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sábado, 6 de abril de 2013

III-O que pode transforma intimamente " Os Malefícios do Álcool "

03 - OS MALEFÍCIOS DO ÁLCOOL

"O meio em que certos homens se encontram não é para eles o motivo principal de muitos vícios e crimes?
- Sim, mas ainda nisso há uma prova escolhida pelo Espírito, no estado de liberdade; ele quis se expor à tentação, para ter o mérito da resistência. " (Allan Kardec.O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro. Capítulo I - A. Lei Divina ou Natural. Pergunta 644.)

"A alteração das faculdades intelectuais pela embriaguez desculpa os atos repreensíveis?
- Não, pois o ébrio voluntariamente se priva da razão para satisfazer paixões brutais: em lugar de uma falta, comete duas."
(Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro. Capítulo X. Lei da Liberdade. Pergunta 848.)

O álcool (palavra de origem árabe: ai = a, cohol = coisa sutil) não é alimento nem remédio. É tóxico. Chegando ao seio da substância nervosa, excita-a e diminui sua energia e resistência, e deprime os centros nervosos fazendo surgir lesões mais graves: paralisias, delírios (delirium tremens). Como tóxico, atinge de preferência o aparelho digestivo: o indivíduo perde o apetite, o estômago se inflama e a ulceração da sua mucosa logo se manifesta. A isto se juntam as afecções dos órgãos vizinhos, quase sempre incuráveis. Uma delas (terrível) é a cirrose hepática, que se alastra progressivamente no fígado, onde as células vão morrendo por inatividade, até atingir completamente esse órgão, de funções tão importantes e delicadas no aparelho digestivo.
O que se vê nos hospitais durante a autópsia do cadáver de um alcoólatra crônico é algo horripilante. O panorama interno do cadáver pode ser comparado ao de uma cidade completamente destruída por um bombardeio atômico. Além das catástrofes provocadas no organismo físico, quantos males e acidentes desastrosos são ocasionados pela embriaguez! Os jornais, todos os dias, enchem as suas páginas com tristes casos de crimes e desatinos ocorridos com indivíduos e mesmo famílias inteiras, provocados por criaturas alcoolizadas.

A embriaguez é hábito que se observa difundido em todas as camadas sociais. Mudam-se os tipos de bebidas: das mais populares, ao alcance do trabalhor braçal, às mais sofisticadas, para os homens de "status". No entanto, o costume é o mesmo, os prejuízos, iguais. Em geral, a tendência para beber vem de uma perturbação da afetividade que pode ser originada na infância. Os problemas infantis gerados nos desequilíbrios familiares, pela falta de carinho dos pais ou por outros conflitos — são comumente as raízes desse estado íntimo propício ao alcoolismo.

O alcoolismo deve ser encarado, nos casos profundos, como uma doença orgânica, como o é, por exemplo, o diabetes. Deve ser evitado radicalmente, sob pena de se sofrer amargamente as suas consequências nos processos de recuperação em clínicas especializadas. Há indivíduos que buscam na bebida um estado de liberação das suas tensões recônditas, ou então o esquecimento momentâneo de suas mágoas ou aflições, o que denota uma necessidade de refletir corajosamente sobre essas causas, buscando novos rumos para o seu próprio esclarecimento.
A bebida só leva à autodestruição, e nada de construtivo oferece às suas vítimas. As alterações das faculdades intelectuais causadas pela embriaguez, principalmente da autocensura, que priva a criatura da razão, tem levado homens probos a cometer desatinos, crimes passionais e tragédias. Na embriaguez, o domínio sobre a nossa vontade é facilmente realizado pelas entidades tenebrosas, conduzindo-nos aos atos de brutalidade.

O viciado em álcool quase sempre tem a seu lado entidades inferiores que o induzem à bebida, nele exercendo grande domínio e dele usufruindo as mesmas sensações etílicas. Cria-se, desse modo, dupla dependência: uma por parte da bebida propriamente dita, com toda a carga psicológica que a motivou; outra por parte das entidades invisíveis que hipnoticamente exercem sua influência, conduzindo, por sugestão, o indivíduo à ingestão de álcool. O processo que se recomenda para a libertação da bebida é ter em mente, sempre que o desejo se apresentar, a idéia dolorosa das consequências funestas do álcool.
Nessas horas, devem ser reprimidos os impulsos com a lembrança de tudo aquilo de repugnante e desagradável que o álcool provoca. Em particular, os espíritas conhecem - e são fortalecidos com as idéias relativas às consequências espirituais, principalmente no sofrimento dos suicidas após o desencarne. O álcool reduz a resistência física, diminui o tempo de vida e, por isso, o seu praticante é considerado um suicida.

Nesses momentos de tentação à bebida, quando estamos imbuídos do desejo de libertação, o auxílio do Plano Espiritual vem a nosso favor, mas necessário se faz o apoio na nossa própria vontade para surtirem os efeitos esperados. É frequente a alegação, por parte dos viciados, de que a bebida para eles é necessária, e que a sua vontade nada pode conter. Quando alguém assim afirma, demonstra que não tem nenhuma vontade de deixar de beber, e nesses casos pouco se pode fazer. O importante, mesmo, é que primeiro seja despertada a vontade de largar o álcool e, a partir disso, seja assumido voluntariamente o propósito de não mais se deixar levar pela imaginação, pelas idéias induzidas às vezes obsessivamente, ou mesmo pelos convites de "amigos" que façam companhia nas bebericagens.

A sede, o sabor, a oportunidade social, as comemorações, a obrigatoriedade em aceitar um drinque oferecido por alguém visitado são as muitas desculpas que temos para ingerir as doses de álcool. Precisamos, porém, estar atentos para não cometer exageros, abusos, e não resvalar por esse hábito social, que pode terminar por nos condicionar a ele.

FAÇA SUA AVALIAÇÃO INDIVIDUAL

1. Acha que a eventual ingestão de bebidas alcoólicas pode levá-lo ao vício?

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2. Sabe conter-se nas ocasiões sociais em que lhe são oferecidas bebidas alcoólicas?
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3. Sente necessidade incontrolável de tomar bebidas alcoólicas nas refeições ou quando tem sede?
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4. Sente-se mais extrovertido ou mais à vontade, em grupos de pessoas, quando toma alguma bebida alcoólica?
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5. No caso de todos à sua volta estarem bebendo, sente-se igualmente obrigado a fazê-lo? Por quê?
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6. Já se sentiu completamente embriagado?
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7. Já experimentou as consequências digestivas ou neurológicas que a bebida provoca?
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8. Sendo um inveterado na bebida, já sentiu vontade de libertar-se dela? Conseguiu algo?
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9. Tem dificuldades em não se deixar levar pelo desejo de tomar um drinque?
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10. As bebidas alcoólicas fazem algum bem à saúde?

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Ney P. Peres

sexta-feira, 8 de março de 2013

OBSESSORES TERRÍVEIS

04/03/2013


OBSESSORES TERRÍVEIS

Antes de lançares sobre os desencarnados a culpa pelos males e aflições que, tantas vezes, padeces na existência carnal, medita na ação dos obsessores terríveis que, em ti mesmo, acalentas, sequer cogitando de sua perniciosa influência.
Tais entidades espirituais, embora sejam tão invisíveis quanto às outras que afirmas te rondarem os passos, costumam ser mais presentes em tua existência que os pobres desencarnados que, indebitamente, rotulas de perturbadores, quando, na maioria das vezes, não passam de criaturas necessitadas de tuas preces.
De maneira sucinta, listaremos abaixo tais agentes das trevas que, habitualmente, se fazem mais presentes em teu dia a dia, sem que tomes qualquer providência para deles te libertar.
Ódio – sob a sua ação funesta és capaz de tomar atitudes altamente comprometedoras de tua paz e felicidade.
Inveja – a sua força pode ser tão avassaladora sobre ti que, debaixo de sua sugestão hipnótica, corres o risco de deixar de viver a tua própria vida para viver a vida dos outros.
Ciúme – no campo do relacionamento humano, já se perdeu a conta do número de vítimas feitas por esse espírito que tem o estranho poder de anular o discernimento de quem por ele é possuído.
Egoísmo – exige exclusividade e, igualmente, não se sabe quantos por ele vivem em regime de completa subjugação moral, a ponto de anular quase todas as possibilidades de crescimento espiritual da criatura a que se enlaça.
Desânimo – atuando com sutileza, suscita infindáveis questionamentos a respeito do que vale ou deixa de valer a pena, em matéria de esforço, e, não raro, se transfigura em depressão e descrença.
Revolta – a dor que esta entidade costuma provocar na alma em que se aloja é tão grande, que, infelizmente, só poderá ser desalojada com o auxílio de uma dor maior ainda.
Ociosidade – aparentemente inofensivo, porém, autêntico lobo em pele de ovelha, este obsessor é o que mais bem sabe se disfarçar e, assim, enganar aqueles que se comprazem em sua companhia.
Ambição – dos agentes das trevas, este, talvez, seja o mais inconsequente de todos, porque, em verdade, enquanto não leva a sua vítima para o túmulo não lhe concede trégua.
Muitos outros obsessores deste naipe, em falanges inumeráveis, óbvio, poderiam ser aqui ainda listados: orgulho, desfaçatez, sensualidade, cupidez, mentira, maledicência, leviandade...
Não obstante, crendo ter cumprido com o papel de denunciá-los, vamos parando por aqui, não sem antes afirmar que estes quadros de obsessão, para os quais quase ninguém cogita de tratamento espiritual sério, através, principalmente, da desobsessão no trabalho da Caridade, são os responsáveis por 90% dos desastres cuja culpa os homens encarnados acham muito mais fácil atribuir aos infelizes desencarnados que, também, tombaram sob o seu talante.

