Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!
Mostrando postagens com marcador Judas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Judas. Mostrar todas as postagens

domingo, 24 de outubro de 2021

A MAIOR DÁDIVA (...)a viúva deu muitíssimo, porque, enquanto os grandes senhores aqui testemunharam a própria vaidade, com inteligência, desfazendo-se de bens que só lhes constituíam embaraço à tranqüilidade futura, ela entregou ao Todo-Poderoso aquilo que significava alimento para o próprio corpo...

 
Irmão X
 
Na assembléia luzida do Templo de Jerusalém, os descendentes do povo escolhido exibiam generosidade invulgar à frente da preciosa arca de contribuições públicas.

Todos traziam algum tributo de consideração ao Santo dos Santos, cada qual mostrando a liberalidade da fé.

Vestes de linho e valiosas peles, enfeites dourados e aromas indefiníveis impunham, ali, deliciosas impressões aos sentidos.

Os fariseus, sobretudo, demonstravam apurado zelo no culto externo, destacando-se pela beleza das túnicas e pelos ricos presentes ao santuário.

Jesus e alguns discípulos, de passagem, acompanhavam as manifestações populares, com justificado interesse. E Judas, entre eles, empolgado pelo volume das oferendas, abeirava-se do cofre aberto, seguindo os menores movimentos dos doadores, com a cobiça flamejante no olhar.

A certa altura, aproximou-se do Messias e informou-o :
– Mestre: Jeroboão, o negociante de tapetes, entregou vinte peças de ouro!...

– Abençoado seja Jeroboão – acentuou Jesus, sereno –, porque conseguiu renunciar a excesso apreciável, evitando talvez pesados desgostos. O dinheiro demasiado, quando não se escora no serviço aos semelhantes, é perigoso tirano da alma.

O discípulo voltou ao posto de observação, com indisfarçável desapontamento, mas, decorridos alguns instantes, reapareceu, notificando:
– Zacarias, o velho perfumista, sentindo-se enfermo e no fim dos seus dias, trouxe cem peças!...

– Bem-aventurado seja ele – disse o Cristo, em tom significativo –, mais vale confiar a fortuna aos movimentos da fé que legá-la a parentes ambiciosos e ingratos... Zacarias prestou incalculável benefício a ele mesmo.

Judas tornou, de moto próprio, à fiscalização para comunicar, logo após, ao grupo galileu:
– A viúva de Cam, o mercador de cavalos que faleceu recentemente, acaba de entregar todo o dinheiro que recebeu dos romanos pela venda de grande partida de animais.

E, baixando o tom de voz, completava, cauteloso, o apontamento:
– Dizem por aí que alguns centuriões planejavam roubar-lhe os bens...
Jesus sorriu e considerou:
– Muitos recursos amontoados sem proveito provocam as sugestões do mal. Feliz dela que soube preservar-se contra os malfeitores.

O aprendiz curioso regressou à posição e retornou, loquaz :
– Mestre: Efraim, o levita de Cesaréia, entregou duzentas moedas! Duzentas!...
– Bem-aventurado seja Efraim – falou o Amigo Divino, sem afetação –, é grande virtude saber dar o que sobra, em meio de tantos avarentos que se rejubilam à mesa, olvidando os infelizes que não dispõem de uma côdea de pão!...

Nesse instante, penetrou o Templo uma viúva paupérrima, a julgar pela simplicidade com que se apresentava.

Diante do sorriso sarcástico de Judas, o Senhor acompanhou-a, de perto, no que foi seguido pelos demais companheiros.

A mulher humilde orou e apresentou duas moedinhas ao fausto religioso do santuário célebre.

Muitos circunstantes riram-se, irônicos, mas Jesus apressou-se a esclarecer:
– Em verdade, esta pobre viúva deu mais que todos os poderosos aqui reunidos, porquanto não vacilou em confiar ao Templo quanto possuía para o sustento próprio.

A observação caridosa e bela congelou a crítica reinante.
Pouco a pouco, o recinto enorme tornou à calma.

Israelitas nobres e sem nome abandonaram, rumorosamente, o domicílio da fé.

Jesus e os apóstolos foram os derradeiros na retirada.

Quando se dispunham a deixar a enorme sala vazia, eis que uma escrava de rosto avelhentado e passos vacilantes surgiu no limiar para atender à limpeza.
Movimenta-se em minutos rápidos.

Aqui, recolhe flores esmagadas, além, absorve em panos úmidos os detritos deixados por enfermos descuidados.

Tem um sorriso nos lábios e a paciência no olhar, brunindo o piso em silêncio, para que o ar se purificasse na sublime residência da Lei.

Pedro, agora a sós com o Messias, ainda impressionado com as lições recebidas, ousou interrogar:– Senhor, foi então a viúva pobre a maior doadora no Templo de nosso Pai?

– Realmente – elucidou Jesus, em tom fraterno –, a viúva deu muitíssimo, porque, enquanto os grandes senhores aqui testemunharam a própria vaidade, com inteligência, desfazendo-se de bens que só lhes constituíam embaraço à tranqüilidade futura, ela entregou ao Todo-Poderoso aquilo que significava alimento para o próprio corpo...

Em seguida a leve pausa, apontou com o indicador a serva anônima que se incumbia da limpeza sacrificial e concluiu :– A maior benfeitora para Deus, aqui, no entanto, ainda não é a viúva humilde que se desfez do pão de um momento...

É aquela mulher dobrada de trabalho, frágil e macilenta, que está fornecendo à grandeza do Templo o seu próprio suor.
 
 
Do livro Pontos e Contos. Pelo Espírito Irmão X. - Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

domingo, 29 de maio de 2016

O Calvário e a Obsessão (...)"A precipitação armou Judas de ansiedade, interiormente visitado pela indução hipnótica de Entidades perversas que lhe aproveitaram o desalinho da emoção, interessadas em desnaturar a mensagem e anular a força do amor pacificante. As mesmas mentes desarticuladas pelo ódio, contrapondo-se ao "reino do Cordeiro", ante os receios gerais, perturbaram Pedro logo após a prisão do Amigo, fazendo-o pusilânime, em face da negação que se permitiu repetidas vezes(...)Os ódios, confraternizando com os ciúmes, espalharam injúrias que eram glosadas pela ingratidão de muitos que lhe foram comensais da ternura e receberam de Suas mãos o pábulo da vida estuante."



