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terça-feira, 1 de janeiro de 2013

SIMÃO, O CIRINEU


Nenhuma voz que se erguesse para defendê-lO.

Pessoa alguma que se resolvesse falar a Seu favor.

Todos os verbos estavam calados, e o silêncio era a resposta da frágil gratidão humana Àquele que não titubeava entregar-se em holocausto de amor.

Tudo se realizava como se fosse uma patética entoando as tristes notas de uma mensagem fúnebre.

O medo aparvalhava os amigos e a palidez da covardia moral cobria os rostos dos beneficiados, a distância, com a mortalha da injustificação.

Não obstante as arbitrariedades da Lei, Israel mantinha no seu estatuto que qualquer pessoa podia levantar a voz a favor de um condenado. Isto bastaria para revisar o processo, concedendo outra oportunidade ao réu, embora já estivesse julgado. ..

Com Ele a acorrência se fazia diferente.

Cinco dias apenas eram transcorridos do sucesso que obtivera na Idade regorgitante que O exaltara, dizendo-O o Messias, o Esperado! naquela ocasião todos comentavam publicamente os Seus feitos, enquanto ofereciam tóxico para que os ódios fermentassem, culminando na tragédia que ora se consumava.
Curtos são os sentimentos da gratidão humana e breve o caminho dos que dizem amar. . .

Ele não enganara a ninguém, porquanto sempre se reportava a um reino que não era deste mundo.

Apesar disso, esparzira a ternura e a misericórdia como um Sol generoso aquecendo o pantanal e o transformando em campo fértil.

Agora se encontrava só. . . A sós, com Deus como, aliás, sempre estivera.

Tantos se haviam beneficiado, inobstante permaneciam silentes, distantes. ..

A estranha procissão percorreu a distância inferior a quinhentos metros, atravessou a porta Judiciária, e a silhueta do monte sombrio se desenhou entre o fulgor do dia em plenitude e o fundo azul abrazado da Natureza. ..

Abril já é período de seca, de calor, de sol intenso.. . A terra se torna de cor ocre, morrem as anémonas e os tons de chumbo substituem o verdor que embeleza.

Àquela hora, mais ou menos às onze, a atmosfera carregada alcançava índices de cansaço que desagradavam, abafados. . .

De semblantes sinistros, com varapaus, os membros da peregrinação torturam o Justo, agridem-nO com acrimônia, mordacidade e zombaria.

Sempre se fará assim com aqueles que se elevam acima da craveira da banalidade, com os que se erguem nas grimpas dos ideais de enobrecimento da Humanidade.

Ele viera para isto, para ensinar cada homem a carregar sua cruz conforme o fazia, sem queixas nem murmurações.
Cirenaica, o antigo reino, fora colonizado pelos gregos, que fundaram Cirene. Posteriormente, sob a dinastia que tivera origem com Bato, de Tera, progrediu, nascendo outras cidades. Depois da desencarnação de Alexandre, o Grande, caiu em mãos dos Ptolomeus que passaram a chamá-la Pentápolis, em razão das cinco cidades que a formavam: Arsinoé, Berenice, Ptolomaide, Apolônia e Cirene.

No ano 67 a. C, passou à Província romana. São de Cirene: Aristipo, Calímaco, Eratóstenes...

Cirene, sua capital, passaria à narração evangélica graças a Simão, ali nascido, judeu de família grega que se encontrava acompanhando a sinistra procissão pelas vias estreitas de Jerusalém, naquele dia.

Aquele homem de olhar triste fascinou-o.

A pesada cruz, com quase setenta quilos, a dilacerar os ombros e as mãos do condenado, que cambaleia, comove-o.

A noite de vigília demorada, as viagens entre Anaz e Caifaz, o Pretório exauriram o Filho de Deus.

O centurião fustigava o preso, a fim de que não desfalecesse. A penalidade deveria ser cumprida.

Enfurecido, experimenta o soldado um misto de piedade e dever, ferido pelo amor do prisioneiro pacífico e escravo, serviçal pela paixão a César. No tormento que o vence, deseja diminuir a carga que ameaça esmagá-l0. Perpassa o olhar injetado pelas filas de mudos espectadores e chama o homem de Cirene.

O convocado não reage. Parece até que se rejubila interiormente. Submisso curva-se, oferece o ombro e auxilia o estranho.

A cruz se ergue mais leve. Jesus dirige-lhe um olhar de profundo amor.

Lampeja um lucilar de ternura e de gratidão que penetra o benfeitor inesperado e fá-lo tremer de emoção desconhecida.. .

Pai de dois jovens, Rufo e Alexandre, pensa nos filhos e apiada-se dos pais do condenado, umedecendo os olhos.

Estranha voz balbucia no seu coração uma cantilena de esperança. ..
Tem a impressão de que o Homem lhe devassa o pensamento e responde às inquirições que lhe brotam nalma, espontâneas.

As lágrimas se misturam ao suor que molha o rosto queimado, coberto de pó.

Viera do campo, sendo surpreendido pela alucinação da intolerância e do ódio.

