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terça-feira, 5 de julho de 2016

PARÁBOLA DO JUIZ INÍQUO


"Propôs-lhes Jesus uma parábola para mostrar que deviam orar sempre e nunca desanimar, dizendo: Havia em certa cidade um juiz, que não temia a Deus, nem respeitava os homens. Havia também naquela mesma cidade uma viúva que vinha constantemente ter com ele, dizendo: Defende-me do meu adversário. Ele por algum tempo não a queria atender, mas depois disse consigo: se bem que eu não tema a Deus, nem respeite os homens, todavia como esta viúva me incomoda, julgarei a sua causa, para que ela não continue a molestar-me com suas visitas. Ouvi, acrescentou o Senhor, o que disse este juiz injusto; e não fará Deus justiça aos seus escolhidos que a Ele clamam dia e noite, embora seja demorado a defendê-los? Digo-vos que bem depressa lhes farão justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na Terra?"
(Lucas, XVIII, 1-8)

1 - CAIRBAR SCHUTEL
A iniquidade é a falta de equidade, e a justiça revoltante. O iníquo é o homem perverso, criminoso, seja ele juiz, doutor, nobre, rico, pobre, rei. Na esfera moral, mesmo aqui na Terra, não se distinguem os homens pelo dinheiro e pelos títulos que possuem, mas sim pelo seu caráter. O iníquo não tem caráter, ou, por outra, tem caráter iníquo, pervertido. Mas ainda esse, quando tem de resolver alguma questão e o solicitante resolve bater à sua porta até que dê provimento ao seu pedido, para não ser incomodado, e porque é iníquo, resolve com presteza o problema, não para servir, mas para ficar livre de continuar molestado.
Foi o que sucedeu com o juiz iníquo ante a insistência da viúva. De modo que a demora do despacho na petição da viúva foi causada pela iniquidade do juiz. Se este fosse equitativo, justo, reto, de bom caráter, cumpridor de seus deveres, a viúva teria recebido deferimento de seu pedido com muito maior antecedência. Seja como for, o despacho foi dado, embora a custo, após reiteradas solicitações, importunações cotidianas, e o juiz, apesar de iníquo, para não ser "amolado", resolveu a questão. "Ora, disse Jesus, ouvi o que disse esse juiz iníquo; e não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a Ele clama noite e dia, embora seja demorado em defendê-los? Digo-vos que bem depressa lhes fará justiça".
Se a justiça, embora demorada, se faz na Terra até contra a vontade dos juízes, como não há de ser ela feita pelo supremo e justo juiz do Céu? A deficiência não é, pois, de Deus, mas sim dos homens, mormente na época que atravessamos, em que o Filho do Homem bate a todas as portas, inquire todos os corações e os encontra vazios de fé, vazios de crença, vazios de amor a Deus, vazios de caridade!
Antigamente havia juízes iníquos; hoje, pode-se dizer que nem só os juízes, mas até os peticionários são iníquos! A iniquidade lavra como um incêndio devorador, aniquilando as consciências e maculando os corações: homens iníquos, lares iníquos, sociedades iníquas, governos iníquos, leigos iníquos, sábios iníquos, tudo isso devido à crença sacerdotal, aos dogmas das seitas dominantes! Mas o senhor aí está a destruir a iniquidade, e, com ela, os iníquos.
 CAIRBAR SCHUTEL


2 - PAULO ALVES GODOY

A Parábola do Juiz Iníquo, ensinada por Jesus, nos adverte que jamais devemos perder a esperança, no afã de merecer o Atendimento Divino às nossas súplicas e nem duvidar que o SOCORRO solicitado venha ao nosso encontro.
A viúva da parábola, embora sabendo que o juiz era injusto, que não temia a Deus nem respeitava os os homens, não desanimou, pelo contrário, persistiu em sua súplica até ver atendida a sua pretensão. A fé inquebrantável e espírito de perseverança que a animavam deram êxito à sua causa.
O juiz, por sua vez, resolveu satisfazer a sua rogativa, mais pelo aborrecimento que a sua persistência lhe causava, de que propriamente movido pela disposição em atender um caso justo.
Se até os juízes iníquos, se não pelo espírito de justiça, mas por causa dos aborrecimentos que alguém lhes possa causar, decidem-se a aplicar a justiça, por que razão Deus, que é Todo bondade, não atenderia as necessidades de Seus filhos? Por isso, ponderou o Mestre: "E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles. Digo-vos que depressa Ihes fará justiça".
Entre nós, devido à precariedade do sistema judiciário e às falhas naturais, muitas vezes se aguarda anos e anos para o desfecho de um processo, cujo resultado nem sempre é favorável ao suplicante, por que razão não se ter confiança e fé nos apelos que formulamos aos Céus, os quais, quando justos, são invariavelmente atendidos?
O que a parábola nos ensina é que a Justiça Divina pode tardar, mas jamais falha. O atendimento tardio é motivado tão somente por nós próprios, pois quem tiver amealhado bens espirituais, ou acumulado um tesouro nos Céus, segundo o judicioso dizer dos Evangelhos, poderá desfrutar dos benefícios desse tesouro sem qualquer tardança. É óbvio que, se o homem não pratica qualquer boa obra, e se prevarica com os dons que Deus lhe concede, sem procurar se reformar intimamente, deixando de se enquadrar no estado consciencial que Jesus Cristo definiu como sendo a "conquista do reino dos Céus", não poderá desfrutar de primazia no atendimento às suas pretensões.
O Mestre deixou bem evidenciado que "a cada um será dado segundo as suas obras", Com base nessa sentença, nos será fácil deduzir que, se as nossas obras forem boas, tudo aquilo que pedirmos ao Pai, nos será concedido.
A Parábola do Fariseu e do Publicano, narrada em Lucas, 18:9-14, elucida, em parte, esta parábola. A narração se passa entre o fariseu que apenas se limitou a acusar o seu próximo, e o publicano que ali foi humildemente pedir ao Pai que lhe desse uma oportunidade, e Deus ouviu a prece do segundo, que" voltou justificado para a sua casa".
O mesmo Evangelho de Lucas (4:25-27) narra que no tempo de Eliseu havia muitos leprosos na Terra, só que o profeta foi enviado apenas para curar Naman, o Siro; havia muitas viúvas no tempo de Elias, mas o profeta foi enviado tão somente para minorar os sofrimentos de uma pobre viúva de Sarepta, de Sidon. Esta passagem atesta o quanto é importante haver mérito de ordem espiritual, quando se formula um pedido. E esse mérito é a qualidade que o nosso Espírito adquire através da vivência dos preceitos evangélicos, nos embates das vidas sucessivas do Espírito na carne.
O Espiritismo nos ensina que o Espírito, em sua trajetória evolutiva, tende a experimentar provações, em que jamais poderá se esquivar. Por outro lado, as transgressões que comete contra a lei eterna, originam expiações, das quais não se libertará enquanto não as houver resgatado. É o cumprimento do preceito evangélico: "Dali não sairá enquanto não houver resgatado o último ceitil".
Com base nessa assertiva, devemos convir que as preces que erguemos aos Céus terão sempre o mérito de nos dar forças e sustentação, e nunca de alterar os processos expiatórios ou probatórios, aos quais estejamos submetidos. Em outras palavras, conforme o que nos ensinam os benfeitores espirituais: "Peçamos a Deus para que fortaleça os nossos ombros para podermos carregar a cruz, e nunca para retirar a cruz dos nossos ombros".
Deus sempre fará justiça ao que a Ele clama, se não for nesta vida, será na vida subseqüente, por isso diz a parábola:
"Ainda que tardio para com ele",

Paulo Alves Godoy
3 - RODOLFO CALLIGARIS
Conquanto diferente na forma, esta parábola se assemelha bastante, na essência, àquela outra, do Amigo Importuno, registada pelo próprio evangelista Lucas, no cap. II, vs. 5 a 13.
Nesta, como naquela, Jesus nos exorta a confiar na Justiça Divina, na certeza de que, consoante o refrão popular, ela "tarda, mas não falha".
De fato, se mesmo homens iníquos, isto é, maldosos, perversos, insensíveis aos direitos do próximo e indiferentes à Moral, como o juiz de que nos fala o texto acima, não resistem ao assédio daqueles que lhes batem à porta com insistência, e, para verem-se livres de importunações, acabam resolvendo-lhes as questões, como poderia Deus, que é a perfeição absoluta, deixar de atender aos nossos justos reclamos e solicitações ?
Se, malgrado todas as deficiências e fraquezas dos que, na Terra, presidem aos serviços judiciais, as causas têm que ser solucionadas um dia, ainda que com grande demora, porque duvidar ou desesperançar das providências do Juiz Celestial?
Ele, que não é indiferente sequer à sorte de um pardal, que tudo sabe, tudo pode e tanto nos ama, negligenciaria a respeito de nossos legítimos interesses, deixar-nos-ia sofrer quallquer injustiça, mínima que fôsse?
Não!
Quando, pois, sintamos que o ânimo nos desfalece, por afigurar-se que os males que nos afligem sobreexcedem nossas forças, oremos e confiemos.
Deus não desampara a nenhum de Seus filhos.
Se, às vezes, parece não ouvir as nossas súplicas, permitindo perdurem nossos sofrimentos, é porque, à feição do lapidário emérito, que se esmera ao extremo no aperfeiçoamento de suas gemas preciosas, também Ele, sabendo ser a Dor o melhor instrumento para a lapidação de nossas almas, nos mantém sob a sua ação enérgica, mas eficiente, a fim de que sejam quebradas as estrias de nosso mau caráter, nos expunjamos de nossas mazelas e nos tornemos, o mais breve possível, dignos de ascender à Sua inefável companhia.
Sim, em todos os transes difíceis da existência, oremos e confiemos.
Se o fizermos com fé, haveremos de sentir que, embora os trilhos da experiência que nos cumpre palmilhar continuem cheios de pedras e de espinhos, a oração, jorrando luz à nossa frente, nos permitirá avançar com segurança, vencendo, incólumes, os tropeços do caminho! 

