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terça-feira, 19 de novembro de 2013

A culpa tóxica e o rancor

Por: Alberto Almeida

 A CULPA TÓXICA E O RANCOR


Hipócrita! Retira primeiramente a viga do teu olho, e então verás (em profundidade) para retirar o cisco do olho do teu irmão[1]
                                         
*
A culpa e a mágoa são as duas faces que se contrapõem ao perdão.
Primariamente, o remorso é a agressividade dirigida a si mesmo; o rancor, ao outro.
O remorso fala de uma transgressão à lei divina observada quando se age em prejuízo do próximo ou de algo, gerando sofrimento ou desarmonia para fora de si, com igual reflexo para a própria consciência.
Em idênticas circunstâncias, em sentido contrário, sucede quando é o outro quem age lesando-nos, gerando sofrimento ou prejuízos para nós, podendo aí se instalar o rancor contra aquele que também violou a lei de amor.  
O remédio é o autoperdão e o heteroperdão, respectivamente, para a culpabilidade e o ressentimento.
Quando o espírito se detém na culpa, ocorre a presença do remorso indesejável e nocivo àquele que o carrega, por se constituir em culpa tóxica.
A culpa só é desejável quando se apresenta como arrependimento, ou seja, o “cair em si”, o “dar-se conta de”, abrindo espaço para um novo movimento da alma em direção à ação reparadora.
Todavia, no extremo oposto ao cultivo tóxico da culpabilidade está a pessoa que não faz contato com a culpa, mesmo equivocando-se gravemente; não demonstra nenhum incômodo com seus erros, podendo, desse modo, estar revelando a presença de uma sociopatia* caracterizadora de um transtorno mental de alta complexidade.
                                               **
 Reconcilia-te (…) depressa com teu adversário, enquanto estás no caminho com ele; para que o adversário não te entregue ao Juiz, e o Juiz te entregue ao Oficial, e sejas lançado na prisão. Amem vos digo que de modo nenhum sairás dali até que restituas o último quadrante*[2] é a advertência de Jesus para os que desejam viver em harmonia, livres do peso amargo da culpa e/ou mágoa.
A sentença é de uma clareza meridiana. Divide-se em dois movimentos bem distintos.
*
 O primeiro movimento: Reconcilia-TE… É a parte que nos cabe, na medida em que desejamos seguir o caminho do perdão. É um apelo para que façamos a nossa parte, aquela que diz respeito somente a nós mesmos, independentemente do outro com quem conflitamos.
Esta etapa fala da nossa relação conosco mesmos, do trabalho interno à revelia do outro, que permanece apenas como espelho através do qual nos enxergamos; é fazer conosco aquilo que só nós podemos concretizar: o autoperdão.
Este caminho é individual, intransferível, inalienável*. É percorrido a despeito de nosso adversário tomar ciência ou não, concordar ou não, estar perto ou distante. Tudo só depende de nós. É trabalho de autorreconciliação, de autoamor, exigindo às vezes muito tempo para a construção do autoperdão* gerador de paz interior.
Portanto, é tratar o remorso e/ou rancor que pesadamente carregamos.
*
Ainda no primeiro movimento, aprofundando e visando a uma análise didática, foquemos, exclusivamente, a culpa.
 A citação evangélica – Reconcilia-TE- revela que habitualmente cometemos erros (ensaios ao aprendizado), posto que o chamado não se restringe à conciliação, mas sim à reconciliação, caracterizando haver reincidência nos equívocos.
Importa saber se há limites para repetirmos os erros que terminam por nos imputar remorsos.
A resposta está na indagação de Pedro ao Cristo:
- Até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes?[3]
 Esta era a medida do seu limite para indultar alguém: sete. Mas como a verdade tem mão dupla, logo este também era o número de vezes que Pedro precisaria do perdão dos outros.
Simão, tomando a si mesmo como referência, estabeleceu que seria capaz de perdoar até sete vezes, como a sugerir, inconscientemente, que erraria no máximo até sete vezes, necessitando, portanto, de igual número de perdões dos outros e, por extensão, de autoperdões para concretizar o reconcilia-TE.
O Mestre, no entanto, demonstrou o quanto Pedro não se conhecia, pois que pretendia limites muito ousado para si mesmo. E faz uma nova proposta para a aritmética do perdão de Simão, assinalando:
- Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete[4].
E Jesus tinha razão, de vez que, somente na casa do sumo sacerdote, ele negaria o seu Mestre três vezes, sem falar dos momentos que antecederam o aprisionamento, quando ele dorme mais de uma vez no Monte das Oliveiras, e, ao despertar, fere a orelha do soldado que vem prender o Cristo, em frontal contradição aos ensinos de mansidão e brandura recebidos de Jesus.