Claro, que ouvira falar de Jesus. Conhecia-O, admirava-O à distância. Agora, porém, O amava.

O amor é um sentimento veloz. Toma do coração e reina absoluto. Dar-lhe-ia a vida se fosse necessário — pensou.

Nesse momento, a comitiva torva chegava ao topo do monte. O crime deveria ser consumado antes do cair do dia, quando se iniciava o sábado, reservado ao repouso, ao esconder-se o Sol. . .
Viu-0 ser preso ao madeiro.

A patética do martelo nos pregos repercutiria nos seus ouvidos por muito tempo. ..

O som metálico e as contrações musculares do Submisso dilaceraram-no, também. Os semblantes suarentos dos crucificadores e os olhares de lince, a agonia e o sangue a fluir abundante, eram a moldura vergonhosa que contrastava com a nobre serenidade dEle.

Quando as cordas O arrastaram nas traves, Ele oscilou no ar. O corpo arriou, rasgado. A linha vertical tombou no fundo da grota calcada por pedras que a impediam de cair. Culminava a injustiça criminosa dos homens que se arrastariam por milênios futuros, tentando repará-la.

Permitiu-se ficar a contemplá-lO...

Percebeu as mulheres que choravam e participou, intimamente, daquela dor honesta e corajosa.

Era, sim, o estoicismo feminino que se Lhe fazia solidário, quando todos O abandonaram. . .

Quedou-se ali, petrificado, a meditar até o Seu último hausto.

Jamais O esqueceria.

Volveu ao lar e penetrou-se do Espírito de Jesus.

Buscou mais tarde os Seus discípulos, ouviu-lhes as narrativas tardias e luminosas, passando a seguí-los e fazendo que seus filhos se convertessem àquele incomparável amor. . .

Simão, o cireneu, é o testemunho da solidariedade que o mundo nos solicita até hoje.

Símbolo e ação de bondade, imortaliza-se e liberta-se da timidez, da escravidão a que se jugula crescendo no rumo do Infinito.

Quinhentos metros eram a distância a percorrer entre o local do julgamento arbitrário e o acume do monte da Caveira. . .

Em curta distância, a impiedade e a zombaria são grandes. Também o testemunho da solidariedade fraternal fez-se enorme.

Todos encontraremos pelo caminho da aflição os cireneus em nome e honra de Jesus. A nosso turno devemos tornar-nos novos homens de Cirene a ajudar os que passam sobrecarregados aguardando, esperando socorro.
Amélia Rodrigues
Livro: Quando voltar a Primavera-Divaldo

