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quarta-feira, 19 de maio de 2021

A CÓLERA..."O orgulho vos leva a vos julgardes mais do que sois, a não aceitar uma comparação que vos possa rebaixar"... /..."Dizei, pois, que o homem só permanece vicioso porque o quer, mas que aquele que deseja corrigir-se sempre o pode fazer"...

Evangelho Segundo o Espiritismo: Cap.10 Bem Aventurado os Misericordiosos.

A Cólera

Um Espírito Protetor
Bordeaux, 1863

9. O orgulho vos leva a vos julgardes mais do que sois, a não aceitar uma comparação que vos possa rebaixar, e a vos considerardes, ao contrário, de tal maneira acima de vossos irmãos, seja na finura de espírito, seja no tocante à posição social, seja ainda em relação às vantagens pessoais, que o menor paralelo vos irrita e vos fere. E o que acontece, então? Entregai-vos à cólera.

Procurai a origem desses acessos de demência passageira, que vos assemelham aos brutos, fazendo-vos perder o sangue-frio e a razão; procurai-a, e encontrareis quase sempre por base o orgulho ferido. Não é acaso o orgulho ferido por uma contradita, que vos faz repelir as observações justas e rejeitar, encolerizados, os mais sábios conselhos? Até mesmo a impaciência, causada pelas contrariedades, em geral pueris, decorre da importância atribuída à personalidade, perante a qual julgais que todos devem curvar-se.

No seu frenesi, o homem colérico se volta contra tudo, à própria natureza bruta, aos objetos inanimados, que despedaça, por não o obedecerem. Ah! Se nesses momentos ele pudesse ver-se a sangue-frio, teria horror de si mesmo ou se reconheceria ridículo! Que julgue por isso a impressão que deve causar aos outros. Ao menos pelo respeito a si mesmo, deveria esforçar-se, pois, para vencer essa tendência que o torna digno de piedade.

Se pudesse pensar que a cólera nada resolve, que lhe altera a saúde, compromete a sua própria vida, veria que é ele mesmo a sua primeira vítima. Mas ainda há outra consideração que o deveria deter: o pensamento de que torna infelizes todos os que o cercam. Se tem coração, não sentirá remorsos por fazer sofrer as criaturas que mais ama? E que mágoa mortal não sentirá se, num acesso de arrebatamento, cometesse um ato de que teria de recriminar-se por toda a vida!

Em suma: a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede que se faça muito bem, e pode levar a fazer-se muito mal. Isso deve ser suficiente para incitar os esforços para dominá-la. O espírita, aliás, é incitado por outro motivo: o de que ela é contrária à caridade e à humildade cristãs.

Hahnemann
Paris, 1863

10. Segundo a idéia muito falsa de que não se pode reformar a própria natureza, o homem se julga dispensado de fazer esforços para se corrigir dos defeitos em que se compraz voluntariamente, ou que para isso exigiram muita perseverança. É assim, por exemplo, que o homem inclinado à cólera se desculpa quase sempre com o seu temperamento. Em vez de se considerar culpado, atribui a falta ao seu organismo, acusando assim a Deus pelos seus próprios defeitos. É ainda uma conseqüência do orgulho, que se encontra mesclado a todas as suas imperfeições.

Não há dúvida que existem temperamentos que se prestam melhor aos atos de violência, como existem músculos mais flexíveis, que melhor se prestam a exercícios físicos. Não penseis, porém, que seja essa a causa fundamental da cólera, e acreditai que um Espírito pacífico, mesmo num corpo bilioso, será sempre pacífico, enquanto um Espírito violento, num corpo linfático, não seria dócil. Nesse caso, a violência apenas tomaria outro caráter. Não dispondo de seu organismo apropriado à sua manifestação, a cólera seria concentrada, enquanto no caso contrário seria expansiva.

O corpo não dá impulsos de cólera a quem não os tem, como não dá outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito. Sem isso, onde estariam o mérito e a responsabilidade? O homem que é deformado não pode tornar-se direito, porque o Espírito nada tem com isso, mas pode modificar o que se relaciona com o Espírito, quando dispõe de uma vontade firme. A experiência não vos prova, espíritas, até onde pode ir o poder da vontade, pelas transformações  verdadeiramente miraculosas que se operam aos vossos olhos? 
Dizei, pois, que o homem só permanece vicioso porque o quer, mas que aquele que deseja corrigir-se sempre o pode fazer. De outra maneira, a lei do progresso não existiria para o homem.

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sábado, 20 de fevereiro de 2021

O ESCÂNDALO E SEUS INSTRUMENTOS: "Os homens se assemelham a certos reservatórios dágua. Olhando-se esta, superficialmente, decantada como está, parece límpida, cristalina e pura; mas, tomando-se uma vara e revolvendo o fundo do tanque, eis que se turva, escurece[...] O indivíduo que se estuda e se analisa, procurando sondar os arcanos profundos do seu ser, fica conhecendo as tendências e as inclinações viciosas que lhe são próprias. De posse desse importante dado, o homem, vigiando e orando, como recomenda o Condutor por excelência da Humanidade, pode perfeitamente afastar de si as possibilidades de provocar escândalo. É de grande sabedoria o prolóquio que diz: É melhor prevenir que remediar"".


         





           O ESCÃNDALO E SEUS INSTRUMENTOS





Comecemos por trasladar, a propósito deste tema de grande interesse para todos nós, o texto evangélico de Mateus, Cap. XVII, v. 7 a 9.


"Ai do mundo por causa dos escândalos ! porque é necessário que haja escândalos; mas aí daquele homem por quem vem o escândalo! Portanto, se a tua mão, ou o teu pé, te escandaliza, ou te serve de tropeço, corta-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida manco ou aleijado do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno. Se o teu olho te serve de pedra de tropeço, arranca-o e lança-o fora de ti; é preferível entrares na vida com um olho só do que, tendo dois, seres lançado na Geena de fogo".


Só mesmo que conhece a fundo as fraquezas e as mazelas humanas pode nos proporcionar um ensinamento tão eloquente e de tanta relevância.


Aí do mundo por causa dos escândalos ! Porque é necessário que haja escândalos; mas, ai daquele homem por quem vem o escândalo!


O Mestre quer dizer com estas palavras que o mundo está na contingência de ser, como realmente é, teatro de escândalos. Habitada por Espíritos atrasados, tanto na esfera dos encarnados, como no seu ambiente exterior, onde pululam as almas daquela mesma categoria, aguardando o ensejo de vestirem a libré da carne, a Terra tem sido, e ainda é, cenário de lutas fratricidas, de rivalidades soezes, de inveja com seu cortejo de perfídias; de orgulho, sempre melindrado, assumindo aspectos, ora de ferocidade, ora de ridicularia, ora, ainda, de estupidez; de ambições desaçaimadas, provocando a ruína de uns para gáudio de outros, a pobreza e a miséria para o enriquecimento de poucos; finalmente, da hipocrisia e da filáucia dos intrujões de baixo e alto coturnos, agindo por conta própria, ou como representantes de instituições poderosas e, porque poderosas, privilegiadas.


Assim, pois, como orbe expiatório, não admira que os escândalos se sucedam, sem solução de continuidade, em seu seio. O escândalo, como é sabido, se caracteriza nos atos indecorosos, nas atitudes impudicas e até mesmo na conduta ou procedimento que destoa do uso e das convenções adotadas pela maioria. Pondo de parte esta última modalidade, a qual nada tem que afete a moral, o escândalo nada mais é que a exteriorização das sujidades morais ocultas no interior dos homens.


É do coração, diz o Evangelho, em sua linguagem simples e concisa, que vem o roubo, o adultério, o homicídio, a inveja, o dolo e as loucuras. O escândalo, portanto, é a manifestação daquilo que jazia oculto nos meandros dos corações, nas profundezas da alma humana. Uma circunstância qualquer, um momento azado, um choque inesperado se incumbe de pôr a descoberto o que se achava encoberto, tornando do domínio público o que estava em segredo. O escândalo, pois, é a revelação de um mal existente no indivíduo, revelação provocada pelos atritos da vida de relação, pelos entrechoques de interesses e vaidades, ou por simples circunstâncias ocasionais.


