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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Educação espírita na nova era


--- Questão [#001]
Sendo o espiritismo uma doutrina de profundas conseqüências morais e  sociais
como abordaríamos os jovens da nova era ou como levar a doutrina a estes jovens?

Resposta: Com a proposta racional, coerente e profunda do Espiritismo bem
estudado e bem compreendido. A doutrina contém as respostas necessárias, para
satisfazer as ansiedades humanas permanentes e os conflitos do atual momento
histórico. Mas… o movimento espírita está longe de compreender e praticar essa
proposta. Por isso, tantos jovens, que fizeram evangelização, mocidade e
pertencem a famílias espíritas, quando chegam à Universidade, acabam por deixar
a nossa doutrina.. É que o Espiritismo tem evidências científicas, coerência
filosófica, experiências religiosas desprovidas dos dogmatimos e
hierarquizações, misticismos e alienações passadas e além disso é uma proposta
pedagógica altamente avançada. Mas o movimento espírita reduziu tudo isso a uma
seita de proporções acanhadas, com rivalidades por cargos, com um entendimento
meramente religioso (o que inclui de novo misticismo, hierarquias e dogmas),
desprezando o aspecto científico, ignorando a filosofia e a pedagogia. Dessa
forma, não pode atender às ansiedades e carências do jovem contemporâneo.
Idolatria a determinados médiuns, que passaram a ser os “gurus” do movimento
espírita; livros superficiais, na linha de auto-ajuda; a exploração comercial
de livros “espíritas” fracos no conteúdo e na forma; o desconhecimento e até o
desprezo da figura e da obra de Kardec (e não se trata de falar em Kardec,
porque todos falam dele e o usam, mas de compreender de fato a sua proposta); o
autoritarismo nos centros e nas federações… são apenas alguns dos problemas que
as cabeças mais pensantes identificam. Já na década de 1970, Herculano Pires
alertava contra tudo isso. De lá para cá, a coisa piorou muitíssimo. É com isso
que vamos fazer uma Nova Era? Copiando o misticismo, a irracionalidade e o
autoritarismo das formas institucionais passadas? Devemos voltar às origens e
ao mesmo tempo dialogar com a cultura contemporânea. Voltar às origens é nos
inspirarmos em Kardec, Léon Denis, Gabriel Delanne etc.; no Brasil, em
Herculano Pires, Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulfo,  e, como modelo de
mediunidade séria, equilibrada e avessa a toda essa idolatria vigente, cito a
grande Yvonne Pereira. E dialogar com o mundo é estar presente, nas
universidades, nos movimentos sociais, na vida contemporânea e não nos
tornarmos uma seita isolada e alienada!!!… Com isso sim, podemos formar uma
juventude embebida em ideiais elevados e firme em suas convicções e preparada
para enfrentar os desafios de hoje e de amanhã.

--- Questão [#002]
Qual é a missão da casa espírita na educação e formação da criança espírita?

Resposta: Para cumprir essa missão, a casa espírita deveria ser reformulada. A
criança, o adolescente e o jovem devem participar naturalmente do centro
espírita. Nada de grupos estanques: crianças de um lado, jovens de outro,
iniciantes, diretoria, etc. Tudo isso são hierarquias que não condizem com a
idéia da reencarnação. Sabemos que podemos ter entre nós um jovem muito
evoluído, que a maturidade mental e espiritual independe de idade… portanto,
categorizar os grupos por faixa etária é um erro. O Centro espírita deveria ser
como uma família, com a convivência natural de diferentes idades, participando
de diferentes atividades. A criança pode dar a sua ajuda em atividades sociais;
a criança deve ter contato com a mediunidade; o jovem pode fazer palestras,
coordenar grupos de estudos, já atuar mediunicamente, dar passes etc… Basta ver
como era com Eurípedes Barsanulfo. Ele tinha a escola espírita, mas os alunos
vinham à noite participar da sessão mediúnica. Ao mesmo tempo, aprendiam a
caridade, ajudando Eurípedes a cuidar dos doentes, dos obsedados, a fazer o
rótulo dos remédios e assim por diante. Ou seja, Espiritismo se aprende na
prática e no estudo participativo, interessante e não através de apostilinhas
pré-programadas, em grupos fechados. Recomendo sempre a leitura de uma
encantadora passagem de Kardec, na Revista Espírita de 1865, a respeito de um
menino de 9 anos de idade, que fez uma sessão mediúnica para uma senhora. O
menino era ninguém mais ninguém menos que Gabriel Delanne. Hoje, se Delanne
reencarnasse e freqüentasse um centro espírita, só iria ter contato com a
comunicação dos Espíritos depois de passar por evangelização, mocidade, curso
de iniciação mediúnica etc. etc. quando chegasse a isso, talvez nem fosse mais
espírita.

--- Questão [#003]
Seria possível, em sua opinião, incorporar os métodos de Pestalozzi na educação
espírita nessa nova era? e, se afirmativo, quais os pontos a serem ressaltados?

