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terça-feira, 19 de novembro de 2013

ALLAN KARDEC E O CONTROLE UNIVERSAL DO ENSINO DOS ESPÍRITOS






                                                        Suely Caldas Schubert

         “Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre          as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de          médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares. (...) Essa verificação universal          constitui uma garantia para a unidade futura do Espiritismo e anulará todas as teorias          contraditórias. Aí é que, no porvir, se encontrará o critério da verdade.”
                   Allan Kardec  (ESE  Introdução: Autoridade da Doutrina Espírita)

         A visão criteriosa e profunda do Codificador estabeleceu que a autoridade da Doutrina Espírita repousa na universalidade do ensino dos espíritos e na concordância entre estes ensinos.
         Trata Kardec, porém, não de comunicações relativas a interesses secundários, mas dos princípios da Doutrina. Quer isso dizer que as revelações dos espíritos, a partir da Codificação aos tempos atuais e futuros, deverão sempre ser submetidas a esse controle, ou seja, ao crivo da razão. Tudo o que venha dos espíritos necessita ser analisado, conforme aconselha Kardec. 
         Esse processo, utilizado por Kardec na composição de O Livro dos Espíritos e demais obras da Codificação, é bem o exemplo  do cuidado e atenção que se deve ter em relação a tudo o que venha da Espiritualidade por intermédio dos médiuns.
         Nas reuniões mediúnicas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, bem como naquelas realizadas nos lares da sra. Plainemaison e da família Baudin, especialmente, o mestre lionês  constatou, no intercâmbio com os espíritos, as suas diferentes condições e capacidades e que estes, considerados individualmente,  não estão de posse de toda a verdade; que o conhecimento de cada um é proporcional ao seu estado evolutivo.
         Desde o início de suas pesquisas, Kardec compreendeu que os espíritos inferiores e mal intencionados procuram enganar os encarnados, mistificando, encobrindo a sua verdadeira condição, utilizando nomes famosos, de vultos veneráveis, utilizando termos como Deus, amor, caridade, citações de frases do Evangelho, às vezes com tal sutileza que enganam até os mais experientes médiuns e outras pessoas, ingênuas e de boa-fé , que tomam conhecimento dessas mensagens. Esses espíritos, não raramente, propõem mudanças, dizem-se encarregados de alguma missão elevada cujo finalidade, segundo eles, é ajudar as pessoas a progredir.
         Ressalta o Codificador :
         “Toda teoria, em manifesta contradição com o bom-senso, com uma lógica rigorosa e com dados positivos já adquiridos, deve ser rejeitada por mais respeitável que seja o nome que traga como assinatura.” (ESE Introdução pág.31)
         Na advertência acima encontramos pontos importantes que devem merecer  uma reflexão mais atenta. Observemos que é uma frase bastante incisiva, que não deixa margem a dúvidas. Qualquer teoria, portanto, que apresente os três pontos citados: contradição com o bom-senso, com uma lógica rigorosa e com dados positivos já adquiridos, deve ser rejeitada. E acrescenta: por mais respeitável  seja o nome que a assina. Este o crivo da razão.
         Interessante mencionarmos que os espíritos bem-intencionados, os bons espíritos, os espíritos superiores, enfim, não temem a análise de suas mensagens, não ficam melindrados, aborrecidos ou magoados; primeiro porque já venceram esses sentimentos negativos;  segundo porque  nada têm a temer quanto ao conteúdo das suas comunicações. Só os espíritos inferiores, os mistificadores, os pseudo-sábios se agastam com isso, tanto quanto os médiuns pelos quais transmitem suas mensagens. As armas  que esses espíritos utilizam são, via de regra, a ironia, o sarcasmo, o deboche, as insinuações dúbias, o tom acusador.
         Para se ter uma idéia da forma como atuam recomendamos a leitura do capítulo 31 de O Livro dos Médiuns, onde estão registradas algumas comunicações apócrifas. Em nota ao final do capítulo, Kardec leciona:
         “De fato, a facilidade com que algumas pessoas aceitam tudo o que vem do mundo invisível, sob o pálio de um grande nome, é que anima os Espíritos embusteiros. A lhes frustar os embustes é que todos devem consagrar a máxima atenção; mas, a tanto ninguém pode chegar, senão com a ajuda da experiência adquirida por meio de um estudo sério. Daí o repetirmos incessantemente: Estudai, antes de praticardes, é esse o único meio de não adquirirdes experiência à vossa própria custa.” (grifamos)
         Temos observado que, nos últimos tempos, esses critérios têm sido deixados de lado, pois aceita-se tudo o que é novidade, algumas realmente estranhas, sem nenhum respaldo doutrinário, que contrariam o bom-senso, e tudo isso fartamente divulgado, como se não fosse importante manter-se a fidelidade à Codificação.
         A falta de estudo, a inexperiência, a ingenuidade podem levar a pessoa a uma situação difícil.  O espírito Erasto, um dos expoentes da falange do Espírito de Verdade, faz uma advertência em O Livro dos Médiuns que requer a nossa atenção:
         “Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos velhos provérbios. Não admitais, portanto, senão o que seja, aos vossos olhos, de manifesta evidência. Desde que uma opinião nova venha a ser expendida, por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da razão e da lógica e rejeitai desassombradamente o que a razão e o bom-senso reprovarem. Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.” (grifamos) (cap. XX it.230)
         A Doutrina Espírita, como é do conhecimento geral, não proíbe nada, cada um escolhe livremente o seu caminho e as opções de vida, no uso do seu livre-arbítrio,  tornando-se responsável pela própria conduta.
         Entretanto é imprescindível atentar para o fato de que, acima de tudo, como espíritas, devemos ser fiéis à Doutrina dos Espíritos.
         Ao comemoramos o sesquicentenário do lançamento de O LIVRO DOS ESPÍRITOS,  nosso pensamento se volta à data de 18 de abril de 1857, no momento em que Allan Kardec, emocionado, tem em suas mãos, pela primeira vez, a obra impressa, a 1ª edição. Talvez não avaliasse, em sua natural modéstia, que naquele instante o advento do Consolador prometido por Jesus estava se concretizando. Seu esforço, sua abnegação ao cumprimento da missão que lhe fora confiada, sua renúncia íntima e silenciosa o levaram a dedicar os anos restantes de sua vida à causa da Doutrina Espírita.
         Assim, que a nossa homenagem ao Codificador esteja impregnada de nosso profundo amor  e respeito à grandiosa obra por ele empreendida.
         Amar a Doutrina é preservá-la de alterações, de mudanças, de atualizações que lhe desfigurariam os princípios norteadores e luminosos.
         Sejam para Allan Kardec as palavras do Espírito de Verdade:
         “As grandes missões só aos homens de escol são confiadas e Deus mesmo os coloca, sem que eles o procurem, no meio e na posição em que possam prestar concurso eficaz.” (O Livro dos Médiuns cap. XXXI it. XV)