Daí a sábia observação do Instrutor da Humanidade: É preciso que haja escândalos, mas ai daquele por quem o escândalo vem! Sim, é necessário que os homens se revelem, que mostrem o que realmente são, que se venha a saber e conhecer as suas intenções e pensamentos reservados. Provocando o escândalo e suportando as consequências que do mesmo decorrem, o homem acaba corrigindo-se, mudando de atitude e de proceder. Este fato justifica plenamente a moralidade da sentença: É necessário que haja escândalos.


Os homens se assemelham a certos reservatórios dágua. Olhando-se esta, superficialmente, decantada como está, parece límpida, cristalina e pura; mas, tomando-se uma vara e revolvendo o fundo do tanque, eis que se turva, escurece, assumindo aparência desagradável e até repugnante. Por quê? Simplesmente porque veio à tona a imundície que se achava acamada nas paredes do reservatório. Este é o meio e o processo de limpá-los: não existe outro. É o que sucede com as nossas almas. Sua purificação se processa, agitando-se, pondo em suspensão as espurcícias que ela traz escondida em seus escaninhos mais íntimos.


As impurezas do Espírito são ainda comparáveis àquelas de que a lues impregna o sangue, originando enfermidades várias, chagas e tumores que se localizam nesta ou naquela região do corpo. Esses tumores devem ser abertos e drenados para que o pus escoe até a derradeira gota, embora escandalize a vista e o olfato dos circunstantes.


S. Paulo, no seu zelo pelas igrejas que fundava, dirigiu à de Corinto uma epístola da qual extratamos o seguinte trecho, que muito se relaciona com o assunto em apreço: Sei que há contendas e dissídios em vossa igreja... Pois é necessário mesmo que haja divisões e até heresias entre vós, para que os aprovados fiquem manifestos. (Aos Coríntios, 11-18 e 19). Aqui se trata do escândalo no seio de uma comunidade. Paulo não estranha o caso. Reputa como acontecimento natural, mostrando seu prisma favorável, através da seleção que determina, separando os aprovados daqueles que o não são. Esse método seletivo é benéfico às instituições que colimam ideais nobres e elevados, escoimados dos elementos inconvenientes e irredutíveis que perturbam e embaraçam a sua marcha.


É assim que o ânimo varonil de Paulo não se abatia diante dos escândalos verificados nas igrejas que ia organizando, no desempenho de sua missão evangelizadora. Ele via nesses escândalos um processo salutar de expurgo, contribuindo para desenvolvimento e progresso das comunidades cristãs.


No decurso dos três anos de seu messianato, Jesus teve ocasião de constatar, entre os apóstolos, alguns escândalos que certamente repercutiram dolorosamente sobre ele. Tal foi o proceder de Pedro, negando-o por três vezes, abertamente. Dessa culpa, o velho Pescador se penitenciou depois, amargamente, tornando-se firme e vigilante durante o resto de sua existência. Colheu, portanto, um proveito da própria queda, do mesmo ato de pusilanimidade em que incorreu.


Escândalo maior, de larga repercussão, cujos rumores atravessaram os séculos, perdurando ainda, foi por certo o de Judas Iscariotes, entregando o seu Mestre aos esbirros romanos, mediante o preço de 30 dinheiros, recebido dos sacerdotes judeus. Esse grave delito produziu consequências dolorosíssimas, determinando em Judas, arrependido, tamanho remorso, que o arrastou ao suicídio. Sua razão, então confusa e atrabiliária, conturbada e aflita, entendeu de punir aquele crime com a pena de morte, aplicando-a em si mesmo.


No paroxismo da mais veemente contrição, Judas se fez juiz em causa própria, reconhecendo a gravidade de sua culpa e contra ela lavrando e executando a pena máxima. De um transe tão penoso e amargurado resultou, como é natural, o aniquilamento do homem velho, com suas paixões inconfessáveis, ressurgindo uma criatura nova, purificada no cadinho da dor, redimida pelo batismo de fogo e reintegrada no desempenho da missão para a qual fora escolhida pelo próprio Cristo de Deus. De um grande mal resultou um grande bem.


E assim se justificam estas sábias palavras do inigualável Pedagogo, do incomparável Sociólogo e Psicólogo — Jesus de Nazaré: É necessário que haja escândalos, mais ai daqueles por quem o escândalo vem!


É conveniente deixarmos bem assinalados estes esclarecimentos: pois não estamos fazendo apologia, mas estudo dos escândalos e suas consequências. O escândalo é um mal, porém um mal necessário, como as cadeias, os presídios, o divórcio, etc., dadas as condições dos Espíritos que se encarnam neste planeta de provas e expiação. Assim pensando, disse o poeta espírita, Alarico Cunha: Que importa a intemperança, a orgia, a bebedeira, Se for para solver a taça derradeira!


Quem realiza o Amor, embora seja rude, Reconhece no Vício a sombra da virtude.


Que importa a luta armada, a monstruosa guerra, Se for para trazer a Paz à Terra!


Que importa a inclinação que temos para errar, Se o erro nos ensina a regra de acertar!


Se Paulo não persegue o exército cristão, Talvez não lhe sorrisse a Santa Conversão: Tão sublime, tão grande e cheia de heroísmo, Que o seu nome fundiu-se ao do Cristianismo. E eis porque Jesus, por muito nos amar. Vedou-nos o direito e o voto de julgar.


Prosseguindo na dissecação do texto evangélico, meditemos ainda sobre a seguinte alegoria que faz parte dele: "Se a tua mão, ou o teu pé, te serve de escândalo, corta-o e lança-o fora de ti; pois é preferível entrar na vida manco ou aleijado do que, tendo dois pés e duas mãos, ser lançado no fogo. Se o teu olho te serve de escândalo, arranca-o e lança-o fora de ti, porque é melhor possuir a vida com um só olho, do que tendo dois, ser lançado na Geena".


A figura acima nos ensina que devemos empregar todos os meios ao nosso alcance, mesmo aqueles mais rígidos e penosos, a fim de não nos tornarmos motivos ou instrumentos de escândalo. É possível, por certo, evitar o escândalo. O sábio Educador não prescreve aos seus educandos doutrinas e preceitos inexequíveis. Para fugirmos do escândalo, é bastante alcançarmos a condição expressa no velho aforismo socrático: Conhece-te a ti mesmo.


O indivíduo que se estuda e se analisa, procurando sondar os arcanos profundos do seu ser, fica conhecendo as tendências e as inclinações viciosas que lhe são próprias. De posse desse importante dado, o homem, vigiando e orando, como recomenda o Condutor por excelência da Humanidade, pode perfeitamente afastar de si as possibilidades de provocar escândalo. É de grande sabedoria o prolóquio que diz: É melhor prevenir que remediar.


O já citado Paulo, escrevendo aos núcleos de crentes, assim os aconselhava: Examine-se, pois, cada um a si mesmo. Se nós nos examinássemos a nós próprios, por certo não seríamos condenados. (l.a Coríntios, XI - 28 e 31). Quem se conhece, porque analisa e controla o seu interior, percebe e sente em si mesmo as fraquezas da carne, os impulsos das paixões e os arrastamentos da animalidade ainda não dominada pelas forças do Espírito. É nessa íntima confissão de inferioridade, inerente ao nosso estado evolutivo atual, que se assentam a segurança e a consolidação do bom terreno já conquistado, e de futuros surtos de progresso a conquistar.


Naturalmente, meditando nesta contingência, extensiva a todos os homens, é que o inspirado converso de Damasco se exprime desta maneira: Quando me sinto fraco, aí sou forte. A minha fortaleza se aperfeiçoa na fraqueza. Quando esse gigante da fé confessa peremptoriamente a precariedade de sua humana condição, que diremos nós, míseros calcetas, cumprindo, na penitenciária da carne, a nossa expiação? O citado apóstolo das gentes foi ainda mais longe na exposição sincera do seu estado de alma, dizendo: Que infeliz homem que eu sou: aquilo que quero não faço: aquilo que não quero, isso faço!