Ele viera para "que os que não criam, cressem", e, para tanto, deveria doar a vida num supremo sacrifício.

Sabia que os homens, sanguissedentos, diante do Seu holocausto, passariam a encarar melhor a excelência do amor, entregando-se, posteriormente, em imitação ao seu gesto.

Para uma tão grandiosa oferenda, porém, conjugaram-se as forças díspares em luta no coração das criaturas.

Claro que não se fariam necessárias as acusações indébitas, a fuga dos amigos, a traição. . . Aos contumazes perseguidores da verdade não faltariam argumentos e manobras hábeis com que colimariam
as suas metas nefárias.

Ele sabia que aquela seria a derradeira jornada a Jerusalém. . .

Ante a algaravia com que O saudaram à entrada, não entremostrou qualquer júbilo. Enquanto os amigos encaravam os aplausos como sinal evidente de triunfo, nEle ressoavam quais prenúncios das grandes dores. . .

A ternura e passividade de que dava mostras durante aqueles dias inquietavam os mais afoitos, os discípulos mais invigilantes, os que anelavam pela glória terrena, não obstante as incessantes demonstrações e provas de que não estabeleceria no mundo as balizas do reino de Deus, nem tão-pouco a felicidade real. . .

A precipitação armou Judas de ansiedade, interiormente visitado pela indução hipnótica de Entidades perversas que lhe aproveitaram o desalinho da emoção, interessadas em desnaturar a mensagem e anular a força do amor pacificante.

As mesmas mentes desarticuladas pelo ódio, contrapondo-se ao "reino do Cordeiro", ante os receios gerais, perturbaram Pedro logo após a prisão do Amigo, fazendo-o pusilânime, em face da negação que se permitiu repetidas vezes. ..

As mesmas forças da injunção criminosa em aguerrido combate reuniram-se, açoadas pela inveja e despeito, desde o domingo do triunfo aparente, à entrada de Jerusalém, a fim de converterem o Enviado de Deus, no Excelso Crucificado. . .

Os ódios, confraternizando com os ciúmes, espalharam injúrias que eram glosadas pela ingratidão de muitos que lhe foram comensais da ternura e receberam de Suas mãos o pábulo da vida estuante.

Fervilhando as constrições obsidentes que se impunham, os adversários da liberdade espiritual da Terra, em desgoverno no Mundo Espiritual, dominaram os que se não armaram de vigilância e equilíbrio, tornando-se fáceis presas do anti-Cristo, a fim de que a tragédia do Gólgota se consumasse. . .

Jesus, porém, houvera asseverado: "Quando eu for erguido atrairei todos a mim."

Nenhuma surpresa, portanto, no Senhor, diante dos contornos volumosos da hecatombe que tomava forma contra Ele.

Em expressiva serenidade esperou o eclodir apaixonado da força violenta dos fracos.

A noite fria e angustiante, antes da prisão, não lhe abatera o ânimo. Içara-0 a Deus através da oração e dulcificara-O, fazendo-O atingir a plenitude da auto-doação. ..

As hordas desenfreadas da Espiritualidade inferior galvanizam no ódio os que se permitem as licenças das paixões dissolventes.

Sempre se repetirão aquelas cenas nos linchamentos das ruas, nas prisões arbitrárias, nas injustiças tornadas legais, quando as massas afluem aos espetáculos hediondos e se asselvajam, tornando-se homicidas incomparáveis. . .

Como podiam aquelas gentes desconhecer a brandura do Pastor Divino, esquecer Suas concessões e "prodígios"?

Como puderam selar os lábios aqueles beneficiários da Sua misericórdia e complacência, ante a arbitrariedade dos crimes que presenciavam?

A covardia moral, abrindo as faculdades psíquicas ao intercâmbio com os Espíritos imperfeitos e obsessores, todo o bem recebido negou, a fim de poupar-se. Transformou o inocente em algoz, em revolucionário desnaturado e elegeu o crime como elemento de justiça. O grande espetáculo da loucura coletiva se aproxima do Calvário. A obsessão coletiva, como tóxico morbífico, domina os participantes da inominável atuação infeliz.

Ele não se defende, não reclama, nada pede. Submete-se e confia em Deus.

As aragens da Natureza, de raro em raro na tarde abafada, saturam-se das vibrações do desespero e do ódio que assomam e dominam os corações entenebrecendo as mentes e explodindo no ar.

Sempre os homens exigirão uma vítima para a sanha dos seus tormentos.

Jesus é o exemplo máximo, o ideal para a consunção do desar que vencerá os séculos como a mais horrenda explosão coletiva que pastará à História.

No bárbaro espetáculo, os pretensos dominadores da Erraticidade inferior crêem-se vitoriosos. . . Supõem estabelecidos os parâmetros dos seus domínios no mundo.

No entanto, quando o clímax da tarde de horror atemoriza as testemunhas da tragédia, Ele relanceia o olhar dorido e lobriga apenas João, Sua mãe e as poucas mulheres abnegadas aos pés da Cruz, fiéis, macerados e intimoratos, confiando. . .

É o bálsamo da alegria que Iene as imensas exulcerações que O dilaceram.

Nem todos desertaram. A fúria possessiva da treva não alcançara os que tiveram acesa a luz da abnegação e do amor.

Olhou além e mais profundamente os presentes e os que se refugiaram longe deles, os que armaram as cenas, os que se locupletam em gozos mentirosos sobre a fugidiça vitória. Seu olhar penetrou os promotores reais do testemunho, aqueles que transitavam livres das roupagens físicas. . .

No ápice da dor arquejante, bradou Jesus:

— "Perdoa-os, meu Pai! Eles não sabem o que fazem."