Jesus, considerando a fragilidade dos seres humanos, aproveita a ocorrência com o discípulo para propor as setenta vezes sete, indicando a natureza recorrente de falibilidade que caracteriza a humanidade ainda em nível de evolução precária.
Igualmente, deixava implícito aos Pedros-humanos que não só precisaríamos perdoar setenta vezes sete, mas que, e, sobretudo, seríamos capazes de errar em igual montante[5], carecendo do perdão dos outros indefinidamente.
Desta fala de Jesus pode-se deduzir ainda outro ensinamento, num exame mais atento do dia a dia:
- Quantas vezes, pelo mesmo motivo, explodimos em cólera contra um ente querido, ficando, em seguida, carentes de repetidos perdões?
- Quantas crises mórbidas de ciúme, ferindo a pessoa amada, fazem-nos implorar por incontáveis desculpas?
- Quantos episódios repetidos de maus-tratos ao nosso corpo, pela ingestão de substâncias declaradamente nocivas fazem-nos pedir sucessivos perdões ao cérebro?
- Quantos vícios, afetando-nos a saúde pelos prejuízos ao equilíbrio biológico, fazem-nos reiterar súplicas de misericórdia ao corpo?  
- Quantas encrencas por falta de camaradagem com colegas de trabalho impõem-nos renovados pedidos de desculpas?
Enfim, parece que precisamos de setenta vezes sete perdões para CADA UMA DAS ÁREAS FRÁGEIS da nossa vida, posto que incorremos NOS MESMOS ERROS, reeditamos os mesmos ensaios… até fazermos a fixação de um aprendizado.
Assim sendo, seja a culpa, seja a mágoa, o reconcilia-TE significa darmos conta da parte que nos compete num conflito, assumindo a responsabilidade pela cota que nos diz respeito; sem transferi-la ou delegá-la a ninguém, como é usual fazermos projetando* nossa encrenca sobre outras pessoas (adversário, pai, mãe, filho, amigo, etc.), ou sobre os astros, os espíritos, a má-sorte, ou, ainda, sobre a profissão, a cidade, Deus… 
                                               *
O segundo movimento: reconcilia-te... COM TEU ADVERSÁRIO.
Aqui entra em cena o outro pelo qual nos sentimos lesados (rancor), ou a quem lesamos (remorso).
O adversário pode ser alguém (cônjuge, pai, mãe, filho, família, sócio, vizinho, etc.), mas pode também ser algo (nosso corpo, um país, uma profissão, uma doutrina, etc.).
Neste momento, entra em jogo a relação com o adversário, ou seja, um contato com o outro. Requer, por isso mesmo, uma ação de busca do outro, a fim de se estabelecer a segunda etapa da reconciliação.
É desse modo que se cuidará da mágoa presente nas relações como uma energia agressivo-destrutiva, trazendo nomes e tons variados: raiva, ressentimento, ódio, cólera, etc.; ou, então, se tratará da culpabilidade que comparece com tonalidades conhecidas sob os nomes de remorso, pesar, compunção*, contrição, etc.
Aqui, precisamos de uma interação com aquele que ocupa a posição de adversário. É a ação de ir ao encontro do outro, precisando da sua participação e cumplicidade, para se efetivar o perdão total.
Naturalmente que o sucesso dessa busca, nesta etapa, depende também do outro, já que ele é chamado a participar ativamente da construção do perdão, “estendendo a mão”. É construção a dois, solidária, de parceria.    
Se houver disponibilidade de ambos para uma aliança, um acordo, então se fará (enquanto estás a caminho) uma jornada de perdão, até que se conclua o desatamento dos nós do sofrimento, com a dissolução das mágoas/culpas e o (re)estabelecimento dos laços de harmonia e de paz.
Contudo, caso o outro protagonista rejeite o reencontro, evitando o contato por ainda não se encontrar receptivo à aproximação e à conciliação, sejamos aquele que guarda a consciência pacificada de quem, após se reconciliar consigo próprio, ousou ir ao encontro do seu irmão para efetivar o perdão, buscando o equacionamento justo da pendência.
Respeitemos, portanto, o arbítrio* do outro, quando este se decida a evitar o reencontro, seja qual for o motivo da sua recusa.  Como não nos compete violentar a vontade de ninguém, cabe, apenas, o silêncio de quem optou por fazer a sua parte, ficando em paz.
Logo, em fazendo o segundo movimento, nós nos libertamos do rancor e/ou do remorso, e concluímos internamente o perdão, com ou sem a participação do outro.
Assim procedendo, futuramente não será necessária a presença do juiz (a consciência), nem do oficial de justiça (os bons espíritos), tampouco da prisão (um novo corpo, uma nova reencarnação) para a solução das contendas que ficaram pelo caminho.

