Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!
Mostrando postagens com marcador Obsessão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Obsessão. Mostrar todas as postagens

sábado, 26 de junho de 2021

AUTO-OBSESSÃO POR MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA





Capítulo doloroso do comportamento humano que passa quase despercebido de grande número de pacientes e médicos, é o que diz respeito à auto-obsessão, fruto espúrio do egoísmo que gera o orgulho e os seus hediondos facínoras, quais o ódio, o ciúme, a inveja, o ressentimento.

Mais assinalado pelas heranças do primarismo que inspirado pelas conquistas da razão, o indivíduo permite-se algum extremo de proc edimento, impondo os próprios caprichos, sem conceder aos outros direitos equivalentes, derrapando na defesa da auto-imagem, considerando-se sempre a pessoa correta e melhores as suas opiniões. Quando isso não ocorre, entrega-se ao desleixo e abandona o esforço de crescimento interior a prejuízo das conquistas ético-morais que o capacitam para o avanço pela senda do progresso.

No primeiro caso, sofre o conflito de perfeccionismo, acreditando ser o indicado para tudo fazer melhor, e, quando assim acontece, levanta queixas e críticas contra os demais elementos do grupo social no qual se movimenta. Assevera que ninguém o entende, que as suas são as melhores intenções e o seu sacrifício em favor de todos não é levado em consideração merecida. Exigente, a todos agride, tornando o verbo amargo e ferino, possuindo as mãos calçadas por luvas de espinhos, e dedo em riste apontando sempre erros imaginários ou reais, que poderiam ser corrigidos mediante o estímulo edificante àqueles que os cometem.

Na segunda vertente, a destruição da imagem atira-o ao fosso do desestímulo e do desrespeito por si mesmo, abandonando a luta antes de enfrentá-la, assim tombando inerme na auto-obsessão, proibindo-se qualquer esforço para mudar de atitudePode-se notar que ambas condutas são profundamente autodestrutivas,trabalhadas pelas fixações pretéritas das existências infelizes de que não se conseguiu libertar.

Ressumando do inconsciente atual através dos delicados mecanismos do perispírito, impõem-se, perturbadoras, tornando-se algozes que infelicitam sem piedade aquele que lhes padeceram as injunções perversas.

O perfeccionista atormenta a todos, porque vive inquieto, desconfiado dos próprios valores, buscando o aplauso exterior, face à insatisfação interna de que se vê objeto. A auto-imagem que tenta apresentar não corresponde à realidade, razão porque, passado o momento das exigências que comprazem ao ego, derrapa em rebeldia contra si mesmo, afligindo-se com remorsos injustificáveis que não ajudam a reeducação, porquanto logo volve aos disparates habituais.

Na fase, porém da auto-recriminação – conduta que é autodestrutiva – amargura- se e desanima ante as atividades que devem ser leva das adiante. Cessados os efeitos momentâneos dessa reflexão perturbadora, reassume apostura inadequada de censor inclemente, sempre disposto a agredir.

Já o desleixado, que se autopuniu mediante o desprezo a que se atirou, guarda interiormente o sentimento de orgulho ferido, agredindo o grupo social através do mecanismo de vingança que, na impossibilidade de atingir a quantos crê não o respeitarem, volta-o contra si mesmo, matando a imagem dos outros na sua figura desprezível.

Todas essas e outras síndromes de condutas enfermas desenham o quadro patológico da auto-obsessão, em que o paciente lúcido sabe o que está fazendo, sem interesse real de empenhar-se para alterá-lo trabalhando por uma nova maneira de conquistar a saúde emocional.

Ocorre que, em situações de tal natureza, a questão de sintonia faz-se naturalmente e são sincronizadas as próprias com outras mentes de seres desencarnados que estagiam na mesma onda psíquica, perturbados e infelizes, aderindo aos que lhes são equivalentes, nutrindo-se reciprocamente enquanto mais se desgastam.

Torna-se urgente que sejam estudadas tais condutas  patológicas nas áreas do animismo como do mediunismo, a fim de que essas ressonâncias sejam interrompidas, enquanto agentes e pacientes recebam a terapia conveniente, que tem por base o esforço
pela transformação moral do ser, aplicando-se à autovigilância encarregada de minimizar, remediar e evitar a reincidência dessa extravagante forma de comportamento.

Curiosamente, podemos encontrar suas vítimas entre pessoas realmente generosas, porém, enquanto forem aceitas suas imposições ou negligências, conforme cada qual se apresente.

A característica comum desses pacientes é a dificuldade que têm de laborar em grupo, em razão do egoísmo que os assinala, do orgulho que se fere com facilidade, dos ressentimentos que se demoram arraigados, dos ciúmes que se permitem, nunca valorizando as demais pessoas que formam o conjunto.

Podem mesmo possuir ideais nobilitantes, sem que abdiquem dos
pontos de vista que devem sempre predominar, tornando-se arbitriamente líderes por imposição, quando esses, em realidade o são por inspiração e métodos adequados, salutares, de conduzir aqueles que se lhes acercam.

Mais lamentável é a patologia auto-obsessiva, porquanto permanece além do túmulo, amargurando com sevícias cruéis o enfermo deslindado da matéria mas não dos hábitos transtornadores.

A problemática se alonga por período expressivo, muitas vezes sendo necessária a internação em Nosocômios especializados, que o amor de nobres Espíritos edificaram na Espiritualidade com esse objetivo específico.

Somente a pouco e pouco, o calceta desperta para os prejuízos que a sua atitude doentia causou a si mesmo, dando curso a problemas que permanecerão aguardando reparação.

A oportunidade da vida social é de alta magnitude, por ensejar ao Espírito o salutar atrito das arestas que impedem a harmonia, contribuindo para o êxito dos empreendimentos que facultam o progresso do indivíduo assim como o da Humanidade.

No relacionamento entre as pessoas surgem os saudáveis instantes de aprendizado, mesmo quando as circunstâncias não o propiciam diretamente, o que pode ser também positivo. 

Não raro, muitas ocorrências que se apresentam desastrosas com paciência e correção se transformam em legítimas bênçãos que o Espírito utiliza para o desenvolvimento de valores morais adormecidos e conquistas éticas não alcançáveis por outros meios.

A vida é permanente educadora, facultando aos alunos das existências sucessivas o aprimoramento de si mesmos com excelentes ensejos de iluminação da consciência.

Quando convidados ao serviço do Bem, eis que surge mas maravilhosas ensanchas de trabalhar o egoísmo e limar o orgulho, harmonizando-se e fruindo a felicidade que o próprio serviço enseja.

Certamente, a ação edificante é sempre de resultados mais felizes para aquele que a executa, proporcionando-lhe o júbilo de também ser útil aos demais, espalhando esperanças e construindo o melhor, de forma que acrescenta ao existente valiosos contributos que tornam a vida mais bela e significativa.

Cabe, portanto, a todos os indivíduos, o empenho pela transformação moral, a fim de se liberarem do verdugo interior, que são as más inclinações que os levam às dolorosas auto-obsessões com amplos comprometimentos para as interferências danosasdos Espíritos perversos, que se comprazem em afligir todos quantos se lhes tornam vítimas ou estão de alguma forma, vinculados por compromissos infelizes do passado.

Todo o empenho dever ser desenvolvido para que se auo-analisem e tenham coragem de romper com as couraças da falsa invulnerabilidade impostas pelo egoísmo e pelo orgulho.

Enquanto vicejem as expressões da matéria no processo da evolução, o ser se encontra sob os camartelos da fragilidade, necessitando manter a vigilância em torno dos mecanismos que a acionam, e que se transformam em processos de sofrimento, porque assinalados pelos desejos que procedem da anterioridade dos instintos primários por onde deambulou. 

Os remanescentes dessas experiências demoram-se impondo os seus métodos dominadores, tais como a força, o egoísmo, a astúcia, a predominância da violência antes que da razão, arrastando-o com os seus grilhões constritores.

O conhecimento, que conduz à conquista da consciência, consegue operar-lhe a libertação dos desejos infrenes e angustiantes, alçando-o às aspirações luninescentes da espiritualização, graças, à qual, desaparecem os fenômenos da auto-obsessão e das demais outras expressões patológicas obsessivas.

Torna-se inadiável a necessidade de ser aplicado o auto-exame em referência aos pensamentos e atitudes cotidianos, de modo que se façam estabelecidos programas de disciplina mental e emocional, alterando o comportamento doentio, reestruturando a personalidade, a fim de que sejam conseguidas as metas aneladas.