INÁCIO FERREIRA

Uberaba – MG, 4 de março de 2013.

quinta-feira, 7 de março de 2013

III - O QUE SE PODE TRANSFORMAR INTIMAMENTE- Vícios

01 - OS VÍCIOS
"Entre os vícios, qual o que podemos considerar radical?- Já o dissemos muitas vezes: o egoísmo. Dele se deriva todo o mal Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos existe egoísmo. Por mais que luteis contra eles, não chegareis a extirpá-los enquanto não os atacardes pela raiz, enquanto não lhes houverdes destruído a causa. Que todos os vossos esforços tendam para esse fim, porque nele se encontra a verdadeira chaga da sociedade. Quem nesta vida quiser se aproximar da perfeição moral, deve extirpar do seu coração todo sentimento de egoísmo, porque o egoísmo é incompatível com a justiça, o amor e a caridade: ele neutraliza todas as outras qualidades. " (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro. Capitulo XII. Perfeição Moral. Pergunta 913.)

Vamos ao encontro de alguns dos condicionamentos e dependências os seres humanos apresentam mais comumente. Certamente o conhecimento desses vícios nos colocará em confronto com eles e nos dará ensejo a uma aferição de como estamos situados os homens em geral. Ninguém, na nossa sociedade, é criticado, ou rejeitado, pelo fato de fumar, beber, jogar, comer bem ou ter suas aventuras sexuais. Tudo isso já foi até mesmo consagrado como natural e, portanto, aceito amplamente como "costumes da época".
Estamos alheios aos perigos e às consequências que os citados hábitos nos acarretam. Além disso, os meios de comunicação estão abertos, sem restrições, à propaganda envolvente e maciça que induz a humanidade ao fumo, ao álcool, ao jogo, à gula e ao sexo. É inacreditável como a sociedade parece se deixar mansamente conduzir, sem a menor reação coletiva, a tão perniciosos incentivos, difundidos por todos os meios.

Em alguns países já há restrições à propaganda de bebidas alcoólicas e de marcas de cigarros, o que representa alguma reação a esses produtos de consumo. No entanto, são igualmente produtos de consumo as revistas e os filmes que exploram o uso indiscriminado das funções sexuais e estimulam o erotismo, produtos esses que se constituem em agentes contaminadores do comportamento moral do homem, que nos induzem ao viciamento das idéias pelo desejo de satisfações ilusórias, fragmentando a resistência ao prazer inconsistente e enfraquecendo os laços das uniões conjugais bem formadas.

Os chamados "hotéis de alta rotatividade" multiplicam-se nos arredores das capitais brasileiras, comprovando a crescente onda da "liberdade sexual", resultado da enganosa suposição de que todas as nossas insatisfações possam ser solucionadas apenas por atos sexuais. Deixamos de abordar aqui o problema dos tóxicos, que são disseminados principalmente entre os jovens, levando-os às mais trágicas e dolorosas experiências, enquanto enriquecem as secretas organizações que manipulam o submundo dos traficantes. Explorados são os moços, precisamente no que diz respeito aos seus desajustes e carências, iludidos por aqueles aproveitadores que os enganam, oferecendo soluções fáceis, acorrentando-os em processos difíceis de recuperação.

Outro entorpecente e agente enganoso do homem é o jogo. O que se tem arrecadado das loterias demonstra o nível de preocupação do nosso trabalhador, que busca fora de si a sorte e o enriquecimento rápido. Ficam a imaginar em detalhes o que seria feito com o dinheiro ganho, centralizando nele a razão principal do que se pode pretender na vida. Mais sonhos e quimeras que apenas alimentam as consciências inadvertidas, desconhecedoras de que as dificuldades existem para desenvolver as potencialidades do nosso espírito, a capacidade de lutar e vencer com esforço próprio. Raramente encontramos campanhas ou propagandas esclarecedoras dos malefícios do fumo, do álcool, do jogo, da gula, dos abusos do sexo e dos prejuízos do tóxico.

Condicionada como está a tantos vícios, de que modo entrará a humanidade na nova fase do progresso moral preceituada por Kardec?
É impraticável conciliar aquele ensinamento com a enorme propagação dos vícios, que envolve cada vez mais as criaturas de todas as idades, incentivando os prazeres individuais sem qualquer senso de responsabilidade e nenhuma preocupação com suas consequências. Parece-nos sensato que deveríamos esperar exatamente o contrário, isto é, a crescente valorização dos homens pelos exemplos no bem e nas atitudes nobres, compatíveis com um clima de respeito ao próximo, de solidariedade humana, de zelo ao patrimônio orgânico e ao manancial de energias procriadoras que detemos.

Numa análise realista, para mudar os rumos da humanidade nesses dias em que pouco se entende da natureza espiritual do homem e da sua destinação além-túmulo, é de se esperar grandes transformações. Mas de que forma? Será que esse desejado progresso moral cairá dos céus sem qualquer esforço nosso? É evidente que será edificado pelos homens de boa vontade, pelos trabalhadores das últimas horas, pelos poucos escolhidos dos que possam restar dos muitos já chamados, pelos Aprendizes do Evangelho que resistirem ao mal e souberem enfrentar não mais as feras e as fogueiras dos circos romanos, porém as feras dos próprios instintos animais e o fogo da agressividade que precisamos atenuar, controlar e transformar.

E para superarmos os defeitos mais enraizados no nosso espírito precisamos fortalecer a nossa vontade, iniciando com a luta por eliminar os vícios mais comuns. Ninguém conseguirá vencer essa batalha se não estiver se preparando para enfrentá-la. Essa condição, no entanto, não se consegue sem trabalho, sem testemunho da vontade aplicada. É, sem dúvida, conquista individual que se pode progressivamente cultivar.

A - A IMAGINAÇÃO NOS VÍCIOS

A criatividade representa, no ser inteligente, um dos seus mais importantes atributos. Pela imaginação penetramos nos mais insondáveis terrenos das idéias. Dirigimos vôos ao infinito, descobrimos os véus no mundo da física, da Química, da Anatomia, da Fisiologia, fazemos evoluir as Ciências, criamos as invenções, desenvolvemos as artes e constatamos o espírito. Essa imaginação, por outro lado, tem sido mal conduzida pelo homem, tanto de modo consciente quanto por desejos inconscientes, levando-o a muitos dissabores, contrariedades, sofrimentos e outras consequências graves.

A capacidade mental do homem está condicionada ao alcance da sua imaginação e ao uso que dela faz no seu mundo íntimo. A faculdade de pensar apresenta uma característica dinâmica, que nos proporciona, pelas experiências acumuladas, a percepção sempre mais ampla da nossa realidade interior e do mundo que nos cerca, num crescente evoluir. Desse modo, as nossas experiências, em todas as áreas, servem de referência para novas e constantes mudanças. Nunca regredimos. Quando muito, momentaneamente estacionamos em alguns aspectos particulares, mas nos demais campos de aprendizagem realizamos avanços. É como num ziguezague mais ou menos tortuoso que vamos caminhando na nossa trajetória evolutiva, porém sempre na direção do tempo, que jamais se altera no sentido do seu avanço.

O homem, pela sua imaginação, cria as suas carências, envolve-se nos prazeres, absorve-se nas sensações e perde-se pelos torvelinhos do interesse pessoal. Cristaliza-se, por tempos, nos vícios que a sua própria inteligência criou, necessidades da sua condição inferior, que ainda se compraz nos instintos, reflexos da animalidade atuante em todos nós encarnados. O ser pensante sabe os males que lhe causam o fumo, o álcool, o jogo, a gula, os abusos do sexo, os entorpecentes, embora proporcionem instantes de fictício prazer e preenchimento daquelas necessidades que a sua mente plasmou.

Tornam-se, então, hábitos repetitivos, condicionamentos que comodamente aceitamos muitas vezes sem quaisquer reações contrárias. Quem conseguiria justificar com razões evidentes as necessidades de fumar, de beber, de jogar, de comer demasiado, e da prática livre do sexo? O organismo humano se adapta às cargas dos tóxicos ingeridos e o psiquismo fixa-se nas sensações. Na falta delas, o próprio organismo passa a exigir, em forma de dependências, as doses tóxicas ou as cargas emocionais às quais se habituara, e a criatura não consegue mais libertar-se; fica viciada. Sente-se, então, incapaz de agir e prossegue sem esforço, contaminando o corpo e a alma, escravizando-se inapelavelmente aos horrores do desequilíbrio e da enfermidade.

Transfere da vida presente para a subsequente certos reflexos ou impregnações magnéticas que o perispírito guarda pelas imantações recebidas do próprio corpo físico e do campo mental que lhe são peculiares. As predisposições e as tendências se transportam, de alguma forma, para a nova experiência corpórea e, nessas oportunidades de libertação que nos são oferecidas, muitas vezes sucumbimos aos mesmos vícios do passado distante. Admitimos, à luz do Espiritismo, um componente reencarnatório nos vícios, o que de certa forma esclarece os casos crônicos e patológicos provocados pelo fumo, álcool, gula, jogo e pelas aberrações sexuais. Raramente estamos sozinhos nos vícios. Contamos também com as companhias daqueles que se servem dos mesmos males, tanto encarnados como desencarnados, em maior ou menor intensidade de sintonia, funcionando como fator de indução à prática dos vícios que ambos usufruem.
Muitas vezes podemos querer deixar tal ou qual vício, mas aquelas companhias nos sugestionam, persuadem e induzem. Como "amigos" do nosso convívio, apelam diretamente, convencendo-nos e arrastando-nos. Como entidades espirituais, agem hipnoticamente no campo da imaginação, transmitindo as ondas magnéticas envolventes das sensações e desejos que juntos alimentamos. Desse modo, ao iniciar o trabalho de extirpar os vícios, podemos estar dentro de um processo em que os três componentes abordados se verifiquem, ou seja: a própria imaginação e o organismo condicionados, a tendência reencarnatória e a persuasão das companhias visíveis e invisíveis.