                                               ***
 (Extraído do livro “O Perdão como Caminho” )





[1] Bíblia Sagrada, Mateus, capítulo 7, versículo 5.
[2] Bíblia Sagrada, Mateus, capítulo 5, versículos 24 e 25.
[3] Bíblia Sagrada, Mateus, capítulo 18, versículo 21.
[4] Bíblia Sagrada, Mateus, capítulo 18, versículo 22.
[5] O Consolador, resposta 338.

sábado, 8 de setembro de 2012

O amor cobre a multidão de pecados


Antônio Carmo Rubatino-Reformador/Outubro 2005
Uma torrente infindável de mágoas e sentimentos contraditórios leva contingentes de seres humanos exaustos a formar um séqüito de sofredores à procura de socorro psiquiátrico ou psicológico, multiplicando o volume das análises e divãs em consultórios e clínicas.
Quantitativo crescente de casosaporta aos templos religiosos, num desesperado apelo para a fé como
última saída para uma coletânea de ressentimentos, num intricado labirinto de angústias e depressões.
Em grande parte, é a dificuldade nossa de cada dia de desculpar, de desculpar-se, de começar de novo.
Dificuldade que emerge dos relacionamentos diários, tornando a vida uma administração de conflitos
– na família, na escola, no trabalho, no trânsito, no lazer. Até na Casa Espírita.
A Ciência vem fazendo importantes constatações na área do comportamento humano, levando pesquisadores a formular conceitos de extrema relevância, capazes de alterar substanciosamente a qualidade
de vida de indivíduos, famílias e grupos sociais. Revolucionando diagnósticos e substituindo terapias
convencionais, conduzindo pacientes a trocar prolongados tratamentos alopáticos por terapias inovadoras,
os níveis do conhecimento indicam a mudança de hábitos comopré-requisito terapêutico à erradicação
de males de etiologia complexa. Sem externar crenças, a maioria dos pesquisadores evita revelar
convicções religiosas de modo a dar às conclusões caráter de cunho estritamente científico, mas
acabam por fornecer subsídios valiosos ao argumento da religiosidade corrente.
Estudiosos de Stanford relataram valiosas observações, levando o cientista Fred Luskin a tratar do assunto
com admirável propriedade quando torna pública parte desse importante acervo(1):
“Estudos científicos mostram com clareza que o aprendizado do perdão é bom para a saúde e bem-
-estar – bom para a saúde mental e, de acordo com dados recentes, bom para a saúde física.
“(...) Definitivamente, o passado é passado.
“(...) A doença cardíaca é a causa mortis principal tanto para homens quanto para mulheres.
“(...) a raiva provoca a liberação de substâncias químicas associadas ao estresse, que alteram o funcionamento do coração e causam o estreitamento das artérias coronárias e periféricas.
“(...) O perdão é uma experiência complexa, que modifica o nível da autoconfiança, de ações,
pensamentos, emoções e sentimentos espirituais de pessoa vítima de afronta. Acredito que aprender a
perdoar os sofrimentos e ressentimentos da vida seja um passo importante para nos sentirmos mais
esperançosos e conectados espiritualmente, e menos deprimidos.”
Pasma o relato circunstanciado do Dr. Fred Luskin sobre algo que não é estranho ao meio espírita(2):
“Imagine que o que você vê em sua mente está sendo visto numa tela de tevê.
(...) Pelo seu controle remoto você determina o que se apresenta na sua televisão. Imagine agora que
cada um tenha um controle remoto para mudar o canal que está vendo na mente.
(...) desse ponto de vista, a mágoa pode ser vista como um controle remoto travado no canal da
mágoa.”
O raciocínio do cientista faz-nos rememorar a rica literatura advinda através de Chico Xavier, da
valiosa colaboração de André Luiz(3):