 Fonte:http://suelycaldasschubert.webnode.com.br/artigos/

Afinização nos grupos Mediúnicos





“O médium, em meio dessas correntes contrárias, experimenta uma opressão, um mal-estar indefinível, sente-se mesmo, às vezes, como que paralisado, sucumbido.” Léon Denis   (No Invisível)

O bom êxito das reuniões mediúnicas repousa numa série de fatores que se conjugam para chegar-se ao resultado almejado.
            Não raras vezes as reuniões têm comprometido o seu rendimento, harmonia e qualidades dos trabalhos sem que os participantes atinem com o motivo de tais dificuldades. Vários detalhes são lembrados para justificar os embaraços e, consequentemente, iniciativas são providenciadas para saná-los.
            Entretanto, existe um fator nem sempre valorizado e que pode ser a causa da queda de produção e qualidade dos trabalhos mediúnicos. Esse fator é a afinização que deve existir entre todos os participantes. Afinização que gera confiança, harmonia, entrosamento e amizade. Afinização que cria, nos instantes consagrados ao intercâmbio com os desencarnados, uma espécie de “tensão” favorável às comunicações.
            Os pensamentos e sentimentos dos integrantes da sessão, estando em determinadas freqüências vibratórias adequadas ao labor da mediunidade é que propiciarão o ambiente necessário para a realização de trabalhos equilibrados e produtivos.
            Muitos dirigentes de sessões atribuem o fraco resultado à falta de concentração e recomendam, várias vezes, no decorrer das atividades que os presentes se mantenham concentrados de maneira firme e constante. Pode acontecer, porém, que um membro do grupo esteja firmemente concentrado, fixando-se mentalmente em Jesus, no bem e na caridade e ao mesmo tempo duvide ou desconfie da autenticidade da comunicação transmitida por determinado médium. Ou critique, intimamente, a doutrinação que está sendo efetuada; se isto ocorrer o equilíbrio da corrente vibratória estará comprometido.
            Quanto mais coeso for o grupo, quanto mais se unir no estudo e na prática mediúnica melhores resultados poderão ser alcançados.
            Todavia, se houver entre os presentes pensamentos divergentes, sentimentos de melindres, ciúmes, desconfiança será impossível conseguir-se êxito. Tais estados íntimos negativos, tornando-se uma constante, produzem vibrações discrepantes, desarmônicas, podendo gerar, no transcurso da sessão, formas-pensamento que atrairão entidades inferiores, abrindo brechas  que irão desequilibrar as tarefas programadas.
            Por outro lado, como afirma Léon Denis, o médium em meio a esse tipo de vibrações sente-se confuso, vacila e duvida, quando não lhe advém um mal-estar súbito, inexplicável.
            É imprescindível mencionar ainda, que os obsessores interessados em obstar os trabalhos visam freqüentemente os participantes da equipe, procurando semear entre eles a discórdia, a inveja, o personalismo e outros estados negativos, de maneira tão  sutil e disfarçada que a maioria não percebe.
            Comumente se atribui aos médiuns as dificuldades no intercâmbio espiritual,  esquecendo os demais membros do grupo de analisar a sua própria participação.
            A participação individual, todavia, é deveras  importante nas tarefas da mediunidade e passa, desde a preparação que antecede as atividades até por uma concentração firme, que estabeleça um certo padrão vibratório favorável a todo o conjunto dos trabalhos,  assim permanecendo até o final da reunião.
            Além disso, se houver entre os participantes uma interação fraterna e amorosa que gera confiança, bem-estar, prazer de trabalhar em equipe, alegria pelo reencontro semanal, tudo isso favorece o intercâmbio com o mundo espiritual.
            É nessa linha de raciocínio que chegamos à responsabilidade de cada integrante.
Responsabilidade que vai muito além da atuação durante os trabalhos; responsabilidade que inclui também o tipo de sentimentos e pensamentos que cada um emite  visto que refletem um estado interior que antecede e subsiste às reuniões.
            Mesmo entre pessoas afinizadas muitas arestas precisam ser superadas, visto que o labor em equipe tem características especiais que nem todos alcançam de imediato ou a ele se ajustam. Mesmo os grupos com larga experiência e reconhecida interação vibratória não estão livres de sofrer, em algum momento e sob certas circunstâncias, o assédio de entidades malévolas e se desestruturar em razão disso.
            Cientes e conscientes de tais possibilidades compete aos participantes de equipes mediúnicas uma constante vigilância, a prática da auto-análise individual e também da avaliação em grupo a fim de ser detectadas a tempo as investidas das sombras.
            Manoel Philomeno de Miranda, Espírito, aconselha aos grupos mediúnicos atividades extras no campo da caridade, convivência e ajuda mútua na esfera do cotidiano pois que o serviço no bem confere maior resistência às influências negativas, enquanto a convivência fraterna faculta maior estreitamente nos laços de afinidade entre todos.
            E, sobretudo, que cada um se revista da couraça da fé e do escudo da prece, cultivando no coração a caridade e a humildade, perseverando sempre pois que os serviços na seara espírita representam a nossa mais sagrada oportunidade de redenção.

