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sexta-feira, 16 de abril de 2021

TERIA O CHAMADO 'BOM LADRÃO IDO PARA O PARAÍSO?


"[...]A Doutrina Espírita nos ensina que apenas os Espíritos puros, que já atingiram elevado índice de perfeição, terão acesso a essas elevadas regiões[...]E' evidente que o Espírito do chamado Bom Ladrão não o acompanhou, mas passou a sentir um novo estado de Espírito; passou a desfrutar de serenidade, sentiu toda a extensão dos seus desvios e, interiormente, sentiu a necessidade do reajuste, de resgatar todo o mal que havia semeado.Com isso, em novas reencarnações, que forçosamente deveria ter no futuro, viveria num estágio melhor, experimentaria em seu coração os benefícios da paz, da serenidade e do amor, esforçando-se por redimir-se dos delitos do pretérito; passaria a conceber que na Justiça Divina não existe a promoção pela graça, ou pelo milagre, na senda evolutiva, mas Deus, em sua infinita misericórdia, lhe daria novas oportunidades, a fim de se enquadrar no rol dos homens sensatos, ponderados, que vivem num estado de paz interior e de uma relativa felicidade."






"E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino,

E disse-lhe Jesus: "Em verdade te digo, que hoje estarás comigo no Paraíso."

- (Lucas, 23:42-43)


Teria o Espírito imperfeito do chamado Bom Ladrão ido para Paraíso, juntamente com o excelso Espírito de Jesus Cristo? Ele apenas proferiu algumas ligeiras palavras de simpatia, e será que isso teria sido o bastante para ele adentrar as alcandoradas regiões celestiais, da mesma maneira como o fez Jesus Cristo?


A Doutrina Espírita nos ensina que apenas os Espíritos puros, que já atingiram elevado índice de perfeição, terão acesso a essas elevadas regiões.


Entretanto, houve uma promessa emanada de Jesus: Hoje estarás comigo no Paraíso". É evidente que o Mestre, pendurado no madeiro infamante, não poderia jamais formular uma promessa em vão. Por isso, como ocorre com numerosos ensinamentos de Jesus, cumpre se deduza dessa passagem evangélica o sentido alegórico que ela encerra, interpretando-a, não pela "letra que mata", mas pelo "Espírito que vivifica".


Viver no Paraíso ou nas regiões umbralinas é simplesmente um estado consciencial. Um indivíduo que vive em constante estado de revolta, que pratica toda a sorte de maldades, que menospreza os mais comezinhos princípios da bondade e do amor, que espanca esposa e filhos, que se embriaga ou se chafurda nos vícios, que alimenta ódio contra os seus semelhantes, vive com a sua consciência num estado verdadeiramente infernal.


Não desfruta da paz de Espírito e está em constante estado de revolta interior, blasfemando contra tudo e contra todos. Por outro lado, um homem que pratica o bem sem mistura do mal, que sente o coração inundado dos sentimentos de amor ao próximo, que se rege pelas normas da brandura, da tolerância, da fraternidade, que vive em paz com os seus familiares, que abomina os vícios, os desregramentos, vive num estado conciencial de paz, de serenidade.


Com fundamento nesses dois parâmetros, pode-se afirmar que a criatura humana, mesmo aqui na Terra, pode viver no chamado Inferno ou no Paraíso.


O chamado Bom Ladrão, evidentemente, dado o gênero de vida que levava, prejudicando o seu próximo,  apropriando-se dos bens alheios e semeando a maldade e talvez até a morte, bem revelava o estado de inferioridade de seu Espírito. No entanto, condenado pela justiça dos homens a morrer na cruz, evidencia que os crimes por ele praticados eram de acentuada gravidade.


Todavia, suspenso no madeiro, sentiu, repentinamente, um sentimento de remorso, ao ver Jesus, um inocente, um expoente do amor, morrer de maneira tão infamante. Ele se condoeu; sentiu no âmago do seu coração que havia apenas praticado o mal, que não havia; amuado o seu próximo. Ao ouvir os impropérios que o outro ladrão, crucificado, dirigia a Jesus, exclamou: "E nós, na verdade, com justiça fomos condenados e estamos recebendo o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez."


E, dirigindo-se ao Mestre, disse: "Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino", merecendo a promessa de Jesus: "Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso". Espírito elevado que é, Jesus que assolava aquele seu irmão menor, viu o seu arrependimento, e, como o remorso é a porta da redenção espiritual, sentenciou: "Hoje estarás comigo no Paraíso."


E' evidente que o Espírito do chamado Bom Ladrão não o acompanhou, mas passou a sentir um novo estado de Espírito; passou a desfrutar de serenidade, sentiu toda a extensão dos seus desvios e, interiormente, sentiu a necessidade do reajuste, de resgatar todo o mal que havia semeado.


Com isso, em novas reencarnações, que forçosamente deveria ter no futuro, viveria num estágio melhor, experimentaria em seu coração os benefícios da paz, da serenidade e do amor, esforçando-se por redimir-se dos delitos do pretérito; passaria a conceber que na Justiça Divina não existe a promoção pela graça, ou pelo milagre, na senda evolutiva, mas Deus, em sua infinita misericórdia, lhe daria novas oportunidades, a fim de se enquadrar no rol dos homens sensatos, ponderados, que vivem num estado de paz interior e de uma relativa felicidade.


Com isso, estaria ele desfrutando de um "Paraíso" consciencial, quando comparado com o estado verdadeiramente infernal em que viveu na existência que havia culminado com a sua crucificação.


O Mestre não falhou em sua promessa, pois o enquadrou numa senda diferente, que o conduziria melhor na caminhada rumo a Deus, diminuindo, paulatinamente, a distância que o separava do Criador; abreviaria o tempo necessário para, realmente, adentrar as regiões elevadas dos Planos Divinos, região comumente chamada de "Paraíso".


Paulo A. Godoy

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

CONHECENDO O LIVRO: O CÉU E O INFERNOS - CAP.VII-ESPÍRITOS ENDURECIDOS: UM ESPÍRITO ABORRECIDO------"A maioria dos Espíritos dessa categoria busca uma existência terrestre apenas como distração, e para romper a insuportável monotonia de sua existência espiritual; assim eles chegam aí muitas vezes sem resoluções tomadas para o bem, é por isso que devem recomeçar até que, enfim, o progresso real se faça sentir neles. ""

 

(Bordeaux, 1862.)

 

Este Espírito apresenta-se espontaneamente ao médium, e reclama preces.

 

1. O que vos leva a pedir preces?
– R. Estou cansado de vagar sem objetivo. 

P. – Há muito tempo que estais nessa posição? 

– R. Cento e oitenta anos aproximadamente. 

– O que fizestes na terra? 

– R. Nada de bom.

2. Qual é vossa posição entre os Espíritos? 

– R. Estou entre os entediados. 

P. – Isso não forma uma categoria. 

– R. Tudo forma categoria entre nós. Cada sensação encontra ou seus semelhantes, ou seus simpatizantes que se reúnem.

3. Por que, se não estáveis condenado ao sofrimento, permanecestes tanto tempo sem vos aperfeiçoardes? 

– R. Estava condenado ao tédio, é um sofrimento entre nós; tudo o que não é alegria é dor. 

P. – Fostes, portanto, forçado a permanecer errante contra vossa vontade? 

– R. São causas demasiado sutis para vossa inteligência material. 

P. – Tentai fazer-me compreendê-las; será um começo de utilidade para vós. 

– R. Eu não poderia, porque não tem termo de comparação. Uma vida extinta na terra deixa ao Espírito que não a aproveitou, o que o fogo deixa ao papel que consumiu: faíscas, que lembram às cinzas ainda unidas entre si o que foram e a causa do seu nascimento, ou se quiseres, da destruição do papel. Essas faíscas são a lembrança dos laços terrestres que percorrem o Espírito até que ele tenha dispersado as cinzas de seu corpo. Somente então ele se reencontra, essência etérea, e deseja o progresso.

