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sábado, 8 de setembro de 2012

Dois conceitos de honestidade


Autor: Deolindo Amorim – Artigo publicado no jornal “Unificação” – Ano XIII – Janeiro de 1966 – Número 154.

Comemorou-se há pouco, em diversas sociedades espíritas, o centenário de mais uma obra da Codificação de Allan Kardec: “O Céu e o Inferno”, publicada em 1865, na França. É um livro pouco lido e, por isso, pouco citado no próprio meio espírita. Há, nele, entretanto, muita matéria doutrinária para estudo e meditação. Quem tiver ocasião de ler, ou reler, por exemplo, certas comunicações de espíritos desencarnados, verá que “O Céu e o Inferno” é um livro de grande utilidade, também neste ponto, justamente porque nos faz muitas advertências oportuníssimas para a vida cotidiana. São espíritos que viveram neste mundo, sofreram, cometeram os seus deslizes e, depois, vieram trazer o resultado de suas experiências, através do elemento mediúnico.

Uma das comunicações que me parecem mais significativas e mais sérias pelo seu conteúdo moral é a do espírito de José Bré, desencarnado em 1840 e evocado por sua neta, em Bordéus, no ano de 1862. Esse espírito, ao chegar à vida espiritual, teve certa surpresa, sofreu pouco, exatamente porque, na Terra, era tido por muito honesto, mas verificou, naturalmente decepcionado consigo mesmo, que o conceito de honestidade, no mundo espiritual, nem sempre coincide com o que se pensa entre nós. É uma advertência grave e sempre atual, não há dúvida. O fato de um indivíduo ser um modelo de honestidade perante os homens, segundo os padrões e as convenções terrenas, não quer dizer, em todos os casos, que esse indivíduo já esteja completamente quite com a Justiça Divina. Foi o que se deu com o espírito de José Bré, quando se viu, depois, diante de problemas de consciência, problemas que a sociedade humana desconhecia, mas que apareceram, em toda a plenitude, quando o espírito enfrentou a dura realidade do “além-túmulo”, como se costuma dizer.
Sua neta, assim que começou o diálogo com o espírito do avô, estranhou que ele estivesse sofrendo e lhe fez a seguinte pergunta: “Não vivestes sempre honestamente?” O espírito dissera, momentos antes, que estava lamentando o fato de “não ter melhor aproveitado o tempo aí na Terra”. Tal declaração causou espanto à neta de Bré, pois todos os seus conhecidos consideravam o morto um homem irrepreensível, um homem exemplar em tudo por tudo. Esperava-se, portanto, que viesse dizer, do “outro lado da vida”, que estava muito bem, estava feliz. Mas o espírito respondeu de um modo franco, dizendo a coisa como realmente deve ser dita: há um abismo entre a honestidade perante os homens e a honestidade perante Deus. É uma verdade dura, mas precisa ser repetida aos quatro ventos, porque muita gente não pensa nisto, está iludida com os aplausos humanos. Convém reproduzir as palavras do espírito, pelo menos em parte.

Não basta, para ser honesto perante Deus, ter respeitado as leis dos homens; é preciso, antes de tudo, não haver transgredido as leis divinas. Honesto aos olhos de Deus será aquele, que possuído de abnegação e amor, consagre a existência ao bem, ao progresso de seus semelhantes. Assim, o homem honesto, perante Deus, deve evitar cuidadoso as palavras mordazes, veneno oculto sob flores, que destrói reputações e acabrunha o homem, muitas vezes cobrindo-o de ridículo.

Bela e profunda lição!
O conceito de honestidade, segundo os costumes terrenos, vê a criatura humana apenas pelo lado exterior. Então, é honesto, para o mundo, todo aquele que está em dia com as suas contas, cumpre os seus deveres sociais, mantém a família, educa os filhos, paga impostos, etc., etc... Tudo isto, porém, são obrigações comezinhas. Ninguém pense que, pelo fato de cumprir todos os seus deveres humanos, que são deveres meramente rotineiros ou naturais, estão isento de prestar contas à consciência. É aí, precisamente, que está o conflito entre aquilo que se entende por honestidade, perante o mundo, e o que vem a ser a honestidade prevista nas Leis Divinas. São dois conceitos muito diferentes. O indivíduo pode ser muito bom cidadão, porque respeita as leis do Estado, atende a todas as exigências da sociedade em que vive, apresentando-se como exemplo de virtudes em sua vida exterior e, no entanto, não ser honesto em suas intenções, porque pensa mal, articula intriga e maldade, fere a reputação alheia, espalha insinuações infamantes, embora disfarçadas com palavras doces, aparentemente inocentes. Tudo isto compromete a consciência perante o julgamento divino. Mas o mundo não vê, nem pode ver os pensamentos ocultos, porque são inerentes à vida interior, que é um segredo indevassável. Enquanto isso, o indivíduo vai passando como honesto ou virtuoso, podendo, até, ser glorificado como santo aos olhos dos homens. Quando chega a hora da partida, quando se descerra o véu dos artifícios humanos, vem o julgamento da consciência, que é o nosso juiz implacável. Então, aquele que se iludira com os conceitos humanos, supondo que iria ter, no mundo espiritual, uma vida quase angelical, uma vida de felicidade completa, porque todos o tinham por honesto, vai sentir, diretamente, que a sua suposta honestidade, na Terra, de nada lhe vale, porque a Justiça Divina, que é onisciente e onipresente, não julga somente pelos atos exteriores, mas julga, antes de tudo, pelas intenções, pelos pensamentos mais ocultos, pelos sentimentos que alimentamos, embora saibamos encobri-los ou disfarçá-los na sociedade humana. O que vai pesar na balança, no fim de tudo, quando nos defrontamos com a realidade espiritual, não é o conceito de honestidade segundo os homens, mas o conceito de honestidade segundo a Justiça de Deus. É a lição, que nos fica, depois da leitura, bem meditada, de uma comunicação do teor moral e doutrinário daquela que foi dada, em Bordéus, pelo espírito de José Bré.