                                            Suely Caldas Schubert

Fonte:http://suelycaldasschubert.webnode.com.br/artigos/

Amor e sexualidade

Publicado por Alberto Almeida

AMOR E SEXUALIDADE

Pergunta – “Têm sexo os espíritos?”           
Resposta – “Não como entendeis, pois que os sexos dependem de uma organização. Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na concordância dos sentimentos.”
(O Livro dos Espíritos, questão 200)

***

Entre as energias mais poderosas por nós conhecidas está a força sexual inerente à natureza, manifesta em todos os reinos da criação universal, desde o mineral até as culminâncias angelicais, em inabordáveis expressões.
O princípio espiritual, desde o início da sua caminhada evolutiva, traz a sexualidade manifesta em nível muito primário, até alcançar as dimensões mais complexas, quando o princípio anímico passa a se constituir Espírito[1], na sua simplicidade e na sua ignorância, ao despontar no reino hominal, agora apresentando uma sexualidade revestida de novas demandas de expressão, em face da nova posição evolutiva em que se encontra.
A energia sexual, então, embute no ser humano primitivo as características ancestrais conquistadas cumulativamente, tendo no instinto animal a sua última aquisição ainda a reger a sua dinâmica existencial, mormente nas faixas mais primárias do seu desenvolvimento, quando, de modo muito sutil, desabrocham as novas possibilidades que irão compor, com o tempo, a configuração do homem atual.
A sexualidade no espírito encarnado, mediada pela gratificação de que se reveste, tem como funções a reprodução, a troca de energias magnéticas entre os parceiros[2] e a canalização do potencial criativo para outras finalidades superiores[3], quais as construções de obras da cultura, da arte, da assistência, da ciência etc., com vistas ao progresso infinito.
O amor é o penhor de garantia para o exercício de uma sexualidade centrada no equilíbrio e na harmonia. Cabe ao amor assegurar a sustentação da energia sexual, mantendo a ecologia intrapessoal e interpessoal, grupal e planetária propiciadora de paz.
Desta feita, caso o amor não tome parte regendo o sexo, surgem, invariavelmente, várias perturbações, que vão desde as alterações orgânicas até os transtornos psiquiátricos, incluindo os distúrbios socioemocionais e os processos espirituais obsessivos.
Portanto, com a ausência de amorosidade, surgem:
  1. Uma gratificação sexual centrada no gozo fisiológico propriamente dito, incitando o indivíduo a buscar relações para a descarga de sua pulsão libidinosa, transformando suas reações em encontros meramente sexuais, cujo prazer se adstringe ao sexo de superfície; surge daí uma busca por compensação com relações diversificadas e/ou com o aumento da frequência de cópulas, tentando-se, desse modo, contrabalançar a ausência de qualidade na gratificação afetivo-sexual por meio da quantidade de atos e/ou de parceiros sexuais.
  2. Uma reprodução tipificada pela paternidade e maternidade irresponsável; ou então, a criminalização da própria existência quando a gravidez recebe um endereçamento pelas vias do lamentável aborto delituoso.
  3. Uma união sexual com desperdício energético pela descarga libidinal, sem que haja a permuta magnética entre os parceiros da conjugação carnal, em face da ausência de compromisso afetivo, condenando o relacionamento à morte, pois que se reduz a uma interação estritamente corpórea, sem horizontes para a evolução do acasalamento.
  4. Um empobrecimento na utilização da canalização da energia criativa, pela escassez de amorosidade balizando seu direcionamento, e ficando, muitas vezes, como rio caudaloso, sem o controle de uma usina moral, a promover enchentes e calamidades morais de consequências imprevisíveis para todos os que são alcançados pela sua inundação.