4. Quem pode vos ocasionar o tédio de que vos queixais? 

– R. Consequência da existência. O tédio é o filho da ociosidade; eu não soube empregar os longos anos que passei na terra, sua consequência se faz sentir em nosso mundo.

5. Os Espíritos que, como vós, vagam atormentados pelo tédio, não podem fazer cessar esse estado quando querem? 

– R. Não, eles nem sempre podem, porque o tédio lhes paralisa a vontade. Eles sofrem as consequências de sua existência; foram inúteis, não tiveram nenhuma iniciativa, não encontram nenhuma ajuda entre si. Ficam abandonados a si mesmos até que a lassidão desse estado neutro os faça desejar mudar; então, à menor vontade que desperta neles, eles encontram apoio e bons conselhos para auxiliar seus esforços e perseverar.

6. Podeis dizer-me alguma coisa sobre a vossa vida terrestre? 

– R. Ah, bem pouca coisa, deves compreendê-lo. O tédio, a inutilidade, a ociosidade provêm da preguiça; a preguiça é mãe da ignorância.

7. Vossas existências anteriores não vos fizeram avançar? 

– R. Sim, todas, mas muito fracamente, pois todas foram o reflexo umas das outras. Sempre há progresso, mas tão pouco sensível, que é inapreciável para nós.

8. Aguardando que recomeceis uma outra existência, quereis vir mais frequentemente perto de mim? 

– R. Chama-me para me coagires a isso; prestar-me-ás um favor.

9. Podeis dizer-me por que vossa letra muda frequentemente? 

– R. Porque perguntas muito; isso me cansa, e preciso de ajuda.

 

O guia do médium

É o trabalho da inteligência que o cansa e que nos obriga a lhe prestar ajuda para que ele possa responder às tuas perguntas. É um desocupado do mundo dos Espíritos como o foi do mundo terrestre. Trouxemo-lo para tentar tirá-lo da apatia desse tédio que é um verdadeiro sofrimento, mais penoso às vezes do que os sofrimentos agudos, pois ela pode prolongar-se indefinidamente. Consegues imaginar a tortura da perspectiva de um tédio sem fim? A maioria dos Espíritos dessa categoria busca uma existência terrestre apenas como distração, e para romper a insuportável monotonia de sua existência espiritual; assim eles chegam aí muitas vezes sem resoluções tomadas para o bem, é por isso que devem recomeçar até que, enfim, o progresso real se faça sentir neles.

fonte: Livro O Céu e o Inferno - Allan kardec.
Segunda Parte- Cap. VII - Espíritos Endurecidos 

 

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

INFLUXOS MENTAIS : HARMONIA E PADRÃO VIBRATÓRIO - - - - - - - "Quanto mais nos avizinhamos da esfera animal, maior é a condensação obscurecente de nossa organização, e quanto mais nos elevamos, ao preço de esforço próprio, no rumo das gloriosas construções do espírito, maior é a sutileza de nosso envoltório, que passa a combinar-se facilmente com a beleza, com a harmonia e com a luz reinantes na Criação Divina.

 


O INSTRUTOR CLARENCIO, NOS OFERECE UMA VERDADEIRA AULA SOBRE NOSSOS PENSAMENTOS E VONTADES ATUANDO EM NOSSOS CENTROS DE FORÇA , TANTO NA MANUTENÇÃO DO EQUILÍBRIO QUANTO NO  DESEQUILÍBRIO, ,FALA A  RESPEITO DO PADRÃO VIBRATÓRIO QUE DETERMINA NOSSO PESO ESPECÍFICO E POR CONSEQUÊNCIA NOSSO HABITAT NO PLANO ESPIRITUAL, TECENDO COMENTÁRIOS SOBRE A FISIOLOGIA DO PERISPÍRITO! APRECIEM!





[...]”Como não desconhecem, o nosso corpo de matéria rarefeita está intimamente regido por sete centros de força, que se conjugam nas ramificações dos plexos e que, vibrando em sintonia uns com os outros, ao influxo do poder diretriz da mente, estabelecem, para nosso uso, um veículo de células elétricas, que podemos definir como sendo um campo eletromagnético, no qual o pensamento vibra em circuito fechado. Nossa posição mental determina o peso específico do nosso envoltório espiritual e, conseqüentemente, o “habitat” que lhe compete. Mero problema de padrão vibratório. Cada qual de nós respira em determinado tipo de onda. Quanto mais primitiva se revela a condição da mente, mais fraco é o influxo vibratório do pensamento, induzindo a compulsória aglutinação do ser às regiões da consciência embrionária ou torturada, onde se reúnem as vidas inferiores que lhe são afins. O crescimento do influxo mental, no veículo eletromagnético em que nos movemos, após abandonar o corpo terrestre, está na medida da experiência adquirida e arquivada em nosso próprio espírito. Atentos a semelhante realidade, é fácil compreender que sublimamos ou desequilibramos o delicado agente de nossas manifestações, conforme o tipo de pensamento que nos flui da  íntima. Quanto mais nos avizinhamos da esfera animal, maior é a condensação obscurecente de nossa organização, e quanto mais nos elevamos, ao preço de esforço próprio, no rumo das gloriosas construções do espírito, maior é a sutileza de nosso envoltório, que passa a combinar-se facilmente com a beleza, com a harmonia e com a luz reinantes na Criação Divina.

[...] Tal seja a viciação do pensamento, tal será a desarmonia no centro de força, que reage em nosso corpo a essa ou àquela classe de influxos mentais. Apliquemos à nossa aula rápida, tanto quanto nos seja possível, a terminologia trazida do mundo, para que vocês consigam fixar com mais segurança os nossos apontamentos. Analisando a fisiologia do perispírito, classifiquemos os seus centros de força, aproveitando a lembrança das regiões mais importantes do corpo terrestre. Temos, assim, por expressão máxima do veículo que nos serve presentemente, o “centro coronário” que, na Terra, é considerado pela filosofia hindu como sendo o lótus de mil pétalas, por ser o mais significativo em razão do seu alto potencial de radiações, de vez que nele assenta a ligação com a mente, fulgurante sede da consciência. Esse centro recebe em primeiro lugar os estímulos do espírito, comandando os demais, vibrando todavia com eles em justo regime de interdependência. Considerando em nossa exposição os fenômenos do corpo físico, e satisfazendo aos impositivos de simplicidade em nossas definições, devemos dizer que dele emanam as energias de sustentação do sistema nervoso e suas subdivisões, sendo o responsável pela alimentação das células do pensamento e o provedor de todos os recursos eletromagnéticos indispensáveis à estabilidade orgânica. É, por isso, o grande assimilador das energias solares e dos raios da Espiritualidade Superior capazes de favorecer a sublimação da alma. Logo após, anotamos o “centro cerebral”, contíguo ao “centro coronário”, que ordena as percepções de variada espécie, percepções essas que, na vestimenta carnal, constituem a visão, a audição, o tato e a vasta rede de processos da inteligência que dizem respeito à palavra, à cultura, à arte, ao saber. É no “centro cerebral” que possuímos o comando do núcleo endocrínico, referente aos poderes psíquicos. Em seguida, temos o “centro laríngeo”, que preside aos fenômenos vocais, inclusive às atividades do timo, da tireóide e das paratireóides. Logo após, identificamos o “centro cardíaco”, que sustenta os serviços da emoção e do equilíbrio geral. Prosseguindo em nossas observações, assinalamos o “centro esplênico” que, no corpo denso, está sediado no baço, regulando a distribuição e a circulação adequada dos recursos vitais em todos os escaninhos do veículo de que nos servimos. Continuando, identificamos o “centro gástrico”, que se responsabiliza pela penetração de alimentos e fluidos em nossa organização e, por fim, temos o “centro genésico”, em que se localiza o santuário do sexo, como templo modelador de formas e estímulos.

