Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!
Mostrando postagens com marcador São Francisco de Assis. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador São Francisco de Assis. Mostrar todas as postagens

sábado, 8 de setembro de 2012

Entrevistando São Francisco de Assis

Revista o Reformador 2001-Outubro
O dia fora especialmente abrasador. A Úmbria ardia sob o Sol da primavera
que explodia em flores por toda parte.
Os imensos campos que se aproximavam dos montes sobranceiros, divididos
em variadas plantações, estuavam no variegado tom de verde, confraternizando
com as terras arroteadas para novas sementeiras, enquanto o feno em fardos
arredondados dava um colorido especial de amarelo-marrom à relva, ora queimada
pelo Sol, ora reverdecente, entremeada pelo vermelho rubro das papoulas exuberantes.
No alto da cidade, a imponente catedral dedicada ao Santo da pobreza com
a sua torre-campanário de elevado porte que, no passado, servia para observar os
inimigos que se aproximassem da encantadora Assis, construída em pedras sobre
outras pedras que a exaltavam dando-lhe um ar de grandeza, galantaria e de glória.
Quando a noite desceu, um pouco tarde, porque a claridade no poente permanecia
em colorido deslumbrante, e o zimbório se adornou de estrelas, a movimentação
prosseguiu em ritmo também febril.
Favônios sopravam do vale fértil, refrescando as ruelas e praças iluminadas.
Um espetáculo na Praça de S. Francisco atraíra a multidão ávida de ruídos e
movimentação, encerrando-se sem grande finale, reduzindo a cidade formosa ao
silêncio quebrado apenas pelas onomatopéias da Natureza e um que outro transeunte
notívago. Perambulando pelas proximidades da Igreja inferior, em tentativa
de recordar aqueles já remotos tempos do século XIII, quando o jovem trovador fora
arrebatado por Jesus e saíra a cantar a melodia imortal do Evangelho, vi acercar-se
um grupo de Espíritos nobres e, dentre eles, o Pai Francisco.
Mantinha as mesmas características com que Giotto o imortalizara nos seus
afrescos. De regular estatura, compleição frágil, traços sem grande beleza física,
porém portador de difícil abordagem de irradiação psíquica, estava acompanhado
por alguns dos seus primeiros irmãos da revolução do amor, da pobreza e da humildade.
Não poderia desperdiçar a feliz oportunidade. Porque estivessem conversando
discretamente, utilizei-me de um momento que se me fez factível e, aproximando-
me, expliquei que eu havia sido na Terra um jornalista brasileiro que, no
Além-Túmulo, reencontrara Jesus e O amava com ternura e respeito.
Interroguei o benfeitor do irmão lobo, se ele me poderia conceder alguns
breves minutos para uma entrevista que encaminharia aos poucos leitores que tomariam
conhecimento do nosso encontro.
Jovial e algo tímido, o santo anuiu de bom grado.
Interroguei-o, sem delongas, bastante emocionado:
– Como vê o desfile de multidões chegadas de diferentes partes do mundo,
para conhecerem Assis, e visitarem os lugares por onde o Paizinho esteve, especialmente
a tumba que lhe guarda os despojos carnais?
Expressando no olhar luminoso a grandeza espiritual de que era possuidor,
o pobrezinho respondeu:
– Esse interesse das criaturas muito me sensibiliza, especialmente porque
reconheço a pequenez da atividade por mim desenvolvida na Terra. No entanto, se
eu pudesse optar, preferiria que o sentimento de todos fosse o de manter contato
O
com o Espírito do Senhor a Quem procurei seguir nos já longínquos dias da existência
física. Em todos os meus passos, a minha pessoa sempre procurou ceder o seu
insignificante lugar ao Pastor que nos orienta o caminho e nos guarda a paz.
