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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno " Espíritos Sofredores " parte 6.

Príncipe Ouran

(Bordéus, 1862)
Um Espírito sofredor apresentou-se dando o nome de Ouran, príncipe russo de outros tempos.
- P. Quereis dar-nos algumas minudências sobre a vossa situação?
- R. Oh! felizes os humildes de coração, porque deles é o reino do céu! Orai por mim. Felizes os humildes de coração que escolhem uma posição modesta a fim de cumprirem a provação. Vós todos, a quem devora a inveja, não sabeis o estado a que ficou reduzido um desses que na Terra são considerados felizes; não avaliais o fogo que o abrasa nem os sacrifícios impostos pela riqueza quando por ela se quer obter a salvação! Permita-me o Senhor a mim, déspota orgulhoso, expiar os crimes derivados do meu orgulho entre aqueles mesmos a quem oprimi com a tirania! Orgulho! Repita-se constantemente a palavra para que se não esqueça nunca que ele é a fonte de todos os sofrimentos que nos acabrunham. Sim, eu abusei do poderio e favores de que dispunha; fui duro e cruel para com os inferiores, os quais tiveram de curvar-se a todos os meus caprichos, satisfazer a todas as minhas depravações. Quis a nobreza, a fortuna, as honras, e sucumbi sob peso superior às próprias forças.
Nota - Os Espíritos que sucumbem são geralmente levados a alegar um compromisso superior às próprias forças - o que é ainda um resto de orgulho e um meio de se desculparem para consigo mesmos, não se conformando com a própria fraqueza. Deus não dá a ninguém mais do que possa suportar. não exige da árvore nascente os frutos dados pelo tronco desenvolvido. Demais, os Espíritos têm liberdade; o que lhes falta é a vontade, e esta depende deles exclusivamente. Com força de vontade não há tendências viciosas insuperáveis; mas, quando uni vício nos apraz, é natural que não façamos esforços por domá-lo. Assim, somente a nós devemos atribuir as respectivas conseqüências.
- P. Tendes consciência das vossas faltas, e isso é já um passo para a regeneração.
- R. Esta consciência é ainda um sofrimento. Para muitos Espíritos o sofrimento é um efeito quase material, visto como, atidos à Humanidade de sua última encarnação, não experimentam nem apreendem as sensações morais. Liberto da matéria, o sentimento moral aumentou-se, para mim, de tudo quanto as cruéis sensações físicas tinham de horrível.
- P. Lobrigais um termo aos vossos padecimentos?
- R. Sei que não serão eternos, mas não lhes entrevejo o fim, sendo-me antes preciso recomeçar a provação.
- P. E esperais fazê-lo em breve?
- R. Não sei ainda.
- P. Lembrai-vos dos vossos antecedentes? Faço-vos esta pergunta no intuito de me instruir.
- R. Vossos guias aí estão, e sabem do que precisais. Vivi no tempo de Marco Aurélio. Poderoso então, sucumbi ao orgulho, causa de todas as quedas. Depois de uma erraticidade de séculos, quis experimentar uma existência obscura.
"Pobre estudante, mendiguei o pão, mas o orgulho possuía-me sempre: o Espírito ganhara em ciência, mas não em virtude. Sábio ambicioso, vendi a consciência a quem mais dava, servindo a todas as vinganças, a todos os ódios. Sentia-me culpado, mas a sede de glórias e riquezas estrangulava a voz da consciência. A expiação ainda foi longa e cruel. Eu quis enfim, na minha última encarnação, reencetar uma vida de luxo e poderio, no intuito de dominar os tropeços, sem atender a conselhos. Era ainda o orgulho levando-me a confiar mais em mim mesmo do que no conselho dos protetores amigos que sempre velam por nós.
"Sabeis o resultado desta última tentativa. Hoje, enfim, compreendo e aguardo a misericórdia do Senhor. Deponho a seus pés o meu arrasado orgulho e peço-lhe que me sobrecarregue com o mais pesado tributo de humildade, pois com o auxilio da sua graça o peso me parecerá leve.
"Orai comigo e por mim: orai também para que esse fogo diabólico não devore os instintos que vos encaminham para Deus. Irmãos de sofrimentos, oxalá possa o meu exemplo aproveitar-vos e não esqueçais nunca que o orgulho é o inimigo da felicidade. É dele que promanam todos os males que acometem a Humanidade e a perseguem até nas regiões celestes."
O guia do médium. - Concebestes dúvidas sobre a identidade deste Espírito, por vos parecer a sua linguagem em desacordo com o estado de sofrimento acusando inferioridade.
Desvanecei tais dúvidas, porque recebestes uma comunicação séria. Por mais sofredor, este Espírito tem assaz culta inteligência para exprimir-se de tal maneira. O que lhe faltava era apenas a humildade, sem a qual nenhum Espírito pode chegar a Deus. Essa humildade conquistou-a agora, e nós esperamos que, com perseverança, ele sairá triunfante de uma nova provação.
Nosso Pai celestial é justíssimo na sua sabedoria e leva em conta os esforços da criatura para dominar os maus instintos. Cada vitória sobre vós mesmos é um de-grau franqueado nessa escada que tem uma extremidade na Terra e outra aos pés do Juiz supremo. Alçai-vos por esses degraus resolutamente, porque a subida é tanto mais suave quanto firme a vontade. Olhai sempre para cima a fim de vos encorajardes, porque ai daquele que pára e se volta. Depressa o atinge a vertigem, espanta-se do vácuo que o cerca, desanima e diz: - para que mais caminhar, se tão pouco o tenho feito e tanto me falta? Não, meus amigos, não vos volteis.
O orgulho está incorporado no homem; pois bem! aproveita-o na força e na coragem de terminar a vossa ascensão. Empregai-o ainda em dominar as fraquezas e galgai o topo da montanha eterna.

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno " Espíritos Sofredores" parte 5

