da cólera, aniquilando as energias dos companheiros que nos trazem apoio e cooperação.
Nesse sentido, vale destacar que cada um de nós desempenha papel determinado na construção do benefício comum; e se contamos, na execução dos nossos deveres, com amigos abnegados, capazes do mais alto sacrifício em nosso favor, temos, ainda, nas linhas da existência, aqueles espíritos que se erigem à condição de nossos credores, com os quais ainda não nos quitamos, de todo, no terreno das contas pessoais, transferidas à contabilidade de hoje pelo saldo devedor de passadas reencarnações. Ocultos na invisibilidade, por efeito da diferença vibratória no estado específico da matéria sutil em que se localizam, quando desencarnados, ou mesmo revestidos na armadura de carne e osso, no plano físico, eles se instalam na sombra da antipatia sistemática ou da perseguição gratuita, experimentando-nos com persistência admirável os propósitos e testemunhos de melhoria interior.
É assim que vamos vencendo em exames diversos, opondo valores morais entesourados na alma ao assédio das provas, como sejam paciência na adversidade resistência na dor, fé nos instantes de incerteza e generosidade perante as múltiplas solicitações do caminho... Chega, porém, o dia em que somos intimados ao teste da dignidade pessoal. Seja pelo dardo do insulto ou pelo espinho da desconsideração, somos alvejados no amor-próprio, e, se não dispomos suficientemente de humildade e compaixão, eis que a altivez ferida se assemelha em nós ao estopim afogueado de que a cólera irrompe em fuzilaria de pensamentos descontrolados, arruinando-nos preciosas edificações espirituais do presente e do futuro.
Estejamos alertas contra semelhante poder fulminativo, orando e abençoado, servindo e desculpando, esquecendo o mal e restaurando o bem.
Decerto, nem sempre a doçura pode ser a marca de nosso verbo ou de nossa atitude porquanto, momentos surgem nos quais o bem geral reclama a governança da providência rija ou da frase salgada de advertência, mas, é preciso não olvidar que a cólera a nada remedeia, em tempo algum, e que, além de tudo, ela estabelece fácil ganho de causa a todos aqueles que, por força de nossa evolução deficitária, ainda se nos alinham, nas trilhas da existência, à conta de nossos inimigos e obsessores.

 Livro Encontro Marcado - Francisco Cândido Xavier

domingo, 9 de dezembro de 2012

...A abnegação, em toda a parte, é sempre uma estrela sublime. Basta mostrar-se para que todos gravitemos em torno de sua luz...Cap. 16 Débito Alviado .

16 - DÉBITO ALIVIADO
Ação e Reação André Luiz /Chico Xavier

Em nossos estudos da lei de causa e efeito, não nos esqueceremos de Adelino
Correia, o irmão da fraternidade pura.
Na véspera de belo acontecimento que nos permitiremos narrar, visitamo-lo em
companhia de Silas, que no-lo apresentou nas atividades de um templo espírita-cristão.
Ouvimo-lo em preciosos comentários do Evangelho, sob o influxo de
iluminados instrutores, dos quais assimilava as correntes mentais com a docilidade
confiante de um homem profundamente habituado à oração.
Falara com mestria, arrancando-nos lágrimas pela emotividade com que nos
tangia as fibras mais íntimas. Singelamente trajado, denotava a condição do trabalhador
em experiências difíceis. Mas o estágio de prova a que parecia enredar-se era mais
amplo. Adelino revelava longa faixa de eczema na pele à mostra. Certa porção da
cabeça, os ouvidos e muitos pontos da face exibiam placas vermelhas, sobre as quais se
formavam diminutas vesículas de sangue, ao passo que as demais regiões da epiderme
surgiam gretadas, evidenciando uma afecção cutânea largamente cronicificada. Além
disso, acanhado e tristonho, indicava tormentos ocultos a lhe dominarem a mente.
Contudo, trazia nos olhos, maravilhosamente lúcidos, a marca da humildade. Vários
amigos espirituais assistiam-no, atentos.
Doce velhinha desencarnada abeirou-se de nós e, demonstrando gozar da
intimidade do orientador de nossas excursões, falou-lhe, afetuosa:
- Assistente amigo, venho rogar-lhe socorro em benefício da saúde de nosso
Adelino. Noto-o mais incomodado, ultimamente, pela dor das feridas não cicatrizadas...
- Sim, sim... - respondeu Silas, cordialmente - o caso dele merece de todos nós
especial carinho.
- Porque pensa ele nas necessidades dos outros, sem refletir nas necessidades
próprias... - acrescentou a anciã, comovida.
O assessor de Druso prosseguiu, com carinho:
- Dois de nossos médicos o vêm assistindo atenciosamente, quando se encontra
ausente do vaso físico por influência do sono.
E, afagando-lhe a cabeça:
- Esteja tranqüila. Correia, em breve, estará plenamente restaurado.
Os múltiplos serviços da casa desdobravam-se, eficientes, e Adelino, dentro
deles, atraía-nos a atenção pela segurança espiritual com que se conduzia.
Cercado pelas vibrações radiantes dos seus pensamentos, centralizados no santo
objetivo do bem, afigurava-se-nos um companheiro vestido de luz.
Alguns instantes após o afastamento da velhinha, apareceu-nos simpático rapaz,
igualmente já desenfaixado da matéria física, que, depois de saudar-nos, rogou,
reverente, ao nosso orientador:
- Peço vênia para solicitar-lhe valioso obséquio... – Fale sem receio.
E o jovem recém-chegado explicou, de olhos úmidos:
- Meu caro Assistente, sei que o nosso Adelino vem atravessando certa crise
financeira... Pelo muito que auxilia os outros, descura-se das suas próprias necessidades.
Pelo amparo que ele oferece constantemente à minha pobre mãe encarnada, insisto no
apoio de sua amizade para que seja favorecido. Ainda na semana passada, ouvindo as
súplicas de minha genitora viúva, em grande penúria para atender ao tratamento de dois
dos meus manos enfermos, procurei-o, em lágrimas, transmitindo-lhe apelos mentais
para que nos protegesse e, sem qualquer vacilação, acreditando obedecer aos seus
impulsos, visitou-nos a casa, entregando à minha sofredora mãezinha a importância de
que necessitava... ó meu Assistente, rogo-lhe por amor a Jesus!... Não deixe em
dificuldade quem tanto nos auxilia!...
Silas acolheu a petição com risonha benevolência e disse:
- Descansemos. Adelino permanece na rede de simpatia fraternal que teceu para
o asilo de si mesmo. Incumbem-se muitos amigos de supri-lo com os recursos
indispensáveis ao fiel desempenho da tarefa a que se dedicou
. As circunstâncias na luta
material harmonizar-se-ão em favor dele, atendendo-lhe aos méritos conquistados.
Efetivamente, o serviço espontâneo na afetuosa defesa do amigo que ali
enxergávamos, prestativo e confiante, era um tema de amizade e gratidão a estudar.
- Dir-se-ia - observou Hilário, intrigado - que todos os tarefeiros, em trânsito
nesta casa, são devedores do irmão sob nossa vista...
- Sim - aprovou Silas, paciente -, os créditos de Adelino são realmente enormes,
não obstante os débitos a que ainda está preso
... Cultiva, no entanto, a ventura de
substancializar a fé e o conhecimento superior que os Mensageiros de Jesus lhe confiam
em obras de genuíno amor fraternal, a lhe granjearem larga soma de reconhecimento.
Logo após, o mentor amigo recomendou-nos aproveitar os minutos em atuação
fraternal, no instituto evangélico em que nos abrigávamos, até que pudéssemos tomar
contacto mais amplo com o servidor, cuja existência atual se desdobrava sob os
auspícios da Mansão que nos patrocinava os estudos.
Em face da simpatia que Adelino despertava igualmente em nós, acercamo-nos
dele, a fim de ofertar-lhe, de algum modo, o contingente de nossas forças, na
movimentação dos passes magnéticos que passara agora a administrar, em favor de
alguns enfermos.

