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sábado, 1 de janeiro de 2022

CUMPRIMENTOS DE ANO NOVO - KARDEC


CUMPRIMENTOS DE ANO-NOVO


(Revista Espírita de fevereiro de 1862)


Várias centenas de cartas nos foram dirigidas pelo ano-novo, de modo que nos é materialmente impossível responder uma a uma. Pedimos, pois, aos nossos dignos correspondentes aqui recebam a expressão de nosso agradecimento sincero pelo testemunho de simpatia que tiveram a bondade de nos dar. Uma entre elas, entretanto, por sua natureza, exige uma resposta especial. É a dos espíritas de Lyon, subscrita por cerca de duzentas assinaturas.
Aproveitamos a circunstância para transmitir, a seu pedido, alguns conselhos gerais. A Sociedade Espírita de Paris, fundada por nós, julgando que podia ser útil a todo o mundo, não só nos sugeriu que a publicássemos na Revista, como também votou a sua impressão separada para ser distribuída a todos os seus sócios.
Todos aqueles que tiveram a gentileza de nos escrever participaram dos sentimentos de reciprocidade que aí exprimimos e que se dirigem, sem exceção, a todos os espíritas franceses e estrangeiros, que nos honram com o título de seu chefe e de seu guia na nova via que se lhes abre.
Não nos dirigimos apenas aos que nos escreveram, pela passagem do ano-novo, mas a todos os que, a cada momento, nos dão tocantes provas de seu reconhecimento pela felicidade e pelas consolações que encontram na doutrina e que nos relatam as suas penas e os seus esforços para ajudar a sua propagação. A todos, enfim, aos quais nossos trabalhos servem para algo na marcha progressiva do Espiritismo.


RESPOSTA À MENSAGEM DE ANO-NOVO DOS ESPÍRITAS LIONESES


Meus caros irmãos e amigos de Lyon.