Rodolfo Calligaris

sábado, 1 de novembro de 2014

A Autoridade Paterna

A Autoridade Paterna

O amor materno e autoridade paterna são dois elementos essenciais ao bom equilíbrio das relações familiais.
Releva frisar que mãe e pai não estão dissociados em suas funções. Pelo contrário, à mãe cabe também certa autoridade sobre os filhos, assim como nada impede que o pai manifeste ternura para com eles.
A separação que aqui se faz visa apenas enfatizar isto: o que o filho mais espera e precisa da mãe é o amor; do pai, a autoridade.
Autoridade é a palavra derivada de autor, deixando claro que essa prerrogativa é inerente ao autor. E o caso do pai, autor da vida do filho.
Pode ele delegar parte de sua autoridade a outras pessoas, durante algum tempo e no que tange a certos aspectos da educação do filho. Permanece, porém, a instância de apelo supremo.
Isto é verdadeiro, não apenas do ponto de vista jurídico, mas igualmente do ponto de vista psicológico. Deixe a criança de sentir acima dela a proteção da autoridade paterna e seu equilíbrio emocional será afetado, com prejuízo, inclusive, para a sua maturidade.
A criança detesta, quase sempre, aqueles que a tiranizam, pois gosta de ser tratada com moderação e justiça; mas, por outro lado, despreza e agride o pai frouxo e piegas cuja incapacidade a priva de um apoio que deseja e lhe é indispensável.
Sim, a par da liberdade, sem a qual não poderia auto-afirmar-se, a criança necessita, também, da autoridade para que seja orientada nos seus julgamentos e saiba disciplinar a própria vontade.
Se contar com a preciosa ajuda da autoridade, ela evoluirá na fase inicial, instintiva, em que busca simplesmente o prazer através da satisfação de suas necessidades, para a outra fase, adulta, em que lhe caberá enfrentar as vicissitudes da vida, nem sempre isenta de dificuldades e sofrimentos.
Sem isso, manter-se-á em dependência infantil, sem conseguir ajustar-se aos grupos sociais em que será obrigada a viver, ou melhor, a conviver, criando a tudo instante condições de atrito com os semelhantes.
Pais existem que, ultrapassando os limites da autoridade, exercem um domínio absoluto e cruel sobre os filhos, não lhes permitindo a menor discussão a respeito de suas ordens, que exigem sejam cumpridas rigorosamente, valendo-se dos métodos repressivos da ameaça, da surra, da crítica mordaz e humilhante, das proibições sistemáticas, etc.
O máximo que conseguem com essa maneira de agir é uma submissão cega, sem consentimento interior, o que fará dos filhos indivíduos tímidos e gaguejantes, com fortes sentimentos de inferioridade, ou então revoltados, futuros tiranos da própria prole.
Outros, em contraposição, seja por comodismo, seja por fraqueza, não exercem a menor autoridade sobre os filhos: deixam-nos à solta, permitindo-lhes tudo, satisfazendo a todos os seus desejos, numa atitude de superindulgência que, longe de traduzir bondade, o que evidencia é falta de amor, ou, pelo menos, indiferença pela sua sorte.
Este tipo de educação, está provado, só pode tornar as pessoas incontestáveis, exigentes, egoístas, incapazes de oferecer a menor cooperação a quem quer que seja. Pior ainda: favorece os desregramentos e conduz à libertinagem, principais fatores da delinqüência em todos os tempos.
Autoridade legítima é o processo pelo qual o pai ajuda o filho a crescer e a amadurecer, para que chegue à autonomia sabendo que a liberdade tem um preço: a responsabilidade. É a maneira pela qual o pai conduz o filho à auto-realização, desenvolvendo-lhe as potencialidades, sem entretanto, exigir mais do que ele possa dar, respeitando-lhe as limitações.
É, sobretudo, força moral que o pai deve ter sobre o filho, baseada na admiração que lhe desperta, por se constituir um modelo digno de ser imitado.
Em suma, a verdadeira autoridade jamais se impõe pela violência. É uma decorrência natural das qualidades paternas, entre as quais se destacam as seguintes:

1) ser autêntico, isto é, conhecer o papel que lhe cabe no lar e exercê-lo com segurança e continuidade.

2) Ser justo, tratando todos os filhos com igual solicitude, sem nunca demonstrar preferência ou aversão por nenhum.

3) Ser um educador, castigando quando preciso, mas sabendo também desculpar, valorizar e incentivar.

4) Ser coerente, mantendo seu ponto de vista acerca do que lhe pareça certo ou errado, evitando proibir um dia e deixar fazer no outro.

5) Ser cordial, promovendo o afeto, a estima e a camaradagem entre os familiares.

6) Ser compreensivo, superando os conflitos e mantendo seu amor ante os erros dos filhos.

7) Ser clarividente, sabendo discernir entre o que é essencial e o que é secundário.

8) Ser conciliador, acatando as opiniões do grupo familiar, ao invés de impor apenas as suas.

9) Ter presença no lar, acompanhando de perto a vida dos filhos, por saber que o abandono moral é caminho para a delinqüência.

10) Ter serenidade, evitando dar mostras de impaciência, irritação ou cólera.

11) Ter firmeza, dando “sim” quando julgue que possa dá-lo, tendo a coragem de dizer e manter o “não”, sempre que isso se faça necessário.

12) Ter espírito aberto, procurando estar sempre bem informado, para saber interpretar construtivamente os acontecimentos do mundo.

13) Ter estabilidade emocional, evitando, quanto possível, as variações de humor e os inconvenientes que daí decorrem.

14) Ter maturidade, aceitando as responsabilidades decorrentes de sua condição de chefe de família, especialmente as de pai.

15) Ter prestígio, por seus exemplos de amor ao trabalho, hábitos sadios, civismo, gosto de ser útil ao próximo, etc.

Quantos pais são infelizes em seus filhos, porque não lhes combateram desde o princípio as más tendências! Por fraqueza, ou indiferença, deixaram que neles se desenvolvessem os germens do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que produzem a secura do coração: depois, mais tarde, quando colhem o que semearam, admiram-se e se afligem da falta de deferência com que são tratados e da ingratidão deles.” (Allan Kardec, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. V, nº 4)

Rodolfo Calligaris

Fonte: Site Caminhos de Luz

sábado, 15 de junho de 2013

Justiça Humana e Justiça Divina

Justiça Humana e Justiça Divina

Autor: Rodolfo Calligares

O capítulo II da Constituição Brasileira, que trata “dos direitos e das garantias individuais”, em seu art. 141, § 30 e 31, consagra dois princípios altamente humanitários, que vale a pena analisar e comparar com dois dogmas fundamentais das igrejas ditas cristãs.

Reza o citado § 30: “Nenhuma pena passará da pessoa do delinquente.”

Isto quer dizer que no Brasil, como de resto em todos os países civilizados do mundo, qualquer pena (punição que o Estado impõe ao delinquente ou contraventor, por motivo de cri­me ou contravenção que tenha cometido, com a finalidade de exemplá-lo e evitar a prática de novas infrações) só poderá recair sobre o culpado, não podendo, em hipótese alguma, alcançar outra(s) pessoa(s).

Exemplifiquemos: se um indivíduo cometer um crime, pelo qual seja sentenciado a uns tantos anos de prisão celular, mas venha a escapulir, sem que as autoridades policiais consigam apanhá-lo, ou faleça antes de haver cumprido toda a pena, não pode o Estado trancafiar um seu parente (filho, neto, etc.) para que cumpra ou resgate o final do castigo imposto a ele, criminoso.

Aliás, se o fizesse, passaria a si mesmo um atestado de despotismo e provocaria os mais veementes protestos, pois repugna às consciências esclarecidas admitir que “o inocente pague pelo pecador”.

Essa noção de intransferibilidade de méritos e deméritos, já a tinham os profetas do Velho Testamento. O cap. 18 de Ezequiel, v. g., versa exclusivamente esse ponto. Ali se diz que se um homem for bom e obrar conforme a equidade e a justiça, mas venha a ter algum filho ladrão, que derrame sangue ou cometa outras faltas abomináveis, este terá que arcar com as conse­quências de seus delitos, de nada lhe valendo as boas qualidades paternas.

Da mesma sorte, se um homem não guardar os preceitos divinos, se for um grande pecador, mas o filho “não fizer coisas semelhantes às que ele obrou”, não responderá pelos desacertos do pai. E conclui (v. 20):

“A alma que pecar, essa morrerá: o filho não carregará com a iniquidade do pai, e o pai não carregará com a iniquidade do filho; a justiça do justo será sobre ele, e a impiedade do ímpio será sobre ele.”

Claríssimo, pois não?

No entanto, tomando por base uma alegoria do Gênesis (cap. 3), cuja interpretação foge ao objetivo deste trabalho, — a Teologia engendrou e vem sustentando, através dos séculos, o dogma do “pecado original”, segundo o qual to­dos os homens, gerações pós gerações, inclusive aqueles que virão a nascer daqui a séculos ou milênios, são atingidos inexoravelmente por uma falta que não é sua!