Era curioso pensar que nós mesmos, no primeiro encontro fortuito, nos
sentíamos prontos a partilhar-lhe as tarefas, tão-somente atraídos por sua irradiante
bondade.
A abnegação, em toda a parte, é sempre uma estrela sublime. Basta mostrar-se
para que todos gravitemos em torno de sua luz.

Findo o serviço da noite, Silas e nós acompanhamo-lo ao reduto doméstico.
Esperava-o, no limiar, a genitora que, evidentemente, ultrapassava os sessenta
de idade.
Silas deu-se pressa em no-la apresentar, explicando:
- É nossa irmã Leontina, carinhosa mãe de Correia, mãe e amiga a tutelar-lhe a
existência.
Reparando na avançada madureza do amigo que nos tomava a atenção, meu
colega indagou:
- Adelino não é casado?
- Sim, nosso irmão é casado, mas não conta com a presença da esposa.
A resposta dava-nos a entender que o companheiro atravessava provas perante
as quais nos cabia respeitosa discrição.
E, enquanto mãe e filho se entregavam a doce entendimento, Silas fez-nos
penetrar em aposento próximo.
Junto á porta de entrada, alinhavam-se três leitos, ocupados por outras tantas
criancinhas.
Loura menina de seus nove a dez anos presumíveis, ao lado de dois petizes de
escura tez, recordava a Branca de Neve entre dois anões.
Todos dormiam, placidamente.
Afagando a boneca viva, o Assistente informou:
- Esta é Marisa, a filhinha de Correia, de quem a mãezinha se distanciou em
definitivo, há seis anos.
Designando, em seguida, os dois meninos de cor, aduziu:
- E estes pequeninos são Mário e Raul, dois enjeitados que Adelino abraçou por
filhos do coração.
Ação e Reação André Luiz
Hilário e eu, adivinhando as aflições ocultas que decerto enxameavam na
existência do chefe da casa, silenciávamos, de propósito, em reverente expectativa.
Entendendo-nos a atitude, Silas passou a falar-nos mais longamente, aclarando:
- Para exaltar o santificante esforço de um amigo, a fim de estudarmos juntos
um processo de dívida aliviada, permitimo-nos algo dizer em torno do passado recente
do companheiro que visitamos, agora empenhado ao labor do seu resgate.
Qual se quisesse centralizar os recursos da memória, emudeceu por instantes e,
finalmente, continuou:
- Em meados do século precedente, Adelino era filho bastardo de um jovem
muito rico que o recebeu das mãos da genitora escrava, que desencarnou ao trazê-lo à
luz. Martim Gaspar, o moço afazendado que lhe foi o pai solteiro, era homem de
coração enrijecido, muito cedo acostumado ao orgulho tiranizante, em face da incúria
do lar em que nascera. Abusava das donzelas cativas a seu talante e, em muitas
ocasiões, vendeu-as com os próprios filhos recém-natos para lhes não ouvir os choros e
petitórios. Temido na casa grande da qual se fizera absoluto senhor, por morte do velho
pai, que, em vão, buscara tardiamente controlar-lhe os instintos, sabia usar o tronco e o
chicote, sem qualquer compaixão. Era execrado pela maioria dos servos e bajulado de
quantos lhe obtinham os favores, a troco de lisonja servil. Entretanto, para o filho
Martim - o mesmo Adelino de agora -, a sua ternura e dedicação não mostravam
limites. Inexplicavelmente para ele mesmo, amava-o com desvelado enternecimento, a
ponto de providenciar-lhe educação esmerada na própria fazenda. Entre pai e filho
estabeleceram-se, dessa forma, os mais santos laços afetivos. Eram companheiros
inseparáveis nos jogos e nos estudos, no serviço e na caça. Foi assim que Gaspar, não
obstante cruel para com os outros rebentos da própria carne, nas senzalas sofredoras,
não hesitou em legitimá-lo como filho, perante as autoridades do tempo, tornando-o
partícipe de seu nome e de sua herança. Pai e filho contavam, respectivamente,
quarenta e três e vinte e um anos de idade, quando Gaspar, embora solteirão
amadurecido, resolveu casar-se, em grande metrópole, desposando Maria Emília,
leviana jovem de vinte primaveras que, trazida à grande casa rural, desenvolveu sobre o
enteado estranha fascinação. Martim, extremamente amado pelo genitor, atraído agora
para os encantos femininos da madrasta, passou a experimentar torturantes conflitos
sentimentais. Ele, que se julgava o melhor amigo de Gaspar, entrou a detestá-lo. Não lhe
tolerava a posse sobre a mulher que desejava, sabendo-se por ela ardentemente querido,
porquanto Maria Emília, pretextando essa ou aquela necessidade, sabia isolá-lo em
viagens diversas, nas quais lhe exacerbava a afeição juvenil. Ambos souberam furtar-se
a qualquer desconfiança e, totalmente entregue à paixão que o requestava, o jovem
Martim, desprevenido, planejou o medonho parricídio em que se enliçou, desventurado.
Sabendo o genitor acamado, em tratamento do fígado enfermo, tomou a cooperação de
dois capatazes da sua inteira confiança, Antônio e Lucidio, igualmente verdugos de
meninas cativas, e, certa noite, administrou-lhe uma poção entorpecente, com
aprovação da madrasta... Tão logo se pôs o doente a dormir, coadjuvado pelos dois
cúmplices que odiavam o patrão, espalhou substâncias resinosas no leito paterno,
simulando, logo após, o incêndio no qual o mísero Gaspar, em horríveis padecimentos,
se ausentou do corpo. Conduzido o pai ao sepulcro e apoderando-se-lhe dos haveres,
tentou a felicidade ao pé de Maria Emília; todavia, o genitor desencarnado, a inflamarse
em cólera, envolveu-o em nuvens de fluidos inflamados, contra os quais o infeliz
não possuía defesa... Apegando-se ao afeto da companheira, Martim procurou
anestesiar a consciência e esquecer... esquecer... Confiou a fazenda aos cuidados de
ambos os cúmplices do tenebroso delito e, arrimando-se à companhia da mulher,
demandou à Europa, em busca de repouso e distração. Tudo, porém, debalde... Ao fim
de cinco anos de resistência, tombou integralmente vencido, sob o jugo do Espírito
paternal que o cercava, incessantemente, apesar de invisível. Abriu-se-lhe a pele em
chaga, como se chamas ocultas o requeimassem. Circunscrito ao leito de dor e
constantemente empolgado pelo remorso, recapitulava mentalmente a morte do
genitor, em urros de martírio selvagem... Não sabia, desse modo, senão chorar, gritando
a esmo o arrependimento de que se via possuído, no que foi interpretado à conta de
louco pela própria companheira, que se dava pressa em reconhecer-lhe a suposta
alienação mental, de modo a inocentar-se perante os amigos e servidores. Foi algemado
a semelhante suplício que Martim recebeu escárnio e abandono, dentro do próprio
círculo doméstico, vindo a expirar em tremenda flagelação. Martim Gaspar, o genitor
assassinado, aguardou-o no túmulo, arrastando-o para as sombras infernais, onde passou
a exercer pavorosa vingança... O desditoso filho desencarnado sofreu terríveis
humilhações e indescritíveis tormentos, durante onze anos sucessivos, em cárceres de
treva, até que, amparado por Mensageiros de Jesus, que lhe promoveram o resgate,
ingressou em nosso instituto, ao que fui informado, em lamentável situação. Tendo
entrado em sintonia com o genitor, sequioso de vindita, através das brechas mentais do
remorso e do arrependimento tardio, foi hipnotizado por gênios perversos, que o fizeram
sentir-se dominado de chamas torturantes.
Fixada a imaginação dele em semelhante
quadro de angústia, o próprio Martim nutria com o pensamento culposo as labaredas em
que se torturava sem consumir-se, até que foi convenientemente aliviado e socorrido por
nossos instrutores, através de recursos magnéticos que lhe sanaram o doloroso
desequilíbrio. Devotou-se, então, depois de melhorado, aos serviços mais duros de
nossa organização, conquistando com o tempo apreciáveis lauréis que lhe valeram a
volta à esfera humana, com o direito de iniciar o pagamento da larga dívida em que se
onerou, desavisado. Cultuando a prece com a renovação do mundo íntimo, renasceu de
espírito inclinado à fé religiosa, ardente e operante, encontrando no Espiritismo com
Jesus, ao influxo dos amigos desencarnados que o assistem, precioso campo de
fortalecimento moral e trabalho
digno, no qual tem sabido estender, com louvável
aproveitamento das horas, o seu raio de ação no estudo edificante e na caridade pura,
atraindo em seu favor as mais amplas simpatias, por parte de irmãos encarnados e
desencarnados, que lhe devem generosidade e carinho. Atirado a imensas dificuldades
materiais, desde cedo cresceu órfão de pai, de vez que não valorizou no passado a
ternura paterna, lutando com extrema pobreza e com enfermidade constante...
Custodiado, porém, por benfeitores da nossa Mansão, foi conduzido a um templo
espírita, ainda muito jovem, onde, submetido a tratamento da epiderme esfogueada,
entrou no conhecimento de nossa Renovadora Doutrina... A leitura dos princípios
espíritas, ao sol do Evangelho do Senhor, constituiu para ele recordações naturais dos
ensinamentos assimilados em nossa casa, antes da reencarnação. Desde aí, aceitou
nobremente a responsabilidade de viver e buscou, acima de tudo, aplicar a si próprio as
diretrizes regeneradoras da fé que abraça.
Disciplinou-se. Rendeu sincero preito às suas obrigações e, não obstante os
entraves orgânicos, muito moço se dedicou às representações comerciais, de cujos
labores retira os abençoados recursos que sabe repartir com necessitados numerosos,
reservando para si tão-somente o indispensável. Não é um rico da Terra, na acepção do
conceito, mas um trabalhador da fraternidade que sabe dar o próprio coração naquilo
que distribui.
Trilhando o caminho da simplicidade e da renúncia edificante, modificou as
impressões de muitos dos companheiros de outro tempo, que, nas baixas camadas da
sombra, se lhe haviam transformado em perseguidores e desafetos, obsessores esses
que, em lhe observando os exemplos novos, se sentiam moralmente desarmados para os
conflitos que se propunham manter. É assim que não deixa de ressarcir as suas culpas,
sofrendo-lhes o gravame em si mesmo.