É com humildade de Espírito que havemos de vencer as nossas imperfeições, as nossas misérias morais, palmilhando, sem vacilações, com passo firme, a senda infinita da evolução em obediência ao profundo imperativo de Jesus: Sede perfeitos como vosso pai celestial é perfeito. Aquele célebre — vigiai e orai — de que Ele nos fala, encerra um conselho que só poderia ser dado por quem nos conhece em nossas mais íntimas particularidades e nas minúcias mais secretas do nosso coração. Quem vigia desconfia; e quem ora confia. Confiar em Deus, na sua justiça entrosada em sua misericórdia, e desconfiar de nós mesmos, do nosso pseudo valor, do nosso presumido saber e poderio — tal o programa evangélico, tal o critério preconizado pelo Espiritismo.


Não é fácil a vitória, sabemos disso. O que muito vale muito há de custar. A nossa redenção encerra o supremo Bem; portanto custará o supremo esforço. Por isso aconselha o Mestre e Senhor que eliminemos as mãos e os pés, se estes forem causa de escândalo. Que arranquemos os olhos de suas órbitas, se se tornarem motivo de tropeço.


A posse da vida eterna, dessa vida isenta das contingências que se verificam com o nascimento e a morte, compensa todos só esforços, justifica todos os sacrifícios. Tal aquisição importa na vitória do último inimigo a vencer, que é a morte, integrando-nos na imortalidade, em sua acepção positiva e concreta. O doente permite que se lhe ampute a mão, o pé, a perna ou o braço, desde que dessa intervenção cirúrgica resulte a conservação da sua vida corpórea. Consente e se sujeita à ablação de órgãos internos, uma vez que tal medida extrema possa advir probabilidade de cura dos males físicos de que seja acometido. Assim, pois, cumpre também que, no plano espiritual, se empregue o mesmo processo, a fim de evitar as quedas desastrosas das quais o homem venha a ser vítima.


Corta-se virtualmente a mão, deixando de apoderar-se do alheio, deixando de lesar o próximo e afastando as oportunidades de o fazer, desde que percebamos em nós as fascinações ou os pendores que nos poderiam arrastar à prática de atos desonestos; deixando, outrossim, de empregar as mãos para magoai ou agredir o nosso próximo, empunhando armas fratricidas.


O dia em que os homens cortarem as mãos, neste sentido, não haverá mais guerras cruentas e devastadoras, como essa que ora ensanguenta o Velho Mundo. Aliás, as conflagrações deflagradas entre os povos são, a seu turno, explosão monstro de escândalo cujos fatores, acumulados no seio das nações, irrompem, em dado momento, semelhantemente aos vulcões, quando entram em atividade. As lavas da ambição e da cobiça, e mais o fumo negro de ódios recalcados começam então a ser vomitados pela cratera do canhão e pelo bojo dos aviões, que do alto semeiam a morte e a ruína sobre a terra. Amputa-se o pé ou mesmo a perna, não frequentando os meios corruptos, as sociedades dissolutas, as casas de tolerância, os lupanares, ou mesmo as reuniões cujas finalidades seja equívocas e indefensáveis.


Arrancam-se os olhos, evitando as leituras licenciosas, as literaturas enervantes, eivadas de descrições indecorosas; arrancam-se os olhos, não assistindo aos espetáculos e filmes onde se desenrolam cenas impudicas, indecentes e livres, arrancam-se, enfim, os olhos, deixando de utilizá-los na concupiscência, na cobiça da mulher e dos bens de outrem e na maliciosa interpretação de tudo que cai sob o seu domínio. Nesta mesma ordem de considerações, podemos acrescentar, mantendo-se dentro do pensamento do Divino Mestre, mais o seguinte: Se os teus ouvidos te servem de escândalo, rompe, desde logo, os seus tímpanos, pois é melhor ser surdo que ouvir blasfêmias, heresias, contos imorais e pilhérias obscenas, visto como as más conversações corrompem os bons costumes.


Se a tua língua te serve de escândalo, arranca-a e atira para longe de ti, pois é preferível ser mudo, a usar a palavra para caluniar ou denegrir a reputação alheia, para ofender o próximo, para espalhar a mentira e os boatos difamatórios; para ilaquear a boa fé dos simples e dos pequeninos; para iludir, fascinar e confundir a mente do povo, visando a objetivos dolosos; finalmente, para adulterar os próprios pensamentos, dizendo o que não sente, simulando e dissimulando, fingindo e disfarçando os mesmos sentimentos do seu coração, agindo, portanto, em completo desacordo com a seguinte regra áurea, preconizada por Aquele que é a imagem viva da Verdade: Seja o teu falar — sim, sim, não, não, pois tudo o que passa disto tem procedência maligna.


São assim os ensinamentos do incomparável Mestre e único condutor de homens digno de confiança: claros, concisos, isentos de subterfúgios e ambiguidades — fundados todos eles no pleno conhecimento das nossas necessidades. Os fatos se incumbem de dar testemunho, dentro de cada um de nós, da veracidade incontestável da palavra autorizada e sempre oportuna do Verbo Divino.


Não precisamos de intermediários ou intérpretes para essa palavra. A todos Deus concede as faculdades e os meios de perceber e sentir as verdades eternas reveladas do céu. Basta que o homem tenha boa vontade, seja sincero e deseje recebê-las, para que a fonte da água viva, derrame a cristalina linfa, inundando o seu coração, convertendo-o, por sua vez, em manancial, fluindo para a vida imortal, nos paramos celestes.


A lição do escândalo e seus instrumentos, que estudamos, é de grande alcance e importância. Consideremos, para finalizar, um dos seus aspectos mais eloquentes e de impressionante gravidade, ao qual ora nos vamos reportar e cuja evidência temos diante dos olhos, no meio em que vivemos.


Se nós não atendermos à sábia advertência de Jesus, mutilando-nos figuradamente, como Ele aconselha, essas mutilações podem se concretizar um dia, desde que assim determine a justiça imanente na exigência do resgate de culpas e crimes que tenhamos cometido. E assim se explicam os dolorosos casos de anomalia e de aleijões, infelizmente mais ou menos comuns neste mundo.


A cegueira de nascimento, a surdez e a mudez congênitas, a falta de membros inferiores ou superiores, e outras tantas deformidades com que nascem muitas crianças; a imbecilidade e a idiotia que acompanham certos rebentos do berço ao túmulo, que representam se não defeitos ou manifestações exteriores de causas íntimas, isto é, de delitos anteriormente praticados, cuja remissão é solicitada pelos próprios culpados?


A ciência explica essas anomalias como produto de hereditariedade, provenientes da lues, do alcoolismo, etc. Tem razão a Patologia médica em sua parte denominada Teratologia, naquela explicação. Todavia, a ciência se limita à matéria, às deformidades físicas. Quanto, porém, aos motivos por que determinados Espíritos se encarnam em corpos doentes, ela não cogita. A ciência não entra em tal indagação. A nós, porém, como deístas e espíritas, cumpre indagar a perquirir a questão através do prisma religioso do Espiritismo, visto como esta doutrina conjuga a ciência com a religião, aliando a razão à fé.


Deus, em sua justiça, não podia consentir que uma alma sã, isenta de culpas, viesse habitar um corpo enfermo ou deformado. Não concebemos a Divindade divorciada dos seus atributos de justiça e de misericórdia. Portanto, concluímos lógica e racionalmente, que os Espíritos encarnados em matéria impura e virulenta são aqueles que vêm expiar culpas outrora cometidas, pois que um só fio de cabelo não cai das nossas cabeças, se não pela vontade de Deus, conforme ensina o Mestre por excelência, cuja doutrina e cujos preceitos a Terceira Revelação vai revivendo em verdade, e em espírito. Esta particularidade, aliás, é confirmada pela comunicação das almas sofredoras que, arrependidas, reconhecem e confessam o seu passado culposo, respondendo pelos padecimentos da última encarnação que tiveram na terra.


Vinícius


quinta-feira, 28 de abril de 2016

Jesus e a Inteligência Emocional



Autor: Suely Caldas Schubert

Afirma Daniel Goleman em seu livro “Inteligência Emocional” que os grandes mestres espirituais como Jesus e Buda “tocaram o coração dos seus discípulos falando na linguagem da emoção, ensinando por parábolas, fábulas e contos”. Segundo o escritor estes mestres espirituais falam no “vernáculo do coração”, o que do ponto de vista racional tem pouco sentido.

