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terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

CONHECENDO O LIVRO: O CÉU E O INFERNOS - CAP.VII-ESPÍRITOS ENDURECIDOS: UM ESPÍRITO ABORRECIDO------"A maioria dos Espíritos dessa categoria busca uma existência terrestre apenas como distração, e para romper a insuportável monotonia de sua existência espiritual; assim eles chegam aí muitas vezes sem resoluções tomadas para o bem, é por isso que devem recomeçar até que, enfim, o progresso real se faça sentir neles. ""

 

(Bordeaux, 1862.)

 

Este Espírito apresenta-se espontaneamente ao médium, e reclama preces.

 

1. O que vos leva a pedir preces?
– R. Estou cansado de vagar sem objetivo. 

P. – Há muito tempo que estais nessa posição? 

– R. Cento e oitenta anos aproximadamente. 

– O que fizestes na terra? 

– R. Nada de bom.

2. Qual é vossa posição entre os Espíritos? 

– R. Estou entre os entediados. 

P. – Isso não forma uma categoria. 

– R. Tudo forma categoria entre nós. Cada sensação encontra ou seus semelhantes, ou seus simpatizantes que se reúnem.

3. Por que, se não estáveis condenado ao sofrimento, permanecestes tanto tempo sem vos aperfeiçoardes? 

– R. Estava condenado ao tédio, é um sofrimento entre nós; tudo o que não é alegria é dor. 

P. – Fostes, portanto, forçado a permanecer errante contra vossa vontade? 

– R. São causas demasiado sutis para vossa inteligência material. 

P. – Tentai fazer-me compreendê-las; será um começo de utilidade para vós. 

– R. Eu não poderia, porque não tem termo de comparação. Uma vida extinta na terra deixa ao Espírito que não a aproveitou, o que o fogo deixa ao papel que consumiu: faíscas, que lembram às cinzas ainda unidas entre si o que foram e a causa do seu nascimento, ou se quiseres, da destruição do papel. Essas faíscas são a lembrança dos laços terrestres que percorrem o Espírito até que ele tenha dispersado as cinzas de seu corpo. Somente então ele se reencontra, essência etérea, e deseja o progresso.

4. Quem pode vos ocasionar o tédio de que vos queixais? 

– R. Consequência da existência. O tédio é o filho da ociosidade; eu não soube empregar os longos anos que passei na terra, sua consequência se faz sentir em nosso mundo.

5. Os Espíritos que, como vós, vagam atormentados pelo tédio, não podem fazer cessar esse estado quando querem? 

– R. Não, eles nem sempre podem, porque o tédio lhes paralisa a vontade. Eles sofrem as consequências de sua existência; foram inúteis, não tiveram nenhuma iniciativa, não encontram nenhuma ajuda entre si. Ficam abandonados a si mesmos até que a lassidão desse estado neutro os faça desejar mudar; então, à menor vontade que desperta neles, eles encontram apoio e bons conselhos para auxiliar seus esforços e perseverar.

6. Podeis dizer-me alguma coisa sobre a vossa vida terrestre? 

– R. Ah, bem pouca coisa, deves compreendê-lo. O tédio, a inutilidade, a ociosidade provêm da preguiça; a preguiça é mãe da ignorância.

7. Vossas existências anteriores não vos fizeram avançar? 

– R. Sim, todas, mas muito fracamente, pois todas foram o reflexo umas das outras. Sempre há progresso, mas tão pouco sensível, que é inapreciável para nós.

8. Aguardando que recomeceis uma outra existência, quereis vir mais frequentemente perto de mim? 

– R. Chama-me para me coagires a isso; prestar-me-ás um favor.

9. Podeis dizer-me por que vossa letra muda frequentemente? 

– R. Porque perguntas muito; isso me cansa, e preciso de ajuda.

 

O guia do médium

É o trabalho da inteligência que o cansa e que nos obriga a lhe prestar ajuda para que ele possa responder às tuas perguntas. É um desocupado do mundo dos Espíritos como o foi do mundo terrestre. Trouxemo-lo para tentar tirá-lo da apatia desse tédio que é um verdadeiro sofrimento, mais penoso às vezes do que os sofrimentos agudos, pois ela pode prolongar-se indefinidamente. Consegues imaginar a tortura da perspectiva de um tédio sem fim? A maioria dos Espíritos dessa categoria busca uma existência terrestre apenas como distração, e para romper a insuportável monotonia de sua existência espiritual; assim eles chegam aí muitas vezes sem resoluções tomadas para o bem, é por isso que devem recomeçar até que, enfim, o progresso real se faça sentir neles.

