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quinta-feira, 29 de abril de 2021

O ÓBULO DA VIÚVA POBRE " Seu ato foi, portanto, um ato de santidade, porque de suprema renúncia."

O ÓBULO DA VIÚVA POBRE
 
"Sentando-se Jesus em frente ao gazofilácio, observava como o povo punha ali as suas dádivas. Muitos ricos deitavam grandes quantias; chegando, porém, uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, que valem um quadrante. Chamando, então, Jesus os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais que todos os ofertantes; pois estes deram do que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo o que possuía, tudo de que dispunha para o seu sustento".

Vendo em Jesus o Mestre, o Educador que ensina através das páginas do livro da vida fazendo do mundo uma escola, vamos considerar o fruto de sua observação, com respeito à dádiva dos ricos e à da viúva pobre. 

 Narra o texto que Jesus acompanhava o gesto daqueles que depositavam no tesouro do templo as suas ofertas. O excelso intérprete da justiça divina verificou que os homens ricos lançavam vultosas somas no gazofilácio, julgando, talvez, assegurar com seu ouro uma bela posição no reino dos céus. O que, porém, chamou a atenção dele, de modo particular, foi a insignificante oferta da viúva pobre, que deitou no cofre sacro duas moedinhas de cobre, no valor dum quadrante, ou seja, 4 centavos.

O Mestre observa a atitude daquela mulher, penetra o seu íntimo, devassa os recessos mais secretos do seu coração e predica assim aos discípulos: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deitou mais na arca do templo que todos os ofertantes. Porque estes deram do que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo o que possuía, tudo o que tinha reservado para o seu sustento. É significativa a expressão — em verdade vos digo — com que Jesus costumava preceder as sentenças graves que proferia. Em verdade quer dizer na realidade, de fato, isto é assim, e não como os homens querem que seja, ou supõem que há de ser.

A linguagem humana é capciosa: traduz o convencionalismo de cada época; reflete a opinião sempre errônea e falsa da conceituação vigente adotada pela maioria, ou, ainda, a expressão da ignorância oficializada pelos usos e costumes sociais. Apartando-se deste círculo vicioso, o Sábio Instrutor da humanidade acentua que o seu dizer é — em verdade — isto é, fora de todo o conceito terreno eivado de dolo; fora de todo o juízo humano pronunciado levianamente, sem conhecimento de causa, na ignorância dos fatores ocultos que determinam os acontecimentos e os fenômenos que caem sob o domínio dos sentidos.

Ele estava em condições de apreciar os fatos da vida com justeza, pois que não os julgava pelas aparências, porém mediante plena compreensão dos elementos que entram em jogo para produzi-lo. Daí a sua autoridade acerca dos julgamentos que emitia e das lições que ministrava, fazendo-as preceder desta advertência: em verdade vos digo. Vejamos, agora, o que Ele, em verdade, nos ensina neste caso do óbolo da viúva pobre.

A maneira como Jesus aprecia o mérito ou demérito das nossas obras difere, sobremaneira, do critério, usado pelos homens. No episódio, que ora nos serve de tema, vemos que Ele reputou a oferenda da viúva como a maior de todas depositadas no gazofilácio. Nada obstante, foi a menor, a mais pequenina numericamente falando. Isto porque o Mestre se louvou, não nas aparências, isto é, no que se podia perceber com os sentidos, mas nos motivos íntimos que impeliram os ofertantes a lançar suas dádivas na arca do templo. Por que o fizeram eles? Quais os fatores que preponderaram no ânimo dos ricos para que dessem grandes somas?
A vaidade, talvez, porque as ofertas eram feitas publicamente; o interesse — quem sabe? — de comprar com o seu ouro a simpatia dos deuses, esperando, por esse processo, alcançar a desejada felicidade futura; ou, ainda, para serem agradáveis aos influentes sacerdotes e aos poderosos pontífices, usufrutários e desfrutadores das rendas do templo. Tais motivos, por si só, invalidam, moralmente, as mais vultosas dádivas. Os que agiram visando àqueles alvos já receberam a sua recompensa, de acordo com os planos concebidos.

Quanto à viúva, cabe-lhe o mérito da máxima sinceridade com que agiu. Essa virtude é que dá valimento ao seu gesto. Ela considerava a espórtula ao templo como um dever sagrado, portanto imprescindível. A prova do que dizemos está no esforço que fez; mais do que esforço, no sacrifício, visto como se privou do único recurso pecuniário de que dispunha, o qual se destinava ao seu próprio sustento! Seu ato foi, portanto, um ato de santidade, porque de suprema renúncia.

A soma total de todo o ouro, deitado, no decurso dos séculos, no gazofilácio do famoso templo de Jerusalém, não valia, por certo, a excelsitude do sentimento que, do fundo do coração daquela pobre mulher desprotegida, a compeliu a privar-se das suas duas únicas moedinhas, reservadas para atender à mais premente e cruel das necessidades humanas — que é o pão de cada dia.

O Soberano Intérprete da divina justiça costumava computar, no seu julgamento, os valores morais, e não somente os de ordem material, como fazem os homens. Por isso teve em maior estimação a mesquinha oferta da viúva, comparada com a opulenta doação dos ricos: estes, sem nenhum esforço deram uma insignificante parcela do muito que possuíam. O juízo humano se funda no testemunho dos sentidos. O juízo divino se baseia no critério da razão e no senso do coração. A verdade, como disse muito bem Flammarion, não está no que vemos, mas naquilo que escapa à apreciação dos nossos órgãos visuais.

A balança da excelsa justiça não pesou o ouro que os ricos deitaram no gazofilácio, mas sim, o ouro que eles retiveram em seu poder. Estabelecido o confronto, constatou que a dádiva foi exígua. No que respeita, porém, à viúva pobre, a oferta foi maravilhosa, pois que ela havia dado tudo quanto tinha. Quem dá tudo que possui dá o máximo. Não é possível haver dádiva maior. Tal o critério que Jesus empregou ao proferir a sentença: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais que todos os ricos.

Pela ordem destas considerações, ou seja, por associação natural de idéias em torno deste episódio evangélico, ocorre-nos à mente um fato que nos vem provar quanto a nossa sociedade vive divorciada dos precípuos elementos de justiça. Queremos nos referir à maneira de aquilatar-se o valor do trabalho, de onde decorre, conseqüentemente, a distribuição da riqueza. Costuma-se dividir o trabalho humano em duas categorias: o intelectual e o manual, isto é, o da inteligência e o dos músculos.
Os primeiros fazem jus a remunerações desproporcionalmente maiores que os últimos. O trabalho intelectual chega, por vezes, à culminância de um valor meramente estimativo, fora de qualquer princípio de equidade, enquanto que o labor dos músculos, quanto mais rude e mais penoso, tanto menos valia representa. Será justa semelhante maneira de julgar o produto da atividade humana? Por que motivo vale muito o esforço intelectual e vale pouco, quase nada, o esforço muscular? Será, talvez por que se empresta uma certa nobreza ao trabalho intelectual? Mas será, acaso, menos elevado ou menos nobre o trabalho manual?

Parece-nos que aqueles que arroteiam o solo, abrindo leiras para receber a semente no milagre cotidiano da multiplicação dos pães, exercem o mais humano e santo dos labores. Demais, o que cumpre considerarmos é a utilidade do trabalho executado. A significação do vocábulo trabalho, segundo os economistas, é a atividade humana empregada na produção de utilidades. Ora, o trabalho dos músculos é tão necessário à sociedade como o da inteligência. Um não é, em rigor, superior a outro, porque ambos os ramos de atividade preenchem as necessidades da vida humana.

Onde, pois, a razão de tamanha disparidade no cômputo que se faz dos produtos manuais em comparação com os intelectuais? A única explicação está em que são os intelectuais que fazem as leis e regulam a sua aplicação na sociedade. Vivemos sob o despotismo da inteligência. Daí procede a iniquidade. Sim, a iniquidade porquanto o lixeiro ou o cavoucador que despende o seu maior esforço e que, como a viúva pobre, dá tudo quanto tem, merece perceber um salário que lhe proporcione, e à sua família, relativo conforto e bem-estar. Eles têm direito à vida e aos legítimos prazeres que refrigeram e amenizam as asperezas da luta cotidiana.

O que Jesus apreciou na dádiva da viúva foi o supremo esforço que ela empregou, despojando-se de tudo que possuía, para atender às solicitações da sua crença. Por isso, e só por isso, as suas duas moedinhas de cobre valiam mais que os punhados de ouro que os nababos daquela época lançaram na arca do templo. Apliquemos este critério no valor que damos ao trabalho, e cheguemos à conclusão de que muito merece aquele que muito se esforça, aquele que faz o melhor que pode no exercício do mister que exerce, seja este de que natureza for.

Em realidade, todo o trabalho é intelectual. Os músculos são dirigidos pela inteligência. Não há labor puramente manual, pois que o homem não é máquina de função mecânica e monótona. Os que exercem os rudes misteres musculares são aqueles cuja inteligência ainda não foi educada suficientemente para lhes proporcionar um trabalho menos árduo e mais compensador.

Neste mundo, dadas as suas condições de planeta atrasado, de mundo expiatório, os que sabem mais se locupletam dos que sabem menos, sendo esta a razão das formidáveis desproporções no aquilatar-se o valor das várias modalidades de trabalho, e, como consequência, da distribuição da riqueza.

E, assim se explica a advertência do Mestre dirigida aos seus discípulos: Se a vossa justiça não for superior à dos escribas e fariseus, não entrareis no reino de Deus. A justiça que vigora neste mundo é justiça de escribas e fariseus, cujos frutos são a miséria, as rivalidades e as guerras.