Lisbeth

(Bordéus, 13 de fevereiro de 1862)
Um Espírito sofredor inscreve-se com o nome de Lisbeth.
1. - Quereis dar-nos algumas informações a respeito da vossa posição, assim como da causa dos vossos sofrimentos?
- R. Sede humilde de coração, submisso à vontade de Deus, paciente na provação, caridoso para com o pobre, consolador do fraco, sensível a todos os sofrimentos e não sofrereis as torturas que amargo.
2. - Pareceis sentir as falhas decorrentes de contrário procedimento... O arrependimento deverá dar-vos alívio?
- R. Não: - O arrependimento é inútil quando apenas produzido pelo sofrimento. O arrependimento profícuo tem por base a mágoa de haver ofendido a Deus, e importa no desejo ardente de uma reparação. Ainda não posso tanto, infelizmente. Recomendai-me às preces de quantos se interessam pelos sofrimentos alheios, porque delas tenho necessidade.
Nota - Este ensinamento é uma grande verdade; às vezes o sofrimento provoca um brado de arrependimento menos sincero, que não é a expressão de pesar pela prática do mal, visto como, se o Espírito deixasse de sofrer, não duvidaria reencetá-la. Eis por que o arrependimento nem sempre acarreta a imediata libertação do Espírito. Predispõe-no, porém, para ela - eis tudo.
É-lhe preciso, além disso, provar a sinceridade e firmeza da resolução, por meio de novas provações reparadoras do mal praticado.
Meditando-se cuidadosamente sobre todos os exemplos que citamos, encontrar-se-á nas palavras dos Espíritos mesmo dos mais inferiores profundos ensinamentos, pondo-nos a par dos mais íntimos pormenores da vida espiritual. O homem superficial pode não ver nesses exemplos mais que pitorescas narrativas; mas o homem sério e refletido encontrará neles abundante manancial de estudos.
3. - Farei o que desejais. Podereis dar-me alguns pormenores da vossa última existência corporal? Daí talvez nos advenha um ensinamento útil e assim tomareis proveitoso o arrependimento.
(O Espírito vacila na resposta, não só desta pergunta, como de algumas das que se seguem.) -
R. Tive um nascimento de elevada condição. Possuía tudo o que os homens julgam a fonte da felicidade. Rica, tornei-me egoísta; bela, fui vaidosa, insensível, hipócrita; nobre, era ambiciosa. Calquei ao meu poderio os que se me não rolavam aos pés e oprimia ainda mais os que sob eles se colocavam, esquecida de que também a cólera do Senhor esmaga, cedo ou tarde, as mais altivas frontes.
4 - Em que época vivestes? -
R. Há cento e cinqüenta anos, na Prússia.
5. - Desde então não fizestes progresso algum como Espírito?
- R. Não; a matéria revoltava-se sempre, e tu não podes avaliar a influência que ela ainda exerce sobre mim, a despeito da separação do corpo. O orgulho agrilhoa-nos a brônzeas cadeias, cujos anéis mais e mais comprimem o mísero que lhe hipoteca o coração. O orgulho, hidra de cem cabeças a renovarem-se incessantes, modulando silvos empeçonhados que chegam a parecer celeste harmonia! O orgulho - esse demônio multiforme que se amolda a todas as aberrações do Espírito, que se oculta em todos os refolhos do coração; que penetra as velas; que absorve e arrasta às trevas da eterna geena!... Oh! sim. . eterna!
Nota - Provavelmente, o Espírito diz não ter feito progresso algum, por ser a sua situação sempre penosa; a maneira pela qual descreve o orgulho e lhe deplora as conseqüências é, incontestavelmente, um progresso. Certo, quando encarnado e mesmo logo após a morte, ele não poderia raciocinar assim. Compreende o mal, o que já é alguma coisa, e a coragem e o propósito de o evitar lhe advirão mais tarde.
6. - Deus é muito bom para não condenar seus filhos a penas eternas. Confiai na sua misericórdia.
- R. Dizem que isto pode ter um termo, mas onde e quando? Há muito que o procuro e só vejo sofrimento, sempre, sempre, sempre!
7. - Como viestes hoje aqui?
- R. Conduzida por um Espírito que me acompanha muitas vezes.
- P. Desde quando o vedes, a esse Espírito? - R. Não há muito tempo.
- P. E desde quando tendes consciência das faltas que cometestes? - R. (Depois de longa reflexão.) Sim, tendes razão: foi dai para cá que principiei a vê-lo.
8. - Compreendeis agora a relação existente entre o arrependimento e o auxílio prestado por vosso protetor? Tomai por origem desse apoio o amor de Deus, cujo fim será o seu perdão e misericórdia infinitos.
- R. Oh! como desejaria que assim fosse. -Creio poder prometer no nome, aliás sacratíssimo, dAquele que jamais foi surdo à voz dos filhos aflitos.
9. - Pedi de coração e sereis ouvida.
- R. Não posso; tenho medo. - Oremos juntos, Ele nos atenderá. (Depois da prece.) Ainda estais ai? - R. Sim. Obrigada! Não me esqueçais.
10. - Vinde inscrever-vos aqui todos os dias.
- R. Sim, sim, virei sempre.
O guia do médium. - Nunca esqueçais os ensinos que bebeis nos sofrimentos dos vossos protegidos e notadamente nas suas causas, visto serem lição que a todos aproveita no sentido de se preservarem dos mesmos perigos e de idênticos castigos. Purificai os corações, sede humildes, amai-vos e ajudai-vos sem esquecerdes jamais a fonte de todas as graças, fonte inesgotável na qual podem todos saciar-se à vontade, fonte de água viva que desaltera e alimenta igualmente, fonte de vida e ventura eterna. Ide a ela, meus amigos, e bebei com fé. Mergulhai nela as vossas vasilhas, que sairão de suas ondas pejadas de bênçãos. Adverti vossos irmãos dos perigos em que podem incorrer. Difundi as bênçãos do Senhor, que se reproduzem incessantes; e quanto mais as propagardes, tanto mais se multiplicarão Está em vossas mãos a tarefa, porquanto, dizendo aos vossos irmãos - aí estão os perigos, lá os escolhos; vinde conosco a fim de os evitar; imitai-nos a nós que damos o exemplo - assim difundíreis as bênçãos do Senhor sobre os que vos ouvirem.
Abençoados sejam os vossos esforços. O Senhor ama os corações puros: fazei por merecer-lhe o amor. Saint Paulin.

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 16

 
A.K.: Esta doutrina faz de Deus um ser material que, embora dotado de suprema inteligência, seria em ponto grande o que somos em ponto pequeno. Ora, transformando-se a matéria incessantemente, Deus, se fosse assim, nenhuma estabilidade teria; achar-se-ia sujeito a todas as vicissitudes, mesmo a todas as necessidades da Humanidade; faltar-lhe-ia um dos atributos essenciais da Divindade: a imutabilidade. Não se podem aliar as propriedades da matéria à idéia de Deus, sem que Ele fique rebaixado ante a nossa compreensão e não haverá sutilezas de sofismas que cheguem a resolver o problema da Sua natureza íntima. Não sabemos tudo o que Ele é, mas sabemos o que Ele não pode deixar de ser e o sistema de que tratamos está em contradição com as suas mais essenciais propriedades. Ele confunde o Criador com a criatura, exatamente como o faria quem pretendesse que engenhosa máquina fosse parte integrante do mecânico que a imaginou.
 
A primeira idéia de se comparar a natureza como sendo diretamente Deus, é que ela manifesta em todas as suas nuances, perfeita harmonia em todos os sentidos da sua atuação, porém, cabe a nós pesquisar e entender, descobrir e divulgar, que toda essa simetria é participação das leis criadas por Ele, no vigor da sua mente incomparável. É pois, a sua imagem, como um canal de televisão que reflete no vídeo a perfeita estrutura do real, sendo que, no caso com a Divindade, a perfeição é a tônica do ambiente. As imagens do Senhor são vivas e demonstram os seus mais puros atributos, nunca falhando nos seus mais delicados cinetismos, no sustentar da vida. O visual do infinito não é Deus na sua unidade perfeita, como o quadro não é o pintor. Comparando a obra com o autor, a primeira constitui um pálido reflexo da sua personalidade, viva e distinta no lugar que ocupa.

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 15

 
 
Se os homens desejarem ser parte de Deus, como nos informa "O Livro dos Espíritos", na resposta número quinze, não é muito melhor nos sentirmos sendo os seus filhos? Nunca faltaram, em tempo algum, as respostas às perguntas que formulamos ao Criador. Elas vêm por muitos meios e cada vez que o tempo passa, o intercâmbio se aperfeiçoa, nos colocando com mais segurança a saber da verdade no seu fulgor mais apurado. Quantos livros não existem na Terra, respondendo perguntas de toda a natureza? Basta procurarmos para encontrarmos. Quantos homens dotados de certos valores estão capacitados a responder sobre variados assuntos e coisas do Espírito? Hoje, só não aprende quem não quer. Começa pensando, prossegue orando e avança para o encontro da verdade que ela te aparecerá com os braços abertos para te libertar. Visualiza a Verdade e o Mestre, que Ele te instruirá dentro das tuas necessidades de viver melhor, no ângulo em que podes viver bem.

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão14

 
 