fonte: Livro O Céu e o Inferno - Allan kardec.
Segunda Parte- Cap. VII - Espíritos Endurecidos 

 

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

CONHECENDO O LIVRO: O CÉU E O INFERNO - CAP.VII - ESPÍRITOS ENDURECIDOS : Angèle, nulidade sobre a terra---"Sem defeitos sérios, mas sem qualidades, ela fez a infelicidade do marido, perdeu o futuro de seus filhos, arruinou o bem-estar deles por sua incúria e sua preguiça. Falseou o julgamento e o coração deles, primeiro pelo seu exemplo, depois abandonando-os aos cuidados dos domésticos que nem mesmo tomava o cuidado de escolher. Sua vida foi inútil para o bem e por isso mesmo culpada, pois o mal nasce do bem negligenciado.""

 
(Bordeaux, 1862.)
 
Um Espírito se apresenta espontaneamente ao médium sob o nome de Angèle.

1. Vós vos arrependeis de vossas faltas? – R. Não.
– Então por que vindes a mim?
– R. Para fazer uma tentativa.
– Então não sois feliz?
– R. Não.
– Estais sofrendo?
– R. Não. – O que vos falta então?
– R. A paz.

Observação: Certos Espíritos não consideram como sofrimentos senão os que lhes lembram as dores físicas, embora convindo que seu estado moral é intolerável.
 
2. Como pode faltar-vos a paz na vida espiritual?
– R. Um arrependimento do passado.
P. – O arrependimento do passado é um remorso; vós vos arrependeis então?
– R. Não; é por temor do futuro. 
P. – Que temeis vós?
– R. O desconhecido.
3. Quereis dizer-me o que fizestes em vossa última existência? Isso talvez me ajude a vos esclarecer.
– R. Nada. 
4. Em que posição social estáveis?
– R. Média.
P. – Fostes casada?
– R. Casada e mãe.
P. – Cumpristes com zelo os deveres dessa dupla posição?
– R. Não; meu marido me aborrecia, meus filhos também.
5. Como se passou vossa vida?
– R. A divertir-me enquanto solteira, a aborrecer-me casada.
P. – Quais eram vossas ocupações?
– R. Nenhuma.
P. – Então quem cuidava de vossa casa? – R. A doméstica.
6. Não é nessa inutilidade que é preciso procurar a causa de vossos arrependimentos e de vossos temores?
– R. Talvez tenhas razão.
P. – Não basta convir. Quereis, para reparar essa existência inútil, ajudar os Espíritos culpados que sofrem à vossa volta?
– R. Como?
– Ajudando-os a se aperfeiçoarem pelos vossos conselhos e vossas preces.
– R. Não sei rezar.
P.  – Nós o faremos juntos, aprendereis; quereis? –
R. Não.
P. – Por quê?
– R. A fadiga.  
 
Instrução do guia do médium.
 
 Nós damos-te instruções pondo-te sob os olhos os diversos graus de sofrimento e de posição dos Espíritos condenados à expiação em consequência de suas faltas.
Angèle era uma dessas criaturas sem iniciativa, cuja vida é tão inútil para os outros quanto para elas mesmas. Amando apenas o prazer, incapaz de procurar no estudo, no cumprimento dos deveres da família e da sociedade essas satisfações do coração que são as únicas que podem dar encanto à vida, porque pertencem a todas as idades, ela não pôde empregar seus jovens anos senão em distrações frívolas; depois, quando os deveres sérios chegaram, o mundo havia feito o vazio em torno dela, porque ela havia feito o vazio no seu coração. Sem defeitos sérios, mas sem qualidades, ela fez a infelicidade do marido, perdeu o futuro de seus filhos, arruinou o bem-estar deles por sua incúria e sua preguiça. Falseou o julgamento e o coração deles, primeiro pelo seu exemplo, depois abandonando-os aos cuidados dos domésticos que nem mesmo tomava o cuidado de escolher. Sua vida foi inútil para o bem e por isso mesmo culpada, pois o mal nasce do bem negligenciado. Compreendei bem todos que não basta abster-vos das faltas: é preciso praticar as virtudes que lhes são opostas. Estudai os mandamentos do Senhor, meditai sobre eles, e compreendei que, se eles vos colocam uma barreira que vos detém à beira do mau caminho, eles vos forçam ao mesmo tempo a voltar atrás para tomar o caminho oposto que leva ao bem. O mal é oposto ao bem; portanto, aquele que o quer evitar deve entrar no caminho oposto, sem o quê sua vida é nula; suas obras estão mortas e Deus nosso pai não é o Deus dos mortos, mas o Deus dos vivos.