O Espírito é um ser saudável, face à sua origem, experimentando o desabrocharde todas as faculdades que lhe dormem no imo, embora permaneçam por algum tempo as marcas predominantes do trânsito evolutivo, que deverá superar a partir do momento que desperta para a razão.

À medida que se impregna de sentimentos enobrecedores, mais fascínio experimenta pela conquista de patamares elevados, n os quais aspira a mais amplo horizonte de libertação.

O egoísmo, portanto, cujo predomínio em a natureza animal é de largo tempo, deve ser substituído pelo altruísmo através do corr eto esforço de bem servir à coletividade de cujo mister se fruem benesses mais propiciadoras de felicidade.

Enquanto se pensa em plenitude egoísta, persegue-se uma utopia de breve duração.

O ser humano está fadado ao trabalho e à convivência social, nos quais haure recursos para o próprio como para o desenvolvimento coletivo, sem cuja conquista permaneceria em estágio primitivo.

A vida possui, desse modo, a finalidade precípua de ensejar o seu progresso ininterrupto na direção do Psiquismo Divino que o atrai e fascina mesmo que inconscientemente.

A auto-obsessão, desse modo, cederá lugar ao tropismo do Amor que o erguerá dos limites e dores nos quais se encontra, para os indimensionais espaços da auto-realização.

Manoel P. de Miranda
Erkrath, Düsseldorf (Alemanha), 13 de junho de 1998.

Livro: Luzes do Alvorecer 
cap.15 - Distúrbios Emocionais Obsessivos

quinta-feira, 13 de maio de 2021

PERDA DO DISCERNIMENTO."...Quando o obsidiado luta contra as ideias estranhas que lhe são sugeridas, ainda há esperança de rápida reversão no quadro obsessivo que se desenha, mas quando ele as "incorpora" de modo totalmente passivo, o problema torna-se por demais preocupante e sem qualquer previsão de melhora..."


"... o espirito conduz aquele que veio a dominar como o faria a um cego e pode fazê-lo aceitar as mais bizarras doutrinas, as mais falsas teorias como sendo a única expressão da verdade; bem mais, pode excitá-lo a diligências ridículas, comprometedoras e mesmo perigosas." (Segunda Parte, cap. XXIII, item 239, segundo parágrafo-Livro dos Médiuns)

A obsessão, de início, nem sempre se instala com todo o ímpeto sobre o obsidiado. Poderíamos compará-la a pequena tumoração, que, a pouco e pouco, se desenvolve, chegando, não raro, a tomar conta de todo um órgão...

A obsessão alcança o seu estado de maior gravidade justamente quando o obsidiado perde a faculdade de discernir o que é certo do que é errado.

Confuso, praticamente anulado em suas condições intelectuais, o obsidiado coloca-se à mercê dos espíritos obsessores que lhe substituem a vontade.

Quando o obsidiado luta contra as ideias estranhas que lhe são sugeridas, ainda há esperança de rápida reversão no quadro obsessivo que se desenha, mas quando ele as "incorpora" de modo totalmente passivo, o problema torna-se por demais preocupante e sem qualquer previsão de melhora.

Quando encarnado, em minhas reflexões de jovem adepto da Doutrina Espírita, acreditava que o homem é fruto de si mesmo, ou seja, cada qual colheria rigorosamente de acordo com a própria semeadura; imaginava que a bênção divina não privilegiaria quem dela não se fizesse credor, à custa de esforço intransferível... Depois, quando já mais maduro pela experiência e pelo sofrimento, alterei substancialmente o meu modo de pensar. 

Hoje, mais que nunca, creio que ninguém consegue sair de determinadas situações, sem a intervenção "direta" da mão da Divindade...

Vejamos o exemplo de Paulo de Tarso, o inolvidável Apóstolo dos Gentios. Como ele, sem a sublime visão do Cristo redivivo, às portas de Damasco, poderia modificar o seu interior, passando instantaneamente de ferrenho perseguidor dos cristãos ao maior propagador da Boa-Nova?!...

"Milagres" existem, sim! O Supremo Poder da Vida encerra consigo a prerrogativa de fazer cumprir decretos ou revogá-los, precipitar ou adiar acontecimentos, tornar possível o impossível, sem a efetiva participação da vontade humana!...

Perdoem-me os companheiros de fé que não consigam concordar com semelhante observação, mas, por acaso, a justiça dos homens, embora tão imperfeita quanto a interpretação dos magistrados que a fazem cumprir? A Justiça Divina seria menos magnânima?...

Mutilado no que se refere ao discernimento que deveria norteá-lo, ao médium falta chão para pisar com segurança, mostrando-se prestes a desabar a qualquer instante, no desastre mediúnico inevitável.

Quando no medianeiro ainda sobra alguma luz e ele, então, seja capaz de vislumbrar o perigo a que se expõe, convém que, asserenando intimamente no clima da oração, abdique de qualquer ideia que lhe esteja sub-repticiamente fomentando o personalismo e se auto-interne no anonimato do serviço no bem, procurando, de preferência, socorrer com as próprias mãos os pobres mais pobres na periferia da cidade. 

No entanto, mesmo da prática da caridade genuína, que o médium se acautele contra a falsa noção de santidade que, temerariamente, poderá começar a acalentar a respeito de si mesmo!

Como percebemos, o assunto é complexo e demandaria abordagens meticulosas à exaustão.

Que o médium creia firmemente não ser nada além de um seareiro entre tantos outros, batalhando na difícil tarefa do aperfeiçoamento íntimo, que lhe exigirá repetidas experiências no corpo, já que lhe seria loucura pretender alcançar o Céu de assalto...

Médiuns houve que, infelizmente, passaram a existência inteira dominados por ideias messiânicas, sempre perigosas, crendo-se investidos de alto poder missionário, quando não passavam de mendigos do pão espiritual mais simples que lhes socorresse a fome de luz. 

Muitos deles ainda se podem ver nas ruas das grandes cidades, discursando e gesticulando ao vento em seus delírios de grandeza, quando não ostentando altivo porte em meio à plebe ignara, imperadores que caminhassem entre súditos reverentes...

Quantos deles, de regresso ao Além, não dificilmente são demovidos de suas concepções bizarras, referindo-se ao Cristo, como se o Cristo sequer se lhes igualasse à estatura espiritual?!...

Temamos, pois, a perda do discernimento mais do que a perda da luz do próprio Sol no firmamento!

Livro: Mediunidade e Obsessão-cap.8
Pelo Espírito :Odilon Fernandes em parceria com Carlos Baccelli

quinta-feira, 15 de abril de 2021

INTERFERÊNCIA OBSESSIVA."(...)Lembremo-nos do Cristo quando nos advertiu: "... se vós outros, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos Céus, dará boas dádivas aos que lhas pedirem"...



"A obsessão simples tem lugar quando um espírito malfazejo se impõe a um médium, se imiscui, a seu malgrado, nas comunicações que recebe, o impede de comunicar-se com outros espíritos e o substitui àqueles que são evocados." (Segunda Parte, cap. XXIII, item 238)


Por mais exímio seja um violinista, sua atuação ficará prejudicada, caso o instrumento musical não lhe corresponda às expectativas...

Todo médium, na tarefa a que se dedique pode sofrer interferências de caráter obsessivo, empanando-lhe o brilho. A interferência obsessiva a que nos referimos, em muitos medianeiros acontece de forma intermitente, ou seja, em crises mais ou menos periódicas, tirando-lhes a confiabilidade indispensável junto aos companheiros.

O médium que, do ponto de vista emocional e doutrinário, hoje esteja bem, amanhã não está, não inspira confiança nos comunicados dos quais se faça intérprete por parte dos Mensageiros da Vida Maior. Poderá até operar com relativo desembaraço, intermediando espíritos infelizes, mas nem sempre estará apto para refletir o pensamento que promana das Esferas Superiores.

Até certo ponto, a interferência obsessiva é normal em quase todo medianeiro ainda em luta com as próprias imperfeições, mas quando ela se demore ou se torne, digamos, repetitiva, a faculdade mediúnica "adoece" e reclama tratamento.

O tratamento do médium cuja mediunidade se encontra "doente", à semelhança de leito de rio repleto de calhaus a lhe tornarem revoltas as águas, deve principiar com o próprio medianeiro, em conscientizar-se da necessidade da suspensão provisória de suas faculdades, a fim de que a sintonia estabelecida com os espíritos perturbadores se desfaça...