O instrutor fez pequena pausa de repouso e prosseguiu: – Não podemos olvidar, porém, que o nosso veículo sutil, tanto quanto o corpo de carne, é criação mental no caminho evolutivo, tecido com recursos tomados transitoriamente por nós mesmos aos celeiros do Universo, vaso de que nos utilizamos para ambientar em nossa individualidade eterna a divina luz da sublimação, com que nos cabe demandar as esferas do Espírito Puro. Tudo é trabalho da mente no espaço e no tempo, a valer-se de milhares de formas, a fim de purificar-se e santificar-se para a Glória Divina.

[...]– Quando a nossa mente, por atos contrários à Lei Divina, prejudica a harmonia de qualquer um desses fulcros de força de nossa alma, naturalmente se escraviza aos efeitos da ação desequilibrante, obrigando-se ao trabalho de reajuste.

 

Fonte: Livro Entre a Terra e o Céu- Francisco Cândido Xavier em parceria com Espírito de André Luiz.

CAP. 20 CONFLITOS DA ALMA 36§ À 40 §

sábado, 30 de janeiro de 2021

DOIS COMPANHEIROS - "Os que administram são mordomos, os que obedecem são operários, mas, no coração augusto de Nosso Pai, estamos inscritos indistintamente na categoria de cooperadores de suas obras."

 


 

 Leonel e Benjamim, dois velhos amigos do Plano espiritual, mutuamente associados no erro e na reparação, depois de minucioso exame do passado, decidiram-se a pedir concessão de novas experiências no mundo. Esposando opiniões diversas entre si, buscaram o orientador, ansiosos da necessária permissão para pronto regresso à luta humana.

Após anotar-lhes as observações, sorriu o mentor amigo e obtemperou:

— É oportuna a solicitação: Vocês necessitam intensificar o aprendizado, iluminar o entendimento, adquirir sabedoria. Escolheram ambos o mesmo gênero de provas?

Levantou-se Leonel, explicando:

— Estamos acordes no pedido, mas, não temos a mesma preferência no capítulo das tarefas. Por minha parte, desejaria a oportunidade de movimentar patrimônios terrestres, nos círculos da fortuna e da autoridade…

Antes que ele terminasse, Benjamim embargou-lhe a palavra e esclareceu:

— Cá por mim, escolhi a condição de pobreza e sofrimento. Pediria, se possível, a supressão de toda possibilidade de contentamento na Terra. Encareço problemas de penúria e dificuldades, a fim de valorizar o que hei recebido da Providência.

Estampando no semblante o sorriso sereno da sabedoria, o generoso orientador considerou:

— Não posso interferir na liberdade de ambos. Conhecem vocês a extensão dos débitos contraídos. De algum tempo, sou testemunha da luta enorme em que se empenharam para o resgate. Fizeram jus, por isto, a novo ensejo de trabalho e elevação. Devo ponderar, todavia, que, embora divergentes na escolha, ainda não poderão afastar-se um do outro, na próxima experiência de redenção. Partilha, no erro, determina partilha de responsabilidades e consequências. Ser-lhes-ão abertas as portas do serviço santificador. Não se desunam, pois; nos caminhos da purificação, jamais desprezem a possibilidade de aprender. Fortuna e pobreza são bancas de provas na escola das experiências terrestres. São continentes da probabilidade. Ambos oferecem horizontes largos e divinas realizações. Que saibam receber as bênçãos de Deus, são os meus votos.

Leonel e Benjamim ouviram os conceitos judiciosos, renovaram promessas e partiram mais tarde. Atendendo a própria escolha, nasceu o primeiro na casa farta de rico proprietário rural, que lhe fora muito amado noutras existências. Daí a dias, velha serva da casa rica era igualmente mãe, fornecendo ao segundo o ensejo de realizar os planos traçados.

Enquanto houve paisagens risonhas de infância, ambos os companheiros, tão unidos pelo coração e tão distantes pelo nascimento, viveram no róseo céu da harmonia; mas, quando Leonel começou a sorver o conteúdo dos livros propriamente do mundo, verificaram-se os primeiros sinais de incompreensão. Cada vez que o jovem bem-nascido regressava ao círculo doméstico em gozo de férias escolares, assinalava-se maior distância entre ele e o camarada da meninice. Quando o anel de grau lhe brilhou nos dedos, estava consumada a separação. Passando a administrar interesses da família nos estabelecimentos do campo e da cidade, era ele o chefe, enquanto Benjamim se classificava no extenso quadro dos servidores.

Nessa zona de testemunho ativo, entenderam que deviam proceder como estranhos, absolutamente separados entre si. No fundo, admiravam-se e amavam-se reciprocamente; contudo, as ilusões terrestres os encegueciam.

Se Leonel se mostrava mais enérgico, atento às responsabilidades de administrador, desfazia-se Benjamim em críticas acerbas e gratuitas, levado pelo despeito. Se Benjamim aumentava, involuntariamente, a lista de necessidades pessoais, multiplicava Leonel o rigor, levado pelo autoritarismo.

A certa altura da experiência, não mais se saudaram um ao outro. Atritaram-se, trocaram acusações mútuas. O servo abandonou o trabalho diversas vezes, desejoso de experimentar a sorte em regiões diferentes; todavia, incapaz de iludir o espírito da Lei, voltava sempre, implorando readmissão. Leonel, por sua vez, renovava a concessão de serviço, embora com agravo crescente de exaspero e tirania recíprocos. Se o empregado solicitava melhoria de salário, o patrão restringia a remuneração e os benefícios.

Embriagado na visão de lucros fabulosos, Leonel pusera a mente no egoísmo total. Desvairado de inconformação, Benjamim concentrava-se na rebeldia, daí resultando aumento intensivo de vaidade, orgulho, presunção, ciúme, despeito e indisciplina no coração de ambos.

A Providência Divina, que jamais deixou criaturas em abandono, enviou-lhes socorro através da assistência religiosa. Mas o patrão, afeiçoado ao Catolicismo Romano, inclinava toda leitura edificante a favor da própria causa, valia-se dos conselhos do sacerdote amigo que o assistia, para justificar os erros e o seu feitio egoístico. Obcecavam-no o apego ao dinheiro e a ideia de lucros fáceis. Quanto ao empregado, tornara-se espiritista convicto, porém, cegavam-no a inconformação e a revolta. Qualquer advertência dos instrutores espirituais era interpretada ao inverso.  Se o amigo do outro lado da vida aludia à paciência, não enxergava ele a informação própria e sim o defeito alheio, ou a insuficiência dos outros. Se ouvia dissertações sobre a caridade, lembrava os afortunados do mundo, com ironia. Benjamim era, afinal, desses enfermos que consideram o remédio excelente para outrem, mas, nunca para si mesmos. Enquanto Leonel se valia das consolações da Igreja Católica para consolidar tradições autocráticas, Benjamim esquecia as lições do Espiritismo, para armazenar indisciplinas e difundir desesperações.

Absolutamente envenenados de teorias mentirosas, terminaram ambos a experiência humana, na posição de inimigos irreconciliáveis.

Despertando na vida real, sentiam-se estranhamente algemados um ao outro. Cercavam-nos sombras espessas e tristes; e como se houvessem enlouquecido, perdendo a luz da memória, somente a custo de muitos anos conseguiram fixar recordações das existências obscuras.

Quando a lembrança lhes felicitou o espírito abatido, compreenderam a situação, desolados, e puseram-se à procura daquele mentor generoso que lhes havia banhado o coração de sábios conselhos.

