Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!
Mostrando postagens com marcador Igreja Apostólica Romana e Ortodoxa. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Igreja Apostólica Romana e Ortodoxa. Mostrar todas as postagens

domingo, 21 de setembro de 2014

DA PROIBIÇÃO DE EVOCAR OS MORTOS

.

(O CÉU E O INFERNO, OU A JUSTIÇA DIVINA SEGUNDO O ESPIRITISMO, PRIMEIRA PARTE, CAP. XI)

1.– A Igreja não nega absolutamente o fato das manifestações; ela admite-as todas, ao contrário, como se viu nas citações precedentes, mas atribui-as à intervenção exclusiva dos demônios. É erradamente que alguns evocam o Evangelho para proibi-las, pois o Evangelho não diz uma palavra sobre isso. O supremo argumento brandido é a proibição de Moisés. Eis em que termos se exprime a este respeito a pastoral citada nos artigos precedentes:
“Não é permitido colocar-se em relação com eles (os Espíritos), quer imediatamente, quer por intermédio daqueles que os invocam e os interrogam. A lei mosaica punia com a morte essas práticas detestáveis, correntes entre os gentios.” “Não vades encontrar os mágicos, está dito no livro do Levítico, e não dirijais aos adivinhos pergunta nenhuma, por medo de incorrer na mácula dirigindo-vos a eles.” (Cap. XIX, “v. 31.) – “Se um homem ou uma mulher tem um Espírito de Píton ou de adivinhação, que sejam punidos com a morte; serão lapidados, e seu sangue recairá sobre suas cabeças.” (Cap. XX, v. 27.) E no livro do Deuteronômio: “Que não haja entre vós ninguém que consulte os adivinhos, que observe os sonhos e os augúrios, ou que use de malefícios, sortilégios e encantamentos, ou que consulte aqueles que têm o Espírito de Píton e que praticam a adivinhação, ou que interrogam os mortos para saber a verdade; pois o Senhor tem em abominação todas essas coisas, e destruirá, à vossa chegada, as nações que cometem esses crimes.” (Cap. XVIII, v. 10, 11, 12.)
2. – É útil, para a inteligência do verdadeiro sentido das palavras de Moisés, relembrar o texto completo, um pouco abreviado nessa citação:
“Não vos afasteis de vosso Deus, para ir procurar os mágicos, e não consulteis os adivinhos, de medo de vos maculardes dirigindo-vos a eles. Eu sou o Senhor vosso Deus.” (Levítico, cap. XIX, v.31.)
“Se um homem ou uma mulher tem um Espírito de Píton, ou um espírito de adivinhação, que sejam punidos com a morte; serão lapidados, e seu sangue recairá sobre suas cabeças.” (Id., cap. XX, v. 27.)
“Quando tiverdes entrado no país que o Senhor vosso Deus vos dará, ficai muito atentos a não querer imitar as abominações desses povos; – e que não se encontre ninguém entre vós que pretenda purificar seu filho ou sua filha, fazendo-os passar pelo fogo, ou que consulte os adivinhos, ou que observe os sonhos e os augúrios, ou que use de malefícios, de sortilégios e encantamentos, ou que consulte aqueles que têm o espírito de Píton, e que se dedicam a adivinhar, ou que interrogam os mortos para aprender a verdade. – Pois o Senhor tem em abominação todas essas coisas, e ele exterminará todos esses povos à vossa entrada, por causa desses tipos de crimes que eles cometeram.” (Deuteronômio, cap. XVIII, v. 9, 10, 11 e 12.)
3. – Se a lei de Moisés deve ser rigorosamente observada sobre este ponto, ela o deve ser sobre todos os outros, pois por que ela seria boa no que se refere às evocações, e má em outras partes? É preciso ser coerente; se se reconhece que sua lei não está mais em harmonia com nossos costumes e nossa época para certas coisas, não há razão para que não ocorra o mesmo com a proibição de que se trata.
É preciso, aliás, se reportar aos motivos que provocaram essa proibição, motivos que tinham então sua razão de ser, mas que não mais existem seguramente hoje em dia. O legislador hebreu queria que seu povo rompesse com todos os costumes trazidos do Egito, onde aquele das evocações era usual e um motivo de abuso, como provam estas palavras de Isaías: “O Espírito do Egito se aniquilará nela, e derrubarei sua prudência; eles consultarão seus ídolos, seus adivinhos, seus pítons e seus mágicos.” (Cap. XIX, v. 3.)
Além disso, os israelitas não deviam contrair nenhuma aliança com as nações estrangeiras; ora, eles iam encontrar as mesmas práticas entre aquelas onde iam entrar e que deviam combater. Moisés precisou então, por política, inspirar ao povo hebreu aversão por todos seus costumes que tivessem tido pontos de contato se eles os tivessem assimilado. Para motivar essa aversão, era preciso apresentá-los como reprovados pelo próprio Deus; é por isso que ele disse: “O Senhor tem em abominação todas essas coisas, e ele destruirá, à vossa chegada, as nações que cometem esses crimes.”
4 .– A proibição de Moisés era tanto mais justificada quanto não se evocavam os mortos por respeito ou afeição a eles, nem com um sentimento de piedade; era um meio de adivinhação, da mesma maneira que os augúrios e os presságios, explorado pelo charlatanismo e a superstição. Por mais tenha feito, não conseguiu desenraizar esse hábito tornado objeto de tráfico, assim como o atestam as passagens seguintes do mesmo profeta:
“E quando eles vos disserem: Consultai os mágicos e os adivinhos que falam baixinho em seus encantamentos, respondei-lhes: “Cada povo não consulta seu Deus? E vai-se falar aos mortos do que diz respeito aos vivos?” (Isaías, cap. VIII, v. 19.)
“Sou eu que faço ver a falsidade dos prodígios da magia; que torno insensatos aqueles que se dedicam a adivinhar; que confundo o espírito dos sábios, e que provo ser loucura a sua vã ciência.” (Cap. XLIV, v. 25.)
“Que esses augúrios que estudam o céu, que contemplam os astros, e que contam os meses para tirar daí as predições que querem dar-vos do futuro, venham agora, e que eles vos salvem. – Eles se tornaram como a palha, o fogo os devorou; não poderão livrar suas almas das chamas ardentes; nem mesmo restará de seu abrasamento carvões com os quais se possa aquecer, nem fogo diante do qual se possa sentar. – Eis o que se tornarão todas essas coisas nas quais vós vos empregáveis com tanto trabalho: esses mercadores que traficaram convosco desde vossa juventude fugirão todos, um para um lado, o outro para o outro, sem que se encontre um único que vos tire de vossos males.” (Cap. XLVII, v. 13, 14, 15.)