Goleman explica ainda que segundo Freud, em seu “conceito primário” de pensamento, essa lógica da mente emocional é a “lógica da religião e da poesia, da psicose e das crianças, do sonho e do mito”. Isto engloba também as metáforas e imagens como as artes, romances, filmes, novelas, música, teatro, ópera, etc., pois tocam de forma direta a mente emocional.

Isto nos leva a entender por que as expressões religiosas e artísticas agradam tanto: é que a imensa maioria das pessoas é dominada pela emoção. Também explica o motivo dessa preferência das multidões a essas crenças novas, rotuladas de evangélicas, que manipulam as emoções como fator de atração e direcionamento de seus adeptos.

Mas, o que é a EMOÇÃO? O dicionário registra: qualquer agitação ou perturbação da mente; sentimento; paixão; qualquer sentimento veemente ou excitado.

Segundo Goleman: “EMOÇÃO se refere a um sentimento e seus pensamentos distintos, estados psicológicos e biológicos, e a uma gama de tendências para agir.”

Não podemos perder de vista as sutilezas em que as emoções se manifestam, para melhor entendimento do assunto e encaminhamento do nosso raciocínio.

Os estudiosos do tema propõem famílias básicas (assim co­mo as cores básicas); mencionaremos algumas:

IRA: fúria, revolta, ressentimento, raiva, exasperação, indignação vexame, animosidade, aborrecimento, irritabilidade, hostilidade e, no extremo, ódio e violência patológicos.

TRISTEZA: sofrimento, mágoa, desânimo, desalento, melancolia, autopiedade, solidão, desamparo, desespero e, quando patológica, severa depressão.

MEDO: ansiedade, apreensão, nervosismo, preocupação, consternação, cautela, escrúpulo, inquietação, pavor, susto, terror e, como psicopatologia, fobia e pânico.

PRAZER: felicidade, alegria, alívio, contentamento, deleite, diversão, orgulho, prazer sensual, emoção, arrebatamento, gratificação, satisfação, bom humor, euforia, êxtase e, no extremo, mania.

AMOR: aceitação, amizade, confiança, afinidade, dedicação, adoração, paixão, ágape (caridade).

E as virtudes e vícios que vão desde a fé, compaixão, esperança, coragem, altruísmo, perdão, equanimidade até dúvida, preguiça, tédio, etc. Há um debate científico sobre como classificar as emoções, já que podem ser igualmente um estado de espírito, temperamento ou se transformarem em distúrbios emocionais como depressão, angústia, ansiedade, fobias, etc.

Depreende-se, portanto, que em várias circunstâncias de nossa vida as emoções prevalecem e nos dominam. Quantas vezes nos surpreendemos diante de nossas alternâncias de estado de espírito, pois podemos ser muito racionais num momento e irracionais no seguinte quando o calor da emoção passa a comandar nossas atitudes.

É exatamente nos estados extremos das emoções que as pessoas cometem ações das quais se arrependem amargamente no minuto seguinte, quando a mente racional começa a reagir. É este o caminho dos crimes passionais, quando se diz que houve “privação dos sentidos”.

Portanto, emoções são sentimentos a se expressarem em impulsos e numa vasta gama de intensidade, gerando idéias, condutas, ações e reações. Quando burilados, equilibrados e bem conduzidos transformam-se em sentimentos elevados, sublimados, tomando-se, aí sim — virtudes.

O livro de Daniel Goleman traz-nos preciosas contribuições que devem ser analisadas à luz da Doutrina Espirita. Observemos, em princípio, o que consideramos a contribuição fundamental de sua obra: a distinção entre inteligência emocional e racional, em que “linguagem” a primeira se manifesta e todas as conseqüências que daí advêm. Mas, iremos analisar, especificamente, o discurso de Jesus, sob esta ótica.

Segundo o autor e conforme mencionamos linhas atrás, Jesus utilizou-se do “vernáculo do coração”, falava, portanto, a linguagem da emoção, e acrescentamos: do sentimento sublimado — por isto se diz que Ele trouxe a Lei de Amor.

Todavia, para a mentalidade racional que impera no Ocidente, nas elites intelectuais, sobretudo, essa mensagem passou a ser vista como sinônimo de psicose, infantilidade, poesia e utopia. Por outro lado, os principais fatores que geraram esse tipo de leitura foram as distorções, as interpolações e mutilações que o Evangelho sofreu e que o transformaram nesse cristianismo dos tempos atuais, muito distante da verdadeira Boa-Nova.

É exatamente no momento crucial em que a Europa, liderada pela França, entroniza a “deusa Razão”, zombando dos valores espirituais cultivados pela religião dominante, que a Terceira Revelação chega à Terra. O Espiritismo veio fazer uma leitura do Evangelho através da razão. Tendo em suas bases a moral cristã em sua pureza primitiva, interpretada, todavia, na linha do raciocínio a fim de que o seu aspecto emocional passe agora pela mente racional e possa ser aceita, assimilada pela mentalidade que prevalece em nossa época.

Cremos que a resistência na aceitação da Doutrina Espírita por parte dos países europeus (e mesmo norte-americanos), deve-se ao fato de não terem conseguido ainda assimilar essa nova mentalidade, pois destacam, de forma predominante, os valores intelectuais, a linha racional, não admitindo a prevalência da emoção ou a sua equiparação com a razão.

A Doutrina Espírita vem colocar o Evangelho do Cristo na linguagem da razão, com explicações racionais, filosóficas e científicas, mas, vejamos bem, sem abandonar, sem deixar de lado o aspecto emocional que é colocado na sua expressão mais alta, tal como o pretendeu Jesus, ou seja o sentimento sublimado, demonstrando assim que o SENTIMENTO E A RAZÃO podem e devem caminhar pela mesma via, pois constituem as duas asas de libertação definitiva do ser humano: O AMOR E A SABEDORIA.

A questão 627 de “O Livro dos Espíritos” traz-nos primorosa síntese das finalidades do Espiritismo e, a certa altura da resposta transmitida pelos Espíritos Superiores afirma: “O ensino dos Espíritos tem que ser claro e sem equívocos, para que ninguém possa pretextar ignorância e para que todos o possam julgar e apreciar com a razão. Estamos incumbidos de preparar o reino do bem que Jesus anunciou. Daí a necessidade de que a ninguém seja possível interpretar a lei de Deus ao sabor de suas paixões, nem falsear o sentido de uma lei toda de amor e de caridade.”


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

LEI DE CONSERVAÇÃO

02 - Lei de Conservação
Pergunta 711 -O uso dos bens da Terra é um direito de todos os homens? - "Esse direito é consequente da necessidade de viver. Deus não imporia um dever sem dar ao homem o meio de cumprí-lo."
Pergunta 715 - Como pode o homem conhecer o limite do necessário? - "Aquele que é ponderado o conhece por intuição. Muitos só chegam a conhecê-lo por experiência e à sua própria custa."
1 - O DINHEIRO
De fato, o dinheiro constitui pesada responsabilidade para o seu possuidor.
Não compra a felicidade e, muitas vezes, torna-se responsável por incontáveis desditas.
Apesar disso, a sua ausência quase sempre se transforma em fator de desequilíbrio e miséria com que se atormentam multidões em desvario.
O dinheiro, em si mesmo, não tem culpa: não é bom nem mau.
A aplicação que se lhe dá, torna-o agente do progresso social, do desenvolvimento técnico, do conforto físico e, às vezes, moral, ou causa de inomináveis desgraças.
Sua validade decorre do uso que lhe é destinado. Com ele se adquirem o pão, o leite, o medicamento, dignificando o homem pelo trabalho.
Sua correta aplicação impõe responsabilidade e discernimento, tornando-se fator decisivo na edificação dos alicerces das nações e estabilizando o intercâmbio salutar entre os povos.