Entretanto, quando o amor está presente, conectado às funções da energia sexual, surgem:
  1. Uma gratificação sexual que excede a de natureza fisiológica sem excluí-la, de vez que contempla prazer emocional, intelectual, espiritual etc., transformando o relacionamento em interação plenificante; isto porque a pulsão sexual está inserida numa perspectiva de ecologia global do ser, configurando uma sexualidade de profundidade regida por valores ético-morais, plena de gratificações. Pela qualidade de que se reveste, inclina-se para uma configuração de fidelidade natural à monogamia.
  2. Uma reprodução responsável, com assunção da paternidade e
da maternidade, e com absoluta rejeição da prática criminosa do abortamento como forma de lidar com o produto da concepção.
  1. Uma comunhão afetivo-sexual, com ampla troca de forças
magnéticas como alimento em regime de reciprocidade, assegurando a sustentação do equilíbrio e da evolução crescente do relacionamento de acasalamento.
  1. Uma adequada canalização das forças eróticas – quando experimenta a ausência de conjugação sexual direcionada para outras formas criativas de vida, caracterizadas pela produção do bem, do belo, do bom…, com vastas contribuições para a Humanidade.
***
Importante considerar que o sexo sem amor é mero impulso instintual constituindo o macho e a fêmea, destituído de valores intelecto-morais como categorias que demarcam um novo estágio de manifestação do princípio espiritual, compondo o homem e a mulher como espíritos reencarnados, de modo a dar prevalência aos ascendentes de sua natureza espiritual sobre os de natureza animal que ainda carregam.
Muitos julgam estar amando porque detêm um bom desempenho sexual; todavia, em não havendo amor, experimentam o enfado e a carência como quem esteja sentindo muita sede, não obstante estar tomando muita água… Porém, salgada!
Inúmeras pessoas tentam, em vão, preencher as lacunas amorosas deixadas por figuras representativas de sua história infantil, mormente pai e mãe, por meio do sexo propriamente dito. Destarte, fixam-se em seus parceiros conjugais em processos de transferência psicológica, sem aquilatar, efetivamente, o quanto amam de fato aqueles aos quais se vinculam sexualmente pelo acasalamento.
Incontáveis indivíduos, julgando amar, tão somente buscam sua afirmação de gênero, procurando, por meio da relação sexual, assegurar sua virilidade ou sua feminilidade, na tentativa de dissolver algum conflito da infância, quando foi colocada em xeque sua identidade sexual.
Incalculáveis almas cedem aos apelos sexuais na ânsia de suprir suas carências afetivas, sem que isto se constitua em solução; ao contrário, agravam suas demandas interiores, em face de seus parceiros de encontros eróticos comparecerem com uma sexualidade, às vezes, intensa, entretanto, destituída de qualquer amorosidade.
Várias pessoas procuram o sexo propriamente dito como a única fonte de prazer que se encontra disponível, sobretudo nas classes socioeconômicas mais despossuídas. Sucede, também, que, experimentando o gozo erótico, pensam estar vivenciando o amor.
Frequentes espíritos guardam dificuldades de fidelizar o sexo ao amor, em face de terem vivido reencarnações repetidas alimentando condicionamentos poligâmicos em ambientes e culturas que estimulavam semelhantes procedimentos.
Afinal, quantas outras situações despontam no cotidiano comunicando uma fragmentação entre a sexualidade e o amor e determinando um exercício da libido de maneira disfuncional, senão patológica, que agrava o sofrimento das almas sequiosas de plenitude amorosa.
***
Sexualidade é departamento do espírito, que não se situa numa parte do corpo, muito embora possa se expressar pelo aparelho genital. Contudo, mesmo quando genitalizada, precisa do balizamento de uma ética amorosa, sob pena de, ainda que produza gozo, vir a se transformar em pulsão de angústia e de vazio, de conflitos e de sofrimentos, de compulsões e de transtornos diversos, contaminando a rede de relações afetivas em todas as direções.
No entanto, caso o amor guie a energia sexual, estabelece-se a harmonização e a plenificação do ser, exteriorizando felicidade e evolução, quando e onde o espírito esteja.
E, caso esta vida reflita o mau manejo da libido no passado reencarnatório, pela presença de dores ou de limitações, de exacerbações ou de falhas, de distúrbios emocionais ou de transtornos psiquiátricos, o amanhã será o futuro abençoado de realizações e de (re)encontros promissores, se a ética do amor sustentar o seu curso na atual existência corpórea.

***
“Mestre, esta mulher foi apanhada, em flagrante, adulterando. Na Lei, nos ordenou Moisés serem apedrejadas tais mulheres. Portanto, que dizes tu?”
“(…) Jesus (…) lhes disse: Quem dentre vós estiver sem pecado atire sobre ela a primeira pedra.”
(João, 8:4, 5 e 7)

( extraído do livro “O Amor Pede Passagem”)
http://www.albertoalmeida.net/amor-e-sexualidade/

A culpa tóxica e o rancor

Por: Alberto Almeida

 A CULPA TÓXICA E O RANCOR


Hipócrita! Retira primeiramente a viga do teu olho, e então verás (em profundidade) para retirar o cisco do olho do teu irmão[1]
                                         