Neste capítulo, Isaías dirige-se aos babilônios, sob a figura alegórica da “virgem filha de Babilônia, filha dos caldeus.” (Vers. 1.) Ele diz que os encantadores não impedirão a ruína de sua monarquia. No capítulo seguinte, ele se dirige diretamente aos israelitas.
“Vinde aqui, vós, filhos de uma adivinha, raça de um homem adúltero e de uma mulher prostituída. – De quem troçastes? Contra quem abristes a boca, e lançastes vossas línguas penetrantes? Não sois filhos pérfidos e rebentos bastardos, – vós que procurais vosso consolo em vossos deuses debaixo de todas as árvores carregadas de folhagens, que sacrificais vossas criancinhas nas torrentes sob as rochas proeminentes? – Pusestes vossa confiança nas pedras da torrente; espalhastes licores para venerá-las; ofereceste-lhes sacrifícios. Depois disso, minha indignação não se inflamará?” (Cap. LVII, v. 3, 4, 5, 6.) 
Estas palavras são inequívocas; provam claramente que, naquele tempo, as evocações tinham por finalidade a adivinhação, e que se fazia comércio delas; estavam associadas às práticas da magia e da bruxaria, e mesmo acompanhadas de sacrifícios humanos. Moisés tinha portanto razão de proibir essas coisas, e de dizer que Deus as tinha em abominação. Essas práticas supersticiosas se perpetuaram até a Idade Média; mas hoje a razão lhes fez justiça, e o Espiritismo veio mostrar a finalidade exclusivamente moral, consoladora e religiosa das relações de além-túmulo; uma vez que os espíritas não “sacrificam as criancinhas e não espalham licores para venerar os deuses,” não interrogam nem os astros, nem os mortos, nem os augúrios para conhecer o futuro que Deus sabiamente escondeu aos homens; repudiam todo tráfico da faculdade que alguns receberam de comunicar-se com os Espíritos; não são movidos nem pela curiosidade, nem pela cupidez, mas por um sentimento piedoso e unicamente pelo desejo de se instruir, de se aperfeiçoar e de aliviar as almas sofredoras; a proibição de Moisés não lhes diz respeito de maneira nenhuma; é o que teriam visto aqueles que a invocam contra eles, se tivessem aprofundado melhor o sentido das palavras bíblicas; teriam reconhecido que não existe nenhuma analogia entre o que ocorria entre os hebreus e os princípios do Espiritismo; muito mais: que o Espiritismo condena precisamente o que motivava a proibição de Moisés; mas, cegos pelo desejo de encontrar um argumento contra as ideias novas, eles não se aperceberam de que esse argumento não se sustenta.
A lei civil atual pune todos os abusos que Moisés queria reprimir. Se Moisés pronunciou o supremo suplício contra os delinquentes, é porque precisava de meios rigorosos para governar aquele povo indisciplinado; assim a pena de morte é prodigada em sua legislação; não havia de resto grande escolha em seus meios de repressão; não havia prisões, nem casas de correção no deserto, e seu povo não era de natureza a temer penas puramente disciplinares; ele não podia graduar sua penalidade como se faz em nossos dias. É portanto injustamente que se considera a severidade do castigo para provar o grau de culpa da evocação dos mortos. Seria preciso por respeito à lei de Moisés manter a pena capital para todos os casos em que ele a aplicava? Por que, aliás, se faz reviver com tanta insistência este artigo, ao passo que não se fala do começo do capítulo que proíbe aos padres possuir os bens da terra, e ter parte em qualquer herança, porque o Senhor é ele próprio sua herança? (Deuteronômio, cap. XXVIII, v. 1 e 2.)
5. – Há duas partes distintas na lei de Moisés: a lei de Deus propriamente dita, promulgada no monte Sinai, e a lei civil ou disciplinar apropriada aos costumes e ao caráter do povo; uma é invariável, a outra se modifica de acordo com os tempos, e não pode vir ao pensamento de ninguém que possamos ser governados pelos mesmos meios que os hebreus no deserto, como também os capitulares de Carlos Magno não se poderiam aplicar à França do século dezenove. Quem sonharia, por exemplo, fazer reviver hoje este artigo da lei mosaica: “Se um boi ferir com seu chifre um homem ou uma mulher, e eles morrerem por isso, o boi será lapidado, e não se comerá sua carne; mas o dono do boi será julgado inocente.” (Êxodo, cap. XXI, v. 28 e seg.)
Este artigo que nos parece tão absurdo, não tinha porém por objeto punir o boi e absolver seu dono; ele equivalia simplesmente ao confisco do animal, causa do acidente, para obrigar o proprietário a ser mais vigilante. A perda do boi era a punição do dono, punição que devia ser bastante sensível para um povo pastor, para que não fosse necessário infligir-lhe outra; mas ela não devia beneficiar ninguém, por isso era proibido comer-lhe a carne. Outros artigos estipulam o caso em que o dono é responsável.
Tudo tinha sua razão de ser na legislação de Moisés, pois tudo está aí previsto até nos menores detalhes; mas a forma assim como o fundo eram segundo as circunstâncias em que ele se achava. Decerto, se Moisés voltasse hoje para dar um código a uma nação civilizada da Europa, não lhe daria o dos hebreus.
6. – A isso objeta-se que todas as leis de Moisés são editadas em nome de Deus, assim como a do Sinai. Se todas são julgadas de fonte divina, por que os mandamentos se limitam ao Decálogo? É portanto porque se diferenciaram; se todas emanam de Deus, todas são igualmente obrigatórias; por que não são todas observadas? Por que, além disso, não se conservou a circuncisão que Jesus sofreu e não aboliu? Esquece-se que todos os legisladores antigos, para dar mais autoridade às suas leis, disseram que elas provinham de uma divindade. Moisés tinha mais do qualquer outro necessidade desse apoio, por causa do caráter de seu povo; se, apesar disso, teve tanta dificuldade para se fazer obedecer, teria sido bem pior, se as tivesse promulgado em seu próprio nome.