Por meio dele irrompem o vício e a corrupção, que arrojam criaturas levianas em fundos despenhadeiros de loucura e criminalidade.
Para consegui-lo, empenham-se os valores da inteligência, em esforços exaustivos, por meio dos quais são fomentados a indústria, o comércio, as realizações de alto porte, as ciências, as artes, os conhecimentos.
No submundo das paixões, simultaneamente, dele se utilizando, a astúcia e a indignidade favorecem os disparates da emoção, aliciando as ambições desregradas para o consórcio da anarquia com o prazer.
Por seu intermédio, uns são erguidos aos píncaros da paz, da glória humana, enquanto outros são arrojados às fumas pestilentas do pavor e da desagregação moral em que sucumbem.
Sua presença ou ausência é relevante para a quase totalidade dos homens terrenos.
Para o intercâmbio, no movimento das trocas de produtos e valores, o dinheiro desempenha papel preponderante.
Graças a ele, estabelecem-se acordos de paz e por sua posse explodem guerras calamitosas.
Usa-o sem escravizar-te.
Possui-o sem deixar-te por ele possuir. Domina-o antes que te domine.
Dirigi-o com elevação, a fim de que não sejas mal conduzido.
Mediante sua posse, faze-te pródigo, sem te tornares perdulário.
Cuida de não submeter tua vida, teus conceitos, tuas considerações e amizades ao talante do seu condicionamento.
Previdente, multiplica-o a benefício de todos, sem a avareza que alucina ou a ambição que tresvaria.
De como te servires do dinheiro, construirás o céu da alegria ou o inferno de mil tormentos para ti mesmo.
Se te escasseia nas mãos a moeda, não te suponhas vencido.
Ter ou deixar de ter, importa pouco, na economia moral da tua existência.
O importante será a posição que assumas em relação à posse.
Não te desesperes pela ausência do dinheiro. Como há aqueles que se fizeram servos do que têm, há-os, também, escravizados aos que gostariam de ter.
O dinheiro é meio, não meta.
Imprescindível colocar-te jubilosamente na situação que a vida te brindou, padronizando as diretrizes e os desejos pessoais dentro dos limites transitórios da experiência educativa por que passas, conseqüência natural do mau uso que fizeste do dinheiro que um dia possuíste.
Por outros recursos poderás ajudar o próximo e erigir a felicidade pessoal, conforme as luminosas lições com que o Evangelho te pode enriquecer a vida.
Essencial é viver bem e em paz com ou sem o dinheiro.
2 - DESPERDÍCIOS
Há muito desperdício no mundo, fomentando larga faixa de miséria entre os homens.
O que há abundante em tua mesa falta em muitos lares.
O excesso nas tuas mãos é escassez em inúmeras famílias.
O que te sobra e atiras fora, produz ausência em outros lugares.
O desperdício é fator expressivo de ruína na comunidade.
O homem, desejando fugir das realidades transcendentes da vida, afoga-se na fantasia, engendrando as "indústrias da inutilidade", abarrotando-se com os acúmulos, padecendo sob o peso constritor da irresponsabilidade, em que sucumbe por fim.
A vida é simples nas suas exigências quase ascéticas. Muitos cristãos distraídos, porém, ataviam-se, complicam os deveres, sobrecarregam-se do dispensável, desperdiçam valores, tempo e oportunidades edificantes para o próprio burilamento.

Desperdiçam palavras, amontoando-as em verbalismo inútil a fim de esconderem as verdades; desperdiçam tempo em repousos e férias demorados, que anestesiam os centros combativos de ação da alma encarnada;
-desperdiçam alimentos em banquetes, recepções, festas extravagantes com que disputam vaidades;
-desperdiçam medicamentos em prateleiras empoeiradas, aguardando, no lar, doenças que não chegarão, ou, em se apresentando, encontram-nos ultrapassados;
-desperdiçam trajes e agasalhos em armários fechados, que não voltarão a usar;
-desperdiçam moedas irrecuperáveis em jogos e abusos de todo gênero, sem qualquer recato ou zelo; desperdiçam a saúde nas volúpias do desejo e nas inquietações da posse com sofreguidão;
-desperdiçam a inteligência, a beleza, a cultura, a arte nos espetáculos do absurdo e da incoerência, a fim de fazerem a viagem da recuperação do que estragaram, em alucinada correria para lugar nenhum ...
Não se recupera a malbaratada oportunidade. Ninguém volta ao passado, na busca de refazê-lo, encaminhá-lo noutro rumo.
O desperdício alucina o extravagante e exaure o necessitado que se lhe faz vítima.
Há, sim, muito e incompreensível desperdício na Terra.
Reparte a tua fartura com a escassez do teu próximo.
Divide os teus recursos, tuas conquistas e vê-los-ás multiplicados em mil mãos que se erguerão louvando e abençoando as tuas, generosas.
Passarás pelo mundo queiras ou não. Os teus feitos ficarão aguardando o teu retorno.
Como semeares, assim colherás.
O que desperdiçares hoje, faltar-te-á amanhã, não o duvides.
Sê pródigo sem ser perdulário, generoso sem ser desperdiçador e o que conseguirás será crédito ou débito na contabilidade da tua vida perene.
3 - PRESENÇA DO EGOÍSMO
No fundo das desgraças humanas o egoísmo sempre aparece como causa essencial.
Urde a agressividade e inspira a fuga ao dever sob disfarces inescrupulosos com que passa ignorado.
Remanescente das paixões que predominam em a natureza animal, vige com vigor, logrando triunfos de mentira com que não consegue saciar a sede dos gozos nem organizar o bastião de segurança em que busca apoio para a sistemática autodefesa.
Examinemo-lo em algumas nuanças:
O mentiroso acredita que se exime à responsabilidade do cometimento que oculta e, não raro, avança no rumo da infâmia ou calúnia logo a oportunidade se lhe faça propícia.
O egoísmo é-lhe o nefando inspirador.
O perseguidor crê-se amparado pela necessidade do desforço justo ou que procura justificar, transformando-se em implacável algoz.
O egoísmo sustenta-o na empresa inditosa.