Atentemos para o fato de que não estamos aconselhando o afastamento sumário do médium enfermo das atividades nas quais encontrará oportunidade de reerguer-se; consideramos de bom alvitre que as faculdades psíquicas do medianeiro em questão sejam saneadas, através do concurso terapêutico do passe, da água fluidificada, da prece, da reflexão conduzida por amigos que por ele se interessem, da leitura que lhe possibilite a renovação das energias e, sobretudo, do trabalho no bem, que lhe permita recomeçar a percorrer o caminho...

Cometem descaridade quando passem a exigir dos médiuns uma conduta moral ilibada, quase que assim lhe cassando a boa-vontade em servir, como possam, aos propósitos do Senhor.

Compreendamos que, sobre a Terra, nenhum médium estará o tempo todo isento dessa ou daquela influência espiritual perniciosa. Repetiríamos, com Kardec, que o melhor médium seria o que menos sofresse o assédio dos espíritos interessados em desnorteá-lo e, através dele, deixando sem rumo dezenas de pessoas... Aliás, da parte dos espíritos desafetos da Luz, há grande interesse em derrubar os médiuns que funcionariam como ponto de referência para os que orbitam à sua volta, promovendo um "desastre" de proporções inimagináveis na rota evolutiva dos companheiros que através deles foram agrupados.

Imprescindível se torna que os amigos dos sensitivos sob interferência obsessiva — seja ela constante ou periódica — ajam em seu benefício, procurando preservá-lo de deslizes
maiores, conscientes de que o pequeno e inevitável tropeço será sempre melhor do que a queda espetacular.

Quanto aos Espíritos Superiores, não os julguemos piores do que nos julgamos a nós, quando chegamos ao absurdo de supô-lo capazes de "virar as costas" aos que não lhes apresentem invariável certificado de santidade e equilíbrio... Lembremo-nos do Cristo quando nos advertiu: "... se vós outros, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos Céus, dará boas dádivas aos que lhas pedirem"...

É lógico que, quando o violino se apresente danificado, o concertista procurará substituí-lo provisoriamente por outro, sem significar que lançará o primeiro (que talvez o tenha servido por tantos anos) na lata de lixo... Logo que o violino cujas cordas se romperam seja reparado, revelando-se capaz de emitir o mesmo som de antanho, o violinista o retomará em seus braços, regozijando-se ao acariciá-lo de encontro ao peito.

Não nos esqueçamos ainda de que, mesmo por entre as nuvens promissoras de borrasca, o Sol costuma brilhar, descortinando caminhos aos que desejem avançar.

Livro: Mediunidade e Obsessão
Autor : Odilon Fernandes psicografia de Carlos Baccelli

domingo, 22 de julho de 2018

Adversários Perigosos "(...) Atraídos pelas imperfeições humanas, imantam-se àqueles com os quais sintonizam, realizando um terrível comércio espiritual.Tenazes e perigosos, espreitam, na situação em que se encontram, as suas futuras vítimas(...)Invadem o campo da vontade daqueles que se permitem sofrer-lhes o assédio, empurrando-os para situações calamitosas, nas quais se comprazem(...)Em grupo, tornam-se mais perigosos, porque logram assenhorear-se de comunidades inteiras, que submetem a obsessões coletivas em forma epidêmica(...) Quando sentires desalento, experimentando desconfiança em relação ao teu próximo, insegurança na realização a que te afeiçoas, mal-estar no serviço do bem, tem cuidado, porquanto esses são sinais de alarme que prenunciam situação porvindoura grave(...)Unge-te sempre de amor e de compaixão, de caridade e de perseverança, graças a cujas vibrações as energias do mal não poderão romper-te as defesas, gerando dificuldades ou interrompendo o teu idealismo...


Existem, sim, em número expressivo, interessados em perturbar a marcha das criaturas humanas.

Nenhuma dúvida sobre esta questão.

Pululam, ao lado dos homens e das mulheres, como nuvem que os acompanha, conforme observou o Apóstolo Paulo.

Atraídos pelas imperfeições humanas, imantam-se àqueles com os quais sintonizam, realizando um terrível comércio espiritual.

Tenazes e perigosos, espreitam, na situação em que se encontram, as suas futuras vítimas, e logo dispõem de possibilidade cercam-nas, envolvendo-as em pensamentos perturbadores com tal insistência que as desarmonizam.

Outras vezes, sitiam-lhes as emoções, descarregando energias deletérias que terminam por descontrolar os centros do equilíbrio, levando-as a transtornos depresssivos, do pânico, obsessivos-compulsivos.

Invadem o campo da vontade daqueles que se permitem sofrer-lhes o assédio, empurrando-os para situações calamitosas, nas quais se comprazem.

Em incontáveis ocasiões atiram pessoas imprevidentes, umas contra as outras, gerando situações embaraçosas, causando graves distúrbios no comportamento, nos relacionamentos sociais.

São hábeis na produção da cizânia, nutrindo-se da maledicência em que os frívolos se demoram, aplicando o tempo que poderia ser útil em sistemática difamação do seu próximo.

Perversos, não respeitam os valores éticos nem morais, preferindo, naturalmente, as pessoas que se encontram no claro-escuro da distonia psicológica, que mais lhes facilita a identificação.
Produzem enfermidades simuladas que desorientam aqueles que as padecem.

Utilizando-se do conhecimento das leís dos fluídos, conseguem produzir desconforto e insatisfação em todas as pessoas de quem se acercam, intoxicando-as psíquica e fisicamente.
Alguns existem que se especializam no mecanismo da perseguição, encarregando-se de orientar outros menos hábeis, que são convocados para as suas fileiras.

Isoladamente, por inveja, malquerença, desocupação ou desdita pessoal, tornam-se verdadeiros flagelos para a Humanidade e, com a sua insistência calamitosa, desviam do rumo aqueles contra quem investem com fúria continuada.

Em grupo, tornam-se mais perigosos, porque logram assenhorear-se de comunidades inteiras, que submetem a obsessões coletivas em forma epidêmica.

Estamo-nos referindo aos Espíritos desencarnados que perderam o endereço de Deus e se entregaram à volúpia da própria alucinação.

É indispensável ter-se muito cuidado com eles.
Esses Espíritos, em razão da inferioridade em que se encontram, imiscuem-se em todos os cometimentos humanos, dominados pela perversidade ou simplesmente pela falta do que fazer, mediante loucas tentativas de desforço contra a sociedade, para a qual transferem a responsabilidade pelo fracasso das suas infelizes existências terrenas.

Inescrupulosos, gostariam de manter um estado de terror ou de infelicidade entre as demais criaturas que tentam avançar no rumo do progresso, na busca da felicidade.
Orgulhosos e odientos, atribuem-se força e poder que realmente não possuem, sendo os seus logros mais devidos à leviandade daqueles com os quais convivem mentalmente do que propriamente à sua capacidade de agir.

Odeiam, com especial ressentimento, todos quantos trabalham pelo bem, pelo progresso da sociedade, insurgindo-se contra as suas lides e difícultando-lhes a marcha do dever abraçado retamente.

Especialmente, em relação aos espiritistas, que os conhecem, que os desmascaram, por estarem lúcidos em torno do mundo espiritual e dos seus habitantes, mantêm acentuado rancor, perseguindo-os com inclemência, em tentativas de eliminar-lhes as realizações, de confundi-los, a fim de demonstrar que tudo se encontra no caos ...

Conseguem, dessa forma, gerar a desconfiança, produzir o medo, disseminar o desalento, empurrando para o pessimismo.

Não lhes dês tréguas nem lhes permitas identificação de propósitos, quando no serviço dos ideais que esposas.

Quando sentires desalento, experimentando desconfiança em relação ao teu próximo, insegurança na realização a que te afeiçoas, mal-estar no serviço do bem, tem cuidado, porquanto esses são sinais de alarme que prenunciam situação porvindoura grave.

Reveste-te de paciência e renova-te na prece, por cujo intermédio haurirás nas Fontes Generosas da Vida as forças indispensáveis para prosseguir com entusiasmo.

O bem que fazes, somente poderá proporcionar-te alegria e entusiasmo. Caso ocorra o contrário, algo de equivocado está a desenvolver-se.

Medita, e descobrirás de onde vêm as ondas de aborrecimento ou as insinuantes idéias de abandono do trabalho.

Dedicas-te à realização enobrecedora, porque ela te enriquece de vida e te produz empatia especial. Portanto, nenhuma razão existe para que ocorram sensações contrárias, senão quando irrompam interferências espirituais maléficas.