Não veio Jesus modificar a lei mosaica, e não é sua lei o código dos cristãos? Não disse ele: “Aprendestes que foi dito aos antigos tal e qual coisa, e eu vos digo tal outra coisa?” Mas tocou ele na lei do Sinai? De modo nenhum; ele a sanciona, e toda sua doutrina moral não é senão o desenvolvimento daquela. Ora, ele não fala em nenhum lugar da proibição de evocar os mortos. Era porém uma questão bastante grave, para que ele a tivesse omitido em suas instruções, enquanto tratou de outras mais secundárias.
7. – Em resumo, trata-se de saber se a Igreja põe a lei mosaica acima da lei evangélica, dito de outro modo, se ela é mais judia do que cristã. Deve-se mesmo observar que, de todas as religiões, aquela que menos oposição fez ao Espiritismo é a judia, e que ela não invocou contra as relações com os mortos a lei de Moisés sobre a qual se apoiam as seitas cristãs.
8. – Outra contradição. Se Moisés proibiu evocar os Espíritos dos mortos, é portanto porque esses Espíritos podem vir, de outro modo sua proibição teria sido inútil. Se eles podiam vir no tempo dele, ainda o podem hoje; se são os Espíritos dos mortos, então não são exclusivamente demônios. De resto, Moisés não fala absolutamente destes últimos.
Logo, é evidente que não se poderia logicamente apoiar-se na lei de Moisés nesta circunstância, pelo duplo motivo de que ela não rege o Cristianismo, e não é apropriada aos costumes da nossa época. Mas, supondo-lhe toda a autoridade que alguns lhe concedem, ela não pode, assim como vimos, aplicar-se ao Espiritismo.
Moisés, é verdade, engloba a interrogação dos mortos na sua proibição; mas é apenas de maneira secundária, e como acessório das práticas da magia. A própria palavra interrogar posta ao lado dos adivinhos e dos augúrios prova que, entre os hebreus, as evocações eram um meio de adivinhação; ora, os espíritas não evocam os mortos para obter deles revelações ilícitas, mas para receber sábios conselhos e obter alívio para os que sofrem. Decerto, se os hebreus se tivessem servido das comunicações de além-túmulo unicamente com esse objetivo, longe de proibi-las, Moisés as teria encorajado, porque elas teriam tornado seu povo mais dócil.
9. – Se alguns críticos jocosos ou mal intencionados se deleitaram em apresentar as reuniões espíritas como assembleias de feiticeiros e de necromantes, e os médiuns como adivinhos; se alguns charlatães misturam esse nome a práticas ridículas que ele desaprova, bastante gente conhece perfeitamente o caráter essencialmente moral e grave das reuniões do espiritismo sério; a doutrina escrita para toda gente, protesta suficientemente contra os abusos de todo gênero para que a calúnia recaia sobre quem a merece.
10. – A evocação, diz-se, é uma falta de respeito pelos mortos cuja cinza não se deve perturbar. Quem diz isso? Os adversários de dois campos opostos que se dão as mãos: os incrédulos que não creem nas almas, e aqueles que, crendo, pretendem que elas não podem vir e que unicamente o demônio se apresenta.
Quando a evocação é feita religiosamente e com recolhimento; quando os Espíritos são chamados, não por curiosidade, mas por um sentimento de afeição e de simpatia, e com o desejo sincero de se instruir e de se tornar melhor, não vemos o que haveria de mais desrespeitoso em chamar as pessoas após sua morte do que enquanto vivas. Mas há outra resposta peremptória a esta objeção, é que os Espíritos vêm livremente e não por coerção; que eles vêm mesmo espontaneamente sem ser chamados; que eles testemunham sua satisfação de se comunicar com os homens, e se queixam com frequência do esquecimento em que por vezes são deixados. Se fossem perturbados em sua quietude ou ficassem descontentes com nosso chamado eles o diriam, ou não viriam. Visto que são livres, quando vêm, é que isso lhes convém.
11. – Alega-se outra razão: “As almas, diz-se, permanecem na morada que a justiça de Deus lhes designou, ou seja, no inferno ou no paraíso;” assim aquelas que estão no inferno não podem sair de lá, embora a esse respeito toda liberdade seja deixada aos demônios; aquelas que estão no paraíso estão inteiramente na sua beatitude; estão demasiado acima dos mortais para se ocuparem deles, e demasiado felizes para voltarem a esta terra de miséria se interessar pelos parentes e amigos que aqui deixaram. Elas são, portanto, como esses ricos que afastam a vista dos pobres, de medo que isso lhes perturbe a digestão? Se assim fosse, elas seriam pouco dignas da felicidade suprema, que nesse caso seria o prêmio do egoísmo. Restam aquelas que estão no purgatório; mas essas são sofredoras e têm de pensar em sua salvação antes de tudo; portanto, não podendo vir nem umas nem outras, unicamente o diabo vem em lugar delas. Se elas não podem vir, não se deve temer perturbar-lhes o repouso.
12. – Mas aqui se apresenta outra dificuldade. Se as almas que estão na beatitude não podem deixar sua morada afortunada para vir em socorro dos mortais, por que a Igreja invoca a assistência dos santos, que devem gozar da maior soma possível de beatitude? Por que diz ela aos fiéis para invocá-los nas doenças, aflições, e para se preservar dos flagelos? Por que, segundo ela, os santos, a própria Virgem, vêm mostrar-se aos homens e fazer milagres? Portanto, eles deixam o céu para vir à terra. Se aqueles que estão no mais alto dos céus podem deixá-lo, por que os que são menos elevados não o poderiam?
13. – Que os incrédulos neguem a manifestação das almas, isso se concebe visto que não creem na alma; mas o que é estranho é ver aqueles cujas crenças repousam sobre sua existência e seu futuro, se encarniçarem contra os meios de provar que ela existe, e esforçarem-se por demonstrar que isso é impossível. Pareceria natural, ao contrário, que aqueles que mais têm interesse na sua existência devessem acolher com alegria, e como um benefício da Providência, os meios de confundir os negadores por provas irrefutáveis, visto que são os negadores da religião. Eles deploram sem cessar a invasão da incredulidade que dizima o rebanho dos fiéis, e quando o meio mais poderoso de combatê-la se apresenta, eles o repelem com mais obstinação do que os próprios incrédulos. Depois, quando as provas transbordam a ponto de não deixar nenhuma dúvida, recorre-se, como argumento supremo, à proibição de se ocupar disso, e para justificá-la vai-se buscar um artigo da lei de Moisés, com que ninguém nem sonhava, e onde se quer ver, por toda força, uma aplicação que não existe. Fica-se tão contente com esta descoberta que não se percebe que esse artigo é uma justificação da doutrina espírita.