A mensagem coletiva que tivestes a bondade de me enviar pela passagem do ano-novo causou-me viva satisfação, provando que conservastes de mim uma boa recordação. Mas o que me deu maior prazer, em vosso ato espontâneo, foi o de encontrar, entre as numerosas assinaturas, representação de quase todos os grupos, pois é um sinal da harmonia reinante entre eles. Sinto-me feliz por terdes compreendido o objetivo desta organização, cujos resultados já podeis apreciar, pois agora vos deve ser evidente que uma sociedade única teria sido quase impossível.
Agradeço-vos, meus bons amigos, os votos que me formulais. Eles me são tanto mais agradáveis quanto sei que partem do coração, e são os que Deus escuta. Ficai satisfeitos porque ele os escuta diariamente, dando-me a alegria inaudita no estabelecimento de uma nova doutrina, de ver aquela a que me devotei crescer e prosperar, em meus dias, com rapidez maravilhosa. Encaro como um grande favor do Céu o ser testemunha do bem que ela já faz. Essa certeza, da qual diariamente recebo os mais tocantes testemunhos, me paga com usura todas as penas e fadigas. Só uma graça peço a Deus, a de me dar a força física necessária para ir até o fim de minha tarefa, que está longe de ser concluída. Mas, haja o que houver, terei sempre a consolação da certeza de que a semente das ideias novas, agora espalhada por toda a parte, é imperecível. Mais feliz que muitos outros, que não trabalharam senão para o futuro, a mim me é dado ver os primeiros frutos. Se algo lamento, é que a exiguidade de meus recursos pessoais não me permita pôr em execução os planos que tracei para seu mais rápido desenvolvimento. Se, porém, em sua sabedoria, Deus o quis de outro modo, legarei esse plano aos meus sucessores que, sem dúvida, serão mais felizes.
Malgrado a penúria de recursos materiais, o movimento de opinião que se opera ultrapassou toda expectativa. Crede, meus irmãos, que vosso exemplo não deixou de ter influência nisso.
Recebei nossas felicitações pela maneira pela qual sabeis compreender e praticar a doutrina. Sei quão grandes são as provas que muitos de vós tendes de suportar. Só Deus lhes conhece o termo aqui na Terra. Mas, também, quanta força contra a adversidade nos dá a fé no futuro! Oh! Lamentai os que acreditam no nada após a morte, pois para eles o mal presente não tem compensação. O incrédulo infeliz é como o doente que não espera a cura. Ao contrário, o espírita é como aquele que, doente hoje, sabe que amanhã estará curado.
Pedis que continue com os meus conselhos. Eu os dou de boa vontade aos que os pedem e creem que deles necessitam. Mas só a esses. Aos que julgam saber muito e que dispensam as lições da experiência, nada tenho a dizer, a não ser que desejo não tenham um dia de lamentar-se por terem confiado demais nas próprias forças. Tal pretensão, aliás, acusa um sentimento de orgulho, contrário ao verdadeiro espírito do Espiritismo. Ora, pecando pela base, aqueles provam, só por isto, que se afastam da verdade. Não sois desse número, meus amigos, por isso aproveito a circunstância para vos dirigir algumas palavras que vos provarão que, de perto ou de longe, sou todo vosso.
No ponto em que hoje as coisas se acham e considerando-se a marcha do Espiritismo por meio dos obstáculos semeados em sua rota, pode-se dizer que as principais dificuldades foram vencidas. Ele tomou o seu lugar e assentou-se em bases que de agora em diante desafiam os esforços dos adversários.
Pergunta-se como pode ter adversários uma doutrina que nos torna felizes e melhores. Isto é muito natural. Em seu início, o estabelecimento das melhores coisas sempre fere interesses. Não tem sido assim com todas as invenções e descobertas, que revolucionam a Indústria? Não tiveram inimigos encarniçados aquelas que hoje são consideradas como benefícios e das quais não nos poderíamos privar? Toda lei que reprime abusos não tem contra si os que vivem do abuso? Como queríeis que uma doutrina que conduz ao reino da caridade efetiva não fosse combatida por quantos vivem no egoísmo? E sabeis como estes são numerosos na Terra! No princípio esperavam matá-lo pela zombaria. Hoje veem que tal arma é impotente e que, sob o fogo cerrado dos sarcasmos ele continuou sua rota sem tropeços. Não penseis que eles se confessarão vencidos. Não, o interesse material é mais tenaz. Reconhecendo que é uma potência que agora deve ser levada em conta, vão desfechar ataques mais sérios, mas que servirão para melhor provar a fraqueza deles. Uns o atacarão abertamente, em palavras e atos, e persegui-lo-ão até na pessoa de seus adeptos, tentando desencorajá-los à força de intrigas, enquanto outros sub-repticiamente, por vias indiretas, procurarão miná-lo surdamente. Ficai avisados: a luta não terminou. Estou prevenindo que eles vão tentar um supremo esforço. Não temais, entretanto, pois o penhor do sucesso está nesta divisa, que é a de todos os verdadeiros espíritas: Fora da caridade não há salvação. Hasteai-a bem alto, porque ela é a cabeça de Medusa para os egoístas.
A tática ora em ação pelos inimigos dos espíritas, mas que vai ser empregada com novo ardor, é a de tentar dividi-los, criando sistemas divergentes e suscitando entre eles a desconfiança e a inveja. Não vos deixeis cair na armadilha, e tende certeza de que quem quer que procure, seja por que meio for, romper a boa harmonia, não pode ter boas intenções. Eis por que vos advirto para que tenhais a maior circunspeção na formação dos vossos grupos, não só para a vossa tranquilidade, mas no próprio interesse dos vossos trabalhos.
A natureza dos trabalhos espíritas exige calma e recolhimento. Ora, isto não é possível se somos distraídos pelas discussões e pela expressão de sentimentos malévolos. Se houver fraternidade, não haverá sentimentos malévolos, mas não pode haver fraternidade com egoístas, ambiciosos e orgulhosos. Com orgulhosos que se chocam e se ferem por tudo; com ambiciosos que se desiludem quando não têm a supremacia; com egoístas que só pensam em si mesmos, a cizânia não tardará a ser introduzida. Daí, vem a dissolução. É o que queriam nossos inimigos e é o que tentarão fazer.
Se um grupo quiser estar em condições de ordem, de tranquilidade, de estabilidade, é preciso que nele reine um sentimento fraterno. Todo grupo ou sociedade que se formar sem ter por base a caridade efetiva não terá vitalidade, enquanto os que se formarem segundo o verdadeiro espírito da doutrina olhar-se-ão como membros de uma mesma família que, não podendo viver todos sob o mesmo teto, moram em lugares diversos. Entre eles, a rivalidade seria uma insensatez, pois ela não poderia existir onde reina a verdadeira caridade, porque a caridade não pode ser entendida de duas maneiras. Reconhecei, pois, o verdadeiro espírita pela prática da caridade em pensamentos, palavras e atos, e dizei a vós mesmos que aquele que em sua alma nutre sentimentos de animosidade, de rancor, de ódio, de inveja e de ciúme mente para si mesmo se deseja compreender e praticar o Espiritismo.
O egoísmo e o orgulho matam as sociedades particulares, como matam os povos e as sociedades em geral. Lede a história e vereis que os povos sucumbem sob o amplexo desses dois mortais inimigos da felicidade humana. Quando se apoiarem nas bases da caridade, serão indissolúveis, porque estarão em paz entre si e consigo mesmos, cada um respeitando os bens e os direitos dos vizinhos. Essa será a nova era predita, da qual o Espiritismo é o precursor, e para a qual todo espírita deve trabalhar, cada um na sua esfera de atividade. É uma tarefa que lhes incumbe, e da qual serão recompensados conforme a maneira pela qual a tenham realizado, pois Deus saberá distinguir os que no Espiritismo só procuraram a sua satisfação pessoal daqueles que ao mesmo tempo trabalharam pela felicidade de seus irmãos.