P. Posso vos perguntar qual fora a existência anterior de Angèle? A última devia ser sua consequência.

R. Ela havia vivido na preguiça beata e na inutilidade da vida monástica. Preguiçosa e egoísta por gosto, ela quis tentar a vida de família, mas o Espírito progrediu muito pouco. Ela repeliu sempre a voz íntima que lhe mostrava o perigo; o declive era suave, ela preferiu deixar-se ir a fazer um esforço para se deter no início. Hoje ela ainda compreende o perigo que existe em se manter nessa neutralidade, mas não se sente com força para tentar o menor esforço para daí sair. Orai por ela, despertai-a; forçai seus olhos a se abrirem para a luz: é um dever, não negligencieis nenhum.
 O homem foi criado para a atividade: atividade de espírito, é sua essência; atividade do corpo, é uma necessidade. Preenchei, portanto, as condições de vossa existência, como Espírito destinado à paz eterna. Como corpo destinado ao serviço do Espírito, vosso corpo não é senão uma máquina submetida à vossa inteligência; trabalhai, cultivai então a inteligência, a fim de que ela dê uma impulsão salutar ao instrumento, que deve ajudar o Espírito a cumprir sua tarefa; não lhe deis repouso nem trégua, e lembrai-vos de que a paz à qual aspirais não vos será dada senão depois do trabalho; portanto, durante todo o tempo em que tiverdes negligenciado o trabalho, todo esse tempo durará para vós a ansiedade da espera.
Trabalhai, trabalhai sem cessar; cumpri todos os vossos deveres sem exceção; cumpri-os com zelo, com coragem, com perseverança, e vossa fé vos sustentará. Aquele que cumpre com consciência a tarefa mais ingrata, mais vil em vossa sociedade, é cem vezes mais elevado aos olhos do Altíssimo, do que aquele que impõe essa tarefa aos outros e negligencia a sua. Tudo consiste em degraus para subir ao céu: não os quebreis, pois, sob vossos pés, e contai que estais cercados de amigos que vos estendem a mão, e apoiam aqueles que põem sua força no Senhor. 

MONOD.

fonte: Livro O Céu e o Inferno - Allan Kardec.
Segunda Parte - Cap. 7 - Espíritos Endurecidos.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Conhecendo o Livro O Céu e o Inferno : "Espíritos Endurecidos"Lapomemeray

LAPOMMERAY

Castigo pela luz
Em uma das sessões da Sociedade de Paris, durante a qual se discutira a perturbação que geralmente acompanha a morte, um Espírito, ao qual ninguém fizera alusão e muito menos se pretendera evocar, manifestou-se espontaneamente pela seguinte comunicação, que, conquanto não assinada, se reconheceu como sendo de um grande criminoso recentemente atingido pela justiça humana:
"Que dizeis da perturbação? Para que essas palavras ocas? Sois sonhadores e utopistas. Ignorais redondamente o assunto do qual vos ocupais. Não, senhores, a perturbação não existe, a não ser nos vossos cérebros. Estou bem morto, tão morto quanto possível e vejo claro em mim, ao derredor de mim, por toda parte!... A vida é uma comédia lúgubre! Insensatos os que se retiram da cena antes que o pano caia. A morte é terror, aspiração ou castigo, conforme a fraqueza ou a força dos que a temem, afrontam ou imploram. Mas é também para todos amarga irrisão.
"A luz ofusca-me e penetra, qual flecha aguda, a sutileza do meu ser. Castigaram-me com as trevas do cárcere e acreditavam castigar-me ainda com as trevas do túmulo, senão com as sonhadas pelas superstições católicas...
"Pois bem, sois vós que padeceis da obscuridade, enquanto que eu, degredado social, me coloco em plano superior. Eu quero ser o que sou!... Forte pelo pensamento, desdenhando os conselhos que zumbem aos meus ouvidos... Vejo claro... Um crime! É uma palavra! O crime existe em toda parte. Quando executado pelas massas, glorificam-no, e, individualizado, consideram-no infâmia. Absurdo!
"Não quero que me deplorem... nada peço... lutarei por mim mesmo, só, contra esta luz odiosa. Aquele que ontem era um homem."
Analisada esta comunicação na assembléia seguinte, reconheceu-se no próprio cinismo da sua linguagem um profundo ensinamento, patenteando na situação desse infeliz uma nova fase do castigo que espera o culpado. Efetivamente, enquanto alguns são imersos em trevas ou num absoluto insulamento, outros sofrem por longos anos as angústias da extrema hora, ou acreditam-se ainda encarnados.
Para estes, a luz brilha, gozando o Espírito, e plenamente, das suas faculdades, sabendo-se morto e não se lastimando, antes repelindo qualquer assistência e afrontando ainda as leis divinas e humanas. Quererá isto dizer que escapassem à punição? De modo algum; é que a justiça de Deus completa-se sob todas as formas, e o que a uns causa alegria é para outros um tormento. A luz faz o suplício desse Espírito, e é ele próprio que o confessa, em que pese ao seu orgulho, quando diz que lutará por si mesmo, só, contra essa luz odiosa. E ainda nesta frase: - "a luz ofusca-me e penetra, qual flecha aguda, a sutileza do meu ser".
Essas palavras: - "sutileza do meu ser", são características, dando a entender que sabe que o seu corpo e fluídico e penetrável à luz, à qual não pode escapar, luz que o penetra qual aguda flecha. Este Espírito aqui está colocado entre os endurecidos, em razão do muito tempo que levou, antes que manifestasse arrependimento - o que é também um exemplo a mais para provar que o progresso moral nem sempre acompanha o progresso intelectual. Entretanto, pouco a pouco se foi corrigindo, e deu mais tarde ditados instrutivos e sensatos. Hoje, ele poderá ser colocado entre os Espíritos arrependidos. Convidados a emitirem a sua apreciação a respeito, os nossos guias espirituais ditaram as três seguintes comunicações, aliás dignas da mais séria atenção.