O sensualista perverte o próximo, desrespeitando a honestidade das vítimas que lhe caem nas armadilhas.
O egoísmo absorvente emula-o ao desar contínuo. O avaro amealha com sofreguidão, cobrando à sociedade um tributo absurdo, devorando os bens alheios e permitindo-se devorar pela sandice.
O egoísmo faz-se-lhe a força que o propele na infeliz tarefa.
O assaltante de qualquer denominação apropria-se indebitamente, utilizando-se, subrepticiamente, da astúcia, da temeridade, do cinismo, da loucura.
O egoísmo domina-o feroz.
O misantropo arroga-se direitos na infelicidade que se impõe e exerce enérgico domínio em torno dos próprios passos com que não amaina a melancolia em que se compraz.
O egoísmo concita-o à lamentável situação.
O vício de qualquer tipo, exercendo dominação sobre o homem, sem facultar a outrem qualquer ensancha de prazer.
Crê-se merecedor de tudo e a si mesmo se concede somente direitos e permissividades.
Morbo pestilencial, no entanto, consome aquele que o agasalha e vitaliza.
Destrói em volta, sem embargo aniquila-se.
O conhecimento da vida espiritual constitui o antídoto eficaz a tão violento quão generalizado mal: o egoísmo.
Descarta-te de excessos e, disposto a vencê-lo, distribui o que te seja também necessário.
Não é uma conclamação à imprevidência, tampouco apoio à avareza.
Imprescindível combater por todos os modos possíveis esse adversário que se assenhoreia da alma e lhe estrangula as possibilidades de libertação.
Ama e espraia-te.
Desculpa e cresce na fraternidade. Serve e desdobra a esperança.
Ora e dilata os valores da iluminação espiritual, clarificando mentes e corações no propósito excelente de vencer em definitivo esse verdugo que tem sido a matriz de todos os males que pesam na economia moral, social e espiritual da Humanidade.
4 - AMOR-PRÓPRIO
É dos mais perigosos inimigos do homem. Ardilosamente oculta as intenções de que se nutre e exterioriza falsas argumentações com que se impõe, malévolo.
Ataca no momento azado, após realizar hábeis manobras, persistentes e vigorosas.
Consegue ocultar os objetivos reais que o açulam e enfileira-se com destaque entre os mais graves destruidores da harmonia íntima da criatura.
Intoxica quem o conduz e desfere dardos venenosos com segurança, produzindo vítimas que tombam, inermes, sob seus certeiros aguilhões.
Impiedoso, compraz-se quando esmaga e afivela à face a máscara de falsa compaixão com que dissimula os sorrisos da vitória nefasta.
Desvela-se sob artifícios e consegue desviar a atenção da sua tarefa lúgubre.
A queda do próximo alegra-o; a desdita de alguém emula-o; o descoroçoamento do lutador fascina-o; a derrota do adversário diverte-o ...
Este venal servidor da desdita chama-se amor-próprio.
Fere-se com facilidade e melindra-se sob pretextos imaginosos e fúteis.
Arregimenta o desculpismo para si mesmo e a fiscalização severa para os outros.
Por artimanhas domina os sentimentos e perturba o discernimento de quem lhe dá guarida.
Filho dileto do orgulho, é irmão gêmeo do egoísmo e célula cancerígena responsável por muitos reveses na vida das criaturas.
Combate-o com todas as forças.
Não lhe dês guarida nem convivas com as suas astúcias.
O amor a si mesmo recomendado por Jesus não objetiva os triunfos imediatos nem as situações acomodatícias.
Ajuda o Espírito a emergir das torpezas e a libertar-se das contingências transitórias, mediante a autodoação, a renúncia, a abnegação e o amor ao próximo.
Vidas que se podiam glorificar pelas oportunidades ditosas que fruem, malogram quando o amor-próprio as dirige.
Construções superiores do bem soçobram quando o amor-próprio as sitia.
Grupamentos humanos de relevância se desagregam quando o amor-próprio semeia o separatismo .
... E as guerras - conseqüência dos pequeninos conflitos que se travam nos grupos familiares - decorrem do amor-próprio doentio de governos arbitrários e enlouquecidos que tripudiam sobre os direitos humanos, e, transformados em abutres, logo sucumbem sobre os escombros dos vencidos em que se refestam ...
Jesus caluniado, agredido, desrespeitado, abandonado e crucificado, lecionando o amor fraternal - antítese do amor-próprio - e atestando a suprema força de que se encontrava investido, ofertou-nos, sábio, a mensagem-advertência salvadora contra esse inimigo que habita em nós e deve ser combatido sem tréguas: o amor-próprio.
5 - RENOVAÇÃO
A poda propicia a renovação da planta.
A drenagem faculta a modificação do campo. A decantação aprimora a qualidade do líquido.
O cautério enseja a laqueação de vasos e a destruição dos tecidos contaminados.
A modificação dos hábitos viciosos fomenta o entusiasmo que liberta do comodismo pernicioso e da atividade perturbadora.
Imperioso o esforço para a renovação que gera bênção e é matriz de prodigiosas conquistas.
Renovar idéias - haurindo no manancial inesgotável do Evangelho a inspiração superior.
Renovar palestras - mediante o exercício salutar do pensamento comedido e nobre.
Renovar atividades - colocando o "sal" da alegria e a gota de amor em cada tarefa a ser realizada.
Renovar objetivos - pelo estudo contínuo das metas e meios para a libertação espiritual, tendo em vista a decisão irrevogável de triunfar sobre as imposições afligentes que conspiram no mundo contra a paz verdadeira do Espírito.
Renovar é processo fecundo de produzir. Não apenas renovar para variar, antes reativar os valores que jazem vencidos pela rotina pertinaz, ou redescobrir os ideais que, a pouco e pouco, são consumidos pelo marasmo, vencidos pela modorra, desarticulados pelas contingências da mecânica realizadora.
A renovação interior - poda moral - desse modo, exige disciplina e sacrifício para lograr o êxito que se pretende colimar.
Diante da questão desagradável, que já consegues resolver, renova a paciência e tenta uma vez mais.
Ante a pessoa irritante que já conseguiu fazer-se antipática, renova conceitos e insiste na fraternidade um pouco mais.
Em face do antagonista gratuito que logra desagradar-te, renova o esforço de vencer-te e sê gentil ainda mais.
Perante o sofrimento que parece destruir-te, renova-te pela oração e confia mais.
O discípulo do Evangelho, que desdenha o milagre da renovação, pode ser comparado ao trabalhador que menospreza a esperança - tornando-se vítima fácil para o fracasso.
Jesus, o Sublime Exemplo, ensinando a perene urgência da renovação dos propósitos superiores, cercou-se de pessoas difíceis de ser amadas, compreendidas, ajudadas, não desperdiçando situações nem circunstâncias negativas, armadilhas e astúcias em momentos de aflitivas conjunturas, propiciando-nos, assim, a demonstração do valor do ideal e da vivência do bem, conseguindo todos renovar e tudo modificar, em razão dos objetivos elevados do Seu ministério entre os homens.
Sem reclamar contra o pecado, renovou os pecadores. Sem invectivar a astúcia, renovou as vítimas da perturbação bem urdida.
Sem reagir contra os que O perseguiam em caráter contumaz, renovou todos os que se facultavam à Sua palavra.
Toda a mensagem que nos legou, mediante palavras ou ações, constitui um poema e um hino de bênçãos à renovação do homem, do mundo e da Humanidade.
6 - HEROÍSMO DA RESIGNAÇÃO
O imediatismo dos interesses apaixonados confunde-a com demência ou a tem em conta de deficiência de forças para poder investir violentamente contra as circunstâncias.
Não falta quem se rebele contra os seus necessários impositivos.
Tacham-na de cobardia moral.
Crêem-na ultrapassada, nos dias voluptuosos do tecnicismo moderno.
Todavia, a resignação é bênção lenificadora, quando a vida responde em dor e sombra, infortúnio e dificuldade aos apelos do homem.
Alternativa redentora, que somente os bravos se conseguem impor, reforça os valores espirituais para as lutas mais ingentes da inteligência e do sentimento.
Não deflui de uma atitude de medo, porquanto isso seria injustificado ante as Leis Superiores, mas resulta de morigerada e lúcida reflexão que favorece o perfeito entendimento das imposições evolutivas.

O conhecimento dos fatores causais dos sofrimentos premia o homem com a tranqüila responsabilidade que assume, em relação aos gravames que os motivaram.
Quiçá a resignação exija mais dinâmica da coragem para submeter-se, do que requereria a reação rebelada da violência.
Entrementes, a atitude resignada não significa parasitismo nem desinteresse pela luta. Ao contrário, enseja fecundo labor ativo de reconstrução interior, fixação de propósitos salutares em programa eficaz de enobrecimento.
Ceder, agora, a fim de conseguir mais tarde. Aguardar o momento oportuno, de modo a favorecer-se com melhores resultados
Reagir pela paciência e mediante a confiança imbatível em Deus, apesar do quanto conspire, aparentemente contra.
Crer sem desfalecimento, embora as aparências aziagas.
Porfiar no serviço edificante sem engendrar técnicas da astúcia permissiva, quando tudo se apresenta em oposição.
Manter-se na alegria, não obstante sofrendo ou incompreendido, abandonado ou vencido, expressa os triunfos da resignação no homem consciente dos objetivos reais da existência na Terra.
O metal em altas temperaturas funde-se. O rio caudaloso na planície espalha-se.
A semente no solo adubado transforma-se.
O cristão ativo na construção do testemunho resigna-se.
A própria reencarnação é um ato de submissão, quanto a desencarnação, desde que ocorrem independentemente da vontade do aprendiz que se deve resignar às exigências superiores da evolução.
Resignação, por conseguinte, é conquista da não violência do Espírito que supera paixões e impulsos vis, a fim de edificar-se e triunfar sobre si mesmo e, em conseqüência, sobre os fatores negativos que lhe obstaculam o avanço libertador.
Joanna de Ângelis

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Existem outras formas de corrupção, além daquelas práticas usuais, Emmanuel nos faz refletir em vez de julgarmos.