Resposta: Não é que seja possível, a proposta de Pestalozzi faz parte da
pedagogia espírita. E os princípios centrais são: a pedagogia do amor, da ação
e da liberdade. E uma não se dá sem a outra. O Espírito só se desenvolve, seja
no decorrer de suas sucessivas existências, seja na presente encarnação, se ele
toma nas próprias mãos a obra de seu aperfeiçoamento – o que é um ato de
liberdade – e realiza as suas potencialidades na ação concreta. Mas para que
ele queira fazer isso, não adianta violêntá-lo, obrigá-lo… é preciso despertar
a sua vontade de evolução através do amor! Eis o resumo de toda a pedagogia
espírita e pestalozziana.

--- Questão [#004]
Qual é a influência da tv na educação de nossas crianças, e  qual é  a
responsabilidade da casa espirita?

Resposta: A influência é geralmente muito negativa, salvo alguns poucos canais
e programas educativos. Mas não adianta proibir a criança, porque qualquer
proibição é contraproducente, tem muitas vezes o efeito contrário ao desejado.
O que é preciso é que a família, a escola, a casa espírita ofereçam
alternativas culturais estimulantes, que cativem o interesse e desenvolvam as
potencialidades da criança. Não se atrái uma criança que assiste TV, joga
vídeogame e vai ao cinema, com apostilas de evangelização (e muitas delas
parecem destinadas a crianças do início do século XX, com linguagem melosa,
paternalista e rebuscada). O estudo do espiritismo deve ser estimualado por
filmes, pesquisas, produções artísticas, debates, uso de internet etc. etc. ou
seja, deve captar a capacidade da criança para a reflexão, para a produção,
para a interação… A criança deve ter acesso direto aos textos de Kardec e desde
cedo ter acesso a parte científica e filosófica do espiritismo e não apenas à
religiosa, como o nome “evangelização”  aliás pressupõe.

--- Questão [#005]
Percebe-se que além do uso de métodos especificos e de deerminadas técnicas, o
educando precisa de alguém que lhe inspire confiança e segurança, qual deve ser
a enfâse da Educação Espírita na nova Era: o uso adequado de métodos e técnicas
ou o uso racional dos sentimentos e das virtudes? Julgo as duas coisas
importantes, mas qual deve ser o enfoque principal?

Resposta: Técnicas e métodos pedagógicos são totalmente secundários e mudam
segundo a época, os costumes, os avanços tecnológicos. O importante é a
compreensão das finalidades fundamentais da educação, que é o desenvolvimento
integral do ser, rumo à transcendência; o importante é o papel do educador, que
deve ser aquele que provoca, instiga, desencadeia esse desenvolvimento, graças
ao seu amor, ao seu exemplo e seu contágio moral e intelectual.

--- Questão [#006]
Encontramos edições de alguns currículos para a evangelização infanto-juvenil,
mas notamos que diante do progresso pedagógico na seara espírita necessitamos
de uma nova proposta curricular para nossa evangelização. Como um grupo
espírita deve proceder para criar esta proposta? E ainda, quais as reais
necessidades a serem observadas para se implantar tal proposta curricular?

Resposta: Vou mais longe do que isto. Não concordo com “propostas curriculares”
em geral. A educação deve partir do interesse dos educandos. Na escola
convencional também deveria ser assim. Imagino uma educação em que grupos,
indivíduos, proponham pesquisas, produções, temas etc. e levem adiante seus
projetos com a orientação entusiástica do professor. Por que motivo, alguém
deve se sentar e premeditar antecipadamente o que diferentes grupos, em
diferentes circunstâncias, deverão estudar? Para que tudo programadinho,
previsto, preparado? É preciso dar espaço à criatividade, convocar as pessoas a
criarem suas próprias propostas. Para se implantar uma proposta aberta assim, é
preciso conhecer muito bem o espiritismo e ser democrático, afetivo, fazendo
uma opção sincera pelo não-autoritarismo.

--- Questão [#007]
"Nova era" significa nova época. Sabemos que a natureza não dá saltos e que as
pessoas são as mesmas da "era velha". Não deveríamos centrar-nos na educação
espírita dos espíritas para façamos proselitismo pela vivência e não apenas por
palavras?

Resposta: Realmente, a natureza não dá saltos. Basta ver que muitos espíritas
continuam com os mesmos vícios religiosos do passado: autoritarismo,
misticicismo, alienação social etc. Então, é preciso primeiro educar os
espíritas a entenderem de fato a proposta espírita.

--- Questão [#008]
Sendo o objetivo maior do Espiritismo promover a reforma interior o ser, como
deveria se comportar a educação espírita frente à heterogeneidade evolutiva que
não permite que todos tenham condições de entender os princípios espíritas por
razões cognitivas ou mesmo sociais e culturais? Poderia-se pensar numa educação
genérica para reforma íntima sem necessariamente passar declaradamente pelos
princípios básicos do espiritismo e dessa forma tornando mais amplo o campo de
atuação da educação espírita?