Ora, mesmo que a referida alegoria bíblica (tentação de Eva e queda do homem) fosse um fato histórico, real, que culpa teríamos nós outros, da desobediência praticada por “nossos primeiros pais” num passado cuja ancianidade remonta à noite dos tempos?

Se a responsabilidade pessoal é princípio aceito universalmente; se nenhum Código Penal do mundo admite que se puna alguém por um crime praticado por seus ancestrais; como poderia Deus castigar-nos por algo de que não fomos participantes, ou melhor, que teria ocorri­do quando nem sequer existíamos?

Não é possível!

Se Deus nos criasse, mesmo, com esse estigma, expondo-nos, consequentemente, às mui­tas misérias da alma e do corpo, por causa do erro de outrem, então a Justiça Divina seria menos perfeita que a justiça humana, posto que esta, como vimos, não permite tal aberração.

Como é óbvio, o Criador hão pode deixar de ser soberanamente justo e bom, pois sem esses atributos não seria Deus. E como o dogma do “pecado original” não se coaduna com a Bondade e a Justiça Divinas, não há como fugir à conclusão, de que é falso e insustentável, sendo cada um responsável apenas pelos seus próprios atos, e não pelos deslizes de seus avoengos, ainda que eles se chamem Adão e Eva...

quinta-feira, 28 de março de 2013

Não andeis cuidadosos de vossa vida...

Não andeis cuidadosos de vossa vida...

Artigo extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989.

“ Não andeis cuidadosos de vossa vida, pelo que haveis de comer, nem do vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é mais a alma que a comida, e o corpo mais que o vestido?
Olhai para as aves do céu, que não semeiam nem segam, nem fazem provimento nos celeiros, e, contudo vosso Pai Celestial as sustenta. Porventura não sois muito mais do que elas?
E por que andais solícitos pelo vestido? Considerai como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem fiam; entretanto, nem Salomão em toda a sua glória se cobriu jamais como um deles.
Pois se ao feno do campo, que hoje existe e amanhã é lançado no forno, Deus veste assim, quanto mais a vós, homens de pouca fé?
Não vos aflijais, pois, dizendo: que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos cobriremos? Por que os gentios é que se cansam por essas coisas. Vosso Pai sabe que tendes necessidade de todas elas”. (Mateus, 6:25-32).
O texto que encima estas linhas, longe do que possa parecer à primeira vista, não é uma exaltação à ociosidade. Interpretá-lo “ao pé da letra”, supondo nos seja lícito cruzar os braços, à espera de que a Providência nos forneça tudo o de que precisamos, sem qualquer esforço de nossa parte, fora grande estultícia.
O trabalho é o instrumento de nossa auto-realização: o suprimi-lo equivaleria a sustar o progresso individual e, conseqüentemente, a evolução da Humanidade.
Além disso, é ordenação divina que “o homem deve prover ao seu sustento com o suor do seu rosto”, chegando o apóstolo Paulo a declarar que “quem não trabalha não deve comer”.
Essas palavras de Jesus são, pois, isto sim, um incitamento a que tenhamos fé em Deus, nosso Pai Celestial, confiemos em Sua bondade infinita e não invertamos a hierarquia dos valores, preocupando-nos mais (ou só) com a conquista dos bens materiais, sem dar a devida atenção à nossa edificação espiritual.
De fato, Aquele que nos deu a vida sabe que precisamos de alimentos para a subsistência de nosso corpo, assim como de vestimenta para cobri-lo e resguardá-lo das intempéries.
E porque nos tem amor maior do que o amor que temos a nós próprios, não se limita a prover-nos meramente de quanto nos seja indispensável à existência, mas esparge a mancheias, por toda parte, traços de beleza e cânticos de alegria, a fim de que nossa jornada neste mundo se torne mais suave e mais prazerosa.
As flores gráceis e perfumadas, as árvores frondosas e amigas, as aves com suas plumagens policrômicas e álacres gorjeios, são bênçãos maravilhosas com que Deus envolve a todos os Seus filhos, para ensinar-nos que assim também devemos proceder uns com os outros, fazendo cada qual quanto lhe seja possível para a alegria e a felicidade de todos.
Aprofundando a explicação, Jesus nos esclarece: “Olhai as aves do céu, que não semeiam nem ceifam, não amontoam nos celeiros e, no entanto, o Pai Celestial as alimenta. Não valeis muito mais do que elas?”.
É como se nos dissesse:
Por que tanto vos inquietais com “o vosso futuro?” Por que a obsessão de acumular mais do que podeis consumir? Não percebeis que aquilo que retendes, em demasia, vai causar a fome e a miséria de vossos irmãos? Não notastes ainda que o egoísmo é a fonte de quase todos os males que perturbam e afligem a Humanidade?
Vivei como os pássaros: joviais e despreocupados, na certeza de que, seguindo o preceito evangélico do “buscai e achareis”, sempre obtereis o de que precisais.
Não vos convencestes ainda da munificência divina? Contemplai, então, os lírios do campo: “Eles não trabalham nem fiam; não obstante, nem Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu com tanta graça e formosura”.
Crede: Deus é nosso Pai, e, se demonstra cuidado com as aves e as flores, que, na escala evolutiva, estão muito abaixo de vós, quanto mais desvelo, quanto mais carinho, não há de ter para convosco?
Não vos martirizeis, portanto, pelo que haveis de comer ou beber, nem pelo que haveis de vestir, porque não fostes colocados na Terra apenas para isso, mas para que aprendais a viver segundo as leis da bondade e da justiça...
Tal – assim nos parece – o verdadeiro sentido desta preciosa lição do Mestre dos mestres.

sábado, 2 de março de 2013

As Bases Transformar-se -10

O EGOÍSMO
Não é preciso ser versado em psicologia para perceber que a fonte de todos os vícios que caracterizam a imperfeição humana é o egoísmo. Dele dimanam a ambição, o ciúme, a inveja, o ódio, o orgulho e toda sorte de males que infelicitam a Humanidade, pelas mágoas que produzem, pelas dissensões que provocam e pelas perturbações sociais a que dão ensejo.

Vemo-lo manifesto neste mundo sob as mais variadas formas, a saber:
egoísmo individual,
egoísmo familiar,
egoísmo de classe,
egoísmo de raça,
egoísmo nacional,
egoísmo sectário.

Em seu aspecto individual, funda-se num sentimento exagerado de interesse pessoal, no cuidado exclusivo de si mesmo, e no desamor a todos os outros, inclusive os que habitam o mesmo teto, os quais, não raro, são os primeiros a lhe sofrerem os efeitos.

O egoísmo familiar consiste no amor aos
pais, irmãos, filhos, enfim àqueles que estão ligados pelos laços da consanguinidade, com exclusão dos demais. Limitados por esse espírito de família, são muitos, ainda, os que desconhecem que todos somos irmãos (porque filhos de um só Pai celestial), e se furtam a qualquer expressão de solidariedade fora do círculo restrito da própria parentela.

O egoísmo de classe se faz sentir através dos movimentos reivindicatórios tão em voga em nossos dias. Ora é uma classe profissional que entra em greve, ora é outra que promove dissídio, ou são servidores públicos que pressionam os governos a fim de forçar o atendimento às suas exigências, agindo cada grupo tão somente em função de suas conveniências, sem atentar para o desequilíbrio e os sacrifícios que isso possa custar à coletividade.

O egoísmo de raça é responsável, também, por uma série de dramas e conflitos dolorosos. Que o digam os pretos, vítimas de cruéis discriminações em várias partes do mundo, assim como os enamorados que, em tão grande número, não puderam tornar-se marido e mulher, consoante os anseios de seus corações, porque os prejuízos raciais de seus familiares falaram mais alto, impedindo a concretização de seus sonhos de felicidade.

O egoísmo nacional é o que se disfarça ou se esconde sob o rótulo de "patriotismo". Ha
bitantes de um país, a pretexto de engrandecer sua pátria, invadem outros países, escravizam--Ihes as populações, destroem-lhes a nacionalidade, gerando, assim, ódios insopitáveis que, mais dia menos dia, hão-de explodir em novas lutas sanguinolentas.

O egoísmo sectário é aquele que transforma crentes em fanáticos, a cujos olhos só a sua igreja é verdadeira e salvadora, sendo, todas as outras, fontes de erro e de perdição, fanáticos aos quais se proíbe de ouvir ou ler qualquer coisa que contrarie os dogmas de sua organização religiosa, aos quais se interdita auxiliar instituições de assistênca social cujos dirigentes tenham princípios religiosos diversos do seu, e aos quais se inculca ser um dever de consciência defender tamanha estreiteza de sentimentos.

Esse tipo de egoísmo é, seguramente, o mais funesto, por se revestir de um fanatismo religioso, obstando que os ingênuos e desprevenidos o reconheçam pelo que é, na realidade.