“(...) Estupefato, comecei a divisar formas movimentadas no âmbito da pequena tela sombria. Surgiu
uma casa modesta de cidade humilde. Tive a impressão de transpor- lhe a porta. Lá dentro, um quadro
horrível e angustioso. Uma senhora de idade madura, demonstrando crueldade impassível no rosto,
lutava com um homem embriagado.
– ‘Ana! Ana! pelo amor de
Deus! não me mates! – dizia ele, súplice,
incapaz de defender-se. –
‘Nunca! Nunca te perdoarei! (...)’.”
Com toda a sua dinâmica de desvendar o conhecimento a partir de observação repetida e sistemática,
a ciência experimental vem galgando passos importantes na disseminação do saber, dando saltos
quantitativos gigantescos, ora muito objetiva e rapidamente, ora muito lenta e gradualmente. E a variante
dos novos passos que são dados tem a vontade como mola propulsora.
Quando deseja, o homem caminha rápido, muito rápido; quando não, demora-se nas enseadas da
vida, às vezes evitando tratar abordagens incômodas ou de futuro incerto, postergando o transcendente
para outra instância, receoso de chegar a conclusões embaraçosas, que possam implicar em mudanças
importantes nos valores cultuados.
A ciência e a religião tocam-se nas linhas infinitas do tempo.
O Meigo Nazareno já havia recomendado o perdão na sua mensagem consoladora ao colégio apostólico,
aos discípulos, e, em todos os conflitos, externava generosidade e compreensão, procurando substituir a ofensa pela desculpa, a intransigência pela tolerância, a mágoa pelo amor. Recomendara a um
dileto amigo que desculpasse ilimitadas vezes, como que procurando dizer a ele que o perdão age como
medicamento profilático, vacinal, capaz de substituir vincos na fronte cerrada e ameaçadora pela amena
descontração de um riso relaxante e confortador (4). Acostumado a observar a infantilidade de conflituosos
contemporâneos, desaconselhava o litígio, endereçando as querelas a soluções que esvaziam as disputas (5).
Como quem quisesse nos dizer que a maioria dos aborrecimentos do dia-a-dia passariam despercebidos,
se pudéssemos as mais das vezes dizer ao semelhante que nos desafia:
– Estou errado, enganei-me.
Não faria de novo.
Habituados a não reconhecer o próprio erro, sempre empenhamos recursos verbalísticos persuasivos,
no afã de evitar o mea culpa que deixaria o assunto exaurir-se de per si. Opta-se por tentar identificar
o erro no semelhante ou descobrir nele a contribuição para a contenda, crendo na sua dissimulação,
capaz de aviltar a verdade para esquivar-se de qualquer transgressão.
De Pedro vem observação interessante, que não cogita da contenda, dotada de senso de oportunidade,
atualíssima na sociedade em que estamos inseridos, onde o conflito ainda é a via primeira para solucionar
questões do dia-a-dia (6):
(...) tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre a multidão de pecados.
Sede, mutuamente, hospitaleiros, sem reclamar. Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que
recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os
oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre...
Desculpar não é aceitar o erro que alguém pratica. Mas reconhecer o erro, nosso ou do nosso semelhante,
sem se ofender. Sem se magoar.
Sem ter que sentir de novo, no dia seguinte, a contrariedade da véspera: portanto, sem se ressentir.
É aceitar as pessoas, e a nós mesmos, sem ficarmos presos aos acontecimentos indesejados da vida em
sociedade. É admitir que “o passado é passado”, como afirma FredLuskin. Ou o próprio Emmanuel
quando escreveu: “Agora, eis o momento
da melhora que procuras. (...)
Ontem não mais existe (...).” (7)
AGORA
Agora, eis o momento
Da melhora que buscas.
De nada te lastimes.
Ontem não mais existe.
De tudo o que se foi,
Só a lição perdura.
Renova-te e caminha
Sobre o eterno presente.
Olha o tronco podado
Lançando ramos novos.
Não pares, segue e serve.
Deus cuidará de ti.
Emmanuel