Resposta: A pergunta parte de dois pressupostos equivocados: primeiro o
objetivo maior do espiritismo não é a “reforma íntima”. Este termo não aparece
nas obras de Kardec. Considero-o altamente problemático, porque reforma implica
numa idéia de que algo está em ruínas, que é preciso consertar. O objetivo do
espiritismo é a educação e educar não é reformar, mas promover o processo de
aperfeicoamento do espírito, o desabrochar de sua divindade interior. Segundo,
a educação espírita, se bem entendida, não é necessariamente a doutrinação dos
princípios espíritas, mas uma visão diferente da própria educação e ela pode
ser aplicada com qualquer pessoa, de qualquer credo, porque se trata de uma
influência moral e intelectual de espírito a espírito, no sentido de despertar
a evolução do outro. Esteja o outro em que patamar evolutivo for, pertença o
outro a que religião for, é sempre possível, espiritamente falando exercer
sobre ele um contágio de amor e aperfeiçoamento, respeitando suas crenças
individuais. Apenas para aqueles que quiserem, introduziremos os princípios
propriamente da doutrina espírita, resguardando-se sempre a liberdade de
pensamento de cada um. Educação espírita é isso: não-proselitista, tolerante,
aberta, abrangente…Uma proposta cultural e universal, destinada a todos os
seres humanos e jamais uma idéia de formar espíritas em massa.

--- Questão [#009]
Poderia nos informar qual deve ser o objetivo da Educação Espírita, não só
junto às crianças, mas também em conduta dos pais?

Resposta: O objetivo da Educação espírita é renovar os modelos tradicionais de
educação, entendendo-se alguns princípios básicos que vou resumir aqui da
seguinte maneira: 1) que a criança é um ser reencarnado, com individualidade
própria, herdeira de si mesma e que tem como tal direito ao nosso respeito; 2)
que o tripé que sustenta toda prática pedagógica deve ser aquele que já
mencionei acima: a liberdade, a ação e o amor; 3) que a finalidade da educação
é o desenvolvimento integral do ser aqui, na vida presente e além, na
eternidade; 4) que todo processo de educação é antes um despertar da
auto-educação do indivíduo, porque não educamos de fato nimguém: o máximo que
podemos fazer é ajudar um processo de auto-educação, através da nossa
influência, de nosso amor e de nosso exemplo; 5) que a educação deve incentivar
o indivíduo para a solidariedade e para a fraternidade e isso inclui uma visão
de crítica social e um engajamento por mudanças planetárias.

--- Questão [#010]
Por que, mesmo pais e educadores, já se encontrando preocupados com a questão,
não se vê muitas escolas de ensino formal baseadas na Doutrina Espírita? de que
forma dever-se-ia pensar a questão da Educação Espírita para a educação formal?

Resposta: O movimento espírita até agora negligenciou a educação espírita,
detendo-se muito mais no aspecto religioso e assistencial. Estamos atrasados:
Eurípedes Barsanulfo, Anália Franco, Herculano Pires, Vinicius, Ney Lobo, Tomás
Novelino deram o exemplo. É preciso trabalhar pela educação espírita em todos
os setores, criando inclusive escolas, faculdades e universidades.
(Entendendo-se sempre que tais instituições não poderão ser locais de
proselitismo e fanatismo – tome-se como exemplo as PUCs do Brasil, onde há
pluralismo ideológico e, ao mesmo tempo, há espaço para a veiculação dos
princípios cristãos, segundo a teologia católica.)

--- Questão [#011]
Qual a diferença entre Educação Espírita para Educação Espírita na nova era? A
educação espírita não é única?

Resposta: Não entendo essa pergunta. Só existe Educação Espírita. Quando se
fala em nova era, estamos esperando que essa educação venha a contribuir para a
formação de novos tempos para a humanidade.

--- Questão [#012]
De que forma podemos adotar uma Educação Espírita durante a Evangelização
Infanto-Juvenil, na qual a criança fica apenas no máximo 60 min uma vez por
semana no CE?

Resposta: Acho que esta questão já ficou respondida em itens anteriores, quando
dissemos que a participação da criança no centro deveria transcender a chamada
evangelização.

--- Questão [#013]
Poderia explicar a relação entre educação espírita e o ensino intelectual? de
que forma aquela poderia ou deveria ser utilizada nesta?

Resposta: Segundo a visão pedagógica que estamos propondo, não há separação
estrita entre ensino intelectual, moral, estético, porque tudo deve estar
presente simultaneamente. Hoje a interdisciplinaridade apóia essa idéia. A
verdadeira educação espírita promove o desenvolvimento integral do espírito.

--- Questão [#014]
Você acha que a maioria dos Centros estão preparados para dar uma boa educação
espírita para as pessoas?

Resposta: Raríssimos estão, porque se estruturam predominantemente em propostas
meramente assistencialistas e entendem o espiritismo apenas no seu aspeto
religioso. Quando fazem cursos, organizam estudos, aplicam os métodos
tradicionais, apostilados, seriados, não-participativos… quando não aplicam até
mesmo provas, como na escola, com nota e direito à repetência por faltas… Tudo
isso é exatamente o contrário da educação espírita.