Unge-te sempre de amor e de compaixão, de caridade e de perseverança, graças a cujas vibrações as energias do mal não poderão romper-te as defesas, gerando dificuldades ou interrompendo o teu idealismo.

Não são poucos os que desistem, quando defrontados pela má-fé de amigos, pela contínua descarga de pessimismo e de acusações ingratas dos companheiros, pela incessante competição desonesta de quantos deveriam avançar ao lado, preferindo o enfrentamento e utilizando-se, para tanto, da mentira, da calúnia, de acusações injustificáveis.

Trata-se de um bem elaborado programa das Forças do Mal, personificadas em Entidades que as constituem.

Algumas fazem parte do teu passado espiritual, são o resultado das tuas ações também nefastas, inimizades que geraste e deves recuperar, tornando-as afeições nem sempre exitosas imediatamente.

A maioria, porém, é constituída por adversários do Bem.

Insensatos, grosseiros e presunçosos, tentaram enfrentar Jesus mais de uma vez.

Numa sinagoga, num sábado, um deles tomou de um obsesso e gritou: Jesus de Nazaré, eu sei quem és.

Foi imediatamente rechaçado pelo Mestre que o conhecia, quando lhe impôs: Cala-te, pois que ainda não é chegado o meu momento.

Utilizaram-se de fariseus, saduceus, sacerdotes relapsos que com eles sintonizavam, a fim de tentarem gerar dificuldades para o Senhor.
Certa feita, audaciosamente atreveram-se mesmo a tentá-lO, sendo sempre vencidos.

Por fim, no dia do julgamento arbitrário e da crucificação, porque encontraram campo mental favorável, ampliaram a tragédia do Gólgota, antes aturdindo Judas, que traiu Jesus; Pedro, que O negou, tornando-se, sem dar-se conta, motivo de maior glória para o Ressuscitado, sem cuja morte não haveria a demonstração da sublime imortalidade.

Joanna de Ângelis

sábado, 15 de abril de 2017

Em sessão prática


A situação no grupo doutrinário apresentava anormalidades significativas. Desentendiam-se os companheiros entre si. Olvidando obrigações respeitáveis, confiavam-se a críticas acerbas. Acentuavam-se hostilidades mal-disfarçadas de cizânia, orientadas pela incompreensão. Ninguém se lembrava d’Aquele humilde e divino servidor que lavara os pés dos próprios companheiros. Cada aprendiz da comunidade chamava a si a posição de comando e o direito de julgar asperamente.
Debalde os mentores espirituais da casa convidavam à ponderação e ao entendimento recíproco.
Os operários descuidados recebiam-lhes as palavras, sem maior atenção pelas advertências educativas.
É que Cláudio e Elias, os dois abnegados diretores invisíveis do agrupamento, não se inclinavam a exortações contundentes.
Entre os desencarnados de nobre estirpe, há também fidalguia, cavalheirismo e gentileza e, na opinião deles, não deviam tratar os irmãos de trabalho como se fossem crianças inconscientes.
Certa noite em que as vibrações antagônicas se fizeram mais fortes, anulando os melhores esforços no campo da espiritualidade edificante, Elias dirigiu-se a Cláudio, sugerindo, esperançoso:
— Creio de grande eficácia a visita de alguns sofredores ao núcleo dos nossos amigos encarnados. Poderiam assim observar, de perto, os efeitos escuros da vaidade e da indisciplina. Amanhã, teremos sessão prática, de há muito tempo esperada, e admito a oportunidade de semelhante lição.
— Excelente medida! — exclamou o colega, satisfeito — não seria razoável recordar obrigações comuns, de modo direto, a cooperadores nossos que estudam o Evangelho, todos os dias. Afinal de contas, não obstante mergulhados na carne, possuem tantos deveres para com Jesus quanto nós, e, se já receberam inúmeras mensagens sobre as necessidades de ordem e concurso fraterno, como insistir com eles no serviço a fazer? O alvitre é, portanto, providencial. Traremos à reunião alguns infelizes, desviados da reta conduta. Observando-lhes os padecimentos, é provável que sintam a lição, com segurança, tornando aos rumos legítimos…
Com efeito, na, noite imediata, duas entidades perturbadas foram trazidas à sessão.
Mais de trinta frequentadores passaram a ouvir a palestra dolorosa.
O doutrinador Silvério Matoso fazia paciente esforço para acalmar os desventurados que choravam ruidosamente, através das organizações mediúnicas.
— Desgraçado de mim! — comentava um deles — sou um réprobo, amaldiçoado de todos! onde o meu equilíbrio? perdi tudo… Não tenho recursos para a locomoção, quanto antigamente!… Vivo no seio de tempestade sem bonança…
Enquanto as lágrimas lhe corriam, copiosas, da face, clamava o outro:
— Que será de mim, relegado às trevas? para onde se foram os miseráveis que me ataram ao poste do martírio? Malditos sejam!.
Acostumado à doutrinação, Matoso dizia, fraternalmente:
— Meus amigos, abstende-vos da desesperação e da revolta! confiemos no Divino Poder! Inspirado diretamente por Elias, o benfeitor espiritual que se esforçava intensamente por gravar a lição da hora, prosseguia, enérgico:
— Viveis presentemente as realidades da alma. Notastes agora que o relaxamento interior no mundo ocasiona grandes males. Desditosos todos aqueles que conhecem o bem e o não praticam! desventurados os rebeldes, os hipócritas e os indiferentes, porque a morte do corpo revela a verdade pura, e as almas transviadas não encontram senão abismos e trevas, lágrimas e tormentos. Jesus, porém, é a fonte inesgotável das bênçãos de paz renovadora. Tende calma e esperança!…
— Sou, todavia, um infame — soluçava uma das entidades comunicantes —, repetidamente escutei palavras da fé santificante e do bem salvador, mas nunca cedi a ninguém. Quis viver as minhas fraquezas, alimentá-las e defendê-las com todas as forças. Nunca ponderei, intimamente, quanto às realidades eternas. Ao alcance de meu coração, fluíam ensinamentos e socorros de toda sorte. Fui muita vez convidado ao Evangelho do Cristo; entretanto, zombei de todas as oportunidades de renovação espiritual. Considerava meus melhores amigos, no capítulo da religião, tão egoístas e mentirosos quanto eu mesmo. Agora… quantas lágrimas devo chorar, eu que desprezei a paz divina e preferi as vibrações infernais?
— E eu? — exclamava o mais revoltado poderá haver trevas mais densas que as minhas? haverá dor maior que esta a devastar-me? Sinto-me desequilibrado, sem direção… Um náufrago perdido no abismo é mais feliz que eu… Rodeiam-me quadros de horror… Experimento fogo e gelo ao mesmo tempo… Podereis, acaso, compreender-me, a mim que penetrei o vale fundo da desgraça?!…
Matoso, porém, orientado espiritualmente por Elias, interferiu, solícito:
— Olvidai, meus irmãos, as algemas da vida material e ligai-vos ao Senhor, pelo coração. É indispensável extirpar a raiz dos enganos adquiridos na Terra! A vida não se resume a impressões físicas, a fantasia corporal; é vibração da eternidade, da divina eternidade! acalmai os sentimentos em desequilíbrio para recolherdes a dádiva dos conhecimentos superiores. Esquecei o mal, tornai ao caminho reto! Atravessais, agora, a zona escura das consequências do erro. É necessário renovar as próprias forças, a fim de reacenderdes a lâmpada da fé.
Assim, Matoso, devagarinho, convenceu as pobres almas desiludidas e desesperadas. Exaltou a necessidade de disciplina, com a desistência do egoísmo e da vaidade, azorragando os maus costumes e os vícios vulgares.
Em terminando a longa palestra, ambos os comunicantes se revelavam diferentes. Despediram-se, revestidos de coragem, esperança e bom ânimo.
A assembleia de ouvintes encarnados mantinha-se sob forte impressão e, entre os invisíveis, Elias e Cláudio aguardavam, ansiosos, a colheita de ensinamentos.
Teriam os circunstantes compreendido que as lições se destinavam a eles mesmos? que ainda se encontravam na carne, com sublimes oportunidades em mão? guardariam as experiências ouvidas? ponderariam sobre as lutas que aguardam os rixosos e imprevidentes, além do túmulo? modificariam as diretrizes?
Ambos os orientadores, benevolentes e sábios, esperavam a manifestação dos amigos, por identificarem o aproveitamento havido, quando a Senhora Costa quebrou o silêncio, murmurando:
— Viram vocês quanta dureza e intransigência?
— É… é… — comentou o velho Silva Torres — pregam eles numerosas peças neste mundo para chorarem no outro..
— E nós, os médiuns — acrescentou Dona Segismunda Fernandes —, devemos suportar semelhantes Espíritos como se fôssemos caixas de pancada.
— Esses infelizes não chegaram a ser identificados — observou Alberto Lima, um dos companheiros mais entusiastas do núcleo —, e foi pena. Pareciam muito cultos e, sobremaneira, versados em matéria religiosa.
— Notei, porém — aduziu outro confrade —, que se não fora a palavra convincente de Matoso teríamos sofrido desastre. Tenho a ideia de que tratamos com entidades não somente sofredoras, mas igualmente perversas.
E o próprio doutrinador da casa,, que recebera a inspiração brilhante de Elias, partilhando a conversação, afiançou, contente:
— Em suma, estou satisfeito. Guardo a convicção de que esses desventurados integram a falange perturbadora que me persegue o lar.
Elias e Cláudio, invisíveis ao raio de observação comum, entreolhavam-se com indizível desapontamento.
Os companheiros encarnados mantinham-se prontos para o comentário cintilante e vivo. Qualificavam os comunicantes, queixavam-se dos sacrifícios a que eram obrigados por semelhantes visitas, reclamavam-lhes a ficha individual, situavam-nos entre os verdugos da vida privada; todavia, não houve um só que entendesse a lição legítima da noite, nela reconhecendo uma advertência do Alto para reajustamento de roteiro, enquanto era tempo.
Ninguém percebeu que, doutrinando os Espíritos, o grupo estava sendo igualmente doutrinado.