I

Sob o ponto de vista das existências, os Espíritos na erraticidade podem considerar-se inativos e na expectativa; mas, ainda assim, podem expiar, uma vez que o orgulho e a tenacidade formidável dos seus erros não os tolham no momento da progressiva ascensão. Tivestes disso um exemplo terrível na última comunicação desse criminoso impenitente, debatendo-se com a justiça divina a constringi-lo depois da dos homens.
Neste caso a expiação ou, antes, o sofrimento fatal que os oprime, ao invés de lhes ser útil, inculcando-lhes a profunda significação de suas penas, exacerba-os na rebeldia, e dá azo às murmurações que a Escritura em sua poética eloqüência denomina ranger de dentes.
Esta frase, simbólica por excelência, é o sinal do sofredor abatido, porém insubmisso, isolado na própria dor, mas bastante forte ainda para recusar a verdade do castigo e da recompensa! Os grandes erros perduram no mundo espiritual quase sempre, assim como as consciências grandemente criminosas. Lutar, apesar de tudo, e desafiar o infinito, pode comparar-se à cegueira do homem que, contemplando as estrelas, as tivesse por arabescos de um teto, tal como acreditavam os gauleses do tempo de Alexandre.
O infinito moral existe! E miserável e mesquinho é quem, a pretexto de continuar as lutas e imposturas abjetas da Terra, não vê mais longe no outro mundo, do que neste.
Para esse a cegueira, o desprezo alheio, o egoístico sentimento da personalidade, são empecilhos ao seu progresso. Homem! é bem verdade que existe um acordo secreto entre a imortalidade de um nome puro, legado à Terra, e a imortalidade realmente conservada pelos Espíritos nas suas sucessivas provações. Lamennais.