domingo, 28 de outubro de 2012

Da Psicologia Transpessoal à Psicologia Espiritual de Joanna de Ângelis


SUELY CALDAS SCHUBERT
"(Os Espíritos) tornam inteligíveis e patentes verdades que haviam sido
ensinadas sob a forma alegórica. E, justamente com a moral, trazem-nos a
definição dos mais abstratos problemas da psicologia." Allan Kardec. ("O Livro
dos Espíritos", Conclusão VIII.)
O momento atual é, essencialmente, o das questões psicológicas, a tal
ponto que os estudiosos e pesquisadores desse atraente campo estão voltados
para um esforço conjunto de se fazer um mapeamento do psiquismo humano, do
cérebro e seus meandros e a sua fantástica potencialidade. Estuda-se a mente
desde as suas reações a partir do feto até os doentes terminais em idade
avançada ou não, e também nas experiências de quase morte (EQM). Há um
novo entendimento, uma nova visão e uma constante busca desde que tais
especialistas concluíram que existe algo mais além do cérebro.
Foi assim que no final da década de 60 surgiu a Psicologia Transpessoal,
como resultado dessas pesquisas, abrindo-se, então, perspectivas ilimitadas e
cada vez mais surpreendentes para os que se dedicam a tais estudos.
Exatamente porque começam a perceber e desvendar os domínios do Espírito
imortal.
Esse grupo de pesquisadores, liderados por Abraham Maslow, Stanislav
Grof, Roberto Assagioli, Roger Walsh e, mais recentemente, Fritjof Capra, Ken
Wilber e outros, investiga as possibilidades de manifestação e expansão da
mente, admitindo e incorporando aos seus estudos desde as práticas mais
primitivas até as mais sofisticadas que englobam fatos mediúnicos e anímicos, e
até mesmo casos de possessões espirituais, assinalados na história dos povos,
tanto no Oriente quanto no Ocidente.
Por diferentes caminhos, através da regressão de memória que a hipnose
terapêutica enseja, outros resultados são alcançados - como a comprovação da
reencarnação, por exemplo, fato que por si só revoluciona todas as teorias e
paradigmas vigentes. O campo dessas pesquisas é ilimitado.
Parafraseando o Codificador, diremos: “Ergue-se o véu” e começa-se a
desvendar os arcanos do Espírito.
A mente do homem encarnado descobre que a mente do Espírito
desencarnado subsiste e prossegue além de todas as coisas. Estas evidências,
deixadas ao longo dos milênios no rastro luminoso dos fatos mediúnicos, estão
sendo, finalmente, percebidas e admitidas pela ciência moderna.
São extraordinários os caminhos humanos e os recursos dos Espíritos
Superiores para ensejarem aos cientistas atuais essas conquistas que levarão a
Humanidade a uma nova era: a Era do Espírito.
Notável também observamos que Allan Kardec, percebendo a importância
das questões psicológicas, e que os Espíritos Superiores estavam trazendo “a
definição dos mais abstratos problemas da psicologia”, colocou como subtítulo da
Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos.
Estas considerações levam-nos a um pensamento de Calderaro, extraído
da obra de André Luiz “No Mundo Maior”: “O homem, para auxiliar o presente, é
obrigado a viver no futuro da raça”.
Esta foi sempre a realidade dos grandes vultos da Humanidade.
A Doutrina Espírita, tendo sido elaborada e transmitida pelos Espíritos da
Falange do Espírito de Verdade, é, sob este aspecto, uma Revelação, mas
simultaneamente apresenta em seus fundamentos a contribuição do homem, na
pessoa de Allan Kardec, o nobre Codificador. Assim, é um repositório de verdades
eternas, e por isso mesmo, intemporais. O Mestre lionês, correspondendo à
altura, pontifica como expressivo exemplo dos que vivem adiante do seu tempo.
Tal é a razão de os ensinamentos da Doutrina dos Espíritos chegarem até nós
como se tivessem sido transmitidos no momento atual.
A Espiritualidade Superior, atenta e pressente, não cessa de renovar as
lições imortais, acompanhando o progresso humano e mais do que isto:
motivando-o através da intuição, trazendo contribuições atualizadas e, em
especial, visando os tempos futuros, preparando o homem para uma nova era.
Nesta linha de raciocínio é imprescindível ressaltar a notável contribuição
da Mentora Espiritual Joanna de Ângelis, que através da psicografia de Divaldo
Pereira Franco tem sinalizado para a Humanidade os rumos seguros para
alcançar a paz e a felicidade.
Há dez anos ele inovou, apresentando uma proposta diferente: os temas
psicológicos. Quando em suas reencarnações de que temos conhecimento,
Joanna sempre esteve adiante do seu tempo, e, atualmente, na Espiritualidade
Superior, ela propõe ao ser humano, aturdido e sofredor, uma viagem em busca
de si mesmo contando com a segura e fiel participação de seu médium, Divaldo
Franco, através do qual ela transmite à Terra o seu pensamento de invulgar
brilhantismo e elevação.
Com sua percuciente visão espiritual, Joanna de Ângelis envereda pelos
labirintos da mente humana, estudando suas reações e potencialidades e
confrontando as conquistas mais recentes da Psicologia Transpessoal com a
diretriz espírita, a qual, apresentando o ser humano como Espírito imortal, que
antecede ao berço e prossegue além do túmulo, transcende o que até agora foi
alcançado pelos pesquisadores terrenos.
Conforme ela própria esclarece “tentamos colocar pontes entre os
mecanismos das psicologias humanista e transpessoal com a Doutrina Espírita,
que as ilumina e completa, assim cooperando de alguma forma com aqueles que
se empenham na busca interior, no autodescobrimento”.¹
__________
A Espiritualidade Superior, atenta e presente, não cessa de renovar as
lições imortais, acompanhando o progresso humano”
__________
“Plenitude”, “Momentos de Consciência”, “O Homem Integral”,
“Autodescobrimento”, “O Ser Consciente”, e o mais recente “Vida: Desafios e
Soluções", são as obras que, especificamente, apresentam a visão psicológica da
Mentora de Divaldo, sempre embasada na Doutrina e nos ensinamentos de
Jesus, a quem ela denomina de Terapeuta Superior.
Temos como sofrimento, rotina, ansiedade, medo, solidão, neuroses,
fobias, mitos, problemas sexuais, arquétipos, vícios mentais, o inconsciente, o
REFORMADOR EDIÇÃO INTERNET
REFORMADOR 30
despertar da consciência, a conquista de si mesmo e muitos outros, e a
conseqüente abordagem dos eminentes pesquisadores do passado e da
atualidade, desfilam nas páginas desses livros e evidenciam, de imediato, ao
leitor, no confronto com a diretriz espírita e com a própria contribuição pessoal
que ela apresenta, a superioridade destes conceitos, respostas, explicações e
caminhos.
Como de hábito, realçando o Espiritismo, ela afirma: “O Espiritismo, por sua
vez, sintetizando diversas correntes de pensamento psicológico e estudando o
homem na sua condição de Espírito eterno, apresenta a proposta de um
comportamento filosófico idealista, imortalista, auxiliando-o na equação dos seus
problemas, sem violência e com base na reencarnação, apontando-lhe os rumos
felizes que deve seguir”.²
Em verdade, o Espiritismo é o grande desconhecido.
Temos que admitir que somente um ínfima minoria teve, até agora,
conhecimento de sua existência, daí a importância dessas obras específicas de
Joanna, escritas de tal forma que o leitor não espírita tem condições de apreender
essa transcendência, seja pela argumentação lógica seja pela visão
reencarnacionista e espiritual que a tudo modifica e suplanta.
Esta notável contribuição de Joanna de Ângelis, para um amplo
entendimento dos problemas psicológicos, denota, uma vez mais, a sua
preocupação em ajudar o ser humano a despertar do sono hibernal dos milênios,
propelindo-o para cogitações superiores, motivando-o a buscar a felicidade
através da conquista de si mesmo. Tudo isto mais não é que a proposta de Santo
Agostinho, conforme a questão 919 de “O Livro dos Espíritos”, quando concita o
homem ao autoconhecimento, que a autora espiritual apresenta num discurso
atualizado e ao gosto de nossa época.
Isto é VIVER NO FUTURO DA RAÇA.
__________
1. FRANCO, Divaldo P. Autodescobrimento, pelo Espírito Joanna de Ângelis, 2ª ed.
LEAL, 1996, Salvador (BA) p.13.
2. FRANCO, Divaldo P. O Homem Integral, pelo Espírito Joanna de Ângelis; 2ª ed. LEAL,
1996, Salvador (BA) p.9.

Reformador de julho de 1998

Quais são as Obras Básicas?