*
A culpa e a mágoa são as duas faces que se contrapõem ao perdão.
Primariamente, o remorso é a agressividade dirigida a si mesmo; o rancor, ao outro.
O remorso fala de uma transgressão à lei divina observada quando se age em prejuízo do próximo ou de algo, gerando sofrimento ou desarmonia para fora de si, com igual reflexo para a própria consciência.
Em idênticas circunstâncias, em sentido contrário, sucede quando é o outro quem age lesando-nos, gerando sofrimento ou prejuízos para nós, podendo aí se instalar o rancor contra aquele que também violou a lei de amor.  
O remédio é o autoperdão e o heteroperdão, respectivamente, para a culpabilidade e o ressentimento.
Quando o espírito se detém na culpa, ocorre a presença do remorso indesejável e nocivo àquele que o carrega, por se constituir em culpa tóxica.
A culpa só é desejável quando se apresenta como arrependimento, ou seja, o “cair em si”, o “dar-se conta de”, abrindo espaço para um novo movimento da alma em direção à ação reparadora.
Todavia, no extremo oposto ao cultivo tóxico da culpabilidade está a pessoa que não faz contato com a culpa, mesmo equivocando-se gravemente; não demonstra nenhum incômodo com seus erros, podendo, desse modo, estar revelando a presença de uma sociopatia* caracterizadora de um transtorno mental de alta complexidade.
                                               **
 Reconcilia-te (…) depressa com teu adversário, enquanto estás no caminho com ele; para que o adversário não te entregue ao Juiz, e o Juiz te entregue ao Oficial, e sejas lançado na prisão. Amem vos digo que de modo nenhum sairás dali até que restituas o último quadrante*[2] é a advertência de Jesus para os que desejam viver em harmonia, livres do peso amargo da culpa e/ou mágoa.
A sentença é de uma clareza meridiana. Divide-se em dois movimentos bem distintos.
*
 O primeiro movimento: Reconcilia-TE… É a parte que nos cabe, na medida em que desejamos seguir o caminho do perdão. É um apelo para que façamos a nossa parte, aquela que diz respeito somente a nós mesmos, independentemente do outro com quem conflitamos.
Esta etapa fala da nossa relação conosco mesmos, do trabalho interno à revelia do outro, que permanece apenas como espelho através do qual nos enxergamos; é fazer conosco aquilo que só nós podemos concretizar: o autoperdão.
Este caminho é individual, intransferível, inalienável*. É percorrido a despeito de nosso adversário tomar ciência ou não, concordar ou não, estar perto ou distante. Tudo só depende de nós. É trabalho de autorreconciliação, de autoamor, exigindo às vezes muito tempo para a construção do autoperdão* gerador de paz interior.
Portanto, é tratar o remorso e/ou rancor que pesadamente carregamos.
*
Ainda no primeiro movimento, aprofundando e visando a uma análise didática, foquemos, exclusivamente, a culpa.
 A citação evangélica – Reconcilia-TE- revela que habitualmente cometemos erros (ensaios ao aprendizado), posto que o chamado não se restringe à conciliação, mas sim à reconciliação, caracterizando haver reincidência nos equívocos.
Importa saber se há limites para repetirmos os erros que terminam por nos imputar remorsos.
A resposta está na indagação de Pedro ao Cristo:
- Até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes?[3]
 Esta era a medida do seu limite para indultar alguém: sete. Mas como a verdade tem mão dupla, logo este também era o número de vezes que Pedro precisaria do perdão dos outros.
Simão, tomando a si mesmo como referência, estabeleceu que seria capaz de perdoar até sete vezes, como a sugerir, inconscientemente, que erraria no máximo até sete vezes, necessitando, portanto, de igual número de perdões dos outros e, por extensão, de autoperdões para concretizar o reconcilia-TE.
O Mestre, no entanto, demonstrou o quanto Pedro não se conhecia, pois que pretendia limites muito ousado para si mesmo. E faz uma nova proposta para a aritmética do perdão de Simão, assinalando:
- Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete[4].
E Jesus tinha razão, de vez que, somente na casa do sumo sacerdote, ele negaria o seu Mestre três vezes, sem falar dos momentos que antecederam o aprisionamento, quando ele dorme mais de uma vez no Monte das Oliveiras, e, ao despertar, fere a orelha do soldado que vem prender o Cristo, em frontal contradição aos ensinos de mansidão e brandura recebidos de Jesus.