A sinfonia patética logrou, então, o máximo. Toda a orquestração de dor converteu-se em musicalidade de esperança e amor.

Ele não perdoava apenas os crucificadores, mas, também, os desertores, os negadores, os receosos e pusilânimes, os ingratos e maledicentes, os insensatos e rebeldes... Na imensa gama dos acolhidos pelo Seu perdão, alcançava os promotores desencarnados dos mil males que engendraram nos homens a prova das suas mazelas e o agravamento das suas penas. . .

Sua voz alcançou os penetrais do Infinito e lucilou nos báratros das consciências inditosas dos anti-Cristos de todos os tempos, abrindo-lhes os braços da oportunidade ao recomeço e à redenção.

A conspiração para que se consumasse o holocausto do Calvário, em que o Filho de Deus testemunhou seu amor pelos homens, foi tramada pelos inimigos impenitentes desencarnados, vencidos pelo despeito na luta pela vitória da violência com que sintonizaram os transitórios donatários da posição governamental e religiosa da Terra, como daqueles que se lhe entregaram a soldo.

O perdão doado da culminância da Cruz é a aliança inquebrável da união do Seu amor com todos nós, os caminhantes retardatários da via da evolução, convocando-nos à perene vigilância contra a obsessão e qualquer natureza que nos sitia e persegue implacavelmente. . .

Amélia Rodrigues
Fonte: A Casa do Espiritismo

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O REVOLUCIONÁRIO SINCERO- "A revolução é sempre o engano trágico daqueles que desejam arrebatar a outrem o cetro do governo. Quando cada servidor entende o dever que lhe cabe no plano da vida, não há disposição para a indisciplina, nem tempo para a insubmissão...."

Um texto tão atual, que serve como bússola nos dias atuais e reflexão diante das turbulências(comentário do blog)


O  REVOLUCIONÁRIO  SINCERO
Neio Lúcio

No curso das elucidações domésticas, Judas conversava, entusiástico, sobre as anomalias na governança do povo, e, exaltado, dizia das probabilidades de revolução em Jerusalém, quando o Senhor comentou, muito calmo: — Um rei antigo era considerado cruel pelo povo de sua pátria, a tal ponto que o principal dos profetas do reino foi convidado a chefiar uma rebelião de grande alcance, que o arrancasse do Trono.
O profeta não acreditou, de início, nas denúncias populares, mas a multidão insistia.
“O rei era duro de coração, era mau senhor, perseguia, usurpava e flagelava os vassalos em todas as direções” — clamava-se desabridamente.
Foi assim que o condutor de boa-fé se inflamou, igualmente, e aceitou a idéia de uma revolução por único remédio natural e, por isso, articulou-a em silêncio, com algumas centenas de companheiros decididos e corajosos.
Na véspera do cometimento, contudo, como possuía segura confiança em Deus, subiu ao topo dum monte e rogou a assistência divina com tamanho fervor que um Anjo das Alturas lhe foi enviado para confabulação de espírito a espírito.
À frente do emissário sublime, o profeta acusou o soberano, asseverando quanto sabia de oitiva e suplicando aprovação celeste ao plano de revolta renovadora.
O mensageiro anotou-lhe a sinceridade, escutou-o com paciência e esclareceu: — “Em nome do Supremo Senhor, o projeto ficará aprovado, com uma condição.
Conviverás com o rei, durante cem dias consecutivos, em seu próprio palácio, na posição de servo humilde e fiel, e, findo esse tempo, se a tua consciência perseverar no mesmo propósito, então lhe destruirás o trono, com o nosso apoio.” O chefe honesto aceitou a proposta e cumpriu a determinação.
Simples e sincero, dirigiu-se à casa real, onde sempre havia acesso aos trabalhos de limpeza e situou-se na função de apagado servidor; no entanto, tão logo se colocou a serviço do monarca, reparou que ele nunca dispunha de tempo para as menores obrigações alusivas ao gosto de viver.
Levantava-se rodeado de conselheiros e ministros impertinentes, era atormentado por centenas de reclamações de hora em hora.
Na qualidade de pai, era privado da ternura dos filhos; na condição de esposo, vivia distante da companheira.
Além disso, era obrigado, freqüentemente, a perder o equilíbrio da saúde física, em vista de banquetes e cerimônias, excessivamente repetidos, nos quais era compelido a ouvir toda a sorte de mentiras da boca de súditos bajuladores e ingratos.
Nunca dormia, nem se alimentava em horas certas e, onde estivesse, era constrangido a vigiar as próprias palavras, sendo vedada ao seu espírito qualquer expressão mais demorada de vida que não fosse o artifício a sufocar-lhe o coração.
O orientador da massa popular reconheceu que o imperante mais se assemelhava a um escravo, duramente condenado a servir sem repouso, em plena solidão espiritual, porquanto o rei não gozava nem mesmo a facilidade de cultivar a comunhão com Deus, por intermédio da prece comum.
Findo o prazo estabelecido, o profeta, radicalmente transformado, regressou ao monte para atender ao compromisso assumido, e, notando que o Anjo lhe aparecia, no curso das orações, implorou-lhe misericórdia para o rei, de quem ele agora se compadecia sinceramente.
Em seguida, congregou o povo e notificou a todos os companheiros de ideal que o soberano era, talvez, o homem mais torturado em todo o reino e que, ao invés da suspirada insubmissão, competia-lhes, a cada um, maior entendimento e mais trabalho construtivo, no lugar que lhes era próprio dentro do país, a fim de que o monarca, de si mesmo tão escravizado e tão desditoso, pudesse cumprir sem desastres a elevada missão de que fora investido.
E, assim, a rebeldia foi convertida em compreensão e serviço.
Judas, desapontado, parecia ensaiar alguma ponderação irreverente, mas o Mestre Divino antecipou-se a ele, falando, incisivo: — A revolução é sempre o engano trágico daqueles que desejam arrebatar a outrem o cetro do governo.
Quando cada servidor entende o dever que lhe cabe no plano da vida, não há disposição para a indisciplina, nem tempo para a insubmissão.