Foi esse egoísmo sectário que, no passado, promoveu as chamadas guerras religiosas e a "santa" Inquisição, de tão triste memória, infligindo torturas e mortes excruciantes a centenas de milhares de homens, mulheres e crianças, e, ainda hoje, desperta, acoroçoa e mantém a animosidade entre milhões de criaturas, retardando o estabelecimento daquela Fraternidade Universal que o Cristo veio preparar com o seu Evangelho de Amor.
O Espiritismo, pela poderosa influência que exerce no homem, fazendo-o sentir-se um ser cósmico, destinado a ascender pelo progresso moral às mais esplendorosas moradas do Infinito, é o mais eficaz antídoto ao veneno do egoísmo; praticá-lo é, pois, trilhar o caminho da Evolução e preparar-se um futuro incomparavelmente mais feliz! (Cap.XII, q. 913, L.E.)
Rodolfo Caligaris

As Bases para transformar-se -9

CONHECE-TE A TI MESMO
A felicidade foi, é e será sempre a maior e a mais profunda aspiração do homem. Ninguém há que não deseje conquistá-la, tê-la como companheira inseparável de sua existência. Raros, no entanto, aqueles que a têm conseguido .

E' que grande parte dos terrícolas, não se conhecendo a si mesmos, quais "imagem e semelhança de Deus", e ignorando os altos destinos para que foram criados, não compreendem ainda que a verdadeira felicidade não consiste na posse nem no desfrute de algo que o mundo nos possa dar e que, em nos sendo negado ou retirado, nos torna infelizes.

Com efeito, aquilo que venha de fora ou dependa de outrem (bens materiais, poder, fama, glória, comprazimento dos sentidos, etc) é precário, instável, contingente. Não nos pode oferecer, por conseguinte, nenhuma garantia de continuidade. Além disso, conduz fatalmente à desilusão, ao fastio, à vacuidade.

"O reino dos céus está dentro de vós", proclamou Jesus.
Importa, então, que cultivemos nossa alma, a "pérola" de subido preço de que nos fala a parábola, e cuja aquisição compensa o sacrifício de todos os tesouros de menor valor a que nos temos apegado, porquanto é na auto-realização espiritual, no aprimoramento de nosso próprio ser, que haveremos de encontrar a plenitude da paz e da alegria com que sonhamos .

A Doutrina Espírita, em exata consonância com os ensinamentos do Mestre, elucida-nos que, tanto aqui na Terra como no outro lado da Vida, a felicidade é inerente e proporcional ao grau de pureza e de progresso moral de cada um.

"Toda imperfeição — di-lo Kardec — é causa de sofrimento e de privação de gozo, do mesmo modo que toda perfeição adquirida é fonte de gozo e atenuante de sofrimentos. Não há uma só ação, um só pensamento mau que não acarrete funestas e inevitáveis consequências, como não há uma só qualidade boa que se perca. Destarte, a alma que tem dez imperfeições, p. ex., sofre mais do que a que tem três ou quatro; e quando dessas dez imperfeições não lhe restar mais que metade ou um quarto, menos sofrerá. De todo extintas, a alma será perfeitamente feliz."

Pela natureza dos seus sofrimentos e vicissitudes na vida corpórea, pode cada qual conhe
cer a natureza das fraquezas e mazelas de que se ressente e, conhecendo-as, esforçar-se no sentido de vencê-las, caminhando, assim, para a felicidade completa reservada aos justos.

A máxima — "nosce te ipsum" — inscrita no frontão do templo de Delfos e atribuída a um dos mais sábios filósofos da Antiguidade, constitui-se até hoje a chave de nossa evolução, isto é, continua sendo o melhor meio de melhorar-nos e alcançarmos a bem-aventurança.

E' verdade que esse autoconhecimento não é muito fácil, já que nosso amor-próprio sempre atenua as faltas que cometemos, tornando-as desculpáveis, assim como rotula como qualidades meritórias o que não passa de vícios e paixões. Urge, porém, que aprendamos a ser sinceros com nós mesmos e procuremos aquilatar o real valor de nossas ações, indagando-nos como as qualificaríamos se praticadas por outrem.

Se forem censuráveis em outra pessoa, também o serão em nós, eis que "Deus não usa de duas medidas na aplicação de Sua justiça".
Será útil conhecermos, igualmente, qual o juízo que delas fazem os outros, principalmente aqueles que não pertencem ao círculo de nossas amizades, porque, livres de qualquer
constrangimento, podem estes expressar-se com mais franqueza.

Uma entidade sublimada, em magnífica mensagem a respeito, aconselha-nos: "Aquele que, possuído do propósito de melhorar-se, a fim de extirpar de si os maus pendores, como de seu jardim arranca as ervas daninhas, evocasse todas as noites as ações que praticara durante o dia e inquirisse de si próprio o bem ou o mal que houvera feito, grande força adquiriria para aperfeiçoar-se porque, crede-me, Deus o assistiria.
Dirigi, pois, a vós mesmos, questões nítidas e precisas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou qual circunstância, sobre se obrastes alguma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda mais: se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado? Examinai o que puderdes ter obrado contra Deus, depois contra o vosso próximo e, finalmente, contra vós mesmos.
As respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado. Não trabalhais todos os dias com o fito de juntar haveres que vos garantam repouso na velhice? Não constitui esse repouso o fim que vos faz suportar fadigas e privações temporárias? Pois bem! que é esse descanso de alguns dias, turbado sempre pelas enfermidades do corpo, em comparação com o que espera o homem de bem?" (Cap. XII, q. 919)
Rodolfo Caligaris

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Não vos inquieteis pelo dia de amanhã (...)"Quais as causas de a Humanidade haver chegado a tão deplorável desequilíbrio psíquico? A nosso ver, a causa é uma só: a falta de FÉ! Não dessas "fezinhas" denominacionais, estreitas, sectárias, que superabundam por aí, mas da FÉ mesmo, sem qualquer adjtivação, significando "confiança absoluta em Deus".(...)


"Não vos inquieteis pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã a si mesmo trará seu cuidado. Basta a cada dia a sua própria aflição" (Mateus, 6:34)
Ressalta à observação comum que os homens nunca viveram tão inquietos e amedrontados como na atualidade. Haja vista a quantidade fabulosa de drogas "tranquilizantes" que consomem.
Parece terem perdido completamente as esperanças de um futuro melhor, que algo terrível, qual espada de Dâmocles, lhes ameaça os destinos, e daí a angústia ou o desespero com que encaram "o dia de amanhã".
Alguns tentam dissimular esse estado de ânimo, procurando ganhar fortuna, de qualquer maneira, por ser o dinheiro o "abre-te", Sésamo" do prestígio social, por ensejar-lhes a satisfação de toda a sorte de prazeres, permitindo-lhes, enfim, "gozar a vida", antes que o mundo se acabe...
Ao impacto dos desenganos, ou por via da saciedade, tais quimeras, entretanto, logo se desfazem, quais bolhas de sabão, e, desiludidos frustrados, reconhecem afinal que nunca houve, realmente, nem paz nem alegria em seus corações.
Quais as causas de a Humanidade haver chegado a tão deplorável desequilíbrio psíquico? A nosso ver, a causa é uma só: a falta de FÉ!
Não dessas "fezinhas" denominacionais, estreitas, sectárias, que superabundam por aí, mas da FÉ mesmo, sem qualquer adjtivação, significando "confiança absoluta em Deus".
Sim, o que está faltando à Humanidade, para que ela se tranquilize e seja relativamente feliz, tanto quanto permitam as condições deste mundo de expiações e de provas, é, pura e simplesmente - FÉ EM DEUS.
Possuíssem os homens essa preciosa virtude, estivessem plenamente convictos da solicitude do Pai Celestial para com todas as Suas criaturas, e outra seria a maneira de reagirem à frente das vicissitudes da existência.
Compreenderiam que, sendo Deus a expressão máxima do Amor, só deseja o nosso bem, a nossa felicidade; assim, não desempara ninguém e sempre encontra meios de prover-nos do "pão de cada dia". Mas, como é também a Justiça perfeita, deixa que sintamos as consequências de nossos erros, para que os procuremos evitar, assim como permite que soframos o choque de retorno de nossas maldades, para que aprendamos a "não fazer aos outros aquilo que não queremos que nos façam".
Lembrados do que dizem as Escrituras: "Nenhum passarinho cairá por terra sem a vontade do Pai e até mesmo os cabelos de vossa cabeça estão todos contados" (Mateus, 10:29-30), conheceriam que tudo obedece aos soberanos desígnios de Deus.
Suportariam, então, pacientemente, toda e qualquer situação penosa que não pudessem remover, por sabê-la justo resgate de faltas pretéritas, quando não uma experiência útil e necessária à lapidação de suas almas, condição indispensável a que se aproximem do Criador, tornando-se particípes de Sua glória.
Coragem, pois.
Não nos deixemos vencer pelo desânimo, pelo pessimismo, pela descrença. Por maiores que sejam os nossos padecimentos no dia de hoje, lembremo-nos de que "amanhã será outro dia" e bem pode ser que Deus, em Sua misericórdia, lhes ponha fim.
Por outro lado, alijemos de nossa mente e de nosso coração pensamentos funestos, apreensões e temores, porquanto muitas e muitas vezes nos atormentamos à toa, por coisas que nunca chegam a realizar-se.
"Basta a cada dia a sua própria aflição."
Rodolfo Calligaris
Sermão da Montanha

A regra áurea."(..)Da mesma sorte, o mal praticado a dano de outrem volve também. Todos os atos maléficos dão origem a sofrimentos para quem os cometeu, o qual, nesta ou em futuras encarnações, será levado a passar pelas amarguras por que fez outros passarem; sentirá aquilo que eles sofreram."...