Vinícius

Do Livro : Na Escola do Mestre

sábado, 10 de abril de 2021

EU VENCI O MUNDO: O poder da carne é sempre precário. A vitória do número e das armas é ilusória, efêmera e bastarda. Só o Espírito vence em definitivo, pelo amor e pela dor, com altruísmo e nobreza. O seu triunfo, uma vêz alcançado, consolida-se na eternidade. Jamais oscila nas bases em que se assenta. Sua superioridade se revela em todo o terreno, mesmo naquele que parece inadequado à sua manifestação.[....] Jesus venceu com a verdade, triunfou pelo amor. Felizes daqueles que já perceberam em sua mente e sentiram em seu coração esse acontecimento"






EU VENCI O MUNDO

Jesus, conforme atestam os fatos que com Ele se passaram, sucumbiu no madeiro infamante após haver suportado uma série de afrontas, insultos e flagelações. Os seus o abandonaram; as autoridades civis, cedendo às imposições da clerezia, arrastaram-no ao patíbulo da cruz, depois de publicamente açoitado.

Não obstante, ou apesar disso, o Filho de Deus ousa afirmar categoricamente: Eu venci o mundo! Como, Senhor, se o mundo tripudiou sobre ti e o teu Verbo? Que singular vitória é essa que proclamas? Como devemos entendê-la?

Sim, Mestre e Senhor, realmente venceste, como jamais alguém soube vencer com tamanha glória. Teu objetivo nunca foi o extermínio dos teus adversários, por isso que eles, nas trevas em que se achavam, não sabiam o que faziam.

Os mesmos sacerdotes, que foram os teus ferozes inimigos, não podiam compreender-te, dentro do materialismo religioso em que viviam. O povo aproximava-se de ti atraído pelos benefícios materiais que distribuías.
Ignorava, por completo, quem eras e qual a missão que vinhas desempenhar na Terra. Estavas, portanto, isolado no seio duma geração ignara, adúltera e incrédula. Tudo isso não constituía surpresa nem novidade, pois de tudo tinhas pleno conhecimento.

A materialidade própria e inerente aos mundos expiatórios reinava infrene entre os habitantes deste orbe. Só uma razão, um poder e um direito os homens conheciam: a força.

Competia-te ensinar-lhes, pela palava e pelo exemplo, a descobrir o poder por excelência, a força nobre e soberana que sobrepuja todas as manifestações de valor e fortaleza, expressas no número e nas armas: a força da Verdade e o poder do Amor, que, entrelaçados, representam o reduto inexpugnável do Espírito. 

Para lograres êxito no desempenho do programa que a ti próprio te traçaras, só havia um meio: a renúncia progressiva de ti mesmo, culminando com o sacrifício! Assim o fizeste, atingindo, em cheio, o alvo colimado. Portanto, venceste de fato, triunfaste em toda a linha, podendo, com justeza, proclamar a tua incomparável vitória, dizendo: Eu venci o mundo!

O poder da carne é sempre precário. A vitória do número e das armas é ilusória, efêmera e bastarda. Só o Espírito vence em definitivo, pelo amor e pela dor, com altruísmo e nobreza. O seu triunfo, uma vêz alcançado, consolida-se na eternidade. Jamais oscila nas bases em que se assenta. Sua superioridade se revela em todo o terreno, mesmo naquele que parece inadequado à sua manifestação.

A prova desta assertiva deu a Jesus sobejamente no momento em que, apresentando-se à corte romana, que o procurava no Jardim das Oliveiras, disse: Aqui estou ! Ao proferir, porém, esta frase, exteriorizou o fulgor do seu Espírito a cujo desusado brilho caíram por terra os quadrilheiros, de armas em punho!

Só depois que a Luz do Mundo se encobriu no seu envoltório, é que a soldadesca logrou voltar a si, prendendo o indigitado criminoso. Jesus, pois, não foi capturado: entregou-se voluntariamente à prisão. Um só instante de irradiação da sua potência espiritual fora bastante para demonstrar cabalmente a inanidade de todo o poderio de César, caso o humilde Cordeiro de Deus quisesse prevalecer-se da sua imensa reserva psíquica.

E não se diga que Jesus dissimulou, deixando de usar em sua defesa tamanha força. Como Mestre, o que lhe interessava era exemplificar.

A edificante exemplificação aí está, para os que têm olhos de ver e inteligência capaz de assimilar o que ela significa. O poder verdadeiro reside no Espírito, como resultado do conhecimento adquirido. Jesus manejava os próprios elementos, porque conhecia as leis que os regem sob todas as suas particularidades.

Para Ele não há mistérios na Natureza, nem segredos inescrutáveis no coração dos homens. Seu poder está na razão direta do seu saber. Suas obras dizem o grau da sua evolução intelectual e moral. A maior demonstração de sua grandeza está em fazer-se pequeno, sendo grande; insipiente, sendo sábio; fraco, sendo forte; vencido, sendo vencedor!

A convicção íntima do próprio valor torna o indivíduo paciente, tolerante e longânimo. A Verdade não tem pressa. O amor tudo suporta, tudo espera, tudo sofre.

Jesus venceu com a verdade, triunfou pelo amor. Felizes daqueles que já perceberam em sua mente e sentiram em seu coração esse acontecimento, o maior por certo e o mais significativo que a história humana registrou em suas páginas, por isso que é a vitória do Espírito sobre a carne, da Vida sobre a morte!

Autor : Vinícius
Na Escola do Mestre

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Parábola dos Trabalhadores das Diversas Horas do Dia : "Os olhos humanos não podem medir os valores dessa natureza, mas os do Filho de Deus vão descobri-los nos íntimos recessos da alma humana.[...]É com o Espírito, e não com o corpo, que se constroem as obras que dignificam e imortalizam seus autores."



Artigo extraído do livro "Em Busca do Mestre" - Edições FEESP - 4ª Edição - Março de 1995.



“O reino dos céus é semelhante a um proprietário que saiu pela manhã a assalariar trabalhadores para a sua vinha. Feito com eles o ajuste de um denário por dia, mandou-os para a vinha. 

Saindo à hora terceira, viu outros na praça, desocupados, e disse-lhes: Ide também vós para a minha vinha, e eu vos darei o que for justo. Eles foram. 

Saiu às horas sexta e nona e fez o mesmo. Finalmente, indo à praça à hora undécima, e encontrando ali jornaleiros, disse-lhes: Por que estais todo o dia ociosos? Porque ninguém nos assalariou, responderam. Ide também vós à minha vinha e eu vos darei o que for justo.

À tarde chamou o seu mordomo, dando a seguinte ordem: Chama os jornaleiros e paga-lhes o salário, começando pelos últimos e acabando pelos primeiros. 

Chegaram, então, os da undécima hora e receberam um denário cada um. Vindo os primeiros, esperavam receber mais; porém, lhes foi dada igual quantia. Ao receberem-na, murmuravam contra o proprietário, alegando: Estes últimos trabalharam uma hora e os igualastes a nós que suportamos o calor do dia? Retrucou o proprietário a um deles: Meu amigo, não te faço agravo nem injustiça: não ajustastes comigo um denário? Toma o que é teu e vai-te embora; pois quero dar a este último tanto como a ti. Não me é lícito fazer o que me apraz daquilo que é meu? Acaso teu olho é mau, porque sou bom? Assim os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos; porque muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos”.

A alegoria acima – como, aliás, toda alegoria – exprime e revela um princípio diferente daquele que literalmente enuncia. Parece, à primeira vista, haver injustiça da parte daquele proprietário que manda pagar igual aos obreiros das diversas horas do dia. Pois então – como alegam os que iniciaram o labor pela manhã – será justo pagar o mesmo jornal a nós e aos que entraram às 9, ao meio-dia e até mesmo à undécima hora?
Para entrarmos no mérito do critério em que se baseou o proprietário da vinha, cumpre lembrarmos que a parábola em apreço tem relação com o reino dos céus, isto é, com os meios e processos empregados para sua conquista. Neste particular, o tempo constitui elemento de somenos importância. “A cada um será dado segundo as suas obras” e não segundo o tempo, mais ou menos dilatado, de sua atuação nos arraiais do credo que professa. Assim, pois, se os jornaleiros da hora nona e do meio-dia fizeram, pela maior soma de atividade empregada, tanto como os da manhã, é natural que recebessem o mesmo jornal, por isso que o proprietário havia prometido dar-lhes o que fosse justo. E aos da undécima hora? Seria possível, em tão minguado tempo, fazer o mesmo que os demais? Pelo dedo se conhece o gigante, reza o rifão popular. Que teriam produzido aqueles assalariados ao decurso de uma hora? Aqui entra em jogo um fator de sabida importância, no que respeita ao merecimento do obreiro: a qualidade da obra.

Certamente, o pouco que fizeram os da undécima hora supera tanto em qualidade, ao que fizeram os outros, em quantidade, que os bons olhos do proprietário entenderam ser de justiça dar-lhes a mesma paga. Em realidade o que ele viu é que o trabalho destes valia mais que os dos outros, fazendo nesse cômputo abstração do fator tempo.