Depois de longo tempo, que lhes marcou angústias dilacerantes, foram readmitidos à presença do carinhoso orientador, que, ante as lágrimas de ambos, exclamou serenamente:

— Não estranho a dor que lhes fere o espírito enfermo, à face do tempo perdido e do ensejo malbaratado. Não lhes faltou inspiração divina para o êxito necessário. Entretanto, esqueceram, mais uma vez, a lei do uso, internando-se no abuso criminoso, olvidando que pobreza e fortuna constituem oportunidades do serviço divino na Terra. Os que administram são mordomos, os que obedecem são operários, mas, no coração augusto de Nosso Pai, estamos inscritos indistintamente na categoria de cooperadores de suas obras. Se era justo obter moderação, paciência, confiança, fé e resistência sublime com os valores da pobreza, e ganhar humildade, ponderação, entendimento, autodomínio, bondade e paz com os valores da riqueza, adquiriram vocês desesperação, rebeldia, vaidade e ruína. Não posso asseverar que voltaram piores que no passado escabroso, porque ninguém regride na evolução perpétua da vida; mas posso afiançar que voltaram mais sujos. A crise de ambos é de estacionamento complicado. Enquanto outros irmãos nossos costumam deter a marcha em jardins ou florestas, preferiram vocês a parada em lamaçal inconcebível. Valeram-se das sagradas posições de administrar e obedecer, tão só no propósito de oprimir e menosprezar. Esqueceram que todo trabalho honesto, no mundo, é título da Confiança Divina.  Não observo qualquer traço de superioridade moral entre um e outro. Ambos faliram desastradamente. É a dolorosa experiência dos que prometem sem saberem cumprir, é o fracasso do aprendiz pelo descuido próprio. Não vos declarei que pobreza e riqueza são continentes da probabilidade? Cultivaram, porém, a terra das concessões benditas, enchendo-a de ervas venenosas e povoando-a de monstros e fantasmas. Mascararam-se a si mesmos e caíram no pântano. Que posso fazer, agora, senão lamentar a imprevidência?

Ambos os companheiros de infortúnio ouviam-no em pranto.

Reunindo todo o cabedal de energias próprias, Leonel adquiriu coragem e interrogou:

— Não poderíamos, entretanto, recomeçar juntos a prova da fortuna e da pobreza? Estou convencido de que venceremos agora.

— Sim — respondeu o instrutor sabiamente —, a medida é possível. No entanto, segundo observei, vocês regressaram enlameados. A oportunidade desejável, por enquanto, é a de se lavares convenientemente, a fim de prosseguir caminho.

Calou-se o mentor amigo. Leonel e Benjamim entenderam sem dificuldade. E depois de algum tempo renasciam na Terra, procurando o tanque fundo e vasto do sofrimento.

 HUMBERTO DE CAMPOS

Reportagens do Além Túmulo

 

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Aprendendo com o livro dos Espíritos questão 206



Parte Segunda

Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos



CAPÍTULO IV

DA PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS



Parentesco, filiação



206. Do fato de não haver filiação entre os Espíritos dos descendentes de qualquer família, seguir-se-á que o culto dos avoengos seja ridículo?



“De modo nenhum. Todo homem deve considerar-se ditoso por pertencer a uma família em que encarnaram Espíritos elevados. Se bem os Espíritos não procedam uns dos outros, nem por isso menos afeição consagram aos que lhes estão ligados pelos elos da família, dado que muitas vezes são atraídos para tal ou qual família pela simpatia, ou pelos laços que anteriormente se estabeleceram. Mas, ficai certos de que os vossos antepassados não se honram com o culto que lhes tributais por orgulho. Em vós não se refletem os méritos de que eles gozem, senão na medida dos esforços que empregais por seguir os bons exemplos que vos deram. Somente nestas condições lhes é grata e até mesmo útil a lembrança que deles guardais.”





COMENTÁRIO DO ESPÍRITO MIRAMEZ NA OBRA “FILOSOFIA ESPÍRITA”


FILOSOFIA ESPÍRITA - VOLUME V



Questão 206 comentada

CAPÍTULO 02

0206/LE

CULTO AOS ANCESTRAIS



Não estamos negando o culto àqueles que nos foram caros, que cooperaram no nosso retorno à carne para novas experiências; de forma alguma. Quando nos lembrarmos deles, devemos acrescentar sempre gratidão e orar pelos avoengos pedindo a Deus para os abençoar onde eles se encontrarem e, ainda mais, devemos cultivar o bem que eles plantaram, através das sementes de moralidade, de trabalho e de amor.

Se nenhuma das ovelhas se perde, no dizer de Jesus, como cultuar somente os nossos antepassados, se todos se fundem em uma só família? Experimentemos, pois, amar a humanidade. A lei de amor nos diz que somos um todo em Deus, que representamos elos da família universal, e que corre em todos os corpos uma energia divina procedente do Todo Poderoso.

Seitas e religiões espiritualistas existem cuja filosofia se baseia no culto aos ancestrais, cuja direção ou comando são passados de pai para filho, ou descendente mais próximo, na ilusão enganosa de que se pode ligar, parcimoniosamente, as coisas da Divindade. Mas quando ocorre que, na família ancestral, tenha havido alguns cujos comportamentos possam envergonhar os descendentes, estes procuram esquecê-los ou apagá-los.

Afirma-nos Jesus que são os doentes que precisam de médicos, e não os sãos. Não podemos ignorar que o sangue que corre nas veias de um nobre é o mesmo que viaja no corpo de um plebeu.

A lei da reencarnação é um socorro para os Espíritos que ainda precisam dela, por fazê-los encontrar os inimigos do passado frente a frente, de modo a aceitarem a reconciliação como a melhor forma de paz. O culto aos ancestrais nunca é ridículo; é um ato de amor e gratidão. Somente o que a lei do amor não aceita é que esse culto fique limitado ao lar onde nasceu. Que seja estendido para os outros lares, para outras nações e para o mundo inteiro. Não gosta o homem de visitar, quando pode, países diferentes daquele em que estagia? De lá não traz coisas para a sua alegria e o seu conforto? Por que não abençoar esse povo que não difere da sua própria forma? São nossos irmãos, são também nossos próximos, que Jesus nos pede para amar como sendo os nossos irmãos. O próprio casamento com pessoas de raça diferente contribui para nos unirmos, para libertar o amor familiar, e é por esse processo que passamos a nos ligar com muitas famílias, para que elas se tornem uma só.

Jesus disse que "nos céus não se casa nem se dá em casamento". O Espírito não descende do Espírito. Quando um casal desencarna, se encontra livre, e, às vezes, é chamado a ingressar em outra família, no país onde animou um corpo, ou em outro, ele vai encontrar ancestrais de outras famílias, onde deve exercitar o amor e universalizar os seus sentimentos.

Não se deve ficar pedindo aos parentes desencarnados para fazerem o que se quer que seja feito na Terra; banalidades, às vezes, que envergonham a própria consciência. Se se desconhece o estado deles no plano da vida espiritual, não se deve incomodá-los com as coisas da Terra. Eles, quando elevados, ficarão alegres quando seus "familiares" principiarem a abolir os erros, dissipando as trevas do seu mundo mental.

Quando o nosso amor quebrar as amarras do lar, dos parentes, e atingir os seres humanos sem distinção, pela caridade, respeitando o direito de todos, nos sentiremos felizes por sabermos que no futuro haverá um só rebanho e um só Pastor, que é Jesus Cristo. Devemos, sim, cultuar os ancestrais, mas, de todos os povos, como sendo a nossa família, a família de Deus.

http://www.olivrodosespiritoscomentado.com/fev5q206c.html



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O Evangelho segundo o Espiritismo » Capítulo IV - Ninguém poderá ver o reino de Deus se não nascer de novo » A reencarnação fortalece os laços de famíla, » 21

21. Vejamos agora as conseqüências da doutrina anti-reencarnacionista. Ela, necessariamente, anula a preexistência da alma. Sendo as almas criadas ao mesmo tempo que os corpos, nenhum laço anterior há entre elas, que, nesse caso, serão completamente estranhas umas às outras. O pai é estranho a seu filho. A filiação das famílias fica assim reduzida à só filiação corporal, sem qualquer laço espiritual. Não há então motivo algum para quem quer que seja glorificar-se de haver tido por antepassados tais ou tais personagens ilustres. Com a reencarnação, ascendentes e descendentes podem já se terem conhecido, vivido juntos, amado, e podem reunir-se mais tarde, a fim de apertarem entre si os laços de simpatia. 

