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sexta-feira, 16 de julho de 2021

OS MAGOS DO ORIENTE:"Tendo sido avisados os poderes terrenos de que o Rei Espiritual da Terra viera iniciar o seu reinado no coração dos homens, a reação das trevas foi de ódio.[...]Durante o progresso do Evangelho, vemos as trevas se insurgirem contra ele em quatro ocasiões"

 CAPÍTULO II

OS MAGOS DO ORIENTE


1 - Tendo pois nascido Jesus em Belém de Judá, em tempo do rei Herodes, eis que vieram do Oriente uns magos a Jerusalém.


2 - Dizendo: Onde está o rei dos judeus, que é nascido? Porque nós vimos no Oriente a sua estrela e viemos a adorá-lo.


3 - E o rei Herodes ouvindo isto se turbou e toda Jerusalém com ele.


4 - E convocando todos os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo, lhes perguntava onde havia de nascer o Cristo.


5 - E eles lhe disseram: Em Belém de Judá; porque assim está escrito pelo profeta:


6 - E tu Belém, terra de Judá, não és a de menos consideração entre as principais de Judá; porque de ti sairá o condutor, que há de comandar o meu povo de Israel.


7 - E então Herodes, tendo chamado secretamente os magos, inquiriu deles com todo o cuidado que tempo havia que lhes aparecera a estrela.


8- E enviando-os a Belém, dísse-lhes: Ide e informai-vos bem que menino é esse; e depois que o houverdes achado vinde-me dizer, para eu ir também adorá-lo.


9 - Eles, tendo ouvido as palavras do rei, partiram; e logo a estrela, que tinham visto no Oriente, lhes apareceu, indo adiante deles, até que chegando, parou onde estava o menino.


10 - E quando eles viram a estrela, foi sobremaneira grande o júbilo que sentiram.


11 - E entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe, e prostrando-se o adoraram; e abrindo os seus cofres lhe fizeram suas ofertas de ouro, incenso e mirra.


12 - E havida resposta em sonhos, que não tornassem a Herodes, voltaram por outro caminho a suas terras.


Segundo nos informa Emmanuel em seu livro, "A Caminho da Luz", as raças adâmicas guardaram a lembrança das promessas do Cristo que, por sua vez, a fortaleceu enviando-lhes periodicamente seus missionários. Os enviados do Infinito falaram na China milenária, da celeste figura do Salvador, muitos séculos antes do advento de Jesus. Os iniciados do Egito o esperavam. Na Pérsia, idealizaram sua trajetória, antevendo-lhe os passos no caminho do porvir. Na lndia védica, era conhecida quase toda a história evangélica, que o sol dos milênios futuros iluminaria na escabrosa Palestina. (Vide Emmanuel, "A Caminho da Luz", págs. 30 e 31, edição de 1941 ).


Os magos eram sacerdotes. Na antiga Pérsia formavam uma corporação que se ocupava do culto religioso e do cultivo da ciência, principalmente da astronomia. O verdadeiro significado da palavra mago é sábio. Eram respeitadíssimos pelo povo e dividiam-se em várias classes, cada uma das quais tinha privilégios e deveres distintos. Levavam uma vida austera, vestiam-se com extrema simplicidade e não comiam carne. É fora de dúvida que terão tomado conhecimento das profecias referentes à vinda do Messias, por meio dos israelitas, quando estes estiveram cativos na Babilônia. Estas profecias, guardadas carinhosamente no recesso dos templos, só eram reveladas aos iniciados nas coisas espirituais. Estudiosos da espiritualidade que eram, não lhes foi difícil compreender o verdadeiro caráter de Jesus e da missão que vinha desempenhar entre os homens, motivo pelo qual o esperavam através das gerações. Cultores da mediunidade que para eles não tinha segredos, são avisados pelos seus mentores espirituais, logo que Jesus se encarna. E comparando o aviso recebido com as profecias que possuíam, não duvidaram em ir prestar suas homenagens ao Messias, há tanto tempo esperado e desejado. A estrela que os guiava era um espírito que se lhes apresentava em forma luminosa.


Qual o objetivo que visavam os mentores espirituais, favorecendo a adoração dos magos?


O objetivo era chamar a atenção do povo hebreu de que o Messias prometido já se tinha encarnado.


Realmente, os magos despertaram a curiosidade do povo de Jerusalém, tanto que Herodes os chamou e os inquiriu sobre os motivos que os tinham trazido à cidade. Certos de que o povo escolhido também sabia da chegada do Cristo, candidamente respondiam que o tinham vindo adorar.


De nada valeu o aviso. Israel não soube perceber o advento do Salvador.


A FUGIDA PARA O EGITO; A MATANÇA DOS INOCENTES


13 - Partidos que eles foram, eis que apareceu um anjo do Senhor em sonhos a José e lhe disse: Levanta-te e toma o menino e sua mãe e foge para o Egito e fica-te lá até que eu te avise. Porque Herodes tem de buscar o menino para o matar.


14 - E José, levantando-se, tomou de noite o menino e sua mãe e retirou-se para o Egito.


15 - E ali esteve até a morte de Herodes; para se cumprir o que proferira o Senhor pelo profeta que diz: Do Egito chamei a meu filho.


16 - Herodes então, vendo que tinha sido iludido pelos magos, ficou muito irado por isso e mandou matar todos os meninos que havia em Belém e em todo o seu termo, que tivessem dois anos e daí para baixo, regulando-se nisto pelo tempo que tinha exatamente averiguado dos magos,


17 - Então se cumpriu o que estava anunciado pelo profeta Jeremias, que diz:


18 - Em Ramá se ouviu um clamor, um choro e um grande lamento; vinha a ser Raquel chorando a seus filhos, sem admitir consolação pela falta deles.


Tendo sido avisados os poderes terrenos de que o Rei Espiritual da Terra viera iniciar o seu reinado no coração dos homens, a reação das trevas foi de ódio.


E deliberaram destruí-la.


A Providência Divina, porém, fez com que o Messias fosse colocado em lugar seguro, enquanto se manifestava o temporário poder das trevas.


Obediente às intuições superiores que recebiam, os magos voltam a seus países, sem se avistarem de novo com os perseguidores do menino.


É decretada a matança dos inocentes. As crianças atingidas por este violento desencarne, eram espíritos em expiação.


Em encarnações passadas muito tinham errado, tornando-se, desse modo, merecedores do castigo pelo qual passaram.


Durante o progresso do Evangelho, vemos as trevas se insurgirem contra ele em quatro ocasiões: A primeira, quando Jesus nasceu. A segunda, quando Jesus foi crucificado. A terceira, quando os Apóstolos se espalharam pelo mundo, levando o Evangelho a todos os povos; então assistimos às perseguições dos cristãos. E a quarta é de nossos dias, quando, com o advento do Espiritismo, o Consolador que viria explicar o que Jesus deixou para mais tarde e reviver-Ihe os preceitos, seus adeptos foram ridicularizados.


A VOLTA DO EGITO


19 - E sendo morto Herodes, eis que o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José no Egito.


20 - Dizendo: Levanta-te e toma o menino e sua mãe e vai para a terra de Israel; porque são mortos os que buscavam o menino para o matar.


21 - José, levantando-se, tomou o menino e sua mãe e veio para a terra de Israel.


22 - Mas ouvindo que Arquelao reinava na Judéía em lugar de seu pai Herodes, temeu ir para lá; e avisado em sonhos se retirou para as partes da Galiléía.


23 - E veio morar numa cidade que se chama Nazaré; para se cumprir o que fora dito pelos profetas: Que será chamado Nazareno.


Em preservar a vida do menino, defendendo-o de seus perseguidores, devemos admirar a obediência de José, esposo de Maria e pai de Jesus.


Obedecendo às intuições de seus guias espirituais e ao seu anjo da guarda, José rendeu um preito de adoração e de veneração a Deus, nosso Pai.


Se José não tivesse obedecido às inspirações superiores, teria falhado na missão que lhe fora conferida de velar pela infância de Jesus.


Observemos aqui a ação maravilhosa da mediunidade. Os magos, José e Maria, receberam as ordens dos planos superiores por meio da mediunidade que possuíam. Por aí vemos que todo médium que trata amorosamente de sua mediunidade e sabe obedecer às inspirações de seus superiores espirituais, tem, na própria mediunidade, um arrimo seguro para triunfar de suas provas e de suas expiações na Terra.


Eliseu Rigonatti


Livro: O Evangelho dos Humildes

domingo, 22 de novembro de 2020

HONRAI VOSSO PAI E A VOSSA MÃE .