14. – Todos os motivos alegados contra as relações com os Espíritos não podem resistir a um exame sério; da obstinação posta nisso, no entanto, pode-se inferir que a essa questão se vincula um grande interesse, sem isso não haveria tanta insistência. A ver essa cruzada de todos os cultos contra as manifestações, dir-se-ia que eles as temem. O verdadeiro motivo poderia bem ser o temor de que os Espíritos, muito clarividentes, viessem esclarecer os homens sobre os pontos que se faz questão de deixar na sombra, e fazer-lhes conhecer exatamente o que ocorre no outro mundo e as verdadeiras condições para ser ali feliz ou infeliz. É por isso que, assim como se diz a uma criança: “Não vás lá, há um lobisomem;” diz-se aos homens: “Não chameis os Espíritos, é o diabo.” Mas por mais que se faça, se proibirem os homens de chamar os Espíritos, não impedirão os Espíritos de vir aos homens tirar a lâmpada de sob o alqueire.
O culto que estiver na verdade absoluta não terá nada a temer da luz, pois a luz fará sobressair a verdade, e o demônio não poderia prevalecer contra a verdade.
15. – Repelir as comunicações de além-túmulo é rejeitar o poderoso meio de instrução que resulta para si mesmo da iniciação à vida futura, e dos exemplos que elas nos fornecem. Ensinando-nos a experiência, além disso, o bem que se pode fazer afastando do mal os Espíritos imperfeitos, ajudando os que sofrem a se libertar da matéria e a se melhorar, proibi-las é privar almas infelizes da assistência que lhes podemos dar. As seguintes palavras de um Espírito resumem admiravelmente as consequências da evocação praticada com um objetivo caridoso:
“Cada Espírito sofredor e queixoso vos contará a causa de sua queda, os arrastamentos a que sucumbiu; ele vos falará de suas esperanças, seus combates, seus terrores; ele vos contará seus remorsos, suas dores, seus desesperos; ele vos mostrará Deus, justamente irritado, punindo o culpado com toda a severidade de sua justiça.
Escutando-o, ficareis tomados de compaixão por ele e de temor por vós mesmos; seguindo-o em suas queixas, vereis Deus não o perdendo de vista, aguardando o pecador arrependido, estendendo-lhe os braços tão logo ele tente avançar. Vereis os progressos do culpado, para os quais tereis a felicidade e a glória de ter contribuído; vós os acompanhareis com solicitude, como o cirurgião acompanha os progressos do ferimento que ele trata diariamente.” (Bordeaux, 1861.) 

Crédito: IPEAK

sábado, 1 de fevereiro de 2014

EADE: Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita-Livro:1 Módulo:2 'O Cristianismo" Roteiro 23:A IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA E ORTODOXA

MÓDULO II - O CRISTIANISMO
• Retirando-se para Salona, exausto da tarefa governista, ocorre a rebelião militar
que aclama Augusto a Constantino [...]. Junto dele, o Cristianismo ascende à
tarefa do Estado, com o edito de Milão. Emmanuel: A caminho da luz. Cap. 15,
item: Constantino.
• Mas, por volta do ano 381, surge a figura de Teodósio, que declara o Cristianismo
religião oficial do Estado, decretando, simultaneamente, a extinção dos
derradeiros traços do politeísmo romano. Emmanuel: A caminho da luz. Cap.
16, item: Vitórias do Cristianismo.
• A Igreja católica [...], deturpando nos seus objetivos as lições do Evangelho,
se tornou uma organização política em que preponderaram as características
essencialmente mundanas. Emmanuel: Emmanuel. Cap. 3.
• A Igreja Ortodoxa, uma das três grandes divisões do Cristianismo, [...] também
denominada Igreja do Oriente (ou Igreja Ortodoxa do Oriente), designa o grupo
de igrejas que se consideram depositárias da doutrina e do ritual dos padres
apostólicos [guardiões da moral cristã]. Enciclopédia mirador, vol. 11, p.
5969.
IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA E ORTODOXA

Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
1. Igreja Católica Apostólica Romana
Os Anais de Tacitus nos informam que na noite de 18 para 19 de julho do
ano de 64, três quartos da cidade de Roma foram devastados por um incêndio
que só seria dominado seis dias depois. Acusado da autoria do incêndio, o
imperador Nero não só nega como responsabiliza os cristãos pelo atentado.
Assim, na noite de 15 de agosto de 64, vários cristãos são punidos no circo
de Nero — situado no local onde hoje se ergue a basílica de São Pedro —,
reduzidos a tochas vivas que serviram de iluminação à realização dos jogos e
das diversões que se seguiram ao suplício.
A partir desse acontecimento, as perseguições se tornaram corriqueiras
por mais de dois séculos consecutivos, nos governos de Domiciano (81-96) a
Diocleciano (184-302). A despeito dos suplícios e toda a sorte de infelici-dades,
o número de cristãos aumentava, dia após dia, ao longo dos anos. Em meados
do século III, mais de um funcionário do Império é convertido ao Cristianismo.
“Nós enchemos os campos, as cidades, o Fórum, o Senado, o Palácio”, escrevia
o orgulhoso Tertuliano.
É importante considerar que nessa época começou a surgir a palavra
católico associada aos cristãos. O cognitivo católica (ou católico), significando
universal, foi incorporado às ações e aos escritos das igrejas do Ocidente
(romana) e do Oriente (ortodoxa).
O termo “católico’’ foi utilizado antes da era cristã por alguns escritores (Aristóteles,
Zanão, Políbio), com o sentido de universal, oposto a particular. Não aparece na Bíblia
nem no Antigo nem no Novo testamento, embora nela se encontre, como conceito
fundamental, a idéia de universalidade da salvação [...]. Aplicado à Igreja [romana e
ortodoxa], o termo aparece, pela primeira vez, por volta do ano 105 d.C., na carta de
Inácio, bispo de Antioquia, aos erminenses. 6
Os escritores cristãos posteriores passaram a empregar o substantivo
catholica como sinônimo de igreja cristã, associando a essa palavra as idéias
de universalidade geográfica e de unidade de fé. Entretanto, somente com o
concílio ecumênico de Constantinopla (no ano 381) foi, oficialmente, aplicada
às igrejas romana e ortodoxa a designação “católica”. Este qualificativo, considerado
como artigo de fé, assim deve ser entendido e aceito pelos fiéis: Creio
na una, santa, católica e apostólica Igreja. Com a reforma protestante, e pela
determinação do concílio de Trento (em 1571), restringiu-se o significado à
expressão “católica’’, que passou a designar, especialmente, a igreja de Roma.