sábado, 27 de outubro de 2012

O testemunho da verdade

“Não nasci e não vim a este mundo senão para dar testemunho da verdade.”
(João, 18:37.)
JUVANIR BORGES DE SOUZA
Essas palavras de Jesus, registradas no Evangelho de João, são parte do diálogo do Mestre com Pilatos, o governador romano que quis ouvir aquele que era perseguido pelos detentores do poder religioso, os
quais prenderam e tudo fizeram para o condenar à morte na cruz infamante.
A fraqueza do representante do poder romano ficou evidenciada por não ter encontrado nenhuma
transgressão de parte do acusado, conforme declarou, e, mesmo assim, cedeu às acusações infundadas
dos perseguidores fanáticos, que demonstraram sua profunda ignorância, diante não só de suas
próprias crenças, mas também perante um ser superior que viera a este mundo, então mais atrasado
que na atualidade, “para dar testemunho da verdade”.
O Mestre sabia perfeitamente da profunda ignorância daqueles que já haviam sido beneficiados
pela revelação mosaica, pela presença de diversos profetas, pela libertação da escravidão no Egito e
pelo encontro da terra prometida, que já habitavam há séculos.
Pela palavra do Mestre, sua excepcional missão, que abrange inúmeros aspectos da vida de
todos os habitantes da Terra, tanto dos que aqui viveram antes de sua vinda, quanto dos que renasceriam
após sua presença entre os homens, foi por Ele resumida numa afirmação, que encerra as mais vastas consequências para a renovação deste mundo e de todos os homens que o habitam.
“Dar testemunho da verdade” corresponde à reafirmação de um ser superior, o Governador espiritual
da Terra, de que seus habitantes de todos os tempos necessitam retificar inúmeras concepções,
crenças, ideias, sentimentos e tudo mais que constitui a vida em um mundo inferior, ajustando-os
à realidade e à verdade.
Sua missão foi a continuação dos esforços que já vinham sendo feitos por outros missionários a
seu serviço, desde tempos imemoriais, para que os habitantes deste orbe alcançassem melhores estágios
evolutivos.
Na época em que o Mestre resolveu estar presente entre seus irmãos menores, após a anunciação
de sua vinda pelos profetas, com cerca de oito séculos de antecedência, a Humanidade, muito
atrasada em suas ideias e crenças, era dominada pelo politeísmo multiforme e por costumes variados,
com a predominância da força entre os povos, como é prova o domínio do Império Romano sobre
grande parte das nações.
Vindo no seio do povo judeu, o único que acreditava na existência de um só Deus, mesmo assim
teve de enfrentar a profunda ignorância dos mandatários dos poderes temporal e religioso.
Sua luta foi constante e poucos foram os que compreenderam sua missão, seus ensinos superiores e
seus exemplos.
Procurou entre as pessoas simples e sinceras aqueles que se tornaram seus discípulos e continuadores
de sua obra excepcional.
O testemunho da verdade, a que se referia o Mestre, era o cumprimento das leis de Deus, que os
judeus já conheciam através das revelações recebidas por Moisés, mas que nem o povo hebreu e muito
menos os demais habitantes do mundo de então, com suas crenças politeístas e pagãs, conseguiam entender
no seu real sentido.
A base para o início do entendimento da lei suprema estava nos deveres e no amor para com o
Criador, o Deus único, e para com o próximo.
Jesus a formulou sinteticamente, de forma simples, para ser entendida sem a menor dificuldade
naquela época, nos dias atuais e no futuro:“Amar a Deus sobre todas as
coisas e ao próximo como a si mesmo”. (Mateus, 22:37-39.)
A autoridade e a sabedoria do Mestre ressaltam, ao formular esse ensinamento para a Humanidade
de todos os tempos, uma lei suprema, ao mesmo tempo geral, inteligível, simples, profunda e aplicável
a todas as criaturas.
A essa síntese admirável Jesus acrescenta que nela estão toda a lei e os profetas, antecipando futuros
enganos interpretativos, práticas exteriores e deformações que, mesmo dentro do Cristianismo,
foram inevitáveis, pelo atraso dos homens.
Em outra oportunidade, Jesus deixou claro que as leis divinas devem ser cumpridas integralmente,
em toda parte e em toda a sua pureza.
Por isso, podemos compreender que mundos atrasados, como o nosso, habitado por populações muito
diversificadas em suas crenças, conhecimentos e, sobretudo, no desconhecimento da vida e da verdade,
evoluem tão lentamente.
É que as leis divinas não são privilégio das minorias que as conhecem e as praticam, mas precisam
ser entendidas e cumpridas por toda a população de determinado mundo, para que todos possam
evoluir.
Daí a existência de diferentes esferas, tanto materiais quanto espirituais, num mesmo mundo como a Terra.
Foi o próprio Cristo que declarou: “O céu e a Terra não passarão sem que tudo esteja cumprido até
o último iota”. (Mateus, 5:28.)
Podemos deduzir dessas palavras que é um erro grave a falta de compreensão e de solidariedade
entre os indivíduos, assim como entre os povos e nações, em diferentes condições de adiantamento,
de conhecimentos, de riqueza e de pobreza, todos vivendo em um mesmo mundo, o que
não impede o progresso individual e coletivo.
Daí a dedução lógica de que o mundo regenerado só será alcançado quando as leis divinas forem
conhecidas e praticadas pela grande maioria da população planetária, exceção feita a uma pequena
minoria de Espíritos rebeldes, que serão encaminhados a outro mundo condizente com suas
condições evolutivas.
A presença do Consolador no mundo já é indício de nova orientação e compreensão sobre a verdade
e a vida, como o foi a vinda do Cristo, há cerca de dois mil anos.
Vivemos tempos novos em que os ensinos e os exemplos do Governador espiritual deste orbe precisam ser entendidos e vivenciados em seu verdadeiro sentido.
As ciências e as religiões, em vez de se complementarem e se entenderem reciprocamente, em geral se repelem, impulsionadas pelos prejuízos do materialismo multifário, de um lado, e por crenças e interpretações distorcidas, de outro.
Agora, com o avanço dos conhecimentos das leis universais, dos mundos e das esferas espirituais,
que os colocam em relacionamento com o mundo material em que vivemos, um novo entendimento,
uma nova luz é percebida, aproximando a fé e a razão e fortalecendo a ambas.
Cumpre restabelecer a verdadeira doutrina do Cristo, cujos princípios essenciais encontram-se em seu Evangelho e foram profundamente alterados pelo entendimento infeliz dos homens e por interesses
imediatistas, com a criação de um Cristianismo dogmatizado, em que o culto exterior quase sempre
abafa a fé verdadeira.
Para Jesus, uma só palavra poderia resumir toda a filosofia e todas as religiões: o Amor
Tudo se resume no amor a Deus sobre todas as coisas e no amor ao próximo como a si mesmo.
O Espiritismo, o Consolador prometido, vem para restabelecer o entendimento de tudo o que ensinara
o Mestre, sem as distorções interpretativas, além de nos trazer o conhecimento de coisas novas,
mostrando-nos forças e inteligências atuantes na Natureza e dando outra compreensão da vida, através
da fenomenologia espiritual.
Essas novas percepções do Espírito imortal, que tanto pode estar livre da matéria, nas esferas espirituais,
como renascer múltiplas vezes, ligado a um corpo especial, material, que lhe permite novas experiências
e adiantamentos, é outro ângulo da realidade, da qual o Mestre continua dando testemunho a todos
aqueles que despertam para o conhecimento da verdade.

Revista O Reformador de agosto de 2009