Do Livro Jesus no Lar  - Francisco C. Xavier

terça-feira, 2 de julho de 2013

DO APRENDIZADO DE JUDAS

DO  APRENDIZADO  DE  JUDAS
Irmão X
 
Não obstante amoroso, Judas era, muita vez, estouvado e inquieto. Apaixonara-se pelos ideais do Messias, e, embora esposasse os novos princípios, em muitas ocasiões surpreendia-se em choque contra eles. Sentia-se dono da Boa-Nova e, pelo desvairado apego a Jesus, quase sempre lhe tornava a dianteira nas deliberações importantes. Foi assim que organizou a primeira bolsa de fundos da. comunhão apostólica e, obediente aos mesmos impulsos, julgou servir à grande causa que abracara, aceitando a perigosa cilada. que redundou na prisão do Mestre.
Apesar dos estudos renovadores a que sinceramente se entregara, preso aos conflitos íntimos que lhe caracterizavam o modo de ser, ignorava o processo de conquistar simpatias.
Trazia constantemente nas lábios uma, referência amarga, um conceito infeliz.
Quando Levi se reportava a alguns funcionários de Herodes, simpáticos ao Evangelho, dizia, mordaz:
– São víboras disfarçadas. Sugam o erário público, bajulam sacerdotes e deixam-se pisar pelo romano dominador... A meu parecer, não passam de espiões..
O companheiro ouvia tais afirmativas, com natural desencanto, e os novos colaboradores dele se distanciavam menos entusiasmados.
Generosa amiga de Joana de Cusa ofereceu, certo dia, os recursos precisos para a caminhada do grupo, de Cafarnaum a Jerusalém. Porém, recebendo a importância, o apóstolo irrefletido alegou, ingratamente:
– Guardo a oferta; contudo, não me deixo escarnecer. A doadora pretende comprar o reino dos Céus, depois de haver gozado todos os prazeres do reino da Terra. Saiba.m todos que este ó um dinheiro impuro, nascido da iniqüidade.
Estas palavras, pronunciadas diante da benfeitora, trouxeram-lhe indefinível amargura.
Em Cesareia, heróica mulher de um paralítico, sentindo-se banhada pelos clarões do Evangelho, abriu as portas do reduto doméstico aos desamparados da sorte. Orfãos e doentes buscaram-lhe o acolhimento fraternal. O discípulo atrabiliário, no entanto, não se esquivou à, maledicência:
– E o passado dela? – clamou cruelmente – o marido enfermou desgostoso pelos quadros tristes que foi constrangido a presenciar. Francamente, não lhe aceito a conversão. Certo, desenvolve piedade fictícia para aliciar grandes lucros.
A senhora, duramente atingida pelas descaridosas insinuações, paralisou a benemerência iniciante, com enorme prejuízo para os filhos do infortúnio.
Quando o próprio Messias abençoou Zaqueu e os serviços dele, exclamou Judas, indignado, às ocultas:
– Este publicano pagará mais tarde. Escorcha, os semelhantes, rodeia-se de escravas, exerce avareza, sórdida e ainda, pretende o raiz.o divino!...
Não irá longe... Enganara o Mestre, não a mim...
Alimentando tais disposições, sofria a desconfiança de muitos. De quando em quando, via-se repelido delicadamente.
Jesus, que em silêncio lhe seguia as atitudes, aconselhava prudência, amor e tolerância. Mal não terminava,porém, as observações carinhosas, chegava Simão Pedro, por exemplo, explicando que Jeroboão, fariseu simpatizante da. Boa-Nova, parecia inclinado a ajudar o Evangelho renascente.
– Jeroboão? – advertia Judas, sarcástico – aquilo e uma raposa de unhas afiadas. Mero fingimento! Conheço-o há vinte anos. Não sabe senão explorar o próximo e amontoar dinheiro. Houve tempo em que chegou a esbordoar o próprio pai, porque o infeliz lhe desviou meia pipa de vinho!...
A verdade, porém, é que as circunstâncias, pouco a pouco, obrigaram-no a insular-se. Os próprios companheiros andavam arredios, Ninguém lhe aprovava as acusações impulsivas e as lamentações sem propósito. Apenas o Cristo não perdia a paciência. Gastava longas horas, encorajando-o e esclarecendo-o afetuosamente...
Numa tarde quente e seca, viajavam ambos, nos arredores de Nazaré, cansados de jornada comprida, quando o filho de Kerioth indagou, compungido :
– Senhor, por que motivos sofro tão pesadas humilhações? Noto que os próprios companheiros se afastam cautelosos de mim... Não consigo fazer relações duradouras. Há como que forçada separação entre meu espírito e os demais... Sou incompreendido e vergastado pelo destino...
E levantando os olhos tristes para o Divino Amigo, repetia :
– Por quê?!...
Jesus ia responder, condoído, observando que a voz do discípulo tinha lágrimas que não chegavam a cair, quando se acercaram, subitamente, de poço humilde, onde costumavam aliviar a sede. Judas que esperava ansioso aquela bênção, inclinou-se, impulsivo e, mergulhando as mãos ávidas no líquido cristalino, tocou inadvertidamente o fundo, trazendo largas placas de lodo à tona.
Oh! Oh! Que infelicidade!  - gritou em desespero.
O mestre bondoso sorriu calmamente e falou:
_ neste poço singelo, Judas, tens a lição que desejas. Quando quiseres água pura, retira-a com cuidado e reconhecimento. Não há necessidade de alvoroçar a lama do fundo e das margens. Quando tiveres sede de ternura e amor, faze o mesmo com teus amigos. Recebe-lhes a cooperação afetuosa sem cogitar do mal, a fim de que não percas o bem supremo.
Pesado silêncio caiu entre o benfeitor e o tutelado.
O apóstolo invigilante modificou a expressão do olhar, mas não respondeu.