1O Poder do Perdão, Fred Luskin. Editora Novo
Paradigma, cap. 7.
2Idem, ibidem, cap. 9
3Os Mensageiros – Francisco C. Xavier, pelo
Espírito André Luiz, cap. 23, p. 147, Ed. FEB.
4Mateus, 18:21-22.
5Mateus, 5:23-24.
6I Pedro, 4:8-11.
7Espera Servindo, pelo Espírito Emmanuel,
GEEM.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A violência doméstica para com os filhos. UMA ABORDAGEM À LUZ DO ESPIRITISMO




CLARA LILA GONZALEZ DE ARAÚJO
Bem-aventurados os que são brandos, porque possuirão a Terra.
Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus.”
(Mateus, 5:5 e 9.)


De certa feita, ao finalizarmos uma palestra espírita sobre a afabilidade e a doçura, virtudes analisadas no capítulo IX, de O Evangelho segundo o Espiritismo,
(1 ) um companheiro aproximou-se de nós e observou:
“Este assunto é bastante conhecido dos espíritas e todos já devem ter consciência da necessidade de agir
com bondade, especialmente em seu meio familiar”.
Após a colocação do prezado irmão, ficamos a pensar, longamente, sobre as suas palavras. Estariam os espíritas realmente conscientes da necessidade de semelhante conduta moral? Compreenderiam,
na vivência de suas experiências cotidianas, a importância de observarem, inexoravelmente, a lei de amor e de caridade? Como se portariam no seio familiar, onde a benevolência e a fraternidade devem ser
alicerces para a consolidação da harmonia entre os corações?
A compreensão do que seja violência doméstica, à luz do Espiritismo, não se reveste da verdadeira clareza
sobre o problema e, ao buscarmos as orientações nos textos dos Espíritos Superiores, percebemos, perplexos, que esta situação pode ocorrer em alguns lares espíritas, ferindo, profundamente, a quantos a enfrentam como provas salvadoras.
Allan Kardec, ao avaliar a necessidade de sermos mais dóceis e afáveis, no citado capítulo de O Evangelho segundo o Espiritismo, item 4, afirma que simples palavras, emitidas de forma intempestivas  podem causar conseqüências graves para aqueles que as transmitem: “[...] É que toda palavra ofensiva exprime um sentimento contrário à lei do amor e da caridade que deve presidir às relações entre os homens e manter
entre eles a concórdia e a união; é que constitui um golpe desferido na benevolência recíproca e na fraternidade; é que entretém o ódio e a animosidade; é, enfim, que, depois da humildade
para com Deus, a caridade para com o próximo é a lei primeira de todo cristão”.(2).
Assim, ser agressivo, violento, hostil, com a intenção de causar dano ou ansiedade nos outros, não
significa só bater, ferir fisicamente, lesar materialmente, mas utilizar expressões verbais com o intuito
de depreciar e atacar as pessoas é prejudicá-las, é magoá-las de maneira grave e humilhante.
No relacionamento familiar, o problema da agressão verbal ocorre, quase sempre, a partir das dificuldades
que os pais encontram na criação dos filhos. Para muitos, não elevar a voz de modo excessivamente
contundente e autoritário seria renunciar a qualquer tentativa educacional. Os adultos parecem
ignorar que a obediência não é coisa que surja espontaneamente.
É por meio de um trabalho interior que a criança poderá compreender e aceitar as solicitações
dos outros, sem estar a eles incondicionalmente dependente e com isso construir-se a si mesma,
tornar-se uma pessoa equilibrada e autônoma.
A infância e a adolescência passam por várias etapas em seu desenvolvimento e, sem os cuidados
de uma educação salutar e bem encaminhada, é natural que os filhos reajam com maior ou menor
insegurança, que pode levá-los a comportamentos aberrantes, expressão de sua angústia profunda,
conforme as circunstâncias em que essas experiências lhes são impostas e do meio em que vivem. Aos
pais cabe o dever de amá-los, educando- os, sem exigir que se transformem em cópias vivas deles mesmos,
desrespeitando suas características individuais. Certos pais só conseguem manifestar ternura de modo extremamente possessivo, como se não conseguissem atingir um grau de compreensão que lhes
seria necessário para atender às carências reais de seus filhos.
Os Benfeitores espirituais nos advertem: “[...] Com efeito, ponderai que nos vossos lares possivelmente
nascem crianças cujos Espíritos vêm de mundos onde contraíram hábitos diferentes dos vossos
e dizei-me como poderiam estar no vosso meio esses seres, trazendo paixões diversas das que nutris,
inclinações, gostos, inteiramente opostos aos vossos; como poderiam enfileirar-se entre vós, senão
como Deus o determinou, isto é, passando pelo tamis da infância?
[...] A delicadeza da idade infantil os torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos
que devam fazê-los progredir [grifo nosso]
. Nessa fase é que se lhes pode reformar os caracteres e reprimir os maus pendores. [...]”3