"Existis, porque os vossos pais existiram, antes de vós. Sem eles, onde estaria a vossa alma e o motivo da vossa soberba? Que o nome dos vossos pais esteja sobre a vossa cabeça, e pelo nome dos vossos pais sacrificai o vosso. Quando ouvirdes dizer que o vosso pai é pecador, defendei o nome dele, e se o pecado subsistir chorai no vosso coração, rogai a Deus por esse pecado e buscai apagá-lo da vossa mente - e Deus honrará o vosso nome nos vossos filhos, apagará o vosso pecado da mente deles e dar-vos-á o galardão da vida eterna. "




 Comunicações ou ensinos dos Espíritos

XVIII


Honrai a vosso pai e a vossa mãe, aos quais Deus delegou uma parte do seu poder. Eles são uma manifestação visível da Providência divina, cuidando das crianças desde o seu nascimento. Se virdes que o vosso pai infringe o preceito e não segue o caminho da virtude — cerrai os olhos e buscai esquecer o pecado do vosso pai, e rogai ao Senhor que apague esse pecado da sua presença. Se o vosso pai for cego — que os vossos olhos sejam os seus alhos; se for tolhido, que os vossos pés sejam os seus pés e que a vossas mãos sejam as suas mãos; porque deles, por delegação do Pai, recebestes os vossos olhos, as vossas mãos e os vossos pés. Nunca digais diante do vosso pai: 

 
 
Existis, porque os vossos pais existiram, antes de vós. Sem eles, onde estaria a vossa alma e o motivo da vossa soberba? Que o nome dos vossos pais esteja sobre a vossa cabeça, e pelo nome dos vossos pais sacrificai o vosso. Quando ouvirdes dizer que o vosso pai é pecador, defendei o nome dele, e se o pecado subsistir chorai no vosso coração, rogai a Deus por esse pecado e buscai apagá-lo da vossa mente - e Deus honrará o vosso nome nos vossos filhos, apagará o vosso pecado da mente deles e dar-vos-á o galardão da vida eterna. Honrai as cãs dos velhos. Os cabelos brancos do ancião são o testemunho da madureza do seu juízo, e as rugas do seu semblante são as letras de um livro escrito pelo dedo do Senhor. Não desprezeis o conselho do velho, nascido na oficina da sua experiência; o seu saber é muitas vezes amargo, mas a sua virtude atua sobre a alma e corrige os sentidos. Honrai os ministros da palavra, que são os distribuidores da luz para aqueles que a não conhecem; porque, aquele que os honra, honra à luz e honra Àquele que a enviou. Honrai o Filho na luz, e o Pai no Filho. O que pratica a humildade e fala a sabedoria, o que vive na pobreza de coração e só prega a paz, o que viou, despreza o Filho na luz, e despreza o Pai no Filho. Os ministros da palavra são árvores de vida para os homens, e devem ser conhecidos pelos seus frutos. O que pratica a humildade e fala a sabedoria, o que vive na pobreza de coração e só prega a paz, o que abre a sua mão e o seu seio aos que vivem na humilhação, e diz sem temor a verdade aos poderosos, o que vela enquanto os outros dormem, o que ergue a voz para denunciar o perigo, o que tem puro o pensamento e vive nessa pureza de pensamento, o que diz em sua alma: eu não sou digno, esses são os ministros da palavra, e a bênção de Deus os segue, porque a palavra deles é bênção e aplaina os caminhos do Senhor. Nem todos os que dizem: Senhor! Senhor! Senhor! São ministros da palavra, mas sim aqueles que cumprem a vontade do Senhor. Surgirão falsos ministros da palavra, mas os seus caminhos serão obstruídos e o seu julgamento estará nas suas mãos e nos seus pés; porque a árvore da mentira não pode dar frutos da verdade. Dirão: abominai os bens do mundo e a alma deles vive nas riquezas e nas comodidades; aconselharão a humildade, e o orgulho lhes reside no coração e nos olhos; dirão: sede misericordiosos e caritativos,  e na boca se lhes aninham a injúria e a maldição, e acumulam o ouro e a prata, afrontando a miséria dos outros. Pregarão a mansidão e guardam o ódio contra os seus inimigos, considerando-os como obra de zelo pelo Senhor; dirão, sede honestos, mas a lascívia domina nos seus desejos, e o adultério, nos seus leitos. 

 
 
Esses não são os ministros da palavra, mas sim hipócritas, e por isso os seus ensinos são abomináveis. Se da sua boca saem palavras de verdade — essa boca é indigna da palavra e profana o dom de Deus. Ouvi as suas palavras da verdade, mas conservai-vos alerta e não vos deixeis surpreender pelas suas intenções. São os sepulcros caiados, de que fala Jesus. 


Fonte: Roma e Evangelho - Comunicações ou ensinos dos Espíritos -XVIII


 

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Educação espírita na nova era


--- Questão [#001]
Sendo o espiritismo uma doutrina de profundas conseqüências morais e  sociais
como abordaríamos os jovens da nova era ou como levar a doutrina a estes jovens?

Resposta: Com a proposta racional, coerente e profunda do Espiritismo bem
estudado e bem compreendido. A doutrina contém as respostas necessárias, para
satisfazer as ansiedades humanas permanentes e os conflitos do atual momento
histórico. Mas… o movimento espírita está longe de compreender e praticar essa
proposta. Por isso, tantos jovens, que fizeram evangelização, mocidade e
pertencem a famílias espíritas, quando chegam à Universidade, acabam por deixar
a nossa doutrina.. É que o Espiritismo tem evidências científicas, coerência
filosófica, experiências religiosas desprovidas dos dogmatimos e
hierarquizações, misticismos e alienações passadas e além disso é uma proposta
pedagógica altamente avançada. Mas o movimento espírita reduziu tudo isso a uma
seita de proporções acanhadas, com rivalidades por cargos, com um entendimento
meramente religioso (o que inclui de novo misticismo, hierarquias e dogmas),
desprezando o aspecto científico, ignorando a filosofia e a pedagogia. Dessa
forma, não pode atender às ansiedades e carências do jovem contemporâneo.
Idolatria a determinados médiuns, que passaram a ser os “gurus” do movimento
espírita; livros superficiais, na linha de auto-ajuda; a exploração comercial
de livros “espíritas” fracos no conteúdo e na forma; o desconhecimento e até o
desprezo da figura e da obra de Kardec (e não se trata de falar em Kardec,
porque todos falam dele e o usam, mas de compreender de fato a sua proposta); o
autoritarismo nos centros e nas federações… são apenas alguns dos problemas que
as cabeças mais pensantes identificam. Já na década de 1970, Herculano Pires
alertava contra tudo isso. De lá para cá, a coisa piorou muitíssimo. É com isso
que vamos fazer uma Nova Era? Copiando o misticismo, a irracionalidade e o
autoritarismo das formas institucionais passadas? Devemos voltar às origens e
ao mesmo tempo dialogar com a cultura contemporânea. Voltar às origens é nos
inspirarmos em Kardec, Léon Denis, Gabriel Delanne etc.; no Brasil, em
Herculano Pires, Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulfo,  e, como modelo de
mediunidade séria, equilibrada e avessa a toda essa idolatria vigente, cito a
grande Yvonne Pereira. E dialogar com o mundo é estar presente, nas
universidades, nos movimentos sociais, na vida contemporânea e não nos
tornarmos uma seita isolada e alienada!!!… Com isso sim, podemos formar uma
juventude embebida em ideiais elevados e firme em suas convicções e preparada
para enfrentar os desafios de hoje e de amanhã.

--- Questão [#002]
Qual é a missão da casa espírita na educação e formação da criança espírita?

Resposta: Para cumprir essa missão, a casa espírita deveria ser reformulada. A
criança, o adolescente e o jovem devem participar naturalmente do centro
espírita. Nada de grupos estanques: crianças de um lado, jovens de outro,
iniciantes, diretoria, etc. Tudo isso são hierarquias que não condizem com a
idéia da reencarnação. Sabemos que podemos ter entre nós um jovem muito
evoluído, que a maturidade mental e espiritual independe de idade… portanto,
categorizar os grupos por faixa etária é um erro. O Centro espírita deveria ser
como uma família, com a convivência natural de diferentes idades, participando
de diferentes atividades. A criança pode dar a sua ajuda em atividades sociais;
a criança deve ter contato com a mediunidade; o jovem pode fazer palestras,
coordenar grupos de estudos, já atuar mediunicamente, dar passes etc… Basta ver
como era com Eurípedes Barsanulfo. Ele tinha a escola espírita, mas os alunos
vinham à noite participar da sessão mediúnica. Ao mesmo tempo, aprendiam a
caridade, ajudando Eurípedes a cuidar dos doentes, dos obsedados, a fazer o
rótulo dos remédios e assim por diante. Ou seja, Espiritismo se aprende na
prática e no estudo participativo, interessante e não através de apostilinhas
pré-programadas, em grupos fechados. Recomendo sempre a leitura de uma
encantadora passagem de Kardec, na Revista Espírita de 1865, a respeito de um
menino de 9 anos de idade, que fez uma sessão mediúnica para uma senhora. O
menino era ninguém mais ninguém menos que Gabriel Delanne. Hoje, se Delanne
reencarnasse e freqüentasse um centro espírita, só iria ter contato com a
comunicação dos Espíritos depois de passar por evangelização, mocidade, curso
de iniciação mediúnica etc. etc. quando chegasse a isso, talvez nem fosse mais
espírita.