Livro “Luz Acima”. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

domingo, 24 de março de 2013

REABILITAÇÃO DE UM CULPADO."...Lembremos por fim, que Jesus veio chamar os pecadores e não os justos. Por isso jamais se defendeu das injúrias e ataques dirigidos à sua pessoa. Contra outra espécie de traidores, ele se insurgiu: os traficantes da fé, os impostores que exploravam o alheio sentimento. A este exprobrou em termos enérgicos. Seu gesto de revolta se verificou, quando expulsava do templo os vendilhões, dirigindo-lhes a seguinte apóstrofe: Fizestes da casa de meu Pai, que é casa de oração, covil de salteadores. Para os algozes que o cravaram na cruz, assim como para a plebe ignara que, aparvalhada, assistia ao seu sacrifício, teve esta frase lapidar: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem...."


Depois de termos falado sobre a Justiça, pratiquemos um ato que a objetive. Tenhamos a precisa coragem moral de, arrostando preconceitos, propugnar pela reabilitação de um culpado, cujo delito, de há muito, foi devidamente reparado, mediante a consumação da justiça imanente, que reponta dos mesmos erros e delitos, como processo expurgador, conducente à regeneração.

Queremos nos referir 'coram populo' a Judas Iscariotes, um dos doze apóstolos do Senhor. Bem sabemos que esse nome tem sido execrado, atravessando os séculos coberto de opróbrio e de ignomínia. Mas é precisamente por isso que, em nome da justiça e, particularmente, em nome do Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, ousamos empreender esta tarefa, para o desempenho da qual imploramos o auxílio da luz que vem de cima.

Encaremos o crime de Judas com a devida calma, desapaixonadamente. Raciocinemos e argumentemos com o critério que a gravidade do caso requer. Comecemos levantando esta preliminar: Como foi Judas ter ao apostolado? Por solicitação própria? Não. Foi chamado, conforme peremptória declaração de Jesus, dirigida aos doze: Eu vos escolhi a vós; no entanto, um de vós é demônio. Daqui ressalta outro ponto importante. Jesus sabia que Judas ia cometer o ato delituoso ao qual se referiu por
ocasião da última páscoa, dizendo: Em verdade vos digo que um de vós me há de trair.
E eles, entristecendo-se muito, começaram cada um a perguntar-lhe: Serei eu, Senhor? E Jesus retrucando, acrescentou: o que mete a mão no prato comigo, esse me trairá. Judas, então, disse: Porventura sou eu, Rabi? O Senhor retorquiu: — Tu o disseste. Em verdade, o Filho do homem vai, como acerca dele está escrito, mas ai daquele por quem o Filho do homem é traído! Bom seria a esse indivíduo, se não houvera nascido. De posse destes dados, extraídos dos Evangelhos, portanto dignos de fé, passemos à ordem dos argumentos.

Jesus veio à terra no desempenho de missão redentora. Para consumá-la se fazia mister tornar-se conhecido dos homens, através de exemplos vivos que testemunhassem o seu acrisolado amor pelos míseros pecadores, mostrando-lhes a estrada da salvação e conduzindo por ela, como guia, toda a humanidade. Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim.

As velhas profecias vaticinaram os acontecimentos que haviam de se desenrolar no decurso da passagem do Filho de Deus por este orbe. Tudo estava previsto. Jesus se achava perfeitamente enfronhado do que o esperava. Marchou, todavia, resoluto e varonil ao encontro do sacrifício. Pai, afasta de mim este cálice; todavia faça-se a tua vontade, e não a minha.

Iniciando a ingente tarefa, Jesus começa reunindo os que deviam colaborar com Ele na obra da libertação humana. Chega-se a uns pescadores e, sem mais preâmbulos, vai dizendo assim: Acompanhem-me, pois, doravante, sereis pescadores de almas. E tais indivíduos, como que premidos por mola invisível, deixam seus barcos, redes e demais petrechos do ofício e seguem o Senhor. Da mesma forma, com relação a Mateus, portageiro da alfândega, que, abandonando o emprego, se põe ao lado dos demais escolhidos. Deste fato concluímos que aquelas pessoas tinham vindo a este mundo já comissionadas, já designadas a desempenhar certas incumbências junto ao Redentor da Humanidade. Do contrário é inexplicával a facilidade com que todos anuíram ao chamado que lhes foi dirigido por um homem desconhecido, com quem jamais haviam tido qualquer entendimento, e que viram pela primeira vez.
O compromisso, portanto, fora tomado antes, noutro plano da vida. Ora, Judas foi, a seu turno, solicitado a acompanhar Jesus. Anuiu, como os demais, ao chamamento. Veio, pois, a este mundo para fazer parte do ministério apostólico. Nesse caso, acode-nos à mente a seguinte consideração: se Judas ia fracassar desastrosamente, como fracassou, na qualidade de apóstolo; se as profecias previram o acontecimento; se, finalmente, Jesus estava ciente do desastre que esperava aquele discípulo, achando até que melhor fora ele não ter nascido, isto é, não ter vindo ao mundo, então por que o incluiu no apostolado? Não seria preferível afastá-lo, na hipótese de haver partido dele o desejo de participar da obra messiânica? Como, pois, se compreende ter sido ele chamado?
Não será lícito estranharmos semelhante procedimento por parte daquele que veio dar a vida pela redenção dos pecadores? Como, então, contribuir para a perdição precisamente de um dos seus escolhidos? Eis a questão que parece inextricável. Mas o Evangelho diz que não há nada encoberto que não seja descoberto, e nada oculto que não venha a ser revelado. Portanto, meditemos.