"Tudo o que vós quereis que vos façam os homens, fazei-o também vós a eles, porque esta é a lei e os profetas." (Mateus, 7:12)
Conhecedor profundo da alma humana, sabia o Mestre que a preocupação constante dos homens de seu tempo (como ainda dos de hoje) consistia em receber, do meio social a que pertenciam, o máximo possível em gozo e em posse, sinal característico do forte egoísmo que os dominava.
Tomando, pois, esse amor de cada um a si mesmo, como padrão dos nossos deveres para com o próximo, estabeleceu ele o meio mais fácil e mais seguro pelo qual haveremos de compreender o que e quanto devemos dar, em obediência à lei do amor universal que nos cumpre desenvolver, a fim de que se estabeleça em nosso mundo o reinado de Deus.
Em nossas múltiplas relações com os outros, coloquemo-nos em seu lugar: identifiquemo-nos com os seus sentimentos, sintamos-lhes as dificuldades, conheçamos-lhes os anseios, e, depois, façamos-lhes como, invertendo-se os papéis, desejaríamos que eles procedessem conosco.
Não há melhor estalão com que aferir a nossa honestidade, em expressão mais legítima do "amor ao próximo como a nós mesmos."
Esta regra áurea, se praticada por todos, faria que se modificassem completamente as condições de vida de nosso planeta. Extinguir-se-iam, uma a uma, todas as causas de sofrimento da Humanidade; desobstruir-se-ia o caminho dos pedrouços que lhe embaraçam o progresso moral e, ao cabo de algum tempo, a felicidade seria geral, porque já então, morto o egoísmo em todas as suas formas: o egoísmo pessoal, de família, de casta e de nacionalidade, veríamos implantado entre os terrícolas o primado da abnegação, da caridade, do desprendimento, da justiça, da paciência, da tolerância, da solidariedade, da paz, etc... porque as grandes e nobres virtudes, sem exceção, são, todas elas, filhas do Amor.
Dizendo-nos que "esta é a lei e os profetas", quis Jesus significar que esta regra de proceder resume toda a lei divina e tudo quanto fora ensinado pelos profetas da antiguidade.
O "fazei aos outros o que quereis que os outros vos façam" contém a mesma verdade deste outro ensinamento doutrinado algures no Sermão da Montanha: "com a medida com que medirdes, também sereis medidos". É a lei da causalidade. A toda causa corresponde um efeito, o qual será sempre da mesma natureza da causa que o originou.
Aquilo que fizermos aos outros, seja bem ou seja mal, terá, certamente, sua reação sobre nós, em bênçãos ou em sofrimento. Tudo quanto dermos havemos de receber de volta. Os benefícios que fizermos ao próximo são nos retribuídos em dobro, aqui mesmo na Terra, em tempos de necessidade, ou no Além, na moeda do Reino, em alegrias espirituais.
Da mesma sorte, o mal praticado a dano de outrem volve também. Todos os atos maléficos dão origem a sofrimentos para quem os cometeu, o qual, nesta ou em futuras encarnações, será levado a passar pelas amarguras por que fez outros passarem; sentirá aquilo que eles sofreram.
E isso, que a alguns pode parecer uma negação do amor de Deus de Seu amor paternal, pois Ele quer que todas as criaturas progridam, combatam a dureza de coração e se transformem em templos vivos, para aí sentir Sua augusta presença.
Os sofrimentos que decorrem das transgressões às leis divinas servem-nos de advertência; fazem-nos sentir a diferença entre o bem e o mal e dão-nos a experiência de que colheremos segundo o que plantarmos. Se semearmos o bem, colheremos o bem; se espalharmos o mal, teremos de lhe arcar com as funestas consequências.
Assim não fora e, confiantes na impunidade, retardaríamos nosso avanço, retardando, consequentemente, nossa felicidade futura na santa comunhão com Deus.
A regra áurea é a única e verdadeira norma de Cristianismo. Assim, uma religião que nos leve a negligenciar as obras de misericórdia em favor dos necessitados, dos aflitos e dos sofredores, ensinando ser suficiente "crer" deste ou daquele modo para fazermos jus aos gozos celestiais; que nos induza a considerar réprobos desprezíveis todos quantos divirjam de nossa "fé".
Que advogue a discriminação racial ou qualquer outra forma de desunião entre os homens, exaltando uns e menosprezando outros, está defraudando a doutrina cristã, é espúria e blasfema, pois pretende impingir concepções e preconceitos humanos como sendo ordenações de Deus.
Rodolfo Calligaris
O Sermão da Montanha

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

AS PAIXÕES

A Doutrina Espírita nos ensina que todas as paixões têm como princípio originário uma necessidade ou um sentimento natural, colocados em nosso âmago com o fim de estimular-nos ao trabalho e à conquista da felicidade.
"Deus é Amor" e, ao criar-nos, fêz-nos participantes de Sua natureza, isto é, dotados dessa virtude por excelência; carecendo apenas que a desenvolvamos e a depuremos, até a sublimação.
Houve por bem, então, tornar-nos sensíveis ao prazer para que cada um de nós, buscando-o, cultivasse o amor a si mesmo, para, numa outra etapa, ser capaz de estender esse amor aos semelhantes.
Pode parecer que a busca do prazer pessoal seja uma forma errônea, por sumamente egoísta, para que possa conduzir-nos à efetivação desse grandioso desiderato. Deus, porém, em Sua onisciência, sempre escolhe os melhores caminhos possíveis para o nosso progresso, e se assim há determinado é porque sabe que, sem experimentarmos, antes, quanto é bom o amor que nos devotamos e ao qual tudo sacrificamos, jamais chegaríamos ao extremo oposto, de sacrificar-nos por amor a outrem.
Os gozos que o mundo nos proporciona, entretanto, são regulados por leis divinas, que lhes estabelecem limites em função das reais necessidades de nosso corpo físico e dos justos anseios de nossa alma, e transpô-los ocasiona consequências tanto mais funestas quanto maiores sejam os desmandos cometidos.
Nisto, como em todo aprendizado que lhe cumpra fazer, seja de um ofício, de uma arte, ou do exercício de um poder qualquer, o homem começa causando, a si mesmo e ao próximo, mais prejuízos que benefícios.
E' que, em sua imensa ignorância, não sabe distinguir o uso do abuso, exagera suas necessidades e sentimentos, e é aí, no excesso, que aquelas e estes se transformam em paixões, provocando perturbações danosas ao seu organismo e ao seu psiquismo.
Apresentemos alguns exemplos:
Alimentar-nos é um imperativo da natureza, cujo atendimento é coisa que nos dá grande satisfação. Quantos, entretanto, façam dos "prazeres da mesa" a razão de sua existência, rendendo-se à glutonaria, mais dias, menos dias, terão que pagar, com a enfermidade, senão mesmo com a morte, o preço desse mau hábito.
Muito natural o nosso desejo de preparar dias melhores para nós e a nossa família, bem assim as lutas a que nos entregamos e os sacrifícios que nos impomos, visando a tal objetivo. Todavia, é preciso que essa preocupação pelo futuro não ultrapasse os limites do razoável, para que não se converta em obsessão.
A recreação, por outro lado, é uma exigência de nosso espírito, e os entretenimentos ocasionais valem por excelentes fatores de hiigiene mental. Infelizes, no entanto, os que, seduzidos pelas emoções de uma partida de baralho ou de víspora, pelo lucro fácil de um lance na roleta, ou quejandos, se deixem dominar pelo jogo! A desgraça não tardará a abatê-los, como abatidos têm sido todos quantos se escravizam a essa terrível viciação.
Calor excessivo ou frio intenso podem forçar-nos, vez por outra, a um refrigerante gelado ou a uma dose alcoólica, com o que nos dessedentamos, ou nos reconfortamos gostosamente. Mas todo cuidado será pouco para não descambarmos para a bebedice, pois seus malefícios, provam-no as estatísticas, assumem características de verdadeiro flagelo social.
Todos nós sentimos necessidade de dar e receber carinho, já que ninguém consegue ser feliz sem isso. É de todo conveniente, entretanto, repartir nosso afeto com os que pertencem ao nosso círculo familiar, estendê-lo a amigos e outros semelhantes, evitando concentrá-lo em uma só pessoa, fazendo depender unicamente dela o nosso interesse pela vida, pois, ao perder esse alguém, poderemos sofrer um golpe doloroso demais para ser suportado sem perda do equilíbrio espiritual.
Não há quem não deseje autoafirmar-se, mediante a realização de algo que corresponda às suas tendências dominantes, e daí porque alguns se atiram, com inusitado entusiasmo, a determinados estudos, outros se empolgam na procura ou no apuramento de uma nova técnica com que sonham projetar-se na especialidade de sua predileção, e outros ainda descuidam de tudo e de todos para devotar-se, inteiramente, às atividades artísticas ou científicas que os abrasam. Importa, porém, acautelar-nos com o perigo do monoideísmo, responsável por neuroses ou insânias de difícil recuperação.
Como se vê, o princípio das paixões nada tem de mau, visto que "assenta numa das condições providenciais de nossa existência", podendo inclusive, em certos casos e enquanto governadas, levar o homem a feitos nobilitantes.
Todo mal, repetimo-lo, reside no abuso que delas se faz.
Urge, portanto, que, na procura do melhor, do que nos traga maior soma de gozo, aprendamos a respeitar as leis da Vida, para que elas, inexoráveis como são, não se voltem contra nós, compelindo-nos a penosos processos de reajuste e reequilíbrio. (Cap. XII, q. 907 e seguintes.)
Rodolfo Calligaris
Livro: Leis Morais