Jesus, considerando a fragilidade dos seres humanos, aproveita a ocorrência com o discípulo para propor as setenta vezes sete, indicando a natureza recorrente de falibilidade que caracteriza a humanidade ainda em nível de evolução precária.
Igualmente, deixava implícito aos Pedros-humanos que não só precisaríamos perdoar setenta vezes sete, mas que, e, sobretudo, seríamos capazes de errar em igual montante[5], carecendo do perdão dos outros indefinidamente.
Desta fala de Jesus pode-se deduzir ainda outro ensinamento, num exame mais atento do dia a dia:
- Quantas vezes, pelo mesmo motivo, explodimos em cólera contra um ente querido, ficando, em seguida, carentes de repetidos perdões?
- Quantas crises mórbidas de ciúme, ferindo a pessoa amada, fazem-nos implorar por incontáveis desculpas?
- Quantos episódios repetidos de maus-tratos ao nosso corpo, pela ingestão de substâncias declaradamente nocivas fazem-nos pedir sucessivos perdões ao cérebro?
- Quantos vícios, afetando-nos a saúde pelos prejuízos ao equilíbrio biológico, fazem-nos reiterar súplicas de misericórdia ao corpo?  
- Quantas encrencas por falta de camaradagem com colegas de trabalho impõem-nos renovados pedidos de desculpas?
Enfim, parece que precisamos de setenta vezes sete perdões para CADA UMA DAS ÁREAS FRÁGEIS da nossa vida, posto que incorremos NOS MESMOS ERROS, reeditamos os mesmos ensaios… até fazermos a fixação de um aprendizado.
Assim sendo, seja a culpa, seja a mágoa, o reconcilia-TE significa darmos conta da parte que nos compete num conflito, assumindo a responsabilidade pela cota que nos diz respeito; sem transferi-la ou delegá-la a ninguém, como é usual fazermos projetando* nossa encrenca sobre outras pessoas (adversário, pai, mãe, filho, amigo, etc.), ou sobre os astros, os espíritos, a má-sorte, ou, ainda, sobre a profissão, a cidade, Deus… 
                                               *
O segundo movimento: reconcilia-te... COM TEU ADVERSÁRIO.
Aqui entra em cena o outro pelo qual nos sentimos lesados (rancor), ou a quem lesamos (remorso).
O adversário pode ser alguém (cônjuge, pai, mãe, filho, família, sócio, vizinho, etc.), mas pode também ser algo (nosso corpo, um país, uma profissão, uma doutrina, etc.).
Neste momento, entra em jogo a relação com o adversário, ou seja, um contato com o outro. Requer, por isso mesmo, uma ação de busca do outro, a fim de se estabelecer a segunda etapa da reconciliação.
É desse modo que se cuidará da mágoa presente nas relações como uma energia agressivo-destrutiva, trazendo nomes e tons variados: raiva, ressentimento, ódio, cólera, etc.; ou, então, se tratará da culpabilidade que comparece com tonalidades conhecidas sob os nomes de remorso, pesar, compunção*, contrição, etc.
Aqui, precisamos de uma interação com aquele que ocupa a posição de adversário. É a ação de ir ao encontro do outro, precisando da sua participação e cumplicidade, para se efetivar o perdão total.
Naturalmente que o sucesso dessa busca, nesta etapa, depende também do outro, já que ele é chamado a participar ativamente da construção do perdão, “estendendo a mão”. É construção a dois, solidária, de parceria.    
Se houver disponibilidade de ambos para uma aliança, um acordo, então se fará (enquanto estás a caminho) uma jornada de perdão, até que se conclua o desatamento dos nós do sofrimento, com a dissolução das mágoas/culpas e o (re)estabelecimento dos laços de harmonia e de paz.
Contudo, caso o outro protagonista rejeite o reencontro, evitando o contato por ainda não se encontrar receptivo à aproximação e à conciliação, sejamos aquele que guarda a consciência pacificada de quem, após se reconciliar consigo próprio, ousou ir ao encontro do seu irmão para efetivar o perdão, buscando o equacionamento justo da pendência.
Respeitemos, portanto, o arbítrio* do outro, quando este se decida a evitar o reencontro, seja qual for o motivo da sua recusa.  Como não nos compete violentar a vontade de ninguém, cabe, apenas, o silêncio de quem optou por fazer a sua parte, ficando em paz.
Logo, em fazendo o segundo movimento, nós nos libertamos do rancor e/ou do remorso, e concluímos internamente o perdão, com ou sem a participação do outro.
Assim procedendo, futuramente não será necessária a presença do juiz (a consciência), nem do oficial de justiça (os bons espíritos), tampouco da prisão (um novo corpo, uma nova reencarnação) para a solução das contendas que ficaram pelo caminho.