Devo ainda assinalar-vos outra tática dos nossos adversários, a de procurar comprometer os espíritas, induzindo-os a se afastarem do verdadeiro objetivo da doutrina, que é o da moral, para abordarem questões que não são de sua alçada e que, a justo título, poderiam despertar suscetibilidades e desconfianças.
Não vos deixeis cair também nesse laço. Em vossas reuniões, afastai cuidadosamente tudo quando se refere à política e a questões irritantes. A tal respeito, as discussões apenas suscitarão embaraços, enquanto ninguém terá nada a objetar à moral, quanto esta for boa.
Procurai no Espiritismo aquilo que vos pode melhorar. Eis o essencial. Quando os homens forem melhores, as reformas sociais realmente úteis serão uma consequência natural. Trabalhando pelo progresso moral, lançareis os verdadeiros e mais sólidos fundamentos de todas as melhoras. Deixai a Deus o cuidado de fazer com que cheguem no devido tempo. No próprio interesse do Espiritismo, que é ainda jovem, mas que amadurece depressa, oponde uma firmeza inquebrantável aos que buscarem arrastar-vos por uma via perigosa.
Visando desacreditar o Espiritismo, pretendem alguns que ele vá destruir a religião. Sabeis exatamente o contrário, pois a maioria de vós, que mal acreditáveis em Deus e na alma, agora creem; quem não sabia o que era orar, ora com fervor; quem não mais punha os pés nas igrejas, agora vai com recolhimento.
Aliás, se a religião devesse ser destruída pelo Espiritismo, é que ela seria destrutível e o Espiritismo seria mais poderoso. Dizê-lo seria uma inabilidade, pois seria confessar a fraqueza de uma e a força do outro. O Espiritismo é uma doutrina moral que fortifica os sentimentos religiosos em geral e se aplica a todas as religiões. Ele é de todas, e não é de nenhuma em particular. Por isso não diz a ninguém que a troque. Deixa a cada um a liberdade de adorar Deus à sua maneira e de observar as práticas ditadas pela consciência, pois Deus leva mais em conta a intenção do que o fato. Ide, pois, cada um ao templo do vosso culto, e assim provai que vos caluniam quando vos taxam de impiedade.
Na impossibilidade material em que me acho de manter relações com todos os grupos, pedi a um de vossos confrades que me representasse mais especialmente em Lyon, como o fiz alhures: é o Sr. Villon, cujo zelo e devotamento são do vosso conhecimento, tanto quanto a pureza de seus sentimentos. Além disso, sua posição independente lhe dá mais folga para a tarefa de que se quer encarregar. É tarefa dura, mas ele não recuará. O grupo por ele formado em sua casa o foi sob os meus auspícios e conforme as minhas instruções, quando de minha última viagem. Ali encontrareis excelentes conselhos e salutares exemplos. É com viva satisfação que verei todos os que me honram com sua confiança a ele se ligarem, como a um centro comum. Se alguns quiserem fazer um grupo à parte, não os olheis com prevenção. Se vos atirarem pedras, nem as recolhais, nem as devolvais. Entre eles e vós, Deus será o juiz dos sentimentos de cada um. Que aqueles que se julgam os únicos certos o provem por maior caridade e maior abnegação de amor-próprio, porque a verdade não estaria ao lado dos que desconhecem o primeiro preceito da doutrina. Se estiverdes em dúvida, fazei sempre o bem: os erros do espírito pesam menos na balança de Deus que os erros do coração.
Repetirei aqui o que disse noutras ocasiões: em caso de divergência de opiniões, o meio fácil de sair da dúvida é ver qual a que reúne a maioria, pois há nas massas um bom-senso inato, que não engana. O erro só seduz alguns espíritos enceguecidos pelo amor próprio e por um falso julgamento, mas a verdade sempre acaba vencendo. Tende certeza, portanto, que o erro deserta das fileiras que se esclarecem e que há uma obstinação irracional em crer que um só tenha razão contra todos. Se os princípios que eu professo só tivessem ecos isolados, e se tivessem sido repelidos pela opinião geral, eu seria o primeiro a reconhecer que me havia enganado. Mas vendo crescer incessantemente o número dos aderentes em todas as camadas da Sociedade e em todos os países do mundo, devo acreditar na solidez das bases sobre as quais repousam. Eis por que vos digo com toda a segurança para que marcheis com passo firme na via que vos é traçada. Dizei aos antagonistas que se eles querem que os sigais, que vos ofereçam uma doutrina mais consoladora, mais clara, mais inteligível, que melhor satisfaça à razão e que, ao mesmo tempo, seja uma garantia melhor para a ordem social. Pela vossa união, frustrai os cálculos dos que vos queiram dividir. Provai, enfim, pelo vosso exemplo, que a doutrina nos torna mais moderados, mais brandos, mais pacientes, mais indulgentes, o que será a melhor resposta aos detratores, ao mesmo tempo que a vista dos resultados benéficos é o melhor meio de propaganda.
Eis, meus amigos, os conselhos que vos dou e aos quais junto os meus votos para o ano que começa. Não sei que provas Deus nos destina para este ano, mas sei que, sejam quais forem, as suportareis com firmeza e resignação, pois sabeis que para vós, como para o soldado, a recompensa é proporcional à coragem.
Quanto ao Espiritismo, pelo qual vos interessais mais que por vós mesmos, e cujo progresso, pela minha posição, posso julgar melhor que ninguém, sinto-me feliz em dizer-vos que o ano se inicia sob os mais favoráveis auspícios, e que ele verá, sem dúvida nenhuma, o número dos adeptos crescer numa proporção imprevisível. Mais alguns anos como estes que se passaram, e o Espiritismo terá a seu favor três quartas partes da população.
Deixai que vos cite um fato entre milhares.
Num departamento vizinho de Paris há uma cidadezinha onde o Espiritismo penetrou apenas há seis meses. Em poucas semanas tomou um desenvolvimento considerável. Uma oposição formidável logo foi organizada contra os seus partidários, ameaçando até os seus interesses particulares. Eles enfrentaram tudo com uma coragem e um desinteresse dignos dos maiores elogios. Entregaram-se à Providência e a Providência não lhes faltou. Essa cidade conta com uma população operária numerosa, em cujo meio as ideias espíritas, graças à oposição levantada, aumenta dia a dia. Ora, um fato digno de nota é que as mulheres e as moças esperaram sua gratificação de ano-novo para comprarem as obras necessárias à sua instrução e só para essa cidade um livreiro teve que remetê-las às centenas.
Não é prodigioso ver simples operárias reservarem suas economias para comprar livros de moral e de filosofia em vez de romances e bugigangas? Homens preferindo essa leitura às alegrias ruidosas e embrutecedoras dos cabarés? Ah! É que aqueles homens e aquelas mulheres, que sofrem como vós, agora compreendem que não é aqui que se realiza a seu destino. Abrem-se as cortinas, e eles entreveem os esplêndidos horizontes do futuro. Essa cidadezinha é Chauny, no departamento do Aisne. Novos filhos da grande família, eles vos saúdam, irmãos de Lyon, como seus irmãos maiores, e desde já formam um dos elos da cadeia espiritual que une Paris, Lyon, Metz, Sens, Bordeaux e outras, e que em breve ligarão todas as cidades do mundo num sentimento de mútua confraternidade, porque em toda parte o Espiritismo lançou sementes fecundas e seus filhos se dão as mãos por cima das barreiras dos preconceitos de seitas, castas e nacionalidades.