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

CONHECE-TE A TI MESMO


A felicidade foi, é e será sempre a maior e a mais profunda aspiração do homem.
Ninguém há que não deseje conquistá-la, tê-la como companheira inseparável de sua existência.
Raros, no entanto, aqueles que a têm connseguido.
E' que grande parte dos terrícolas, não se conhecendo a si mesmos, quais "imagem e semelhança de Deus", e ignorando os altos destinos para que foram criados, não compreendem ainda que a verdadeira felicidade não consiste na posse nem no desfrute de algo que o mundo nos possa dar e que, em nos sendo negado ou retirado, nos torna infelizes.
Com efeito, aquilo que venha de fora ou dependa de outrem (bens materiais, poder, fama, glória, comprazimento dos sentidos, etc) é precário, instável, contingente. Não nos pode oferecer, por conseguinte, nenhuma garantia de continuidade. Além disso, conduz fatalmente à desilusão, ao fastio, à vacuidade.
«O reino dos céus está dentro de vós», proclamou Jesus.
Importa, então, que cultivemos nossa alma, a "pérola" de subido preço de que nos fala a parábola, e cuja aquisição compensa o sacrifício de todos os tesouros de menor valor a que nos temos apegado, porquanto é na auto-realização espiritual, no aprimoramento de nosso próprio ser, que haveremos de encontrar a plenitude da paz e da alegria com que sonhamos.
A Doutrina Espírita, em exata consonância com os ensinamentos do Mestre, elucida-nos que, tanto aqui na Terra como no outro lado da Vida, a felicidade é inerente e proporcional ao grau de pureza e de progresso moral de cada um.
"Toda imperfeição - di-lo Kardec - é causa de sofrimento e de privação de gozo, do mesmo modo que toda perfeição adquirida é fonte de gozo e atenuante de sofrimentos. Não há uma só ação, um só pensamento mau que não acarrete funestas e inevitáveis consequências, como não há uma só qualidade boa que se perca. Destarte, a alma que tem dez imperrfeições, p. ex., sofre mais do que a que tem três ou quatro; e quando dessas dez imperfeições não lhe restar mais que metade ou um quarto, menos sofrerá. De todo extintas, a alma será perfeitamente feliz."
Pela natureza dos seus sofrimentos e vicissitudes na vida corpórea, pode cada qual conhecer a natureza das fraquezas e mazelas de que se ressente e, conhecendo-as, esforçar-se no sentido de vencê-las, caminhando, assim, para a felicidade completa reservada aos justos.

A máxima - "nosce te ipsum" - inscrita no frontão do templo de Delfos e atribuída a um dos mais sábios filósofos da Antiguidade, constitui-se até hoje a chave de nossa evolução, isto é, continua sendo o melhor meio de melhorar-nos e alcançarmos a bem-aventurança.
E' verdade que esse autoconhecimento não é muito fácil, já que nosso amor-próprio sempre atenua as faltas que cometemos, tornando-as desculpáveis, assim como rotula como qualidades meritórias o que não passa de vícios e paixões.
Urge, porém, que aprendamos a ser sinceros com nós mesmos e procuremos aquilatar o real valor de nossas ações, indagando-nos como as qualificaríamos se praticadas por outrem.
Se forem censuráveis em outra pessoa, também o serão em nós, eis que "Deus não usa de duas medidas na aplicação de Sua justiça" .
Será útil conhecermos, igualmente, qual o juízo que delas fazem os outros, principalmente aqueles que não pertencem ao círculo de nossas amizades, porque, livres de qualquer constrangimento, podem estes expressar-se com mais franqueza.
Uma entidade sublimada, em magnífica mensagem a respeito, aconselha-nos:
"Aquele que, possuído do propósito de melhorar-se, a fim de extirpar de si os maus pendores, como de seu jardim arranca as ervas daninhas, evocasse todas as noites as ações que praticara durante o dia e inquirisse de si próprio o bem ou o mal que houvera feito, grande força adquiriria para aperfeiçoar-se porque, crede-me, Deus o assistiria. Dirigi, pois, a vós mesmos, questões nítidas e precisas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou qual circunstância, sobre se obrastes alguma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda mais: se aprouvesse a Deus chamar-me neste momennto, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado? Examinai o que puderdes ter obrado contra Deus, depois contra o vosso próximo e, finalmente, contra vós mesmos. As respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado. Não trabalhais todos os dias com o fito de juntar haveres que vos garantam repouso na velhice? Não constitui esse repouso o fim que vos faz suportar fadigas e privações temporárias? Pois bem! que é esse descanso de alguns dias, turbado sempre pelas enfermidades do corpo, em comparação do corpo, em comparação com o que espera o homem de bem?" ( Cap. XII, q. 919 e seguintes.
Rodolfo Calligaris
Livro: Leis Morais

domingo, 30 de dezembro de 2012

Reconcilia-te sem demora com o teu adversário


RECONCILIA-TE SEM DEMORA COM O TEU ADVERSÁRIO

Disse Jesus:
"Se estiveres fazendo tua oferta diante do altar e te lembrares de que um teu irmão tem contra ti alguma coisa, deixa ali tua oferta e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão; depois, então, volta a fazê-la.

Concerta-te sem demora com o teu adversário, enquanto estás posto a caminho com ele, para que não suceda que ele, o adversário, te entregue ao juiz e que o juiz te entregue ao ministro e sejas mandado para a cadeia. Em verdade te digo que não sairás de lá enquanto não pagares o último ceitil.'" (Mateus, 5:23-26.)

A oferta sacrifical era um ato de fé largamente praticado pelos judeus, através do qual buscavam alcançar a remissão de seus pecados.
Julgavam suficiente o sacrifício de inocentes ovelhas, cabras ou novilhos, para obter esse favor, ignorando fosse preciso, a seu turno, agir com bondade em relação ao próximo.

Jesus, entretanto, aponta-nos a inutilidade de toda e qualquer prática devocional, quando feita sem a necessária tranquilidade de consciência.

Deus é Amor e, com sentimentos ou propósitos inamistosos no coração, é impossível entrarmos em sintonia com Ele ou recebermos a graça de Seu perdão.

Assim, sempre que nos sintamos ofendidos por alguém, ao invés de lhe censurarmos o procedimento com terceiros, o que nos cumpre fazer é entendermo-nos direta e francamente com nosso ofensor.
É bem provável que não tenha tido a intenção de magoar-nos e que seus esclarecimentos satisfaçam-nos plenamente. De qualquer maneira, é sempre mais correto dirimirem-se atritos e dificuldades, agindo dessa forma, do que dando-se livre curso à maledicência.

Se, ao contrário, nós é que defraudamos um irmão, temos a obrigação moral de, como cristãos que pretendemos ser, fazer-lhe a devida restituição e pedir-lhe que nos desculpe; ou, se o agravamos, afetando-lhe a honorabilidade, buscar as pessoas às quais demos informações falsas ou maldosas a seu respeito, e retirá-las quanto antes, confessando humildemente nosso erro.
Quem, por orgulho, se esquive a essa reconciliação, poderá ser surpreendido pela morte, em débito com a Lei de Harmonia que preside às relações dos homens entre si, e, obrigado, então, a responder em "Juízo" pela inobservância dessa Lei, não escapará à "prisão" das reencarnações expiatórias, eis que, "a cada um será dado segundo as suas obras".
A Justiça Divina, no entanto, é rigorosamente perfeita e não exige do devedor mais do que ele deve. Afirmando: "não sairás da cadeia enquanto não pagares o último ceitil", Jesus deixa claro que não há pecados irremissíveis, nem, por conseguinte, condenação eterna.

Nossas dívidas, por maiores que sejam, expressam-se por um valor determinado, têm um limite e, desde o instante em que paguemos "o último ceitil", já não ficaremos devendo nada e, pois, seremos postos em liberdade, o que vale dizer, seremos novamente senhores de nosso destino, podendo, trabalhados por essa amarga experiência, caminhar com mais segurança, rumo à felicidade reservada a todos os filhos de Deus.
Rodolfo Calligaris
Sermão da Montanha

Buscai primeiramente o reino de Deus


Não é preciso ser muito versado em psicologia para verificar que todas as ações humanas obedecem a um móvel, isto é, são determinadas por um ideal ou um desejo mais intenso.
Aquilo que o indivíduo coloca em primeira plana na vida exerce tal influência em sua conduta que, consciente ou inconscientemente, seus pensamentos, sua conversação, seus hábitos, etc... entram a girar em torno desse alvo, e todos os seus passos para ele convergem.
Por conhecer essa lei é que Jesus nos recomenda: "buscai primeiramente o reino de Deus e a sua justiça" (Mateus, 6:33), querendo com isso significar que os cristãos devem colocar os valores espirituais acima de tudo, pois na aquisição deles é que havemos de encontrar a verdadeira felicidade.
Lamentavelmente, são poucos, ainda, os que vivem pelos ideais superiores.
Em geral, o que os homens querem e buscam sofregadamente é o reino da terra mesmo.
Para amealhar fortuna que lhes proporcione, depois, uma vivência faustosa e sem cuidados, ou conquistar destaque social que lhes lisonjeie o orgulho, não há incômodos, esforços, nem sacrifícios que não estejam dispostos a enfrentar.
Alguns, para conseguir esse objetivo utilitário, não hesitam em empregar processos ignominiosos: exploram o serviço dos semelhantes, organizam trustes e monopólios nefandos, engendram conciliábulos políticos, descem, enfim, a todas as vilanias e torpezas, sem atender a qualquer reclamo da própria consciência.
Esses tais avaliam o êxito na vida pela conta-corrente que tenham nos bancos ou pela posição adquirida na sociedade, e, em sua grosseira materialidade, consideram que seria uma desgraça verem-se privados desses elementos.
Esquecem-se, entretanto, de que, ao transporem as aduanas da morte, não só deixarão aqui os seus queridos tesouros, como ainda terão de responder, perante a Justiça Divina, pelos meios que empregaram para acumulá-los!
Olvidam, igualmente, que o prestígio mundano é algo de todo inútil no "lado de lá", onde os que se exaltam aqui na Terra serão humilhados, e os que são adulados poderão ser escarnecidos, senão relegados ao horror das trevas que o egoísmo houver adensado em volta de suas almas!
Compenetremo-nos, pois, de que tudo aquilo que só serve para a existência terrestre é mera vaidade, e, seguindo o conselho do Mestre, porfiemos no bem, para merecermos a glória de tornar-nos súditos do "reino de Deus".
Rodolfo Calligaris
Livro Sermão da Montanha