B - A TENTAÇÃO NOS VÍCIOS

A somatória dos três componentes citados apresenta-se ao nosso intimo sob a forma de tentações. Interpretamos as tentações como sendo as manifestações de desejos veementes, de impulsos incontidos, a busca desesperada de prazeres ou necessidades que sabemos serem prejudiciais, mas que não estamos suficientemente fortes para conter. As tentações podem surgir em algumas circunstâncias como pela primeira vez, e podem repetir-se por muitas vezes, naqueles estados de ansiedade em que somos irresistivelmente impulsionados a cometer engimos para satisfazer desejos. As primeiras tentações estão, quase sempre, mescladas com a curiosidade, com o desejo de experimentar o desconhecido. Nesses casos, a influência dos já experimentados é, na maioria das vezes, o meio desencadeante dos vícios.
Alguém nos leva a praticá-los pela primeira vez quando assim cedemos às primeiras tentações. Esse procedimento é comum nos fumantes, nos alcoólatras, nos jogadores de azar, nos drogados, nos masturbadores. É a imitação que dá origem ao hábito, costume ou vício. Devemos considerar que todos nós somos tentados aos vícios e a muitos outros comprometimentos morais. Podemos ceder às tentações, mas a partir dos primeiros resultados colhidos nas experiências praticadas podemos nos firmar no propósito de não repeti-las e de não chegarmos à condição de viciados. Há também incontáveis ocasiões em que as tentações nem chegam a nos provocar, porque simplesmente não encontram eco dentro de nós. Isto é, já atingimos um nível de amadurecimento ou de consciência em que já não nos sintonizamos mais com aquelas categorias de envolvimentos ou de atrações. Não sentimos necessidade de experimentar o que possam nos sugerir; já nos libertamos, de alguma forma.

C - QUAL O NOSSO OBJETIVO?

Indiscutivelmente, todos nós colhemos, no sofrimento, os frutos amargos dos vícios, cedo ou tarde. Aí, na maioria, as criaturas despertam e começam a luta pela sua própria libertação. Não precisamos, porém, chegar às últimas consequências dos vícios para iniciar o trabalho de auto-descondicionamento. Podemos ganhar um tempo precioso e deliberadamente propormo-nos o esforço de extirpá-los de nós mesmos. É uma questão de ponderar com inteligência e colocar a imaginação a serviço da construção de nós mesmos. Esse é o nosso objetivo: compreender razoavelmente as características dos vícios e buscar os meios para eliminá-los.

Perguntamos: O que o amigo leitor acha que é fundamental em qualquer processo de conquista individual? É o querer? É a vontade posta em prática?É a ação concretizando o ideal?

Primeiro, perguntemos a nós mesmos se queremos deixar mesmo de fumar, de beber, de jogar, e se desejamos controlar a gula, o sexo.

E por quê? Temos razões para isso? O que nos motiva a iniciar esse combate? Será apenas para sermos bonzinhos? Ou teremos razões mais profundas? É claro que sabemos as respostas. O que ainda nos impede de assumirmos novas posições é o apego às coisas materiais, aos interesses pessoais, que visam a satisfazer os nossos sentidos físicos, digamos periféricos, ainda grosseiros e animais, indicativos de imperfeições. É uma questão de opção pessoal, livre e disposta a mudanças. A vontade própria poderá ser desenvolvida, até com pouco esforço; não será esse o problema para a nossa escolha. A questão é decidir e comprometer-se consigo mesmo a ir em frente.

Comecemos, então, por eliminar os vícios mais comuns, aqueles já citados, de conhecimento amplo e de uso social, que apresentaremos detalhadamente nos capítulos seguintes. Coloquemo-nos em posição de renunciar aos enganosos prazeres que os mesmos possam estar nos oferecendo e lutemos! Lutemos com todo o nosso empenho e não voltemos atrás!

D - FAÇA SUA AVALIAÇÃO INDIVIDUAL

1. Sente-se irresistivelmente condicionado a algum vício?
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2. Sofre as consequências maléficas que os mesmos provocam?
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3. Já tentou libertar-se voluntariamente de algum desses vícios?
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4. Analise como começou neles e conclua:

— Por livre desejo?
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- Por sugestão de alguém?
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5. Quando tentado a experimentar algum dos vícios sociais, cede facilmente?
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6 -. Percebe, por vezes, a sua imaginação articulando sensações que o satisfazem ao alimentá-las?
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7 - Já pensou que esse tipo de imaginação nos predispõe a cometê-las?
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8 - Tem dificuldades em afastar da mente os devaneios e os pensamentos ligados a prazeres íntimos?
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9 - Já chegou a compreender a necessidade de eliminar os vícios?
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10 - Acha que poderá com o próprio esforço deles se libertar?

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Ney P. Peres

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A AVAREZA




Dissertação moral ditada por São Luís à Srta. Ermance Dufaux.

6 de janeiro de 1858

1

Tu que possuis, escuta-me. Um dia dois filhos do mesmo pai receberam cada um seu alqueire[1] de trigo. O mais velho fechou o seu num lugar retirado. O outro encontrou no caminho um pobre que pedia esmolas, correu para ele a despejar em seu manto a metade do trigo que recebera. Depois, seguiu seu caminho e foi semear o resto no campo paterno.
Por esse tempo veio uma grande fome e as aves do céu morriam à beira dos caminhos. O irmão mais velho correu ao seu esconderijo, mas ali só encontrou poeira. O caçula ia tristemente contemplar seu trigo seco no pé, quando deparou com o pobre que havia ajudado. - Irmão, disse-lhe o mendigo, eu estava morrendo e tu me socorreste; agora que a esperança secou em teu coração, segue-me. Teu meio alqueire rendeu cinco vezes em minhas mãos. Matarei a tua fome e viverás em abundância.

2

Escuta-me, avarento! Conheces a felicidade? Sim, não é? Teus olhos brilham com reflexos sombrios nas órbitas que a avareza tornou mais profundas; teus lábios se cerram; tuas narinas se dilatam e teus ouvidos ficam atentos. Sim, eu escuto: é o tinir do ouro que tua mão acaricia, ao se derramar no teu escaninho. Tu dizes: que suprema volúpia! Silêncio, vem gente! Fecha depressa! Oh! Como estás pálido! Teu corpo todo estremece. Domina-te! Os passos se afastam. Abre! Olha ainda o teu ouro. Abre! Não tremas. Estás perfeitamente só. Ouves? Não é nada. É o vento que geme nas frestas. Olha! Quanto ouro! Mergulha as mãos; faze soar o metal. Tu és feliz.
Feliz, tu! Mas a noite não te dá repouso, e teu sono é povoado de fantasmas.
Tens frio! Aproxima-te da lareira. Aquece-te a esse fogo que crepita tão alegremente. Cai neve; o viajante friorento envolve-se em seu manto; o pobre tirita sob os andrajos. A chama da lareira diminui; atira mais lenha. Não; para! É o teu ouro que consomes com essa madeira; é o teu ouro que queimas!
Tens fome! Olha, toma, sacia-te. Tudo isto é teu. Pagaste com o teu ouro. Com o teu ouro! Esta abundância te revolta; este supérfluo será necessário para manter-se a vida? Não, este pedaço de pão será bastante; ainda é muito. Tuas roupas caem em frangalhos; tua casa se fende e ameaça ruína; sofrerás frio e fome; mas que importa! Tens ouro!
Infeliz! A morte vai separar-te deste ouro. Deixá-lo-ás à borda de teu túmulo, como a poeira que o viajante sacode à soleira da porta, onde a família querida o espera para festejar o regresso.
Teu sangue enfraquecido, envelhecido por tua voluntária miséria, gelou-se em tuas veias. Os herdeiros ávidos atiram teu corpo a um recanto de cemitério; eis-te face a face com a eternidade. Miserável! Que fizeste desse ouro que te foi confiado para aliviar o pobre? Ouves estas blasfêmias? Vês estas lágrimas? Vês este sangue? São as blasfêmias dos sofrimentos que terias podido acalmar; são as lágrimas que fizeste correr; é o sangue que derramaste. Tens horror a ti mesmo; desejarias fugir e não podes. Sofres, desesperado! Tu te contorces no teu sofrimento. Sofre! Não haverá compaixão para contigo! Não tiveste entranhas para o teu irmão infeliz. Quem teria para ti? Sofre! Sofre sempre! Teu suplício não terá fim. Para te punir, Deus quer que assim o creias.

ORSERVAÇÃO: Ouvindo o fim destas eloquentes e poéticas palavras, estávamos surpreendidos por ouvir São Luís falar da eternidade dos sofrimentos, quando todos os Espíritos superiores são concordes em combater tal crença, quando as últimas palavras: para te punir, Deus quer que assim o CREIAStudo explicaram. Nós as reproduzimos nos caracteres gerais dos Espíritos da terceira ordem. Com efeito, quanto mais imperfeitos os Espíritos, mais restritas e circunscritas as suas ideias. Para eles o futuro é vago, e não o compreendem. Eles sofrem; seus sofrimentos são longos, e para quem sofre há muito tempo, isto é sofrer sempre. Este pensamento, por si só, é um castigo.
Num próximo artigo citaremos fatos de manifestações que poderão esclarecer-nos quanto à natureza dos sofrimentos de além-túmulo. (Publicada na Revista Espírita de fevereiro de 1858).