À denominação “igreja católica’’ acrescentou-se a palavra “romana’’. 6
As primeiras raízes do catolicismo surgem, provavelmente, no governo
do imperador Valeriano (253-260) que promoveu impiedoso ataque contra as
comunidades cristãs, buscando atingir, em especial, os seus líderes religiosos
— bispos, padres e diáconos —, com o propósito de eliminar a fé cristã do
império.
A doutrina cristã, todavia, encontrara nas perseguições os seus melhores recursos de
propaganda e de expansão. Seus princípios generosos encontravam guarida em todos
os corações, seduzindo a consciência de todos os estudiosos de alma livre e sincera.
Observa-se-lhe a influência no segundo século, em quase todos os departamentos da
atividade intelectual, com largos reflexos na legislação e nos costumes. Tertuliano apresenta
a sua apologia do Cristianismo, provocando admiração e respeito gerais. Clemente
de Alexandria e Orígenes surgem com a sua palavra autorizada, defendendo a filosofia
cristã, e com eles levanta-se um verdadeiro exército de vozes que advogam a causa da
verdade e da justiça, da redenção e do amor. 12
O trauma resultante das perseguições impeliu os cristãos a desenvolverem
estratégias que, de certa forma, pudessem neutralizar os constantes ataques de
que eram vítimas. Delineia-se, então, a partir desse período, uma organização
institucional que será conhecida como a monarquia papal. Importa considerar
que a organização da Igreja Católica nos conduz, necessariamente, à organização
da igreja cristã primitiva, em Roma, que, por sua vez, reflete a estrutura
organizacional das sinagogas. Originalmente, a igreja cristã consistia de uma
constelação de igrejas independentes cujos adeptos se «[...] reuniam nas casas
dos membros abastados da comunidade. Cada uma dessas casas contava com
seus próprios líderes, os anciãos ou “presbíteros”. 3
Os membros da igreja eram, na maioria, imigrantes, escravos e pessoas
livres. Essa diversidade cultural favorecia a existência de uma malha de rituais e
de doutrinas confusas e conflitantes, ortodoxas e heréticas (pagãs). Diante desse
panorama – perseguições de um lado, conflitos doutrinários de outro –, foi
natural a aceitação, pelos cristãos de Roma, do “episcopado monárquico”.
Esse episcopado, que antecede a monarquia papal, determinou que a
direção da igreja romana caberia a um bispo, sistema oposto ao existente de
administração da igreja por um colégio de anciãos, comuns nas demais igrejas
cristãs do Império. A administração por parte dos anciãos estava fundamentada
nos preceitos da assembléia (ecklesia), herdados das tradições judaicas. 4
2. O Cristianismo como religião do Estado
No século III, o império Romano estava dilacerado pela guerra civil, pela
epidemia da peste e pela vertiginosa sucessão de imperadores, todos apoiados
num exército esgotado pelos ataques inimigos. A instabilidade política
chegou ao extremo de, em quarenta e sete anos, elevar ao poder vinte e cinco
imperadores.
As forças espirituais que acompanham todos os movimentos do orbe, sob a égide de
Jesus, procuram dispor os alicerces de novos acontecimentos, que devem preparar a
sociedade romana para resgates e para a provação. A invasão dos povos considerados
bárbaros é então entrevista. Uma forte anarquia militar dificulta a solução dos problemas
de ordem coletiva, elevando e abatendo imperadores de um dia para outro. Sentindo a
aproximação de grandes sucessos e antevendo a impossibilidade de manter a unidade
imperial, Diocleciano organiza a Tetrarquia, ou governo de quatro soberanos, com quatro
grandes capitais. Retirando-se para Salona, exausto da tarefa governativa, ocorre a
rebelião militar que aclama Augusto a Constantino [285-337], filho de Constâncio Cloro,
contrariando as disposições dos dois Césares, sucessores de Diocleciano e Maximiano.
A luta se estabelece e Constantino vence Maxêncio às portas de Roma, penetrando a
cidade, vitorioso, para ser recebido em triunfo. Junto dele, o Cristianismo ascende à
tarefa do Estado, com o edito de Milão. 13
A história registra que Constantino foi proclamado imperador na Bretanha,
em 306, enquanto Maxêncio conspirava em Roma. Constantino prosseguiu
com suas campanhas na Gália e entrou em Roma com seu exército em
312, derrotando Maxêncio às margens do rio Tibre. Em 324 fez-se imperador
do Ocidente e do Oriente. Em 330 converteu a cidade grega de Bizâncio em
capital do império, com o nome de Constantinopla (em 1453, sob o domínio
turco, foi rebatizada de Istambul).
Embora não fosse cristão, pois só foi batizado em seu leito de morte, Constantino declarava-
se protetor da Igreja. O Cristianismo foi declarado religião oficial do império.
O Concílio de Nicéia (o primeiro concílio ecumênico) foi convocado pelo imperador e
realizou-se, em 325, numa sala do palácio imperial de veraneio. As conclusões do concílio,
compendiadas no símbolo de fé, foram promulgadas como lei do império. 15
Transformar o Cristianismo em religião foi um ato político do imperador,
amparado por suas percepções psíquicas.
O imperador Constantino era pessoalmente dotado de faculdades mediúnicas e sujeito
à influência dos Espíritos. Os principais sucessos de sua vida [...] assinalam-se por intervenções
ocultas. [...] Quando planejava apoderar-se de Roma, um impulso interior
o induziu a se recomendar a algum poder sobrenatural e invocar a proteção divina,
com apoio das forças humanas. [...] Caiu, então, em absorta meditação das vicissitudes
políticas de que fora testemunha. Reconhece que depositar confiança na “multidão dos
deuses’’ traz infelicidade, ao passo que seu pai Constâncio, secreto adorador do Deus
único, terminara seus dias em paz. Constantino decidiu-se a suplicar ao Deus de seu pai
que prestasse mão forte à sua empresa. A resposta a essa prece foi uma visão maravilhosa,
que ele próprio referia, muitos anos depois, ao historiador Eusébio, afirmando-a
sob juramento e com as seguintes particularidades: “Uma tarde, marchando à frente das
tropas, divisou no céu, acima do sol que já declinava para o ocaso, uma cruz luminosa
com esta inscrição: “Com este sinal vencerás’’. Todo o exército e muitos espectadores, que
o rodeavam viram com ele, estupefatos, esse prodígio. Logo foram chamados ourives e
o imperador lhes deu instruções para que a cruz misteriosa fosse reproduzida em ouro
e pedras preciosas. 2
Foi assim que Constantino, em seu caminho de realizações, consegue
proteger o Cristianismo e os cristãos das perseguições.