Paulo da Silva Neto Sobrinho
Temos percebido uma completa indefinição do que sejam, no Espiritismo, as obras básicas. Quem tiver a curiosidade de pesquisar, por exemplo na Internet, verá que a confusão se instalou no Movimento Espírita, tal qual uma nova torre de Babel.
Querem uns, inclusive, e esses não são poucos, relacioná-las a uma denominação usada por correntes religiosas apoiadas em livros sagrados, que acreditam conter as revelações divinas, quando, não sabemos o porquê, a tratam como o “Pentateuco” da Codificação. Vemos nessa atitude certa incoerência, mas como, infelizmente, muitos não conseguem se desligar do que aprenderam em suas religiões de origem, acabam, se não intencionalmente, pelo menos inconscientemente, trazendo para o nosso meio coisas nunca ditas ou mencionadas pelo Codificador.
Nem mesmo as Instituições, que se dizem representantes do Movimento Espírita, falam a mesma língua, demonstrando, a nosso ver, falta de unidade e coerência Doutrinária. Deixam-nos sem amparo para definir quais livros, publicados por Kardec, devem fazer parte do conjunto das obras básicas.
Por estar assim sem definição é que há gente que só fala, por exemplo, no livro O que é o Espiritismo, como se estivesse nele todo o corpo da Doutrina, apesar da clareza de Kardec em situá-lo como um livro que apenas “contém sumária exposição dos princípios da Doutrina Espírita, um apanhado geral desta, permitindo ao leitor apreender-lhe o conjunto dentro de um quadro restrito”. Embora reconheçamos a sua importância, principalmente, para os que não conhecem o Espiritismo, citar somente ele seria imaturo, pois aos que querem estudar a Doutrina, os outros livros também deverão ser estudados para uma visão mais ampla e, ao mesmo tempo, pormenorizada dos princípios Espíritas.
Geralmente vemos pessoas e Instituições Espíritas citando como obras básicas: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, Evangelho segundo o Espiritismo, A Gênese e O Céu e o Inferno. E, raras vezes, aparecem referências às Obras Póstumas, à Revista Espírita e ao O que é o Espiritismo?, e quando isso ocorre são colocados num segundo plano, como obras complementares, que não seria necessário, mas apenas seria bom lê-las.
Pensando nisso resolvemos, como se diz, “beber água na fonte” para ver se poderíamos encontrar essa definição no que escreveu o Codificador. Vejamos o que Kardec nos fornece como roteiro para estudo.
Em julho de 1859[i], Kardec recomenda, aos que querem se esclarecer sobre o Espiritismo, que se deve estudar primeiramente o resumo contido no livro O que é Espiritismo?, justificando:
...nesta rápida exposição fomos levados a indicar os pontos que deve, particularmente, fixar-se a atenção do observador. A ignorância dos princípios fundamentais é a causa das falsas apreciações da maioria daqueles que julgam o que não compreendem ou segundo suas idéias preconcebidas.
Na seqüência, para os que desejam saber mais, diz:
...ler-se-á O Livro dos Espíritos, onde os princípios da doutrina estão completamente desenvolvidos; depois, O Livro dos Médiuns para a parte experimental, destinado a servir de guia para aqueles que querem operar por si mesmos, como para aqueles que querem se inteirar dos fenômenos. Vêm, em seguida, as diversas obras onde estão desenvolvidas as aplicações e as conseqüências da doutrina, tais como: A Moral do Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno Segundo o Espiritismo, etc.
Voltando ao assunto, em janeiro de 1861[ii], aconselha, aos que querem adquirir as noções preliminares sobre o Espiritismo, que leiam, nesta ordem:
- O que é o Espiritismo? Esta brochura, de apenas uma centena de páginas, é somente uma exposição sumária dos princípios da Doutrina Espírita, um esboço geral que permite abarcar o conjunto sob um quadro restrito. Em poucas palavras, vê-se o objetivo e pode-se julgar sua importância. Por outro lado, nele se encontra a resposta às principais questões ou objeções que estão naturalmente dispostas a fazerem as pessoas novatas. Esta primeira leitura, que não requer senão um pouco tempo, é uma introdução que facilita um estudo mais aprofundado.
2º - O Livro dos Espíritos. Contém a doutrina completa, ditada pelos próprios Espíritos, com toda a sua filosofia e todas as suas conseqüências morais; é a revelação da destinação do homem, a iniciação à dos Espíritos e aos mistérios da vida de além-túmulo. Lendo-o, compreende-se que o Espiritismo tem objetivo sério, e não é um passatempo frívolo.
3º - O Livro dos Médiuns. Destina-se a guiar, na prática das manifestações, pelo conhecimento dos meios mais próprios para comunicar-se com os Espíritos; é um guia, seja para os médiuns, seja para os evocadores, e o complemento de O Livro dos Espíritos.
4º - A Revista Espírita. É uma coletânea variada de fatos, de explicações teóricas e de trechos destacados, que completam o que se disse das duas obras precedentes, e que lhes é, de alguma forma, a aplicação. Sua leitura pode ser feita ao mesmo tempo com elas, mas será mais proveitosa e mais inteligível sobretudo após a leitura de O Livro dos Espíritos
Isto pelo que nos concerne. Aqueles que querem tudo conhecer numa ciência, devem necessariamente ler tudo o que está escrito sobre a matéria, ou, pelo menos, as coisas principais, e não se limitar a um só autor; devem mesmo ler o pró e o contra, as críticas como também as apologias, iniciar-se nos diferentes sistemas, a fim de poderem julgar por comparação. (...)
No mês seguinte[iii], há uma importante fala de Kardec, sobre as publicações das comunicações espontâneas na Revista Espirita, que vem, com certeza, justificar o porquê da recomendação de sua leitura. Leiamos:
O que lhe dá essa opinião é que a grande quantidade de matérias, e a necessidade de coordená-las, permitem muito raramente publicar todas essas questões no número da Revista onde elas são mencionadas no boletim; mas, cedo ou tarde, nela encontram o seu lugar. Aliás, elas constituem um dos elementos essenciais das obras sobre o Espiritismo; foram aproveitadas em O Livro dos Espíritos e em O Livro dos Médiuns onde estão classificadas segundo o seu objeto, e nenhuma daquelas que são essenciais foi omitida. (...).
Ressaltamos que, segundo o próprio Kardec, as comunicações espontâneas que foram publicadas da Revista “constituem um dos elementos essenciais das obras sobre o Espiritismo”, citando os dois livros em que foram aproveitadas.
Em janeiro de 1868[iv], cerca de pouco mais de um ano antes de sua morte, Kardec reafirma, que se encontra na Revista Espírita “no estado de esboço, a maioria das idéias que estão desenvolvidas nesta última obra, conforme o fizemos com as precedentes”, considerando que “A Revista é freqüentemente, para nós, um terreno de ensaio, destinado a sondar a opinião dos homens e dos Espíritos sobre certos princípios, antes de admiti-los como partes constitutivas da Doutrina”.
Concluímos que se básico significa “que ou o que serve de base, de fundamento; basilar, fundamental” (Houaiss), então, pelo que pudemos perceber das recomendações de Kardec, teremos que discriminá-las assim: O que é o Espiritismo, O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, A Gênese, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, A Revista Espírita, inclusive, conforme consta na RE mai/1869 (p 132). Às estas acrescentaríamos, por nossa conta, o livro Obras Póstumas, por ser uma publicação de escritos inéditos de Kardec. Se daí quiserem dividi-las em “de iniciação”, “importantes” e “complementares”, não faz a menor diferença, desde que, obviamente, a leitura de todas elas seja recomendada.
E aos que somente lêem o LE, achando que está tudo nele, transcrevemos essa fala de Kardec: “O Livro dos Espíritos não é um tratado completo do Espiritismo; não faz senão colocar-lhe as bases e os pontos fundamentais, que devem se desenvolver sucessivamente pelo estudo e pela observação” (RE 1866, p. 223).
Fev/2005.
  • [i] KARDEC, A. O que é o Espiritismo, Rio: FEB, 2001. p. 149.
  • [ii] KARDEC, A. O Livro dos Médiuns, Araras-SP: IDE, 1993, pp. 40-41.
  • [iii] KARDEC, A. Revista Espírita 1861, Araras-SP: IDE, 1993, p. 35.
  • [iv] KARDEC, A. A Gênese, Araras-SP, IDE, 1993, p. 12.

sábado, 27 de outubro de 2012

O Consolador


Juvanir Borges de Souza
Seria grande erro supor que a Mensagem do Cristo de Deus terminara com sua passagem pela Terra.
O Mestre não se limitou a deixar à Humanidade seu Evangelho que ilumina os caminhos humanos.
Sabia Ele que as imperfeições e rebeldias dos homens não seriam removidas somente com seu serviço ativo e com a dedicação dos primeiros discípulos e seguidores, a trabalhar nos corações e nas mentes.
Ele mesmo declarou que não viera para ensinar tudo aos homens, que não possuíam ainda as condições necessárias ao entendimento de lições que transcendiam à compreensão de então.
O caminho que indicou foi o do amor, o do esforço individual, o do sacrifício em prol da elevação moral de cada um.
Ficaria para o futuro a complementação da Boa Nova.
São palavras do Mestre incomparável:
"Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas presentemente não as podeis suportar."
E acrescenta:
"Se me amais, guardai os meus mandamentos - e eu pedirei ao meu Pai
e ele vos enviará outro Consolador a fim de que fique eternamente convosco: - o
Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê; vós, porém, o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós - mas o Consolador, que é o Espírito Santo, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e fará vos lembreis de tudo o que vos tenho dito."
(João, 14:15-17 e 26).
O que as palavras de Jesus, registradas pelo evangelista, deixam muito claro é que Ele não ensinara tudo a seus discípulos, pela simples razão de que não podiam, não tinham condições de compreender o que estivesse acima de sua capacidade de entendimento.
Torna-se evidente, na passagem evangélica, confirmada pelos fatos, que o Mestre não esgotou seus ensinamentos naquele pequeno período de vivência entre os homens.
Ao contrário, tornou claro que sua Mensagem se desdobraria em etapas: o Consolador prometido complementaria suas lições de há dois mil anos, e lembraria tudo o que fosse esquecido ou desvirtuado, restabelecendo as verdades ensinadas.
As religiões tradicionais que se baseiam nos Evangelhos, ao lado dos muitos desvios interpretativos, cometeram o grave erro de considerar os ensinamentos de Jesus como completos e definitivos, em contraposição às próprias palavras do Mestre.
Esqueceram do papel importantíssimo do Consolador, que viria futuramente, mas que dependeria dos desígnios do Alto, para complementar a grande Mensagem.
Com esse posicionamento as igrejas denominadas cristãs tornaram imutáveis e estratificadas suas Doutrinas. Decorridos os séculos, essas doutrinas foram se desvirtuando não só diante da verdadeira Mensagem
Crística, mal interpretada em muitas de suas passagens, mas também perante os conhecimentos novos trazidos pelas Ciências. Apenas os ensinos morais do Cristo permaneceram incólumes.