II

Precipitar um homem nas trevas ou em ondas de luz não dará o mesmo resultado? Num como noutro caso, esse homem nada vê do que o cerca, e habituar-se-á mesmo mais facilmente à sombra do que à monótona claridade elétrica, na qual pode estar submerso. O Espírito manifestado na última sessão exprime bem a verdade quando diz: "Oh! eu saberei libertar-me dessa odiosa luz." De fato, essa luz é tanto mais terrível, horrorosa, quanto ela o penetra completamente e lhe devassa os pensamentos mais recônditos. Aí está uma das circunstâncias mais rudes de tal castigo espiritual. O Espírito encontra-se, por assim dizer, na casa de vidro pedida por Sócrates. Disso decorre ainda um ensinamento, visto como o que seria alegria e consolo para o sábio, transforma-se em punição infamante e contínua para o perverso, para o criminoso, para o parricida, sobressaltado em sua própria personalidade. Meus filhos, calculai o sofrimento, o terror dos hipócritas que se compraziam em toda uma existência sinistra a planejar, a combinar os mais hediondos crimes no seu foro íntimo, quais feras refugiadas no seu antro, e que hoje, expulsas desse covil intimo, não se podem furtar à investigação dos seus pares...
Arrancada que lhe seja a máscara da impassibilidade, todos os pensamentos se lhe estampam na fronte! Sim, e além de tudo nenhum repouso, nada de asilo para esse formidando criminoso. Todo pensamento mau - e Deus sabe se a sua alma o exprime -se lhe trai por fora e por dentro, como impelido por choque elétrico irresistível. Procura esquivar-se à multidão, e a luz odiosa o devassa continuamente. Quer fugir, e desanda numa carreira infrene, desesperada, através dos espaços incomensuráveis, e por toda a parte luz, olhares que o observam. E corre, e voa novamente em busca da sombra, em busca da noite, e sombra e noite não mais existem para ele! Chama pela morte... Mas a morte não é mais que palavra sem sentido. E o infeliz foge sempre, a caminho da loucura espiritual - castigo tremendo, dor horrível, a debater-se consigo para se desembaraçar de si mesmo, porque tal é a lei suprema para além da Terra, isto é: o culpado busca por si mesmo o seu mais inexorável castigo.
Quanto tempo durará esse estado? Até o momento em que a vontade, por fim vencida, se curve constrangida pelo remorso, humilhada a fronte altiva ante os Espíritos de justiça e ante as suas vítimas apaziguadas.
Notai a lógica profunda das leis imutáveis; com isso o Espírito realizará o que escrevia nessa altaneira comunicação tão clara, tão lúcida, tão desconsoladoramente egoística, comunicação que vos deu na sexta-feira passada, redigindo-a por um ato da sua própria vontade. Éraste.

III

A justiça humana não faz distinção de individualidades, quanto aos seres que castiga; medindo o crime pelo próprio crime, fere indistintamente os infratores, e a mesma pena atinge o paciente sem distinção de sexo, qualquer que seja a sua educação. De modo diverso procede a justiça divina, cujas punições correspondem ao progresso dos seres aos quais elas são infligidas. Igualdade de crimes não importa, de fato, igualdade individual, visto como dois homens culpados, sob o mesmo ponto de vista, podem separar-se pela dessemelhança de provações, imergindo um deles na opacidade intelectiva dos primeiros círculos iniciadores, enquanto que o outro dispõe, por haver ultrapassado esses círculos, da lucidez que isenta o Espírito da perturbação. E nesse caso não são mais as trevas a puni-lo, mas a agudeza da luz espiritual que vara a inteligência terrena e lhe faz sentir as dores de uma chaga viva.
Os seres desencarnados que presenciam a representação material dos seus crimes, sofrem o choque da eletricidade física: padecem pelos sentidos. E aqueles que pelo Espírito estejam desmaterializados sofrem uma dor muito superior que lhes aniquila, por assim dizer, em seus amargores, a lembrança dos fatos, deixando subsistir a noção de suas respectivas causas.
Assim, pode o homem, a despeito da sua criminalidade, possuir um progresso interno e elevar-se acima da espessa atmosfera das baixas camadas, isto pelas faculdades intelectuais sutilizadas, embora tivesse, sob o jugo das paixões, procedido como um bruto. A ausência de ponderação, o desequilíbrio entre o progresso moral e o intelectual, produzem essas tão freqüentes anomalias nas épocas de materialismo e transição. A luz que tortura o Espírito é, portanto e precisamente, o raio espiritual inundando de claridades os secretos recessos do seu orgulho e descobrindo-lhe a inanidade do seu fragmentário ser. Aí estão os primeiros sintomas, as primeiras angústias da agonia espiritual, e que prenunciam a dissolução dos elementos intelectuais e materiais componentes da primitiva dualidade humana, e que devem desaparecer na unidade grandiosa do ser acabado. Jean Reynaud.
Além de se completarem reciprocamente, estas três comunicações, obtidas simultaneamente, apresentam o castigo debaixo de um novo prisma, aliás eminentemente filosófico e racional. É provável que os Espíritos, querendo tratar do assunto de acordo com um exemplo, tivessem provocado a manifestação do culpado
Ao lado deste quadro vivo, baseado sobre um fato, eis, para estabelecer um paralelo, este que um pregador de Montreuil-sur-Mer, em 1864, por ocasião da quaresma, traçou do inferno:
"O fogo do inferno é milhões de vezes mais intenso que o da Terra, e se acaso um dos corpos que lá se queimam, sem se consumirem, fosse lançado ao planeta, empestá-lo-ia de um a outro extremo! O inferno é vasta e sombria caverna, eriçada de agudas pontas de lâminas de espadas aceradas, de lâminas de navalhas afiadíssimas, nas quais são precipitadas as almas dos condenados." (Ver a Revue Spirite, julho de 1864, pág. 199.)