Vosso dedicado irmão e amigo,
ALLAN KARDEC

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

O PENSAMENTO SEGUNDO LÉON DENIS : "Remontemos, pois, às origens celestes e eternas; é o único remédio para nossa anemia moral. Dirijamos o pensamento para as coisas solenes e profundas. Ilumine-se e complete-se a Ciência com as intuições da consciência e as faculdades superiores do espírito."




O pensamento

O pensamento é criador. Assim como o pensamento do Eterno projeta sem cessar no espaço os germens dos seres e dos mundos, assim também o do escritor, do orador, do poeta, do artista, faz brotar incessante florescência de idéias, de obras, de concepções, que vão influenciar, impressionar para o bem ou para o mal, segundo sua natureza, a multidão humana.

É por isso que a missão dos obreiros do pensamento é ao mesmo tempo grande, temível e sagrada; é grande e sagrada porque o pensamento dissipa as sombras do caminho, resolve os enigmas da vida e traça o caminho da humanidade; é a sua chama que aquece as almas e ilumina os desertos da existência; e é temível porque seus efeitos são poderosos tanto para a descida como para a ascensão.

Mais cedo ou mais tarde todo produto do Espírito reverte para seu autor com suas conseqüências, acarretando-lhe,segundo o caso, o sofrimento, a diminuição, a privação da liberdade, ou então as satisfações íntimas, a dilatação, a elevação do ser.

A vida atual é, como se sabe, um simples episódio de nossa longa história, um fragmento da grande cadeia que se desenrola para todos através da imensidade. E constantemente recaem sobre nós, em brumas ou claridades, os resultados de nossas obras. A alma humana percorre seu caminho cercada de uma atmosfera brilhante ou turva, povoada pelas criações de seu pensamento. É isso, na vida do Além, sua glória ou sua vergonha.
*
Para dar ao pensamento toda a força e amplitude, nada há mais eficaz do que a investigação dos grandes problemas.

Por bem dizer, é preciso sentir com veemência; para saborear as sensações elevadas e profundas é necessário remontar à nascente de onde deriva toda a vida, toda a harmonia, toda a beleza.

O que há de nobre e elevado no domínio da inteligência emana de uma causa eterna, viva e pensante. Quanto mais largo é o vôo do pensamento para essa causa, tanto mais alto ele paira, tanto mais radiosas também são as claridades entrevistas, mais inebriantes as alegrias sentidas, mais poderosas as forças adquiridas, mais geniais as inspirações!

Depois de cada vôo, o pensamento torna a descer vivificado, esclarecido para o campo terrestre, a fim de prosseguir a tarefa pela qual continuará a desenvolver-se, porque é o trabalho que faz a inteligência, como é a inteligência que faz a beleza, o esplendor da obra acabada.

Eleva teu olhar, ó pensador, ó poeta! Lança teu brado de apelo, de aspiração e prece! Diante do mar de reflexos variáveis, à vista de brancos cimos longínquos ou do infinito estrelado, não passaste nunca horas de êxtase e embriaguez, em que a alma se sente imersa num sonho divino, em que a inspiração chega poderosa como um relâmpago, rápido mensageiro do Céu à Terra?

Escuta bem! Nunca ouviste, no fundo de teu ser, vibrarem as harmonias estranhas e confusas, os rumores do mundo invisível, vozes de sombra que te acalentam o pensamento e o preparam para as intuições supremas?

Em todo poeta, artista ou escritor há germens de mediunidade inconsciente, incalculáveis,e que desejam desabrochar; por eles o obreiro do pensamento entra com o manancial inexorável e recebe sua parte de revelação. Essa revelação de estética, apropriada à sua natureza, ao gênero de seu talento, tem ele por missão exprimir em obras que farão penetrar na alma das multidões uma vibração das forças divinas, uma radiação das verdades eternas.

É na comunhão freqüente e consciente com o mundo dos Espíritos que os gênios do futuro hão de encontrar os elementos de suas obras. Desde hoje, a penetração dos segredos de sua dupla vida vem oferecer ao homem socorros e luzes que as religiões desfalecidas já lhe não podem proporcionar.

Em todos os domínios, a idéia espírita vai fecundar o pensamento em atividade.

A Ciência dever-lhe-á a renovação completa de suas teorias e métodos, assim como a descoberta de forças incalculáveis e a conquista do universo oculto.