Fonte: http://www.ipeak.net/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=889&idioma=1








Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 205

Parte Segunda
Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos

CAPÍTULO IV
DA PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS

Parentesco, filiação

205. A algumas pessoas a doutrina da reencarnação se afigura destruidora dos laços de família, com o fazê-los anteriores à existência atual.

“Ela os distende; não os destrói. Fundando-se o parentesco em afeições anteriores, menos precários são os laços existentes entre os membros de uma mesma família. Essa doutrina amplia os deveres da fraternidade, porquanto, no vosso vizinho, ou no vosso servo, pode achar-se um Espírito a quem tenhais estado presos pelos laços da consangüinidade.”

a) - Ela, no entanto, diminui a importância que alguns dão à genealogia, visto que qualquer pode ter tido por pai um Espírito que haja pertencido a outra raça, ou que haja vivido em condição muito diversa.

“É exato; mas essa importância assenta no orgulho. Os títulos, a categoria social, a riqueza, eis o que esses tais veneram nos seus antepassados. Um, que coraria de contar, como ascendente, honrado sapateiro, orgulhar-se-ia de descender de um gentil-homem devasso. Digam, porém, o que disserem, ou façam o que fizerem, não obstarão a que as coisas sejam como são, que não foi consultando-lhes a vaidade que Deus formulou as leis da Natureza.”


COMENTÁRIO DO ESPÍRITO MIRAMEZ NA OBRA “FILOSOFIA ESPÍRITA”

FILOSOFIA ESPÍRITA - VOLUME V

Questão 205 comentada
CAPÍTULO 01
0205/LE
AMOR UNIVERSAL

A doutrina da reencarnação não se afigura como destruidora dos laços de família. Pelo contrário, ela, como lei que vigora em todos os mundos onde os Espíritos reencarnam, alicerça a verdadeira fraternidade, por alimentar o amor universal entre todas as criaturas.
Cultivar o amor somente entre os ancestrais, oferecer atenção somente àqueles com os quais convivemos, amar só os nossos familiares a consciência em Cristo nos diz que reforça o egoísmo e o próprio orgulho, não só dos que nos acompanham como, igualmente, de toda uma raça.
A lei da reencarnação é divina por eliminar os limites de onde poderemos viver. Negá-la é desconhecer Jesus, que nos pede para amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, e acrescentamos: amar a todos e a tudo, pois, se a criação vem de Deus, somos todos irmãos, na graça e misericórdia do Senhor.
O princípio das vidas sucessivas nunca destrói os lares; ele os distende ao infinito e se forma na Terra uma única família para que tenhamos oportunidade de exercitar o amor; sem a reencarnação, não há condições de se estender o amor além das fronteiras do lar. Mas, com o tempo, as almas vão crescendo e percebendo, que precisam umas das outras, mesmo que se encontrem distantes. Basta ao homem olhar o que come, o que usa e o que não foi feito por suas próprias mãos nem pelos seus familiares e que, por vezes, vieram de fora, de outras nações. Façamos como o ar e as águas, que desconhecem barreiras de estados e nações, levando o conforto e a alegria onde quer que seja. Imitemos o sol: a sua luz se divide, manifestando saúde e doando vida onde pode alcançar para servir.
O conhecimento das vidas múltiplas destrói a importância exagerada que dispensamos aos nossos parentes, porque pode nos levar a nascer em vários lugares, percebendo, por intuição na recordação silenciosa, que a vida é amor, aquele amor que não se transforma em exigências, que não se vende e nem se compra, força criadora de harmonia e de paz, trabalhando no soerguimento de todos os caídos, por prazer de servir.
A falsa idéia de sangue real é que faz muitos negarem a reencarnação. O apego às heranças é embaraço para se crer que nascemos tantas vezes quantas forem necessárias; contudo, Deus não nos pediu opinião para fazer as leis que correspondem às nossas necessidades de despertamento espiritual. Quem ainda não deseja entender a lei da reencarnação esteja certo de que o tempo se encarregará dele e a escola das vidas sucessivas ensinará que essa lei, como dogma divino, é para o seu próprio bem, porque nos ajuda a entender e vivenciar o amor universal.
Trocamos os muitos corpos na nossa caminhada, para que possamos abolir o carma, corrigindo erros e ampliando nossos conhecimentos sobre a vida que continua em todas as direções do existir. Quem deseja ser livre haverá de conhecer a verdade, assim nos diz Nosso Senhor Jesus Cristo. Deus não consulta a vaidade dos homens para formular leis no universo, repetimos.
Quem não pôde ainda conceber a lei da reencarnação, como bênção de Deus em nosso favor, que medite sobre ela, que ore pedindo inspiração. O céu nunca foi pobre de conhecimentos, principalmente no que tange à libertação dos Espíritos. Para derrubar o passado, não basta alguns segundos de arrependimento. O arrependimento na reforma interna, pelo amor e pela caridade, pelo trabalho e pela compreensão. Tudo que possamos ver e sentir, troca de formas periodicamente, porque a vida é movimento, sendo que é a mesma luz divina que move as formas que cada vez mais ascendem para a luz da verdade.
Quem nasce, renasce; esta é a lei.
http://www.olivrodosespiritoscomentado.com/fev5q205c.html