REFORMADOR, ABRIL, 1998
A reconsideração da Igreja Romana quanto ao tristíssimo Tribunal do Santo Ofício, no tocante à Inquisição, nos episódios que envolveram muitos sábios e escritores como Galileu Galilei e Charles Darwin, Giordano Bruno e Dante, Descartes e Diderot, Erasmo e Fénelon, João Huss e Lutero, Montesquieu, Pascal, Rousseau, Voltaire e muitos outros são alguns dos muitos enganos em que incorreu a milenar instituição, que se tornaram insuportáveis por ela mesma.
Para os estudiosos e seguidores do Espiritismo não há dificuldade de compreensão da promessa do Cristo, já que os acontecimentos mostraram claramente que a Doutrina dos Espíritos é o próprio Consolador prometido.
Eis alguns sinais que confirmam não a presunção, mas a certeza da vinda do Consolador com a Terceira Revelação ("A Gênese" - A. Kardec - Cap. XVII):
- Desde a vinda do Cristo até meados do século XIX, nenhuma outra revelação significativa apareceu no mundo que tenha completado os Evangelhos e elucidado suas passagens obscuras.
- Com "O Livro dos Espíritos" (1857) e as demais obras da Codificação corporificou-se a Doutrina Espírita, a Terceira Revelação.
- A Nova Revelação, obra coletiva, caracterizando o "Espírito Santo" - os Espíritos do Senhor - tem à sua frente o Espírito de Verdade.
- Toda a Nova Revelação se ocupa do Evangelho de Jesus, interpretando-o em espírito e não somente na letra.
- Coisas novas são anunciadas pelos Espíritos reveladores, especialmente no que concerne à Vida Espiritual e ao Mundo Invisível.
- A Nova Revelação está destinada a ficar eternamente com os habitantes deste Planeta, o que corresponde à promessa do Cristo.
- A Doutrina dos Espíritos, além de toda a parte moral da Doutrina do Cristo, é profundamente consoladora, inspirada pelo Espírito de Verdade,
representando o Cristo.
- O Espiritismo, doutrina não individual, mas extremamente abrangente, é o resultado do ensino coletivo de muitos Espíritos, orientados pelo Espírito de Verdade.
- O Espiritismo, o Consolador, teve precursores, preparadores de seu advento.
Pela sua força moralizadora já está preparando o advento da Era da Regeneração.
Quanto ao fenômeno do dia de Pentecostes, que muitos entendem como sendo a manifestação do Espírito Santo e a vinda do Consolador, pode-se entender que as aptidões mediúnicas de muitos dos discípulos foram desenvolvidas pelos Espíritos, auxiliando-lhes as futuras tarefas e missões.
Entretanto, o fenômeno nada acrescentou aos ensinos de Jesus, não trazendo conhecimentos novos e nem aclarando o que se achava obscuro.
Por isso, o Pentecostes não se pode confundir com o Consolador, cujas características o Mestre enunciou com precisão, e só se corporificaria com um mínimo de progresso geral do mundo, com o avanço espetacular das ciências; a partir dos últimos séculos, e com o triunfo da liberdade, contra as imposições
dogmáticas dos poderes absolutistas dos governos e das religiões.
De outro lado, afirmando aos apóstolos que o Consolador vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito, Jesus proclama a doutrina da reencarnação, já que aqueles a quem se dirigia só poderiam aproveitar dos novos ensinos no futuro indefinido, naturalmente em outras vidas.
REFORMADOR, ABRIL, 1998 5
E a doutrina da reencarnação, tal como a apresenta a Doutrina Espírita, de suma importância para a compreensão das leis divinas do Amor e da Justiça, não poderia ser compreendida, em toda a sua abrangência, senão com o advento do Consolador prometido, que já está no mundo.
O caráter consolador da Doutrina dos Espíritos manifesta-se a todos os sofredores do mundo, mostrando-lhes a causa dos sofrimentos e dores, que reside na ignorância, na maldade e nos transvios dos próprios homens com relação às leis naturais, ou divinas.
A Doutrina mostra a justiça dos sofrimentos sem esquecer a consolação  da busca da felicidade na vida presente ou futura.
Ela é inspiradora da fé viva e racional e da esperança, por pior que seja a situação individual. Afasta as dúvidas cruéis, decorrentes da descrença materialista e das crenças infundadas no inferno dos sofrimentos eternos.

O testemunho da verdade

“Não nasci e não vim a este mundo senão para dar testemunho da verdade.”
(João, 18:37.)
JUVANIR BORGES DE SOUZA
Essas palavras de Jesus, registradas no Evangelho de João, são parte do diálogo do Mestre com Pilatos, o governador romano que quis ouvir aquele que era perseguido pelos detentores do poder religioso, os
quais prenderam e tudo fizeram para o condenar à morte na cruz infamante.
A fraqueza do representante do poder romano ficou evidenciada por não ter encontrado nenhuma
transgressão de parte do acusado, conforme declarou, e, mesmo assim, cedeu às acusações infundadas
dos perseguidores fanáticos, que demonstraram sua profunda ignorância, diante não só de suas
próprias crenças, mas também perante um ser superior que viera a este mundo, então mais atrasado
que na atualidade, “para dar testemunho da verdade”.
O Mestre sabia perfeitamente da profunda ignorância daqueles que já haviam sido beneficiados
pela revelação mosaica, pela presença de diversos profetas, pela libertação da escravidão no Egito e
pelo encontro da terra prometida, que já habitavam há séculos.
Pela palavra do Mestre, sua excepcional missão, que abrange inúmeros aspectos da vida de
todos os habitantes da Terra, tanto dos que aqui viveram antes de sua vinda, quanto dos que renasceriam
após sua presença entre os homens, foi por Ele resumida numa afirmação, que encerra as mais vastas consequências para a renovação deste mundo e de todos os homens que o habitam.
“Dar testemunho da verdade” corresponde à reafirmação de um ser superior, o Governador espiritual
da Terra, de que seus habitantes de todos os tempos necessitam retificar inúmeras concepções,
crenças, ideias, sentimentos e tudo mais que constitui a vida em um mundo inferior, ajustando-os
à realidade e à verdade.
Sua missão foi a continuação dos esforços que já vinham sendo feitos por outros missionários a
seu serviço, desde tempos imemoriais, para que os habitantes deste orbe alcançassem melhores estágios
evolutivos.
Na época em que o Mestre resolveu estar presente entre seus irmãos menores, após a anunciação
de sua vinda pelos profetas, com cerca de oito séculos de antecedência, a Humanidade, muito
atrasada em suas ideias e crenças, era dominada pelo politeísmo multiforme e por costumes variados,
com a predominância da força entre os povos, como é prova o domínio do Império Romano sobre
grande parte das nações.
Vindo no seio do povo judeu, o único que acreditava na existência de um só Deus, mesmo assim
teve de enfrentar a profunda ignorância dos mandatários dos poderes temporal e religioso.
Sua luta foi constante e poucos foram os que compreenderam sua missão, seus ensinos superiores e
seus exemplos.
Procurou entre as pessoas simples e sinceras aqueles que se tornaram seus discípulos e continuadores
de sua obra excepcional.
O testemunho da verdade, a que se referia o Mestre, era o cumprimento das leis de Deus, que os
judeus já conheciam através das revelações recebidas por Moisés, mas que nem o povo hebreu e muito
menos os demais habitantes do mundo de então, com suas crenças politeístas e pagãs, conseguiam entender
no seu real sentido.
A base para o início do entendimento da lei suprema estava nos deveres e no amor para com o
Criador, o Deus único, e para com o próximo.
Jesus a formulou sinteticamente, de forma simples, para ser entendida sem a menor dificuldade
naquela época, nos dias atuais e no futuro:“Amar a Deus sobre todas as
coisas e ao próximo como a si mesmo”. (Mateus, 22:37-39.)
A autoridade e a sabedoria do Mestre ressaltam, ao formular esse ensinamento para a Humanidade
de todos os tempos, uma lei suprema, ao mesmo tempo geral, inteligível, simples, profunda e aplicável
a todas as criaturas.
A essa síntese admirável Jesus acrescenta que nela estão toda a lei e os profetas, antecipando futuros
enganos interpretativos, práticas exteriores e deformações que, mesmo dentro do Cristianismo,
foram inevitáveis, pelo atraso dos homens.
Em outra oportunidade, Jesus deixou claro que as leis divinas devem ser cumpridas integralmente,
em toda parte e em toda a sua pureza.
Por isso, podemos compreender que mundos atrasados, como o nosso, habitado por populações muito
diversificadas em suas crenças, conhecimentos e, sobretudo, no desconhecimento da vida e da verdade,
evoluem tão lentamente.
É que as leis divinas não são privilégio das minorias que as conhecem e as praticam, mas precisam
ser entendidas e cumpridas por toda a população de determinado mundo, para que todos possam
evoluir.
Daí a existência de diferentes esferas, tanto materiais quanto espirituais, num mesmo mundo como a Terra.
Foi o próprio Cristo que declarou: “O céu e a Terra não passarão sem que tudo esteja cumprido até
o último iota”. (Mateus, 5:28.)
Podemos deduzir dessas palavras que é um erro grave a falta de compreensão e de solidariedade
entre os indivíduos, assim como entre os povos e nações, em diferentes condições de adiantamento,
de conhecimentos, de riqueza e de pobreza, todos vivendo em um mesmo mundo, o que
não impede o progresso individual e coletivo.
Daí a dedução lógica de que o mundo regenerado só será alcançado quando as leis divinas forem
conhecidas e praticadas pela grande maioria da população planetária, exceção feita a uma pequena
minoria de Espíritos rebeldes, que serão encaminhados a outro mundo condizente com suas
condições evolutivas.
A presença do Consolador no mundo já é indício de nova orientação e compreensão sobre a verdade
e a vida, como o foi a vinda do Cristo, há cerca de dois mil anos.
Vivemos tempos novos em que os ensinos e os exemplos do Governador espiritual deste orbe precisam ser entendidos e vivenciados em seu verdadeiro sentido.
As ciências e as religiões, em vez de se complementarem e se entenderem reciprocamente, em geral se repelem, impulsionadas pelos prejuízos do materialismo multifário, de um lado, e por crenças e interpretações distorcidas, de outro.
Agora, com o avanço dos conhecimentos das leis universais, dos mundos e das esferas espirituais,
que os colocam em relacionamento com o mundo material em que vivemos, um novo entendimento,
uma nova luz é percebida, aproximando a fé e a razão e fortalecendo a ambas.
Cumpre restabelecer a verdadeira doutrina do Cristo, cujos princípios essenciais encontram-se em seu Evangelho e foram profundamente alterados pelo entendimento infeliz dos homens e por interesses
imediatistas, com a criação de um Cristianismo dogmatizado, em que o culto exterior quase sempre
abafa a fé verdadeira.
Para Jesus, uma só palavra poderia resumir toda a filosofia e todas as religiões: o Amor
Tudo se resume no amor a Deus sobre todas as coisas e no amor ao próximo como a si mesmo.
O Espiritismo, o Consolador prometido, vem para restabelecer o entendimento de tudo o que ensinara
o Mestre, sem as distorções interpretativas, além de nos trazer o conhecimento de coisas novas,
mostrando-nos forças e inteligências atuantes na Natureza e dando outra compreensão da vida, através
da fenomenologia espiritual.
Essas novas percepções do Espírito imortal, que tanto pode estar livre da matéria, nas esferas espirituais,
como renascer múltiplas vezes, ligado a um corpo especial, material, que lhe permite novas experiências
e adiantamentos, é outro ângulo da realidade, da qual o Mestre continua dando testemunho a todos
aqueles que despertam para o conhecimento da verdade.