--- Questão [#015]
Como trabalhar a educação espírita com jovens cujo os pais não são espíritas?

Resposta: Esta questão considero respondida na questão 8.

--- Questão [#016]
A educação Espirita ainda está longe de atingir seus objectivos, pois veja-se
aqui em Portugal ainda há rivalidades entre Centros, faz-se grande enfase
quando vem algum Palestrador do Brasil? Entendo que a educação Espirita começa
por nós mesmos, pois só então poderemos então ajudar a alterar o que está
errado. Qual a sua opinião?

Resposta: Sem dúvida alguma, o primeiro compromisso de todo espírita é com sua
auto-educação e isso inclui tanto o seu aperfeiçoamento moral, quanto a
ampliação do universo cultural, incluindo-se a arte, a ciência e a filosofia.
Uma real mudança de perspectiva diante da vida apaga todas essas mesquinharias
de rivalidades, de disputas por poder, de vaidades pessoais e igualmente de
idolatria…

--- Questão [#017]
Não seria bom para a Doutrina Espírita, a entrada, definitiva e total, da
filosofia, nos curriculos escolares desde o ensino fundamental?

Resposta: A filosofia é excelente para exercitar a reflexão crítica, para dar
clareza ao raciocínio, para ampliar a cultura de idéias. Entretanto, é preciso
haver uma proposta que resgate a filosofia do nihilismo em que caiu, para que
aulas de filosofia não se tornem treinamento do relativismo. Recomendo aos
interessados que leiam meu artigo sobre o assunto, que está na internet
http://www.hottopos.com/videtur15/dora.htm

--- Questão [#018]
Como educar as crianças de bairros pobres, em ocasiões de distribuições de
sopas, nos princípios espíritas, sem conflitos religiosos?

Resposta: Bem, a resposta seria de novo muito longa. A pergunta não teria
sentido se a prática social espírita estivesse sendo comprendida como ela deve
ser… Os espíritas deveriam estar nos bairros pobres, alfabetizando, promovendo
a cultura, a consciência social e política, o diálogo democrático e fraterno e
não apenas praticando o assistencialismo. Numa proposta cultural, democrática,
o respeito às outras religiões é evidente. Ensina-se espiritismo apenas para
aqueles que quiserem. Devemos deixar claro que somos espíritas, mostrar que
justamente o espírita é ecumênico, aberto, tolerante e fraterno, que a proposta
espírita é fazer um mundo melhor… Se formos dar sopa e obrigarmos os
“assistidos” (também não gosto dessa palavra e tudo o que ela encerra, porque é
paternalista) a ouvir doutrinações espíritas, estaremos prestando duplo
desserviço ao Espiritismo e a uma possível melhoria social. É preciso, em
primeiro lugar, saber ouvir o outro e não chegar com todas as respostas prontas
e toda a caridade paternalista que gostamos de praticar, muitas vezes, apenas
para nos sentirmos bons e caridosos, sem realmente pensar numa forma mais
eficaz, mais profunda de transformar a sociedade e mudar de fato a vida
daquelas pessoas.
Autor: Dora Incontri
Todo esse material provém dos sites: CVDEE - Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo e da Revista Eletrônica O Consolador.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A Educação Espírita