“Quando o anjo da morte se acercou do meu corpo cansado, antes de me
retirar destes sítios queridos abençoando-os, senti que viriam muitos homens e
mulheres no futuro, e que encontrariam paz, roteiro e reconforto moral, elegendo,
após acuradas meditações, o reino de Deus. Ainda mantenho essa esperança, e
por isso, periodicamente com os meus irmãos que foram dos mais pobres, procuro
auscultar as almas e auxiliá-las no despertamento, ajudando-as conforme as suas
necessidades e de acordo com os seus apelos e preces...”
– E esse bulício que toma as massas, enquanto o mercado de recordações
cresce cada vez mais, alterando o significado das visitações, que lhe parece?
– Não me cabe censurar o comportamento dos meus irmãos do agitado
mundo atual. A criatura humana deve viver, negociar, trocar objetos e procurar a
conquista de lucros. Toda atividade honrosa merece respeito, porque arranca o ser
da ociosidade, que é um grande adversário do equilíbrio e da dignidade. Vale porém
reconhecer que existem outros recursos que podem ser mobilizados para a
permuta de valores, evitando-se a exaltação das crendices e superstições que contribuem
para auxiliar na transferência das responsabilidades da transformação interior
para o Bem, pela magnetização de objetos e adoração de símbolos...
“As pessoas vivem hoje aturdidas pela pressa, pela volúpia da falta de tempo
para meditar, para assimilar as bênçãos do Pai Criador. Assis sempre inspirou paz
e reflexão. A vida cristã é a antítese do comportamento agitado e angustiado do ser
moderno. Compreendo toda essa inquietação e mesmo a falta de silêncio, por
momentos sequer, no Templo, quando se poderia pensar no significado daqueles
dias que ficaram no passado e sua aplicação na atualidade movimentada.”
– O Paizinho acredita que seria possível repetir aquelas vivências nestes tumultuados
anos terrestres?
– Acredito que sim, porquanto aqueles eram também dias de muito sofrimento
e inquietação, considerando-se a população e as circunstâncias existentes.
Havia guerra entre Assis e Perúgia, entre os estados italianos e papais, abuso do
poder senhorial e religioso, alucinação e desespero das Cruzadas, miséria das
camadas pobres e dos camponeses, indiferença social e perseguições de toda
ordem... A mensagem de Jesus não é para um tempo, para uma Nação, nem mesmo
é uma proposta figurativa que deve ser interpretada conforme a comodidade
dos cristãos. Naquela época também se afirmava que era impossível viver conforme
o Evangelho: com despojamento, com humildade, com renúncia, com amor total
pelo próximo deserdado...
“Mais de uma vez, respondendo a esse argumento egoísta, esclareci que, ou
o Evangelho deveria ser seguido conforme fora pregado, e o luxo, a ostentação, o
orgulho banidos da Igreja e dos corações, ou se deveria viver conforme as vaidades
terrenas, as ambições de classes e de poder, estando a Palavra totalmente errada...
Na conjuntura, era inevitável que o Evangelho triunfasse, embora nem todos
tivessem a coragem de abandonar o século para seguir Jesus. Compreendo a atitude
daqueles que prosseguem pensando ser impossível entregar a vida ao Mestre
e desfrutar simultaneamente dos prazeres do mundo, embriagando-se de gozo e de
perturbações. Entretanto, considero ser irrealizável a paz, enquanto a criatura se
mantiver encarcerada na cela dourada dos presídios da posse e das paixões mais
degradantes. Quando se rompem os elos dos vícios – e o poder terrestre, o uso
indevido do sexo, os interesses servis, as dependências químicas, alcoólicas e outras
são vícios que se arrastam através das gerações, fixando-se na história do
pensamento humano como necessidades urgentes – uma liberdade diferente toma
conta da existência que adquire beleza e tranqüilidade. Não se trata isto de uma
utopia, mas de uma realidade. A única posse que liberta é não ter nada além do
essencial, que favorece a construção da vida feliz.”
– Que pensa a respeito da alteração de objetivos e de comportamentos que
a Ordem franciscana vivencia atualmente, em total afronta aos postulados básicos e
iniciais que foram traçados pelo Irmão Alegria?