Revista O Reformador de agosto de 2009

Qual o Futuro do Homem para Lá do Túmulo?


Rodolfo Calligaris
Malgrado todos os espiritualistas cristãos (considerados como tais os que concebem a alma como um ser moral distinto do corpo físico, ao qual sobrevive) apontem as Escrituras Sagradas como base dos princípios fundamentais de sua fé, várias e contraditórias são as suas teorias acerca dessa magna questão.
Na opinião de uns, a sorte das almas decide-se no próprio instante da morte. As "eleitas" vão imediatamente para o céu, e as "rejeitadas", para o inferno. Isso até o dia do juízo universal, ocasião em que voltarão a unir-se a seus corpos ressurretos, sem os quais (dizem) nem aquelas conseguem ser completamente felizes, nem estas podem ser convenientemente castigadas.
Segundo outra concepção, além do céu e do inferno, existiria uma estância intermediária: o purgatório, lugar de expiação para as almas que, não estando inteiramente livres do pecado, tenham algumas penas a descontar antes de serem recebidas no céu. Também para os partidários desta crença, haverá, no juízo universal, uma religação das almas a seus antigos corpos para que, juntos, recebam sua sentença de glória ou de condenação.
No entender de outros, ocorrendo à morte, as almas trespassadas perdem a consciência de tudo e ficam como que em sono profundo, até o evento do juízo. Somente nesse dia é que os justos ressuscitarão para a vida eterna, sendo que os considerados maus ou serão destruídos ou descerão para as regiões onde há choro e ranger de dentes.
Há ainda quem afirme que o céu já está lotado por um número certo de almas santificadas, não havendo lá mais vaga para ninguém. No final dos tempos, os que merecerem a graça da salvação, terão seu futuro "habitat" aqui mesmo na Terra, que, devidamente expurgada, transformar-se-á em delicioso paraíso.
Essas doutrinas só se põem inteiramente de acordo em um ponto. E' quando dogmatizam que o homem vive apenas uma vez (ainda que, em certos casos, por apenas alguns minutos), depois do que sua boa ou má sorte será definitivamente selada, sem que lhe seja possível, além sepultura, arrepender-se e emendar-se.
Ora, o que se vê neste mundo é que, do selvagem ao civilizado, os dons se evidenciam assaz desproporcionados, o mesmo acontecendo com o nível de moralidade. Nem mesmo ao nascerem, as criaturas se apresentam igualmente dotadas. Assim, se o futuro de cada ser, na eternidade, dependesse realmente de uma só vida corpórea, então Deus devera ensejar a todos as mesmas aptidões e oportunidades de instruir-se, assim como igualar a duração da existência humana, porquanto premiar uns com deleites infinitos e condenar outros a torturas atrozes para todo o sempre, sem lhes haver assegurado uniformidade de condições para merecerem este ou aquele destino, constituiria a mais tremenda injustiça.
Outrossim, se os mortos não pudessem, mesmo, arrepender-se de seus erros, nem tomar novas resoluções, qual a utilidade da pregação do Evangelho feita a eles pelo próprio Cristo, corno se lê em I S. Pedro, 4 :6?
A Doutrina Espírita responde à indagação que serve de título a estas linhas dizendo que, como filhos de Deus, criados à Sua imagem e semelhança, todos os homens se destinam à perfeição, o que vale dizer, à felicidade.
Através das vidas sucessivas, todos hão de assenhorear-se da Verdade e, de progresso em progresso, vir a "amar o próximo como a si mesmos", conquistando destarte o "reino do céu", que é um estado (retidão de consciência) e não propriamente um lugar.
Com tal destinação, a alma deve caminhar sempre para frente e para o alto, crescendo em ciência e em virtude, rumo à Razão Infinita e ao Supremo Bem.
Cada uma das existências terrestres ou nos milhares de mundos que pontilham o Universo, não é senão um episódio da grande vida imortal. Em cada uma delas, vencemos um pouco da ignorância e do egoísmo que há em nós, depuramo-nos, fortalecemo-nos intelectuais e moralmente, até que, por merecimento próprio, adquiramos o acesso aos planos superiores da espiritualidade, moradas de eterna beleza, sabedoria e amor!
Leitor amigo: não é esta a doutrina que melhor se coaduna com a majestade e os excelsos atributos do Criador?
(Revista Reformador de março de 1964)