Dora Incontri
Definições Possíveis
Existem três perspectivas sob as quais se pode falar em Educação Espírita. E certo que elas acabam se unificando num só conceito. Um aspecto deriva do outro e formam uma visão única.
· Espiritismo como Educação. A essência do Espiritismo é a Educação. Ao contrário de outras correntes religiosas, que têm um caráter salvacionista, a Doutrina Espírita, com seu tríplice aspecto—cientifico, filosófico e religioso —pretende promover a evolução do homem e esta evolução é um processo pedagógico. A Educação do Espírito é o cerne da proposta espírita. Se o Espiritismo é uma síntese cultural, abrangendo todas as áreas do conhecimento, seu ponto de unificação é justamente a Pedagogia. Não foi à toa que Kardec tenha sido educador e tenha recebido influência de Pestalozzi, um dos maiores educadores de todos os tempos. Melhor compreende o Espiritismo quem o compreende pedagogicamente.
Lendo Kardec com olhos pedagógicos, pode-se observar a sua insistência e a dos Espíritos em comparações com imagens emprestadas do universo educacional. O desenvolvimento do Espírito através das vidas sucessivas é visto como um curso escolar, com seus anos letivos. A Terra é tratada como uma escola, em que as almas se matriculam para o seu aperfeiçoamento. As imagens são recorrentes e não são meros recursos literários. Há de fato uma identificação. Corroborando essa leitura do Espiritismo, Herculano Pires, em Pedagogia Espírita, comenta que: "O Livro dos Espíritos é um manual de Educação Integral oferecido à Humanidade para a sua formação moral e espiritual na Escola da Terra".
Ser espírita, pois, na acepção plena da palavra é engajar-se num processo de auto-educação, cujo fim mal podemos entrever. E estar em processo de auto-aperfeiçoamento, como já vimos, é o requisito básico do educador. Como o Espiritismo não é uma doutrina individualista, no sentido de descomprometer o ser humano de deveres para com o próximo—ao contrário, elege na caridade seu princípio máximo—quem está em processo de melhorar a si mesmo tem o dever moral de exercer uma tarefa pedagógica com todas as criaturas que o cercam. A caridade máxima, portanto, que o espírita deve procurar realizar como ideal de vida, não é o assistencialismo social, respeitável e necessário, mas limitado e superficial, é sim a caridade da Educação. Elevar, transformar, despertar consciências, contribuindo para a mudança interna dos homens—que redundará também numa evolução externa—esta deve ser a meta de todo espírita.
· A Educação Segundo o Espiritismo. Se o Espiritismo é pedagógico, olhando a questão do lado avesso, a área específica da Pedagogia humana pode se iluminar com a perspectiva espírita. Neste sentido, a Educação espírita é a prática de uma Pedagogia à luz do Espiritismo. É exatamente o que estamos teorizando nesta obra. Muitas das idéias aqui expostas poderão ser partilhadas por adeptos de outras correntes filosóficas ou religiosas. Mas para aplicá-las inteiras, para aderir a uma formulação pedagógica completamente espírita, é preciso estar convencido dos postulados básicos da doutrina de Kardec. O educador espírita, porém, poderá e deverá exercer sua tarefa com quaisquer crianças e adultos. Se a verdadeira Educação se dá quando se desperta um processo evolutivo no educando, este processo poderá ser desencadeado em qualquer ser humano, tenha ele a cultura que tiver, seja ele partidário da religião que for. A influência benéfica de um educador, consciente de seu mandato, poderá se imprimir em qualquer educando.
Assim, educar espiritamente não é necessariamente educar para o Espiritismo. Kardec sempre enfatizou que os espíritas não deveriam fazer proselitismo e muito menos violentar consciências. No relacionamento com pessoas não espíritas, o educador espírita saberá exercer sua tarefa, sem impor suas convicções.
· O Ensino Espírita. O terceiro aspecto da Educação espírita é mais específico, é o ensino propriamente da Doutrina Espírita. Mas se não houver, por parte daqueles que estão promovendo este ensino, uma compreensão clara e uma prática engajada da Pedagogia espírita, então o processo não passará de catequese, um ensino formal, destituído de compromissos mais profundos. Na linha conceitual que temos seguido aqui, é evidente que o ensino espírita não poderá ser mera transmissão de conteúdos, mas o despertar de uma consciência espiritual.
Cenários da Educação Espírita
· A Existência. Entender o Espiritismo como Educação é ser espírita verdadeiramente. Por isso, quem é espírita de fato e pratica a caridade da Educação em todas as dimensões possíveis, faz isso existencialmente, no seu meio familiar, profissional, social, espiritual... É alguém engajado na própria evolução e na evolução coletiva. O destino espiritual do próximo não lhe será jamais indiferente. Não tomará, é claro, uma postura salvacionista, nem pretenderá mudar o mundo sozinho. Mas levará até o sacrifício o compromisso de exemplificar o bem, arrastando com isso outros seres ao contágio da virtude Amará com intensidade seu próximo mais próximo, procurando estender sempre mais seu amor ao próximo longínquo, significando esse amor justamente o empenho em ajudar o outro a encontrar seu próprio caminho evolutivo.