Consegue [...] levar a efeito a nova organização administrativa do Império, começada no
governo de Dioclesiano, dividindo-o em quatro Prefeituras, que foram as do Oriente,
da Ilíria, da Itália e das Gálias, que, por sua vez, eram divididas em dioceses dirigidas
respectivamente por prefeitos e vigários. [...] Findo o reinado de Constantino, aparecem
os seus filhos, que lhe não seguem as tradições. [...] Mas, por volta do ano 381, surge a
figura de Teodósio, que declara o Cristianismo religião oficial do Estado, decretando,
simultaneamente, a extinção dos derradeiros traços do politeísmo romano. É então
que todos os povos reconhecem a grande força moral da doutrina do Crucificado, pelo
advento da qual milhares de homens haviam dado a própria vida no campo do martírio
e do sacrifício. 16
3. A monarquia papal
Durante o governo de Constantino os bispos de Roma alcançaram um
prestigio jamais imaginado.
Eles [...] se tornaram celebridades comparáveis aos mais prestigiados senadores da cidade.
Era de se esperar que os bispos de todo o mundo romano assumissem, agora, o papel de
juízes, governadores, enfim, de grandes servidores do Estado. [...] No caso do bispo de
Roma, tais funções se tornavam ainda mais complexas, pois se tratava de liderar a Igreja
numa capital pagã que era o centro simbólico do mundo, o foco do próprio sentido de
identidade do povo romano. Constantino lavou as mãos com relação a Roma, em 324,
e tratou de criar uma capital no Leste. Caberia aos papas criar uma Roma cristã. Eles
deram início a tal empreendimento construindo igrejas, transformando os modestos
tituli (centros eclesiásticos comunitários) em algo mais grandioso e criando edifícios
novos e mais públicos, se bem que a princípio em nada rivalizassem com as grandes
basílicas imperiais de Latrão e de São Pedro [esta mandada construir por Constantino].
Nos cem anos seguintes, as igrejas se espalharam pela cidade [...]. 5
Emmanuel, na obra A caminho da luz, nos esclarece o seguinte:
A [...] indigência dos homens não compreendeu a dádiva do plano espiritual, porque,
logo depois da vitória, os bispos romanos solicitavam prerrogativas injustas sobre os
seus humildes companheiros de episcopado. O mesmo espírito de ambição e de imperialismo,
que de longo tempo trabalhava o organismo Império, dominou igualmente a
igreja de Roma, que se arvorou em suserana e censora de todas as demais do planeta.
Cooperando com o Estado, faz sentir a força das suas determinações arbitrárias. Trezentos
anos lutaram os mensageiros do Cristo, procurando ampará-la no caminho do
amor e da humildade, até que a deixaram enveredar pelas estradas da sombra, para
o esforço de salvação e experiência, e, tão logo a abandonaram ao penoso trabalho de
aperfeiçoar-se a si mesma, eis que o imperador Focas favorece a criação do Papado, no
ano 607. A decisão imperial faculta aos bispos de Roma prerrogativas e direitos até então
jamais justificados. Entronizam-se, mais uma vez, o orgulho e a ambição da cidade dos
Césares. Em 610, Focas [imperador romano que viveu entre 602 e 610] é chamado ao
mundo dos invisíveis, deixando no orbe a consolidação do Papado. 15
4. A tradução da Bíblia para o latim
Aproveitando-se das costumeiras disputas políticas existentes entre as
igrejas do Ocidente e as do Oriente, e desejoso de estabelecer a hegemonia do
Cristianismo, segundo as orientações da igreja de Roma, o papa Dâmaso deter345
mina ao seu secretário que traduza para o latim a Bíblia, pois, no seu entender,
‘’era necessário que a Igreja do Ocidente se tornasse latina’’.
O secretário de Dâmaso era Eusebius Hieronymus Sophronius, embora
fosse mais conhecido na igreja por Jerônimo. Ele foi treinado nos clássicos
em latim e grego e repreendia severamente a si mesmo por sua paixão pelos
autores seculares. Jerônimo já havia se tornado um dos maiores estudiosos na
época em que começou a trabalhar para Dâmaso. Desse modo, Dâmaso sugeriu
que seu secretário produzisse uma tradução latina da Bíblia, que eliminasse as
imprecisões das traduções mais antigas. 5
Em 382 Jerônimo inicia a sua obra, terminando a tradução em 405, não
sendo esta, porém, a única.
Durante aqueles 23 anos, ele também produziu comentários e outros escritos. [...] Jerônimo
começou sua tradução trabalhando a partir da Septuaginta, versão grega do Antigo
Testamento. Porém, logo estabeleceu um precedente para todos os bons tradutores do
Antigo Testamento: passou a trabalhar a partir dos originais em hebraico. Jerônimo
consultou muitos rabinos e procurava com isso atingir um alto grau de perfeição. Jerônimo
ficou surpreso com o fato de as Escrituras hebraicas não incluírem os livros que
chamamos hoje apócrifos. Por terem sido incluídos na Septuaginta, Jerônimo foi compelido
a incluí-los também em sua tradução, mas deixou sua opinião bastante clara: eles
eram liber ecclesiastici (livros da igreja), e não liber canonici (livros canônicos). Embora
os canônicos pudessem ser usados para a edificação, não poderiam ser utilizados para
estabelecer doutrina alguma [...]. 1
A biblioteca divina, termo pelo qual Jerônimo se referia à Bíblia, foi finalmente disponibilizada
em uma versão precisa e muito bem escrita, na linguagem usada comumente
nas igrejas do Ocidente. Ficou conhecida por Vulgata (do latim vulgus, comum). [...]