[1] No francês: “boisseau” - Antiga medida de capacidade para grãos e outros sólidos granulados, equivalente a aproximadamente 36 litros. (N.T)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

VELHA SOMBRA:"Em muitas ocasiões, a própria palavra é um asilo à preguiça despistadora, que se envolve no verbalismo fulgurante, para continuar arrojada à inutilidade e à prostração..."


Emmanuel
A grande e velha sombra que oculta habitualmente a candeia bruxuleante de nossa fé, muitas vezes, se exprime na espessa neblina da ociosidade mental, que nos entorpece os melhores impulsos para a construção do bem.
- o -
Preguiça de pensar com a própria cabeça...
Preguiça de sentir com o próprio coração...Preguiça de auxiliar...
Preguiça de fazer...
Preguiça de aprender...
Preguiça de ensinar...
- o -
Não acredites que bastaria a confissão em Cristo para dar aos outros o necessário testemunho de comunhão com o Evangelho de Amor e Luz.
- o -
Em muitas ocasiões, a própria palavra é um asilo à preguiça despistadora, que se envolve no verbalismo fulgurante, para continuar arrojada à inutilidade e à prostração.
- o -
Que a nossa frase se estenda em abençoada luz, revelando o Eterno Benfeitor que nos rege os destinos, mas que não nos exonere do dever do exemplo vivo, de vez que apenas na linguagem convincente das obrigações corretamente cumpridas é que seremos entendidos pelos companheiros de jornada no grande caminho da evolução.
- o –
Dissipemos o nevoeiro da preguiça que nos esconde o ideal de servir e avancemos, com diligência, no terreno da ação.
- o -
Evitemos seja colocada a lâmpada de nosso conhecimento sob o antigo velador do desculpismo e, exumando os braços e os recursos que estejamos conservando no frio da inércia, façamos da inteligência o arado de nosso amor, unindo cérebro e coração, alma e corpo, vida e entendimento, na construção da verdadeira fraternidade sobre a Terra, na certeza de que somente pelo trabalho incansável no bem é que nos transformaremos em instrumentos vivos nas realizações do Senhor.

Livro: Moradia de Luz

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

MULTIDÃO E JESUS


A multidão! Sempre o Senhor esteve visitado pela multidão.

A multidão, porém, são as chagas sociais, as dores superlativas, as agonias e decepções, as lutas e angústias, as dificuldades.

Em toda parte o Mestre esteve sempre cercado pela multidão.

Através das Suas mãos perpassavam as misericórdias, as blandícias, manifestava-se o amor. . .

O seu dúlcido e suave olhar penetrava a massa amorfa sob a dor repleta de aflitos e ansiosos lenindo as desesperações e angústias que penetram as almas como punhais afiados e doridos.

A multidão são o imenso vale de mil nonadas e muitas necessidades humanas mesquinhas, onde fermentam os ódios, e os miasmas da morte semeiam luto e disseminam a peste em avalanche desesperadora num contágio de longo porte. . .

Ele viera para a multidão, que somos todos nós, os sedentos de paz, os esfaimados de justiça, os atormentados pelo pão do corpo e na alma. ..

Todos os grandes Missionários desceram das altas planuras para as multidões que são o nadir da Humanidade.

Por isto sempre encontraremos Jesus cercado pela multidão.
Ele é paz.

Sua presença acalma, diminuindo o fragor da batalha, amainando guerras de fora quanto conflitos de dentro.

Ele é amor.

O penetrar do seu magnetismo dulcifica, fazendo que os valores negativos se convertam em posições refletidas, em aquisições de bênçãos.

Quando Ele passa, asserenam-se as ansiedades. Rei Solar, onde esteja, haverá sempre a claridade de um perene amanhecer.
Ele tomara a barca com os Amigos do ministério e vencera o mar na serenidade do dia.

As águas tépidas, aos ósculos do Astro-rei, refletem o céu azul de nuvens brancas e garças. . .

Há salmodias que cantam no ar, expectativas que dormem e despertam nos espíritos. . .

Chegando às praias de Genesaré, a notícia voa nos pés alígeros da ansiedade e a multidão se adensa. ..

As informações se alargam pelas aldeias vizinhas, pelos povoados ribeirinhos. . .

Todos trazem os seus. . . Os seus pacientes, familiares e conhecidos, problemas e querelas. . .

Exibem chagas purulentas, paralisias, dificuldades morais, misérias e tormentos de toda espécie.

Obsessos ululam e leprosos choram, cegos clamam e surdos-mudos atordoam-se.

A atroada dos atropelos que o egoísmo desatrelado produz, a inquietação individual, o medo de perder-se a oportunidade tumultua todos, os semblantes se angustiam, os ruídos se fazem perturbadores, enquanto Ele, impávido, sereno, acerca-se e toca, deixando-se tocar. . .

Transfiguram-se as faces, sorriem os rostos antes deformados, inovimentam-se os membros hirtos e os sorrisos, em lírios brancos ngastados nas molduras dos lábios arroxeados, abrem-se, exaltam o Rabi, cantam aleluias.

A música da saúde substitui a patética da enfermidade, a paz adorna a fronte fatigada dos guerreiros inglórios.

Partem os que louvam, chegam os que rogam. . .

Há silêncios que se quebram em ribombar de solicitações contínuas. Há vozes que emudecem na asfixia das lágrimas.

Das fímbrias das suas vestes, que brilham em claridade desconhecida, desprendem-se as virtudes e estas curam, libertam, asserenam, felicitam. . .

Genesaré encontra o seu apogeu, encanta-se com o Profeta. . . O Rabi, o Aguardado, reveste-se de misericórdia e todos exultam.

Narram os evangelistas que naquela visita à cidade formosa e humilde ocorreram todos os milagres que o amor produz.

No entanto, por cima de tais expectativas e conquistas transitórias, Jesus alonga o olhar para o futuro e descortina, além dos painéis porvindouros, a Nova Humanidade destituída das cangas atribulatórias, constringentes e justiçadoras com que o homem se libera, marchando na direção do Pai.

Até este momento, o Senhor sabe que os homens ainda são as suas necessidades imediatas e tormentosas em cantochões de agonia lenta. . .

Por muitos séculos soarão as vozes das multidões necessitadas e torpes, no festival demorado das lágrimas.
Mesmo hoje, evocando os acontecimentos de Genesaré, defrontam-se as multidões buscando as soluções imediatas para o corpo, no pressuposto de que estão tentando atender o espírito exculpando-se das paixões, aparentando manter os compromissos com Jesus mediante um comércio infeliz para com as informações e conquistas imperecíveis. . .

Cristianismo, todavia, é Jesus em nós, insculpido no santuário dos sentimentos, esflorando esperança e fé.

Atendamos à enfermidade, à viuvez, ao abandono, à solidão e à fome sem nos esquecermos de que, revivendo o Mestre Insuperável, os Imortais que ora retornam, buscam, essencialmente, libertar o homem de si mesmo, arrebentando os elos escravocratas que os fixam às mansardas soezes do primitivismo espiritual de cada um, a fim de alçá-lo à luz perene e conduzi-lo às praias da nova Genesaré do amor, onde Ele, até hoje, espera por todos nós, a aturdida multidão de todos os tempos.

(*) Mateus 14:34-36. Marcos 6:53-56. (Notas da Autora espiritual).
Amélia Rodrigues
Livro: Quando voltar a Primavera

sábado, 15 de dezembro de 2012

A TENTAÇÃO DO REPOUSO


Num campo de lavoura, grande quantidade de vermes desejava destruir
um velho arado de madeira, muito trabalhador, que lhes perturbava os planos
e, em razão disso, certa ocasião se reuniram ao redor dele e começaram a
dizer:
— Por que não cuidas de ti? Estás doente e cansado...
— Afinal, todos nós precisamos de algum repouso ...
— Liberta-te do jugo terrível do lavrador!
— Pobre máquina! A quantos martírios te submetes!...
O arado escutou... escutou... e acabou acreditando.
Ele, que era tão corajoso, que nem sentia o mais leve incômodo nas mais
duras obrigações, começou a queixar-se do frio da chuva, do calor do Sol, da
aspereza das pedras e da umidade do chão.
Tanto clamou e chorou, implorando descanso, que o antigo companheiro
concedeu-lhe alguns dias de folga, a um canto do milharal.
Quando os vermes o viram parado, aproximaram-se em massa, atacandoo
sem compaixão.
Em poucos dias, apodreceram-no, crivando-o de manchas, de feridas e de
buracos.
O arado gemia e suspirava pelo socorro do lavrador, sonhando com o
regresso às tarefas alegres e iluminadas do campo...
Mas, era tarde.
Quando o prestimoso amigo voltou para utilizá-lo, era simplesmente um
traste inútil.
A história do arado é um aviso para nós todos.
A tentação do repouso é das mais perigosas, porque, depois da
ignorância, a preguiça é a fonte escura de todos os males.
Jamais olvidemos que o trabalho é o dom divino que Deus nos confiou
para a defesa de nossa alegria e para a conservação de nossa própria saúde.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

INIMIGO REAL


Emmanuel
  
Geralmente, todos os nossos adversários, no fundo, são nossos instrutores.
-0-
À maneira do martelo que, tangendo a pedra, acaba aperfeiçoando-lhe a beleza, aquele que se coloca em oposição à nossa maneira de crer, sentir ou pensar, freqüentemente é fator de estímulo à elevação de nossos dotes pessoais.
-0-
O invejoso, invariavelmente, ensina-nos a prudência, o despeitado nos induz ao aprimoramento próprio.
O caluniador nos auxilia a marchar no caminho reto e o perseguidor gratuito nos auxilia a perseverar no bem.
-0-
 Assim, então, se um inimigo poderoso devemos identificar junto de nós, na estrada do mundo - inimigo que nos arma as piores ciladas e nos constrange a cair nas mais escuras armadilhas do remorso e da dor - esse é o nosso próprio Eu, adversário terrível de nossa verdadeira felicidade, sempre imantado à concha de sombras em que se refugia, sob as paredes da indiferença.
-0-
Combatamos a nós mesmos cada dia, em nome do bem que abraçamos.
-0-
Não vale afirmar sem exemplo, nem sonhar sem trabalho.
-0-
Adquirir conhecimentos superiores para adorá-los com o incenso de nosso personalismo é transformar a vida em êxtase delituoso, quando a Terra nos pede rendimento de esforço para a obra do Bem Infinito.
-0-
 Guerreemos o inimigo que se oculta, armado de astúcias mil na fortaleza de nossa animalidade multissecular, dando caça às suas manifestações de inferioridade, com os dissolventes da compreensão, do trabalho, da bondade e do amor e asfixiando-lhe o ignominioso comando, que tantas vezes nos tem arrojado aos despenhadeiros do crime das reparações dolorosas, ouçamos, nas torres de nossa alma, a voz do Cristo, o único mentor capaz de conduzir-nos à bênção íntima da imperecível libertação.