.Irmão X
(.Humberto de Campos)
Livro: Pontos e Contos

O CALVÁRIO E A OBSESSÃO



Ele viera para "que os que não criam, cressem", e, para tanto, deveria doar a vida num supremo sacrifício.
 Sabia que os homens, sanguissedentos, diante do Seu holocausto, passariam a encarar melhor a excelência do amor, entregando-se, posteriormente, em imitação ao seu gesto.
 Para uma tão grandiosa oferenda, porém, conjugaram-se as forças díspares em luta no coração das criaturas.
 Claro que não se fariam necessárias as acusações indébitas, a fuga dos amigos, a traição. . . Aos contumazes perseguidores da verdade não faltariam argumentos e manobras hábeis com que colimariam
 as suas metas nefárias.
 Ele sabia que aquela seria a derradeira jornada a Jerusalém. . .
 Ante a algaravia com que O saudaram à entrada, não entremostrou qualquer júbilo. Enquanto os amigos encaravam os aplausos como sinal evidente de triunfo, nEle ressoavam quais prenúncios das grandes dores. . .
 A ternura e passividade de que dava mostras durante aqueles dias inquietavam os mais afoitos, os discípulos mais invigilantes, os que anelavam pela glória terrena, não obstante as incessantes demonstrações e provas de que não estabeleceria no mundo as balizas do reino de Deus, nem tão-pouco a felicidade real. . .
 A precipitação armou Judas de ansiedade, interiormente visitado pela indução hipnótica de Entidades perversas que lhe aproveitaram o desalinho da emoção, interessadas em desnaturar a mensagem e anular a força do amor pacificante.
 As mesmas mentes desarticuladas pelo ódio, contrapondo-se ao "reino do Cordeiro", ante os receios gerais, perturbaram Pedro logo após a prisão do Amigo, fazendo-o pusilânime, em face da negação que se permitiu repetidas vezes. ..
 As mesmas forças da injunção criminosa em aguerrido combate reuniram-se, açoadas pela inveja e despeito, desde o domingo do triunfo aparente, à entrada de Jerusalém, a fim de converterem o Enviado de Deus, no Excelso Crucificado. . .
 Os ódios, confraternizando com os ciúmes, espalharam injúrias que eram glosadas pela ingratidão de muitos que lhe foram comensais da ternura e receberam de Suas mãos o pábulo da vida estuante.
 Fervilhando as constrições obsidentes que se impunham, os adversários da liberdade espiritual da Terra, em desgoverno no Mundo Espiritual, dominaram os que se não armaram de vigilância e equilíbrio, tornando-se fáceis presas do anti-Cristo, a fim de que a tragédia do Gólgota se consumasse. . .
 Jesus, porém, houvera asseverado: "Quando eu for erguido atrairei todos a mim."
 Nenhuma surpresa, portanto, no Senhor, diante dos contornos volumosos da hecatombe que tomava forma contra Ele.
 Em expressiva serenidade esperou o eclodir apaixonado da força violenta dos fracos.
 A noite fria e angustiante, antes da prisão, não lhe abatera o ânimo. Içara-0 a Deus através da oração e dulcificara-O, fazendo-O atingir a plenitude da auto-doação. ..
 As hordas desenfreadas da Espiritualidade inferior galvanizam no ódio os que se permitem as licenças das paixões dissolventes.
 Sempre se repetirão aquelas cenas nos linchamentos das ruas, nas prisões arbitrárias, nas injustiças tornadas legais, quando as massas afluem aos espetáculos hediondos e se asselvajam, tornando-se homicidas incomparáveis. . .
 Como podiam aquelas gentes desconhecer a brandura do Pastor Divino, esquecer Suas concessões e "prodígios"?
 Como puderam selar os lábios aqueles beneficiários da Sua misericórdia e complacência, ante a arbitrariedade dos crimes que presenciavam?
 A covardia moral, abrindo as faculdades psíquicas ao intercâmbio com os Espíritos imperfeitos e obsessores, todo o bem recebido negou, a fim de poupar-se. Transformou o inocente em algoz, em revolucionário desnaturado e elegeu o crime como elemento de justiça. O grande espetáculo da loucura coletiva se aproxima do Calvário. A obsessão coletiva, como tóxico morbífico, domina os participantes da inominável atuação infeliz.
 Ele não se defende, não reclama, nada pede. Submete-se e confia em Deus.
 As aragens da Natureza, de raro em raro na tarde abafada, saturam-se das vibrações do desespero e do ódio que assomam e dominam os corações entenebrecendo as mentes e explodindo no ar.
 Sempre os homens exigirão uma vítima para a sanha dos seus tormentos.
 Jesus é o exemplo máximo, o ideal para a consunção do desar que vencerá os séculos como a mais horrenda explosão coletiva que pastará à História.
 No bárbaro espetáculo, os pretensos dominadores da Erraticidade inferior crêem-se vitoriosos. . . Supõem estabelecidos os parâmetros dos seus domínios no mundo.
 No entanto, quando o clímax da tarde de horror atemoriza as testemunhas da tragédia, Ele relanceia o olhar dorido e lobriga apenas João, Sua mãe e as poucas mulheres abnegadas aos pés da Cruz, fiéis, macerados e intimoratos, confiando. . .
 É o bálsamo da alegria que Iene as imensas exulcerações que O dilaceram.
 Nem todos desertaram. A fúria possessiva da treva não alcançara os que tiveram acesa a luz da abnegação e do amor.
 Olhou além e mais profundamente os presentes e os que se refugiaram longe deles, os que armaram as cenas, os que se locupletam em gozos mentirosos sobre a fugidiça vitória. Seu olhar penetrou os promotores reais do testemunho, aqueles que transitavam livres das roupagens físicas. . .
 No ápice da dor arquejante, bradou Jesus:
— "Perdoa-os, meu Pai! Eles não sabem o que fazem."
 A sinfonia patética logrou, então, o máximo. Toda a orquestração de dor converteu-se em musicalidade de esperança e amor.
 Ele não perdoava apenas os crucificadores, mas, também, os desertores, os negadores, os receosos e pusilânimes, os ingratos e maledicentes, os insensatos e rebeldes... Na imensa gama dos acolhidos pelo Seu perdão, alcançava os promotores desencarnados dos mil males que engendraram nos homens a prova das suas mazelas e o agravamento das suas penas. . .
 Sua voz alcançou os penetrais do Infinito e lucilou nos báratros das consciências inditosas dos anti-Cristos de todos os tempos, abrindo-lhes os braços da oportunidade ao recomeço e à redenção.
A conspiração para que se consumasse o holocausto do Calvário, em que o Filho de Deus testemunhou seu amor pelos homens, foi tramada pelos inimigos impenitentes desencarnados, vencidos pelo despeito na luta pela vitória da violência com que sintonizaram os transitórios donatários da posição governamental e religiosa da Terra, como daqueles que se lhe entregaram a soldo.
 O perdão doado da culminância da Cruz é a aliança inquebrável da união do Seu amor com todos nós, os caminhantes retardatários da via da evolução, convocando-nos à perene vigilância contra a obsessão e qualquer natureza que nos sitia e persegue implacavelmente. . .
 Amélia Rodrigues