Entretanto, pelos valores que entesoura, devotado ao bem alheio, resgata o
pretérito com o alívio possível, ganhando tempo e adquirindo novas bênçãos. Ajudando
aos outros, desbasta, dia a dia, o montante dos seus débitos, de vez que a Misericórdia
do Pai Celestial permite que os nossos credores atenuem o rigor da cobrança, sempre
que nos vejam oferecendo ao próximo necessitado aquilo que lhes devemos...
Silas confiou-se a pausa breve, mas Hilário, tanto quanto eu fascinado por sua
exposição clara e sensata, rogou, sedento de ensino:
- Continue, Assistente. Esta lição viva ilumina-nos de esperança... Como se
explica estar Adelino ganhando tempo?
Nosso amigo sorriu e acrescentou:
- Correia, que não merecia a ventura do lar tranqüilo por haver arruinado o lar
paterno, casou-se e padeceu o abandono da companheira que lhe não entendeu o
coração.
Avançando para a terna Marisa que dormia, acentuou:
- Assim, pela vida útil a que se consagra e pela caridade incessante que passou a
exercer, atraiu para junto de si, como filha da sua carne, a antiga madrasta que desviou
dos braços paternais, hoje reencarnada junto dele para reeducar-se ao calor de seus
exemplos nobres, guardando a dor de saber-se filha de pobre mulher que renegou o
tálamo conjugal, tanto quanto ela mesma o menosprezou no passado recente. Mas... não
é apenas essa a vantagem de Adelino...
Silas pousou levemente a destra nos pequenos que ressonavam e prosseguiu:
- Dedicando-se de alma e corpo à sua renovação com o Cristo, nosso amigo
recolheu como filhos adotivos os dois cúmplices do parricídio tremendo, os antigos
capatazes Antônio e Lucídio, que, abusando de humildes donzelas escravizadas, de
quem furtavam os filhinhos para exterminar ou vender, não encontraram senão o alcoice
por berço, vindo para o círculo afetivo do companheiro de outro tempo, no sangue
africano que tanto enxovalharam, de modo a lhe receberem o amparo moral à reforma
precisa.
Enquanto nos edificávamos com o precioso ensinamento, Silas observou:
- Como é fácil de reconhecer, nosso irmão, através da responsabilidade espíritacristã,
corretamente sentida e vivida, conquistou a felicidade de reencontrar os laços do
pretérito criminoso para o necessário reajuste, ao passo que, se houvesse desertado da
luta pela irreflexão da companheira ou se tivesse cerrado a porta do coração a dois
meninos infelizes, teria adiado para futuros séculos o nobre trabalho que está fazendo
agora...
Dispúnhamo-nos a formular novas indagações, mas Correia despedira-se da
mãezinha e viera ocupar um leito modesto, não longe das crianças.
Demonstrando hábitos respeitáveis, sentou-se em prece.
Foi quando Silas, recomendando-nos cooperação, abeirou-se dele e aplicou-lhe
passes magnéticos, esclarecendo-nos, logo após:
- Ainda pela utilidade que sabe imprimir aos seus dias, Adelino mereceu a
limitação da enfermidade congenial de que é portador. Tendo sofrido, por longo tempo,
o trauma perispirítico do remorso, por haver incendiado o corpo do próprio pai, nutriu
em si mesmo estranhas labaredas mentais que, como já lhes disse, o castigaram
intensamente além-túmulo... Renasceu, por isso, com a epiderme atormentada por
vibrações calcinantes que, desde cedo, se lhe expressaram na nova forma física por
eczema de mau caráter... Semelhante moléstia, em face da dívida em que se empenhou,
deveria cobrir-lhe todo o corpo, durante muitos e angustiosos lustros de sofrimento
mas, pelos méritos que ele vai adquirindo, a enfermidade não tomou proporções que o
impeçam de aprender e trabalhar, porquanto granjeou a ventura de continuar a servir,
pelo seu impulso espontâneo na plantação constante do bem.
A essa altura, talvez porque o dono da casa se dispusesse ao refúgio dos
travesseiros, o Assistente convidou-nos à retirada.
De volta à Mansão, prosseguiu nosso amável mentor tecendo brilhantes
comentários em torno do "amor que cobre a multidão dos pecados", como ensinou o
Apóstolo, quando Hilário, interpretando-me as indagações, considerou de improviso:
- Assistente, com uma elucidação assim tão clara, é justo aspiremos a saber
determinadas minudências que a ela digam respeito. Poderemos, acaso, inteirar-nos
quanto à situação de Martim Gaspar, o genitor que padeceu o martírio do fogo em sua
carne?
Porque Silas se detivesse em silêncio, meu colega continuou:
- Terá ciência do trabalho renovador de Adelino? Devotar-lhe-á, ainda,
menosprezo e ódio?
- Martim Gaspar - respondeu por fim o interlocutor -, infatigável que era na
violência, foi igualmente tocado pelos exemplos de nosso amigo. Observando-lhe a
transformação, abandonou as companhias indesejáveis a que se adaptara e rogou asilo,
em nosso instituto, vai para alguns anos, onde aceitou severas disciplinas...
- E onde se encontra agora? - insistiu Hilário, ansioso - porventura será
permitido vê-lo, para anotar-lhe as alterações?
Nesse instante, porém, varávamos a entrada do santuário de nossas obrigações,
e Silas, sem mais possibilidades de alongar-se, afagou os ombros de nosso
companheiro, dizendo:
- Acalme-se, Hilário. É possível estejamos de regresso ao assunto em breves
horas.
Despedimo-nos, conservando as anotações, à maneira de estudo interrompido,
aguardando seqüência.
No dia seguinte, porém, grata surpresa visitou-nos o coração.
Quando o relógio anunciou alta noite na extensa faixa planetária em que se
mantinha o nosso domicílio, o Assistente veio buscar-nos, prestimoso.
Demandaríamos à esfera carnal, mas, naquela hora, em companhia de Druso, o
orientador da instituição.
Regozijamo-nos, embora curiosos.
Era a primeira vez que viajaríamos junto ao grande mentor que nos conquistara
a mais ampla reverência. E, se é verdade que o privilégio nos alegrava, ao mesmo tempo
indagávamos do motivo pelo qual se ausentaria ele da casa que não lhe dispensava a
presença.
Entretanto, não houve oportunidade para longas divagações.
Em companhia de Druso, que se fazia seguir por Silas, por duas das irmãs
altamente responsáveis em serviços da Mansão e por nós outros, utilizamo-nos do meio
mais rápido para a excursão, cujo objetivo desconhecíamos, porquanto a maior
autoridade nos trabalhos normais do instituto decerto não disporia de tempo para uma
viagem que não fosse a mais curta possível.
Grande era o meu desejo de provocar o verbo do Assistente para a conversação
educativa em torno do problema que abordáramos na noite anterior; todavia, a presença
de Druso como que nos inibia a disposição de ferir qualquer tema que não partisse dele
mesmo, cuja dignidade não nos privava da expressão livre, mas nos infundia incoercível
respeito.
Foi assim que no trajeto ligeiro lhe ouvimos a conceituação oportuna e sábia,
em torno de múltiplas questões de justiça e trabalho, admirando-lhe, cada vez mais, a
cultura e a benevolência.
Espantado, no entanto, reconheci que a nossa equipe estacionou à porta do lar
de Adelino, que deixáramos na véspera.
Dois auxiliares que conhecíamos de perto esperavam-nos no limiar.
Depois de recíprocas saudações, um deles avançou para Druso e anunciou,
reverente:
- Diretor, o pequenino recém-nato estará conosco, dentro de meia hora.
O grande mentor agradeceu e convidou-nos a acompanhá-lo.
Na paisagem doméstica que nos era familiar, o relógio marcava duas horas e
vinte minutos da madrugada.
Atônitos, seguimos o orientador que tomara a vanguarda, penetrando o
aposento em que Adelino, ao que nos foi permitido supor, começava a dormir.
Druso acariciou-lhe a fronte por momentos e vimos Correia erguer-se do corpo
de carne, qual se fora movido por alavancas magnéticas poderosas, caindo nos braços
do grande orientador, à maneira de criança enternecida e feliz.
- Meu amigo - disse-lhe Druso, entre grave e terno -, chegou a hora do
reencontro...
Correia começou a chorar, aterrorizado, sem conseguir desenfaixar-se-lhe dos
braços acolhedores.
- Oremos juntos - acrescentou o bondoso amigo.
E, levantando os olhos para o Alto, sob nossa profunda atenção, Druso
suplicou:
- "Deus de Bondade, Pai de Infinito Amor, que criaste o tempo como incansável
guardião de nossas almas destinadas ao Teu seio, fortalece-nos para a renovação
necessária!... e Tu, que nos conheces os crimes e deserções, concede-nos a bênção das
dores e das horas para redimi-los, unge-nos com o entendimento de Tuas leis, para que
não repilamos as oportunidades do resgate!”
“Emprestaste-nos os tesouros do trabalho e do sofrimento, como favores de Tua
misericórdia, para que nos consagremos à reabilitação dolorosa, mas justa...”
“Nós, os prisioneiros da culpa, somos também operários de nossa libertação, ao
bafejo de Teu carinho.”
"Ó Pai, infunde-nos coragem para que nossas fraquezas sejam esquecidas,
inflama em nosso espírito o entusiasmo santo do bem, para que o mal não nos apague os
bons propósitos, e conduze-nos pelo carreiro da renunciação para que a nossa memória
não se aparte de Ti!...”
"Que possamos orar como Jesus, o Divino Mestre que nos enviaste aos
corações, a fim de que nos rendamos, de todo, aos Teus desígnios!...”
Depois de leve pausa, repetiu em pranto a prece dominical:
- "Pai Nosso, que estás nos Céus, santificado seja o Teu nome. Venha a nós o
Teu reino. Faça-se a Tua vontade, assim na Terra como nos Céus. O pão nosso de cada
dia dá-nos hoje. Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos
devedores. Não nos deixes cair em tentação e livra-nos de todo mal, porque Teus são o
reino, o poder e a glória para sempre. Assim seja.”
Quando a sua voz emudeceu, profunda emotividade exercia sobre nós
inexpressável domínio.
Reconduzido ao veículo carnal, Adelino acordou em copiosas lágrimas...
Reconhecia-se-lhe o júbilo intimo, se bem não pudesse guardar a consciência
integral da comunhão conosco.
Ação e Reação André Luiz
Findos alguns minutos de expectação, que transcorreram céleres, escutamos lá
fora o choro convulso de uma criança tenra...
Enlaçado por Druso, o dono da casa ausentou-se do leito e, incontinenti, abriu a
porta que comunicava o interior com a calçada externa, em cujas lajes, vigiado por
amigos da Mansão, pobre recém-nato vagia aflitivamente.
Tomado de surpresa, Correia ajoelhou-se, enquanto o grande orientador lhe
dizia com segurança:
- Adelino, eis o pai ofendido que, enjeitado pelo coração materno que ainda não
mereceu, vem ao encontro do filho regenerado!
Correia não lhe ouviu a palavra, na acústica da carne, mas registrou-a no templo
mental, como apelo do amor celeste que lhe trazia ao coração mais uma criança
abandonada e infeliz... Tomado de alegria, para ele inexplicável, abraçou o pequerrucho
com espontâneo gesto de amor e, após conchegá-lo de encontro ao peito, voltou para
dentro, gritando jubiloso:
- Meu filho!... meu filho!...
Silas, entre Hilário e eu, comunicou-nos, emocionado:
- Martim Gaspar retorna à experiência física, asilando-se nos braços do filho
que o desprezou.
Não tivemos, contudo, qualquer ensejo a mais dilatada conversação. Druso,
enxugando as lágrimas, advertiu-nos em voz alta, qual se estivesse falando para si
mesmo:
- Oxalá, quando estivermos de novo em pleno nevoeiro da carne, possamos,
também nós, abrir o coração ao excelso amor de Jesus, para que não venhamos a falir
nas provas necessárias!...
E havia tanto recolhimento e tanta angústia naquele olhar que nos habituara ao
mais doce enternecimento e ao mais profundo respeito que, de volta à Mansão, nenhum
de nós ousou quebrar-lhe o doloroso e expressivo silêncio.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