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

“Se alguém me Servir, meu Pai o Honrará”


Rodolfo Calligaris
“Em verdade, em verdade vos digo: se grão de trigo que cai na terra não morrer, ficará só;
mas, se ele morrer, produzirá muito fruto.
Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem aborrece a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna.
Se alguém me quiser servir, siga-me, e onde eu estiver, ali estará também o meu servo.
Se alguém me servir, meu Pai o honrará”.
(João, 12:24-26.)
Há que se distinguirem no homem duas coisas bem diferentes: a individualidade e a personalidade.
Individualidade é a centelha emanada de Deus, cujo destino é evoluir do átomo ao infinito.
Personalidade é o conjunto de elementos psicossomáticos que caracterizam a pessoa, ou cada uma das encarnações da centelha espiritual.
A individualidade permanece para todo o sempre, é imortal; a personalidade dura apenas a existência corpórea, do nascimento à morte.
A personalidade é, por assim dizer, apenas um capítulo da história do ser; a individualidade é a obra em elaboração, à qual se vão acrescentando sempre novos capítulos. Em cada permanência na Terra, cumpre-nos adquirir as experiências que ela pode ensejar ao desenvolvimento de nosso Espírito, preparando-nos pouco a pouco para a escalada a planos a vez mais altanados.
Lamentavelmente, apesar de quase todos dizermos espiritualistas e apregoarmos nossa fé na vida eterna, poucos nos conduzimos de conformidade com tais convicções.
O que vemos, por toda a parte, é um desinteresse generalizado pelas questões espirituais e um apego total, absoluto, às coisas materiais. É uma negligência completa pelo que diz respeito ­à edificação da individualidade, enquanto tudo se sacrifica ao comprazimento da personalidade. ­
Ao invés de envidarmos sérios esforços no sentido de «sermos» hoje um pouco melhores que fomos ontem, pois que desse desenvolvimento espiritual é que há de resultar a nossa felicidade no dia de amanhã, cuidamos apenas “ter” mais dinheiro, mais fama, mais prestigio social, esquecendo-nos de que estas coisas, gratas à nossa personalidade, não constituem ­patrimônio efetivamente nosso, não nos acompanharão além da sepultura e, pois, de nada valerão na esfera da espiritualidade.
Por afeiçoar-nos em demasia à “vida neste mundo”, que passa, célere, para encerrar-se melancolicamente sob sete palmos de chão, deixamos ­de cultivar as virtudes cristãs, tesouro que a traça não corrói, o ladrão não rouba e a ferrugem não desgasta» — única moeda capaz de assegurar-nos o ingresso nas regiões ditosas do Mundo Maior.
Como diz o texto evangélico em tela, se o grão de trigo não morrer, isto é, não se desfizer da camada cortical que encerra o embrião, não germinará e conseqüentemente não poderá multiplicar-se.
Semelhantemente, para que nossa individualidade logre repontar, crescer e produzir maravilhosos frutos de altruísmo, mister se faz seja rompida a casca grossa do personalismo egoísta que a envolve.
Para consegui-lo, um só meio existe: seguir o exemplo do Mestre incomparável, entregando-nos a uma vivência de abnegação, exercitando-nos nas tarefas de auxílio ao próximo.
Amando e servindo nossos irmãos em humanidade, estaremos amando e servindo ao Cristo, pois, conforme sua afirmação, cada vez que assistimos a um desses “pequeninos” é a ele próprio que o fazemos.
Quem se ache empenhado nesse trabalho, continue, persevere. Embora o mundo o ignore ou não lhe reconheça os méritos, no devido tempo “o Pai celestial o honrará”.
(Revista Reformador de março de 1966)

Justiça Humana e Justiça Divina


Rodolfo Calligaris
O capítulo II da Constituição Brasileira, que trata “dos direitos e das garantias individuais”, em seu art. 141, § 30 e 31, consagra dois princípios altamente humanitários, que vale a pena analisar e comparar com dois dogmas fundamentais das igrejas ditas cristãs.
Reza o citado § 30: “Nenhuma pena passará da pessoa do delinqüente.”
Isto quer dizer que no Brasil, como de resto em todos os países civilizados do mundo, qualquer pena (punição que o Estado impõe ao delinqüente ou contraventor, por motivo de crime ou contravenção que tenha cometido, com a finalidade de exemplá-lo e evitar a prática de novas infrações) só poderá recair sobre o culpado, não podendo, em hipótese alguma, alcançar outra(s) pessoa(s).
Exemplifiquemos: se um indivíduo cometer um crime, pelo qual seja sentenciado a uns tantos anos de prisão celular, mas venha a escapulir, sem que as autoridades policiais consigam apanhá-lo, ou faleça antes de haver cumprido toda a pena, não pode o Estado trancafiar um seu parente (filho, neto, etc.) para que cumpra ou resgate o final do castigo imposto a ele, criminoso.
Aliás, se o fizesse, passaria a si mesmo um atestado de despotismo e provocaria os mais veementes protestos, pois repugna às consciências esclarecidas admitir que “o inocente pague pelo pecador”.
Essa noção de intransferibilidade de méritos e deméritos, já a tinham os profetas do Velho Testamento. O cap. 18 de Ezequiel, v. g., versa exclusivamente esse ponto. Ali se diz que se um homem for bom e obrar conforme a equidade e a justiça, mas venha a ter algum filho ladrão, que derrame sangue ou cometa outras faltas abomináveis, este terá que arcar com as conseqüências de seus delitos, de nada lhe valendo as boas qualidades paternas.
Da mesma sorte, se um homem não guardar os preceitos divinos, se for um grande pecador, mas o filho “não fizer coisas semelhantes às que ele obrou”, não responderá pelos desacertos do pai. E conclui (v. 20):
“A alma que pecar, essa morrerá: o filho não carregará com a iniqüidade do pai, e o pai não carregará com a iniqüidade do filho; a justiça do justo será sobre ele, e a impiedade do ímpio será sobre ele.”
Claríssimo, pois não?
No entanto, tomando por base uma alegoria do Gênesis (cap. 3), cuja interpretação foge ao objetivo deste trabalho, — a Teologia engendrou e vem sustentando, através dos séculos, o dogma do “pecado original”, segundo o qual todos os homens, gerações pós gerações, inclusive aqueles que virão a nascer daqui a séculos ou milênios, são atingidos inexoravelmente por uma falta que não é sua!
Ora, mesmo que a referida alegoria bíblica (tentação de Eva e queda do homem) fosse um fato histórico, real, que culpa teríamos nós outros, da desobediência praticada por “nossos primeiros pais” num passado cuja ancianidade remonta à noite dos tempos?
Se a responsabilidade pessoal é princípio aceito universalmente; se nenhum Código Penal do mundo admite que se puna alguém por um crime praticado por seus ancestrais; como poderia Deus castigar-nos por algo de que não fomos participantes, ou melhor, que teria ocorrido quando nem sequer existíamos?
Não é possível!
Se Deus nos criasse, mesmo, com esse estigma, expondo-nos, conseqüentemente, às muitas misérias da alma e do corpo, por causa do erro de outrem, então a Justiça Divina seria menos perfeita que a justiça humana, posto que esta, como vimos, não permite tal aberração.
Como é óbvio, o Criador hão pode deixar de ser soberanamente justo e bom, pois sem esses atributos não seria Deus. E como o dogma do “pecado original” não se coaduna com a Bondade e a Justiça Divinas, não há como fugir à conclusão, de que é falso e insustentável, sendo cada um responsável apenas pelos seus próprios atos, e não pelos deslizes de’ seus avoengos, ainda que eles se chamem Adão e Eva...
(Revista Reformador de abril de 1965)