Revista Espírita 1862 » Março » Os Espíritos e o brasão
Entre os argumentos apresentados por certas pessoas em oposição à doutrina da reencarnação, um há que devemos examinar porque, à primeira vista, parece especioso.
Dizem que ela tenderia a romper os laços da família, multiplicando-os, pois aquele que concentrasse sua afeição sobre o pai deveria reparti-la por tantos pais quantas as reencarnações. Como, então, uma vez no mundo dos Espíritos, se reconhecer no meio dessa progenitura? Por outro lado, em que se torna a filiação dos antepassados, se aquele que se julga descendente em linha reta de Hugo Capeto ou de Godofredo de Bulhões viveu várias vezes? Se, depois de ter sido um grão senhor, pode tornar-se um plebeu? Eis, assim, toda uma linhagem derrubada!
Para começar responderemos que de duas uma: ou isso é ou não é. Se for, todas as recriminações pessoais não impedirão que seja, porque, para regular a ordem das coisas, Deus não pede conselho a este ou àquele, do contrário cada um quereria que o mundo fosse regido à sua vontade. Quanto à multiplicidade dos laços de família, diremos que certos pais não têm senão um filho, enquanto outros têm dez, doze e mais. Já se pensou em acusar Deus de obrigá-los a dividir a afeição em tantas partes? E esses filhos, que por sua vez têm filhos, tudo isso não forma uma família numerosa da qual avô ou bisavô se vangloria, em vez de lamentar-se? Vós, que fazeis vossa genealogia remontar a cinco ou seis séculos, uma vez no mundo dos Espíritos, não devereis partilhar a vossa afeição entre todos os vossos ascendentes? Se vos atribuís uma dúzia de avós, então tereis o duplo ou o triplo, eis tudo! Mas tendes uma ideia muito mesquinha dos vossos sentimentos afetuosos, pois temeis que não bastem para querer a várias pessoas. Tranquilizai-vos, porém. Vou provar que com a reencarnação vossa afeição será menos dividida do que se não existisse. Com efeito, suponhamos que na vossa genealogia contásseis cinquenta avós, tanto ascendentes diretos quanto colaterais, o que é pouco, se remontardes às cruzadas. Pela reencarnação pode ser que alguns dentre eles voltem várias vezes, e que assim, em lugar de cinquenta Espíritos que contais na Terra, só encontreis a metade no outro mundo.
Passemos à questão de filiação. Com o vosso sistema chegais a um resultado diferente daquele que esperais. Se não houver preexistência, anterioridade da alma, a alma ainda não viveu. Nesse estado de coisas, não tem nenhuma relação com nenhum dos vossos antepassados. Suponhamos que descendais em linha reta de Carlos Magno. O que é que há de comum entre vós e ele? O que foi que vos transmitiu intelectual e moralmente? Nada, absolutamente nada. Por que vos apegais a ele? Por uma série de corpos que apodreceram todos, destruídos e dispersados? Não há nisso por que vos sentirdes orgulhosos. Com a preexistência da alma, ao contrário, podeis ter tido com os vossos antepassados relações reais, sérias e mais lisonjeiras para o amor-próprio. Portanto, sem a reencarnação existe apenas um parentesco corporal, pela transmissão de moléculas orgânicas da mesma natureza que a dos cavalos puro-sangue. Com a reencarnação há um parentesco espiritual. Qual dos dois é melhor?
Certamente objetareis que com a reencarnação um Espírito estranho pode infiltrar-se na vossa linhagem e que, em vez de nela contar apenas gentis-homens, pode-se aí encontrar um sapateiro. É perfeitamente certo, mas isso não quer dizer nada. São Pedro era um pobre pescador. Ele não seria de uma casa suficientemente digna que nos fizesse corar por tê-lo em nossa família?
Depois, entre seus antepassados de nomes brilhantes, tiveram todos uma conduta edificante, a nosso ver a única coisa de que, até certo ponto, nos poderíamos honrar, posto o seu mérito nada tenha com o nosso? Que se perscrute a vida particular desses paladinos, desses grandes barões que roubavam sem escrúpulos os transeuntes e que, em nossos dias, seriam simplesmente arrastados à barra do tribunal por seus grandes feitos; de certos grão senhores para quem a vida de um vilão não valia uma peça de caça, pois faziam enforcar um homem por causa de um coelho. Tudo isso eram pecadilhos que não manchavam brasões. Mas fazer um casamento desigual; introduzir na família um sangue plebeu era um crime imperdoável. Ora, por mais que se faça, quando soar a hora da partida ─ e soa para os grandes como para os pequenos ─ terão que deixar na Terra as roupas bordadas e os pergaminhos de nada servirão diante do juiz supremo, que pronuncia esta sentença terrível: Aquele que se exaltar será humilhado!
Se bastasse descender de qualquer grande homem para ter seu lugar marcado previamente no Céu, a gente o compraria barato, pois custaria apenas o mérito alheio. A reencarnação dá uma nobreza mais meritória ─ a única aceita por Deus ─ a de haver pessoalmente animado uma série de homens de bem. Feliz aquele que puder depor aos pés do Eterno o tributo dos serviços feitos à Humanidade em cada uma de suas existências, porque a soma de seus méritos será proporcional ao número de suas existências. Mas àquele que apenas puder prevalecer-se da ilustração de seus antepassados, perguntará Deus: “Por que vós mesmo não vos ilustrastes?”.
Um outro sistema poderia, aparentemente, conciliar as exigências do amor-próprio com o princípio da não reencarnação. É aquele pelo qual o pai não transmitiria ao filho apenas o corpo, mas também uma porção da alma, de modo que, se descendêsseis de Carlos Magno, vossa alma poderia ter seu tronco na dele. Muito bem. Vejamos, porém, a que consequência chegamos. Em virtude de tal sistema, a alma de Carlos Magno teria o seu tronco na de seu pai e, assim, elo por elo, chegaríamos a Adão. Se a alma de Adão é o tronco de todas as almas do gênero humano, as quais transmitem aos sucessores uma porção de si própria, as almas atuais seriam um produto de fracionamento tal que ultrapassaria todas as subdivisões homeopáticas. Disso resultaria que a alma do pai comum deveria ser mais completa e mais inteira que a dos descendentes. Resultaria, ainda, que Deus teria criado apenas uma alma, que se subdividiria ao infinito e assim cada um de nós não seria uma criação direta de Deus.
Aliás, tal sistema deixaria imenso problema a ser resolvido: o das aptidões especiais. Se o pai transmitisse a seu filho os atributos de sua alma, necessariamente transmitiria suas virtudes e seus vícios, seus talentos e sua inépcia, como lhe transmite certas enfermidades congênitas. Como, então, explicar por que homens virtuosos ou de gênio têm filhos maus ou cretinos e vice-versa? Por que uma linhagem seria misturada de bons e de maus? Dizei, ao contrário, que cada alma é individual; que tem existência própria e independente; que progride em virtude de seu livre-arbítrio, por uma série de existências corporais, em cada uma das quais adquire algo de bom e deixa algo de mau, até que tenha atingido a perfeição, e tudo se explica, tudo se acomoda à razão, à justiça de Deus, mesmo em proveito do amor-próprio.
O Sr. Salgues, de Antuérpia, de quem falamos no número passado, não é partidário da reencarnação. Depois do aparecimento de O Livro dos Espíritos ele escreveu-nos uma longa carta, na qual combatia essa doutrina com argumentos baseados na sua incompatibilidade com os laços de família. Nessa carta, datada de 18 de setembro de 1857, dá-nos a sua genealogia, que remonta aos carolíngios e pergunta em que se torna essa gloriosa filiação, com a mistura de Espíritos pela reencarnação. Dela extraímos a seguinte passagem:

“Mas para que serviriam os quadros genealógicos? Tenho o meu completo, regular: de um lado, desde os antepassados de Carlos Magno, e do outro, desde a filha do emir Muza, um dos descendentes abassidas de Maomé, décima geração por seu casamento com Garcia, príncipe de Navarra, pai, com ela, de Garcia Ximenes, rei de Navarra; e, enfim, essa genealogia continuou, por meio de alianças, por soberanos de quase todas as cortes da Europa, até a época de Afonso VI, rei de Castela, depois nas casas de Comminges, de Lascaris Vintimille, de Montmorency, de Turenne e finalmente dos condes e senhores Pelhasse de Salgues, no Languedoc.
“Tudo isto se pode verificar na Arte de verificar as datas, nos Beneditinos de Saint-Maur, no Dicionário da nobreza da França, no Armorial, no Padre Anselmo, Noreri, etc. Mas se não nos ligamos aos nossos pais senão pela matéria carnal que recebeu o nosso Espírito, não há em toda parte lacunas e soluções de continuidade? É um caminho traçado na areia, que se perde em milhares de direções.
Então, que nos seja permitido crer que se o Espírito não se transmite, a alma é para o homem o que o aroma é para a flor. Ora, Swedenborg não diz nos Arcanos que nada se perde na Natureza, e que o aroma das flores reproduz novas flores em outras regiões, que não aquela de onde saiu? É, pois, pela alma, que não é Espírito, que talvez existisse uma cadeia semiespiritual das gerações. Se tivesse contentado ao meu Espírito saltar oito ou dez gerações de vez em quando, onde poderia reconhecer meus antepassados?”