--- Questão [#003]
Seria possível, em sua opinião, incorporar os métodos de Pestalozzi na educação
espírita nessa nova era? e, se afirmativo, quais os pontos a serem ressaltados?

Resposta: Não é que seja possível, a proposta de Pestalozzi faz parte da
pedagogia espírita. E os princípios centrais são: a pedagogia do amor, da ação
e da liberdade. E uma não se dá sem a outra. O Espírito só se desenvolve, seja
no decorrer de suas sucessivas existências, seja na presente encarnação, se ele
toma nas próprias mãos a obra de seu aperfeiçoamento – o que é um ato de
liberdade – e realiza as suas potencialidades na ação concreta. Mas para que
ele queira fazer isso, não adianta violêntá-lo, obrigá-lo… é preciso despertar
a sua vontade de evolução através do amor! Eis o resumo de toda a pedagogia
espírita e pestalozziana.

--- Questão [#004]
Qual é a influência da tv na educação de nossas crianças, e  qual é  a
responsabilidade da casa espirita?

Resposta: A influência é geralmente muito negativa, salvo alguns poucos canais
e programas educativos. Mas não adianta proibir a criança, porque qualquer
proibição é contraproducente, tem muitas vezes o efeito contrário ao desejado.
O que é preciso é que a família, a escola, a casa espírita ofereçam
alternativas culturais estimulantes, que cativem o interesse e desenvolvam as
potencialidades da criança. Não se atrái uma criança que assiste TV, joga
vídeogame e vai ao cinema, com apostilas de evangelização (e muitas delas
parecem destinadas a crianças do início do século XX, com linguagem melosa,
paternalista e rebuscada). O estudo do espiritismo deve ser estimualado por
filmes, pesquisas, produções artísticas, debates, uso de internet etc. etc. ou
seja, deve captar a capacidade da criança para a reflexão, para a produção,
para a interação… A criança deve ter acesso direto aos textos de Kardec e desde
cedo ter acesso a parte científica e filosófica do espiritismo e não apenas à
religiosa, como o nome “evangelização”  aliás pressupõe.

--- Questão [#005]
Percebe-se que além do uso de métodos especificos e de deerminadas técnicas, o
educando precisa de alguém que lhe inspire confiança e segurança, qual deve ser
a enfâse da Educação Espírita na nova Era: o uso adequado de métodos e técnicas
ou o uso racional dos sentimentos e das virtudes? Julgo as duas coisas
importantes, mas qual deve ser o enfoque principal?

Resposta: Técnicas e métodos pedagógicos são totalmente secundários e mudam
segundo a época, os costumes, os avanços tecnológicos. O importante é a
compreensão das finalidades fundamentais da educação, que é o desenvolvimento
integral do ser, rumo à transcendência; o importante é o papel do educador, que
deve ser aquele que provoca, instiga, desencadeia esse desenvolvimento, graças
ao seu amor, ao seu exemplo e seu contágio moral e intelectual.

--- Questão [#006]
Encontramos edições de alguns currículos para a evangelização infanto-juvenil,
mas notamos que diante do progresso pedagógico na seara espírita necessitamos
de uma nova proposta curricular para nossa evangelização. Como um grupo
espírita deve proceder para criar esta proposta? E ainda, quais as reais
necessidades a serem observadas para se implantar tal proposta curricular?

Resposta: Vou mais longe do que isto. Não concordo com “propostas curriculares”
em geral. A educação deve partir do interesse dos educandos. Na escola
convencional também deveria ser assim. Imagino uma educação em que grupos,
indivíduos, proponham pesquisas, produções, temas etc. e levem adiante seus
projetos com a orientação entusiástica do professor. Por que motivo, alguém
deve se sentar e premeditar antecipadamente o que diferentes grupos, em
diferentes circunstâncias, deverão estudar? Para que tudo programadinho,
previsto, preparado? É preciso dar espaço à criatividade, convocar as pessoas a
criarem suas próprias propostas. Para se implantar uma proposta aberta assim, é
preciso conhecer muito bem o espiritismo e ser democrático, afetivo, fazendo
uma opção sincera pelo não-autoritarismo.

--- Questão [#007]
"Nova era" significa nova época. Sabemos que a natureza não dá saltos e que as
pessoas são as mesmas da "era velha". Não deveríamos centrar-nos na educação
espírita dos espíritas para façamos proselitismo pela vivência e não apenas por
palavras?

Resposta: Realmente, a natureza não dá saltos. Basta ver que muitos espíritas
continuam com os mesmos vícios religiosos do passado: autoritarismo,
misticicismo, alienação social etc. Então, é preciso primeiro educar os
espíritas a entenderem de fato a proposta espírita.

--- Questão [#008]
Sendo o objetivo maior do Espiritismo promover a reforma interior o ser, como
deveria se comportar a educação espírita frente à heterogeneidade evolutiva que
não permite que todos tenham condições de entender os princípios espíritas por
razões cognitivas ou mesmo sociais e culturais? Poderia-se pensar numa educação
genérica para reforma íntima sem necessariamente passar declaradamente pelos
princípios básicos do espiritismo e dessa forma tornando mais amplo o campo de
atuação da educação espírita?

Resposta: A pergunta parte de dois pressupostos equivocados: primeiro o
objetivo maior do espiritismo não é a “reforma íntima”. Este termo não aparece
nas obras de Kardec. Considero-o altamente problemático, porque reforma implica
numa idéia de que algo está em ruínas, que é preciso consertar. O objetivo do
espiritismo é a educação e educar não é reformar, mas promover o processo de
aperfeicoamento do espírito, o desabrochar de sua divindade interior. Segundo,
a educação espírita, se bem entendida, não é necessariamente a doutrinação dos
princípios espíritas, mas uma visão diferente da própria educação e ela pode
ser aplicada com qualquer pessoa, de qualquer credo, porque se trata de uma
influência moral e intelectual de espírito a espírito, no sentido de despertar
a evolução do outro. Esteja o outro em que patamar evolutivo for, pertença o
outro a que religião for, é sempre possível, espiritamente falando exercer
sobre ele um contágio de amor e aperfeiçoamento, respeitando suas crenças
individuais. Apenas para aqueles que quiserem, introduziremos os princípios
propriamente da doutrina espírita, resguardando-se sempre a liberdade de
pensamento de cada um. Educação espírita é isso: não-proselitista, tolerante,
aberta, abrangente…Uma proposta cultural e universal, destinada a todos os
seres humanos e jamais uma idéia de formar espíritas em massa.

--- Questão [#009]
Poderia nos informar qual deve ser o objetivo da Educação Espírita, não só
junto às crianças, mas também em conduta dos pais?

Resposta: O objetivo da Educação espírita é renovar os modelos tradicionais de
educação, entendendo-se alguns princípios básicos que vou resumir aqui da
seguinte maneira: 1) que a criança é um ser reencarnado, com individualidade
própria, herdeira de si mesma e que tem como tal direito ao nosso respeito; 2)
que o tripé que sustenta toda prática pedagógica deve ser aquele que já
mencionei acima: a liberdade, a ação e o amor; 3) que a finalidade da educação
é o desenvolvimento integral do ser aqui, na vida presente e além, na
eternidade; 4) que todo processo de educação é antes um despertar da
auto-educação do indivíduo, porque não educamos de fato nimguém: o máximo que
podemos fazer é ajudar um processo de auto-educação, através da nossa
influência, de nosso amor e de nosso exemplo; 5) que a educação deve incentivar
o indivíduo para a solidariedade e para a fraternidade e isso inclui uma visão
de crítica social e um engajamento por mudanças planetárias.

--- Questão [#010]
Por que, mesmo pais e educadores, já se encontrando preocupados com a questão,
não se vê muitas escolas de ensino formal baseadas na Doutrina Espírita? de que
forma dever-se-ia pensar a questão da Educação Espírita para a educação formal?

Resposta: O movimento espírita até agora negligenciou a educação espírita,
detendo-se muito mais no aspecto religioso e assistencial. Estamos atrasados:
Eurípedes Barsanulfo, Anália Franco, Herculano Pires, Vinicius, Ney Lobo, Tomás
Novelino deram o exemplo. É preciso trabalhar pela educação espírita em todos
os setores, criando inclusive escolas, faculdades e universidades.
(Entendendo-se sempre que tais instituições não poderão ser locais de
proselitismo e fanatismo – tome-se como exemplo as PUCs do Brasil, onde há
pluralismo ideológico e, ao mesmo tempo, há espaço para a veiculação dos
princípios cristãos, segundo a teologia católica.)

--- Questão [#011]
Qual a diferença entre Educação Espírita para Educação Espírita na nova era? A
educação espírita não é única?

Resposta: Não entendo essa pergunta. Só existe Educação Espírita. Quando se
fala em nova era, estamos esperando que essa educação venha a contribuir para a
formação de novos tempos para a humanidade.

--- Questão [#012]
De que forma podemos adotar uma Educação Espírita durante a Evangelização
Infanto-Juvenil, na qual a criança fica apenas no máximo 60 min uma vez por
semana no CE?