ANGÈLE, nulidade sobre a Terra

(Bordéus, 1862)
Com este nome, um Espírito se apresentou espontaneamente ao médium.
1. - Arrependei-vos das vossas faltas? - R. Não. - P. Então por que me procurais? - R. Para experimentar. - P. Acaso não sois feliz? - R. Não. - P. Sofreis? - R. Não. - P. Que vos falta, pois? - R. A paz.
Nota - Sob este nome, um Espírito se apresenta espontaneamente ao médium, habituado a este gênero de manifestações, pois sua missão parece ser a de assistir os Espíritos inferiores que o seu guia espiritual lhe conduz, no duplo propósito da sua própria instrução e do progresso deles.
- P. Quem sois? Este nome é de homem ou de mulher? - R. De homem, e tão infeliz quanto possível. Sofro todos os tormentos do inferno.
- P. Mas se o inferno não existe, como podeis sofrer-lhe as torturas? - R. Pergunta inútil. - P. Compreendo, mas outros precisam de explicações... - R. Isso pouco me incomoda.
- P. O egoísmo não será uma das causas do vosso sofrimento? - R. Pode ser.
- P. Se quiserdes ser aliviado, começai repudiando as más tendências ... - R. Não te incomodes com o que não é da tua conta; principia orando por mim, como praticas com os outros, e depois veremos.
- P. A não me auxiliardes com o vosso arrependimento, a prece pouco valor poderá ter. - R. Mas falando, em vez de orares, menos ainda me adiantarás.
- P. Então desejais adiantar-vos? - R. Talvez... não sei. Vejamos o essencial, isto é, se a prece alivia os sofrimentos.
- P. Unamos então os nossos pensamentos com a firme vontade de obter o vosso alívio. - R. Vá lá.
- P. (Depois da prece.) Estais satisfeito? - R. Não como fora para desejar.
- P. Mas o remédio, aplicado pela primeira vez, não pode curar imediatamente um mal antigo... - R. É possível...
- P. Quereis voltar? - R. Se me chamares...
O guia da médium. - Filha, terás muito trabalho com este Espírito endurecido, mas o maior mérito não advém de salvar os não perdidos. Coragem, perseverança, e triunfarás afinal. Não há culpados que se não possam regenerar por meio da persuasão e do exemplo, visto como os Espíritos, por mais perversos, acabam por corrigir- se com o tempo. O fato de muitas vezes ser impossível regenerá-los prontamente, não importa na inutilidade de tais esforços. Mesmo a contragosto, as idéias sugeridas a tais Espíritos fazem-nos refletir. São como sementes que, cedo ou tarde, tivessem de frutificar. Não se arrebenta a pedra com a primeira marretada.
Isto que te digo pode aplicar-se também aos encarnados e tu deves compreender a razão por que o Espiritismo não faz imediatamente homens perfeitos, mesmo entre os adeptos mais crentes.
A crença é o primeiro passo; vindo em seguida a fé e a transformação a seu turno; mas, além disso, força é que muitos venham revigorar-se no mundo espiritual.
Entre os Espíritos endurecidos, não há só perversos e maus. Grande é o número dos que, sem fazer o mal, estacionam por orgulho, indiferença ou apatia. Estes, nem por isso, são menos infelizes, pois tanto mais os aflige a inércia quanto mais se vêem privados das mundanas compensações.
Intolerável, por certo, se lhes torna a perspectiva do infinito, porém eles não têm nem a força nem a vontade para romper com essa situação. Referimo-nos a esses indivíduos que levam uma existência ociosa, inútil a si como ao próximo, acabando muita vez no suicídio, sem motivos sérios, por aborrecimento da vida.
Em regra, tais Espíritos são menos passíveis de imediata regeneração, do que os positivamente maus, visto como estes ao menos dispõem de energia, e, uma vez doutrinados, votam-se ao bem com o mesmo ardor que lhes inspirava o mal.
Aos outros, muitas encarnações se fazem precisas para que progridam, e isto pouco a pouco, domados pelo tédio, procurando, para se distraírem, qualquer ocupação que mais tarde venha transformar-se em necessidade.