A autoridade paterna


Rodolfo Calligaris
O amor materno e autoridade paterna são dois elementos essenciais ao bom equilíbrio das relações familiares.
Releva frisar que mãe e pai não estão dissociados em suas funções. Pelo contrário, à mãe cabe também certa autoridade sobre os filhos, assim como nada impede que o pai manifeste ternura para com eles.
A separação que aqui se faz visa apenas enfatizar isto: o que o filho mais espera e precisa da mãe é o amor; do pai, a autoridade.
Autoridade é a palavra derivada de autor, deixando claro que essa prerrogativa é inerente ao autor. E o caso do pai, autor da vida do filho.
Pode ele delegar parte de sua autoridade a outras pessoas, durante algum tempo e no que tange a certos aspectos da educação do filho. Permanece, porém, a instância de apelo supremo.
Isto é verdadeiro, não apenas do ponto de vista jurídico, mas igualmente do ponto de vista psicológico. Deixe a criança de sentir acima dela a proteção da autoridade paterna e seu equilíbrio emocional será afetado, com prejuízo, inclusive, para a sua maturidade.
A criança detesta, quase sempre, aqueles que a tiranizam, pois gosta de ser tratada com moderação e justiça; mas, por outro lado, despreza e agride o pai frouxo e piegas cuja incapacidade a priva de um apoio que deseja e lhe é indispensável.
Sim, a par da liberdade, sem a qual não poderia auto afirmar-se, a criança necessita, também, da autoridade para que seja orientada nos seus julgamentos e saiba disciplinar a própria vontade.
Se contar com a preciosa ajuda da autoridade, ela evoluirá na fase inicial, instintiva, em que busca simplesmente o prazer através da satisfação de suas necessidades, para a outra fase, adulta, em que lhe caberá enfrentar as vicissitudes da vida, nem sempre isenta de dificuldades e sofrimentos.
Sem isso, manter-se-á em dependência infantil, sem conseguir ajustar-se aos grupos sociais em que será obrigada a viver, ou melhor, a conviver, criando a tudo instante condições de atrito com os semelhantes.
Pais existem que, ultrapassando os limites da autoridade, exercem um domínio absoluto e cruel sobre os filhos, não lhes permitindo a menor discussão a respeito de suas ordens, que exigem sejam cumpridas rigorosamente, valendo-se dos métodos repressivos da ameaça, da surra, da crítica mordaz e humilhante, das proibições sistemáticas, etc.
O máximo que conseguem com essa maneira de agir é uma submissão cega, sem consentimento interior, o que fará dos filhos indivíduos tímidos e gaguejantes, com fortes sentimentos de inferioridade, ou então revoltados, futuros tiranos da própria prole.
Outros, em contraposição, seja por comodismo, seja por fraqueza, não exercem a menor autoridade sobre os filhos: deixam-nos à solta, permitindo-lhes tudo, satisfazendo a todos os seus desejos, numa atitude de superindulgência que, longe de traduzir bondade, o que evidencia é falta de amor, ou, pelo menos, indiferença pela sua sorte.
Este tipo de educação, está provado, só pode tornar as pessoas incontestáveis, exigentes, egoístas, incapazes de oferecer a menor cooperação a quem quer que seja. Pior ainda: favorece os desregramentos e conduz à libertinagem, principais fatores da delinqüência em todos os tempos.
Autoridade legítima é o processo pelo qual o pai ajuda o filho a crescer e a amadurecer, para que chegue à autonomia sabendo que a liberdade tem um preço: a responsabilidade. É a maneira pela qual o pai conduz o filho à auto-realização, desenvolvendo-lhe as potencialidades, sem entretanto, exigir mais do que ele possa dar, respeitando-lhe as limitações.
É, sobretudo, força moral que o pai deve ter sobre o filho, baseada na admiração que lhe desperta, por se constituir um modelo digno de ser imitado.
Em suma, a verdadeira autoridade jamais se impõe pela violência. É uma decorrência natural das qualidades paternas, entre as quais se destacam as seguintes:
  1. Ser autêntico, isto é, conhecer o papel que lhe cabe no lar e exercê-lo com segurança e continuidade.
     
  2. Ser justo, tratando todos os filhos com igual solicitude, sem nunca demonstrar preferência ou aversão por nenhum.
     
  3. Ser um educador, castigando quando preciso, mas sabendo também desculpar, valorizar e incentivar.
     
  4. Ser coerente, mantendo seu ponto de vista acerca do que lhe pareça certo ou errado, evitando proibir um dia e deixar fazer no outro.
     
  5. Ser cordial, promovendo o afeto, a estima e a camaradagem entre os familiares.
     
  6. Ser compreensivo, superando os conflitos e mantendo seu amor ante os erros dos filhos.
     
  7. Ser clarividente, sabendo discernir entre o que é essencial e o que é secundário.
     
  8. Ser conciliador, acatando as opiniões do grupo familiar, ao invés de impor apenas as suas.
     
  9. Ter presença no lar, acompanhando de perto a vida dos filhos, por saber que o abandono moral é caminho para a delinqüência.
     
  10. Ter serenidade, evitando dar mostras de impaciência, irritação ou cólera.
     
  11. Ter firmeza, dando “sim” quando julgue que possa dá-lo, tendo a coragem de dizer e manter o “não”, sempre que isso se faça necessário.
     
  12. Ter espírito aberto, procurando estar sempre bem informado, para saber interpretar construtivamente os acontecimentos do mundo.
     
  13. Ter estabilidade emocional, evitando, quanto possível, as variações de humor e os inconvenientes que daí decorrem.
     
  14. Ter maturidade, aceitando as responsabilidades decorrentes de sua condição de chefe de família, especialmente as de pai.
     
  15. Ter prestígio, por seus exemplos de amor ao trabalho, hábitos sadios, civismo, gosto de ser útil ao próximo, etc.
***
Quantos pais são infelizes em seus filhos, porque não lhes combateram desde o princípio as más tendências! Por fraqueza, ou indiferença, deixaram que neles se desenvolvessem os germens do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que produzem a secura do coração: depois, mais tarde, quando colhem o que semearam, admiram-se e se afligem da falta de deferência com que são tratados e da ingratidão deles.” (Allan Kardec, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. V, nº 4)
***
(De “A vida em família”, de Rodolfo Calligaris)

Escravo do Pecado


Rodolfo Calligaris
“Dizia Jesus aos judeus que nele creram: se permanecerdes na minha palavra sereis verdadeiramente meus discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.
Responderam eles: Somos descendentes de Abraão e em nenhum tempo fomos havia motivos para preocupar-se.
Chocado e envergonhado, o soberbo rapaz disse:
- Oh, cara, eu lamento muito.
- Então, em memória de minha filha, eu, orgulhosamente, também uso esta pequena faixa rosa. Através dela, tenho tido oportunidades de elucidar as pessoas. Agora, vá para casa e converse escravos de alguém; como dizes tu que viremos a ser livres?
Retorquiu Jesus: Em verdade, em verdade vos digo, que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado.”
(João, 8:31-34.)
Há quem imagine, baseado na letra de um ou outro texto escriturístico, que para salvar-se nenhuma outra coisa se faz necessária ao homem senão que ele creia em Jesus-Cristo.
“Crer em Jesus”, na opinião de tais criaturas, é aceitar como regra de fé que a “efusão do sangue generoso do Justo tem o poder de lavar todos os pecados do crente”.
Argumentam, conseqüentemente, que as boas obras são Jesus) não são filhos de Deus, mas sim filhos do Diabo, pré-condenados à perdição eterna, etc.
Quer-nos parecer, entretanto, que a lídima Doutrina Cristã é bem diferente.
Haja vista que, no lanço em epígrafe, Jesus se dirige a alguns dos que creram nele e, longe de acenar-lhes com privilégios especiais, diz-lhes claramente que só há um modo de se darem a conhecer como discípulos seus: “permanecerem na sua palavra”, isto é, seguirem-no fielmente imitando-lhe a vida de serviço em favor dos semelhantes.
Seus ensinos, calcados no amor a Deus ao próximo, são a mais pura expressão da Verdade. Conhecê-los e exercitá-los significa, pois libertar-nos da ignorância, da superstição e d egoísmo, que geram o sofrimento, ganhando aquele estado de alegria e de paz interior que caracteriza “o reino dos céus”.
A condição sine qua non para nos incluirmos entre aqueles definidos na segunda oração do versículo 31: “sereis verdadeiramente meus discípulos”, deu-a o Mestre na primeira: “SE permanecerdes na minha palavra”. Não há, por tanto, como sofismar: só é cristão, efetivamente aquele que permanece fiel à palavra do Nazareno, amando e servindo ao próximo, como que rena ser amado e servido.
A confirmação desta exegese, temo-la em profusão por todo o Evangelho, notadamente neste outro tópico de João (13:34-35), onde o Cristo nos diz: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros tanto como eu vos amei. NISTO (Em vos amardes uns aos outros) conhecerão todos que sois meus discípulos.”
Os recém-conversos não entenderam, porém, de pronto, a que tipo de libertação o Mestre se referia, e daí o lhe terem respondido daquele jeito: “nunca fomos escravos de ninguém; como, pois, nos dizes que seremos livres ?“
Ensinando-lhes, então, que “todo aquele que comete pecado é escravo do pecado”, Jesus reafirma a Lei de Causa e Efeito, que caberia ao Espiritismo elucidar minuciosamente, segundo a qual cada um se faz responsável pelos maus atos que pratique, devendo expiá-los na medida exata dos agravos ou danos causados a outrem.
Somos livres na semeadura do Bem ou do Mal; todavia, uma vez feita a escolha, as boas ou más conseqüências serão a “colheita obrigatória” daquilo que houvermos feito.
Se a opção foi pelo Bem, ficamos com um crédito da mesma espécie, que se manifestará infalivelmente em nossa vida, em moedas de bênçãos e felicidades; se, entretanto, a opção foi pelo Mal, ficamos necessariamente em débito com a Justiça Divina (escravos do pecado cometido), sendo que, neste caso, o preço do resgate se expressará em dores e aflições proporcionais ao que fizemos sofrer.
Se isso não se der na mesma existência, dar-se-á em outra ou outras, mas, de forma nenhuma ficaremos impunes, eis que “aquilo que o homem semear, isso mesmo há-de colher”.
Assim, pois, o fato de alguém pertencer a esta ou àquela religião, não o isenta, absolutamente, do cumprimento das Leis de Deus; pelo contrário, quanto melhor as conheça e compreenda tanto maior sua obrigação de observá-las, porque “a quem mais foi dado, mais lhe será pedido”.
(Revista Reformador – janeiro de 1965)