Resposta: Acho que esta questão já ficou respondida em itens anteriores, quando
dissemos que a participação da criança no centro deveria transcender a chamada
evangelização.

--- Questão [#013]
Poderia explicar a relação entre educação espírita e o ensino intelectual? de
que forma aquela poderia ou deveria ser utilizada nesta?

Resposta: Segundo a visão pedagógica que estamos propondo, não há separação
estrita entre ensino intelectual, moral, estético, porque tudo deve estar
presente simultaneamente. Hoje a interdisciplinaridade apóia essa idéia. A
verdadeira educação espírita promove o desenvolvimento integral do espírito.

--- Questão [#014]
Você acha que a maioria dos Centros estão preparados para dar uma boa educação
espírita para as pessoas?

Resposta: Raríssimos estão, porque se estruturam predominantemente em propostas
meramente assistencialistas e entendem o espiritismo apenas no seu aspeto
religioso. Quando fazem cursos, organizam estudos, aplicam os métodos
tradicionais, apostilados, seriados, não-participativos… quando não aplicam até
mesmo provas, como na escola, com nota e direito à repetência por faltas… Tudo
isso é exatamente o contrário da educação espírita.

--- Questão [#015]
Como trabalhar a educação espírita com jovens cujo os pais não são espíritas?

Resposta: Esta questão considero respondida na questão 8.

--- Questão [#016]
A educação Espirita ainda está longe de atingir seus objectivos, pois veja-se
aqui em Portugal ainda há rivalidades entre Centros, faz-se grande enfase
quando vem algum Palestrador do Brasil? Entendo que a educação Espirita começa
por nós mesmos, pois só então poderemos então ajudar a alterar o que está
errado. Qual a sua opinião?

Resposta: Sem dúvida alguma, o primeiro compromisso de todo espírita é com sua
auto-educação e isso inclui tanto o seu aperfeiçoamento moral, quanto a
ampliação do universo cultural, incluindo-se a arte, a ciência e a filosofia.
Uma real mudança de perspectiva diante da vida apaga todas essas mesquinharias
de rivalidades, de disputas por poder, de vaidades pessoais e igualmente de
idolatria…

--- Questão [#017]
Não seria bom para a Doutrina Espírita, a entrada, definitiva e total, da
filosofia, nos curriculos escolares desde o ensino fundamental?

Resposta: A filosofia é excelente para exercitar a reflexão crítica, para dar
clareza ao raciocínio, para ampliar a cultura de idéias. Entretanto, é preciso
haver uma proposta que resgate a filosofia do nihilismo em que caiu, para que
aulas de filosofia não se tornem treinamento do relativismo. Recomendo aos
interessados que leiam meu artigo sobre o assunto, que está na internet
http://www.hottopos.com/videtur15/dora.htm

--- Questão [#018]
Como educar as crianças de bairros pobres, em ocasiões de distribuições de
sopas, nos princípios espíritas, sem conflitos religiosos?

Resposta: Bem, a resposta seria de novo muito longa. A pergunta não teria
sentido se a prática social espírita estivesse sendo comprendida como ela deve
ser… Os espíritas deveriam estar nos bairros pobres, alfabetizando, promovendo
a cultura, a consciência social e política, o diálogo democrático e fraterno e
não apenas praticando o assistencialismo. Numa proposta cultural, democrática,
o respeito às outras religiões é evidente. Ensina-se espiritismo apenas para
aqueles que quiserem. Devemos deixar claro que somos espíritas, mostrar que
justamente o espírita é ecumênico, aberto, tolerante e fraterno, que a proposta
espírita é fazer um mundo melhor… Se formos dar sopa e obrigarmos os
“assistidos” (também não gosto dessa palavra e tudo o que ela encerra, porque é
paternalista) a ouvir doutrinações espíritas, estaremos prestando duplo
desserviço ao Espiritismo e a uma possível melhoria social. É preciso, em
primeiro lugar, saber ouvir o outro e não chegar com todas as respostas prontas
e toda a caridade paternalista que gostamos de praticar, muitas vezes, apenas
para nos sentirmos bons e caridosos, sem realmente pensar numa forma mais
eficaz, mais profunda de transformar a sociedade e mudar de fato a vida
daquelas pessoas.
Autor: Dora Incontri
Todo esse material provém dos sites: CVDEE - Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo e da Revista Eletrônica O Consolador.