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Parábola do Juiz Iníquo


Rodolfo Calligaris
Querendo Jesus ensinar a seus discípulos que deviam orar sempre e nunca desanimar, propôs-lhes a seguinte parábola: - "Havia em certa cidade um juiz, que não temia a Deus nem respeitava os homens. Havia também naquela mesma cidade uma viúva que vinha constantemente ter com ele, dizendo: Faze-me justiça contra o meu adversário. Ele, por algum tempo, não a queria atender, mas depois disse consigo: Se bem que eu não tema a Deus, nem respeite os homens, mas, como esta viúva me incomoda, julgarei a sua causa, para que ela não continue a molestar-me com suas visitas. Ouvi, acrescentou o Mestre, o que disse esse juiz injusto; e não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora seja demorado a atendê-los? Digo-vos que bem depressa lhes fará justiça". (Lucas, 18:1-8).
Conquanto diferente na forma, esta parábola se assemelha bastante, na essência. Àquela outra, do Amigo Importuno, registrada pelo próprio evangelista”. (Lucas, no cap. II, 5 a 13).
Nesta, como naquela, Jesus nos exorta a confiar na Justiça Divina, na certeza de que, consoante o refrão popular, ela "tarda, mas não falha".
De fato, se mesmo homens iníquos, isto é, maldosos, perversos, insensíveis aos direitos do próximo e indiferente à Moral, como o juiz de que nos fala o texto acima, não resistem ao assédio daqueles que lhes batem à porta com insistência, e, para verem-se livres de importunações, acabam resolvendo-lhes as questões, como poderia Deus, que é a perfeição absoluta, deixar de atender aos nossos justos reclamos e solicitações?
Se, malgrado todas as deficiências e fraquezas dos que, na Terra, presidem aos serviços judiciais, as causas têm que ser solucionadas um dia, ainda que com grande demora, porque duvidar ou desesperançar das providências do Juiz Celestial?
Ele, que não é indiferente sequer à sorte de um pardal, que tudo sabe, tudo pode e tanto nos ama, negligenciaria a respeito de nossos legítimos interesses, deixar-nos-ia sofrer qualquer injustiça, mínima que fosse?
Não!
Quando, pois, sintamos que o ânimo nos desfalece, por afigurar-se que os males que nos afligem sobre excedem nossas forças, oremos e confiemos.
Deus não desampara a nenhum de seus filhos.
Se, às vezes, parece não ouvir as nossas súplicas, permitindo perdurem nosso sofrimento é porque, à feição do lapidário emérito, que se esmera ao extremo no aperfeiçoamento de suas gemas preciosas, também Ele, sabendo ser a dor o melhor instrumento para a lapidação de nossas almas, nos mantém sob a sua ação enérgica, mas eficiente, a fim de que sejam quebradas as estrias de nosso mau caráter, nos expunjamos de nossas mazelas e nos tornemos, o mais breve possível, dignos de ascender à Sua inefável companhia.
Sim, em todos os transes difíceis da existência, oremos e confiemos.
Se o fizermos com fé, haveremos de sentir que, embora os trilhos da experiência que nos cumpre palmilhar continuem cheios de pedras e de espinhos, a oração, jorrando luz à nossa frente, nos permitirá avançar com segurança, vencendo, incólumes, os tropeços do caminho!

Parábola do Avarento


Rodolfo Calligaris
"As terras de um homem rico produziram abundantemente. Ele, então, discorria consigo: Que hei de fazer, pois não tenho onde recolher os meus frutos? Finalmente disse: farei isto: derrubarei os meus celeiros, construirei outros maiores, e neles guardarei toda a colheita e os meus bens. E direi à minha alma: tens muitos bens em depósito para largos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Deus, porém, disse a esse homem: Insensato, nesta noite mesmo virão demandar tua alma; e as coisas que ajuntaste, para quem serão? Assim acontece àquele que entesoura para si, e não é rico em Deus” (Lucas, 12:16-21).
E' determinação divina que o homem deva conquistar o pão com o suor do próprio rosto. Isso equivale a dizer que, para atender às necessidades da vida física, ele é obrigado a trabalhar, pois a natureza não lhe oferece, de mão beijada, quanto baste para saciar-lhe à fome e a sede, nem tampouco os recursos com que se proteger contra as intempéries.
Através dessa luta pela existência, que é uma bênção (e não maldição, como alguns erroneamente supõem), o homem vai-se desenvolvendo em todos os sentido: ganha ciência, aptidão e sensibilidade, resultando daí sua evolução e o progresso do meio em que exerce suas atividades.
Infelizmente, porém, muitos se preocupam em demasia com esse problema, em detrimento das questões de ordem espiritual, deixando-se levar pela ambição, pelo desejo insaciável de acumular bens de fortuna, o que não raro se transforma em verdadeira obsessão.
A avareza, a sórdida e feroz avareza, passa a comandar-lhes as ações, sufocando todo e qualquer sentimento nobre e altruísta que se contraponha à idéia fixa de aumentar, aumentar continuamente, esses tesouros. . .
Esquecem-se de que, quando menos o esperarem serão arrebatados pela morte, tendo que deixar aqui toda a fortuna que labutaram por acumular durante a vida, para que outros a desfrutem ou esbanjem a seu bel-prazer.
Sê se compenetrassem dessa verdade, certamente não poriam tanto empenho em ajuntar riquezas para uma vida efêmera, cuja duração não vai além de uns poucos anos. Buscariam, antes, tornar-se ricos em Deus, pela prática constante da caridade, do amor ao próximo, e pelo esforço diuturno no sentido de libertar-se daquilo que mais os amesquinha e mais fortemente os agrilhoa à prisão terrestre: a cupidez, a usura, o apego às coisas materiais.
"Ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consomem, e onde os ladrões não penetram nem roubam" dissera o Mestre de outra feita.
Esses tesouros são as virtudes cristãs, são as boas qualidades do coração, que devemos cultivar, se quisermos de fato assegurar-nos a vida eterna nos páramos celestiais.
As obras de benemerência e os esforços que se façam para formar um caráter reto e puro constituem a grande colheita da vida.
Todo ato nosso em benefício de outrem, assim como todo cuidado em vencer nossas imperfeições, suscita um impulso para cima, equivalente a um depósito de tesouro no céu.
Busquemos, pois, no Evangelho de N. Senhor Jesus Cristo, a inspiração sobre como gerir os "talentos" que nos tenham sido concedidos temporariamente, lembrando-nos sempre do avarento da parábola, cuja alma, na mesma noite em que fazia planos para "o futuro", foi chamada pelo Senhor...

“Se alguém me Servir, meu Pai o Honrará”


Rodolfo Calligaris
“Em verdade, em verdade vos digo: se grão de trigo que cai na terra não morrer, ficará só;
mas, se ele morrer, produzirá muito fruto.
Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem aborrece a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna.
Se alguém me quiser servir, siga-me, e onde eu estiver, ali estará também o meu servo.
Se alguém me servir, meu Pai o honrará”.
(João, 12:24-26.)
Há que se distinguirem no homem duas coisas bem diferentes: a individualidade e a personalidade.
Individualidade é a centelha emanada de Deus, cujo destino é evoluir do átomo ao infinito.
Personalidade é o conjunto de elementos psicossomáticos que caracterizam a pessoa, ou cada uma das encarnações da centelha espiritual.
A individualidade permanece para todo o sempre, é imortal; a personalidade dura apenas a existência corpórea, do nascimento à morte.
A personalidade é, por assim dizer, apenas um capítulo da história do ser; a individualidade é a obra em elaboração, à qual se vão acrescentando sempre novos capítulos. Em cada permanência na Terra, cumpre-nos adquirir as experiências que ela pode ensejar ao desenvolvimento de nosso Espírito, preparando-nos pouco a pouco para a escalada a planos a vez mais altanados.
Lamentavelmente, apesar de quase todos dizermos espiritualistas e apregoarmos nossa fé na vida eterna, poucos nos conduzimos de conformidade com tais convicções.
O que vemos, por toda a parte, é um desinteresse generalizado pelas questões espirituais e um apego total, absoluto, às coisas materiais. É uma negligência completa pelo que diz respeito ­à edificação da individualidade, enquanto tudo se sacrifica ao comprazimento da personalidade. ­
Ao invés de envidarmos sérios esforços no sentido de «sermos» hoje um pouco melhores que fomos ontem, pois que desse desenvolvimento espiritual é que há de resultar a nossa felicidade no dia de amanhã, cuidamos apenas “ter” mais dinheiro, mais fama, mais prestigio social, esquecendo-nos de que estas coisas, gratas à nossa personalidade, não constituem ­patrimônio efetivamente nosso, não nos acompanharão além da sepultura e, pois, de nada valerão na esfera da espiritualidade.
Por afeiçoar-nos em demasia à “vida neste mundo”, que passa, célere, para encerrar-se melancolicamente sob sete palmos de chão, deixamos ­de cultivar as virtudes cristãs, tesouro que a traça não corrói, o ladrão não rouba e a ferrugem não desgasta» — única moeda capaz de assegurar-nos o ingresso nas regiões ditosas do Mundo Maior.
Como diz o texto evangélico em tela, se o grão de trigo não morrer, isto é, não se desfizer da camada cortical que encerra o embrião, não germinará e conseqüentemente não poderá multiplicar-se.
Semelhantemente, para que nossa individualidade logre repontar, crescer e produzir maravilhosos frutos de altruísmo, mister se faz seja rompida a casca grossa do personalismo egoísta que a envolve.
Para consegui-lo, um só meio existe: seguir o exemplo do Mestre incomparável, entregando-nos a uma vivência de abnegação, exercitando-nos nas tarefas de auxílio ao próximo.
Amando e servindo nossos irmãos em humanidade, estaremos amando e servindo ao Cristo, pois, conforme sua afirmação, cada vez que assistimos a um desses “pequeninos” é a ele próprio que o fazemos.
Quem se ache empenhado nesse trabalho, continue, persevere. Embora o mundo o ignore ou não lhe reconheça os méritos, no devido tempo “o Pai celestial o honrará”.
(Revista Reformador de março de 1966)