Consolar, amparar, servir—todos esses verbos tão conjugados em mensagens e orientações espirituais—são as atitudes fundamentais de quem ensina com a sinceridade dos sentimentos e a força do exemplo. São a ponte de acesso ao coração do próximo, não como fator de proselitismo, mas como centelha para desencadear um processo de Educação. Quem presta um serviço, quem se dispõe a se doar—se o faz com o influxo de vibrações autenticamente fraternas —pode restaurar no outro a confiança existencial e a vontade de crescer. Nesta doação fraternal, pode estar incluído um prato de comida, um passe, um agasalho... Mas a caridade deve transcender tudo isto, porque deve tocar a alma do outro.
Há pessoas que entendem a prática da Doutrina apenas no exíguo espaço do Centro Espírita. Quando estão no mundo, na profissão, na família, numa festa, nas relações sociais, agem como se não fossem espíritas. Mas o compromisso educativo existencial do adepto do Espiritismo é justamente ser em qualquer lugar e a qualquer hora um elemento de influências positivas, um pólo de transformação do ambiente. Sem prepotência, sem austeridade excessiva, sem pretensão à verdade absoluta, sem autoritarismo, como quem passa e serve, o espírita deve fazer brilhar seu empenho em ser melhor, sua fidelidade aos princípios éticos fundamentais, sua sede intelectual. . . procurando partilhar sua chama interior.
Irradiar otimismo, disposição, energia e serenidade—todas aquelas virtudes que vimos como constitutivas do verdadeiro educador—deve ser uma conseqüência natural da sua compreensão de mundo. Quem sabe que a vida é eterna, que toda tragédia é passageira, que tudo caminha para a perfeição, que todos estão sob a proteção de uma Providência misericordiosa e justa, será necessariamente uma pessoa alegre e tranqüila, no controle de si mesma, podendo com isso servir de edificação e apoio aos irmãos do caminho.
A missão pedagógica do espírita, porém, não se dá apenas no plano moral. Em todos os setores de atividade, os espíritas devem também se esforçar pelo avanço intelectual de si mesmos e da comunidade a que pertencem. Promover a cultura elevada e proporcionar meios à instrução—isso faz parte integrante de seu programa de ação. É nesse sentido que se deve abrir aqui uma crítica ao movimento espírita brasileiro, que tem se preocupado muito mais com a caridade material do que com a caridade pedagógica. Dar pão e agasalho é bem mais fácil do que educar, mas educar é uma terapêutica global e uma solução social muito mais eficaz.
Entenda-se que esse empenho pela Educação intelectual não pode significar impregnar-se de materialismo, de sofismas niilistas e de especulações vazias, que são hoje o tônus da maioria das correntes dominantes. A convicção espírita firme e sincera não é, entretanto, empecilho para o diálogo, para a abertura mental e para a tolerância ideológica.
· A Família Espírita. O mais forte impacto que o Espiritismo causa na relação entre os membros de uma mesma família é a desierarquização de funções. É verdade que os pais recebem a tarefa de educar os filhos e trata-se de tarefa de grande responsabilidade moral. Mas pais e filhos, marido e mulher, avós e netos são acima de tudo Espíritos irmãos, peregrinos da evolução humana, cada qual carregando sua herança passada e sua missão presente, essencialmente iguais, e dignos todos, moços e velhos, homens e mulheres, crianças e adultos, de respeito e amor. Nesta perspectiva, o autoritarismo patriarcal do passado perde qualquer fundamento. Espiritualmente, filhos podem até ser mais adiantados que pais. Mesmo nesse caso, não ficam os pais eximidos de sua função de educar.
Outra explicação inédita que o Espiritismo nos aponta para o entendimento das relações familiares é a lei da reencarnação. Como pai e filho, irmão e irmã, avô e neto, podem nascer adversários ferrenhos do passado. E nesse caso, a convivência cotidiana deve ser justamente a oportunidade de reconciliação e ajuste. Quando o pai ou a mãe percebe num filho uma aversão inata, uma antipatia inexplicável, podem estar certos de que a relação atual é preciosa ocasião para reajuste de ódios anteriores. Cabe então ao adulto, na posse do conhecimento espírita, procurar com mais afinco, dedicação e renúncia, conquistar o amor daquele ser a quem talvez prejudicou em eras passadas. Se aquele que tem a missão de educar permanecer com o coração endurecido e não fizer a sua parte para a reconciliação espiritual, terá fracassado duplamente, como pai ou mãe e como cristão, com o dever moral de perdoar e reconciliar-se com os adversários.
Assim, num clima não-hierárquico—onde todos se sintam acima de tudo irmãos uns dos outros—de cultivo permanente de amor e respeito mútuo, a família espírita é o cenário mais propicio e mais imediato para a Educação espírita. Evidentemente, não se trata aqui de sermões esporádicos a respeito de postulados doutrinários. Mas quando o Espiritismo está enraizado na alma, entranhado no comportamento cotidiano, como explicação para os porquês da existência, como parâmetro ético, como proposta vital—então a convicção espírita se impregna naturalmente nas crianças, marcando-as para o resto da vida.
Então, nem sequer faz sentido a questão muito polemizada por certos adeptos: se os pais devem ou não ensinar Espiritismo às crianças. Se os pais s de fato espíritas, ensinarão nos mínimos gestos, nas relações familiares, na vi profissional, e na própria prática pedagógica que adotarem com os filhos, o que é ser espírita. Mas se o Espiritismo representar apenas uma freqüência rotineira um Centro, sem que haja um engajamento existencial, então obrigar a criança ir a cursos de evangelização, como se vai a um catecismo para fazer primeira comunhão (quando os pais não são católicos praticantes) é transformar a Doutrina num formalismo religioso, sem um sentido mais profundo. É evidente que tal atitude não criará convicções; ao invés, despertará resistências.