terça-feira, 9 de julho de 2013

A Obra de Kardec e Kardec Diante da Obra

A Obra de Kardec e Kardec Diante da Obra

Sempre haverá muito que aprender na obra de Allan Kardec, não apenas aqueles que se iniciam no estudo da Doutrina Espírita, como também os que dela já têm conhecimento mais profundo. Isso porque os livros que divulgam idéias construtivas - e especialmente idéias novas - nunca se esgotam como fonte de onde fluem continuamente motivações para novos arranjos e, portanto, de progresso espiritual, sem abandonar a contextura filosófica sobre as quais se apóiam.
Para usar linguagem e terminologia essencialmente espíritas,
diríamos que o perispírito da doutrina permanece em toda a sutileza e
segurança de sua estrutura, ao passo que o espírito da Doutrina segue à
frente, em busca de uma expansão filosófica, sujeito que está ao constante embate com a tremenda massa de informação que hoje nos alcança, vinda de todos os setores da especulação humana. De fato, a Doutrina Espírita está exposta às mais rudes confrontações, por todos os seus três flancos ao mesmo tempo: o filosófico, o científico e o religioso. A cada novo pronunciamento significativo da filosofia, da ciência ou da especulação religiosa, a doutrina se entrega a um processo introspectivo de auto-análise para verificar como se saiu da escaramuça. Isso tem feito repetida mente e num ritmo cada vez mais vivo, durante mais de um século. E com enorme satisfação, podemos verificar que nossas posições se revelaram inexpugnáveis. Até mesmo idéias e conceitos em que a Doutrina se antecipou aos tempos começam a receber a estampa confirmatória das conquistas intelectuais como, para citar apenas dois exemplos a reencarnação e a pluralidade dos mundos habitados. Poderíamos citar ainda a existência do perispírito que vai cada dia mais tornando-se uma necessidade científica, para explicar fenômenos que a biologia clássica não consegue entender.
Quando abrimos hoje revistas, jornais e livros sintonizados com as mais
avançadas pesquisas e damos com o nome de importantes cientistas examinando a sério a doutrina palingenésica ou a existência de vida inteligente fora da Terra, somos tomados por um legítimo sentimento de segurança e de crescente respeito pelos postulados da doutrina que os Espíritos vieram trazer-nos.
Tamanha era a certeza de Kardec sobre tais aspectos que escreveu que o
Espiritismo se modificava nos pontos em que entrasse em conflito com os
fatos científicos devidamente comprovados.
Essa observação do Codificador, que poderia parecer a muitos a expressão de um receio ou até mesmo uma gazua para eventual saída honrosa, foi, ao contrário, uma declaração corajosa de quem pesou bem a importância do que estava dizendo e projetou sobre o futuro a sua própria responsabilidade. O tempo deu-lhe a resposta que ele antecipou: não, não há o que reformular, mas se algum dia houver, será em aspectos secundários da doutrina e jamais nas suas concepções estruturais básicas, como a existência de Deus, a sobrevivência do Espírito. a reencarnação e a comunicabilidade entre vivos e "mortos".
O que acontece é que a doutrina codificada não responde a todas as nossas indagações, e nem as de Kardec foram todas resolvidas nos seus mínimos pormenores e implicações. "O Livro dos Espíritos" é um repositório de princípios fundamentais de onde emergem inúmeras "tomadas" para outras tantas especulações e conquistas e realizações. Nele estão os germes de todas as grandes idéias que a humanidade sonhou pelos tempos afora, mas os Espíritos não realizam por nós o nosso trabalho. Em nenhum outro cometimento humano vê-se tio claramente os sinais de uma inteligente, consciente e preestabelecida coordenação de esforços entre as duas faces da vida - a encarnada e a desencarnada. Tudo parece - e assim o foi - meticulosamente planejado e escrupulosamente executado. A época era aquela mesma, como também o meio ambiente e os métodos empregados.
Para a carne vieram os espíritos incumbidos das tarefas iniciais e das que se seguiram, tudo no tempo e no lugar certos. Igualmente devem ter sido levadas em conta a fragilidade e as imperfeições meramente humanas, pois que também alternativas teriam sido planejadas com extremo cuidado. Há soluções opcionais para eventuais falhas, porque o trabalho era importante demais para ficar ao sabor das imperfeições humanas e apoiado apenas em dois ou três seres, por maiores que fossem. Ao próprio Kardec, o Espírito da Verdade informa que é livre de aceitar ou não o trabalho que lhe oferecem. O
eminente professor é esclarecido, com toda a honestidade e sem rodeios, que a tarefa é gigantesca e, como ser humano, seria arrastado na lama da iniqüidade, da calúnia, da mentira, da infâmia. Que todos os processos são bons para aqueles que se opõem à libertação do homem. Que ele, Kardec, poderia também falhar. Seu engajamento seria, pois, de sua livre escolha e que, se recusasse a tarefa, outros havia em condições de levá-la a bom termo.
O momento é dramático. É também a hora da verdade suprema, pois o plano de trabalho não poderia ficar comprometido por atitudes dúbias e
meias-palavras. Aquilo que poderia parecer rudeza de tratamento é apenas ditado pote seriedade do trabalho que se tinha a realizar no plano humano.
Kardec aceitou a tarefa e arrostou, com a bravura que lhe conhecemos, a
dureza das aflições que sobre ele desabaram, como estava previsto. Tudo lhe aconteceu, como anunciado; os amigos espirituais seriam incapazes de glamourizar a sua colaboração e minimizar as dificuldades apenas para induzi-lo a aceitar a incumbência.
Por outro lado, se ele era, entre os homens, o chefe do movimento, pois
alguém Unha que o liderar, compreendeu logo que não era o dono da doutrina e jamais desejou sê-lo. Quando lhe comunicam que foi escolhido para esse trabalho gigantesco, sente com toda a nitidez e humildade a grandiosidade da tarefa que lhe oferecem e declara que de simples adepto e estudioso a missionário e chefe vai uma distância considerável, diante da qual ele medita, não propriamente temeroso, mas preocupado, dado que era homem de profundo senso de responsabilidade. Do momento em que toma a incumbência, no entanto, segue em frente com uma disposição e uma coragem inquebrantáveis.
Esse aspecto da sua atuação jamais deve ser esquecido a consciência que tem da sua posição de coordenador do movimento e não de seu criador. Não deseja que a doutrina nascente seja ligada ao seu nome. Apaga-se deliberadamente e tenazmente para que a obra surja como planejada, isto é, uma doutrina formulada pelos Espíritos e transmitida aos homens pelos Espíritos, contida numa obra que fez questão de intitular "O Livro dos Espíritos". Por outro lado, não é intenção dos mensageiros espirituais - ao que parece - ditar um trabalho pronto e acabado, como um "flash" divino, de cima para baixo.
Deixam a Kardec a iniciativa de elaborar as perguntas e conceber não a
essência do trabalho, mas o plano geral da sua apresentação aos homens. A obra não deve ser um monólogo em que seres superiores pontificam
eruditamente sobre os grandes problemas do ser e da vida; é um diálogo no qual o homem encarnado busca aprender com os irmãos mais experimentados novas dimensões da verdade. E preciso, pois, que as questões e as dúvidas sejam levantadas do ponto de vista humano, para que o mundo espiritual as esclareça na linguagem simples da palestra, dentro do que hoje se chamaria o contexto da psicologia específica do ser encarnado. Por isso, Kardec não se julga o criador da Doutrina, mas é infinitamente mais do que um mero copista ou um simples colecionador de pensamentos alheios. Deseja apagar-se individualmente para que a obra sobreleve às contingências humanas; a Doutrina não deve ficar "ligada" ao seu nome pessoal como, por exemplo, a do super-homem a Nietszche, o islamismo a Maomé, o positivismo a Augusto Comte ou a teoria da relatividade a Einstein; é, no entanto, a despeito de si
mesmo, mais do que simples colaborador, para alcançar o estágio de um
co-autor quanto ao plano expositivo e às obras subseqüentes. Os Espíritos deixam-lhe a iniciativa da forma de apresentação. A princípio, nem ele mesmo percebe que já está elaborando 'O Livro dos Espíritos"; parece-lhe estar apenas procurando respostas às suas próprias interrogações. Homem culto, objetivo, esclarecido e com enormes reservas às doutrinas religiosas e filosóficas da sua época, tem em mente inúmeras indagações para as quais ainda não encontrara resposta. Ao mesmo tempo em que vai registrando as observações dos Espíritos, vai descobrindo um mundo inteiramente novo e insuspeitado e tem o bom senso, de não se deixar fascinar pelas suas descobertas.
E, pois, ao sabor de sua controlada imaginação que organiza o esquema das suas perguntas e quando dá conta de si tem anotações metódicas, lúcidas, simples de entender e, no entanto, do mais profundo e transcendental sentido humano. Sem o saber, havia coligido um trabalho que, pela sua extraordinária importância, não poderia ficar egoisticamente preso à sua gaveta; era preciso publicá-lo e isso mesmo lhe dizem os Espíritos. Assim o fez e sabemos de sua surpresa diante do sucesso inesperado da obra.
Daí em diante, isto é, a partir de "O Livro dos Espíritos", seus amigos
assistem-no, como sempre o fizeram, mas deixam-no prosseguir com a sua