sábado, 1 de abril de 2017

Obsessão e dívida


Obsessão e dívida


Quando surgiam casos de obsessão no grupo, recorria-se, imediatamente, a Sinfrônio Lacerda. Era ele, sem dúvida, o companheiro ideal para a situação.
Dotado de altas qualidades magnéticas, sabia orientar como ninguém. Tratava-se, efetivamente, dum amigo generoso e bem-intencionado.
Não regateava a colaboração fraterna aos doentes, nem se inclinava a preferências individuais. Primava pela delicadeza e pela pontualidade onde fosse convidado a contribuir para o bem.
Por sua clarividência admirável, aliada a firme disposição de servir, atingia as melhores realizações.
Especializara-se, por isso, na assistência aos obsidiados, em que obtinha verdadeiros prodígios a lhe coroarem a dedicação.
Sinfrônio, contudo, não obstante a inteireza de caráter e a bondade ativa em determinados setores do serviço, não se conduzia nas mesmas normas, diante dos desencarnados sofredores ou ignorantes.
Dispensava aos médiuns enfermos ou perseguidos o maior carinho, concentrando, porém, sobre as entidades em desequilíbrio a máxima rispidez.
À maneira de grande número de doutrinadores, via nos obsidiados inocentes vítimas e, nos transviados invisíveis, os verdugos de sempre. Em razão disso, tratava os Espíritos infelizes, desapiedadamente.
Não raro, Jerônimo, um de seus mentores espirituais, se lhe fazia visível e recomendava:
— Meu amigo, não te afastes do entendimento necessário. Não vicies o olhar, no capítulo das obsessões. Nem sempre o perseguido está isento de culpas. Os que exibem a carne doente podem ser grandes devedores. Não desejo furtar-te ao espírito de caridade e serviço aos semelhantes, mas devo esclarecer-te que não nos cabe olvidar a obrigação de repartir os recursos do auxílio com as vítimas e os algozes, em porções iguais. Por vezes, Sinfrônio, o desencarnado desditoso é mais digno de amparo que o encarnado aparentemente sofredor. As chagas abertas e as necessidades dolorosas permanecem nos dois Planos. Não te dirijas, pois, às pobres entidades da sombra, com descabidas exigências. Sê enérgico, porque todo sistema de construir ou restaurar demanda robustez de atitudes; entretanto, não sejas cruel nas palavras. Atende aos perturbados da esfera invisível, com decisão e fortaleza de ânimo; todavia, não excluas a fraternidade e a compreensão.
Lacerda, contudo, parecia pouco disposto a observar os pareceres. Não sabia tratar os comunicantes perturbados senão em tom áspero, como quem ordena, sem cogitar dos direitos alheios.
Frequentemente, palestrava sereno e gentil, antes do contato com os irmãos infelizes; no entanto, tão logo se via à frente dos transviados do Além, assumia diversa posição. Emitia conceituação pesada e agressiva, dentro de francas hostilidades.
Desdobrava-se-lhe a experiência sem alterações, quando foi surpreendido por aflitiva ocorrência no próprio lar.
A sua filha Angelina, jovem de quinze anos, revelou perturbações psíquicas muito graves.
Assinalava-se-lhe a enfermidade por desmaios sucessivos e inquietantes. Em plena tranquilidade doméstica, caía, de súbito, palidíssima, ofegante, perdendo a noção de si mesma.
O pai carinhoso, extremamente impressionado com a situação, iniciou o tratamento, através de passes curativos, sem resultados positivos na cura.
Alarmou-se a família, em virtude dos acessos frequentes, e movimentaram-se providências diversas.
A esposa de Sinfrônio reclamou a consulta ao psiquiatra, e o companheiro, embora convicto da legitimidade do fenômeno de obsessão, por verificar a presença do perseguidor, com os próprios olhos, foi compelido a valer-se do especialista, que diagnosticou a epilepsia comum.
As injeções e os comprimidos, porém, não resolveram o problema. A prostração da enferma era cada vez maior.
O genitor, não obstante conhecer centenas de casos daquela natureza, achava-se atônito. A obsessão da filha desconcertava-o. Mobilizara todos os recursos ao seu alcance, sem que se fizesse sentir qualquer resultado satisfatório. Via a entidade perturbadora que lhe minava a tranquilidade doméstica, anotava as ocasiões em que se aproximava sutilmente da jovem, despendia esforços variados, mas não conseguia deslocar o estranho perseguidor.
Às vezes, na intimidade, quando Angelina desfalecia, de súbito, o devotado pai debalde recorria à palavra forte. Acusava o infeliz, asperamente, admoestava-o com rigor. A filha, contudo, parecia piorar com semelhante prática.
Atormentado pela ineficiência do seu método, Sinfrônio, esperançoso, organizou um programa de reuniões semanais, no próprio ambiente da família, buscando atender ao caso complexo.
As manifestações através da obsidiada começaram imprecisas; entretanto, a entidade perturbadora não conseguia articular palavra. Incorporava-se em Angelina, prostrava-a dolorosamente, mas tanto o comunicante quanto a médium pareciam enfermos espirituais em posição grave.
Sinfrônio, na maioria das vezes, internava-se pela extrema excitação.
— No dia em que eu puder falar a esse obsessor infame, na certeza de ser ouvido — comentava, irritadiço —, expulsá-lo-ei para sempre. Movimentarei todos os meus recursos magnéticos para enxotá-lo como se fosse um cão.
Depois de dez meses, decorridos sobre as reuniões sistemáticas, certa noite articulou o infeliz as primeiras frases angustiosas.
Sinfrônio escutou-lhe as lamentações, num misto de sentimentos contraditórios, experimentando, acima de tudo, certa satisfação por atingir a presa na esfera verbal.
— Desventurado salteador das trevas — exclamou o doutrinador após ouvi-lo —, é chegado o momento de tua rendição! Vai-te daqui! Ouve-me as determinações!… Não mais voltes a esta casa! nunca, nunca mais!…
— Não é possível — gemeu o infortunado —, Angelina e eu estamos ligados, desde muitos séculos… e não somente nós ambos sofremos nesta situação… Você também, Sinfrônio, foi meu perverso inimigo… Algemas de ódio me ligam ao seu lar, muito antes que as paredes de sua casa se levantassem…
Sinfrônio Lacerda, neurastênico, interceptou-lhe a confissão e, concentrando todo o seu potencial magnético, bradou, autoritário:
— Nem mais uma palavra! não desejamos ouvir-te! Retira-te, cruel perseguidor!… Ordeno! afasta-te, afasta-te!…
Como se a mísera entidade fora premida por uma pinça de vastas proporções, desgarrou, de chofre, caindo, porém, Angelina em terrível imobilidade.
Esforçou-se o pai por despertá-la, mas em vão. Três, quatro, cinco horas escoaram aflitivas.
Agravado assim o problema, foi chamado o médico, que identificou o estado comatoso.
Depois de catorze horas de angústia, Sinfrônio Lacerda, chorando pela primeira vez, convidou alguns irmãos para uma prece de socorro urgente, desfazendo-se em lágrimas na rogativa de auxílio aos benfeitores espirituais.
Finda a súplica, Jerônimo, o sábio mentor que o acompanhava de perto, falou, conselheirático:
— Meu amigo, todas as obsessões, quanto as moléstias de qualquer procedência, podem ser tratadas, mas nem todas podem ser curadas, segundo os propósitos do homem. 37 No caso de Angelina, temo-la profundamente unida ao obsessor, desde alguns séculos, quase na mesma proporção de tempo em que os dois se encontram intimamente associados ao teu próprio Espírito. No passado, perturbaste-lhes o lar e, agora, consoante a Lei Divina, procuram-te ansiosos de equilíbrio no caminho reto. Com o teu poder magnético, isolaste o perseguidor, violentamente, mas não podes sustentar semelhante medida, sem grave dano para ti mesmo. Não se arranca o carvalho de trezentos anos sem algum trabalho, como não se pode desfazer uma construção milenária, de um minuto para outro, sem ofensa à harmonia geral. 40 Se não buscares a mesma entidade para junto da filha, utilizando o mesmo influxo magnético, por intermédio do qual a afastaste, Angelina desencarnará, em breves horas, para reunir-se ao companheiro.
— Sim, agora compreendo — soluçou o pai aflito.
E, acabrunhado, indagou:
— Jerônimo, meu benfeitor, como proceder então? Ensina-me o caminho da ação por amor de Deus!
O venerável amigo, com serena inflexão de voz, respondeu, comovidamente:
— Esqueceste, Sinfrônio, que há doutrinações pela palavra e doutrinações através do exemplo. Traze o obsessor e recebe-o no teu santuário doméstico, afetuosamente, qual se o fizesse a um filho. Cura-lhe as mágoas, orienta-o para o Senhor. Ama-o, quanto puderes, porque só o amor pode curar o ódio.
E, reparando que Lacerda chorava resignado, copiando a atitude do aprendiz inquieto, quando em dificuldade na lição, Jerônimo concluiu:
— Não te sintas humilhado, meu filho! Tens agora muitos conhecimentos e possibilidades, mas tens igualmente muitas dívidas. E quem deve, Sinfrônio, precisa desembaraçar-se do débito, a fim de seguir, em paz, na gloriosa e divina jornada para Deus.