Na maioria das vezes, porém, não utilizamos as palavras para consolar e edificar. Não nos preparamos
para o diálogo e a vontade sincera de esclarecer e orientar os filhos, especialmente, quando se recusam em satisfazer às nossas exigências. No plano inconsciente, suas próprias recusas podem ser tidas como a resultante de vários desejos insatisfeitos, e suas respostas, contrárias aos nossos desejos, se transformam na única maneira que conhecem para se comunicar conosco.
O Espírito Emmanuel, em mais uma de suas expressões de sabedoria, ao refletir sobre a significância
da língua como centelha divina do verbo, observa que o homem costuma desviá-la de sua verdadeira função, originando-se aí as grandes tragédias sociais, quase sempre da conversação dos sentimentos inferiores e reconhecendo
“[...] que a sua disposição é sempre ativa para excitar, disputar, deprimir, enxovalhar, acusar e
ferir desapiedadamente”.(4)
Ao chegarmos à fase em que essas manifestações atinjam certo grau de exteriorização habitual,
certamente nos afastamos dos ensinamentos cristãos, como se fôssemos, no entender do Espírito Lázaro,
“[...] homens, de exterior benigno, que, tiranos domésticos, fazem que suas famílias e seus subordinados
lhes sofram o peso do orgulho e do despotismo, como a quererem desforrar-se do constrangimento
que, fora de casa, se impõem a si mesmos. [...] Envaidecem- se de poderem dizer: ‘Aqui mando e sou obedecido’, sem lhes ocorrer que poderiam acrescentar:
‘E sou detestado’”(.5)
Sabemos que a banalização da violência nos meios de comunicação e sua inserção na vida cotidiana
influem no comportamento de nossos filhos, fazendo com que se tornem vítimas e algozes,
ao mesmo tempo.Mas a violência também encontra respaldo no ambiente onde a criança e o jovem
estão inseridos. Afirmam os psicólogos e educadores que “reforçar condutas agressivas conduz
a um aumento das expressões observáveis de agressão, bem como a uma generalização de respostas
agressivas a outras situações”.(6)
Ou seja, se a criança for agredida pelos adultos, no período da infância, poderá, quando jovem e adulta, deixar-se influenciar por modelos agressivos, não só para aliviar sua raiva e hostilidade como também para atingir os objetivos desejados.
Quando isso acontece, dificilmente achamos que os filhos retratam os nossos exemplos. Na
questão 582, de O Livro dos Espíritos, a resposta dada pelos Espíritos a Kardec, sobre a missão da
paternidade, orienta-nos quanto à possibilidade de virmos a falhar no grandíssimo dever de educar
os seres que geramos:
“[...] Muitos há, no entanto, que mais cuidam de aprumar as árvores do seu jardim e de fazê-las dar
bons frutos em abundância, do que de formar o caráter de seu filho. Se este vier a sucumbir por
culpa deles, suportarão os desgostos resultantes dessa queda e partilharão dos sofrimentos do filho
na vida futura, por não terem feito o que lhes estava ao alcance para que ele avançasse na estrada
do bem”(.7)
As lições de Jesus – o incomparável Mestre, o consumado pedagogo, o excelso psicólogo –, são sempre
oportunas em todas as épocas da Humanidade! Ao anunciar, no Sermão do Monte, que deveríamos
ser brandos e pacíficos reporta- se aos humildes de espírito, cujos corações estejam alijados do
orgulho e do egoísmo e sem semear a cizânia em todos os campos de ação onde exerçam suas atividades. O orgulho, não procura, assim como o egoísmo, base para apoiar as suas reações.Manifesta-
se com ou sem motivos que o justifiquem. Há pais que ao se sentirem melindrados no seu
excessivo amor-próprio transformam- se em verdadeiras feras, insultando e agredindo, em defesa
do que denominam autoridade!
A humildade não se compatibiliza com a violência de ação, uma vez que a violência é sempre
o oposto da compreensão, da benevolência, da mansuetude e da paz. A luta na exclusão do mal deve
ser uma constante em nossas vidas, reagindo, com firmeza, sempre que sentirmos o perigo que nos ameaça, especialmente quando deixarmos de orientar os nossos filhos para que não venham a
sucumbir aos desenganos e ilusões do mundo material. Nossos corações, no entanto, devem ser
simples, pacientes e amorosos ao aconselhar, destituídos de soberba e prepotência, iluminados pelas
claridades do Evangelho, que despertam nas almas os verdadeiros sentimentos de caridade e fraternidade.
A melhor maneira de ajudarmos aqueles que nos são caros é evangelizando-os, pois os problemas
existenciais e espirituais do ser serão esclarecidos à luz da Doutrina dos Espíritos e do Evangelho
de Jesus, no cumprimento da assertiva divina que recomenda:
Buscai primeiramente o reino de Deus e a sua justiça, que
todas essas coisas vos serão dadas de acréscimo”. (Mateus, 6:33.)