própria metodologia e nisso também ele era mestre consumado, por séculos de experiência didática. As obras subseqüentes da Codificação não surgem mais do diálogo direto com os Espíritos e sim das especulações e conclusões do próprio Kardec, sem jamais abandonar, não obstante, o gigantesco painel desenhado a quatro mãos em "O Livro dos Espíritos".
Conversando uma vez, em nosso grupo, sobre o papel de certos espíritos na história, disse-nos um amigo espiritual que é muito importante para todos nós o trabalho daqueles a quem ele chamou Espíritos ordenadores. São os que vêm incumbidos de colocar em linguagem humana, acessível, as grandes idéias.
Sem eles, muito do que se descobre, se pensa e se realiza ficaria perdido no caos e na ausência de perspectiva e hierarquia. São eles -Espíritos lúcidos, objetivos e essencialmente organizadores - que disciplinam as idéias, descobrindo-lhes as conexões, implicações e conseqüências, colocando-as ordenadamente ao alcance da mente humana, de modo facilmente acessível e assimilável, sob a forma de novas tese'>sínteses do pensamento. São eles, portanto, que resumem um passado de conquistas e preparam um futuro de realizações. Sem eles, o conhecimento seria um amontoado caótico de idéias que se contradizem, porque invariavelmente vem joio com o trigo, na colheita, e ganga com ouro, na mineração. São eles os faiscadores que tudo tomam, examinam, rejeitam, classificam e colocam no lugar certo, no tempo certo, autruisticamente, para que quem venha depois possa aproveitar-se das estratificações do conhecimento e sair para novas tese'>sínteses, cada vez mais amplas, mais nobres, mais belas, ad infinitum.
Allan Kardec é um desses espíritos. Não diremos que seja um privilegiado porque essa classificação implica idéia de prerrogativa mais ou menos indevida e as suas virtudes são conquistas legítimas do seu espírito, amadurecidas ao longo de muitos e muitos séculos no exercício constante de uma aguda capacidade de julgamento - é, pois, um direito genuinamente adquirido pelo esforço pessoal do espírito e não uma concessão arbitrária dos poderes superiores da vida. O trabalho que realizou pela Doutrina Espírita é de inestimável relevância. Para avaliar a sua importância basta que nos coloquemos, por alguns instantes, na posição em que ele estava nos albores do movimento. Era um homem de 50 -anos de idade, professor e autor de livros didáticos. Sua atenção é solicitada para os fenômenos, mas ele não é de entregar-se impulsivamente aos seus primeiros entusiasmos. Quer ver
primeiro, observar, meditar e concluir, antes de um envolvimento maior.
Quando recebe a incumbência e percebe o vulto da tarefa que tem diante de si, nem se intimida, nem se exalta. É preciso, porém, formular um plano de trabalho. Por onde começar? Que conceitos selecionar? Que idéias têm precedência sobre outras? Serão todas as comunicações autênticas? Será que os Espíritos sabem de tudo? Poderão dizer tudo o que sabem?
É tudo novo, tudo está por fazer e já lhe preveniram que o mundo vai desabar sobre ele. O cuidado tem de ser redobrado, para que o edifício da doutrina não tenha uma rachadura, um fresta, um ponto fraco, uma imperfeição; do contrário, poderá ruir, sacrificando toda a obra. Os representantes das trevas estão atentos e dispostos a tudo. Os Espíritos o ajudam e o inspiram e o incentivam, embora sejam extremamente parcimoniosos em elogios e um tanto enérgicos nas advertências. Quando notam um erro de menor importância numa exposição de Kardec, não indicam o ponto fraco; limitam-se a recomendar-lhe que releia o texto, que ele próprio encontrará o engano. Do lado humano, encarnado, da vida, é um trabalho solitário. Não tem a quem recorrer para uma sugestão, um conselho, um debate. Os amigos espirituais
somente estão à sua disposição por algum tempo, restrito, sob limitadas
condições, durante as horas que consegue subtrair ao seu repouso, porque as outras são destinadas a ganhar a vida, na dura atividade de modesto guarda-livros.
Sem dúvida alguma, trata-se de um trabalho de equipe, tarefa pioneira,
reformadora, construtora de um novo patamar para a escalada do ser na
direção de Deus. As velhas doutrinas religiosas não satisfazem mais, a
filosofia anda desgovernada pelos caminhos da negação e a ciência desgarrada de tudo, aspirando ao trono que o dogma'>dogmatismo religioso deixou vago. No meio de tudo isso, o homem que pensa e busca um sentido para a vida se atormenta e se angustia, porque não vê suporte onde escorar sua esperança. A nova doutrina vem trazer-lhe o embasamento que faltava, propor uma total reformulação dos conceitos dominantes. Ciência e religião não se eliminam, como tantos pensavam; ao contrário, se completam, coexistindo com a filosofia. O homem que raciocina também pode crer e o crente pode e deve exercer, em toda a extensão, o seu poder de análise e de crítica. Isso não é apenas tolerado, senão estimulado, pois entende Kardec que a fé só merece confiança quando passada pelos filtros da razão. Se não passar, é espúria e deve ser rejeitada.
Concluindo, assim, o trabalho que lhe competia junto aos Espíritos ainda lhe resta muito a fazer, e o tempo urge. Incumbe-lhe agora inserir a nova doutrina no contexto do pensamento de seu tempo - como se diria hoje.
Terminou o recital a quatro mãos e começa o trabalho do solista, porque o mestre ainda está sozinho entre os homens, embora cercado do carinho e da amizade de seus companheiros espirituais. Atira-se, pois, ao trabalho. A luz do seu gabinete arde até altas horas da noite. E preciso estudar e expor aos homens os aspectos experimentais implícitos na Doutrina dos Espíritos.
Desses aspectos, o mais importante, sem dúvida, é a prática da mediunidade, instrumento de comunicação entre os dois mundos. Sem um conhecimento metodizado da faculdade mediúnica, seria impossível estabelecer as bases experimentais da doutrina. Daí, o "O Livro dos Médiuns".
Em seguida, é preciso dotar o Espiritismo de uma estrutura ética. Não é
necessário criar uma nova moral; já existe a do Cristo. O trabalho é enorme e exige tudo de seu notável poder ordenador. E que o ensinamento de Jesus, com a passagem dos séculos e ao sopro de muitas paixões humanas, ficara soterrado em profunda camada de impurezas. Kardec decidiu reduzir ao mínimo os atritos e controvérsias, buscando nos Evangelhos apenas o ensinamento moral, sem se deter, portanto, na análise dos milagres, nem dos episódios da vida pública do Cristo, ou dos aspectos que foram utilizados para a elaboração dos dogma'>dogmas. Dentro dessa idéia diretora, montou com muito zelo e amor "O Evangelho segundo o Espiritismo". O problema dos dogma'>dogmas - pelo menos os principais -ficaria para "O Céu e o Inferno" e sobre as questões científicas ainda voltaria a escrever em "A Gênese".
E assim concluía mais uma etapa da sua tarefa. O começo, onde andaria? Em que tempo e em que ponto cósmico? Era - e é - um espírito reformador, ordenador, preparador de novas veredas. A continuação, seus amigos espirituais deixaram-no entrevê-la ao anunciar-lhe que se aproximava o término da existência terrena, mas não dos seus encargos: voltaria encarnado noutro corpo, lhe disseram, para dar prosseguimento ao trabalho. Ainda precisavam dele e cada vez mais. Nada eram as alegrias que experimentava ao ver germinar as sementes que ajudara a semear; aquilo eram apenas os primeiros clarões de uma nova madrugada de luz. Quando voltasse, teria a alegria imensa de ver transformadas em árvores majestosas as modestas sementeiras das suas vigílias, regadas por dores muitas. Não seria mais o vulto solitário a conversar com os Espíritos e a escrever no silêncio das horas mortas -teria companheiros espalhados por toda a Terra, entregues ao mesmo ideal supremo de trabalhar sem descanso na seara do Cristo, cada qual na sua tarefa, conforme seus recursos, possibilidades e limitações, dado que o trabalho continua entregue a equipes, onde o personalismo não pode ter vez para que as paixões humanas não o invalidem.
"De modo que - dizia Paulo - nem o que planta é alguém, nem o que rega,
senão Deus que a faz crescer.
E o que planta e o que rega são iguais; se bem que cada um receberá o seu salário segundo seu próprio trabalho, já que somos colaboradores de Deus e vós, campo de Deus, edificação de Deus" (1 Coríntios, 3:7 a 9).
Trabalhadores de Deus desejamos ser e o seremos toda vez que apagarmos o nosso nome na glória suprema do anonimato, para que o nosso trabalho seja de Deus, que faz germinar a semente e crescer a árvore, e não nosso, que apenas confiamos a semente ao solo. Somos portadores da mensagem, não seus criadores, porque nem homens nem espíritos criam; apenas descobrem aquilo que o Pai criou.
São essas as dominantes do espírito de Kardec. Sua vitória é a vitória do equilíbrio e do bom senso, é a vitória do anonimato e da humildade, notável forma de humildade que não se anula, mas que luta e vence. Como figura humana, nem sequer aparece nos livros que relatam a saga humana. Para o historiador leigo, quem foi Kardec? Seu próprio nome civil, Hippolyte-Léon Denizard Rivail, ele o apagou para publicar seus livros com o nome antigo de um obscuro sacerdote druida.
De modo que não é somente a obra realizada por Kardec que devemos estudar, é também sua atitude perante a obra, porque tudo neste espírito é uma lição de grandeza em quem não deseja ser grande.