                                               ***
 (Extraído do livro “O Perdão como Caminho” )





[1] Bíblia Sagrada, Mateus, capítulo 7, versículo 5.
[2] Bíblia Sagrada, Mateus, capítulo 5, versículos 24 e 25.
[3] Bíblia Sagrada, Mateus, capítulo 18, versículo 21.
[4] Bíblia Sagrada, Mateus, capítulo 18, versículo 22.
[5] O Consolador, resposta 338.

domingo, 10 de novembro de 2013

ALÉM DO SONO

 Calderaro

       
A nossa reunião na noite de 17 de fevereiro de 1955 foi assinalada por verdadeiro regozijo.
É que, através dos recursos psicofônicos do médium, nosso grupo recebeu pela primeira vez a palavra direta do Instrutor Espiritual Calderaro (1), cuja presença nos sensibilizou muitíssimo.
Em sua alocução aborda alguns apontamentos alusivos à nossa conduta espiritual durante o sono físico, estudo esse que consideramos de real valor para a nossa edificação.


 De passagem por nosso templo, rogo vênia para ocupar-lhes a atenção com alguns  apontamentos ligeiros, em torno de nossas tarefas habituais.
Dia e noite, no tempo, simbolizam existência e morte na vida.
Não há morte libertadora sem existência edificante.
Não há noite proveitosa sem dia correto.
Vocês não ignoram que a atividade espiritual da alma encarnada estende-se além do sono físico; no entanto, a invigilância e a irresponsabilidade, à frente de nossos compromissos, geram em nosso prejuízo, quando na Terra, as alucinações hipnogógicas, toda vez que nos confiamos ao repouso.
É natural que o dia mal vivido exija a noite mal assimilada.
O espírito menos desperto para o serviço que lhe cabe, certamente encontrará, quando desembaraçado da matéria densa, trabalho imperioso de reparação a executar.
Por esse motivo, grande maioria de companheiros encarnados gasta as horas de sono  exclusivamente em esforço compulsório de reajuste.
Mas, se o aprendiz do bem atende à solução dos deveres que a vigília lhe impõe, torna- se, como é justo, além do veículo físico, precioso auxiliar nas realizações da Esfera Superior.
Convidamos, assim, a vocês quanto a outros amigos a quem nossas palavras possam chegar, à tarefa preparatória do descanso noturno, através do dia retamente aproveitado, a fim de que a noite constitua uma província de reencontro das nossas almas, em valiosa conjugação de energias, não somente a benefício de nossa experiência particular, mas também a favor dos nossos irmãos que sofrem.
Muitas atividades podem ser desdobradas com a colaboração ativa de quantos ainda se prendem ao instrumento carnal, principalmente na obra de socorro aos enfermos que enxameiam por toda parte.
Vocês não desconhecem que quase todas as moléstias rotineiras são doenças da idéia, centralizadas em coagulações mentais, e somente idéias renovadoras representam remédio decisivo.
Por ocasião do sono, é possível a ministração de amparo direto e indireto à vítimas dos labirintos de culpas e das obsessões deploráveis, por intermédio da transfusão de fluídos e  de raios magnéticos, de emanações vitais e de sugestões salvadoras que, na maior parte dos casos, somente os encarnados, com a assistência da Vida Superior, podem doar a outros encarnados.
E benfeitores da Espiritualidade vivem a postos, aguardando os enfermeiros de boa- vontade, samaritanos da caridade espontânea, que, superando inibições e obstáculos, se transformem em cooperadores diligentes na extensão do bem.
Se vocês desejam partilhar semelhante concurso, dediquem alguns momentos à oração, cada noite, antes do mergulho no refazimento corpóreo.
Contudo, não basta a prece formulada só por só.
É indispensável que a oração tenha bases de eficiência no dia bem aproveitado, com abstenção da irritabilidade, esforço em prol da compreensão fraterna, deveres irrepreensivelmente atendidos, bons pensamentos, respeito ao santuário do corpo, solidariedade e entendimento para com todos os irmãos do caminho, e, sobretudo, com a calma que não chegue a ociosidade, com a diligência que não atinja a demasiada preocupação, com a bondade que não se torne exagero afetivo e com a retidão que não seja aspereza contundente.
Em suma, não prescindimos do equilíbrio que converta a oração da noite numa força de introdução à espiritualidade enobrecida, porque, através da meditação e da prece, o homem começa a criar a consciência nova que o habilita a atuar dignamente fora do corpo adormecido.
Consagrem-se à iniciação a que nos referimos e estaremos mais juntos.
É natural não venham a colher resultados, de imediato, nas faixas mnemônicas, mas, pouco a pouco, nossos recursos associados crescerão, oferecendo-nos mais alto sentido de  integração com a vida verdadeira e possibilitando-nos o avanço progressivo no rumo de mais amplas dimensões nos domínios do Universo.
Aqui deixamos assinalada nossa lembrança que encerra igualmente um apelo ao nosso trabalho mais intensivo na aplicação prática ao ideal que abraçamos, porque a alma que se devota à reflexão e ao serviço, ao discernimento e ao estudo, vence as inibições do sono fisiológico e, desde a Terra, vive por antecipação na sublime imortalidade.