OS TESOUROS DO CORAÇÃO



Queridos irmãos de jornada, devotados companheiros do ideal do Amor e da Luz:
a Bondade de Jesus é o cântico que, dia a dia, nos alcança, seja através do brilho do Sol, seja pela riqueza da convivência entre os semelhantes, invariavelmente entre brisas e flores, trabalho e experiência, esperanças e sonhos...
A vida, mesmo quando as dores e as provações surgem, é a expressão da Presença de Deus, osculando-nos as almas e inspirando-nos as virtudes da caridade e do perdão...
Quando nos dispomos a aprender e a servir, sob as claridades dos ensinos de Nosso Senhor Jesus Cristo, fácil se torna para nós a visão espiritual de todas as coisas, de modo que os tesouros do coração se nos revelam a todo instante, enaltecendo-nos o existir, os projetos, o comportamento...
Meus amigos: tudo o que o Espiritismo com Jesus nos ensina é o reflexo inteligente e ordenado da Vida Abundante.
Quando uma criança toma contato com as primeiras letras na Escola, insere-se ela no universo da cultura e da educação que dignifica a vida social, definindo o caráter das civilizações. Conhecer os valores eternos da Criação e as realidades do Espírito em permanente comunhão entre a Terra e o Céu, significa para um coração encarnado a conquista dos mais valiosos tesouros, porque, sinceramente, meus irmãos, impossível torna-se a alguém enxergar a Luz e permanecer totalmente indiferente a seus valores transcendentais!...
Caminhamos todos de mãos dadas... às vezes, ocorre alguma deserção que perdura o tempo necessário à ilusão cultuada do indivíduo, que visitado pelas dores consequentes à sua deserção e rebeldia, retorna ao aprisco e passa a valorizar a amizade e a ternura, o serviço do Bem e o Amor de Jesus!
Temos de novo à nossa frente o Natal... e a sublimidade daquela noite de Belém como que se reedita, deixando irradiar o excelso Amor que foi depositado na inesquecível Manjedoura, sob o calor devotado de Maria e José, entre cânticos de louvores e bem-aventuranças!...
Compreendemos que a caminhada da nossa ignorância e rebeldia em direção da Grande Luz da Misericórdia tem sido dura, entre decepções e amarguras, sofrimentos e dores. No entanto, amigos, como aprender o caminho sem os benditos aguilhões que nos guiam os sentimentos e os passos?!... como assumir a espiritualidade latente de nossa alma sem quebrar as carapaças grosseiras do egoísmo e do orgulho, das vaidades e dos vícios?!...
Temos, todos nós, infinitos motivos de júbilo e esperança. E é nosso dever moral a gratidão a Deus, a Jesus, aos Bons Espíritos e também aos semelhantes encarnados – sejam eles quem sejam!
O universo do Pai é uma sinfonia de Amor e Alegria! Quando as escamas da presunção caem de nossos olhos espirituais, o deslumbramento é inevitável e o único caminho que nos resta, ante a magnificente beleza e perfeição do Pai é o sentimento reverente, entre a humildade e a doçura de coração – os tesouros eternos do Espírito!
Por isso, por compreender todas as dores dos irmãos da Terra, solidariamente convidamos aos que nos honram com seu carinho e com sua atenção – o que sinceramente não julgamos merecer – a seguirmos com Jesus, fazendo de nossa Doutrina Espírita o caminho da Vida, o coroamento das lutas, pela adoção da Caridade!
Nossos votos de união e fraternidade entre nós. Que o Senhor, através denossa Mãe Santíssima, nos ampare e nos inspire o Bem!
Do irmão e servidor de sempre,
Chico Xavier.
(Mensagem psicografada pelo médium Wagner G. Paixão, em reunião pública do Grupo Espírita da Bênção, em Mário Campos, MG, na noite de 12 de novembro de 2012)

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Platão: doutrina de escolha das provas