 A Filosofia obterá um conhecimento mais extenso e preciso da personalidade humana. Esta, no transe e na exteriorização, é como uma cripta que se abre, cheia de coisas estranhas e onde está escondida a chave do mistério do ser.

As religiões do futuro hão de encontrar no Espiritismo as provas da sobrevivência e as regras da vida no Além e, ao mesmo tempo, o princípio de uma união das duas humanidades, visível e invisível, em sua ascensão para o Pai comum.

A Arte, em todas as suas formas, descobrirá nele mananciais inexauríveis de inspiração e emoção.

O homem do povo, nas horas de cansaço, beberá nele a coragem moral. Compreenderá que a alma pode desenvolver-se tanto pela lide humilde como pela obra majestosa e que não se deve desprezar dever algum; que a inveja é irmã do ódio e que, muitas vezes, o ser é menos feliz no luxo que na mediocridade.

O poderoso aprenderá nele a bondade com o sentimento da solidariedade que a todos liga através de nossas vidas e pode obrigar-nos a retornar pequenos para adquirirmos as virtudes modestas.

O céptico achará nele a fé; o desanimado as esperanças duradouras e as resoluções viris; todos os que sofrem encontrarão a idéia profunda de que uma lei de justiça preside a todas as coisas, de que não há, em nenhum domínio, efeito sem causa, parto sem dor, vitória sem combate, triunfo sem rudes esforços, mas que, acima de tudo, reina uma perfeita e majestosa sanção e que ninguém está abandonado por Deus, do qual é uma parcela.

Assim, vagarosamente se operará a renovação da humanidade, tão nova ainda, tão ignorante de si mesma, mas cujos desejos se dirigem pouco a pouco para a compreensão de sua tarefa e de seu fim, ao mesmo tempo em que se alarga seu campo de exploração e a perspectiva de um futuro ilimitado. E, em breve, eis que ela avançará mais consciente de si mesma e de sua força, consciente de seu magnífico destino. A cada passo que transpõe, vendo e querendo mais, sentindo brilhar e avivar-se o foco que arde em si, vê também as trevas recuarem, fundirem-se, resolverem-se os sombrios enigmas do mundo e iluminar-se o caminho com um raio poderoso.

Com as sombras, desvanecem-se pouco a pouco os preconceitos, os vãos terrores; as contradições aparentes do universo dissipam-se; faz-se a harmonia nas almas e nas coisas. Então, a confiança e a alegria penetram-lhe e o homem sente desenvolver-se-lhe o pensamento e o coração. E de novo avança pelo caminho das idades para o termo de sua obra; mas esta não tem termo, porque de cada vez que a humanidade se eleva para um novo ideal, julga ter alcançado o ideal supremo, quando, na realidade, só atingiu a crença ou o sistema correspondente ao seu grau de evolução.

Mas de cada vez, também, de seus impulsos e de seus triunfos decorrem-lhe felicidades e forças novas, e ela encontra a recompensa de seus labores e angústias no próprio labor, na alegria de viver e progredir, que é a lei dos seres, comunhão mais íntima com o universo, numa posse mais completa do bem e do belo.
*
Ó escritores, artistas, poetas, vós, cujo número aumenta todos os dias, cujas produções se multiplicam e sobem como a maré, belas muitas vezes pela forma, mas fracas no fundo, superficiais e materiais, quanto talento não gastais com coisas medíocres! Quantos esforços desperdiçados e postos ao serviço de paixões nocivas, de volúpias inferiores e interesses vis!

Quando vastos e magníficos horizontes se desdobram, quando o livro maravilhoso do universo e da alma se abre de par em par diante de vós e o gênio do pensamento vos convida para nobres tarefas, para obras cheias de seiva, fecundas para o adiantamento da humanidade, vós vos comprazeis bastas vezes com estudos pueris e estéreis, com trabalhos em que a consciência se estiola, em que a inteligência se abate e definha no culto exagerado dos sentidos e dos instintos impuros.

Quem de vós contará a epopéia da alma, lutando pela conquista de seus destinos no ciclo imenso das idades e dos mundos, suas dores e alegrias, suas quedas e levantamentos, a descida aos abismos da vida, o bater de asas para a luz, as imolações, os holocaustos que são um resgate, as missões redentoras, a participação cada vez maior das concepções divinas!

Quem dirá também as poderosas harmonias do universo, harpa gigantesca vibrando ao pensamento de Deus, o canto dos mundos, o ritmo eterno que embala a gênese dos astros e das humanidades! Ou então a lenta elaboração, a dolorosa gestação da consciência através dos estádios inferiores, a construção laboriosa de uma individualidade, de um ser moral!

Quem dirá a conquista da vida, cada vez mais completa, mais ampla, mais serena, mais iluminada pelos raios do Alto, a marcha, de cimo em cimo, em busca da felicidade, do poder e do puro amor? Quem cantará a obra do homem, lutador imortal, erguendo, através de suas dúvidas, dilaceramentos, angústias e lágrimas o edifício harmônico e sublime de sua personalidade pensante e consciente? Sempre para frente, para mais longe e para mais alto! Responderão: Não sabemos. E perguntam: Quem nos ensinará essas coisas?