.Irmão X
(.Humberto de Campos)

domingo, 29 de maio de 2016

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno : Antoine Bell "(...)Ao guia do médium: - Um Espírito obsessor pode, realmente, levar o obsidiado ao suicídio? (...)a obsessão que, de si mesma, é já um gênero de provação, pode revestir todas as formas. Mas isso não quer dizer isenção de culpabilidade"

ANTOINE BELL

Era o caixa de uma casa bancária do Canadá e suicidou-se a 28 de fevereiro de 1865. Um dos nossos correspondentes, médico e farmacêutico residente na mesma cidade, deu-nos dele as informações que se seguem: 
"Conhecia-o, havia perto de 20 anos, como homem pacato e chefe de numerosa família. De tempos a certa parte imaginou ter comprado um tóxico na minha farmácia, servindo-se dele para envenenar alguém. Muitas vezes vinha suplicar-me para lhe dizer a época de tal compra, tomado então de alucinações terríveis. Perdia o sono, lamentava-se, batia nos peitos. A família vivia em constante ansiedade das 4 da tarde às 9 da manhã, hora esta em que se dirigia para a casa bancária, onde, aliás, escriturava os seus livros com muita regularidade, sem que jamais cometesse um só erro. Habitualmente dizia sentir dentro de si um ente que o fazia desempenhar com acerto e ordem a sua contabilidade. Quando se afigurava convencido da extravagância das suas idéias, exclamava: - "Não; não; quereis iludir-me... lembro-me... é a verdade..." 
A pedido desse amigo, foi ele evocado em Paris, a 17 de abril de 1865.
1. - Evocação. - R. Que pretendeis de mim? Sujeitar-me a um interrogatório? É inútil, tudo confessarei.
2. - Bem longe de nós o pensamento de vos afligir com perguntas indiscretas; desejamos saber apenas qual a vossa posição nesse mundo, bem como se poderemos ser-vos úteis... - R. Ah! Se for possível, ser-vos-ei extremamente grato. Tenho horror ao meu crime e sou muito infeliz!
3. - Temos a esperança de que as nossas preces atenuarão as vossas penas. Afigura-se-nos que vos achais em boas condições, visto como o arrependimento já vos assedia o coração - o que constitui um começo de reabilitação. Deus, infinitamente misericordioso, sempre tem piedade do pecador arrependido. Orai conosco. (Faz-se a prece pelos suicidas, a qual se encontra em O Evangelho segundo o Espiritismo.) 
Agora, tende a bondade de nos dizer de quais crimes vos reconheceis culpado. Tal confissão, humildemente feita, ser-vos-á favorável.
- R. Deixai primeiro que vos agradeça por esta esperança que fizestes ralar no meu coração. Oh! há já bastante tempo que vivia numa cidade banhada pelo Mediterrâneo. Amava, então, uma bela moça que me correspondia; mas, pelo fato de ser pobre, fui repelido pela família. A minha eleita participou-me que desposaria o filho de um negociante cujas transações se estendiam para além de dois mares, e assim fui eu desprezado. Louco de dor, resolvi acabar com a vida, não sem deixar de assassinar o detestado rival, saciando o meu desejo de vingança. Repugnando-me os meios violentos, horrorizava-me a perpetração do crime, porém o meu ciúme a tudo sobrepujou. Na véspera do casamento, morria o meu rival envenenado, pelo meio que me pareceu mais fácil. Eis como se explicam as reminiscências do passado... Sim, eu já reencarnei, e preciso é que reencarne ainda... Oh! meu Deus, tende piedade das minhas lágrimas e da minha fraqueza!
4. - Deploramos essa infelicidade que retardou vosso progresso e sinceramente vos lamentamos; dado, porém, que vos arrependais, Deus se compadecerá de vós. Dizei-nos se chegastes a executar o vosso projeto de suicídio... 
- R. Não; e confesso, para vergonha minha, que a esperança se me desabrochou novamente no coração, com o desejo de me aproveitar do crime já cometido. Traíram-me, porém, os remorsos e acabei por expiar, no último suplício, aquele meu desvario: enforquei-me.
5. - Na vossa última encarnação tínheis a consciência do mal praticado na penúltima? 
- R. Nos últimos anos somente, e eis como: - eu era bom por natureza, e, depois de submetido, como todos os homicidas, ao tormento da visão perseverante da vítima, que me perseguia qual vivo remorso, dela me descartei depois de muitos anos, pelo meu arrependimento e pelas minhas preces. Recomecei outra existência - a última -que atravessei calmo e tímido. Tinha em mim como que vaga intuição da minha inata fraqueza, bem como da culpa anterior, cuja lembrança em estado latente conservara.
Mas um Espírito obsessor e vingativo, que não era outro senão o pai da minha vítima, facilmente se apoderou de mim e fez reviver no meu coração, como em mágico espelho, as lembranças do passado. 
Alternadamente influenciado por ele e por meu gula, que me protegia, eu era o envenenador e ao mesmo tempo o pai de família angariando pelo trabalho o sustento dos filhos. Fascinado por esse demônio obsessor, deixei-me arrastar para o suicídio. Sou muito culpado realmente, porém menos do que se deliberasse por mim mesmo. Os suicidas da minha categoria, incapazes por sua fraqueza de resistir aos obsessores, são menos culpados e menos punidos do que os que abandonam a vida por efeito exclusivo da própria vontade. 
Orai comigo para que o Espírito que tão fatalmente me obsidiou renuncie à sua vingança, e orai por mim para que adquira a energia, a força necessária para não ceder à prova do suicídio voluntário, prova a que serei submetido, dizem-me, na próxima encarnação. 
Ao guia do médium: - Um Espírito obsessor pode, realmente, levar o obsidiado ao suicídio? 
- R. Certamente, pois a obsessão que, de si mesma, é já um gênero de provação, pode revestir todas as formas. Mas isso não quer dizer isenção de culpabilidade. O homem dispõe sempre do seu livre-arbítrio e, conseguintemente, está em si o ceder ou resistir às sugestões a que o submetem. 
Assim é que, sucumbindo, o faz sempre por assentimento da sua vontade. Quanto ao mais, o Espírito tem razão dizendo que a ação instigada por outrem é menos culposa e repreensível, do que quando voluntariamente cometida. Contudo, nem por isso se inocenta de culpa, visto como, afastando-se do caminho reto, mostra que o bem ainda não está vinculado ao seu coração.
6. - Como, apesar da prece e do arrependimento terem libertado esse Espírito da visão tormentosa da sua vitima, pôde ele ser atingido pela vingança de um obsessor na última encarnação?
- R. O arrependimento, bem o sabeis, é apenas a preliminar indispensável à reabilitação, mas não é o bastante para libertar o culpado de todas as penas. Deus não se contenta com promessas, sendo preciso a prova, por atos, do retorno ao bom caminho. Eis por que o Espírito é submetido a novas provações que o fortalecem, resultando-lhe um merecimento ainda maior quando delas sai triunfante. 
O Espírito só arrosta com a perseguição dos maus, dos obsessores, enquanto estes o não encontram assaz forte para resistir-lhes. Encontrando resistência, eles o abandonam, certos da inutilidade dos seus esforços. 
    Nota - Estes dois últimos exemplos mostram-nos a renovação da mesma prova em sucessivas encarnações, e por tanto tempo quanto o da sua ineficácia. Antoine BeIl patenteia-nos, enfim, o fato muito instrutivo do homem perseguido pela lembrança de um crime cometido em anterior existência, qual um remorso e um aviso. Vemos ainda por aí que todas as existências são solidárias entre si; que a justiça e bondade divinas se ostentam na faculdade ao homem conferida de progredir gradualmente, sem jamais privá-lo do resgate das faltas; que o culpado é punido pela própria falta, sendo essa punição, em vez de uma vingança de Deus, o meio empregado para fazê-lo progredir. 