Revista Espírita, setembro de 1858
Vimos, pelos curiosos documentos célticos que publicamos em nosso número de abril, a doutrina da reencarnação professada pelos Druidas, segundo o princípio da marcha ascendente da alma humana, à qual faziam percorrer os diversos graus da nossa escala espírita. Todo o mundo sabe que a idéia da reencarnação remonta à mais alta antigüidade, e que o próprio Pitágoras a hauriu entre os Indianos e os Egípcios. Não é, pois, de se admirar que Platão, Sócrates e outros, partilhassem uma opinião admitida pelos mais ilustres filósofos da época; mas o que, talvez, seja mais notável é encontrar, nessa época, o princípio da doutrina de escolha das provas, ensinada hoje pelos Espíritos, doutrina que pressupõe a reencarnação sem a qual não teria nenhuma razão de ser. Não discutiremos hoje essa teoria, que estava tão longe do nosso pensamento quando os Espíritos no-la revelaram, que nos surpreendeu estranhamente, porque o confessamos, com toda a humildade, que o que Platão havia escrito sobre esse assunto especial, nos era, então, totalmente desconhecido, prova nova, entre mil, que as comunicações que nos foram feitas não são o reflexo de nossa opinião pessoal.
Quanto à de Platão, constatamos simplesmente a idéia principal, podendo cada um facilmente convir quanto à parte da forma sob a qual ela é apresentada, e julgar os pontos de contato que pode ter, em certos detalhes, com a nossa teoria atual. Em sua alegoria do Fuso da necessidade, supõe uma conversa entre Sócrates e Glauco, e empresta ao primeiro o discurso seguinte sobre as revelações do Armênio Er, personagem fictício, segundo toda a probabilidade, embora alguns o tomem por Zoroastro.
Compreender-se-á, facilmente, que esse relato não é senão um quadro imaginado para conduzir à idéia principal: a imortalidade da alma, a sucessão das existências, a escolha dessas existências por efeito do livre arbítrio, enfim, as conseqüências felizes ou infelizes da escolha, freqüentemente imprudente, proposições que se encontram, todas, em O Livro dos Espíritos, e que vêm confirmar os numerosos fatos citados nesta revista.
"A narração que vou lembrar-vos, disse Sócrates a Glauco, é a de um homem de coração, Er, o Armênio, originário de Panfília. Foi morto em uma batalha. Dez dias depois, como se carregavam os cadáveres, já desfigurados, daqueles que tombaram com ele, o seu foi encontrado são e inteiro. Levaram-no para casa para fazerem seus funerais, e no segundo dia, quando estava sobre a fogueira, ele reviveu e contou o que vira na outra vida.
"Logo que a sua alma saiu de seu corpo, partiu com uma multidão de outras almas e chegou a um lugar maravilhoso, onde se viam, na terra, duas aberturas, vizinhas uma da outra, e duas outras aberturas no céu que correspondiam àquelas. Entre essas duas regiões estavam sentados os juizes. Desde que pronunciavam uma sentença, ordenavam aos justos para tomarem seu caminho à direita, por uma das aberturas do céu, depois de lhes afixar à frente um letreiro contendo o julgamento dado em seu favor, e aos maus de tomarem o caminho à esquerda, nos abismos, tendo atrás do dorso um escrito semelhante, onde estavam marcadas todas as suas ações. Quando, por sua vez, se apresentou, os juizes declararam que ele deveria levar aos homens a novidade do que se passava nesse outro mundo, e lhe ordenaram escutar e observar tudo o que se lhe oferecia.
"Viu primeiro as almas julgadas desaparecerem, umas subindo ao céu, outras descendo sob a terra pelas duas aberturas que se correspondiam: enquanto que, pela segunda abertura, via saírem as almas cobertas de pó e de imundície, ao mesmo tempo, pela segunda abertura do céu desciam outras almas puras e sem mácula. Todas pareciam vir de uma longa viagem e deterem-se com prazer na campina como num lugar de reunião. Aquelas que se conheciam, se saudavam, umas às outras, e perguntavam as novidades do que se passava nos lugares de onde vinham: o céu e a terra. Aqui, entre os gemidos e as lágrimas, evocava-se tudo o que se sofrerá, ou vira sofrer, viajando sob a terra; lá, contavam-se as alegrias do céu e a felicidade de contemplar as maravilhas divinas.
"Seria muito longo seguir o discurso inteiro do Armênio, mas eis, em suma, o que dizia. Cada uma das almas levava dez vezes a pena das injustiças que cometera durante a vida. A duração de cada punição era de cem anos, duração natural da vida humana, a fim de que o castigo fosse, sempre, o décuplo para cada crime. Assim os que fizeram perecer em grande quantidade seus semelhantes, atraiçoado cidades, exércitos, reduzido seus concidadãos à escravidão ou cometido outros crimes enormes, eram atormentados no décuplo para cada um dos seus crimes. Aqueles, ao contrário, que fizeram o bem ao seu redor, que foram justos e virtuosos, recebiam, na mesma proporção, a recompensa de suas boas ações. O que dizia das crianças que a morte levou pouco tempo após o seu nascimento, merece menos ser repetido; mas assegurava que ao ímpio, ao filho desnaturado, ao homicida, estavam reservadas as penas mais cruéis, e ao homem religioso e ao bom filho as maiores felicidades.
"Presenciara quando uma alma perguntou a uma outra onde estava o grande Ardieu. Esse Ardieu fora um tirano de uma cidade de Panfília mil anos antes; ele havia matado seu velho pai, seu irmão mais velho, e cometido, dizia-se, vários outros crimes enormes. "Ele não veio, respondeu a alma, e não virá jamais aqui. Todos fomos testemunhas, a esse respeito, de um horrível espetáculo. Quando estávamos sobre o ponto de sair do abismo, depois de cumprirmos nossas penas, vimos Ardieu e um grande número de outros, dos quais a maioria eram tiranos como ele ou seres que, numa condição particular, haviam cometido grandes crimes: faziam vãos esforços para subirem, e todas as vezes que esses culpados, cujos crimes eram irremediáveis, ou não haviam suficientemente expiado, tentavam sair, o abismo repelia-os rugindo. Então personagens horríveis, de corpo inflamado, que se achavam lá, acorriam a esses gemidos. Carregaram primeiro, com viva força, um certo número desses criminosos; quanto a Ardieu e aos outros, uniram-lhes os pés, as mãos e a cabeça, e os tendo lançado à terra e os esfolado à força de pancadas, arrastaram-nos fora do caminho, através de sarças sangrantes, repetindo às sombras, à medida que passava algum: "Eis tiranos e homicidas, nós os carregamos para lançá-los no Tártaro."
Essa alma acrescentou que, entre tantos objetos terríveis, nada lhe causou mais medo do que o mugido do abismo, e que foi uma extrema alegria para ela sair dali em silêncio.
"Tais eram, mais ou menos, os julgamentos das almas, seus castigos e suas recompensas.
"Depois de sete dias de repouso nessa campina, as almas deveram dali partir no oitavo, e se puseram na estrada. Ao cabo de quatro dias de caminho, perceberam no alto, sobre toda a superfície do céu e da terra, uma imensa luz, direita como uma coluna e semelhante à íris, mas mais brilhante e mais pura. Um único dia bastou-lhes para atingi-la, e elas viram, então, na direção do meio dessa muralha, a extremidade das correntes que nela prendem os céus. Aí está o que a sustenta, é o envoltório do vaso do mundo, o vasto cinto que o rodeia. No topo, estava suspenso o Fuso da necessidade, ao redor do qual se formam todas as circunferências (1).( (1) Essas são as diversas esferas dos planetas ou os diversos estágios do céu, girando ao redor da Terra fixada ao próprio eixo do fuso. (V. COUSIN))
"Ao redor do Fuso, e a distâncias iguais, tinham assento sobre os tronos as três Parcas: Láqueis, C loto e Átropos, vestidas de branco e com a cabeça coroada com uma faixinha. Elas cantavam, unindo-se ao concerto das sereias: Láqueis o passado, Cloto o presente, Átropos o futuro. Cloto tocava, por intervalos, com a mão direita, o exterior do fuso; Átropos, com a mão esquerda, imprimia movimento aos círculos internos, e Láqueis, com uma e com a outra mão, alternativamente, tocava ora o fuso, ora as balanças interiores.