Como se vê, o Sr. Salgues não se apega senão à procedência do corpo. Como, porém, conciliar as relações de Espírito a Espírito com a não preexistência da alma? Se houvesse entre eles, na filiação, relações necessárias, como o descendente de tantos soberanos seria hoje um simples proprietário anjuvino? Aos olhos do mundo não é uma regressão? Não pomos em dúvida a autenticidade de sua genealogia, e o felicitamos por ela, desde que isso lhe dá prazer, mas diremos que o prezamos mais por suas virtudes pessoais do que pelas dos antepassados.
A autoridade de Swedenborg é muito contestável, quando atribui ao aroma a reprodução das flores. Esse óleo essencial, volátil, que lhe dá o aroma, jamais teve a faculdade reprodutora, que reside unicamente no pólen. Falta, portanto, justeza à comparação, pois se a alma apenas influencia, com seu perfume, a alma que a sucede, não a cria. Contudo, deveria transmitir-lhe suas próprias qualidades e, em tal hipótese, não vemos por que o descendente de Carlos Magno não teria enchido o mundo com o brilho de suas ações, enquanto que Napoleão se apoiaria sobre uma alma vulgar. Diga-se, no entanto, que Napoleão descende de Carlos Magno, ou melhor, que ele foi Carlos Magno, que veio no século dezenove continuar a obra começada no oitavo, e a gente compreenderá. Mas, com o princípio da unicidade da existência, nada liga Carlos Magno aos seus descendentes, a não ser esse aroma, transmitido pouco a pouco sobre almas não criadas. Então, como explicar por que, entre seus descendentes, houve tantos homens nulos e indignos, e por que Napoleão é um gênio muito maior do que seus obscuros antepassados?
Faça-se o que se fizer, sem a reencarnação, a gente se bate, a cada passo, contra dificuldades insolúveis, que só a preexistência da alma resolve de maneira ao mesmo tempo simples, lógica e completa, porque dá a razão de tudo.
Outra questão. Um fato conhecido é que as famílias se abastardam e degeneram quando as alianças não saem da linha direta. Dá-se nas raças humanas o mesmo que nas raças animais. Por que, então, a necessidade de cruzamentos? Em que se torna, então, a unidade do tronco? Não há aí uma mistura de Espíritos, uma intrusão de Espíritos estranhos à família?
Um dia abordaremos este grave problema, com todos os desenvolvimentos que o assunto comporta.
O Evangelho segundo o Espiritismo » Capítulo IV - Ninguém poderá ver o reino de Deus se não nascer de novo » A reencarnação fortalece os laços de famíla, » 18
AO PASSO QUE A UNICIDADE DA EXISTÊNCIA OS ROMPE
18. Os laços de família não sofrem destruição alguma com a reencarnação, como o pensam certas pessoas. Ao contrário, tornam-se mais fortalecidos e apertados. O princípio oposto, sim, os destrói.
No espaço, os Espíritos formam grupos ou famílias entrelaçados pela afeição, pela simpatia e pela semelhança das inclinações. Ditosos por se encontrarem juntos, esses Espíritos se buscam uns aos outros. A encarnação apenas momentaneamente os separa, porquanto, ao regressarem à erraticidade, novamente se reúnem como amigos que voltam de uma viagem. Muitas vezes, até, uns seguem a outros na encarnação, vindo aqui reunir-se numa mesma família, ou num mesmo círculo, a fim de trabalharem juntos pelo seu mútuo adiantamento. Se uns encarnam e outros não, nem por isso deixam de estar unidos pelo pensamento. Os que se conservam livres velam pelos que se acham em cativeiro. Os mais adiantados se esforçam por fazer que os retardatários progridam. Após cada existência, todos têm avançado um passo na senda do aperfeiçoamento. Cada vez menos presos à matéria, mais viva se lhes torna a afeição recíproca, pela razão mesma de que, mais depurada, não tem a perturbá-la o egoísmo, nem as sombras das paixões. Podem, portanto, percorrer, assim, ilimitado número de existências corpóreas, sem que nenhum golpe receba a mútua estima que os liga.
Está bem visto que aqui se trata de afeição real, de alma a alma, única que sobrevive à destruição do corpo, porquanto os seres que neste mundo se unem apenas pelos sentidos nenhum motivo têm para se procurarem no mundo dos Espíritos. Duráveis somente o são as afeições espirituais; as de natureza carnal se extinguem com a causa que lhes deu origem. Ora, semelhante causa não subsiste no mundo dos Espíritos, enquanto a alma existe sempre. No que concerne às pessoas que se unem exclusivamente por motivo de interesse, essas nada realmente são umas para as outras: a morte as separa na Terra e no céu. 
O Evangelho segundo o Espiritismo » Capítulo XI - Amar o próximo como a si mesmo » Instrução dos Espíritos » A lei de amor » A lei de amor
8. O amor resume a doutrina de Jesus toda inteira, visto que esse é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso feito. Em sua origem, o homem só tem instintos; quando mais avançado e corrompido, só tem sensações; quando instruído e depurado, tem sentimentos. E o ponto delicado do sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que condensa e reúne em seu ardente foco todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas. A lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres; extingue as misérias sociais. Ditoso aquele que, ultrapassando a sua humanidade, ama com amplo amor os seus irmãos em sofrimento! ditoso aquele que ama, pois não conhece a aflição da alma, nem a do corpo. Seus pés são leves e vive como que transportado, fora de si mesmo. Quando Jesus pronunciou a divina palavra – amor, os povos sobressaltaram-se e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.
O Espiritismo a seu turno vem pronunciar uma segunda palavra do alfabeto divino. Estai atentos, pois essa palavra ergue a pedra dos túmulos vazios, e a reencarnação, triunfando da morte, revela ao homem deslumbrado o seu patrimônio intelectual. Já não é ao suplício que ela o conduz, mas à conquista do seu ser, elevado e transfigurado. O sangue resgatou o Espírito e o Espírito deve hoje resgatar o homem da matéria.
Disse eu que em seu começo o homem só tem instintos; aquele, pois, em quem os instintos dominam está mais perto do ponto de partida do que do fim. Para avançar na direção do objetivo precisa vencer os instintos em proveito dos sentimentos, isto é, aperfeiçoar estes últimos, sufocando os germes latentes da matéria. Os instintos são a germinação e os embriões do sentimento; trazem consigo o progresso, como a glande encerra em si o carvalho, e os seres menos adiantados são os que, despojando-se pouco a pouco de suas crisálidas, se conservam escravizados aos seus instintos. O Espírito deve ser cultivado como um campo. Toda a riqueza futura depende do labor presente, que vos granjeará muito mais do que bens terrenos: a elevação gloriosa. É então que, compreendendo a lei de amor que liga todos os seres, buscareis nela os gozos suaves da alma, prelúdios das alegrias celestes. – Lázaro. (Paris, 1862.)
9. O amor é de essência divina e todos vós, do primeiro ao último, tendes, no fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado. Este é um fato que já haveis podido constatar muitas vezes: o homem, por mais abjeto, vil e criminoso que seja, vota a um ente ou a um objeto qualquer viva e ardente afeição à prova de tudo quanto tendesse a diminuí-la e que alcança, não raro, sublimes proporções.
A um ente ou um objeto qualquer, disse eu, porque há entre vós indivíduos que, com o coração a transbordar de amor, despendem tesouros desse sentimento com animais, plantas e, até, com coisas materiais: espécies de misantropos que, a se queixarem da Humanidade em geral e a resistirem ao pendor natural de suas almas, que buscam em torno de si a afeição e a simpatia, rebaixam a lei de amor à condição de instinto. Entretanto, por mais que façam, não logram sufocar o gérmen vivaz que Deus lhes depositou nos corações ao criá-los. Esse gérmen se desenvolve e cresce com a moralidade e a inteligência e, embora comprimido amiúde pelo egoísmo, torna-se a fonte das santas e doces virtudes que geram as afeições sinceras e duráveis e ajudam a criatura a transpor o caminho escarpado e árido da existência humana.
Há pessoas a quem repugna a reencarnação, com a idéia de que outros venham a partilhar das afetuosas simpatias de que são ciosas. Pobres irmãos! o vosso afeto vos torna egoístas; o vosso amor se restringe a um círculo íntimo de parentes e de amigos, sendo-vos indiferentes os demais. Pois bem! para praticardes a lei de amor, tal como Deus o entende, preciso se faz chegueis passo a passo a amar a todos os vossos irmãos indistintamente. A tarefa é longa e difícil, mas cumprir-se-á: Deus o quer e a lei de amor constitui o primeiro e o mais importante preceito da vossa nova doutrina, porque é ela que um dia matará o egoísmo, qualquer que seja a forma sob que se apresente, dado que, além do egoísmo pessoal, há também o egoísmo de família, de casta, de nacionalidade. Disse Jesus: “Amai o vosso próximo como a vós mesmos.” Ora, qual o limite com relação ao próximo? Será a família, a seita, a nação? Não; é a Humanidade inteira. Nos mundos superiores, o amor recíproco é que harmoniza e dirige os Espíritos adiantados que os habitam, e o vosso planeta, destinado a um progresso em breve, pela sua transformação social, verá praticada por seus habitantes esta sublime lei, reflexo da Divindade.