Quem? As vozes interiores e as vozes do Além. Aprendei a abrir, a folhear, a ler o livro oculto em vós, o livro das metamorfoses do ser. Ele vos dirá o que fostes e o que sereis, ensinar-vos-á o maior dos mistérios, a criação do “eu” pelo esforço constante, a ação soberana que, no pensamento silencioso, faz germinar a obra e, segundo vossas aptidões, vosso gênero de talento, far-vos-á pintar as telas mais encantadoras, esculpir as mais ideais formas, compor as sinfonias mais harmoniosas, escrever as páginas mais brilhantes, realizar os mais belos poemas.

Tudo está aí, em vós, em torno de vós. Tudo fala, tudo vibra, o visível e o invisível, tudo canta e celebra a glória de viver, a ebriedade de pensar, de criar, de associar-se à obra universal. Esplendores dos mares e do céu estrelado, majestade dos cimos, perfumes das florestas, melodias da Terra e do espaço, vozes do invisível que falam no silêncio da noite, vozes da consciência, eco da voz divina, tudo é ensino e revelação para quem sabe ver, escutar, compreender, pensar, agir!

Depois, acima de tudo, a visão suprema, a visão sem formas, o pensamento incriado, verdade total, harmonia final das essências e das leis que, desde o fundo de nosso ser até a estrela mais distante, liga tudo e todos em sua unidade resplandecente. É a cadeia de vida, que se eleva e desenrola no infinito, escada das potências espirituais que levam a Deus os apelos do homem pela oração e trazem ao homem as respostas de Deus pela inspiração.

Agora, uma última pergunta. Por que é que, no meio do imenso labor e da abundante produção intelectual que caracterizam nossa época, se encontram tão poucas obras viris e concepções geniais? Porque deixamos de ver as coisas divinas com os olhos da alma! Porque deixamos de crer e amar!

Remontemos, pois, às origens celestes e eternas; é o único remédio para nossa anemia moral. Dirijamos o pensamento para as coisas solenes e profundas. Ilumine-se e complete-se a Ciência com as intuições da consciência e as faculdades superiores do espírito. O Espiritualismo moderno a auxiliará.

Livro: O Problema do Ser do Destino e da Dor. Léon Denis

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

O MUNDO NÃO O VÊ NEM O CONHECE "O Mestre afirmou aos apóstolos que eles conheciam o Espírito de Verdade, mas o mesmo não acontecia com o mundo. Este não o conhecia e nem o podia receber, porque não estava suficientemente preparado para isso.


“O Espírito de Verdade, que o mundo do não pode receber, porque não o vê, nem o conhece.” (João, 14: 17)

Afiançam os porta-vozes de algumas religiões que o Espírito de Verdade, ou o
Consolador, veio ao mundo no chamado dia de Pentecostes, e que, como decorrência, nada há mais a esperar.

Entretanto, se a evolução humana é tão vagarosa, não dá saltos e se processa harmoniosamente, por que razão em poucos meses teria operado transformação tão brusca? Na Terra ainda estavam os mesmos homens, dentre eles os acerbos inimigos do Cristo, os mesmos que o levaram ao cimo do Calvário.

O Mestre afirmou aos apóstolos que eles conheciam o Espírito de Verdade, mas o mesmo não acontecia com o mundo. Este não o conhecia e nem o podia receber, porque não estava suficientemente preparado para isso.

Alguns poderão redargüir, dizendo: o Espírito de Verdade veio somente aos apóstolos, no dia de Pentecostes. Isso também não tem lógica, pois a promessa feita por Jesus não abrangia somente os apóstolos, mas toda a Humanidade.

Os apóstolos de Jesus eram evoluídos espiritualmente, e, dada essa circunstância, antes de nascerem na Terra, teriam forçosamente de saber quem era o Espírito de Verdade.

A segunda revelação foi trazida à Terra por Jesus Cristo, dois mil anos após a primeira, trazida por Moisés. O Espírito de Verdade trouxe à Humanidade a Terceira Revelação, quase dois mil anos após o advento do Mestre Nazareno.

O Espírito de Verdade, ou o Consolador prometido por Jesus Cristo, veio ao mundo na segunda metade do século passado, quando foram lançadas as bases fundamentais do Espiritismo. É patente aos olhos de todos que a Humanidade não está suficientemente preparada para o receber, mas existe melhor adequação espiritual do que no tempo do advento da doutrina cristã.

As reformas que se concretizarão na Terra com o advento do Consolador, dentre outras, serão as seguintes:

— Implantação dos postulados da reencarnação e da multiplicidade dos mundos habitados;

— Demonstração da incoerência das doutrinas das penas eternas, do pecado original e da existência do inferno e do céu como lugares circunscritos de penalidades e de gozos;

— Comprovação da imortalidade da alma, da preexistência e persistência do Espírito e da sua evolução incessante rumo a Deus;

— Abolição de falsas teorias como as da Trindade, que nos apresenta um Deus trino; da crença num unigênito de Deus e outras doutrinas aberrantes.

Essas alterações far-se-ão com base nos próprios Evangelhos de Jesus. As maravilhosas parábolas ensinadas pelo Mestre, dentre elas a do Filho Pródigo, da Ovelha Perdida, encarregar-se-ão de destruir as teorias das penas eternas e do pecado original; o colóquio com Nicodemos e as palavras de Jesus alusivas a João Batista terão o mérito de destruir as teorias sobre a uni cidade das existências; as palavras do Senhor, sobre as muitas moradas da Casa do Pai, serão decisivas para a destruição da crença na existência de um só mundo habitado.