 Calderaro
Francisco Cândido Xavier. Da obra: Instruções Psicofônicas. Ditado Espíritos Diversos.

SÓCRATES



Humberto de Campos

7 de janeiro de 1937
Foi no Instituto Celeste de Pitágoras (1) que vim encontrar, nestes últimos tempos, a figura veneranda de Sócrates, o ilustre filho de Sofronisco e Fenareta.  
A reunião, nesse castelo luminoso dos planos erráticos, era, nesse dia, dedicada a todos os estudiosos vindos da Terra longínqua. A paisagem exterior, formada na base de substâncias imponderáveis para as ciências terrestres da atualidade recordava a antiga Hélade, cheia de aromas, sonoridades e melodias. Um solo de neblinas evanescentes evocava as terras suaves e encantadoras, onde as tribos jônias e eólias localizaram a sua habitação, organizando a pátria de Orfeu, cheia de deuses e de harmonias. Árvores bizarras e floridas enfeitavam o ambiente de surpresas cariciosas, lembrando os antigos bosques da Tessália, onde Pan se fazia ouvir com as cantilenas de sua flauta, protegendo os rebanhos junto das frondes vetustas, que eram as liras dos ventos brandos, cantando as melodias da Natureza.
O palácio consagrado a Pitágoras tinha aspecto de severa beleza, com suas colunas gregas à maneira das maravilhosas edificações da gloriosa Atenas do passado.
Lá dentro, agasalhava-se toda uma multidão de Espíritos ávidos da palavra esclarecida do grande mestre, que os cidadãos atenienses haviam condenado à morte, 399 anos antes de Jesus-Cristo.
Ali se reuniam vultos venerados pela filosofia e pela ciência de todas as épocas humanas, Terpandro, Tucídides, Lísis, Ésquines, Filolau, Timeu, Símias, Anaxágoras e muitas outras figuras respeitáveis da sabedoria dos homens.
Admirei-me, porém, de não encontrar ali nem os discípulos do sublime filósofo ateniense, nem os juízes que o condenaram à morte. A ausência de Platão, a esse conclave do Infinito, impressionava-me o pensamento, quando, na tribuna de claridades divinas, se materializou aos nossos olhos o vulto venerando da filosofia de todos os séculos. Da sua figura irradiava-se uma onda de luz levemente azulada, enchendo o recinto de vibração desconhecida, de paz suave e branda. Grandes madeixas de cabelos alvos de neve molduravam-lhe o semblante jovial e tranqüilo, onde os olhos brilhavam infinitamente cheios de serenidade, alegria e doçura.
As palavras de Sócrates contornaram as teses mais sublimes, porém, inacessíveis ao entendimento das criaturas atuais, tal a transcendência dos seus profundos raciocínios. À maneira das suas lições nas praças públicas de Atenas, falou-nos da mais avançada sabedoria espiritual, através de inquirições que nos conduziam ao âmago dos assuntos; discorreu sobre a liberdade dos seres nos planos divinos que constituem a sua atual morada e sobre os grandes conhecimentos que esperam a Humanidade terrestre no seu futuro espiritual.
É verdade que não posso transmitir aos meus companheiros terrenos a expressão exata dos seus ensinamentos, estribados na mais elevada das justiças, levando-se em conta a grandeza dos seus conceitos, incompreensíveis para as ideologias das pátrias no mundo atual, mas, ansioso de oferecer uma palavra do grande mestre do passado aos meus irmãos, não mais pelas vísceras do corpo e sim pelos laços afetivos da alma, atrevi-me a abordá-lo:
- Mestre - disse eu -, venho recentemente da Terra distante, para onde encontro possibilidade de mandar o vosso pensamento. Desejaríeis enviar para o mundo as vossas mensagens benevolentes e sábias?
- Seria inútil - respondeu-me bondosamente -, os homens da Terra ainda não se reconheceram a si mesmos. Ainda são cidadãos da pátria, sem serem irmãos entre si. Marcham uns contra os outros, ao som de músicas guerreiras e sob a proteção de estandartes que os desunem, aniquilando-lhes os mais nobres sentimentos de humanidade.
- Mas. . . - retorqui - lá no mundo há uma elite de filósofos que se sentiriam orgulhosos de vos ouvir! ...
- Mesmo entre eles as nossas verdades não seriam reconhecidas. Quase todos estão com o pensamento cristalizado no ataúde das escolas. Para todos os espíritos, o progresso reside na experiência. A História não vos fala do suicídio orgulhoso de Empédocles de Agrigento, nas lavas do Etna, para proporcionar aos seus contemporâneos a falsa impressão de sua ascensão para os céus? Quase todos os estudiosos da Terra são assim; o mal de todos é o enfatuado convencimento de sabedoria. Nossas lições valem somente como roteiro de coragem para cada um, nos grandes momentos da experiência individual, quase sempre difícil e dolorosa.
Não crucificaram, por lá, o Filho de Deus, que lhes oferecia a própria vida para que conhecessem e praticassem a Verdade? O pórtico da pitonisa de Delfos está cheio de atualidade para o mundo. Nosso projeto de difundir a felicidade na Terra só terá realização quando os Espíritos aí encarnados deixarem de ser cidadãos para serem homens conscientes de si mesmos. Os Estados e as Leis são invenções puramente humanas, justificáveis, em virtude da heterogeneidade com respeito à posição evolutiva das criaturas; mas, enquanto existirem, sobrará a certeza de que o homem não se descobriu a si mesmo, para viver a existência espontânea e feliz, em comunhão com as disposições divinas da natureza espiritual. A Humanidade está muito longe de compreender essa fraternidade no campo sociológico.
Impressionado com essas respostas, continuei a interrogá-lo:
- Apesar dos milênios decorridos, tendes a exprimir alguma reflexão aos homens, quanto à reparação do erro que cometeram, condenando-vos à morte?
- De modo algum. Méletos e outros acusadores estavam no papel que lhes competia, e a ação que provocaram contra mim nos tribunais atenienses só podia valorizar os princípios da filosofia do bem e da liberdade que as vozes do Alto me inspiravam, para que eu fosse um dos colaboradores na obra de quantos precederam, no Planeta, o pensamento e o exemplo vivo de Jesus-Cristo. Se me condenaram à morte, os meus juízes estavam igualmente condenados pela Natureza; e, até hoje, enquanto a criatura humana não se descobrir a si mesma, os seus destinos e obras serão patrimônios da dor e da morte.  .
- Poderíeis dizer algo sobre a obra dos vossos discípulos? .
- .Perfeitamente - respondeu-me o sábio ilustre -, é de lamentar as observações mal-avisadas de Xenofonte, lamentando eu, igualmente, que Platão, não obstante a sua coragem e o seu heroísmo, não haja representado fielmente a minha palavra junto dos nossos contemporâneos e dos nossos pósteros. A História admirou na sua Apologia os discursos sábios e bem feitos, mas a minha palavra não entoaria ladainhas laudatórias aos políticos da época e nem se desviaria- para as afirmações dogmáticas no terreno metafísico. Vivi com a minha verdade para morrer com ela. Louvo, todavia, a Antístenes, que falou com mais imparcialidade a meu respeito, de minha personalidade que sempre se reconheceu insuficiente. Julgáveis então que me abalançasse, nos últimos instantes da vida, a recomendações no sentido de que se pagasse um galo a Esculápio? Semelhante expressão, a mim atribuída, constitui a mais incompreensível das ironias.
- Mestre, e o mundo? - indaguei.
- O mundo atual é a semente do mundo paradisíaco do futuro. Não tenhais pressa. Mergulhando-me no labirinto da História, parece-me que as lutas de Atenas e Esparta, as glórias do Pártenon, os esplendores do século de Péricles, são acontecimentos de há poucos dias; entretanto, soldados espartanos e atenienses, censores, juízes, tribunais, monumentos políticos da cidade que foi minha pátria, estão hoje reduzidos a um punhado de cinzas!. . . A nossa única realidade é a vida do Espírito.
- Não vos tentaria alguma missão de amor na face do orbe terrestre, dentro dos grandes objetivos da regeneração humana?
- Nossa tarefa, para que os homens se persuadam com respeito à verdade, deve ser toda indireta. O homem terá de realizar-se interiormente pelo trabalho perseverante, sem o que todo o esforço dos mestres não Passará do terreno do puro verbalismo.
E, como se estivesse concentrado em si mesmo, o,grande filósofo sentenciou:
- As criaturas humanas ainda não estão preparadas para o amor e para a liberdade... Durante muitos anos, ainda, todos os discípulos da Verdade terão de morrer muitas vezes!. . .
E enquanto o ilustre sábio ateniense se retirava do recinto, junto de Anaxágoras, dei por terminada a preciosa e rara entrevista.

(1) Nome convencional para figurar os centros de grandes reuniões espirituais no plano Invisível. - O Autor Espiritual

 
 
Do livro Crônico de Além Túmulo. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.