Os efeitos da lei de amor são o melhoramento moral da raça humana e a felicidade durante a vida terrestre. Os mais rebeldes e os mais viciosos se reformarão, quando observarem os benefícios resultantes da prática deste preceito: Não façais aos outros o que não quiserdes que vos façam; fazei-lhes, ao contrário, todo o bem que vos esteja ao alcance fazer-lhes.
Não acrediteis na esterilidade e no endurecimento do coração humano; ao amor verdadeiro, ele, a seu mau grado, cede. É um ímã a que não lhe é possível resistir. O contacto desse amor vivifica e fecunda os germens dessa virtude que está em vossos corações em estado latente. A Terra, orbe de provação e de exílio, será então purificada por esse fogo sagrado e verá praticada a caridade, a humildade, a paciência, o devotamento, a abnegação, a resignação e o sacrifício, virtudes todas filhas do amor. Não vos canseis, pois, de escutar as palavras de João, o Evangelista. Como sabeis, quando a enfermidade e a velhice o obrigaram a suspender o curso de suas prédicas, limitava-se a repetir estas doces palavras: “Meus filhinhos, amai-vos uns aos outros.”
Caros irmãos, aproveitai essas lições; é difícil o praticá-las, porém, a alma colhe delas imenso bem. Crede-me, fazei o sublime esforço que vos peço: “Amai-vos” e vereis a Terra em breve transformada num Paraíso onde as almas dos justos virão repousar. – Fénelon. (Bordeaux, 1861.)
10. Meus caros condiscípulos, os Espíritos aqui presentes vos dizem, por meu intermédio: “Amai muito, a fim de serdes amados.” É tão justo esse pensamento, que nele encontrareis tudo o que consola e abranda as penas de cada dia; ou melhor: pondo em prática esse sábio conselho, elevar-vos-eis de tal modo acima da matéria que vos espiritualizareis antes de deixardes o invólucro terrestre. Havendo os estudos espíritas desenvolvido em vós a compreensão do futuro, uma certeza tendes: a de caminhardes para Deus, vendo realizadas todas as promessas que correspondem às aspirações de vossa alma. Por isso, deveis elevar-vos bem alto para julgardes sem as constrições da matéria, e não condenardes o vosso próximo sem terdes dirigido a Deus o pensamento.
Amar, no sentido profundo do termo, é o homem ser leal, probo, consciencioso, para fazer aos outros o que queira que estes lhe façam; é procurar em torno de si o sentido íntimo de todas as dores que acabrunham seus irmãos, para suavizá-las; é considerar como sua a grande família humana, porque essa família todos a encontrareis, dentro de certo período, em mundos mais adiantados; e os Espíritos que a compõem são, como vós, filhos de Deus, marcados na fronte para se elevarem ao infinito. É por isso que não podeis recusar aos vossos irmãos o que Deus liberalmente vos outorgou, porquanto, de vossa parte, muito vos alegraria que vossos irmãos vos dessem aquilo de que necessitais. Para todos os sofrimentos, tende, pois, sempre uma palavra de esperança e de apoio, a fim de que sejais inteiramente amor e justiça.
Crede que esta sábia exortação: “Amai bastante, para serdes amados”, fará seu caminho; ela é revolucionária e segue a rota que é fixa, invariável. Mas, já ganhastes muito, vós que me ouvis, pois que já sois infinitamente melhores do que éreis há cem anos. Mudastes tanto, em proveito vosso, que aceitais de boa mente, sobre a liberdade e a fraternidade, uma imensidade de idéias novas, que outrora rejeitaríeis. Ora, daqui a cem anos, sem dúvida aceitareis com a mesma facilidade as que ainda vos não puderam entrar no cérebro.
Hoje, quando o movimento espírita há dado tão grande passo, vede com que rapidez as idéias de justiça e de renovação, constantes nos ditados espíritas, são aceitas pela parte mediana do mundo inteligente. É que essas idéias correspondem a tudo o que há de divino em vós. É que estais preparados por uma sementeira fecunda: a do século passado, que implantou no seio da sociedade terrena as grandes idéias de progresso. E, como tudo se encadeia sob a direção do Altíssimo, todas as lições recebidas e aceitas virão a encerrar-se na permuta universal do amor ao próximo. Por aí, os Espíritos encarnados, melhor apreciando e sentindo, se estenderão as mãos, de todos os confins do vosso planeta. Uns e outros reunir-se-ão, para se entenderem e amarem, para destruírem todas as injustiças, todas as causas de desinteligências entre os povos.
Grande pensamento de renovação pelo Espiritismo, tão bem exposto em O Livro dos Espíritos; tu produzirás o grande milagre do século vindouro, o da reunião de todos os interesses materiais e espirituais dos homens, pela aplicação desta máxima bem compreendida: “Amai bastante, para serdes amados.” Sanson, ex-membro da Sociedade Espírita de Paris. (1863.) 
O Evangelho segundo o Espiritismo » Capítulo XIV - Honrai a vosso pai e vossa mãe » A parentela corporal e a parentela espiritual
8. Os laços do sangue não criam forçosamente os liames entre os Espíritos. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porquanto o Espírito já existia antes da formação do corpo. Não é o pai quem cria o Espírito de seu filho; ele mais não faz do que lhe fornecer o invólucro corpóreo, cumprindo-lhe, no entanto, auxiliar o desenvolvimento intelectual e moral do filho, para fazê-lo progredir.
Os que encarnam numa família, sobretudo como parentes próximos, são, as mais das vezes, Espíritos simpáticos, ligados por anteriores relações, que se expressam por uma afeição recíproca na vida terrena. Mas, também pode acontecer sejam completamente estranhos uns aos outros esses Espíritos, afastados entre si por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem na Terra por um mútuo antagonismo, que aí lhes serve de provação. Não são os da consangüinidade os verdadeiros laços de família e sim os da simpatia e da comunhão de idéias, os quais prendem os Espíritos antes, durante e depois de suas encarnações. Segue-se que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo sangue. Podem então atrair-se, buscar-se, sentir prazer quando juntos, ao passo que dois irmãos consangüíneos podem repelir-se, conforme se observa todos os dias: problema moral que só o Espiritismo podia resolver pela pluralidade das existências. (Cap. IV, nº 13)
Há, pois, duas espécies de famílias: as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos laços corporais. Duráveis, as primeiras se fortalecem pela purificação e se perpetuam no mundo dos Espíritos, através das várias migrações da alma; as segundas, frágeis como a matéria, se extinguem com o tempo e muitas vezes se dissolvem moralmente, já na existência atual. Foi o que Jesus quis tornar compreensível, dizendo de seus discípulos: Aqui estão minha mãe e meus irmãos, isto é, minha família pelos laços do Espírito, pois todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus é meu irmão, minha irmã e minha mãe.
A hostilidade que lhe moviam seus irmãos se acha claramente expressa em a narração de São Marcos, que diz terem eles o propósito de se apoderarem do Mestre, sob o pretexto de que este perdera o espírito. Informado da chegada deles, conhecendo os sentimentos que nutriam a seu respeito, era natural que Jesus dissesse, referindo-se a seus discípulos, do ponto de vista espiritual: “Eis aqui meus verdadeiros irmãos”. Embora na companhia daqueles estivesse sua mãe, ele generaliza o ensino que de maneira alguma implica haja pretendido declarar que sua mãe segundo o corpo nada lhe era como Espírito, que só indiferença lhe merecia. Provou suficientemente o contrário em várias outras circunstâncias. 
http://www.ipeak.net/site/imagens/arvore/page.gifA Gênese » A Gênese segundo o Espiritismo » Capítulo I - Caráter da revelação espírita » 35
35. Com a doutrina da criação da alma no instante do nascimento, vem-se a cair no sistema das criações privilegiadas; os homens são estranhos uns aos outros, nada os liga, os laços de família são puramente carnais; não são de nenhum modo solidários com um passado em que não existiam; com a doutrina do nada após a morte, todas as relações cessam com a vida; os seres humanos não são solidários no futuro. Pela reencarnação, são solidários no passado e no futuro e, como as suas relações se perpetuam, tanto no mundo espiritual como no corporal, a fraternidade tem por base as próprias leis da Natureza; o bem tem um objetivo e o mal conseqüências inevitáveis. 
Fonte:http://www.ipeak.net/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=888&idioma=1