Jesus não podia consentir na perdição de Judas, ao incorporá-lo no colégio apostólico, prevendo a sua ruína. Atribuir-se ao Senhor semelhante cometimento seria rematada heresia. Há, portanto, uma razão que o levou a agir como agiu. Para descobri-la temos que, preliminarmente, estudar o caráter de Judas. Qualifiquemo-lo, tal como se faz aos réus. Judas, além de ambicioso, amigo do dinheiro, sumamente egoísta, era cínico. Este mal, quando empolga os Espíritos, os torna por assim dizer impermeáveis à luz, à verdade e a todas as sugestões e inspirações boas e salutares. Ficam impassíveis às emoções e às influências de ordem moral. Sua sensibilidade se embota, sua consciência se cauteriza, sua razão se obnubila.
Mergulhados na voragem da materialidade, só aspiram à satisfação dos apetites, debaixo dos seus múltiplos aspectos. Acovardados fogem das lutas, acocoram-se no comodismo, evitando tudo quanto possa perturbar-lhes o antegozo dos seus desejos e dos seus pendores inconfessáveis. Ficam, por assim dizer, cristalizados na esfera bastarda do sensualismo. E aí permaneceriam eternamente se o 'surge et ambula' não constituísse a lei soberana que rege o destino das criaturas de Deus. Sim, tal categoria de indivíduos ficaria estacionária se pudesse furtar-se à influência incoercível da evolução.
De repente, surge um imprevisto que os atira para a correnteza das provas. Então, como que arrastados pelas torrentes caudalosas de profundo rio, vão, sacudidos pelas ondas, batendo-se contra os rochedos ásperos e arestosos até que, precipitados no pélago das águas, ao rumor das quais despertam para a realidade, abrem os olhos para a luz, acordam-se-lhe a razão e a consciência, raiando a aurora de uma vida de reparação, era das reabilitações.

Eis aí o que sucedeu a Judas. Era necessário que essa alma fosse profundamente abalada, fosse sacudida até os seus fundamentos, suportasse um tremendo choque, passasse por um verdadeiro cataclismo, para que despertasse. Jesus não viu somente a queda de Iscariotes; viu também a sua redenção, após a prática do ato ignominoso. Por isso consentiu em incluí-lo no número dos apóstolos. Foi dura, foi tremenda a sua expiação, porém era esse o meio de chamá-lo à razão. Seu estado reclamava um drástico enérgico. Esse medicamento lhe foi propinado.

Cumpriu-se a Justiça, de cuja consumação emerge a misericórdia como seu complemento. Pela dor e pelo amor! Uma vez a lei satisfeita, soa a hora da graça. Lei e graça, justiça e misericórdia se entrelaçam na sábia urdidura da obra redentora do Espírito. Prossigamos, no entanto, no esclarecimento e justificação da nossa campanha em prol da reabilitação do grande delinquente. Judas foi tentado. Jesus o afirma, dizendo que Satanás o havia possuído. Se é certo que a influência da tentação não dirime o delito, contudo é inegável que constitui atenuante em favor do criminoso.
As circunstâncias atenuantes estão previstas até nos códigos terrenos, apesar das inúmeras lacunas de que eles se ressentem. A culpabilidade de Iscariotes deve ser julgada através dessa circunstância. O Tentador o dominou, agindo através dos dois principais defeitos do malsinado apóstolo: cinismo e grande apego ao dinheiro. Essas duas falhas acentuadas do seu caráter têm as suas raízes mergulhadas no egoísmo. Com dinheiro se compram prazeres e deleites que gratificam os sentidos. Com cinismo o indivíduo faz ouvidos de mercador aos protestos da consciência.
Que Judas se fascinava pelo dinheiro, di-lo claramente João Evangelista, reportando-se às suas ladroíces como tesoureiro da comunidade. Que era um cínico e simulador atesta-o eloquente o seu gesto, na última ceia, interrogando o Mestre sobre aquele que ia traí-lo metendo a mão no prato com Jesus, após este haver declarado que tal importaria o sinal denunciador daquele que o havia de trair. Os maus pendores facilitaram a tarefa do traidor ou talvez, dos Espíritos das trevas.

Consideremos, agora, outras particularidades dignas de meditação. A missão de Jesus não foi compreendida pelos homens do seu tempo, inclusive pelos próprios discípulos e apóstolos. Estes, só depois do dia de Pentecostes, é que a perceberam e assimilaram. Todos viam no Enviado celeste o libertador do povo de Deus das garras de César. Supunham que Jesus empregaria processos e meios miraculosos para vencer o despotismo romano, expulsando os invasores da Palestina. Aguardavam ansiosamente esse momento. A mente humana, acanhada e regionalista, não abarcava a grandiosidade da obra messiânica. Ninguém pensava na libertação do Espírito da servidão dos vícios e das paixões com sede na carne. Esta questão era demasiadamente transcendental para os homens daquele século.

Judas via em Jesus um místico, com poderes supranormais extraordinários, aguardando o momento oportuno para utilizá-los em favor do seu povo oprimido. Naturalmente, ao negociar com os sacerdotes judaicos a entrega de seu Mestre, Judas supunha que Ele jamais pereceria às mãos dos seus inimigos. Estaria, talvez, convencido de que, na ocasião azada, Jesus os destroçaria, manejando faculdades que tanto o distiguiam, e que Judas tanto invejava. Vários episódios teriam contribuído para alicerçar na mente do grande culpado aquela hipótese.
Ele presenciou o Senhor, quando os judeus tentaram aprisioná-lo. Estava habituado a vê-lo aparecer inesperadamente entre os discípulos e ausentar-se, sem que se soubesse para onde teria ido. No Jardim das Oliveiras, Jesus, apresentando-se aos beleguins romanos guiados pelo mesmo Judas, se transfigura diante deles, deixando irradiar a luz refulgente do seu Espírito. Diante deste fenômeno insólito, a soldadesca, aturdida e confusa, cai por terra. Estas ocorrências todas corroboraram o conceito de Iscariotes, animando-o a executar o plano que arquitetara.
Quando, porém, acompanhando com interesse a sucessão dos acontecimentos, viu que Jesus caminha para o suplício, sem opor embargos aos seus verdugos, e que, finalmente, sucumbiu no madeiro infamante. Judas estremeceu! Experimentou dentro de si o rugir duma tormenta, o desabar de um medonho e inconcebível furacão. O que se teria passado com ele, em tão trágico lance, a linguagem humana não possui expressões bastante para relatar. São desses transes que se imaginam, porém não se descrevem. Perpassou-lhe pela mente o quadro da sua vida ao lado do Mestre. Lembrou-se das palavras que ouvira dele; da sua bondade e doçura; da sua dedicação pelos sofredores; dos benefícios que espalhou por toda parte onde esteve; do caso da viúva de Naim cujo filho redivivo, restituído a mãe, transformou o seu pranto em alegria; e daquele filha voltar à vida, quando todos a consideravam morta; e, mais outro ainda, o de Lázaro, cujas irmãs e amigos pranteavam a morte, ressuscitado pelo Senhor e entregue ao afeto dos que o amavam. Essas maravilhas todas, de alta benemerência, e tudo o mais que observara 'de visu', acompanhando o Mestre em sua peregrinação terrena, se desenharam ao vivo no delírio febril da sua imaginação.