(De “Indulgência”, de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel)

sábado, 27 de outubro de 2012

Escravo do Pecado


Rodolfo Calligaris
“Dizia Jesus aos judeus que nele creram: se permanecerdes na minha palavra sereis verdadeiramente meus discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.
Responderam eles: Somos descendentes de Abraão e em nenhum tempo fomos havia motivos para preocupar-se.
Chocado e envergonhado, o soberbo rapaz disse:
- Oh, cara, eu lamento muito.
- Então, em memória de minha filha, eu, orgulhosamente, também uso esta pequena faixa rosa. Através dela, tenho tido oportunidades de elucidar as pessoas. Agora, vá para casa e converse escravos de alguém; como dizes tu que viremos a ser livres?
Retorquiu Jesus: Em verdade, em verdade vos digo, que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado.”
(João, 8:31-34.)
Há quem imagine, baseado na letra de um ou outro texto escriturístico, que para salvar-se nenhuma outra coisa se faz necessária ao homem senão que ele creia em Jesus-Cristo.
“Crer em Jesus”, na opinião de tais criaturas, é aceitar como regra de fé que a “efusão do sangue generoso do Justo tem o poder de lavar todos os pecados do crente”.
Argumentam, conseqüentemente, que as boas obras são Jesus) não são filhos de Deus, mas sim filhos do Diabo, pré-condenados à perdição eterna, etc.
Quer-nos parecer, entretanto, que a lídima Doutrina Cristã é bem diferente.
Haja vista que, no lanço em epígrafe, Jesus se dirige a alguns dos que creram nele e, longe de acenar-lhes com privilégios especiais, diz-lhes claramente que só há um modo de se darem a conhecer como discípulos seus: “permanecerem na sua palavra”, isto é, seguirem-no fielmente imitando-lhe a vida de serviço em favor dos semelhantes.
Seus ensinos, calcados no amor a Deus ao próximo, são a mais pura expressão da Verdade. Conhecê-los e exercitá-los significa, pois libertar-nos da ignorância, da superstição e d egoísmo, que geram o sofrimento, ganhando aquele estado de alegria e de paz interior que caracteriza “o reino dos céus”.
A condição sine qua non para nos incluirmos entre aqueles definidos na segunda oração do versículo 31: “sereis verdadeiramente meus discípulos”, deu-a o Mestre na primeira: “SE permanecerdes na minha palavra”. Não há, por tanto, como sofismar: só é cristão, efetivamente aquele que permanece fiel à palavra do Nazareno, amando e servindo ao próximo, como que rena ser amado e servido.
A confirmação desta exegese, temo-la em profusão por todo o Evangelho, notadamente neste outro tópico de João (13:34-35), onde o Cristo nos diz: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros tanto como eu vos amei. NISTO (Em vos amardes uns aos outros) conhecerão todos que sois meus discípulos.”
Os recém-conversos não entenderam, porém, de pronto, a que tipo de libertação o Mestre se referia, e daí o lhe terem respondido daquele jeito: “nunca fomos escravos de ninguém; como, pois, nos dizes que seremos livres ?“
Ensinando-lhes, então, que “todo aquele que comete pecado é escravo do pecado”, Jesus reafirma a Lei de Causa e Efeito, que caberia ao Espiritismo elucidar minuciosamente, segundo a qual cada um se faz responsável pelos maus atos que pratique, devendo expiá-los na medida exata dos agravos ou danos causados a outrem.
Somos livres na semeadura do Bem ou do Mal; todavia, uma vez feita a escolha, as boas ou más conseqüências serão a “colheita obrigatória” daquilo que houvermos feito.
Se a opção foi pelo Bem, ficamos com um crédito da mesma espécie, que se manifestará infalivelmente em nossa vida, em moedas de bênçãos e felicidades; se, entretanto, a opção foi pelo Mal, ficamos necessariamente em débito com a Justiça Divina (escravos do pecado cometido), sendo que, neste caso, o preço do resgate se expressará em dores e aflições proporcionais ao que fizemos sofrer.
Se isso não se der na mesma existência, dar-se-á em outra ou outras, mas, de forma nenhuma ficaremos impunes, eis que “aquilo que o homem semear, isso mesmo há-de colher”.
Assim, pois, o fato de alguém pertencer a esta ou àquela religião, não o isenta, absolutamente, do cumprimento das Leis de Deus; pelo contrário, quanto melhor as conheça e compreenda tanto maior sua obrigação de observá-las, porque “a quem mais foi dado, mais lhe será pedido”.
(Revista Reformador – janeiro de 1965)

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

OS MALEFÍCIOS DA GULA


"A natureza não traçou o limite do necessário em nossa própria organização?
— Sim, mas o homem é insaciável.A natureza traçou o limite de suas necessidades na sua organização, mas os vícios alteraram a sua constituição e criaram para ele necessidades artificiais." (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro. Capítulo V. Lei de Conservação. Pergunta 716.)


"A alimentação animal, para o homem, é contrária à lei natural?
- Na vossa constituição física, a carne nutre a carne, pois do contrário o homem perece. A lei de conservação impõe ao homem o dever de conservar as suas energias e a sua saúde, para poder cumprir a lei do trabalho. Ele deve alimentar-se, portanto, segundo o exige a sua organização." (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro terceiro. Capítulo V. Lei de Conservação. Pergunta 723.)


O excesso na alimentação é vício igualmente nocivo ao nosso organismo. Imaginemos a sobrecarga de trabalho que os nossos órgãos são obrigados a desenvolver desnecessariamente, apenas para satisfazer o exagerado prazer da gustação. Todo excesso de trabalho leva ao desgaste prematuro, quer de uma máquina, quer dos órgãos físicos, ou do corpo somático na sua generalidade. O desenvolvimento avantajado e antiestético dos órgãos responsáveis pela digestão caracteriza o glutão.

A gula também é uma manifestação de egoísmo. A porção alimentar que poderia sustentar mais uma ou duas pessoas é totalmente digerida por apenas uma, com visível prejuízo para a coletividade. A quantidade necessária de proteínas, gorduras, sais minerais, etc., para manter o corpo físico, é mais ou menos a metade ou a terça parte daquilo que nós normalmente ingerimos. A nossa alimentação diária já é excessiva. Todos nós normalmente ingerimos mais do que o necessário; somos, em alguma proporção, glutões. As pessoas gordas vivem, de um modo geral, muito menos que as magras e, além disso, estão sujeitas a enfermidades com mais frequência. Grandes quantidades de alimentos deglutidos não significa ter boa saúde.

Teoricamente, a energia alimentar contida numa amêndoa seria suficiente para nos nutrir o dia inteiro, caso soubéssemos e estivéssemos em condições próprias para absorvê-las por completo. Para aproveitar as energias e os valores alimentícios durante as refeições, é necessário que tenhamos a mente tranquilizada e as emoções acalmadas, além de estarmos concentrados na absorção dos mesmos. Quando nas refeições ocorrem discussões e contrariedades, ingerimos mal, provocando perturbações estomacais e impregnamos os alimentos mastigados de vibrações negativas altamente perniciosas ao nosso espírito.

Embora consideremos as proteínas de origem animal importantes à nossa subsistência, a preferência pelos produtos naturais, como cereais, verduras, frutas, ovos, mel, leite e seus derivados, é no nosso entender mais condizente com a natureza da criatura que busca ascender espiritualmente.
Porém, sejamos realistas e não nos fanatizemos seguindo a alimentação frugal como objetivo de ascensão espiritual, pois não é o que entra pela boca que nos faz melhores, mas o esforço que empreendemos em fazer com que através dela saiam apenas palavras confortadoras, dóceis, construtivas.

As gorduras que se acumulam no nosso organismo em forma de triglicérides e colesterol, prejudiciais ao nosso sistema circulatório, devem ser minoradas, até como recomendação médica geral. O comer exagerado é um vício, quando não, um costume que criamos para satisfazer nosso próprio orgulho e o prazer de saborear incontidamente os deliciosos quitutes. É realmente atraente o prazer de comer bem. Quem faz os alimentos se esmera para ser elogiado, agrada-o bem servir socialmente.
Quem aproveita os alimentos não se contém; o sabor não estabelece limites, mais e mais vai sendo engolido. O processo sugestivo é também um meio para se libertar, porém a orientação alimentar para as pessoas excessivamente gordas ou descontroladas nesse sentido deve ser dada por médico especialista, pois o controle alimentar por conta própria pode provocar um desbalanceamento, com graves consequências.