A sabedoria da sentença evangélica – a cada um será dado segundo as suas obras – abrange dois aspectos distintos: o objetivo e o subjetivo. Somente no conhecimento exato de ambos é possível apurar com acerto e com justiça. Os homens julgam comumente através do prisma objetivo das obras, porque não lhes é dado penetrar no plano subjetivo. Daí a precariedade dos seus juízos e das suas sentenças. Por vezes, há mais estimação nos feitos sem maior importância, que nas vultosas obras que impressionam os sentidos. Aquela pobre viúva que lançou no gazofilácio do templo duas moedinhas de cobre de valor ínfimo, deu mais, disse o intérprete da divina justiça, do que os argentários que ali despejavam moedas de ouro e mancheias. O valor da oferta da viúva é de natureza subjetiva, está no que se não pode ver nem tocar, porquanto está na intenção e nos motivos com que a oferta foi feita; está finalmente, no sacrifício daquela mulher que se havia privado de tudo que possuía, mesmo do que se achava reservado ao seu sustento. Os olhos humanos não podem medir os valores dessa natureza, mas os do Filho de Deus vão descobri-los nos íntimos recessos da alma humana.
Recapitulando, recordemos mais uma vez que a semelhança ora comentada se relaciona com o reino dos céus. Somos todos jornaleiros da vinha do Senhor, que é o planeta onde nos achamos. Cada um age no setor que lhe foi destinado, iniciando o trabalho em horas diversas.

 O Proprietário observa atentamente a maneira como os seareiros mourejam, julgando o mérito individual, não pelo tempo nem pelo volume da produção, mas pelo cunho de perfeição imprimido à obra. 

O bom obreiro tem os olhos fixos no mister que executa e não nos ponteiros do relógio. Pensa menos na recompensa que no bom acabamento da sua tarefa.

O trabalho é santo pela sua mesma natureza e, sobretudo, pela alma do operário nele encarnada. “Só canta bem que canta por amor”. Os músculos refletem as vibrações do cérebro e do coração. A inteligência e os sentimentos dirigem as mãos, tanto do humilde operário como às do maior e mais consumado artista. É com o Espírito, e não com o corpo, que se constroem as obras que dignificam e imortalizam seus autores.
Nós, portanto, jornaleiros encontrados ociosos na praça, trabalhemos com simplicidade e santidade na vinha do Senhor. Imprimamos em nossos atos aquela naturalidade com que os pássaros gorjeiam e aquela dedicação com que eles fazem os seus ninhos. Não os preocupemos com o peso e a suntuosidade das nossas obras; tampouco nos deixemos impressionar com o tempo que temos empregado em produzi-las e, menos ainda, com a recompensa presente ou futura: Deus nos dará o que for justo. Confiemos, como confiaram os jornaleiros das derradeiras horas, pois “os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros; porque muitos serão chamados e poucos os escolhidos”.
E, assim, verificamos que a parábola em apreço encerra a mais bela e excelente apologia da JUSTIÇA.

Pedro de Camargo ( Vinícius)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

O CEGO DE NASCENÇA : O CASO NÃO ERA EXPIAÇÃO[...]PORÉM SIGNIFICATIVA MISSÃO[...] O MOÇO CEGO ASSUMIRA O COMPROMISSO [...] A FIM DE DAR TESTEMULHO PÚBLICO DE QUE JESUS É A LUZ DO MUNDO[...]ELE VEIO(JESUS) ...ABRIR OS OLHOS DA ALMA AOS QUE TÊM FOME E SEDE DE LUZ , PONDO AO MESMO TEMPO, A DESCOBERTO, A CEGUEIRA DOS ORGULHOSOS QUE DOGMATIZAM DE SUAS CÁTEDRAS,BLASFEMANDO DO QUE IGNORAM.

 


O CEGO DE NASCENÇA


"Jesus, passando, viu um homem cego de nascença. Perguntaram-lhe os discípulos: Mestre, quem pecou para que este homem nascesse cego, ele ou seus pais? Respondeu Jesus: Nem ele pecou nem seus pais, mas isto se deu para que as obras de Deus nele sejam manifestas..

Tendo assim falado, misturou saliva com terra e, fazendo barro, aplicou-o nos olhos do cego dizendo: Vai lavar-te no tanque de Siloé. Ele foi, lavou-se e voltou com vista." - João, 9:1-7.


A pergunta dos discípulos sobre os motivos da cegueira daquele homem não foi descabida, No entanto, o caso não era de expiação para o padecente, nem de provação para seus pais. Tratava-se de modesta, porém significativa missão.


O Espírito encarnado no moço cego assumira, no Além, o compromisso de nascer privado da vista a fim de dar testemunho público de que Jesus é a luz do mundo, o Messias prometido.


Após haver respondido à interpelação que lhe foi dirigida, o Mestre aproximou-se do cego, e, untando-lhe os olhos com barro, composto de saliva e terra, disse-lhe: Vai lavar-te no tanque de Siloé. Ele foi, lavou-se e voltou vendo.


Porque teria o Senhor usado aquela original terapêutica? Não poderia operar a cura independente do processo empregado? Ele agiu assim para completar o testemunho que o moço havia de dar, por isso que a denominação Siloé quer dizer Enviado.


Se os homens daquele tempo, e de todos os tempos, dispondo, embora, de vista física, tivessem "olhos de ver", por certo se convenceriam de que Jesus, de fato, é o Filho de Deus. Sendo, porém, cegos de espírito, nenhuma conclusão tiraram outrora, nem tiram na atualidade, dos prodígios e das maravilhas por Ele levadas a efeito.


Nada obstante, o milagre em apreço causou escândalo. A testemunha do Enviado foi levada à presença dos fariseus, que a interrogaram minuciosamente. O caso foi narrado com simplicidade e firmeza. Não havia negá-lo. Era evidente.


Mas, alegaram os sofistas adversários do Senhor: Esse que te curou não é de Deus, não guardou o sábado. E, obstinados em sua incredulidade, mandaram vir os pais do mancebo e os interpelaram: E' este o vosso filho, que dizeis haver nascido cego? Como, pois, ele agora vê?


Sim, este é nosso filho que nasceu cego; como, porém, agora vê, não sabemos; interrogai-o diretamente, já tem idade, falará por si. Assim disseram os pais, temendo serem expulsos da sinagoga, porque estava já estabelecida aquela pena para os que confessassem ser Jesus, o Cristo.


De novo, pois, é chamado o ex-cego, a quem disseram: Dá glória a Deus; nós sabemos que aquele que te curou é pecador. Redarguiu o mancebo: Se é pecador, não sei; de uma coisa estou bem certo: eu era cego, e agora vejo; desde que há mundo, nunca , se soube que alguém abrisse os olhos a um cego de nascença.


Mas, como foi isso? objetaram os fariseus. Já vo-lo disse, retrucou o humilde instrumento da Verdade porque desejais ouvir de novo? Quereis, acaso, tornar-vos discípulos de Jesus? Discípulo dele és tu, revidaram os fariseus; nasceste todo em pecados, e queres ensinar-nos? E, injuriando-o, expulsaram-no. O Mestre, tendo ciência do sucedido, procurou-o e a ele revelou-se, dizendo:


— Crês tu no Filho

— Quem é ele, Senhor, para que eu nele creia?

— Já o viste, e é ele quem fala contigo.

— Creio, Senhor. E o adorou.


Concluiu, então, Jesus: Eu vim a este mundo para um juízo, a fim de que os que não vêem, vejam; e os que vêem, se tornem cegos. Assim, realmente, tem acontecido. No desempenho de sua missão, o divino Enviado vai iluminando os simples que intimamente se confessam inscientes, e confundindo os vaidosos e presumidos que se julgam sábios.


Ele veio, de fato, abrir os olhos da alma aos que têm fome e sede de luz, pondo, ao mesmo tempo, a descoberto, a cegueira dos orgulhosos que dogmatizam de suas cátedras, blasfemando do que ignoram.


A história se repete. O que se passou com o Enviado, quando no desempenho das exemplificações que realizou no cenário terreno, passa-se, agora, com relação à fenomenologia e à ética espíritas.


O farisaísmo hodierno continua sofismando e negando. Um grande número, temendo excomunhão, não reflete em público a luz que bruxuleia em seu íntimo.


Todavia: Veritas vincit.


Vinícius

sábado, 20 de fevereiro de 2021

O ESCÂNDALO E SEUS INSTRUMENTOS: "Os homens se assemelham a certos reservatórios dágua. Olhando-se esta, superficialmente, decantada como está, parece límpida, cristalina e pura; mas, tomando-se uma vara e revolvendo o fundo do tanque, eis que se turva, escurece[...] O indivíduo que se estuda e se analisa, procurando sondar os arcanos profundos do seu ser, fica conhecendo as tendências e as inclinações viciosas que lhe são próprias. De posse desse importante dado, o homem, vigiando e orando, como recomenda o Condutor por excelência da Humanidade, pode perfeitamente afastar de si as possibilidades de provocar escândalo. É de grande sabedoria o prolóquio que diz: É melhor prevenir que remediar"".


         





           O ESCÃNDALO E SEUS INSTRUMENTOS





Comecemos por trasladar, a propósito deste tema de grande interesse para todos nós, o texto evangélico de Mateus, Cap. XVII, v. 7 a 9.


"Ai do mundo por causa dos escândalos ! porque é necessário que haja escândalos; mas aí daquele homem por quem vem o escândalo! Portanto, se a tua mão, ou o teu pé, te escandaliza, ou te serve de tropeço, corta-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida manco ou aleijado do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno. Se o teu olho te serve de pedra de tropeço, arranca-o e lança-o fora de ti; é preferível entrares na vida com um olho só do que, tendo dois, seres lançado na Geena de fogo".


Só mesmo que conhece a fundo as fraquezas e as mazelas humanas pode nos proporcionar um ensinamento tão eloquente e de tanta relevância.


Aí do mundo por causa dos escândalos ! Porque é necessário que haja escândalos; mas, ai daquele homem por quem vem o escândalo!