"Logo que as almas chegavam, era-lhes preciso se apresentarem diante de Láqueis. Primeiro um hierofante faziam-nas enfileirar em ordem, uma depois da outra. Em seguida, tendo tomado de sobre os joelhos de Láqueis as sortes ou números na ordem pela qual a alma deveria ser chamada, assim como as diversas condições humanas oferecidas à sua escolha, montado em um estrado, falava assim: " Eis o que disse a virgem Láqueis, filha da Necessidade; Almas passageiras, ides começar uma nova carreira e renascer na condição mortal. Não se vos assinalará vosso gênio, será vós que o escolhereis por vós mesmas. Aquela primeira que a sorte chamar escolherá, e sua escolha será irrevogável. A virtude não está com ninguém: ela se prende a quem a honre, e abandona quem a negligencia. Cada um é responsável por sua escolha, Deus é inocente." A essas palavras esparramou os números, e cada alma pegou aquele que caiu diante dela, exceto o Armênio, aquém não se lhe permitiu. Em seguida o hierofante expôs sobre a terra, diante delas, os gêneros de vida de toda espécie, em número muito maior que não havia de almas reunidas. A variedade deles era infinita; ali se achavam, ao mesmo tempo, todas as condições de homem, assim como de animais. Havia tiranias: umas que duram até a morte, as outras bruscamente interrompidas acabando na pobreza, no exílio e no abandono. A ilustração se mostrava sob várias faces: podia-se escolher a beleza, a arte de agradar, os combates, a vitória ou a nobreza de raça. Condições sociais completamente obscuras por todos esses lugares, ou intermediárias, misturas de riqueza e de pobreza, de saúde e de enfermidade, eram oferecidas à escolha: haviam, também, condições de mulher da mesma variedade.
"Evidentemente, aí está, caro Glauco, a prova terrível para a Humanidade. Que cada um de nós nela pense, e que deixe todos os vãos estudos, para não se entregar senão à ciência que faz a sorte do homem. Procuremos um mestre que nos ensine a discernir o bom e o mau destino, e a escolher todo o bem que o céu nos entrega. Examinemos com ele quais situações humanas, separadas ou reunidas, conduzem às boas ações: se a beleza, por exemplo, unida à pobreza ou à riqueza, ou se tal disposição da alma deve produzir a virtude ou o vício; que vantagem pode ter um nascimento brilhante ou comum, a vida privada ou pública, a força ou a fraqueza, a instrução ou a ignorância, enfim, tudo o que o homem recebe da Natureza e tudo o que tem de si mesmo. Esclarecidos pela consciência, decidamos qual destino nossa alma deve preferir. Sim, o pior dos destinos é aquele que a toma injusta, e o melhor aquele que a formará, sem cessar, para a virtude: tudo o mais nada é para nós. Iríamos esquecer que não há nenhuma escolha mais salutar depois da morte como durante a vida! Ah! que esse dogma sagrado se identifique para sempre com a nossa alma, a fim de que ela não se deixe ofuscar, lá embaixo, nem pelas riquezas nem pelos outros males dessa natureza, e que ela não se exponha, lançando-se na condição do tirano ou em qualquer outra semelhante, a cometer um grande número de males sem remédio e a sofrê-los ainda maiores.
"Segundo o relato de nosso mensageiro, o hierofante dissera: Aquele que escolherá por último, contanto que o faça com discernimento, e que em seguida seja conseqüente em sua conduta, pode se prometer uma vida feliz. Aquele que escolherá primeiro, guarde-se de muita confiança, e que o último não se desespere." Então aquele que a sorte nomeou o primeiro avançou com diligência e escolheu a mais considerável tirania; levado por sua imprudência e sua avidez, e sem considerar suficientemente o que fazia, não viu essa fatalidade ligada ao objeto de sua escolha de ter que comer, um dia, a carne de seus próprios filhos e bem outros crimes horríveis. Mas quando ela considerou a sorte que havia escolhido, gemeu, lamentou-se, e esquecendo as lições do hierofante, acabou por acusar de seus males a fortuna, os gênios, tudo, exceto ela mesma (1).
((1) Os Antigos não atribuíam a palavra tirano a mesma idéia que nós; davam esse nome a todos aqueles que se apoderavam do poder soberano, quaisquer que fossem suas qualidades, boas ou más. A história cita tiranos que fizeram o bem; mas como, mais freqüentemente, ocorria o contrário, e, para satisfazer sua ambição ou se manter no poder, nenhum crime lhes importava, essa palavra tomou-se, mais tarde, sinônimo de cruel, e se diz de todo homem que abusa de sua autoridade.
A alma da qual Er fala, escolhendo a mais considerável tirania, não buscara a crueldade mas, simplesmente, o poder mais vasto como condição de sua nova existência; quando sua escolha fez-se irrevogável, ela percebeu que esse mesmo poder a arrastaria ao crime, e lamentou fazê-lo, acusando de seus males todos, exceto ela mesma; é a história da maioria dos homens que são os artífices de sua própria infelicidade sem querer confessá-lo.)
Essa alma era do número daquelas que vieram do céu: ela vivera, precedentemente, em um estado bem governado e fizera o bem pela força do hábito antes que por filosofia. Eis por que, entre aquelas que caíam em semelhantes decepções, as almas vindas do céu não eram as menos numerosas, por falta de terem sido experimentadas pelos sofrimentos. Ao contrário, aquelas que, tendo passado por moradas subterrâneas, sofreram e viram sofrer, não escolhiam assim às pressas. Daí, independentemente do risco das classes para serem chamadas a escolher, uma espécie de troca de bens e de males para a maioria das almas. Assim, um homem que, a cada renovação da sua vida neste mundo, se aplicasse constantemente a sã filosofia e tivesse a felicidade de não ter as últimas sortes, aparentemente, depois desse relato, não somente seria feliz neste mundo, mais ainda que, em sua viagem daqui para lá embaixo, e em seu retorno, caminharia pela via unida ao céu e não pela vereda penosa do abismo subterrâneo.
"O Armênio acrescentava que era um espetáculo curioso de se ver a maneira pela qual cada alma fazia sua escolha. Nada de mais estranho e mais digno, ao mesmo tempo, de compaixão e de zombaria. Era, na maior parte do tempo, segundo seus hábitos da vida anterior, que fazia a sua escolha. Er vira a alma que havia pertencido a Orfeu escolher a alma de um cisne, por ódio das mulheres que lhe deram a morte, não querendo dever seu nascimento a nenhuma delas; a alma de Thomyres escolhera a condição de um rouxinol; e, reciprocamente, um cisne, assim como outros músicos como ele, adotaram a natureza do homem. Uma outra alma, a vigésima chamada a escolher, tomou a natureza de um leão: era Ajax, filho de Telamon.
Ele detestava a humanidade, recordando-se do julgamento que lhe tirara as armas de Aquiles. Depois desta, veio a alma de Agamenon, que suas infelicidades tomaram, também, o inimigo dos homens: ele tomou a condição de águia. A alma de Atalanta, chamada a escolher, pela metade, considerando as grandes honras prestadas aos atletas, não pôde resistir ao desejo de se tornar atleta. Epeu, que construiu o cavalo de Tróia, tomou-se uma mulher laboriosa. A alma do bobo Tersita, das últimas a se apresentarem, revestiu as formas de um macaco. A alma de Ulisses, a quem o acaso dera o último destino, veio também para escolher: mas a recordação de seus longos revezes, tendo-o desenganado da ambição, procurou por muito tempo e descobriu, com dificuldade, em um canto, a vida tranqüila de um homem privado, que todas as outras almas deixaram à parte. Descobrindo-o, disse que, mesmo que tivesse sido a primeira a escolher, não teria feito outra escolha. Os animais, quaisquer que sejam, passam igualmente uns nos outros ou nos corpos de homens: aqueles que foram maus, tornam-se bestas ferozes, e os bons, animais domésticos.
"Depois que todas as almas fizeram escolha de uma condição, elas se aproximaram de Láqueis, na ordem segundo a qual haviam escolhido. A Parca deu, a cada uma, o gênio que ela havia preferido, a fim de que lhe servisse de guardião durante a sua vida, e a ajudasse a cumprir o seu destino. Esse gênio primeiro a conduzia a Cloto que, com sua mão e com um giro do fuso, confirmava o destino escolhido. Depois de ter tocado o fuso, conduzia-a daí para Átropos, que enrolava o fio para tornar irrevogável o que fora tecido por Cloto. Em seguida avançava-se para o trono da Necessidade, sob o qual a alma e seu gênio passavam juntos. Logo que todas passaram, elas seguiram para o espaço cheio de Letes (o Esquecimento) (1), ( (1) Alusão ao esquecimento que se segue à passagem de uma existência à outra.) onde toleraram um calor insuportável, porque não havia nem árvore e nem planta. Chegada a tarde, elas passaram a noite junto do rio Ameles (ausência de pensamentos sérios), rio do qual nenhum vaso podia conter a água: se era obrigado a dele beber mas os imprudentes dele beberam muito. Aqueles que dele bebem sem parar, perdem a memória. Dormiu-se depois; mas, pelo meio da noite, sobreveio um estrondo de trovão com um tremor de terra: logo as almas foram dispersadas, aqui e ali, para os diversos pontos de seu nascimento terrestre, como estrelas que jorrassem, de repente, do céu. Quanto a ele, disse Er, impediram-no de beber da água do rio: entretanto, não sabia onde e nem como sua alma se reuniu ao seu corpo; mas pela manhã, tendo de repente aberto os olhos, percebeu que estava estendido sobre a fogueira.
"Tal é o mito, caro Glauco, que a tradição fez viver até nós. Ele pode nos preservar de nossa perda: se lhe acrescentarmos fé, passaremos felizes o Letes e manteremos nossa alma pura de toda mancha."