Além da função pedagógica, específica dos pais, não se pode deixar de mencionar que a família serve como cenário educativo para todos os seus membros, desde que haja engajamento no processo de melhoria Intima. É na família que podemos e devemos em primeiro lugar conquistar e exercitar virtudes fundamentais, como altruísmo, paciência, amor ao próximo e ao mesmo tempo o empenho de contribuirmos para o progresso do outro. Trata-se, pois, de um cenário permanente e fecundo para a Educação do Espírito.
A Escola e a Universidade Espírita. É numa instituição de ensino primário, secundário ou superior, que devemos também colocar em prática a Educação segundo o Espiritismo. É preciso criar espaços institucionais, onde as crianças, os adolescentes e os jovens possam receber uma Educação integral; serem amados e observados como Espíritos imortais e reencarnados; serem estimulados a se auto-educarem... Nem todos os alunos de uma escola ou de uma universidade espírita deverão ser necessariamente adeptos do Espiritismo. Aprender o conteúdo doutrinário pode ser uma opção de pais e alunos. Mas todos deverão se beneficiar de uma visão espírita da Educação. Muitas das idéias que constituem o universo da Pedagogia Espírita vêm de uma tradição que começa em Sócrates, passa por Comenius, Rousseau, Pestalozzi e têm seu modelo máximo em Jesus. Desta forma, crianças e jovens pertencentes a diferentes credos poderão usufruir de uma Educação espiritualista, sem que suas consciências sejam violentadas por imposições.
Salvo raras exceções, as escolas espíritas que fizeram história no Brasil e outras que ainda estão atuantes, adotaram o sistema educacional vigente e apenas acrescentaram uma aula de Espiritismo, opcional ou obrigatória. Quando muito, apóiam-se numa filosofia vagamente humanista. Este não é o modelo de uma escola verdadeiramente espírita. A Doutrina não pode se reduzir a um catecismo periódico, divorciado da prática existencial. Trata-se sim de oferecer escolas com uma proposta de Educação tão revolucionária, tão superior, tão mais democrática e eficaz que as ofertas vigentes, que mesmo não-espíritas disputarão suas vagas.
Manifesta-se aí o compromisso espírita de agir pedagogicamente, tanto no sentido moral quanto intelectual e mesmo estético. E preciso abolir o conceito ultrapassado de que a boa vontade supre todas as deficiências. Escolas espíritas—sem necessidade de ostentação—devem ser modernas, com arquitetura diferençada, em meio à natureza, bem equipadas e, sobretudo, com recursos humanos qualificados. E para formar recursos humanos compatíveis, precisamos de universidades espíritas. O círculo se fecha. É imprescindível criarmos um ciclo educativo completo, pelo qual possamos educar pessoas pelo menos humanistas, que se ponham na vanguarda espiritual da sociedade e espíritas mais conscientes, com uma cosmovisão doutrinária mais integrada e fundamentada. Ao mesmo tempo em que o Espiritismo pode contribuir para a melhoria da Educação, a Educação espírita deve contribuir para o progresso do próprio Espiritismo.
Certamente, não deixarão de perguntar pelos recursos financeiros necessários a tais empreendimentos. Os recursos existem. O movimento espírita não constrói centros, asilos, hospitais, orfanatos, federações? Por que não aplicar parte destes recursos para a construção de escolas e faculdades? O que falta é uma mudança de mentalidade: é preferível, embora mais trabalhoso, aplicar dinheiro em Educação do que em assistencialismo; aliás, o próprio assistencialismo deveria ser pedagógico.
Os Centros e Instituições Espíritas. A primeira instituição espírita do mundo foi a Sociedade de Estudos Psíquicos de Paris. Lá se pesquisavam os aspectos cientifico, filosófico e moral do Espiritismo. Os participantes debatiam questões existenciais, mensagens e fenômenos mediúnicos, temas do cotidiano e notícias de jornais, teorias cientificas ou filosóficas à luz da Doutrina. Intercambio entre os próprios encarnados—entre os membros da sociedade e outras sociedades semelhantes na França e no estrangeiro—e entre encarnados e desencarnados, alimentava o progresso do Espiritismo, sob a luminosa liderança de Kardec que, apesar de sua incontestável autoridade espiritual, jamais se arvorou em chefe do movimento. O aspecto acadêmico da Sociedade—no que a academia tem de positivo em pesquisa e diálogo entre os pares e não no seu r espírito sistemático e arrogante—estava presente na Sociedade de Paris, que tinha um caráter de "estudos", portanto, um caráter pedagógico.
No Brasil, houve um processo, talvez historicamente necessário, de massificação do Espiritismo. Centros, Federações, instituições diversas atendem diariamente a milhares de pessoas em todo o país. Com isso, a Doutrina penetrou em todas as camadas da sociedade e multiplicou adeptos e simpatizantes. O Brasil se tornou o país mais espírita do mundo. Mas essa disseminação em massa teve seu preço. As casas espíritas praticam um assistencialismo social e espiritual em que o indivíduo atendido geralmente assume uma atitude muito passiva de assistir cursos, palestras, tomar passes. Às vezes, após anos e anos numa casa espírita, o freqüentador tradicional não passou de fato por um processo pedagógico de crescimento global, mas pratica o Espiritismo à moda tradicional de outras religiões: de forma rotineira, mística e destituída de significação existencial mais profunda.