Sabe-se pela experiência dos que se encontram em perigo iminente de morte que nesses indivíduo se escoa em sua mente, que nestes instante, todo o passado do indivíduo se escoa em sua mente de um modo vertiginoso, porém perfeitamente compreensível. Todo o bem e todo o mal praticado, as conjunturas alegres ou tristes, os atos dignos ou inconfessáveis, tudo, enfim, num esforço rápido e vivo, é percebido e sentido naqueles fugazes momentos. Foi o que se teria verificado com o grande pecador. Sua alma então desperta; as cordas do seu sentimento habituadas à inação vibram agora desusada e descompassadamente. Lavram em seu interior as labaredas rubras do remorso. Sua razão, ora acordada, lhe mostra a vileza e a monstruosidade do seu crime. Judas se contorce no paroxismo da dor, no estertor horrendo da exprobração da consciência revivida, no tormento dantesco do criminoso vergado ao peso da condenação!

Judas enlouquece, Judas suicida-se! Detenhamo-nos aqui. Não tentemos avançar mais para dentro da sua dor, porque há dores cujo abismo causa vertigem aos que delas se aproximam. Descubramo-nos diante da sua grande, imensa e incomensurável tortura; deixemos que esta opere a sua obra de purificação. Executou-se a lei. A lei que pontifica no interior de cada homem, onde ele é juiz de si mesmo. Quanto tempo ficaria o espírito do grande delinquente no estado de desespero em que partiu deste mundo? Não sabemos. O importante é que ele se arrependeu. Deu, portanto, o primeiro passo no caminho da reparação. Após a Justiça consumada, soa, como já o dissemos, a hora da misericórdia.
À lei sucede a graça, Judas é um regenerado. Para afirmá-lo, nos baseamos na doutrina que nos foi revelada pela sua vítima. Jesus estendeu, de há muito, a sua destra benfazeja, amparando e acolhendo o apóstolo transviado. Perdoou-lhe, como perdoou a Pedro e a Paulo, que também pecaram. Todos, depois de suportarem a consequência dos erros praticados, se reabilitaram. Por que Judas não se teria reabilitado também? — Reabilitou-se, sim, no-lo diz o mesmo Jesus, através destes preceitos seus: Amai aos vosso inimigos. Fazei bem aos que vos fizerem mal. Orai pelos que vos perseguem e caluniam. Perdoai e sereis perdoados. Não julgueis, não condeneis. Com a medida com que medirdes, com essa sereis medidos. Quem predicou assim não podia abandonar um pecador que deu visíveis provas de contrição. Jesus é aquele cuja escola é Ele mesmo, cujas teorias são os seus exemplos, cujas doutrinas são a sua vida.
Portanto, é Ele quem nos dá autoridade para propugnarmos no sentido de apagar o estigma aviltante que envolve a memória de Judas. A gravidade da culpa depende da previsibilidade do evento criminoso. Ora, Judas não teve a previsão das consequências do delito que praticou. Só depois de consumado é que ele mediu o seus efeitos. Não cabe na mente do egoísta que alguém, dispondo de força excepcionais e singulares, deixe de utilizá-las em defesa própria. Renúncia e sacrifício são expressões que carecem de sentido para as mentalidades imbuídas do egoísmo.

Demais, cumpre acentuar ainda uma particularidade muito curiosa no ato pecaminoso de Iscariotes. O seu crime não foi propriamente de traição. Falta circunstância para que se capitule naquela rubrica: a circunstância da surpresa da vítima. Não pode haver traição, sem que se verifique o sobressalto, o inopinado, o imprevisto. Ora, Jesus, a vítima, estava a par de tudo, vinha acompanhando os passos de seu discípulo, ciente de toda a trama que ele urdira. Onde, pois, a traição?

É verdade que este pormenor não altera, do ponto de vista moral, a natureza do delito ora em apreço. Seja, porém, como for, o fato é que Judas resgatou a sua grande culpa no cadinho de uma imensa dor. As 30 moedas, preço de sua perfídia, ali fundidas, caíram, gota a gota, em seu atribulado coração.

Lembremos por fim, que Jesus veio chamar os pecadores e não os justos. Por isso jamais se defendeu das injúrias e ataques dirigidos à sua pessoa. Contra outra espécie de traidores, ele se insurgiu: os traficantes da fé, os impostores que exploravam o alheio sentimento. A este exprobrou em termos enérgicos. Seu gesto de revolta se verificou, quando expulsava do templo os vendilhões, dirigindo-lhes a seguinte apóstrofe: Fizestes da casa de meu Pai, que é casa de oração, covil de salteadores. Para os algozes que o cravaram na cruz, assim como para a plebe ignara que, aparvalhada, assistia ao seu sacrifício, teve esta frase lapidar: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.
Os pecadores confessos e contritos encontraram nele refúgio, consolo e salvação. Duas almas tiveram a primazia na obra de redenção consumada no Calvário: a primeira foi Dimas, o bom ladrão crucificado à direita do Cristo de Deus; a segunda foi Judas, o suicida, na demência do remorso.
Vinícius

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

JUDAS ISCARIOTES, O APÓSTOLO.(...)"Embora Jesus Cristo já soubesse que o plano de Judas era irreversível, o bom senso nos diz que o ato na natureza fatal, uma vez que, com o uso do seu livre-arbítrio ele poderia ter-se furtado à execução do seu plano de traí-lo. O Evangelista João afirma que logo após Jesus ter-lhe dado o bocado de pão, entrou nele satanás, o que que Judas se tornou dócil instrumento de um possessor, o qual insuflou em seu coração o desiderato de consumar o ato de traição..."