O CHOQUE DO RETORNO



Importante é notar que quando se agride a uma pessoa, em qualquer nível, ou por qualquer razão, é lei divina que se está desatendendo, embora a agressão possa ter sido dirigida a essa ou àquela pessoa.

Logo, mesmo quando o agredido consegue perdoar, mantendo-se íntegro e pacificado pela desenvolvida indulgência, caberá ao ofensor dar conta do seu desequilíbrio ante à Consciência Cósmica, contra a qual agiu. A ação das leis divinas é francamente educativa, permitindo que cada filho do Grande Pai se recomponha para a felicidade, que é inalienável destino.

Sabemos que enquanto não desaparecerem os últimos vestígios da agressão, dos desatinos contra os preceitos das leis superiores do Criador, a expiação consistirá nos sofrimentos físicos e morais que lhe sejam conseqüentes, tanto na atual romagem corporal, quanto na vida do Além, podendo, ainda, prosseguir na busca do equilíbrio em outras reencarnações.

Diante das várias reflexões a respeito da vida, das agressões e da lei do retorno, seria muito importante que a pessoa envidasse esforços por educar os sentimentos, o temperamento, disciplinando a sua vida mental, deixando, assim, aos poucos, de encontrar motivos de cometer agressões, passando a pensar a vida e vivê-la com entusiasmo, com fraternidade, fazendo ao semelhante tudo quanto gostaria que ele lhe fizesse, como ensinou o Homem de Nazaré.