Referências:
1KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro.
22. ed. de bolso. Rio de Janeiro: FEB,
2006. Cap. IX, itens 1 a 6, p. 171-174.
2______. item 4, p. 172.
3 ______.O livro dos espíritos. Tradução
de Guillon Ribeiro. 87. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2006. Questão 385.
4XAVIER, Francisco C. Pão nosso. Pelo Espírito
Emmanuel. Ed. especial. Rio de Janeiro:
FEB, 2005. Cap. 170, p. 353-354.
5KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro.
22. ed. de bolso. Rio de Janeiro: FEB,
2006. Cap. IX, item 6, p. 173.
6MUSSEN, CONGER, KAGAN. Desenvolvimento
e personalidade da criança. 4.
ed. São Paulo: Editora Harbra, 1977.
p. 308-309.
7KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tradução
de Guillon Ribeiro. 87. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 2006. Questão 582.
24 342

0 Reformador • Setembro 2006

sexta-feira, 27 de julho de 2012

SACUDIR O PÓ

SACUDIR  O  PÓ

Emmanuel

“E se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras,
saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó de vossos pés.”
– Jesus. (Mateus, 10:14)

Os próprios discípulos materializaram o ensinamento de Jesus, sacudindo a poeira das sandálias, em se retirando desse ou daquele lugar de rebeldia ou impenitência. Todavia, se o símbolo que transparece da lição do Mestre estivesse destinado apenas a gesto mecânico, não teríamos nele senão um conjunto de palavras vazias.
O ensinamento, porém, é mais profundo. Recomenda a extinção do fermento doentio.
Sacudir o pó dos pés é não conservar qualquer mágoa ou qualquer detrito nas bases da vida em face da ignorância e da perversidade que se manifestam no caminho de nossa experiência comum.
Natural é o desejo de confiar a outrem as sementes da verdade e do bem, entretanto, se somos recebidos pela hostilidade do meio a que nos dirigimos, não é razoável nos mantenhamos em longas observações e apontamentos, que, ao invés de conduzir-nos a tarefa a êxito oportuno, estabelecem sombras e dificuldades em torno de nós.
Se alguém te não recebeu a boa vontade, nem te percebeu a boa intenção, porque a perda de tempo em sentenças acusatórias? Tal atitude não soluciona os problemas espirituais. Ignoras, acaso, que o negador e o indiferente serão igualmente chamados pela morte do corpo à nossa pátria de origem? Encomenda-os a Jesus com amor e prossegue, em linha reta, buscando os teus sagrados objetivos. Há muito por fazer na edificação espiritual do mundo e de ti mesmo. Sacode, pois, as más impressões e marcha alegremente.
Emmanuel

Pão Nosso – Psicografia: Francisco Cândido Xavier – Ed.: FEB.