Jesus Apazigua a Tempestade


Rodolfo Calligaris
“Jesus tomou em seguida a barca, acompanhado pelos discípulos. E eis que se levantou no mar um tempestade tão grande que as ondas cobriam a barca. Ele, entretanto, dormia.
Os discípulos então se aproximaram dele e despertaram, dizendo: Senhor, salva-nos que perecemos.
Jesus lhes respondeu: Porque tendes medo, homens de pouca fé? E, levantando-se, mandou que o ventos e o mar se aquietassem, e grande bonança logo se fez.
Os homens, cheios de admiração, diziam: Quem é este a cujas ordens os ventos e o mar obedecem?"
(Mat, 8:23-27.)
Malgrado certas aparências em contrário, tudo, na Terra, obedece a leis naturais, concorrendo para um objetivo providencial: o aperfeiçoamento de suas condições de habitabilidade, simultaneamente, o progresso da Humanidade que a povoa.
A exemplo das incontáveis moradas do Pai celestial, disseminadas na incomensurabilidade do espaço, a Terra é governada e protegida por um Espírito perfeito, preposto de Deus: Jesus assessorado, se é que assim nos podemos exprimir, por falanges de entidades espirituais altamente evoluídas.
A essas entidades, como agentes da vontade divina, incumbe estabelecer e manter a harmonia das forças físicas da Natureza, em cujo mister contam com o concurso de enormes massas de Espíritos, dos quais uns dirigem e outros são dirigidos, como acontece entre nós.
Presidindo aos destinos deste mundo desde a sua formação, conforme nos instrui o evangelista João (1:9-10), Jesus tinha (como ainda tem) completo domínio sobre os que movimentam os elementos naturais, de sorte que, a uma manifestação de sua vontade potentíssima, tanto podia fazer cessar uma tempestade e serenar as ondas do mar, como promover outros fenômenos análogos, maravilhosos, sem dúvida, mas perfeitamente explicáveis, hoje, à luz do Espiritismo.
Sua ação no episódio em tela visava a despertar a fé, virtude preciosa, naqueles que o acompanhavam, pois, conhecedor profundo da psicologia humana, sabia que, sem o estímulo dessas demonstrações surpreendentes, poucos haveriam de perseverar no discipulado cristão.
Mas, que tais fatos não constituíam milagres, deu-o a entender o próprio Mestre ao afirmar: “Aquele que crer em mim (entenda-se: que se tornar uno comigo, em sabedoria e bondade, como eu o sou com o Pai) fará também as coisas que eu faço, e outras ainda maiores. (João, 14:12.)
Talvez nos objetem: como podem as tempestades, os furacões, as erupções vulcânicas, os terremotos e outros flagelos, concorrer para a evolução da Terra, como dissemos de início, se só causam destruição, desordem, sofrimento e morte?
E’ que nosso planeta, relativamente novo, ainda não alcançou as melhores condições de equilíbrio, e sendo, como é, um mundo de expiação e de provas, tais cataclismos, ao mesmo tempo que contribuem para aquele fim (embora não o percebamos, tão limitada é a nossa visão no tempo e no espaço), ensejam aos que são vitimados por eles o resgate de dívidas contraídas perante a Justiça Divina, sofrendo dores e aflições que a outrem fizeram sofrer. Servem, ainda, para que todos nós, no afã de prevenir­-lhes ou remediar-lhes os efeitos, nos desenvolvamos intelectualmente, e, pela compaixão que nos inspira, exercitemos o devotamento e a caridade para com o próximo.
Estejamos certos: nada ocorre no mundo à revelia de Deus, assim como nada, absolutamente nada, pode contrariar os seus altos e sábios desígnios.
As calamidades que atingem, ora um ora outro povo, têm, todas, uma razão justa, se bem que inacessível ao nosso pequenino grau de entendimento atual.
Portanto, quando venhamos a ser provados no sofrimento, lembremo-nos destas palavras das Escrituras: “Bem-aventurado o homem a quem Deus corrige, porque Ele dá o golpe, mas Suas próprias mãos operam a cura.” (Job, 5:17-18.)
(Revista Reformador de agosto de 1964)

O Endemoniado Geraseno


Rodolfo Calligaris
“Tendo atravessado o mar, desembarcaram no país dos gerasenos e, mal Jesus descera da barca, veio ter com ele um homem possuído do espírito imundo, homem esse que ninguém conseguia dominar nem mesmo com correntes, pois muitas vezes estivera com ferros aos pés e preso por cadeias, os quebrara. Vivia dia e noite nas montanhas e as sepulcros, a gritar e a flagelar-se com pedras. Ao ver Jesus, de longe, correu para ele e o adorou, exclamando em altas vozes: Que tens tu comigo, Jesus, filho de Deus Altíssimo? Eu te suplico, não me atormentes. Isso porque Jesus lhe ordenava:
Espírito imundo, sai desse homem. Perguntando-lhe Jesus: como, te chamas? - respondeu: Chamo-me Legião, porque somos muitos.
Ora, havia ali uma grande vara de porcos pastando na encosta do monte, e os demônios faziam a Jesus esta súplica: manda-nos para aqueles porcos, a fim de entrarmos neles. E como Jesus lhes desse permissão para isso, os Espíritos impuros, saindo do possesso, entraram nos porcos; toda a manada saiu a correr impetuosamente e foi precipitar-se no mar, onde se afogou.
Os que a apascentavam fugiram e foram espalhar na cidade e nos campos a notícia do que se passara. Logo acorreram muitos até onde estava Jesus e, encontrando o homem que ficara livre dos demônios sentado a seus pés, vestido e de perfeito juízo, se encheram de temor. Ouvindo, então, dos que presenciaram o fato, a narrativa do que sucedera ao possesso e aos porcos, todos pediram a Jesus que deixasse aquelas terras.”
(Dos EVANGELHOS.)
Temos aqui um caso impressionante de possessão, cuja vítima, subjugada por uma falange de Espíritos perversos, tornara-se o terror dos sítios em que vivia.
Pelo relato dos evangelistas, bem podemos imaginar-lhe a terrível figura: seminu e coberto de feridas sangrentas, olhos esfogueados, cabelos longos e em desalinho, pedaços de corrente a lhe penderem das pernas, mais haveria de parecer uma fera do que propriamente uma criatura humana.
Compadecido do infeliz, Jesus liberta-o de tão má influência, como que lhe restitui de pronto a razão, o domínio de si mesmo, e, convidando-o a sentar-se junto de si, põe-se a edificá-lo com seu verbo terno e esclarecedor, preparando-o para que viesse a ser mais um arauto da Boa Nova, e, ao voltar para a companhia dos familiares, ao contar-lhes que coisa estupenda o Senhor fizera por ele, estivesse habilitado anunciar-lhes também a doutrina de Amor, e Tolerância e de Justiça que estava sendo trazida ao mundo, cuja observância é o mais seguro remédio contra todos os males que afligem e infelicitam a Humanidade.
Quanto aos Espíritos obsessores, não entra nos porcos, como supuseram os circunstantes, coisa que hoje melhor se compreende; apenas se fizeram visíveis aos suínos e estes, espavoridos, se precipitaram do monte para baixo em tão desabalada carreira que, não podendo estacar ao chegarem à praia, introduziram-se no mar, perecendo afogados.
O episódio em tela, ao mesmo tempo que ressalta o extraordinário poder de Jesus (baseado na perfeição de seu caráter) e sua incomensurável piedade para com os sofredores, pôs em relevo, por outro lado, a mesquinhez de muitos homens, para os quais o interesse material a tudo sobreleva.
A cura daquele possesso que os trazia em sobressalto deveria ser, para os gera-se nos, motivo de se regozijarem e se mostrarem agradecidos àquele que operara tal maravilha. Ao invés disso, porém, só levaram em conta a perda de seus animais e, receosos de novos prejuízos pecuniários, despediram de suas terras, qual se fora um intruso indesejável, o próprio Filho de Deus que os honrara com sua augusta presença.
Agora meditemos.
Nós outros não estaremos agindo, ainda hoje, de igual maneira? Não continuamos colocando as conveniências mundanas acima dos galardões espirituais?
Conquanto nos pese reconhecê-lo, todas as vezes que contrariamos a Doutrina Cristã, porque seguir-lhe os preceitos nos custaria o sacrifício de algum lucro temporal, é como se, visitados pelo Mestre, o puséssemos para fora de nossa porta!
(Revista Reformador de fevereiro de 1966)