Hermínio C. Miranda

sexta-feira, 8 de março de 2013

Estudo Aprofundado do Espiritismo-Livro I - Roteiro 3 - Módulo 2 " O Cristianismo"

EADE - LIVRO I
ROTEIRO
3
Objetivos • Identificar a missão de João Batista como precursor de Jesus.
IDÉIAS PRINCIPAIS
CRISTIANISMO E ESPIRITISMO
MÓDULO II - O CRISTIANISMO
• Então, um anjo do Senhor lhe apareceu, posto em pé, à direita do altar do incenso.
E Zacarias, vendo-o, turbou-se, e caiu temor sobre ele. Mas o anjo lhe disse:
Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará
à luz um filho, e lhe porás o nome de João. E terás prazer e alegria, e muitos se
alegrarão no seu nascimento, porque será grande diante do Senhor, e não beberá
vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua
mãe. Lucas, 1:11-15
• Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu
alguém maior do que João Batista; mas aquele que é o menor no Reino dos céus
é maior do que ele. Mateus,11:11
JOÃO BATISTA - O PRECURSOR
92
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
1. O nascimento de João Batista
O nascimento de João Batista foi revestido de um clima de expectativas e surpresas, uma vez que Isabel, sua mãe, encontrava-se numa idade em que, usualmente, as mulheres não engravidam.
Existiu, no tempo de Herodes, rei da Judéia, um sacerdote chamado Zacarias, da ordem de Abias, e cuja mulher era das filhas de Arão; o nome dela era Isabel. E eram ambos justos perante Deus, vivendo irrepreensivelmente em todos os mandamentos e preceitos
do Senhor. E não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e ambos eram avançados em idade. E aconteceu que, exercendo ele o sacerdócio diante de Deus, na ordem da sua turma, segundo o costume sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar no templo do
Senhor para oferecer o incenso. E toda a multidão do povo estava fora, orando, à hora do incenso. Então, um anjo do Senhor lhe apareceu, posto em pé, à direita do altar do incenso. E Zacarias, vendo-o, turbou-se, e caiu temor sobre ele. Mas o anjo lhe disse:
Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João. E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento, porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida
forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe. E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus, e irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter o coração dos pais aos filhos e os rebeldes, à prudência dos justos, com o
fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto. Disse, então, Zacarias ao anjo: Como saberei isso? Pois eu já sou velho, e minha mulher, avançada em idade. E, respondendo o anjo, disse-lhe: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado a falar-te e
dar-te estas alegres novas. Todavia ficarás mudo e não poderás falar até ao dia em que estas coisas aconteçam, porquanto não creste nas minhas palavras, que a seu tempo se hão de cumprir. E o povo estava esperando a Zacarias e maravilhava-se de que tanto se
demorasse no templo. E, saindo ele, não lhes podia falar; e entenderam que tivera alguma visão no templo. E falava por acenos e ficou mudo. E sucedeu que, terminados os dias de seu ministério, voltou para sua casa. E, depois daqueles dias, Isabel, sua mulher, concebeu e, por cinco meses, se ocultou, dizendo: Assim me fez o Senhor, nos dias em que atentou em mim, para destruir o meu opróbrio entre os homens. (Lucas, 1:5-25)
Foi necessário que ocorresse a mudez de Zacarias, não como um castigo, mas para que se cumprisse as predições anunciadas pelo anjo. O povo deveria perceber que alguém especial iria nascer, um Espírito consagrado a Deus; um profeta enviado para anunciar a vinda do Messias, previsto nas escrituras e ardentemente aguardado pelos judeus.
E completou-se para Isabel o tempo de dar à luz, e teve um filho. E os seus vizinhos e parentes ouviram que tinha Deus usado para com ela de grande misericórdia e alegraramse com ela. E aconteceu que, ao oitavo dia, vieram circuncidar o menino e lhe chamavam
Zacarias, o nome de seu pai. E, respondendo sua mãe, disse: Não, porém será chamado João. E disseram-lhe: Ninguém há na tua parentela que se chame por este nome. E perguntaram, por acenos, ao pai como queria que lhe chamassem. E, pedindo ele uma
tabuinha de escrever, escreveu, dizendo: O seu nome é João. E todos se maravilharam. E logo a boca se lhe abriu, e a língua se lhe soltou; e falava, louvando a Deus. E veio temor sobre todos os seus vizinhos, e em todas as montanhas da Judéia foram divulgadas todas essas coisas. E todos os que as ouviam as conservavam em seu coração, dizendo: Quem será, pois, este menino? E a mão do Senhor estava com ele. (Lucas, 1:57-66)
João Batista desenvolvia-se plenamente, preparando-se para a sua missão.
O menino crescia e se robustecia em espírito, e esteve nos desertos até ao dia em que havia de mostrar-se a Israel. (Lucas, 1:80)
As mãos de Deus, indiscutivelmente, pousavam sobre o seu lar. Depois... Ao seguir para o deserto, vestiu-se como o antigo profeta Elias: uma pele de camelo no corpo, em volta
dos rins um cinto de couro... Iniciara o ministério por volta do ano 15 do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos, governador da Judéia e Herodes Antipas tetrarca da Galiléia... 1
2. João Batista, o precursor
Apareceu João batizando no deserto e pregando o batismo de arrependimento, para remissão de pecados. E toda a província da Judéia e todos os habitantes de Jerusalém iam ter com ele; e todos eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.
E João andava vestido de pêlos de camelo e com um cinto de couro em redor de seus lombos, e comia gafanhotos e mel silvestre, e pregava, dizendo: Após mim vem aquele que é mais forte do que eu, do qual não sou digno de, abaixando-me, desatar a correia
das sandálias. Eu, em verdade, tenho-vos batizado com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo. (Marcos, 1:4-8)
João Batista veio de uma linhagem sacerdotal, mas não seguiu o sacerdócio, pelo menos na forma como o seu pai praticava. Adotou um modo de vida simples, ascético, alimentando-se com frugalidade (de mel e gafanhotos) e vivendo, mais tempo, no deserto da Judéia. Foi um profeta.
Pregador rude, homem de viver austeríssimo, desprezou as comodidades da vida, a ponto de se alimentar com o que achava no deserto e de se vestir com a pele de animais. Assim,
impressionou fortemente o povo, que acorria a ouvi-lo e a pedir-lhe conselhos. Poderoso médium inspirado, foi o transmissor das mensagens do Alto, pelas quais se anunciava a chegada do Mestre e o começo dos trabalhos de regeneração da humanidade. A todos que queriam tornar-se dignos do reino dos céus, João aconselhava que fizessem penitência.
Qual seria essa penitência, primeiro passo a ser dado em direção ao reino de Deus? Não eram as longas orações, nem os donativos e esmolas; nem as peregrinações aos lugares santos; nem as construções de capelas; nem jejuns; nem votos; nem as promessas; não era a adoração de imagens nem a entronização delas. A penitência não consistia em formalidades exteriores, mas sim na reforma do caráter e na retificação dos atos errados que cada um tinha praticado. 4
Após o período passado no deserto, João Batista inicia a sua pregação.
Com zelo profético ele anuncia a vinda do reino dos céus.
Transcorridos alguns anos, vamos encontrar o Batista na sua gloriosa tarefa de preparação do caminho à verdade, precedendo o trabalho divino do amor, que o mundo conheceria em Jesus-Cristo. João, de fato, partiu primeiro, a fim de executar as operações iniciais para a grandiosa conquista. Esclarecendo com energia e deixando-se degolar em testemunho à Verdade, ele precedeu a lição da misericórdia e da bondade. O Mestre dos mestres quis colocar a figura franca e áspera do seu profeta no limiar de seus gloriosos ensinos e, por isso, encontramos em João Batista um dos mais belos de todos os símbolos imortais
do Cristianismo. [...] João era a verdade, e a verdade, na sua tarefa de aperfeiçoamento, dilacera e magoa, deixando-se levar aos sacrifícios extremos. 8
A pregação de João Batista, todavia, era contundente, desagradando a muitos, em conseqüência. Revelava um temperamento ardente, apaixonado.
Como a dor que precede as poderosas manifestações da luz no íntimo dos corações, ela recebe o bloco de mármore bruto e lhe trabalha as asperezas para que a obra do amor surja, em sua pureza divina. João Batista foi a voz clamante do deserto. Operário da primeira hora, é ele o símbolo rude da verdade que arranca as mais fortes raízes do mundo, para que o reino de Deus prevaleça nos corações. Exprimindo a austera disciplina que antecede a espontaneidade do amor, a luta para que se desfaçam as sombras do caminho, João é o primeiro sinal do cristão ativo, em guerra com as próprias imperfeições do seu mundo interior, a fim de estabelecer em si mesmo o santuário de sua realização com o Cristo. Foi por essa razão que dele disse Jesus: — “Dos nascidos de mulher, João Batista é o maior de todos». 8
A fama de João Batista chega, então até os sacerdotes judeus e aos levitas que resolvem interrogá-lo.
Quem és tu? E confessou e não negou; confessou: Eu não sou o Cristo. E perguntaramlhe:
Então, quem és, pois? És tu Elias? E disse: Não sou. És tu o profeta? E respondeu:
Não. Disseram-lhe, pois: Quem és, para que demos resposta àqueles que nos enviaram?
Que dizes de ti mesmo? Disse: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías. E os que tinham sido enviados eram dos fariseus, e perguntaram-lhe, e disseram-lhe: Por que batizas, pois, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta? João respondeu-lhes, dizendo: Eu batizo com água, mas, no meio de vós, está um a quem vós não conheceis. Este é aquele que vem após mim, que foi antes de mim, do qual eu não sou digno de desatar as correias das sandálias. Essas
coisas aconteceram em Betânia, do outro lado do Jordão, onde João estava batizando.
No dia seguinte, João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Este é aquele do qual eu disse: após mim vem um homem que foi antes de mim, porque já era primeiro do que eu. (João, 1:19-30)
Posteriormente, vamos ver que é o próprio Cristo quem testemunharia a respeito de João Batista, enaltecendo a sua missão: «Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista.» (Mateus, 11:11)
Enfim, João Batista arcaria com a responsabilidade de abrir para a Humanidade a era evangélica. Por isso é que Jesus diz que dos nascidos de mulher, nenhum foi maior do que João Batista; isto é, não se encarnou ainda nenhum espírito com missão maior do
que a de João Batista
. [...] Jesus, conquanto justifique o amor que o povo consagrava a João Batista, adverte-o de que no mundo espiritual existiam Espíritos ainda maiores, por serem mais evoluídos que João Batista. 5
O Espiritismo aceita a idéia de ser João Batista a reencarnação do profeta Elias. Há muitas semelhanças na personalidade de ambos, indicativas de que se tratava do mesmo Espírito. O próprio Jesus afirma, segundo as anotações de Mateus: «Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça»
(Mateus, 11:13-15) Em um outro momento, após o fenômeno da transfiguração, os apóstolos Pedro, Tiago e João, ao descerem do monte, são orientados por Jesus a guardarem silêncio sobre o que presenciaram (transfiguração).
E, descendo eles do monte, Jesus lhes ordenou, dizendo: A ninguém conteis a visão até que o Filho do Homem seja ressuscitado dos mortos. E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Por que dizem, então, os escribas que é mister que Elias venha primeiro?
E Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro e restaurará todas as coisas. Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do Homem. Então, entenderam os
discípulos que lhes falara de João Batista. (Mateus, 17:9-13)
As pregações de João Batista, a despeito de agradarem o povo, eram criticadas pelos sacerdotes e familiares do rei Herodes.
A mensagem de João Batista caiu em Israel como fogo na palha. [...] As multidões que
o ouviam incluíam publicanos e prostitutas. [...] O Judaísmo nunca se deparara com nada exatamente igual a isso, [...]. 2
João Batista desagradava os sacerdotes porque introduziu modificações nas práticas religiosas do Judaísmo. Em primeiro lugar estabelece, no batismo pela água, uma forma de renascimento ou metáfora da redenção espiritual.
Segundo as suas orientações, a pessoa nascia judeu, mas para se redimir deveria passar por um processo simbólico de renascimento. «O rito de João era tão singular que foi nomeado segundo ele (“Batista”), e Jesus claramente o vê como dado a João por Deus mediante revelação.» 2
Outro ponto, provocador de sérias controvérsias religiosas entre o clero judaico, foi o fato de João não fazer caso do templo judaico e dos seus ritos; talvez a rejeição dos sacerdotes a João tenha relação primordial com a onda generalizada de repulsa à corrupção do templo e dos seus sacerdotes no século I d.C., e que foi asperamente criticada pelo precursor. 2
A família real também detestava João Batista porque dele recebia, em público, constantes críticas a respeito do modo indecoroso em que viviam.
Festejando-se, porém, o dia natalício de Herodes, dançou a filha de Herodias diante delee agradou a Herodes, pelo que prometeu, com juramento, dar-lhe tudo o que pedisse. E ela, instruída previamente por sua mãe, disse: Dá-me aqui num prato a cabeça de João
Batista. E o rei afligiu-se, mas, por causa do juramento e dos que estavam à mesa com ele, ordenou que se lhe desse. E mandou degolar João no cárcere, e a sua cabeça foi trazida num prato e dada à jovem, e ela a levou a sua mãe. E chegaram os seus discípulos, e levaram o corpo, e o sepultaram, e foram anunciá-lo a Jesus. (Mateus, 14:6-12)
O nascimento e vida de João Batista teve uma única finalidade, segundo o Espiritismo: anunciar a vinda do Cristo, daí ser ele chamado – com justiça – o precursor.
João Batista é o símbolo do cristão que se sacrifica pela Verdade. Todavia João Batista não sofreu unicamente pela Verdade que pregava. Em virtude da lei de causa e efeito, sabemos que não há efeito sem causa. Por conseguinte, para que João Batista sofresse a pena de decapitação é porque ainda tinha dívidas de encarnações anteriores a pagar. Apesar do alto grau de espiritualidade que tinha alcançado, João teve de passar pela mesma pena que
infligira aos outros. De fato, se João Batista era Elias, poderemos ver nessa decapitação o saldo da dívida que tinha contraído quando, como Elias, mandou decapitar os sacerdotes de Baal. É Justiça Divina que se cumpre, nada deixando sem pagamento. 7
Após João Batista, o povo judeu não teve outro profeta. Foi o último de uma linhagem que se preparou para trazer ao mundo a mensagem de Jesus.
João é o último profeta enviado pelo Senhor para ensinar os homens a viverem de acordo com os mandamentos divinos. De agora em diante Jesus legará o Evangelho ao mundo, como um roteiro seguro que o conduzirá a Deus. E hoje temos o Espiritismo, um profeta que está em toda parte, falando ao coração e à inteligência de todas as criaturas: aos humildes e aos letrados, aos pobres e aos ricos, aos sãos e aos doentes, espalhando ensinamentos espirituais de fácil compreensão. 6
Referências
FRANCO, Divaldo Pereira. Primícias do Reino. Pelo Espírito Amélia Rodrigues.
4. ed. Salvador [BA]: LEAL, 1987, p. 20-21 (Respingos históricos).
2. DICIONÁRIO DA BÍBLIA. Vol. 1: As pessoas e os lugares. Organizado por
Bruce M. Metzer e Michael D. Coogan. Tradução de Maria Luiza X. de A.
Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002, p. 161.
3. GODOY, Paulo Alves. O evangelho por dentro. 2. ed. São Paulo: FEESP,
1992, p. 133 (João Batista - o precursor de Jesus-Cristo).
4. RIGONATTI, Eliseu. O evangelho dos humildes. 15. ed. São Paulo: Editora
Pensamento - Cultrix, 2003. Cap. 3, p. 17.
5. ______. Cap. 11, p. 104.
6. ______. p. 104-105.
7. ______. Cap. 14, p. 142-143.
8. XAVIER, Francisco Cândido. Boa Nova. Pelo Espírito Humberto de Campos.
33. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 2 (Jesus e o precursor), p. 24.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