O Mestre quer dizer com estas palavras que o mundo está na contingência de ser, como realmente é, teatro de escândalos. Habitada por Espíritos atrasados, tanto na esfera dos encarnados, como no seu ambiente exterior, onde pululam as almas daquela mesma categoria, aguardando o ensejo de vestirem a libré da carne, a Terra tem sido, e ainda é, cenário de lutas fratricidas, de rivalidades soezes, de inveja com seu cortejo de perfídias; de orgulho, sempre melindrado, assumindo aspectos, ora de ferocidade, ora de ridicularia, ora, ainda, de estupidez; de ambições desaçaimadas, provocando a ruína de uns para gáudio de outros, a pobreza e a miséria para o enriquecimento de poucos; finalmente, da hipocrisia e da filáucia dos intrujões de baixo e alto coturnos, agindo por conta própria, ou como representantes de instituições poderosas e, porque poderosas, privilegiadas.


Assim, pois, como orbe expiatório, não admira que os escândalos se sucedam, sem solução de continuidade, em seu seio. O escândalo, como é sabido, se caracteriza nos atos indecorosos, nas atitudes impudicas e até mesmo na conduta ou procedimento que destoa do uso e das convenções adotadas pela maioria. Pondo de parte esta última modalidade, a qual nada tem que afete a moral, o escândalo nada mais é que a exteriorização das sujidades morais ocultas no interior dos homens.


É do coração, diz o Evangelho, em sua linguagem simples e concisa, que vem o roubo, o adultério, o homicídio, a inveja, o dolo e as loucuras. O escândalo, portanto, é a manifestação daquilo que jazia oculto nos meandros dos corações, nas profundezas da alma humana. Uma circunstância qualquer, um momento azado, um choque inesperado se incumbe de pôr a descoberto o que se achava encoberto, tornando do domínio público o que estava em segredo. O escândalo, pois, é a revelação de um mal existente no indivíduo, revelação provocada pelos atritos da vida de relação, pelos entrechoques de interesses e vaidades, ou por simples circunstâncias ocasionais.


Daí a sábia observação do Instrutor da Humanidade: É preciso que haja escândalos, mas ai daquele por quem o escândalo vem! Sim, é necessário que os homens se revelem, que mostrem o que realmente são, que se venha a saber e conhecer as suas intenções e pensamentos reservados. Provocando o escândalo e suportando as consequências que do mesmo decorrem, o homem acaba corrigindo-se, mudando de atitude e de proceder. Este fato justifica plenamente a moralidade da sentença: É necessário que haja escândalos.


Os homens se assemelham a certos reservatórios dágua. Olhando-se esta, superficialmente, decantada como está, parece límpida, cristalina e pura; mas, tomando-se uma vara e revolvendo o fundo do tanque, eis que se turva, escurece, assumindo aparência desagradável e até repugnante. Por quê? Simplesmente porque veio à tona a imundície que se achava acamada nas paredes do reservatório. Este é o meio e o processo de limpá-los: não existe outro. É o que sucede com as nossas almas. Sua purificação se processa, agitando-se, pondo em suspensão as espurcícias que ela traz escondida em seus escaninhos mais íntimos.


As impurezas do Espírito são ainda comparáveis àquelas de que a lues impregna o sangue, originando enfermidades várias, chagas e tumores que se localizam nesta ou naquela região do corpo. Esses tumores devem ser abertos e drenados para que o pus escoe até a derradeira gota, embora escandalize a vista e o olfato dos circunstantes.


S. Paulo, no seu zelo pelas igrejas que fundava, dirigiu à de Corinto uma epístola da qual extratamos o seguinte trecho, que muito se relaciona com o assunto em apreço: Sei que há contendas e dissídios em vossa igreja... Pois é necessário mesmo que haja divisões e até heresias entre vós, para que os aprovados fiquem manifestos. (Aos Coríntios, 11-18 e 19). Aqui se trata do escândalo no seio de uma comunidade. Paulo não estranha o caso. Reputa como acontecimento natural, mostrando seu prisma favorável, através da seleção que determina, separando os aprovados daqueles que o não são. Esse método seletivo é benéfico às instituições que colimam ideais nobres e elevados, escoimados dos elementos inconvenientes e irredutíveis que perturbam e embaraçam a sua marcha.


É assim que o ânimo varonil de Paulo não se abatia diante dos escândalos verificados nas igrejas que ia organizando, no desempenho de sua missão evangelizadora. Ele via nesses escândalos um processo salutar de expurgo, contribuindo para desenvolvimento e progresso das comunidades cristãs.


No decurso dos três anos de seu messianato, Jesus teve ocasião de constatar, entre os apóstolos, alguns escândalos que certamente repercutiram dolorosamente sobre ele. Tal foi o proceder de Pedro, negando-o por três vezes, abertamente. Dessa culpa, o velho Pescador se penitenciou depois, amargamente, tornando-se firme e vigilante durante o resto de sua existência. Colheu, portanto, um proveito da própria queda, do mesmo ato de pusilanimidade em que incorreu.


Escândalo maior, de larga repercussão, cujos rumores atravessaram os séculos, perdurando ainda, foi por certo o de Judas Iscariotes, entregando o seu Mestre aos esbirros romanos, mediante o preço de 30 dinheiros, recebido dos sacerdotes judeus. Esse grave delito produziu consequências dolorosíssimas, determinando em Judas, arrependido, tamanho remorso, que o arrastou ao suicídio. Sua razão, então confusa e atrabiliária, conturbada e aflita, entendeu de punir aquele crime com a pena de morte, aplicando-a em si mesmo.


No paroxismo da mais veemente contrição, Judas se fez juiz em causa própria, reconhecendo a gravidade de sua culpa e contra ela lavrando e executando a pena máxima. De um transe tão penoso e amargurado resultou, como é natural, o aniquilamento do homem velho, com suas paixões inconfessáveis, ressurgindo uma criatura nova, purificada no cadinho da dor, redimida pelo batismo de fogo e reintegrada no desempenho da missão para a qual fora escolhida pelo próprio Cristo de Deus. De um grande mal resultou um grande bem.


E assim se justificam estas sábias palavras do inigualável Pedagogo, do incomparável Sociólogo e Psicólogo — Jesus de Nazaré: É necessário que haja escândalos, mais ai daqueles por quem o escândalo vem!


É conveniente deixarmos bem assinalados estes esclarecimentos: pois não estamos fazendo apologia, mas estudo dos escândalos e suas consequências. O escândalo é um mal, porém um mal necessário, como as cadeias, os presídios, o divórcio, etc., dadas as condições dos Espíritos que se encarnam neste planeta de provas e expiação. Assim pensando, disse o poeta espírita, Alarico Cunha: Que importa a intemperança, a orgia, a bebedeira, Se for para solver a taça derradeira!


Quem realiza o Amor, embora seja rude, Reconhece no Vício a sombra da virtude.


Que importa a luta armada, a monstruosa guerra, Se for para trazer a Paz à Terra!


Que importa a inclinação que temos para errar, Se o erro nos ensina a regra de acertar!


Se Paulo não persegue o exército cristão, Talvez não lhe sorrisse a Santa Conversão: Tão sublime, tão grande e cheia de heroísmo, Que o seu nome fundiu-se ao do Cristianismo. E eis porque Jesus, por muito nos amar. Vedou-nos o direito e o voto de julgar.


Prosseguindo na dissecação do texto evangélico, meditemos ainda sobre a seguinte alegoria que faz parte dele: "Se a tua mão, ou o teu pé, te serve de escândalo, corta-o e lança-o fora de ti; pois é preferível entrar na vida manco ou aleijado do que, tendo dois pés e duas mãos, ser lançado no fogo. Se o teu olho te serve de escândalo, arranca-o e lança-o fora de ti, porque é melhor possuir a vida com um só olho, do que tendo dois, ser lançado na Geena".


A figura acima nos ensina que devemos empregar todos os meios ao nosso alcance, mesmo aqueles mais rígidos e penosos, a fim de não nos tornarmos motivos ou instrumentos de escândalo. É possível, por certo, evitar o escândalo. O sábio Educador não prescreve aos seus educandos doutrinas e preceitos inexequíveis. Para fugirmos do escândalo, é bastante alcançarmos a condição expressa no velho aforismo socrático: Conhece-te a ti mesmo.


O indivíduo que se estuda e se analisa, procurando sondar os arcanos profundos do seu ser, fica conhecendo as tendências e as inclinações viciosas que lhe são próprias. De posse desse importante dado, o homem, vigiando e orando, como recomenda o Condutor por excelência da Humanidade, pode perfeitamente afastar de si as possibilidades de provocar escândalo. É de grande sabedoria o prolóquio que diz: É melhor prevenir que remediar.


O já citado Paulo, escrevendo aos núcleos de crentes, assim os aconselhava: Examine-se, pois, cada um a si mesmo. Se nós nos examinássemos a nós próprios, por certo não seríamos condenados. (l.a Coríntios, XI - 28 e 31). Quem se conhece, porque analisa e controla o seu interior, percebe e sente em si mesmo as fraquezas da carne, os impulsos das paixões e os arrastamentos da animalidade ainda não dominada pelas forças do Espírito. É nessa íntima confissão de inferioridade, inerente ao nosso estado evolutivo atual, que se assentam a segurança e a consolidação do bom terreno já conquistado, e de futuros surtos de progresso a conquistar.