O processo sugestivo entra como meio de reação ao vício. Quando o desejo e os estímulos exagerados do apetite, diante de suculentos pratos e bonitas travessas, nos impulsionam a comer desmedidamente, podemos reagir pensando nos futuros prejuízos ao nosso corpo e nas consequências nocivas ao nosso espírito. Procuremos sempre reagir aos excessos alimentares, contendo os impulsos da gula, principalmente aos domingos, quando procuramos descansar o corpo físico das sobrecargas semanais. Há um preceito que ensina: "devemos terminar as refeições com fome".

Assim fazendo, naturalmente aprenderemos a comer menos, absorvendo melhor as energias alimentícias através de uma atitude tranquila e de uma mentalização positiva nas qualidades substanciosas dos mesmos. Comendo pouco nos alimentamos muito: essa é a chave para adquirir o equilíbrio alimentar e vencer a gula.

sábado, 29 de setembro de 2012

5 - REMINISCÊNCIAS E TENDÊNCIAS



"As tendências instintivas do homem sendo uma reminiscência do seu passado, conclui-se que, pelo estudo dessas tendências, ele poderá conhecer as faltas que cometeu? — Sem dúvida, até certo ponto, mas é necessário ter em conta a melhora que se possa ter operado no Espírito e as resoluções que ele tomou no seu estado errante. A existência atual pode ser muito melhor que a precedente. "
(Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Capítulo VII. Retorno à Vida Corporal. Pergunta 398.)

"Sendo as vicissitudes da vida corpórea, ao mesmo tempo, uma expiação das faltas passadas e provas para o futuro, segue-se que, da natureza dessas vicissitudes, possa induzir-se o gênero da existência anterior? — Muito frequentemente, pois cada um é punido naquilo em que pecou. Entretanto, não se deve tirar disso uma regra absoluta; as tendências instintivas são um índice mais seguro, porque as provas que um Espírito sofre tanto se referem ao futuro quanto ao passado. "(Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Capítulo VII. Retorno à Vida Corporal. Pergunta 399.)


De que modo poderemos compreender melhor alguns traços ou disposições que parecem ser natos em nosso comportamento? -Certamente reconhecemos, por vezes, em nossa maneira de reagir, algumas manifestações que são típicas e que não temos nítida consciência do "porquê" de elas acontecerem incontroladamente. Essas manifestações podem estar contidas num enorme quadro de configurações de nossas reações interiores, assim chamadas predisposições, tendências, inclinações, pendores, impulsos compulsivos, e estão estreitamente relacionadas com os nossos hábitos e vícios, erros e defeitos.

O princípio da reencarnação, um dos fundamentos do Espiritismo, abre amplamente o entendimento dessas tendências instintivas, que constituem grande parte da atividade mental do homem, de forma inconsciente, incontrolada, impulsiva, irresistível. É muito grande o acervo de experiências marcantes que se gravaram em nosso espírito através das múltiplas reencarnações passadas, e que constitui o material adquirido e arquivado nas suas camadas magnéticas sutis.
Considerando-se a mente como nossa central geradora de forças, sediada no espírito, nela registram-se as impressões criadas nas experiências vividas em todas as épocas, de forma semelhante às trilhas magnéticas deixadas numa película plástica, ou como num computador eletrônico, que reúne incontáveis informações que permanecem guardadas por um processo de memorização (Memória de um aparelho computador, é a sua capacidade de processar, responder e guardar certo número de informações ou dados. O computador de fato processa informações ou dados, mas através do recebimento de informações. E também responde, emitindo os resultados. Porém, a "memória" do computador — para guardar dados - é externa ao aparelho, e se faz através de fitas, discos ou cartões).

Do mesmo modo, esses dados registrados na memória de certos aparelhos, quando indicam valores de carga acima ou abaixo de padrões estabelecidos, emitem sinais que vão provocar ações corretivas no complexo sistema de automatismos controladores, que podem regular o funcionamento de uma central abastecedora de energia elétrica, entre outros exemplos de aplicação. Ora, a nossa mente tem também o seu potencial de registro, de processamento e de resposta àquelas experiências vividas, que devem igualmente se acumular em microcamadas magnéticas sutis, inter-relacionadas, possivelmente em outras dimensões, capazes de reter sons, imagens, emoções, idéias.
Do mesmo modo, quando essas emoções e idéias ferem e comprometem certos padrões estabelecidos pelas leis morais, que constituem as leis divinas, ainda é a própria mente que, atingida no supraconsciente por aquelas perturbações do seu equilíbrio, vai emitir respostas corretivas em direção àqueles sulcos ou focos que permanecem em agitação enquanto não forem corrigidos: são os distúrbios, as desarmonias, distonias, inquietações, que a própria consciência guarda e acumula, superpondo no tempo os indeléveis registros carentes de renovação.

Aqueles pontos em desequilíbrio passam a comprometer o fluir normal das energias do espírito, criando tensões nas microcamadas magnéticas multidimensionais da mente, manifestando-se nas formas de afloramentos, de lampejos, de impulsos, que emergem das profundidades do inconsciente para o presente, de forma viva e atuante.

Para o espírito encarnado, condicionado ao novo equipamento orgânico e à atual programação reencarnatória, a lembrança daquelas experiências desagradáveis ficou momentaneamente submersa, e ele não se recorda, portanto, das ocorrências propriamente, mas elas agem, pois são de sua propriedade e foi a sua própria consciência que as registrou para voluntária ou compulsoriamente corrigi-las. Formam elas os processos e os conteúdos do nosso inconsciente e as suas manifestações acontecem de forma velada para o nosso consciente. Representam, assim, as reminiscências, que se caracterizam pelas tendências instintivas que trazemos.

Como poderemos, então, pelo conhecimento, no estudo e na análise dessas tendências, trabalhar voluntariamente para retificá-las, corrigindo os acontecimentos transgressores? O Prof. Carlos Toledo Rizzini, em seu livro Evolução para o Terceiro Milênio (Capítulo 5. Desequilíbrios. Enfermidades. Item 18. Impulsos; impulsos convulsivos), trata com detalhes dos mecanismos de atuação dessas tendências instintivas que o mestre Kardec indagou aos Espíritos, como indicativas das nossas faltas cometidas no passado (O Livro dos Espiritos. Pergunta 398).
Diz-nos Carlos Rizzini (Parágrafo 2): impulso é um "estado de excitação do sistema nervoso central, que surge em resposta a um estímulo interno ou externo, o qual poderá ser uma pessoa, uma cena, uma conversa, uma palavra, insultos, bebida, etc." e, assim, "originado por forças inconscientes, aparece, posto isso, na área do consciente"... "Inúmeras vezes não sabemos a que coisa o inconsciente reagiu tão fortemente, a ponto de criar um impulso, que será sentido em forma de súbita emoção ou comando imperioso".
O parágrafo 6 do já citado item 18, pela sua importância no objetivo de dilatar o entendimento pessoal para as manifestações intempestivas do nosso ser, é transcrito abaixo:

"Um impulso pode renascer muitas vezes, fazendo com que o sujeito sinta o choque emocional sem ter conhecimento consciente da situação desagradável que está representada em sua mente inconsciente. Ocorre, portanto, uma dissociação entre a emoção sentida e as imagens correspondentes. Estas permanecem ignoradas, enquanto aquela se liberta diante do novo fato que serve de estímulo, e vem afetar o consciente. Nesse caso, a pessoa, diante de outra ou de algum acontecimento, sente-se invadida por imperioso impulso de agredir, ofender, fugir, tremer, gritar, calar-se, etc., sem compreender a razão do que está se passando com ela, razão que jaz no inconsciente sob a forma de recordação completa de um evento semelhante (ou equivalente), desta ou mais comumente de outra vida. O que sobe ao consciente, por obra do estímulo, é parte da energia ligada às lembranças, a qual vai desencadear o estado emotivo incompreendido".

"Mediante a exposição acima, compreende-se que, conforme as experiências gravadas no espírito, uma pessoa mantenha-se calma diante de situações desagradáveis que envolvam certos indivíduos, e profundamente irritada em face de outras sem importância, mas relacionadas com determinadas pessoas. E. G., o pai que não ouve o insulto de um filho e zanga-se com outro porque se atrasou cinco minutos para o jantar. Uns fatos atingem porções sensibilizadas do inconsciente (ou agitam certos conteúdos dele), e outros não encontram ressonância ali."

Diante dos vários estímulos que — no convívio com familiares, colegas de trabalho e pessoas em sociedade — podem desencadear os impulsos decorrentes de ódios, vinganças, orgulho ferido, inveja, ciúmes, personalismo, intolerâncias, impaciências, urdidos do passado, temos duas opções: 1° o perdão que corrige o desequilíbrio provocado na própria consciência e harmoniza o espírito com as leis divinas; e 2° a repetição do erro, que intensifica e agrava a transgressão, mantendo-nos infelizes e presos a resgates compulsórios em novas experiências, nessa ou em outra existência.

Essas tendências que trazemos de nascença, refletem a nossa realidade espiritual, estão ligadas à nossa história evolutiva, encerram a verdade que cada um traz dentro de si mesmo, no hoje, no agora, e que pode manifestar-se a qualquer instante, basta apenas haver um incentivo, uma provocação. Desse modo, a observação, o estudo, a análise desse nosso mundo de tantas cenas passadas, que se esconde no inconsciente, e que apenas se deixa conhecer pelos lampejos de nossos impulsos, são os meios que temos para desvendar nossos pontos fracos, que possivelmente vêm se repetindo de existência em existência, e com os quais temos lutado, procurando melhorar nesse plano e, quando na Espiritualidade, pelas resoluções tomadas de renovação.