MEDIUNIDADE DA INFÂNCIA.."Daí podeis ver que todos os homens possuem, ao menos no estado de germe, o dom da mediunidade..."


(Sociedade de Paris, 6 de janeiro de 1865. - Médium, Sr. Delanne.)
Quando, depois de ter sido preparado pelo anjo guardião, o Espírito que vem se
encarnar, quer dizer, sofrer novas provas tendo em vista o seu adiantamento, começam
então a se estabelecer os laços misteriosos que o unem ao corpo para manifestar sua
ação terrestre. Aí está todo um estudo, sobre o qual não me estenderei; mas não vos
falaria senão do papel e da disposição do Espírito durante o período da infância no berço.
A ação do Espírito sobre a matéria, nesse tempo de vegetação corpórea, é pouco
sensível. Também os guias espirituais se apressam em se aproveitarem desses instantes,
em que a parte carnal não obriga a participação inteligente do Espírito, a fim de preparar
este último, de encorajá-lo nas boas resoluções das quais sua alma está impregnada.
É nesses momentos de desligamento que o Espírito, todo em saindo da perturbação
em que teve que passar por sua encarnação presente, compreende e se lembra dos
compromissos que contraiu para o seu adiantamento moral. É então que os Espíritos
protetores vos assistem, e vos ajudam a vos reconhecer. Também, estudai a figura da
criancinha que dorme; vós a vedes freqüentemente "sorrir aos anjos", como se diz
vulgarmente, expressão mais justa do que se pensa. Com efeito, ela sorri aos Espíritos
que a cercam e devem guiá-la.

Vede-a desperta, essa cara criança; ora ela olha fixamente: parece reconhecer os
seres amigos; ora balbucia as palavras, e seus gestos alegres parecem se dirigir aos
rostos amados; e como Deus jamais abandona as suas criaturas, esses mesmos Espíritos
lhe dão, mais tarde, boas e salutares instruções, seja durante o sono, seja por inspiração
no estado de vigília. Daí podeis ver que todos os homens possuem, ao menos no estado
de germe, o dom da mediunidade.

A infância propriamente dita é uma longa sucessão de efeitos medianímicos, e se as
crianças um pouco mais avançadas em idade, quando o Espírito adquiriu mais força, às
vezes não temem as imagens das primeiras horas, poderíeis constatar muito melhor
esses efeitos.
Continuai a estudar e, a cada dia, como grandes crianças, a vossa instrução
crescerá, se não vos obstinardes em fechar os olhos sobre o que vos cerca.
UM ESPÍRITO PROTETOR.

Revista Espírita 1865/Fevereiro

sábado, 15 de dezembro de 2012

O PROBLEMA DA TENTAÇÃO


O educador, em aula, tentava explicar aos meninos que o móvel das
tentações reside em nós mesmos; contudo, como os aprendizes mostravam
muita dificuldade para compreender, ele se fez acompanhar pelos alunos até
ao grande pátio do colégio.
Ai chegando, mandou trazer uma bela espiga de milho e perguntou aos
rapazes:
— Qual de vocês desejaria devorar esta espiga tal como está?
Os jovens sorriram, zombeteiramente, e um deles exclamou:
— Ora vejam!... quem se animaria a comer milho cru?
O professor então mandou vir à presença deles um dos cavalos que
serviam à escola, instalou alguns obstáculos à frente do animal e colocou a
espiga ao dispor dele, sobre pequena mesa.
O grande eqüino saltou, lépido, os impedimentos e avançou, guloso, para
o bocado.
O professor benevolente e amigo esclareceu, então, bondosamente, ante
os alunos surpreendidos:
— A tentação nos procura, segundo os sentimentos que trazemos no
campo íntimo. Quando cedemos a alguma fascinação indigna, é que a nossa
vontade permanece fraca, diante dos nossos desejos inferiores. As forças que
nos tentam correspondem aos nossos próprios impulsos. Não podemos imaginar
ou querer aquilo que desconhecemos. Por esse motivo, necessitamos
vigiar o cérebro e o coração, a fim de selecionarmos as sugestões que nos
visitam o pensamento.
E, terminando, afirmou:
— As situações boas ou más, fora de nós, são iguais aos propósitos bons
ou maus que trazemos conosco.

Meimei/Chico Xavier
Livro : Pai Nosso

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 24

 
 
Diferenciamos o Espírito das outras coisas pelo fator inteligência, que comanda a razão, pelo livre arbítrio na escolha do mais conveniente. Entretanto, se estudarmos a natureza mais profundamente, notaremos inteligências esplendendo em todos os seus reinos, como, por exemplo, no próprio corpo humano, onde há o trabalho inteligente no mundo celular, que é o metabolismo. Já tivestes oportunidade de estudar a vida de uma árvore na sua feição mais rica de valores? Nela existe uma força inteligente comandando seu ciclópico corpo, dividido em trilhões de partículas obedientes a um comando. A razão, a inteligência do homem, certamente que marca um passo a mais na evolução da mônada espiritual, movendo o corpo físico, o que não quer dizer que somente ele tem inteligência. São atributos do Espírito todos os dons, como em tudo existe reflexo dormindo e desabrochando como sendo a luz de Deus, dentro de tudo que existe.

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 24

 
 
Diferenciamos o Espírito das outras coisas pelo fator inteligência, que comanda a razão, pelo livre arbítrio na escolha do mais conveniente. Entretanto, se estudarmos a natureza mais profundamente, notaremos inteligências esplendendo em todos os seus reinos, como, por exemplo, no próprio corpo humano, onde há o trabalho inteligente no mundo celular, que é o metabolismo. Já tivestes oportunidade de estudar a vida de uma árvore na sua feição mais rica de valores? Nela existe uma força inteligente comandando seu ciclópico corpo, dividido em trilhões de partículas obedientes a um comando. A razão, a inteligência do homem, certamente que marca um passo a mais na evolução da mônada espiritual, movendo o corpo físico, o que não quer dizer que somente ele tem inteligência. São atributos do Espírito todos os dons, como em tudo existe reflexo dormindo e desabrochando como sendo a luz de Deus, dentro de tudo que existe.