Destruindo as tendências humanas das encenações e da prática exterior do culto, combatidas pelo Cristo na passagem evangélica sobre a Mulher Samaritana, serão também decisivas para que o homem compreenda em toda a sua extensão a afirmação do Mestre, quando disse: “Deus é Espírito e deve em Espírito ser adorado, pelos verdadeiros adoradores”.

Já dizia o profeta Ezequiel: “Deus não quer a morte do ímpio, mas que ele se
redima e viva”. Conseqüentemente, o papel a ser desempenhado pelo Espírito de Verdade terá por finalidade básica situar a criatura em seu verdadeiro lugar, face ao Criador de todas as coisas.

Padrões Evangélicos-Paulo Alves de Godoy

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Cólera: ..."A cólera é comparável a uma implosão mental de conseqüências imprevisíveis..." // ..."Pela brecha da irritação, caímos sem perceber nos mais baixos padrões vibratórios, arremessando, infelizes e incontroláveis, os raios da destruição e da morte que, partindo de nós para os outros, volvem dos outros para nós, em forma de angústia e miséria, perseguição e sofrimento"... // "Quando a tempestade da cólera explode no ambiente, despedindo granizos dilacerantes, vemo-la por antena de amor, isolando-lhes os raios..."




IMPLOSÃO  MENTAL
Emmanuel

A cólera é comparável a uma implosão mental de conseqüências imprevisíveis.

Quando te sintas sob a ameaça de semelhante flagelo, antes de falar ou escrever, usa o método conhecido de permanecer em silêncio contando até cem. Se os impulsos negativos continuam, afaste-te para um lugar à parte e faze uma oração que te reequilibre.

Notando que a medida não alcançou os fins necessários, busca um recanto da natureza, onde encontres plantas e flores, cujas emanações te balsamizem o espírito.

Na hipótese de não retornares à tranqüilidade, procura algum templo religioso e confia-te novamente à prece, esforçando-te para que a paz te fale no coração.

No entanto, se essa providência ainda falhar, dirige-te a um remédio amigo que, com certeza, te aliviará com sedativos adequados, a fim de evitares a implosão de tuas próprias forças.

Emmanuel - Do livro: Luz e Vida - Psicografia: Francisco Cândido Xavier
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UM  MINUTO  DE  CÓLERA


 Emmanuel

Um minuto de cólera pode ser uma invocação às forças tenebrosas do crime, operando a ruptura de largas e abençoadas tarefas que vínhamos efetuando na sementeira do sacrifício.

Por esse momento impensado, muitas vezes, esposamos escuros compromissos, descendo da harmonia à perturbação e vagueando nos labirintos da prova por tempo indeterminado à procura da necessária reconciliação com a vida em nós mesmos.

Pela brecha da irritação, caímos sem perceber nos mais baixos padrões vibratórios, arremessando, infelizes e incontroláveis, os raios da destruição e da morte que, partindo de nós para os outros, volvem dos outros para nós, em forma de angústia e miséria, perseguição e sofrimento.

Em muitos lances da luta evolutiva, semelhante minuto é o fator de longa expiação, na qual, no corpo de carne ou fora dele, somos fantasmas da aflição, exibindo na alma desorientada e enfermiça as chagas da loucura, acorrentados às conseqüências de nossos erros a reagirem sobre nós, à feição de arrasadora tormenta.

Se te dispões, desse modo, à jornada com  Jesus em busca da própria sublimação, aprende a dominar os próprios impulsos e elege a serenidade por clima de cada hora.

Ama e serve, perdoa e auxilia sempre, recordando que cada semente deve germinar no instante próprio e que cada fruto amadurece na ocasião adequada.

Toda violência é explosão de energia, cujos resultados ninguém pode prever.

Guardemos o ensinamento do Cristo no coração, para que o Cristo nos sustente as almas na luta salvadora em que nos cabe atingir a redenção, dia a dia.

Livro: Semeador Em Tempos Novos - Francisco Cândido Xavier


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ESTRELA   OCULTA
Emmanuel
Quando a tempestade da cólera explode no ambiente, despedindo granizos dilacerantes, vemo-la por antena de amor, isolando-lhes os raios, e se o temporal da revolta encharca os que tombam na estrada sob o visco da lama, ei-la que surge igualmente por força neutralizante, subtraindo o lodo e aclarando o caminho...

Remédio nas feridas profundas que se escondem  na alma, ante os golpes da injúria, é bálsamo invisível, lenindo toda chaga.

Socorro nobre e justo, é a luz doce da ausência ajudando e servindo onde a leviandade arroja fogo e fel.

Filha da compaixão, auxilia sem paga impedindo a extensão da maldade infeliz...

Ante a sua presença, a queixa descabida interrompe-se e pára e o verbo contundente empalidece e morre.

Onde vibra, amparando, todo ódio contém-se, e o incêndio da impiedade apaga-se de chofre...

Acessível a todos, vemo-la em toda parte, onde o homem cultive a caridade simples, debruçando-se, pura, à maneira de aroma envolvente e sublime, anulando o veneno em que a treva se nutre...

Guardemo-la conosco, onde formos chamados, sempre que o mal responde, delinqüente e sombrio, porque essa estrela oculta, ao alcance de todos, é a prece do silêncio em clima de perdão.
  
Livro Paz e Renovação. Diversos Espíritos. Psicografia Chico Xavier
 

AINDA NÃO TENDES FÉ? "Se estivermos munidos da fé racional que não consiste meramente em acreditar, mas em discernir, em ter bom ânimo e disposição firme para enfrentar a luta, estaremos em condições de receber de Jesus a ajuda e orientação necessária para que a tempestade que nos assola seja amainada.