NÃO  FURTAR
Emmanuel
Reunião pública de 27-1-61
1ª Parte, cap. VI, item 14
Diz a Lei: “não furtaras”.
Sim, não furtarás o dinheiro, nem a fazenda, nem a posse dos semelhantes.
Contudo, existem outros bens que desaparecem, subtraídos pelo assalto da agressividade invisível que passa, impune, diante dos tribunais articulados na Terra.
Há muitos amigos que restituem honestamente a moeda encontrada na rua, mas que não se pejam de roubar a esperança e o entusiasmo dos companheiros dedicados ao bem, traçando telas de amargura e desânimo, com as quais favorecem a vitória do mal.
Muitos respeitam a terra dos outros; entretanto não hesitam em dilapidar-lhes o patrimônio moral, assestando contra eles a maledicência e a calúnia.
Há criaturas que nunca arrebataram objetos devidos ao conforto do próximo; contudo, não vacilam em surripiar-lhes a confiança.
E há pessoas inúmeras que jamais invadiram a posse material de quem quer que seja;no entanto, destroem sem piedade, a concórdia e a segurança do ambiente em que vivem, roubando o tempo e a alegria dos que trabalham.
“Não furtarás” – estatui o preceito divino. É preciso, porém, não furtar nem os recursos do corpo, nem os bens da alma, pois que a conseqüência de todo furto é prevista na Lei.

Livro “Justiça Divina” – Psicografia Francisco Candido Xavier – Espírito Emmanuel

terça-feira, 2 de julho de 2013

Divulgação pelos Atos

Divulgação pelos Atos

O verbo flamívomo e arrebatador entretecerá considerações incomparáveis a respeito do Bem; no entanto, será o exemplo silencioso de renúncia e de dedicação que cimentará o trabalho de edificação enobrecedora.

Páginas brilhantes serão escritas a respeito da excelência do Evangelho; todavia, a conduta equilibrada do indivíduo demonstrá-la-á com segurança, abrindo espaço para a fraternidade e o amor.

Conceituações claras, carregadas de lógica e de bom senso, serão apresentadas às assembléias atentas; entretanto, o comportamento do expositor representará o peso mais importante para selar a legitimidade dos enunciados.

Debates vigorosos conseguirão demonstrar a pujança da palavra de Jesus e a racionalidade de Allan Kardec; mas, a ação da caridade, e somente ela, confirmará o seu elevado conteúdo.

Todos os textos elaborados com inteligência sobre o Espiritismo conseguem despertar o interesse dos neófitos; porém, será sempre a lição viva de gentileza e paciência que lhe demonstrará a irrestrita confiança em Deus, que todos devem manter.

Os cursos de esclarecimento e as técnicas de ensino aplicados à divulgação do pensamento espírita têm o poder de orientar e despertar consciências; todavia, a vivência desses postulados pelos que os enunciam, demonstrará que são portadores de força moral transformadora.

A humanidade tem conhecido admiráveis oradores e hábeis, quão cultos escritores, sofistas e silogistas bem equipados mentalmente, pensadores eméritos, que vêm apresentando teses revolucionárias e propostas salvacionistas, roteiros de libertação e fórmulas de engrandecimento moral; no entanto, o tempo os tem esboroado, porque os seus autores apenas ensinaram, instruíram, propuseram, mas não se impregnaram deles, a que tanto se referiam, sucumbindo no desespero... É lamentável que muitos homens e mulheres, aparentemente convencidos da imortalidade do Espírito e da vida futura, ajam e comportem-se de maneira totalmente contrária...

Agridem-se, espezinham-se e aos demais, censurando, amaldiçoando, hostilizando-se reciprocamente em atitudes infelizes que desmentem as palavras que direcionam aos outros em nome da Doutrina que dizem esposar.

São ainda características da natureza humana a dubiedade, como também a dicotomia entre a palavra e a ação, o ensinamento e a conduta, o que vem dificultando o progresso de cada qual e da humanidade em geral.

Quem encontra o Mestre e reflexiona nos Seus ensinos, não mais age como antes.

Jesus é um divisor de águas e de condutas.

Ninguém pode permanecer indiferente ao Seu mimetismo, à Sua penetração emocional.

O Espiritismo, restaurando-Lhe o pensamento e atualizando-o, é poderoso agente transformador, que modifica o ser em profundidade.

Vivê-lo sem retoques, trabalhando-se sem cessar, constituem o desafio do momento para todo aquele que travou contacto com a sua lição libertadora.

Enquanto permaneça a diferença no nível científico-tecnológico com o moral, o adepto do Espiritismo se tornará o exemplo que define a eloqüência da sua convicção, face aos postulados abraçados.

Divulgação pelos atos é a palavra de ordem no báratro dos conceitos estúrdios e das doutrinas confusas que pretendem retratar Jesus e solucionar os problemas humanos, desequipados da lógica e da razão, incapazes de enfrentar o bom senso e a experimentação científica.