Naturalmente, meditando nesta contingência, extensiva a todos os homens, é que o inspirado converso de Damasco se exprime desta maneira: Quando me sinto fraco, aí sou forte. A minha fortaleza se aperfeiçoa na fraqueza. Quando esse gigante da fé confessa peremptoriamente a precariedade de sua humana condição, que diremos nós, míseros calcetas, cumprindo, na penitenciária da carne, a nossa expiação? O citado apóstolo das gentes foi ainda mais longe na exposição sincera do seu estado de alma, dizendo: Que infeliz homem que eu sou: aquilo que quero não faço: aquilo que não quero, isso faço!


É com humildade de Espírito que havemos de vencer as nossas imperfeições, as nossas misérias morais, palmilhando, sem vacilações, com passo firme, a senda infinita da evolução em obediência ao profundo imperativo de Jesus: Sede perfeitos como vosso pai celestial é perfeito. Aquele célebre — vigiai e orai — de que Ele nos fala, encerra um conselho que só poderia ser dado por quem nos conhece em nossas mais íntimas particularidades e nas minúcias mais secretas do nosso coração. Quem vigia desconfia; e quem ora confia. Confiar em Deus, na sua justiça entrosada em sua misericórdia, e desconfiar de nós mesmos, do nosso pseudo valor, do nosso presumido saber e poderio — tal o programa evangélico, tal o critério preconizado pelo Espiritismo.


Não é fácil a vitória, sabemos disso. O que muito vale muito há de custar. A nossa redenção encerra o supremo Bem; portanto custará o supremo esforço. Por isso aconselha o Mestre e Senhor que eliminemos as mãos e os pés, se estes forem causa de escândalo. Que arranquemos os olhos de suas órbitas, se se tornarem motivo de tropeço.


A posse da vida eterna, dessa vida isenta das contingências que se verificam com o nascimento e a morte, compensa todos só esforços, justifica todos os sacrifícios. Tal aquisição importa na vitória do último inimigo a vencer, que é a morte, integrando-nos na imortalidade, em sua acepção positiva e concreta. O doente permite que se lhe ampute a mão, o pé, a perna ou o braço, desde que dessa intervenção cirúrgica resulte a conservação da sua vida corpórea. Consente e se sujeita à ablação de órgãos internos, uma vez que tal medida extrema possa advir probabilidade de cura dos males físicos de que seja acometido. Assim, pois, cumpre também que, no plano espiritual, se empregue o mesmo processo, a fim de evitar as quedas desastrosas das quais o homem venha a ser vítima.


Corta-se virtualmente a mão, deixando de apoderar-se do alheio, deixando de lesar o próximo e afastando as oportunidades de o fazer, desde que percebamos em nós as fascinações ou os pendores que nos poderiam arrastar à prática de atos desonestos; deixando, outrossim, de empregar as mãos para magoai ou agredir o nosso próximo, empunhando armas fratricidas.


O dia em que os homens cortarem as mãos, neste sentido, não haverá mais guerras cruentas e devastadoras, como essa que ora ensanguenta o Velho Mundo. Aliás, as conflagrações deflagradas entre os povos são, a seu turno, explosão monstro de escândalo cujos fatores, acumulados no seio das nações, irrompem, em dado momento, semelhantemente aos vulcões, quando entram em atividade. As lavas da ambição e da cobiça, e mais o fumo negro de ódios recalcados começam então a ser vomitados pela cratera do canhão e pelo bojo dos aviões, que do alto semeiam a morte e a ruína sobre a terra. Amputa-se o pé ou mesmo a perna, não frequentando os meios corruptos, as sociedades dissolutas, as casas de tolerância, os lupanares, ou mesmo as reuniões cujas finalidades seja equívocas e indefensáveis.


Arrancam-se os olhos, evitando as leituras licenciosas, as literaturas enervantes, eivadas de descrições indecorosas; arrancam-se os olhos, não assistindo aos espetáculos e filmes onde se desenrolam cenas impudicas, indecentes e livres, arrancam-se, enfim, os olhos, deixando de utilizá-los na concupiscência, na cobiça da mulher e dos bens de outrem e na maliciosa interpretação de tudo que cai sob o seu domínio. Nesta mesma ordem de considerações, podemos acrescentar, mantendo-se dentro do pensamento do Divino Mestre, mais o seguinte: Se os teus ouvidos te servem de escândalo, rompe, desde logo, os seus tímpanos, pois é melhor ser surdo que ouvir blasfêmias, heresias, contos imorais e pilhérias obscenas, visto como as más conversações corrompem os bons costumes.


Se a tua língua te serve de escândalo, arranca-a e atira para longe de ti, pois é preferível ser mudo, a usar a palavra para caluniar ou denegrir a reputação alheia, para ofender o próximo, para espalhar a mentira e os boatos difamatórios; para ilaquear a boa fé dos simples e dos pequeninos; para iludir, fascinar e confundir a mente do povo, visando a objetivos dolosos; finalmente, para adulterar os próprios pensamentos, dizendo o que não sente, simulando e dissimulando, fingindo e disfarçando os mesmos sentimentos do seu coração, agindo, portanto, em completo desacordo com a seguinte regra áurea, preconizada por Aquele que é a imagem viva da Verdade: Seja o teu falar — sim, sim, não, não, pois tudo o que passa disto tem procedência maligna.


São assim os ensinamentos do incomparável Mestre e único condutor de homens digno de confiança: claros, concisos, isentos de subterfúgios e ambiguidades — fundados todos eles no pleno conhecimento das nossas necessidades. Os fatos se incumbem de dar testemunho, dentro de cada um de nós, da veracidade incontestável da palavra autorizada e sempre oportuna do Verbo Divino.


Não precisamos de intermediários ou intérpretes para essa palavra. A todos Deus concede as faculdades e os meios de perceber e sentir as verdades eternas reveladas do céu. Basta que o homem tenha boa vontade, seja sincero e deseje recebê-las, para que a fonte da água viva, derrame a cristalina linfa, inundando o seu coração, convertendo-o, por sua vez, em manancial, fluindo para a vida imortal, nos paramos celestes.


A lição do escândalo e seus instrumentos, que estudamos, é de grande alcance e importância. Consideremos, para finalizar, um dos seus aspectos mais eloquentes e de impressionante gravidade, ao qual ora nos vamos reportar e cuja evidência temos diante dos olhos, no meio em que vivemos.


Se nós não atendermos à sábia advertência de Jesus, mutilando-nos figuradamente, como Ele aconselha, essas mutilações podem se concretizar um dia, desde que assim determine a justiça imanente na exigência do resgate de culpas e crimes que tenhamos cometido. E assim se explicam os dolorosos casos de anomalia e de aleijões, infelizmente mais ou menos comuns neste mundo.


A cegueira de nascimento, a surdez e a mudez congênitas, a falta de membros inferiores ou superiores, e outras tantas deformidades com que nascem muitas crianças; a imbecilidade e a idiotia que acompanham certos rebentos do berço ao túmulo, que representam se não defeitos ou manifestações exteriores de causas íntimas, isto é, de delitos anteriormente praticados, cuja remissão é solicitada pelos próprios culpados?


A ciência explica essas anomalias como produto de hereditariedade, provenientes da lues, do alcoolismo, etc. Tem razão a Patologia médica em sua parte denominada Teratologia, naquela explicação. Todavia, a ciência se limita à matéria, às deformidades físicas. Quanto, porém, aos motivos por que determinados Espíritos se encarnam em corpos doentes, ela não cogita. A ciência não entra em tal indagação. A nós, porém, como deístas e espíritas, cumpre indagar a perquirir a questão através do prisma religioso do Espiritismo, visto como esta doutrina conjuga a ciência com a religião, aliando a razão à fé.


Deus, em sua justiça, não podia consentir que uma alma sã, isenta de culpas, viesse habitar um corpo enfermo ou deformado. Não concebemos a Divindade divorciada dos seus atributos de justiça e de misericórdia. Portanto, concluímos lógica e racionalmente, que os Espíritos encarnados em matéria impura e virulenta são aqueles que vêm expiar culpas outrora cometidas, pois que um só fio de cabelo não cai das nossas cabeças, se não pela vontade de Deus, conforme ensina o Mestre por excelência, cuja doutrina e cujos preceitos a Terceira Revelação vai revivendo em verdade, e em espírito. Esta particularidade, aliás, é confirmada pela comunicação das almas sofredoras que, arrependidas, reconhecem e confessam o seu passado culposo, respondendo pelos padecimentos da última encarnação que tiveram na terra.


Vinícius


domingo, 16 de março de 2014

O MORDOMO INFIEL

O MORDOMO INFIEL
E' admirável a maneira simples e clara com que o Mestre da Galiléia abordava certos assuntos, tidos, até hoje, como complexos e difíceis de serem apreendidos e solucionados. Jesus tudo esclarecia em poucas e concisas palavras. Os homens, porém, acham que as medidas propostas pelo Instrutor e Guia da Humanidade, acerca de vários problemas sociais, são impraticáveis.

Mas a grande verdade, verdade que cada vez mais e mais se impõe, é que os homens não conseguem resolver seus perturbadores problemas pelos processos e meios que se afastam daqueles, indicados e preconizados por Jesus. E' excusado tergiversar e contornar os casos. Os homens hão-de chegar à conclusão de que só seguindo as pegadas daquele que "é o caminho da verdadeira vida", lograrão sair do caos em que se acham.

A diferença entre os métodos humanos e aqueles adotados pelo divino Mestre, está em que os homens experimentam, procurando acertar, enquanto que Jesus vai, seguro e certo, ferindo o alvo, sem vacilações nem delongas; está ainda em que os homens agem influenciados pelo egoísmo, ao passo que o Filho de Deus atua sempre iluminado pelas claridades do amor, visando ao bem coletivo.