“E levantou-se grande temporal de vento, e subiam as ondas por cima do barco, de maneira que já se enchia. E ele estava na popa dormindo sobre uma almofada, e despertaram-no, dizendo: Mestre, não se te dá que pereçamos? E ele, despertando, repreendeu o vento, e disse ao mar: aquieta-te. E o vento se aquietou e houve grande bonança. E disse-lhes: Por que sois tímidos? Ainda não tendes fé?”
(Marcos. 4:37-40)

Haveria necessidade de o Mestre fazer interromper o processo de um fenômeno
da Natureza, a fim de demonstrar a sua autoridade ou revelar o poder de que se
achava investido.

Jesus sempre foi partidário da fé espontânea e durante todo o seu Messiado nunca se preocupou com a produção de fatos retumbantes. Quando os seus discípulos pediram-lhe que fizesse descer fogo sobre uma aldeia da Samaria, que não os havia recebido, admoestou: “Não sabeis o espírito da vossa vocação”.

Quando alguns gregos e judeus proeminentes pediram-lhe que produzisse um fato sobrenatural, para que vissem e acreditassem, negou-se a dar qualquer espécie de sinal.

Pelo contrário, a sua alegria foi das mais intensas quando um centurião acreditou que bastavam algumas palavras suas, à distância, para que seu servo ficasse curado, e quando uma mulher curou-se apenas pelo leve toque em sua túnica, segundo a sua crença.

O significado da passagem evangélica narrada por Marcos é de nos ensinar que, qualquer que seja a tempestade que assolar nosso coração, bastará um apelo ao Cristo para que ela se amenize.

Por mais impetuosa que seja a tempestade que ruge dentro da nossa alma, encontraremos na vivência dos ensinamentos evangélicos o meio de fazer com que ela se aquiete.

Quem estiver prestes a sucumbir no mar encapelado da vida, ou sentir suas forças periclitar devido ao vendaval da adversidade, bastará clamar ao Mestre, e o socorro virá prontamente.

Nas pautas dos Evangelhos deparamos com promessas vivas como as que se seguem:

— Vinde a mim vós que estais sobrecarregados e eu vos aliviarei.

— Buscai antes o reino dos Céus e sua justiça, e tudo vos será dado por
acréscimo.

— Bem-aventurado aquele que sofre porque será consolado.

Somos devedores relapsos da Justiça Divina e reiteradamente fazemos uso 
do nosso livre arbítrio,escolhendo determinado gênero de vida. Muito freqüentemente tornamo-nos veículos transmissores em lamentável processo de falência, e, por isso, solicitamos a Deus nos propicie meios que nos impulsionem na trajetória evolutiva, objetivo comum de todas as almas.

Se solicitamos esses favores e Deus, devido aos imperativos das nossas provações e expiações terrenas previamente escolhidas, não no-los concede, é óbvio que uma vez açoitados pela tempestade da adversidade devemos nos lembrar da palavra do Mestre: 

“Por que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé?”

Se estivermos munidos da fé racional que não consiste meramente em acreditar, mas em discernir, em ter bom ânimo e disposição firme para enfrentar a luta, estaremos em condições de receber de Jesus a ajuda e orientação necessária para que a tempestade que nos assola seja amainada.

Devemos fazer com que o Mestre esteja sempre atuante, imponente, vivo dentro dos nossos corações. Assim como os apóstolos acordaram-no num momento cruciante, devemos tê-lo presente todas as vezes que carecemos de sustentação.

“Pedi, e dar-se-vos-á,. buscai e encontrareis; batei, e abrirse-vos-á. Porque aquele que pede, recebe,. e o que busca, encontra, e, ao que bate, se abre” (Mateus, 7-8)
Ensinando-nos desse modo, o Mestre nos faz compreender que a Justiça Divina não é surda aos que pedem, que buscam, que batem pedindo amparo, desde que o queassim faz, seja digno de receber essas dádivas.

Nicodemos sentiu dentro de si a dúvida em tomo do renascimento do Espírito em novo corpo, e foi, altas horas da noite, solicitar a Jesus que, através do esclarecimento, amainasse aquela tempestade que ameaçava tão seriamente a sua fé.

O publicano Zaqueu, cujo coração vivia atormentado pelo sopro do remorso oriundo de usurpações cometidas, também procurou o Cristo, durante uma visita que ele fez à sua cidade, tendo o ensejo de recebê-lo em sua casa, onde, numa explosão de júbilo, prontificou-se a repartir metade dos seus bens com os pobres, amainando assim aquela tempestade que ameaçava retardar o processo evolutivo de sua alma

Maria Madalena, assolada pela tempestade das paixões terrenas, demandou o concurso do Mestre, que serenou seu coração e soergueu seu Espírito, predispondo-a para a reforma íntima.

Paulo de Tarso, envolvido pela tempestade do ódio e do fanatismo, recebeu na Estrada de Damasco o convite generoso de Jesus, transmutando-se de perseguidor implacável em defensor incondicional da Boa Nova.

Simão Pedro, atormentado pela tempestade da dúvida, defrontou-se com oepisódio da negação (João, 18:25), chorando amargamente e transformando-se num dos mais lídimos paladinos do Evangelho.

Paulo Alves de Godoy

"Os Padrões Evangélicos"