    Fonte: O Céu e o Inferno. Allan Kardec => Suicidas=>Antoine Bell

O Calvário e a Obsessão (...)"A precipitação armou Judas de ansiedade, interiormente visitado pela indução hipnótica de Entidades perversas que lhe aproveitaram o desalinho da emoção, interessadas em desnaturar a mensagem e anular a força do amor pacificante. As mesmas mentes desarticuladas pelo ódio, contrapondo-se ao "reino do Cordeiro", ante os receios gerais, perturbaram Pedro logo após a prisão do Amigo, fazendo-o pusilânime, em face da negação que se permitiu repetidas vezes(...)Os ódios, confraternizando com os ciúmes, espalharam injúrias que eram glosadas pela ingratidão de muitos que lhe foram comensais da ternura e receberam de Suas mãos o pábulo da vida estuante."



Ele viera para "que os que não criam, cressem", e, para tanto, deveria doar a vida num supremo sacrifício.

Sabia que os homens, sanguissedentos, diante do Seu holocausto, passariam a encarar melhor a excelência do amor, entregando-se, posteriormente, em imitação ao seu gesto.

Para uma tão grandiosa oferenda, porém, conjugaram-se as forças díspares em luta no coração das criaturas.

Claro que não se fariam necessárias as acusações indébitas, a fuga dos amigos, a traição. . . Aos contumazes perseguidores da verdade não faltariam argumentos e manobras hábeis com que colimariam
as suas metas nefárias.

Ele sabia que aquela seria a derradeira jornada a Jerusalém. . .

Ante a algaravia com que O saudaram à entrada, não entremostrou qualquer júbilo. Enquanto os amigos encaravam os aplausos como sinal evidente de triunfo, nEle ressoavam quais prenúncios das grandes dores. . .

A ternura e passividade de que dava mostras durante aqueles dias inquietavam os mais afoitos, os discípulos mais invigilantes, os que anelavam pela glória terrena, não obstante as incessantes demonstrações e provas de que não estabeleceria no mundo as balizas do reino de Deus, nem tão-pouco a felicidade real. . .

A precipitação armou Judas de ansiedade, interiormente visitado pela indução hipnótica de Entidades perversas que lhe aproveitaram o desalinho da emoção, interessadas em desnaturar a mensagem e anular a força do amor pacificante.

As mesmas mentes desarticuladas pelo ódio, contrapondo-se ao "reino do Cordeiro", ante os receios gerais, perturbaram Pedro logo após a prisão do Amigo, fazendo-o pusilânime, em face da negação que se permitiu repetidas vezes. ..

As mesmas forças da injunção criminosa em aguerrido combate reuniram-se, açoadas pela inveja e despeito, desde o domingo do triunfo aparente, à entrada de Jerusalém, a fim de converterem o Enviado de Deus, no Excelso Crucificado. . .

Os ódios, confraternizando com os ciúmes, espalharam injúrias que eram glosadas pela ingratidão de muitos que lhe foram comensais da ternura e receberam de Suas mãos o pábulo da vida estuante.

Fervilhando as constrições obsidentes que se impunham, os adversários da liberdade espiritual da Terra, em desgoverno no Mundo Espiritual, dominaram os que se não armaram de vigilância e equilíbrio, tornando-se fáceis presas do anti-Cristo, a fim de que a tragédia do Gólgota se consumasse. . .

Jesus, porém, houvera asseverado: "Quando eu for erguido atrairei todos a mim."

Nenhuma surpresa, portanto, no Senhor, diante dos contornos volumosos da hecatombe que tomava forma contra Ele.

Em expressiva serenidade esperou o eclodir apaixonado da força violenta dos fracos.

A noite fria e angustiante, antes da prisão, não lhe abatera o ânimo. Içara-0 a Deus através da oração e dulcificara-O, fazendo-O atingir a plenitude da auto-doação. ..

As hordas desenfreadas da Espiritualidade inferior galvanizam no ódio os que se permitem as licenças das paixões dissolventes.

Sempre se repetirão aquelas cenas nos linchamentos das ruas, nas prisões arbitrárias, nas injustiças tornadas legais, quando as massas afluem aos espetáculos hediondos e se asselvajam, tornando-se homicidas incomparáveis. . .

Como podiam aquelas gentes desconhecer a brandura do Pastor Divino, esquecer Suas concessões e "prodígios"?

Como puderam selar os lábios aqueles beneficiários da Sua misericórdia e complacência, ante a arbitrariedade dos crimes que presenciavam?

A covardia moral, abrindo as faculdades psíquicas ao intercâmbio com os Espíritos imperfeitos e obsessores, todo o bem recebido negou, a fim de poupar-se. Transformou o inocente em algoz, em revolucionário desnaturado e elegeu o crime como elemento de justiça. O grande espetáculo da loucura coletiva se aproxima do Calvário. A obsessão coletiva, como tóxico morbífico, domina os participantes da inominável atuação infeliz.

Ele não se defende, não reclama, nada pede. Submete-se e confia em Deus.

As aragens da Natureza, de raro em raro na tarde abafada, saturam-se das vibrações do desespero e do ódio que assomam e dominam os corações entenebrecendo as mentes e explodindo no ar.

Sempre os homens exigirão uma vítima para a sanha dos seus tormentos.

Jesus é o exemplo máximo, o ideal para a consunção do desar que vencerá os séculos como a mais horrenda explosão coletiva que pastará à História.

No bárbaro espetáculo, os pretensos dominadores da Erraticidade inferior crêem-se vitoriosos. . . Supõem estabelecidos os parâmetros dos seus domínios no mundo.

No entanto, quando o clímax da tarde de horror atemoriza as testemunhas da tragédia, Ele relanceia o olhar dorido e lobriga apenas João, Sua mãe e as poucas mulheres abnegadas aos pés da Cruz, fiéis, macerados e intimoratos, confiando. . .

É o bálsamo da alegria que Iene as imensas exulcerações que O dilaceram.

Nem todos desertaram. A fúria possessiva da treva não alcançara os que tiveram acesa a luz da abnegação e do amor.

Olhou além e mais profundamente os presentes e os que se refugiaram longe deles, os que armaram as cenas, os que se locupletam em gozos mentirosos sobre a fugidiça vitória. Seu olhar penetrou os promotores reais do testemunho, aqueles que transitavam livres das roupagens físicas. . .

No ápice da dor arquejante, bradou Jesus:

— "Perdoa-os, meu Pai! Eles não sabem o que fazem."

A sinfonia patética logrou, então, o máximo. Toda a orquestração de dor converteu-se em musicalidade de esperança e amor.

Ele não perdoava apenas os crucificadores, mas, também, os desertores, os negadores, os receosos e pusilânimes, os ingratos e maledicentes, os insensatos e rebeldes... Na imensa gama dos acolhidos pelo Seu perdão, alcançava os promotores desencarnados dos mil males que engendraram nos homens a prova das suas mazelas e o agravamento das suas penas. . .

Sua voz alcançou os penetrais do Infinito e lucilou nos báratros das consciências inditosas dos anti-Cristos de todos os tempos, abrindo-lhes os braços da oportunidade ao recomeço e à redenção.

A conspiração para que se consumasse o holocausto do Calvário, em que o Filho de Deus testemunhou seu amor pelos homens, foi tramada pelos inimigos impenitentes desencarnados, vencidos pelo despeito na luta pela vitória da violência com que sintonizaram os transitórios donatários da posição governamental e religiosa da Terra, como daqueles que se lhe entregaram a soldo.

O perdão doado da culminância da Cruz é a aliança inquebrável da união do Seu amor com todos nós, os caminhantes retardatários da via da evolução, convocando-nos à perene vigilância contra a obsessão e qualquer natureza que nos sitia e persegue implacavelmente. . .

Amélia Rodrigues
Fonte: A Casa do Espiritismo