Vamos, pois, meditar a Parábola do Mordomo Infiel. Vejamos como o Senhor a concebeu, segundo o relato de Lucas — Cap. XVI, l a 13.
"Havia um homem rico que tinha um administrador; e este lhe foi denunciado como esbanjador dos seus bens. Chamou-o, então, e lhe disse: Que é isto que ouço dizer de ti? dá conta da tua administração; pois já não podes mais ser meu administrador.

Disse o feitor consigo: Que hei-de fazer, já que o meu amo me tira a administração? Não tenho forças para cavar, e de mendigar tenho vergonha. Eu sei o que farei, para que, quando despedido do meu emprego, tenha quem me receba em suas casas. Convocando os devedores do seu amo, perguntou ao primeiro: Quanto deves ao meu amo ? Respondeu ele: Cem cados de azeite. Disse-lhe então: Toma a tua conta; senta-te depressa e escreve cinquenta.

Depois perguntou a outro: Quanto deves tu? Respondeu ele: Cem coros de trigo. Disse-Ihe: Toma a tua conta e escreve oitenta. E o amo, sabendo de tudo, louvou o mordomo infiel, por haver procedido sabiamente; porque os filhos do século são mais sábios na sua geração do que os filhos da luz. E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da iniquidade, para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.

Quem é fiel no pouco, também será no muito; e quem é infiel no pouco, também o será no muito. Se, pois, não fostes fiéis nas riquezas iníquas, quem vos confiará as verdadeiras? E se não fostes fiéis no alheio, quem vos dará o que é vosso?Nenhum servo pode servir a dois senhores; pois há-de aborrecer a um e amar a outro, ou há-de unir-se a este e desprezar aqueles. Não podeis servir a Deus e as riquezas.

Em tal importa, em sua literalidade, a Parábola do Mordo infiel. Para sermos sintéticos, como é aconselhável que sejamos em crônicas desta natureza, comecemos por interpretar as personagens que figuram neste conto evangélico. Quem é o rico proprietário? Onde a sua propriedade agrícola? Quem é o administrador infiel? Quem são os devedores beneficiados pela astúcia do mordomo demissionário?

O proprietário prefigura indubitavelmente Aquele que é a Causa Suprema e Soberana, Aquele que é a Causa donde procede o Universo: Deus. Ele é o Senhor, criador, plasmador e mantenedor dos seres, dos mundos e dos sóis. Nele vivemos e nos movemos, porque dele somos geração — como disse Paulo de Tarso.

A propriedade a que alude a parábola é o planeta que habitamos: a Terra. O mordomo infiel — somos nós; é o homem. A nossa infidelidade procede do fato de nos apossarmos dos bens que nos foram confiados para administrar. Somos mordomos dolosos porque praticamos o delito que juridicamente se denomina — apropriação indébita.

Deste caráter são todos os haveres que retemos em mãos, considerando-os nossa propriedade. A realidade, no entanto, é que daqui, da Terra, nada é nosso. Não passamos de simples administradores. Tanto assim, que o dia de prestação de contas chega para todos. E' o que na parábola representa — a demissão. Todo mordomo infiel será, com a morte, despedido da mordomia, despojando-se, então, muito a contragosto, dos bens materiais em cuja posse se achava.

A despeito dos homens saberem que é assim, visto como estão vendo, todos os dias, os abastados serem privados das suas riquezas, as quais passam a pertencer, temporariamente, a terceiros, eles dedicam o melhor de sua inteligência e dos seus esforços na conquista e na retenção dos bens temporais. Iludem-se, deixando-se sugestionar com a idéia de posse. E, nesse delírio, os homens vivem, porfiam e lutam há milênios, sem que se convençam de que tudo, neste mundo, é precário e instável.
Não só as riquezas e fazendas não nos pertencem, como não são igualmente nossos aqueles que estão ligados a nós pelos laços da carne e do sangue. A esposa diz: meu marido. Este, de igual modo, reportando-se à companheira, diz: minha esposa. De fato, porém, não é assim. O estado de viuvez em que ficam homens e mulheres reflete, penosamente, a grande verdade: daqui, nada é nosso.

Com que profundo e sagrado apego as mães dizem: meu filho! Eis que esse filho das suas entranhas, carne da sua carne e sangue de seu sangue, é chamado para o Além, e a mãe fica sem ele! O próprio corpo com que nos apresentamos, essa vestidura carnal que nos dá a forma sob a qual somos conhecidos, também não nos pertence, pois podemos ser privados da sua posse.

E' assim tudo neste meio em que ora vivemos: nada é nosso. Somos meros depositários e usufrutuários, por tempo limitado e incerto, de tudo que nos vem às mãos, inclusive parentes, amigos, mocidade, saúde, beleza até mesmo o indumento físico com que nos achamos vestidos.

Não obstante, todos nos apegamos às coisas terrenas, como se realmente constituíssem legítima propriedade nossa. O egoísmo age em nós como velho instinto de conservação, determinando nossa conduta. Pois bem, já que nos apossamos indevidamente da propriedade que nos foi confiada para administrar, façamos, então, como o mordomo da parábola em apreço. Que fez ele? Conquistou amigos com a riqueza do seu amo. De que maneira? Convocando os devedores daquele, e reduzindo as suas dívidas, para que, após a demissão do cargo que exercia, pudesse contar com amigos que o favorecessem.
O amo, sabendo desse procedimento, longe de censurar, louvou a prudência e a sabedoria do mordomo. E Jesus termina a parábola, dizendo: Assim, eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da iniquidade, para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles, nos tabernáculos eternos.

E' bastante claro o conselho do Mestre, o qual pode ser assim resumido: já que vos apoderais das riquezas terrenas como se fossem vossas, fazei ao menos como este mordomo — isto é, beneficiai os que sofrem, atentai para os necessitados, minorando as suas angústias e padecimentos. Toda vez, pois, que acudimos as necessidades do nosso próximo, reduzimos a conta dos devedores, de vez que toda a sorte de sofrimento importa, quase sempre, em resgate de débitos passados.
Procedendo desta maneira, quando, despojados dos bens terrenos, partirmos para os tabernáculos eternos, teremos ali quem nos receba e acolha com bondade e gratidão. Cumpre notarmos esta frase do Mestre: "Porque os filhos deste século são mais sábios na sua geração do que os filhos da luz. Quer isto dizer que o século, foi mais sábio, preparando o seu futuro, aqui no mundo, dos que os filhos da luz, no que respeita ao modo como procedem para assegurar o porvir que os espera após a morte.


Realmente, se os já esclarecidos sobre a vida futura agissem, procurando garantir a sua felicidade vindoura com o afã e o denodo com que os homens do século procedem no terreno utilitário, para satisfazerem suas ambições, certamente aqueles já teriam galgados planos superiores, deixando uma esteira de luz após a sua passagem por este orbe de trevas.
Basta considerarmos a soma dos esforços, de engenho, de arte, arrojo e sacrifício que os homens empregam na guerra, para ver como os filhos do século vão ao extremo, na loucura das suas ambições. Ora, o que não conseguiriam os filhos da luz, se, na esfera do bem, agissem com tamanha dedicação?
Razão tem o Mestre em proclamar que os homens do século são mais esforçados e diligentes, nas suas empresas, do que os filhos da luz em seus empreendimentos. Ratificando a assertiva de que toda riqueza é iníqua, Jesus borda as seguintes considerações : "Quem é fiel no pouco, também o será no muito; e quem se mostra infiel no pouco, por certo o será também no muito. Se, pois, não fostes fiéis nas riquezas iníquas, quem vos confiará as verdadeiras? E se não fostes fiéis no alheio, quem vos dará o que é vosso?

Nenhum servo pode servir a dois senhores: a Deus e às riquezas." Está visto que o pouco, o iníquo e o alheio — que nos foram confiados — representam os bens terrenos; ao passo que o muito, as nossas legítimas riquezas estão expressas nos dons do espírito — tais como a sabedoria e a virtude. Estes, porém, só nos serão concedidos quando o merecermos, isto é, quando, experimentados no pouco, tenhamos dado boas contas.

Conforme vemos, a moralidade desta parábola é clara e edificante, envolvendo interessante caso de sociologia. Quando os homens se inteirarem de seu espírito, deixarão de ser ávidos e cúpidos, prestando o seu concurso aos menos favorecidos, não com aquela jactância e vaidade dos que buscam aplausos da sociedade, nem com a falsa visão dos que pretendem negociar com a Divindade uma posição de destaque no Céu —, mas como o cumprimento de um dever natural, de quem sabe que os bens terrenos não constituem privilégio de ninguém, mas devem ser utilizados por todos os filhos de Deus que envergaram a libré da carne neste mundo, a fim de resgatar as culpas do passado, elaborando, ao mesmo tempo, as premissas de um futuro auspicioso.

Ao gesto de dar esmolas, eivado de egoísmo, e, não raro, de hipocrisia, teremos a idéia de Justiça, derivada da compreensão das responsabilidades assumidas pelos detentores de riquezas, provindas desta ou daquela origem, pouco importa, visto como, consoante o critério evangélico, elas são sempre iníquas. E o meio de justificá-las está em proceder como o mordomo infiel, reduzindo a conta dos devedores, isto é, minorando as angústias materiais do próximo.

São esses os ensinamentos que nos dão os Espíritos do Senhor, que são as virtudes do Céu. Eles assim agem no desempenho do mandato que lhes foi confiado, consoante a seguinte promessa de Jesus:— "Em tempo oportuno, eu vos enviarei o Espírito da Verdade. Ele vos lembrará as minhas palavras e vos revelará novos conhecimentos, à medida que puderdes comportá-los."