"TENDO POIS, JUDAS RECEBIDO A COORTE E OFICIAIS DOS PRINCIPAIS
DOS SACERDOTES FARISEUS, VEIO PARA ALI COM LANTERNAS,
ARCHOTES E ARMAS". (JOÃO 18:3)
O nome de Judas Iscariotes provém da sua cidade de origem: Karioth, na Samaria, a qual, por sua vez, teve a sua raiz no nome de Issacar, um dos filhos de Jacó, que deu o título a uma das doze tribos de Israel. O papel de Judas Iscariotes no processo de revelação do Cristianismo, pelo que podemos deduzir das narrativas evangéIicas, não foi muito significativo. As poucas referências ali feitas sobre ele foram de natureza negativa, haja vista, por exemplo, o que diz o evangelista João sobre o episódio do do Jantar de Betânia: Logo após ter Maria derramado sobre o Mestre o vaso de unguento, Judas Iscariotes, filho de Simão, o que havia de traí-lo, disse: por que não se vendeu esse unguento por trezentos dinheiros e não se deu aos pobres?
Ora, ele disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e tinha a bolsa, tirava o que ali se lançava. Dizemos eventual traidor porque, embora naquela altura dos acontecimentos ele já tivesse pactuado com o sumo sacerdote, no sentido de entregar o Mestre mediante o prêmio de trinta moedas de prata, ele poderia bem ter voltado atrás em seu intento, uma vez que Deus jamais condena alguém à prática do mal

Em O Liuro dos Espíritos, de Allan Kardec, deparamos com os seguintes esclarecimentos:— No estado errante, antes de tomar uma existência corpórea, o Espírito escolhe o gênero de provas que sofrer; nisto consiste o seu livre-arbítrio.— Nada acontece sem a permissão de Deus, foi ele quem estabeleceu todas as leis que regem o universo.
Dando ao Espírito a liberdade de escolha, deixa-lhe responsabilidade dos seus atos e das suas consequências nada lhe estorva o futuro; o caminho do bem está à sua frente, como o do mal. Mas, se sucumbir, ainda se resta uma consolação, a de que nem tudo se acabou para ele, pois Deus, na sua bondade, permite-lhe recomeçar o que foi mal feito.

Embora Jesus Cristo já soubesse que o plano de Judas era irreversível, o bom senso nos diz que o ato na natureza fatal, uma vez que, com o uso do seu livre-arbítrio ele poderia ter-se furtado à execução do seu plano de traí-lo. O Evangelista João afirma que logo após Jesus ter-lhe dado o bocado de pão, entrou nele satanás, o que que Judas se tornou dócil instrumento de um possessor, o qual insuflou em seu coração o desiderato de consumar o ato de traição.

Com base nos ensinamentos acima, podemos afirmar que Judas Iscariotes não veio predestinado para aquele ato nefando. Ele poderia tê-lo praticado ou não. Na eventualidade de ter modificado a sua decisão, teria naturalmente surgido outro traidor, ou o Cristo teria sido preso em circunstâncias diferentes, embora o Mestre, profundo conhecedor dos homens e profeta que era, soubesse de antemão que Judas não mudaria o que já havia deliberado fazer, e que, portanto, os vaticínios sobre essa ocorrência aconteceriam em seus mínimos detalhes.

Estando Jesus falando, chegou Judas, um dos doze, e com ele uma grande multidão com espadas e varapaus, que eram os ministros enviados pelos principais dos sacerdotes e pelos anciãos do povo, e deu-lhe um beijo, dizendo: Deus te salve Mestre, sinal esse que havia anteriormente combinado com os detratares do Senhor. Profundamente arrependido do ato de traição após ver a flagelação do Mestre, voltou Judas ao Templo e ali pretendeu reparar a sua falta, exclamando: Pequei, traindo o sangue inocente, ao que os principais dos sacerdotes replicaram:
Que nos importa? Isso é contigo. Desesperado diante dessa recusa, atirou as trinta moedas aos pés dos sacerdotes e, retirando-se para um campo, ali suicidou-se. Os mentores do Templo, tomando do dinheiro, disseram: Não é lícito deitá-lo na arca das esmolas, porque é preço de sangue, e em conselho deliberaram comprar com ele o campo de um oleiro, para servir de cemitério aos forasteiros. Por essa razão se ficou chamando aquele campo, Haceldama, isto é, campo de sangue. Com esse ato, aparentemente caridoso, os principais dos sacerdotes julgavam poder enganar a Deus, enganando-se a si próprios.
Esta passagem foi prevista no livro de Zacarias (11:12-13): E eu disse-lhes: Se parecer bem aos vossos olhos, dai-me o que é devido e, se não, deixai-o. E pesaram o meu salário trinta moedas de prata. O Senhor, pois, me disse: Arroja isso ao oleiro, esse belo preço em que fui avaliado por eles. E tomei as trintas moedas de prata e as arrojei ao oleiro, na Casa do Senhor.
É inegável que o Espírito de Judas já se redimiu no decurso de várias lutas expiatórias (NOTA: isto feito em centenas de reencarnações) e hoje forçosamente é um Espírito de ordem elevada, não se justificando as campanhas que se movem contra ele no mundo, principalmente com as chamadas malhações e coisas semelhantes.
É fato inconteste, porém, que a História do Cristianismo registra a passagem pela Terra de muitos outros Judas, que não traindo o Mestre traíram, entretanto, a sua Doutrina, impregnados com ritualismos e encenações exteriores que ele jamais ensinou.
Paulo A. Godoy