Camilo psicografia de Raul Teixeira

sábado, 29 de setembro de 2012

O SINAL DE JONAS


"Maligna é esta geração; ela pede um sinal, e não lhe será dado
outro sinal senão o sinal do profeta Jonas." - (Lucas, 11:29)
Niníve, capital da antiga Assíria, situada à margem do rio Tigre, era, na Antiguidade, uma cidade muito importante, com uma população superior a 120 mil habitantes. Como ocorria com apreciável parte das grandes cidades do passado, ela vivia mergulhada na corrupção, e entre os habitantes reinavam costumes dissolutos e numerosos desregramentos.
O profeta Jonas, devidamente instruído, via mediúnica, dirigiu-se àquela cidade e ali fez com que seus habitantes se compenetrassem do erro em que estava incorrendo. Durante 40 dias, o profeta fez as suas pregações; então, suas palavras foram acolhidas e, desde o próprio rei até o mais humilde servidor, todos se decidiram a levar a sério aquelas admoestações; assim, como forma de penitência, conforme o costume da época, todos cobriram-se com sacos e se assentaram sobre a cinza.
Com essa demonstração de arrependimento, a cidade foi poupada pela Justiça Divina, evitando-se a destruição que se avizinhava. Quando Jesus desempenhava o seu Messiado, foi procurado por um grupo de escribas, fariseus e saduceus, e dentre eles alguns estrangeiros, que lhe pediram um sinal dos Céus, para que vissem e acreditassem.
A resposta do Mestre foi peremptória: "Maligna é esta geração; ela pede um sinal, e não lhe será dado outro sinal senão o sinal de Jonas." Jesus Cristo proferiu estas palavras angustiado pela incompreensão e dureza dos corações humanos. Ele havia descido à Terra, para o cumprimento da promessa sobre o advento do Messias Redentor.
No desenvolvimento de sua transcendental missão, Ele havia propiciado os mais autênticos sinais: a leprosos, restaurando a vista de cegos, levantando paralíticos e, sobretudo, trazendo uma verdade nova que vinha iluminar a mente dos homens e os horizontes sombrios do mundo. Não obstante todas essas manifestações, ali estava o segmento de um povo que se considerava "eleito de Deus", que se mantinha profundamente empedernido, "duro de cerviz e incircunciso de coração.

Aquele grupo de pessoas foi pedir-lhe um sinal dos Céus, entretanto, os sinais estavam sendo dados diuturnamente; por isso, a sua resposta foi negativa. O sinal de Jonas deveria ser o suficiente para abalar as consciências endurecidas daqueles homens. Diante da personalidade de Jesus Cristo, Jonas não passava de um profeta de projeção relativamente pequena. No entanto, dirigindo-se à população de Nínive, apregoou que a cidade seria destruída por Deus se o seu povo não mudasse de comportamento. Todos receberam as palavras do profeta e, receosos da provável destruição, mudaram radicalmente o modo de vida.

Jesus Cristo, o maior Espírito dentre os que desceram fez persistente e profusa pregação entre os homens, mostrando-lhes como seus corações estavam endurecidos; desmascarou a hipocrisia dos escribas e dos fariseus, demonstrando a precariedade dos seus ensinos e a recalcitrância em obedecer às verdades que emanavam dos Céus, através dos profetas. Não obstante, suas palavras não foram aceitas por muitos e Ele foi condenado e crucificado. Em virtude dessa obstinação e da maldade reinante nos corações desses homens, "a Jerusalém que matava os seus profetas, que apedrejava todos aqueles que lhe eram enviados, foi destruída, dela não restando pedra sobre pedra". (Lucas, 13:34-35).
Quando o Mestre asseverou que nenhum sinal seria dado àquela geração adúltera, infiel, mas apenas o sinal do profeta Jonas, Ele pretendeu dizer que, se o povo fosse mais dócil, mais humilde, mais razoável, teria recebido as suas palavras, assim como o fez o povo de Nínive.
Na realidade, o sinal de Jonas era do conhecimento de todos, pois os escribas liam para o povo o livro do profeta Jonas, e, obviamente, a atitude do povo da capital da Assíria, acatando as suas admoestação e arrependendo-se de suas faltas, era notória para todos. Amargurado diante da incompreensão do seu povo, proclamou Jesus Cristo: "A rainha do sul se levantará no dia do juízo contra os homens desta geração, e os condenará, pois dos confins da Terra ela veio para ouvir a sabedoria de Salomão; eis aqui está quem é maior do que Salomão.
Os homens de Nínive se levantarão no dia do juízo contra esta geração e a condenarão, pois se converteram com a pregação de Jonas; e aqui está quem é maior do que Jonas." (Lucas, 11:31-32)
O apego dos escribas e fariseus aos preceitos das leis antigas era apenas aparente. Eles não aceitavam o sinal de Jonas e muito menos o de Jesus. Não se preocupavam com os sinais dados pelos antigos profetas, o que levou o Mestre a exclamar muito judiciosamente: "Não cuidadeis que sou eu que vos hei de acusar diante de meu Pai. Há um que vos acusa: Moisés, em que vós esperais.
Porque, se vós crêsseis em Moisés, certamente creríeis também em mim, pois de mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?" (João, 5:45 a 47). A pregação de Jesus Cristo foi feita num clima de brandura, de persuasão. Dizia Ele: "já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe a vontade do seu senhor. Mas tenho vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer." (João, 15:15) Não obstante tudo isso, Ele não era aceito, nem na aparência, nem na realidade, pelos mentores do povo de Israel.
A corroboração desta assertiva encontramo-la em (João, 12:37-38): "E ainda que Ele tendo feito tantos milagres diante deles, não criam nele, para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías, quando disse: "Senhor, quem acreditou em vossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor?"
Da mesma forma como os Espíritos dos homens são submetidos a penosos resgates individuais, quando malbaratam o legado precioso que Deus lhes concedeu, as cidades também experimentam quedas e dores, quando não dão guarida aos ensinos que, de um modo ou de outro, são proporcionados à sua população pelos mensageiros dos Céus.
As cidades de Sodoma e Gomorra foram destruídas em consequência de seus inúmeros desregramentos; no entanto, segundo a própria expressão de Jesus Cristo, menos rigor haverá para elas, no julgamento divino, do que para Corozaim, Betsaída, Cafarnaum e Jerusalém, onde autênticos sinais foram produzidos pela interferência do Mestre, sem que houvesse acontecido o devido aproveitamento.
Paulo A. de Godoy

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

TÉDIO NO LAR




Uma vez que os Espíritos simpáticos são induzidos a unir se, como é que, entre os encarnados, frequentemente só de um lado há afeição e que o mais sincero amor se vê acolhido com indiferença e, até, com repulsão?
Como é, além disso, que a mais viva afeição de dois seres pode mudar se em antipatia e mesmo em ódio?
Não compreendes então que isso constitui uma punição, se bem que passageira?
Depois, quantos não são os que acreditam amar perdidamente, porque apenas julgam pelas aparências, e que, obrigados a viver com as pessoas amadas, não tardam a reconhecer que só experimentaram um encantamento material.
Não basta uma pessoa estar enamorada de outra que lhe agrada e em quem supõe belas qualidades. Vivendo realmente com ela é que poderá apreciála.
Tanto assim que, em muitas uniões, que a princípio parecem destinadas a nunca ser simpáticas,
acabam os que as constituíram, depois de se haverem estudado bem e de bem se
conhecerem, por votar se, reciprocamente, duradouro e terno amor, porque assente
na estima! Cumpre não se esqueça de que é o Espírito quem ama e não o corpo, de sorte que, dissipada a ilusão material, o Espírito vê a realidade. “Duas espécies há de
afeição: a do corpo e a da alma, acontecendo com frequência tomar se uma pela
outra. Quando pura e simpática, a afeição da alma é duradoura; efêmera a do corpo.
Daí vem que, muitas vezes, os que julgavam amar se com eterno amor passam a odiar se, desde que a ilusão se desfaça”.
Seja qual seja o motivo em que o tédio se fundamente, recorram os companheiros imanizados em mútua associação no lar ao apoio recíproco mais profundo e mais intensivo. Com isso, estarão em justa defesa da harmonia íntima, sem castigarem o próprio corpo. E reeducarseão, sem hostilizar os que, porventura,
lhes demonstrem afeto, mas acolhendo os, não mais na condição de cúmplices das aventuras deprimentes, a que se renderam outrora, e sim por irmãos queridos, com quem podemos fundir nos, em espírito, no mais alto amor espiritual.

Livro: Vida e Sexo
Chico Xavier/Emmanuel