Essa plêiade de Espíritos está em atividade. Não há forças nem traças humanas capazes de sustar a sua ação, a qual se exercerá; mau grado os interesses contrariados. Sua finalidade é esclarecer as consciências, revivendo, em espírito e verdade, a doutrina inconfundível de Jesus, o único Mestre, Senhor e Guia da Humanidade, luz do mundo e caminho da verdadeira vida!

Vinícius 
 http://www.acasadoespiritismo.com.br/

domingo, 16 de fevereiro de 2014

A PARÁBOLA DAS BODAS

A PARÁBOLA DAS BODAS
 
Palestra taquigrafada na Federação Espírita do Estado de São Paulo, em 4 de fevereiro de 1945.

Meus prezados Amigos e ouvintes. Graças ao Senhor, aqui estamos, reiniciando as nossas palestras domingueiras, (Vinícius foi o introdutor das Tertúlias Evangélicas, no horário dominical de 10:00 horas, que ainda hoje se"realizam na Federação Espírita do Estado de São Paulo),
as quais, como bem o sabeis, versam sempre sobre a palavra de Nosso Mestre, revivida em espírito e verdade.

Jesus nada escreveu porque, de certo modo, escrever é estratificar, é petrificar a palavra na letra; e a palavra do Senhor é espírito e vida. Peçamos, pois, o auxílio dos mensageiros celestiais, incumbidos de reviver o divino Verbo em sua primitiva pureza, para que esse Verbo seja compreendido e assimilado por nós; roguemos que eles nos assistam e velem por nós fazendo-nos descobrir, através da letra que mata, o espírito que vivifica.

Vamos comentar convosco a parábola das Bodas, notificada por dois evangelistas: Mateus e Lucas, respectivamente, nos capítulos 22 e 14. Ambos relatam a Parábola, cada um conforme os dados que coligiu, ou a impressão que teve no momento em que Jesus a proferiu. A letra tem para nós valor muito relativo. O que nos interessa é penetrar a moralidade, o ensinamento que essa semelhança encerra. É assim que os evangelistas a descrevem: "Então Jesus tomando a palavra, tornou a falar-lhes em parábolas, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um certo rei que celebrou as bodas de seu filho; e enviou os servos a chamar os convidados para as bodas; mas eles não quiseram vir.
Depois enviou novamente seus emissários, dizendo: Ide e dizei aos convidados que tenho o meu jantar preparado; os bois e os cevados estão mortos, e tudo já disposto para a festa. Porém, eles não fazendo caso, foram, uns para o seu campo, outros para o seu negócio. Muitos ultrajaram e maltrataram os servos, dando mesmo a morte a alguns deles. E o rei, tendo notícia do que se passara, encolerizou-se e, enviando os seus exércitos, exterminou aqueles homicidas e as suas cidades. Em seguida, falou de novo aos servos: As bodas, em realidade, estão preparadas, mas os convidados não se mostraram dignos. Ide, agora, às saídas dos caminhos, e convidai para o banquete a todos que encontrardes. E os servos, saindo, ajuntaram os que foram encontrando — coxos, cegos, aleijados e pobres; tanto bons como maus.
E assim ficou cheio o salão nupcial. Então o rei entrou para inspecionar os convivas, vendo entre eles um que não vestia a túnica nupcial. Chegando-se a ele, disse-lhe: Amigo, como entraste aqui sem as vestes nupciais? E ele emudeceu. Disse, então, o rei aos servos: Atai-o de pés e mãos e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes. Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos". (Mateus 22 e Lucas 14).

Esta parábola, como, aliás, todos os ensinamentos do Mestre contidos no Evangelho, só pode ser entendida mediante a assistência dos Espíritos de Luz, incumbidos, como já dissemos, de reviver a santa palavra do Cristo de Deus. E, particularemnte, esta parábola, só será devidamente compreendida em nossos arraiais, isto é, dentro da esfera da Terceira Revelação. Não porque sejamos privilegiados; pois nas Leis Divinas não há privilégios; estes colidem com a Justiça, e a Justiça preside a todas as Leis que regem os nossos destinos. Se dizemos que esta parábola só pode ser interpretada em nosso setor, é porque os demais credos rejeitam a ação do plano espiritual, encastelando-se dentro dos seus dogmas, impedindo, dessarte, que a luz das revelações penetre seus entendimentos e seus corações, impossibilitando os nossos irmãos maiores, que sabem mais do que nós, de cumprirem sua tarefa no sentido de nos impelirem para a frente, na senda da evolução.

Para penetrarmos na moralidade desta singela historieta, devemos começar transportando tudo que nela se encontra, do plano material para o espiritual. Trata-se de uma festa promovida pelo rei para solenizar o himeneu de seu filho. Ora, é sabido que, simbolicamente, Jesus se apresenta como esposo ou noivo, e a sua igreja (comunhão de crentes) como esposa ou noiva. Os Evangelhos reportam-se a essa figura em vários capítulos. Pois — meus Amigos — o que está em jogo, são, realmente, os esponsais do Cordeiro de Deus. Tal consórcio se verifica mediante a comunhão da Igreja de Cristo militante na Terra com a sua Igreja triunfante, sediada nas esferas celestiais. Esse consórcio se dá em virtude e cumprimento da promessa seguinte: Eu vos enviarei o Espírito da Verdade, o Consolador, o Parácleto, para que permaneça convosco e vos revele novos conhecimentos à medida que puderdes comportá-los; e, ainda mais, para que vos lembre e rememore as minhas palavras.

Para que a promessa supracitada se concretize no plano terreno, opera-se a comunhão entre nós, encarnados, e os Espíritos do Senhor que são encarregados de nos trazerem novas revelações, prosseguindo, assim, a obra de nossa redenção, que é obra de educação. A palavra que os mensageiros divinos nos trazem é viva. Entretanto em comunhão conosco difundem a sua vida em nossa vida, o que importa na fusão da Igreja de Cristo que encontra nas paragens celestiais com a sua Igreja terrena, representada pelos que aqui se encontram em luta com os defeitos e imperfeições ainda não vencidos e domados. Essa a verdadeira Eucaristia, porque a Eucaristia de Amor. Mediante esse banquete espiritual é que nós recebemos o pão da Vida que nutre o Espírito. São os mensageiros ou servos do Senhor que nos trazem o pão que vem do céu para nutrimento das nossas almas. O Espírito precisa alimentar-se como sucede com o corpo.
Se é certo que o nosso físico definha por falta de alimento adequado à sua natureza, também a nossa alma fraqueja e sucumbe às tentações se não for convenientemente sustentada com o pão celeste. O rei, promotor do banquete, enviou seus servos, em primeiro lugar, às pessoas gradas, chamando-as para as bodas. Dirão, talvez, mas não há referências a pessoas gradas na semelhança? Notemos, no entanto, que se trata de um festim real, e, nesse caso, o convite deve ser dirigido à elite social. É natural que seja assim. Ademais, vemos no decorrer dos acontecimentos desenrolados no banquete, que, ulteriormente, o convite passou a perder o cunho primitivo, generalizando-se indistintamente, atingindo a toda classe de indivíduos. Portanto, no princípio, o convite teve, de fato, caráter selecionado. no entanto, reza a passagem, as pessoas gradas não se mostraram dignas, não se colocaram à altura da distinção de que foram alvo; antes, desdenharam, levando ao ridículo o convite real.
E, ainda fizeram mais: ultrajaram os servos, os perseguiram dando a morte a alguns deles. E, nessa atitude de hostilidade se mantiveram mesmo após a insistência com que o convite foi reiterado. Indignado, então, o rei chama os servos e lhes diz. Em verdade o banquete está preparado, o que quer dizer que os esponsais vão seguir o seu curso. A festa não pode ser suspensa nem adiada: Ide, pois, e convidai a quanto encontrardes pelas vielas, becos e escaninhos mais ínvios: coxos, cegos, aleijados, bons e maus. E, assim, o salão ficou repleto, pois essa era a vontade do rei.

Ora, o que estamos vendo em tudo isso? Parece-nos bem claro que o banquete é, de fato, a comunhão entre o céu e a Terra. Os fenômenos espíritas constituem o convite. Primeiramente foram chamados a observá-los os mais capazes, isto é, os intelectuais, os portadores de títulos e pergaminhos. Essas manifestações do além prefiguram o primeiro convite que vem sendo dirigido pela misericórdia do Pai celestial, que deseja dar provas que afetem os sentidos, que emocionem, sobre a sobrevivência do homem; provas que atestem, de modo concreto, a continuidade da vida depois da morte do corpo. Os casos de cura pelo Astral, são, positivamente muito interessantes e dignos de serem meditados.
Ainda agora, em Pindamonhangaba, fizeram uma apendicetomia em presença de pessoas insuspeitas, lavrando-se ata minuciosa do acontecimento preternatural. O paciente foi radiografado antes e depois de operado, tendo as chapas revelado o órgão enfermo e sua ablação respectiva. Este caso, que tanta celeuma tem levantado, não é virgem, não é o único. Muitos outros da mesma natureza se verificaram, aqui e acolá. O Interventor do Maranhão, tendo notícia do que se deu em Pinda, veio, pela imprensa, declarar que ele também havia sido, em tempo, operado pelos Espíritos. E não será isso um apelo dirigido aos médicos, aos que cultivam a ciência e a arte de curar? Não será um convite dizendo: Vinde observar o que se está dando no terreno da medicina? Não se trata de frioleira, mas de algo importante para o bem da humanidade sofredora.
O nosso Estádio já é pequeno para conter o avultado número de pessoas que ali vão assistir aos jogos de futebol. O caso em apreço, convenhamos, é mais importante, visto como se trata de enfermo operado por um agente espiritual, um cirurgião que habitou este mundo há muitos anos. Não será caso para atrair a atenção dos esculápios, merecendo meticulosa análise e perquirição? Mas, a grande maioria dos médicos continua negando o fato consumado com o testemunho de seus próprios colegas. Um fato é sempre um fato, ainda mesmo que não possamos explicá-lo em suas minúcias e particularidades. Por que a classe médica não aceita o convite endereçado? Por que não abre os olhos da razão para que, tendo diante de si um doente, saiba que esse enfermo é um Espírito encarnado, e não somente uma máquina? O corpo é máquina, sim, mas máquina divina, instrumento através do qual a alma realiza sua evolução.