André Luiz diz-nos ainda que os citados impulsos são facilmente superexcitados por estímulos constantes produzidos por espíritos desencarnados, cujas emissões mentais são idênticas às do encarnado que perseguem. Apresentamos, quase sempre, resquícios de nossas fraquezas ainda não superadas, oferecendo pasto fácil aos atentos inspetores invisíveis do mal que, inteligentemente, recorrem às nossas antigas debilidades para torpedear nossa resistência, induzindo-nos de forma envolvente, hipnótica, a repetir as mesmas reações que estamos assim a elas predispostos.

E nem sequer nos damos conta disso. Quando percebemos, já cometemos as mesmas intemperanças e novos esforços empenhamos para não repeti-las. Trazemos também, para a presente vida, certas inclinações de repetir hábitos e necessidades alimentados numa vida anterior mal conduzida, tais como os costumes de beber, fumar, comer demasiado, jogar, cometer gastos supérfluos e exageros no vestir, irresistível atração pelo sexo oposto, comodismo ocioso, preguiça, conquista de prestígio social, desejo de domínio, aquisição de riqueza, aumento de propriedades, etc.

De alguma forma somos testados, até sem saber, nas resoluções que tomamos quando na Erraticidade e na melhora que possamos ter operado no nosso Espírito, ao defrontarmo-nos com semelhantes experiências na presente vida. A correção, retificação do erro, ou o reequilíbrio de nossa consciência, não se realiza apenas com bons propósitos. É necessário dar provas, isto é, ao passar pelas mesmas ocorrências do ontem distante, refrear os nossos impulsos retrógrados com a luz do entendimento e transformá-los em impulsos evolutivos que nos libertam a alma.

É muito suave, reconfortante e tranquilizador o que sentimos ao superar uma má inclinação, um impulso de rancor, de irritação, um hábito desagradável, uma deficiência de conduta, um defeito moral, um vício ou costume. É como se fôssemos fortalecidos e agraciados dentro de nós mesmos por uma batalha vencida, uma conquista realizada.

Esse conteúdo emocional robustece o nosso espírito e amplia nossa consciência, equilibra nossas energias e restaura, nas camadas profundas do inconsciente, a saúde mental. Recuperamos nosso bem-estar e ampliamos nossa capacidade de amar.

A TERAPIA DAS VIDAS PASSADAS

Interessante trabalho vem sendo realizado há catorze anos por um psicólogo americano, Dr. Morris Netherton, que descreve, em seu recente livro "Past Lives Therapy" (Terapia das Vidas Passadas), como tem tratado, em seu consultório de psicoterapia, casos de traumas, fobias, distúrbios de comportamento, problemas sexuais, alcoolismo, enxaquecas, úlceras, epilepsias, gerados em acontecimentos e experiências muito marcantes de vidas anteriores. Segundo o Dr. Netherton, aqueles fatos ficaram indelevelmente registrados, como cicatrizes, no "inconsciente", passando a exercer pressões emocionais no indivíduo, até que conscientemente ele possa compreender o desenrolar histórico e o encadeamento dos fatos que lhe causam os problemas do presente.
O autor comenta que cada um traz registrada em si mesmo toda a sua história, encerrando as próprias verdades que, uma vez aceitas e deliberadamente assumidas como de nossa responsabilidade pessoal, começam então a funcionar, auxiliando-nos nas mudanças de comportamento. A partir disso, o processo de reequilíbrio tem sequência, os indivíduos compreendem as causas e os mecanismos dos seus males e realizam a própria cura na mudança das atitudes.

Desaparecem os sintomas e as criaturas voltam à normalidade, passando de apáticas a joviais, de agressivas a sociáveis, de introspectivas a comunicativas, de esquisitas a simpáticas, de enfermas a sãs. Há uma melhora geral nas pessoas, fruto da própria renovação mental. Comentamos esses resultados por encontrar importante subsídio comprobatório das reminiscências que todos apresentamos e que só depende de nós mesmos atenuá-las pelo trabalho consciente nas próprias mudanças de atitudes.

Inicia-se, então, todo o seu esforço de renovação, pelas mudanças íntimas no seu comportamento, que ele mesmo realiza naturalmente. O que lhe era obscuro e nebuloso no seu mundo interior passa a ser compreendido e explicado dentro de uma realidade que lhe é própria, vivida, sentida, percebida. Ele mesmo entende o que deve e precisa corrigir, e o faz deliberadamente, exatamente nos aspectos que ele, melhor do que ninguém, conhece. É, portanto, um "impacto esclarecedor" vivido com todas as cores, emoções, imagens e percepções.

PARA APLICAÇÃO: IDENTIFIQUE AQUI AS CONSEQUÊNCIAS INDIVIDUAIS DO SEU PASSADO

O espírito de Emmanuel, no livro Leis de Amor, nos enseja todo um conjunto de respostas que esclarecem, de modo prático e objetivo, as consequências de nossas faltas do passado, e os seus processos de retificação, regeneração, reabilitação ou emendas. Vejamos, então, como identificá-los em nós e tiremos o necessário proveito do que a seguir condensamos.
(Nota: Leia a cada Causa, nas Doenças, e procure nas páginas adiante, o seu Efeito correspondente, no item de igual número, de l à 7. Leia o Ontem, Na Família, Na Profissão e no Mundo, e procure adiante, na numeração correspondente, o resultado em cada Hoje, de 8 à 20.)


NAS DOENÇAS

CAUSA

1. Ação errada em diferentes setores da vida:

a) ódios, vinganças, agressões;
b) irritação, intolerância, intemperança;
c) extravagâncias no comer;
d) alcoolismo, entorpecentes;
e) maledicência, calúnia;
f) desequilíbrios do sexo;
g) crimes;
h) fumo.

2. Intelectuais que aplicaram mal ou deterioraram o conhecimento e os recursos do sentimento com prejuízos à coletividade.

3. Artistas que corromperam a inteligência alheia nos abusos da imaginação viciosa provocados pelas suas obras ao próximo.

4. Oradores, tribunos e pessoas que influenciaram mal pela palavra, caluniando, ferindo, comprometendo criaturas na maledicência.

5. Utilização desregrada do sexo, no terreno das paixões irresponsáveis, prejudicando corações e provocando tragédias.

6. Casos profundos de cometimentos graves, nos crimes, suicídios, sacrifícios físicos a pessoas, atos de delinquência, abusos da força.

7. Imprudência, desmazelo, revolta, preguiça, embriaguez, cólera, ociosidade, desânimo.

Na Família

Ontem

8. Filhos do passado, onde inoculamos o egoísmo e a intolerância.

9. Irmãos que arrojamos à intemperança e à delinquência.

10. Jovem que induzimos ao desequilíbrio e à crueldade.

11. Esposo que precipitamos na deserção, com os próprios desenganos e traições.

12. Mulher que menosprezamos, obrigando-a a resvalar no poço da loucura.

13. Amigos com os quais construímos sólida amizade e entendimento no reconforto da segurança recíproca.

Na Profissão Ontem

14. Pensadores que corrompiam a mente popular com as depravações.

15. Conquistadores militares, tiranos que forjaram a miséria física e moral dos semelhantes.

16. Dominadores políticos que dilapidaram a confiança do povo.

17. Guerreiros e soldados que usavam as armas para praticar seus instintos destruidores.

18. Carrascos rurais, agiotas desnaturados, defraudadores da economia pública e mordomos do solo, convertidos em agentes do furto.

19. Mulheres ocupadas na maledicência e na intriga, prejudicando a liberdade e o progresso.

No Mundo

Ontem

20. Protagonistas de tragédias passionais, criminosos de guerra, aproveitadores de lutas civis, exploradores do sofrimento humano, caluniadores, empreiteiros do aborto e da devassidão, malfeitores.

NAS DOENÇAS

EFEITO

1. Vinca o perispírito com desequilíbrios que o predispõem a determinadas enfermidades, conforme o órgão atingido:

a) cardiopatias;
b) doenças hepáticas;
c) ulcerações, gastralgias;
d) loucura, idiotia;
e) surdez, mudez;
f) cansaço precoce, distrofia muscular, epilepsia, câncer;
g) mutilações dolorosas;
h) asmas, bronquites, doenças pulmonares.

2. Impedimentos cerebrais como alavancas coercitivas contra as tendências do mau uso da intelectualidade.

3. Moléstias ou mutilações que os incapacitem de cair nos mesmos erros.

4. Deficiências vocais e auditivas para não repetirem as mesmas inclinações.

5. Doenças inibidoras das funções genéticas, como meios de contenção dos impulsos inferiores das paixões.

6. Idiotia, loucura, cegueira, paralisias congênitas irreversíveis, deformações irremediáveis, como celas regenerativas para correção compulsória dos delitos cometidos.

7. Desequilíbrios e moléstias nessa mesma existência, consequentes dos prejuízos das funções dos órgãos físicos.

Na Família
Hoje

8. Pais despóticos.

9. Filhos rebeldes e viciados.

10. Filha desatinada nos desregramentos do coração.

11. Marido desleal ou ingrato.

12. Esposa desorientada e incompreensiva.

13. Parentes abnegados que nos auxiliam.

Na Profissão
Hoje

14. Professores laboriosos aprendendo a ministrar disciplinas.

15. Administradores capacitados à distribuição de valores e tarefas edificantes.

16. Comerciantes e agricultores auxiliando as mesmas comunidades que deprimiram.

17. Mecânicos, operários metalúrgicos e carpinteiros, dignificando o metal e a madeira que perverteram.

18. Servidores humildes do solo, no preparo, no plantio e colheita, nas zonas rurais com o suor as dividas que antes contraíram.