Sem demonstrar enfado ou mal-estar ante a interrogação, o Entrevistado
respondeu serenamente:
– É normal que as idéias puras e dignificantes no seu início dêem lugar no
futuro a realizações totalmente diversas dos programas elaborados. Com o tempo e
a adesão de muitos indivíduos, vão surgindo alterações compatíveis com o nível
evolutivo dos mesmos, que procuram adaptar às suas necessidades aquilo que
pensam estar esposando com nobreza e mesmo abnegação. Transcorrido um largo
período, pouco sobrevive aos ditames das imposições e caprichos impostos pelos
séculos inexoráveis... Com a nossa tradição, os primeiros fenômenos surgiram
quando ainda me encontrava no corpo, constatando-o dolorosamente ao retornar da
Cruzada, em face do largo tempo que permaneci no Oriente visitando as terras
onde Jesus vivera... O choque que experimentei foi muito grande, levando-me ao
quase recolhimento total na Porciúncula e à necessidade de maior doação, a fim de
manter fiéis os demais companheiros que haviam renunciado a tudo: orgulho, cultura
vã, discussões teológicas vazias de significado espiritual e ricas de palavras pobres
e confusas, de comodidade, até o momento em que a Irmã Morte me arrebatou
o Espírito...
– Como seria possível viver segundo os rígidos critérios do Evangelho, sem
perturbar o progresso tecnológico nem o desenvolvimento da ciência?
– A ciência e o progresso tecnológico são inspirações de Nosso Pai, favorecendo
o ser humano com recursos que lhe tornam a vida mais feliz e menos penosa,
diminuindo-lhe a carga bruta dos afazeres, as conjunturas amargas das enfermidades,
especialmente as mutiladoras e degenerativas, proporcionando meios
hábeis para a fraternidade e o entendimento entre os homens e as Nações. Será
isso o que ocorre? O monstro da guerra não continua ceifando vidas e semeando o
horror em nome da ordem e da paz? Gerações sucessivas não têm sido vitimadas
pelo preconceito de raça, de orgulho, de classe e de religião?
“Despojar-se de tudo não é atirar fora as conquistas já realizadas, mas aplicá-
las em favor de todos e não apenas de alguns poucos. É o impositivo de repartir
o excesso com aqueles que não têm nada ou que padecem carência, respeitar os
direitos à vida, preservar a irmã Natureza e todos os seres viventes igualmente filhos
de Deus. Quem se despoja fica livre para amar e para servir, bases da vida em
toda parte.”
Profundamente comovido, interroguei, por fim:
– O Paizinho Francisco poderia encerrar esta entrevista enviando, por meu
intermédio, uma mensagem aos homens da Terra na atualidade?
– A mensagem que me envolve o Espírito e que faz parte de todo o meu processo
de evolução é seguir Jesus e viver os Seus feitos. Mas, se me fosse facultado
sintetizar tudo quanto eu gostaria de repetir aos meus irmãos terrestres neste
momento de glórias e de sofrimentos, de grandezas e de misérias, eu diria: fazer
aos outros somente aquilo que deseje que os outros lhe façam, e em qualquer circunstância,
amar e amar até sentir as dores que o amor muitas vezes experimenta
quando direcionado ao próximo.
O Emissário de Jesus sorriu suavemente, envolvendo-me em peregrina luminosidade
que me levou às lágrimas.
Profundamente tocado pela sua magnanimidade, prossegui o giro por Assis,
evocando sua bênção, no fim do mês de setembro de 1226, quando ele pediu para
ser transportado para a sua Porciúncula, onde morreria, e vazada nas seguintes
palavras:
– Abençoada sejas tu por Deus, Cidade Santa, porque por ti muitas almas
se salvarão e em ti muitos servos de Deus habitarão e por ti muitos serão eleitos
no reino da vida eterna. Paz a ti!
Irmão X
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, na madrugada de 27 de maio
de 2001, em Assis, Itália.)