Ironicamente, a tradução da Bíblia no idioma que toda a igreja ocidental pudesse usar,
provavelmente, fez com que a igreja tivesse um culto de adoração e uma Bíblia que nenhum
leigo podia entender [...]. 15
5. As cruzadas
As Cruzadas, tradicionalmente, são conhecidas como expedições de caráter
militar, mas que foram organizadas pela Igreja, com o objetivo de combaterem
os inimigos do Cristianismo. Esse movimento teve início no final do século XI
e se estendeu até meados do século XIII. Os Espíritos superiores relatam que
esse processo começou, na verdade, em séculos anteriores onde a vaidade e o
orgulho contaminaram os responsáveis pelo catolicismo.
Em todo o século VI, de acordo com as deliberações efetuadas no plano invisível, aparecem
grandes vultos de sabedoria, contratando a vaidade orgulhosa dos bispos católicos,
que em vez de herdarem os tesouros da humildade e amor do Crucificado, reclamam
para si a vida suntuosa, as honrarias e prerrogativas dos imperadores. Os chefes eclesiásticos,
guindados à mais alta preponderância política, não se lembravam da pobreza
e da simplicidade apostólica, nem das palavras do Messias, que afirmara não ser o seu
reino ainda deste mundo. 18
O movimento cristão passa então a contar com uma série de modificações,
fundamentadas nas interpretações pessoais dos padres que procuravam adequar
a religião cristã aos seus interesses.
O Cristianismo [...] não aparecia com aquela mesma humildade de outros tempos. Suas
cruzes e cálices deixavam entrever a cooperação do ouro e das pedrarias, mal lembrando
a madeira tosca, da época gloriosa das virtudes apostólicas. Seus concílios, como os de
Nicéia, Constantinopla, Éfeso e Calcedônia, não eram assembléias que imitassem as
reuniões plácidas e humildes da Galiléia. A união com o Estado era motivo para grandes
espetáculos de riqueza e de vaidade orgulhosa, em contraposição com os ensinos
dAquele que não possuía uma pedra para repousar a cabeça dolorida. As autoridades
eclesiásticas compreendem que é preciso fanatizar o povo, impondo-lhe suas idéias e
suas concepções, e, longe de educarem a alma das massas na sublime lição do Nazareno,
entram em acordo com a sua preferência pelas solenidades exteriores, pelo culto fácil
do mundo externo, tão do gosto dos antigos romanos pouco inclinados às indagações
transcendentes. 17
Dessa forma, com a expansão muçulmana, entre 622-1089, iniciam-se
as cruzadas, guerra religiosa estabelecida para combater, inicialmente, os seguidores
do Islã, mas que atingiu todos os povos não-cristãos, cognominados
infiéis. As cruzadas foram em número de oito.
A primeira, decidida no concílio de Clemont, sob a direção do papa Urano
II, em abril de 1096, foi comandada por Pedro, o Eremita, e Gautier Sans
Avoir, produzindo o massacre dos judeus na Renânia. A segunda, realizada em
14 de dezembro de 1145, por ordem do papa Eugénio III, é coordenada pelo
rei da França Luis VII e pelo imperador alemão Conrado III. Surge a figura
muçulmana de Saladino, que muito trabalho deu aos cruzados. A terceira cruzada
foi organizada em 1188, por Frederico Barba-Roxa, imperador alemão,
Filipe Augusto, rei de França, e Ricardo Coração de Leão, rei da Inglaterra, a
pedido do papa Gregório VIII. A quarta cruzada, proclamada em 1198 pelo
papa Inocêncio III, é dirigida por Bonifácio I de Montferrat e Balduíno IX de
Flandres. A quinta cruzada inicia-se em 1215, após apelo do papa Inocêncio III,
no quarto concílio de Latrão. Foi dirigida por João de Brienne, rei de Jerusalém
e André II, rei da Hungria. A sexta cruzada, sob o domínio do papa Gregório
IX, começa em novembro de 1225, tendo como comandante o imperador
Frederico II, de Hohenstaufen. A sétima cruzada é decidida no concílio de
Lyon, em 1248, e tem o comando do rei francês Luís IX (São Luis). A última
cruzada, iniciada em março de 1270 , também é comandada por Luís IX, mas
o exército cruzado, em três meses, é arrasado pela peste, e o que sobrou, foi
dizimado por uma tempestade. 19
A igreja de Roma, [...] herdando os costumes romanos e suas disposições multisseculares,
procurou um acordo com as doutrinas consideradas pagãs, pela posteridade, modificando
as tradições puramente cristãs, adaptando textos, improvisando novidades injustificáveis
e organizando, finalmente, o Catolicismo sobre os escombros da doutrina deturpada. [...]
É assim que aparecem novos dogmas, novas modalidades doutrinárias, o culto dos ídolos
nas igrejas, as espetaculosas festas do culto externo, copiados quase todos os costumes
da Roma anticristã. 15
6. Igreja Católica Apostólica Ortodoxa
Nos começos do Cristianismo havia cinco Patriarcas. Cada um deles era o cabeça de
um centro de expansão da nova fé, e cada um deles tinha como função expandir o cristianismo
numa certa direção geográfica. Primeiro o Patriarca de Jerusalém, no Centro,
onde Jesus morreu e ressuscitou. Ao norte, o Patriarca de Constantinopla. Ao sul, o
Patriarca de Alexandria, no Egito. Ao Oriente, o Patriarca de Antioquia. E a Ocidente,
o Patriarca de Roma. 20
O Patriarca de Roma, nos séculos posteriores, passou a ser chamado de
Papa. A Igreja Ortodoxa, uma das três grandes divisões do Cristianismo, «[...]
também denominada Igreja do Oriente (ou Igreja Ortodoxa do Oriente), designa
o grupo de igrejas que se consideram depositárias da doutrina e do ritual
dos padres apostólicos [guardiões da moral cristã].» 9 Foram eles: Clemente de
Roma, Inácio de Antioquia, Policarpo de Esmirna, Hermes de Roma e Barnabé
de Alexandria.
Representando a fé histórica da cristandade oriental a Igreja Ortodoxa é mais limitativa
do que as Igrejas orientais, não somente por excluir os cristãos orientais que se reuniram
à Igreja Católica Apostólica Romana uniatas, como também por não compreender as
Igrejas que se separaram no século V por motivos doutrinários (nestorianismo, monofisismo).