19. Servidoras domésticas, presas a obrigações caseiras, junto de caçarolas e tanques de lavar.
No Mundo

Hoje

20. Voltam em tribulações compatíveis com os débitos assumidos, às vezes junto às próprias no mesmo familiar, ou sofrem desastres dolorosos, acidentes, flagelos, incêndios, nas ocorrências individuais ou coletivas.
Ney P. Peres

29 - Vigilância, Abnegação


A - Vigilância

"Todo pensamento impuro pode se originar de duas fontes: a própria imperfeição da alma ou uma funesta influência que sobre ela se exerça. Neste último caso, há sempre indício de uma fraqueza, que nos torna aptos a receber essa influência, demonstrando que somos almas imperfeitas. Dessa forma, aquele que falir não poderá alegar como desculpa a influência de um Espirito estranho, desde que esse Espírito não o teria induzido ao mal se o tivesse encontrado inacessível à sedução."

(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XXVIII. Coletânea de Preces Espíritas. Para Resistir a Uma Tentação, 20. Prefácio.)

A condição interior de atenção para com as próprias emoções, desejos, impulsos, pensamentos, gestos, olhares, atitudes e respostas verbalizadas consiste na preocupação em pautar nossas reações dentro de padrões condizentes com o conhecimento evangélico. A observação de nós mesmos deverá ser aplicada de modo permanente, e não apenas quando já ocorreu a transgressão. Entendemos claramente que a vigilância define um trabalho preventivo e não corretivo.
A vigilância tem, assim, sua atuação como meio de combate aos defeitos, de algum modo já conhecidos ou identificados, para que, com a devida antecedência e precaução, evitemos as ocorrências dos mesmos. O trabalho preventivo, a exemplo do que se desenvolve na especializada área da Segurança do Trabalho, procura relacionar numa atividade os riscos de acidentes e seus graus. As causas de acidentes são muito bem estudadas e todas as campanhas de prevenção visam à conscientização do homem que executa um trabalho produtivo, para que o desempenhe dentro de certas normas de segurança, específicas a cada tipo de atividade.

Há dispositivos de proteção nas máquinas, há cores e sinalização, há meios de prevenção contra incêndios e há também os equipamentos de proteção individual para uso do trabalhador. Estes são alguns dos meios para evitar acidentes. Muito análogos ao que queremos aqui relacionar com a nossa vigilância interior são, em Segurança do Trabalho, os chamados "atos inseguros". Sabe o operário que, ao executar um "ato inseguro", poderá lhe ocorrer um acidente, como por exemplo: trabalhar na construção de edifício sobre andaimes sem guarda-corpo; subir em postes sem o cinto de segurança; operar máquinas de desbaste sem óculos de proteção; remover peças com as mãos sem luvas em prensas de moldagem, etc.
Então, o que poderá também acontecer àquele que, conhecendo as suas fraquezas ou inseguranças, se arrisca a determinadas situações de perigo? Estará se expondo a sofrer um deslize moral, a lhe ocorrer um acidente de graves consequências. O que precisamos conhecer bem são as nossas próprias situações de risco, para não cometermos erros, caindo em tentações, e depois amargurar os arrependimentos das nossas falhas.

As tentações são os nossos riscos; estamos a elas sujeitos, e a nossa própria insegurança é resultado das imperfeições que ainda temos. Contamos sempre com os meios de proteção e de segurança individuais nos Espíritos Protetores, que, até certo ponto, afastam-nos das influências perigosas. Cabe-nos, no entanto, agir com firmeza, resistindo às tentações conhecidas.
Podemos muito bem evitar os "atos inseguros", escapando das situações de perigo, ou nos munindo dos meios de proteção para enfrentá-las.

Como formas de proteção, além do auxílio espiritual, contamos com a prece, a vontade, o esclarecimento, o esforço próprio. Ninguém melhor do que nós mesmos para precavermo-nos das situações que representam riscos às nossas próprias inseguranças morais.
Relacionemos algumas delas, talvez as mais comuns:

a) Diante dos convites de companhias que nos estimulam ao fumo, ao jogo, ao álcool, ao tóxico;

b) Nas discussões de assuntos polêmicos, que nos levam a intrigas, agressões, contendas;

c) Nas elaborações de pensamentos eróticos, que nos predispõem aos condicionamentos do sexo;

d) Na direção dos olhares maliciosos, que nos conduzem à cobiça;

e) Nas economias exageradas dos gastos, que se resumem em avareza;

f) Nas absorções de ressentimentos ou amarguras, que se cristalizam em intolerâncias, incompreensões;

g) Nos comentários desavisados, que nos conduzem à maledicência;

h) Nos afloramentos das emoções fortes, que nos fazem manifestar orgulho, presunção;

i) Nos ímpetos de defesa das nossas idéias, que refletem o personalismo;
j) Nas inquietações por algo desejado, que definem a impaciência;

l) Nos esquecimentos de obrigações assumidas, que caracterizam a negligência;

m) Nos descansos prolongados, que indicam ociosidade.

"Reconhece-se que um pensamento é mau quando ele se distancia da caridade — base de toda moral verdadeira; quando tem por princípio o orgulho, a vaidade e o egoísmo; quando sua concretização pode prejudicar alguém; quando, enfim, nos induza a coisas diferentes das que quereríamos que os outros nos fizessem."

B - Abnegação

"A piedade, quando bem sentida, é amor; o amor é devo lamento; devotamento é esquecimento, esquecimento de si mesmo, e este esquecimento é a abnegação em favor da criatura menos feliz, é a virtude por excelência, praticada pelo Divino Mestre e ensinada em sua doutrina tão santa e sublime; quando essa doutrina for restabelecida em sua pureza primitiva, quando for admitida por todos os povos, fará a Terra feliz, fazendo reinar em sua face a concórdia, a paz e o amor."

(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XIII. Que a Mão esquerda Não Saiba o Que Faz a Direita. Item 17. A Piedade - Michel.)

A abnegação é indicativa daquilo que fazemos em favor de alguém, ou de alguma causa, sem interesse próprio, com esquecimento de nós mesmos, ou até com sacrifício do que possa nos pertencer.

Há alguns exemplos na História das Civilizações de criaturas abnegadas, que se dedicaram ao bem-estar do próximo, trabalhando de alguma forma para deixar aos homens uma contribuição marcante nas áreas do conhecimento, das descobertas científicas, das investigações, das religiões, dos direitos humanos, da moral, da caridade, etc. Por esse espírito de sacrifício próprio deixaram seus nomes aureolados de respeito e admiração.

Na própria História do Brasil rendemos homenagens aos personagens cívicos que colocaram o interesse da nação brasileira acima dos seus e dos das elites da época.

É o que muito nos falta hoje: pureza de intenções, abnegação, sacrifício de interesses, renúncia a proveitos pessoais, amor às causas nobres, dedicação às criaturas na miséria, desprendimento dos valores materiais. Devemos reconhecer, também, que há inúmeros corações vivendo em silêncio dando extraordinários exemplos de abnegação, sem fazer qualquer menção ao que realizam, ou sem serem identificados publicamente.

Todos temos, no entanto, possibilidades de praticar a abnegação, se não integralmente dedicados a uma obra mas, em nosso tempo disponível, procurando algo realizar sem remuneração, com desprendimento, dedicados a certas benemerências ao próximo, de qualquer natureza.

A prática da abnegação concretiza o exercício da caridade, dever humano que não podemos dispensar de nossas obrigações. O benefício desinteressado é o único agradável a Deus. Quem presta sua ajuda aos pequeninos que nada têm, sabe de antemão que não receberá deles agradecimentos ou retribuições. Por essa razão os serviços dedicados aos mais carentes devem caracterizar a caridade autêntica.

Admitimos que também podemos treinar a abnegação nas pequenas coisas, todas as vezes que voluntariamente renunciamos a algo nosso em favor do próximo.

A abnegação é o oposto do egoísmo. Praticando-a, o combatemos naturalmente.

Vejamos, em nossas atividades corriqueiras, algumas das muitas oportunidades que temos de praticar a abnegação:

a) Dedicando algumas horas do nosso lazer numa atividade assistência!;

b) Ministrando esclarecimentos evangélicos às criaturas em aprendizagem;

c) Oferecendo graciosamente os próprios serviços profissionais, onde possam ser mais úteis, aos que não os possam pagar;

d) Ensinando, sem interesse financeiro, os conhecimentos que detemos em quaisquer áreas;

e) Trabalhando no próprio lar, em algumas horas livres, na confecção de roupas e agasalhos para famílias carentes;

f) Contribuindo, com trabalho pessoal, no plantão vigilante a familiares ou amigos em convalescença;

g) Procurando conduzir o que realizarmos na esfera política ou social em benefício da maioria desprivilegiada, mesmo sacrificando
interesses próprios;

h) Indagando sempre, em nossas deliberações administrativas, se estamos atendendo aos princípios de justiça, tolerância e bondade para com o próximo;

i) Pautando tudo que fizermos nas produções diárias dentro do ideal de perfeição, aprimorando sempre para o melhor ao nosso alcance.

"A beneficência é bem compreendida, quando se limita ao círculo de pessoas da mesma opinião, da mesma crença ou do mesmo partido? — Não, é imperioso sobretudo abolir o espírito de seita e de partido, pois todos os homens são irmãos. O verdadeiro cristão vê irmãos em todos os seus semelhantes, e para socorrer o necessitado não busca saber a sua crença, a sua opinião, seja ela qual for." (Id., ibid. Item 20. Luís.)

Ney P. Peres