MANIA DE ENFERMIDADE

MANIA  DE  ENFERMIDADE
Humberto de campos
– Vamos Luísa! – exclamava Inácio Penaranda, dirigindo-se à esposa afetuosamente – creio estimarás o tema evangélico desta noite. Prometem-nos valiosas conclusões, relativamente à mediunidade e seu exercício. Ao que suponho, os esclarecimentos apresentarão singular interesse para nós ambos.
Luísa apoiou o rosto na mão direita, num gesto muito seu, e disse com enfado:
– Ora, Inácio, achas que posso cometer a imprudência de enfrentar a noite chuvosa? E a minha nevralgia? A gripe do Carlos e o reumatismo de mamãe? Não teria ouvido para as lições a que te referes. Francamente, não posso compreender tuas boas disposições invariáveis.
Inácio aprimorava o nó da gravata e respondia:
– Compreendo os teus cuidados, mas devo lembrar que há três anos te esquivas à minha companhia. Naturalmente, devo ser o primeiro a encarecer tuas virtudes de filha e mãe; creio, porém, que exageras o sentido das enfermidades. Em vão procura interessar-te nos problemas da fé, inutilmente busco inclinar-te a mente para os problemas mais nobres da vida. Não sabes falar senão de doenças, insânias, ventosas, injeções e comprimidos. Vives quase esmagada por expectativas angustiosas. A chuva aborrece-te, o frio te atormenta, o vento leve te atemoriza. Tudo isso é de lamentar, porque nossa casa não se formou no pântano da ignorância, mas nos alicerces de conhecimentos sólidos. Nossa fé consagra a iluminação íntima como patrimônio mais precioso do mundo. Por que, então, viver assim, descrente de Deus e de ti mesma?
A Srª Penaranda esboçou um gesto de sensibilidade ofendida e redargüiu chorando:
– Sempre as mesmas exortações ásperas! Quando me poderás compreender? Sabe Deus minhas lutas, meus esforços para reaver a saúde perdida!...
– Certamente, Deus não desconhece nossos trabalhos, mas também não poderia aplaudir nossas inquietações injustificadas.
Dona Luísa cravou os olhos no companheiro, extremamente excitada, e bradou:
– Céus! Que infelicidade a minha! Que mágoa irremediável! Estou só, ninguém me compreende. Valha-me Nosso Senhor Jesus - Cristo!...
Após dirigir-lhe um olhar de piedade, o marido despedia-se:
– Não precisas aumentar a lamentação. Até logo.
A companheira torcia as mãos, desconsolada; todavia, escoados alguns minutos, correu à porta de saída a gritar:
– Inácio! Inácio!
Ele voltou a indagar os motivos do chamamento.
– A capa! – explicava a dona da casa, ansiosamente. – Esqueceste a capa... Lembra-te de que me sinto aniquilada. Não queiras também arruinar a saúde.
Inácio, resignado, vestiu o capote impermeável e saiu calmamente.
Aquela mania da Srª. Penaranda, contudo, era muito velha. Dona Luísa não enxergava senão miasmas e pestilências por todos os lados. Embora as dores que cultivava, grande parte do dia era por ela empregado em esfregar metodicamente o assoalho, receosa do acúmulo de pó. Nunca permitia que o filho se levantasse da cama antes que o Sol inundasse as dependências da casa; trazia a velha genitora quase totalmente enfaixada num quarto escuro, rodeada de ungüentos e caixas de injeções, e para si mesma descobria diariamente os mais extravagantes sintomas. Referia-se a dores nos braços, nas pernas, no rosto. Dizia-se vitima de todos os sofrimentos físicos. A imaginação enfermiça engendrava moléstias nas mais ínfimas sensações e, na residência dos Penaranda, nos fins de mês, as contas da farmácia superavam todas as demais despesas reunidas. Debalde o marido lhe oferecera as luzes do Espiritismo cristão, ansioso por modificar-lhe as disposições mentais. Dona Luísa furtava-se às observações mais sérias e não sabia viver senão entre sustos, pavores e preocupações. Raro o dia em que, ao voltar dos serviços habituais, o companheiro não a encontrava afogada em grosso costume de lã, hermeticamente encafuada na alcova, a lamentar o vento, a umidade, a nuvem...
De quando em quando, valia-se Inácio de oportunidades da conversação comum, tentando incutir idéias novas no espírito da companheira, de modo a criar-lhe ambiente diverso. A teimosa senhora não se resignava a omitir comentários a doenças de toda sorte.
Quando a situação doméstica se tornou mais grave, o chefe da família não se conteve e intimou a esposa a ocupar-se de assuntos mais elevados, compelindo-a a examinar nobres problemas espirituais e a ouvir preleções evangélicas em sua companhia.
Dona Luisa atendeu, porém constrangidamente, a queixar-se amargurada. No curso das reuniões a que compareceu forçada pelo marido, causava compaixão a quantos lhe ouviam a palavra lamentosa. A infeliz criatura não andava; arrastava-se. Suas considerações sobre a vida eram acompanhadas de suspiros comovedores, como se a sua palestra não devesse passar de gemidos longos. Não ouvia as dissertações construtivas nem participava das orações no ambiente geral. Apenas prestava atenção às consolações de Salatiel, o amorável benfeitor invisível que comparecia a quase todas as reuniões. À maneira de criança viciada a receber carinhos, cheia de noção exclusivista, Dona Luisa agarrava-se às expressões de conforto, completamente alheia aos apelos de ordem espiritual. Parecia, contudo, tão esmagada de padecimentos físicos, que a Srª. Marcondes, devotada médium do Grupo, se ofereceu voluntariamente a levar-lhe socorros espirituais na própria residência. A família Penaranda aceitou, sumamente reconhecida. Enquanto Inácio examinava a possibilidade da renovação mental da esposa, antegozava Dona Luisa o momento em que pudesse conversar com o Espírito Salatiel, quase a sós, para comentar as enfermidades numerosas que lhe invadiam o corpo e lhe assaltavam o lar.
Começaram os trabalhos de assistência, em círculo muito íntimo.
O dono da casa não cabia em si de esperança e contentamento.
Na primeira noite de orações, Salatiel discorreu sobre a Providência do Eterno Pai e as divinas possibilidades da criatura. O verbo amoroso e sábio da venerável entidade extravasava luz de esclarecimento e mel de sabedoria. Mas, com enorme surpresa dos presentes, fenda a preleção, Dona Luisa adiantou-se, interpelando o instrutor invisível:
– Meu caro protetor, antes de vos retirardes gostaria de vos ouvir sobre as dores que venho sentindo no braço esquerdo.
Depois de prolongado silêncio, o amigo espiritual, como o homem educado a atender uma criança, respondeu qualquer coisa que a induzia à confiança no Poder Divino.
A consulente não se deu por satisfeita e pediu explicações para a comichão que sentia nos pés; também sobre o abatimento do filhinho e um exame dos órgãos de sua velha mãe. Sentindo-se crivado de interrogações inoportunas, o benfeitor invisível prometeu alongar-se convenientemente no assunto, na reunião da semana seguinte.
Com efeito, na sessão imediata, compareceu Salatiel e endereçou significativa mensagem à Srª. Penaranda.
– Minha irmã – dizia ele solicitamente –, não construas cárcere mental para as tuas possibilidades criadoras na vida. É razoável que o doente procure remédio, como o sedento se encaminha à fonte amiga que lhe desaltera a sede. Não envenenes, porém, os teus dias no mundo com a idéia de enfermidades. Por que esperar a saúde completa, num plano de material imperfeito como a Terra? Se o planeta é, reconhecidamente, uma escola, é justo não possa constituir morada exclusiva de educadores. Se a reencarnação é desgaste de arestas, como aguardar expressão de pureza absoluta nos elementos em atrito? O corpo humano é campo de forças vivas. Milhões de indivíduos celulares ai se agitam, à moda dos homens nas colônias e cidades tumultuosas. Há contínuos serviços renovadores na assimilação e desassimilação. Se isto é inevitável, como aguardar perfeita harmonia orgânica na máquina celular desmontável e perecível? Lembra-te de que esse laboratório corporal, transformável e provisório, é o templo onde poderás adquirir a saúde eterna do Espírito. Andaria acertado o crente que se deixasse deter voluntariamente no lodo que recobre as paredes da sua casa de oração, indiferente à intimidade sublime e profunda do santuário? É justo que as figurações externas requisitem a nossa atenção, mas não podemos esquecer o essencial, o imperecível e o melhor. Pondera minhas despretensiosas palavras e liberta a mente encarcerada nas sombras transitórias, recordando o ensinamento de Jesus quando asseverou que nosso tesouro estará sempre onde colocarmos o coração.
Dona Luísa, porém, continuou impermeável às admoestações nobres e elevadas. Não valeram conselhos de Salatiel, com amorosas interpretações do marido e dos irmãos na fé.
Os anos agravaram-lhe preocupações e manias, até que a morte do corpo se encarregou de atirá-la a novas experiências.
Qual não lhe foi, porém, a surpresa dolorosa ao ver-se sozinha, abandonada, sem ninguém?! Guardava a nítida convicção de haver transposto o limiar do sepulcro, mas continuava prostrada, experimentando vertigens, dores, comichões. Tomada de pavor, observava os pés e mãos singularmente inchados, a epiderme manchada de notas gangrenosas dos derradeiros dias na Terra. Orava, e contudo as suas orações pareciam sem eco espiritual.
Quanto tempo durou esse martírio? Luísa Penaranda não poderia responder.
Chegou, no entanto, o dia em que pôde lobrigar o vulto de Salatiel, depois de muitas lágrimas.
– Oh! venerável amigo! – exclamou a desencarnada, agarrando-lhe as mãos – por que semelhantes sofrimentos? Não é certo que deixei a experiência terrestre? Não ouvi muitas vezes que a morte é libertação?
Enquanto o generoso emissário a contemplava, compadecido, a infeliz continuava:
– Onde a justiça de Deus que eu esperava? Nunca fui má para os outros...
A essa altura, o benfeitor espiritual tomou a palavra e esclareceu:
– Sim, Luísa, nunca foste má para os outros, mas foste cruel contigo mesma. Não sabes que toda libertação ou escravização podem começar na Terra ou nos círculos invisíveis? Sepulcro é mudança de casa, nunca de situação espiritual. A morte do corpo não elimina o campo que plantamos. Aliás, é a sua mão que nos oferece a colheita. Preferiste a idéia de enfermidade, cultivaste-a, alentaste-a. É natural que teu campo aqui seja o da enfermidade. Não existe outro para quem, como tu, não quis pensar noutra coisa.
E, ante o olhar assombrado da infeliz, Salatiel rematava:
– Existe o Reino de Deus que aguarda a glorificação de todas as criaturas, e existem os reinos do «eu», onde nos internamos pelas criações do próprio capricho.
Abandonemos os reinos inferiores das nossas ilusões, minha boa amiga! Procuremos o Reino de Deus, infinito e eterno!...
A Srª. Penaranda sentiu arfar-lhe o peito, alucinada de esperanças novas.
– Leva-me contigo, generoso Salatiel! Livra-me destes dolorosos padecimentos!... Ensina-me o caminho da Liberdade!...
O mensageiro lançou-lhe um olhar fraterno e, fazendo menção de retirar-se, acentuou:
– Posso, como outrora, convidar-te, não, porém, arrastar-te. O problema pertence ao teu foro individual.
O trabalho é do teu campo. Arranca-lhe a erva daninha e semeia-o de novo. Vem conosco, Luísa. Ajuda-te. Se te sentes verdadeiramente cansada da escravidão em que tens vivido, recorda que para a libertação do Espírito todo minuto é tempo de começar.
 
 
Livro “Reportagens e Além Túmulo”. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.