A Autoridade Médica a quem compete zelar pelo bem e pela saúde do povo, sabedora do acontecimento, declarou a priori não dar crédito, de vez que a operação fora realizada no escuro. Tanto mais maravilhosa se torna, a nosso ver, essa intervenção, precisamente por ter sido levada a efeito no escuro. Como se explica realizar-se uma intervenção cirúrgica às escuras? A escuridão é dos homens, das suas vaidades e das suas presunções. Os Espíritos do Senhor agem em terreno sempre banhado pelas claridades divinas. Os letrados costumam fechar-se às advertências do céu tornando-se impermeáveis a tal gênero de solicitações, o que justifica plenamente as sábias palavras do Divino Mestre: Pai, graças te dou porque revelas as tuas maravilhas aos simples e pequeninos,e as escondes dos sábios e dos prudentes. Em verdade, Deus não esconde de quem quer que seja suas revelações. Ele é Pai, e todo pai tem interesse em que seus filhos participem dos bens paternos. São os homens que, na sua soberba, se tornam intangíveis às graças divinas.

Existem obras admiráveis, de arte, de filosofia, prosa e verso chegadas até nós mediante a faculdade mediúnica de Francisco Cândido Xavier; farta messe de literatura, de boa literatura, porque não se trata apenas de pirotecnia da palavra mas de literatura que fala à razão e ao coração da humanidade, enriquecem aja vultosa biblioteca espírita. Entre essas produções temos "PARNASO DE ALÉM TÚMULO" enfeixando vasta coleção de versos dos maiores poetas brasileiros e portugueses. Não será isso tudo um convite dirigido aos poetas, aos literatos e homens de letras? Mas, como os médicos, os literatos, a seu turno, salvo raras e honrosas exceções, desdenham e ridicularizam o convite, cobrindo de opróbrio os inofensivos servos que, obedecendo a seu Senhor, lhes vêm trazer a divina mensagem.
Que culpa tem o Chico Xavier de ser ocupado nesse trabalho? De servirem-se dele para proclamar, em voz alta e bom som, esta transcendente verdade: a alma é imortal! Quando o corpo tomba ao sopro da morte, a alma permanece incólume, indestrutível, imortal porque eterna! O médico continua sendo médico, o poeta sendo poeta, o literato sendo literato! Nada obstante, por ser o hífen entre os dois planos — o terreno e o sideral, Chico Xavier tem suportado humilhações e vilipêndios. Foi mesmo, há pouco tempo, chamado à barra dos tribunais através de rumoroso processo cujo eco ainda perdura e como ele, foram, em tempo, também perseguidos Ignacio Bittencourt no Rio de Janeiro e Eurípedes Barsanulfo em Sacramento, Estado de Minas. Os servos, portadores do convite, são, pois maltratados como diz a Parábola.
Provado fica, outrossim, que os componentes da elite social, os primeiros a serem convidados, não se mostraram dignos do banquete. Diante, portanto, dessa obstinação e desse pouco caso, o rei resolveu tornar o convite amplo, sem mais restrições, estendendo-o a todas as camadas. Não são mais os líderes da ciência, da filosofia, das artes e da religião, os únicos contemplados. Mistificadores, homens da má fé, macumbeiros estão em atividade, estão em cena. E o que dizem os homens decentes, que não quiseram comparecer ao banquete? Eles responsabilizam o Espiritismo pela existência dos charlatães e macumbeiros. Mas, o Espiritismo é tão responsável por isso, como a medicina é responsável pela tuberculose, pela lepra, pelo câncer e outras mazelas que flagelam a humanidade.
A medicina diagnostica aquelas enfermidades, aponta os seus perigos, procura estudar as causas que as determinam. Ora, é exatamente isso que faz o Espiritismo com relação às influências perniciosas, de caráter psíquico, atraídas pelo mau procedimento e leviandade dos homens. O Espiritismo chama a atenção dos intelectuais para a fenomenologia astral dizendo que tais fenômenos devem ser estudados cuidadosamente a fim de prevenir os distúrbios e as perturbaçães espirituais. Mas os homens da elite continuam rejeitando o convite, permanecendo encastelados em suas vaidades. Porém, a despeito disso, o banquete continua seguindo os seus trâmites. O salão está cheio, porque os convivas, como diz a Parábola, foram catados nos becos e vielas, sem atender à classe a que pertencem.
O que é preciso é que o salão fique lotado, e que todos venham a saber que o mundo espiritual influi sobre o material. Desprezada a Eucaristia de Amor, rejeitada a comunhão com os distribuidores do pão do Espírito, temos que nos ver às voltas com os fenômenos suportando seus efeitos, desde a simples atuação até a completa possessão. É preciso que seja assim. Pelo amor ou pela dor. Menosprezado o convite do amor, surge o convite da dor. A cada um será dado segundo as suas obras. Após a sala repleta, diz a passagem que o rei fez uma vistoria nos convivas, encontrando ali um que não trajava a túnica nupcial. Então interrogou-o: Amigo, como entraste aqui sem as vestes apropriadas a este ato? A túnica em apreço era indispensável e de rigoroso uso nos esponsais, sendo fornecida pelo próprio rei. O interpelado, compreendendo a culpa, emudeceu, nada alegando em sua defesa. O rei, prosseguindo, chama os servos e ordena: Atai esse homem de pés e mãos e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes. Muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos.

Realmente, é o que estamos vendo na esfera do mediunismo. Quanta gente sem escrúpulos serve-se da mediunidade para explorar; quantos indivíduos sem consciência do que estão fazendo, servem-se das coisas espirituais para fins inconfessáveis? Todavia, não é para se estranhar, de vez que foram convidados os coxos, aleijados e cegos morais encontrados nos becos mais esconsos. Como, pois, não aparecer alguém despido da túnica nupcial?

Termina a Parábola, dizendo: Muito são os chamados, mas poucos os escolhidos. O convite consta de um simples apelo. Corre, à revelia nossa, como também a organização do banquete. O que ocorre por conta de cada um de nós é ser escolhido, ou ser recusado; é nos elevarmos às regiões da luz ou sermos lançados nas trevas exteriores onde há lágrimas e imprecações. Este capítulo é bastante significativo. Há muita gente atada de pés e mãos, isto é, que não sabe para onde vai nem o que está fazendo; há também os que perderam a noção das realidades da vida, e indagam como Pilatos: Que é a verdade? Tais perturbações e tais confusões recaem sobre os que blasfemam da Eucaristia de Amor, profanando os seus arcanos. Aquilo que o homem semeia isso mesmo colherá. Deus é Amor, mas é também Justiça; e a sua Justiça age concomitantemente com o seu Amor.

Repetimos: O Espiritismo não criou os Espíritos, nem a mediunidade, nem a comunhão entre os dois planos de vida — o terreno e o astral, de vez que tudo isso sempre existiu. A Terceira Revelação observa, estuda e aponta os fatos que se relacionam com os problemas espirituais; proclama a imortalidade da alma, não como simples teoria, mas como verdade incontestável porque demonstrada. Sua finalidade primordial não é curar as enfermidades do corpo, mas sim as do Espírito. Portanto, fazemos ponto dirigindo o seguinte apelo aos homens da elite: Senhores médicos: Os Espíritos não pretendem usurparmos o campo da medicina terrena. Continuai medicando os vossos doentes, estudando a causa da enfermidade, procurando, como é de vosso dever, minorar as dores físicas da humanidade.
No entanto, ousamos afirmar que, nos desempenho do vosso sagrado mister, muito mais e melhor fareis quando evoluirdes da escola materialista para a espiritualista. Os Espíritos do Senhor jamais serão vossos concorrentes. Podeis, antes, contar com o seu auxílio e com a Graça do Senhor desde que vos façais merecedores.

Senhores beletristas: Prossegui em vosso labor intelectual embelezando a palavra, acepilhando as frases, elevando sempre mais alto a magia do verbo. Os Espíritos de Luz não concorrerão convosco fazendo sombra à vossa glória e ao vosso mérito. Antes encontrareis nas regiões luminosas do Além a fonte perene das mais belas inspirações.

Senhores sacerdotes: Permanecei em vossos postos anunciando o reino dos céus; porém, ao fazê-lo, erguei os vossos olhos e elevai as vossas aspirações acima do reino da Terra. Lembrai-vos de que é preciso exemplificar, pois a geração atual já pensa, medita e julga. Anunciai o Deus de misericórdia que é também de justiça, e não os deuses particularistas que cumulam de bênçãos estes e proscrevem e condenam aqueles. Anunciai o Pai Nosso, isto é, o Pai da humildade, sem restrições nem privilégios odiosos; o Pai que coloca todos os seus filhos em perfeita igualdade de direitos e de deveres. Os Espíritos não se imiscuirão em vossa seara senão para vos despertar a razão e a consciência no que respeita à imortalidade da alma e à consequente responsabilidade que a acompanhará onde quer que ela esteja.

Vinícius
Na Escola do Mestre