Oficialmente chamada Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, ou Igreja grega, em
oposição à Igreja latina, católica e romana. A Igreja Ortodoxa abrange os grupos que
se originaram do grande cisma de 1054 e que dependem historicamente de Bizâncio
(Constantinopla). 9
As igrejas orientais se subdividem, por sua vez, em três grupos: a Ortodoxa
do Oriente, as igrejas nestorianas e as dos monofisistas. As igrejas orientais,
embora se aglutinem em torno da igreja Romana, apresentam diferenças quanto
aos ritos e às normas disciplinares.
As igrejas orientais nestorianas têm como base as interpretações de Nestor
(ou Nestório), patriarca de Constantinopla no ano de 428. Nestor afirmava
que em Jesus havia dois “Eu” ou duas pessoas: uma divina, com a sua natureza
divina, e outra, humana, com a sua natureza humana.
Ele rejeitava a utilização do termo Theotokos, uma palavra muito usada para referir-se
a Maria e que significa literalmente Mãe de Deus. Nestor se opôs ao termo não porque
exaltasse a pessoa da Virgem Maria, mas porque abordava a divindade de Cristo de tal
maneira que poderia ofuscar sua natureza humana. Para solucionar o problema Nestor
sugeriu um novo termo – Cristotokos (Mãe de Cristo), querendo com isso afirmar que
Maria não era progenitora da divindade mas apenas da humanidade de Cristo. A discussão
promoveu intrigas e manobras políticas que terminaram na convocação do terceiro
concílio ecumênico, que ocorreu em Éfeso no dia 7 de junho de 431. A polemica ficou
mais uma vez em torno dos alexandrinos e antiocanos, estes apoiavam Nestor enquanto
os primeiros se opuseram fortemente. O concílio terminou em 433 com parecer favorável
a Alexandria, quando o patriarca de Constantinopla foi exilado e posteriormente
transferido para um oásis no deserto do Líbano onde ficou até o fim de sua vida. O
termo Theotokos, designado a Virgem Maria, se tornou dogma da igreja, como sinal de
ortodoxia, tanto para a igreja do oriente quanto à do ocidente. 21
Os monofisistas representavam uma corrente — ainda relativamente
numerosa nos dias atuais — de teólogos cristãos, dirigida por Dióscoro de
Alexandria, que propôs (século quinto) uma doutrina contrária à de Nestor:
que em Jesus haveria um só Eu divino e uma só natureza divina. A sua tese foi
rejeitada, em 451, pelo Concílio de Calcedônia, que decretou: em Jesus há uma
só Pessoa Divina, ou um só Eu, mas duas naturezas (a divina e a humana). 22
Historicamente, essas igrejas têm origem nas comunidades cristãs de Antioquia,
Alexandria, Corinto e Tessalônica. A cisão, ocorrida definitivamente
no século XI, se deu pelo fato de os cristãos orientais não aceitarem a supremacia
dos bispos de Roma, quando a sede do Império romano foi transferida
para Constantinopla, no ano 330. As divergências se acentuam doutrinária
e politicamente, sobretudo nos séculos V e VI. Após o segundo concílio de
Nicéia (em 787), os orientais não aceitam mais o ecumenismo dos concílios, o
celibato dos padres nem a santíssima trindade. 10
A hierarquia sacerdotal é composta de diáconos, padres, bispos, arcebispos,
metropolitas e patriarcas. O celibato é obrigatório apenas para os bispos, não
para os padres, embora o casamento deva ocorrer antes da ordenação. A Igreja
Ortodoxa tem claustros e monges. Costuma ser chamada de Igreja da Ressurreição,
porque dá ênfase à ressurreição do Cristo, em suas prédicas. Tem sete
sacramentos e acredita no Dia do Juízo Final. Os serviços religiosos atraem a
curiosidades popular pela beleza que oferecem. As igrejas são construídas como
o Templo de Salomão, em Jerusalém: há um vestíbulo com a pia batismal; a
nave, onde a congregação permanece durante o ofício religioso; o santuário,
oculto atrás de um biombo, e que corresponde ao «Santo dos santos» do templo
judaico. Apenas o padre tem permissão de entrar no santuário. Durante o serviço
religioso a congregação pode ver, a distância, o santuário. O biombo que
oculta o santuário se chama iconostas (parede de imagens), porque é coberto
de pinturas religiosas, ou ícones, típicos da Igreja Ortodoxa. 11
350
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
1. CURTIS. A. Kenneth, J. Stephen Lang, Randy Petersen. Os 100 acontecimentos
mais Importantes da história do cristianismo. Tradução de Emirson
Justino. 1 ed. São Paulo: Editora Vida, 2003. Ano 405, p. 51-52.
2. DENIS, Léon. Cristianismo e espiritismo. Tradução de Leopoldo Cirne. 12.
ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Cap. 5 (Relação com os espíritos dos mortos),
p. 63-64.
3. DUFY, Eamon. Santos e pecadores; história dos papas. Tradução de Luiz
Antônio Araújo.São Paulo: Cosac e Naify, 1998. Cap. 1 (Sobre esta pedra),
item 1: de Jerusalém a Roma, p.6.
4. _______. Item 2: Os bispos de Roma, p.9.
5. _______. Item 4: O nascimento da Roma papal, p. 28-29.
6. ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. São Paulo, 1995. Vol.
5. Itens 1 e 2, p. 2176.
8. ______. Item 11, p. 2178.
9.______. Vol. 11, p 5969.
10.______. p. 5969-5970.
11. HELLEN, V., NOTAKER, H. E GAARDER,J. O livro das religiões. Tradução
de Isa Mara Lando. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, item:a igreja
ortodoxa, p.191-194.
12. XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel.
34. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 15 (A evolução do Cristianismo),
item: Os apologistas, p. 135-136.
13. ______. Item: Constantino, p. 137.
14. ______. Item: o papado, p.138.
15. ______. Cap. 16 (A Igreja e a invasão dos bárbaros), item: vitórias do
Cristianismo, p. 139-140.
16. ______. item: Primórdios do catolicismo, p. 140-141.
17 . ______. Item: A igreja de Roma p.141-142.
18. ______. cap. 17 (A idade medieval), item: Os mensageiros de Jesus, p.
147
19. http://www.arqnet.pt/portal/universal/cruzadas/
20. http://www.eduquenet.net/ritoscristianismo.htm
21. http://pt.wikipedia.org/wiki/Nest%C3%B3rio
22. 18 http://www.veritatis.com.br/artigo.asp?pubid=1670
REFERÊNCIAS