Já que o movimento espírita brasileiro avançou tanto em termos numéricos, chegou a hora de darmos um salto qualitativo em suas práticas: e esse salto deve ser justamente o de caracterizar toda a atividade espírita como atividade pedagógica, segundo a própria essência da Doutrina. Pode-se objetar que as atividades desenvolvidas pelos Centros e Federações são predominantemente educacionais. Cursos, palestras, estudos doutrinários, o grande movimento da evangelização infantil, as Mocidades Espíritas, a própria assistência social— sempre acompanhada do ensino do Espiritismo—e a assistência espiritual— com a doutrinação dos Espíritos—tudo isto é Educação espírita. É verdade que o movimento espírita tem esse caráter instrutivo, mas não necessariamente pedagógico. Geralmente, é um ensino exercido de forma autoritária e conservadora, arraigado nos modelos tradicionais do sistema educacional vigente e nas heranças trazidas das igrejas. Crianças, adolescentes, jovens, adultos, que chegam à casa espírita, não se tornam educandos para assumir sua própria auto-educação, num processo participativo, dinâmico e enriquecedor.
São tratados como ouvintes passivos.
A metodologia adotada para o ensino do Espiritismo, em qualquer nível costuma ser maçante e autoritária, sem recursos didáticos, sem consciência de expositores e líderes do sentido real de um processo pedagógico.
Pode-se argumentar que um dos problemas com que se depara a casa espírita é a freqüência de pessoas traumatizadas por perdas dolorosas ou portadoras de complexos problemas obsessivos. Isso faz com que tais recém-chegados sejam muitas vezes tratados de forma paternalista. Costuma-se mesmo dizer que, para estes, o Espiritismo teria um caráter apenas consolador. E quem precisa ser consolado não está interessado em renovação. E quem está obsedado não pode ter a liberdade da palavra, nem mesmo para indagar—é o que se pensa.
É evidente que o controle de qualquer atividade espírita deve ser ass do por pessoas equilibradas, moralmente idôneas, conhecedoras e praticando Espiritismo em todos os seus aspectos. Isto não é motivo para que os outros participantes do processo sejam tratados com uma falsa superioridade. O educador verdadeiro é aquele que sabe converter traumas em motivos de edificação e crescimento e fazer da participação ativa dos educandos uma terapia para seu reequilíbrio. O primeiro passo para que se dê de fato um desencadear das potencialidades dos que freqüentam a casa espírita é que sejam acolhidos como seres pensantes e dignos de serem ouvidos. Que se tornem indivíduos conhecidos, respeitados e participantes, e não meros assistidores de palestras.
Seminários, debates, reuniões de estudos em que todos possam colocar seus questionamentos e dúvidas, a própria disposição das cadeiras em círculos e não em platéias com um púlpito longínquo—tudo isso deve fazer parte do panorama pedagógico do Centro Espírita, quebrando o monólogo autoritário dos oradores. E evidente que, para isso, o Centro não precisa nem deve se converter numa arena de disputas de opinião e de brigas pessoais. É preciso criar o hábito de debater idéias com argumentos e não com ofensas e enfrentar a divergência de opinião com naturalidade, preservando sempre os postulados básicos do Espiritismo. Com líderes conscientes, equilibrados e com sólidas convicções doutrinárias, é possível se ventilar o clima com a liberdade de expressão, mantendo-se o padrão vibratório elevado e a compreensão fraterna entre todos. Aliás, isto também deve fazer parte do aprendizado. É muito fácil se obter uma harmonia aparente, sob o tacão da disciplina autoritária. O desafio é obter a união, pela adesão voluntária de todos os participantes a uma proposta de progresso e fraternidade.
Educação mediúnica
A Educação mediúnica é um dos aspectos característicos da Educação espírita, ligada ao desabrochar das capacidades extra-sensoriais que todo ser humano deverá desenvolver em sua jornada evolutiva. Como já foi analisado (ver Cap. II), há o mediunato—compromisso específico de atuação mediúnica numa dada existência—mas além desta tarefa, todos os seres humanos têm uma mediunidade geral, mais ou menos cultivada.
No caso de o indivíduo possuir algum dom mediúnico específico, a Educação mediúnica tem por meta possibilitar seu desenvolvimento e uso equilibrado, sadio e positivo. No caso de mediunidade difusa, não-específica, a meta é a de aguçar a sensibilidade extra-sensorial, a intuição, a percepção psíquica—coisas presentes em todos os seres humanos.
Tanto num como noutro caso, são facetas da proposta espírita: o controle racional das faculdades mediúnicas, fruto do estudo acurado dos fenômenos e da auto-análise que todo espírita comprometido com sua auto-educação deve permanentemente promover; o uso da mediunidade para fins úteis, nobres e cristãos; o cuidado para não converter nenhum dom mediúnico em fonte de riqueza material, de projeção pessoal ou de manipulação psíquica, ou seja, mediunidade com absoluto desinteresse e devotamento.
A Educação mediúnica não é meramente um apossar-se de técnicas, mas deve ser um fator de evolução global para o Espírito; uma possibilidade real de aperfeiçoamento moral e de prática do Bem. Os parâmetros éticos da mediunidade se sobrepõem aos aspectos técnicos, inclusive como garantia de controle do fenômeno e de atração de bons Espíritos—ao contrário de certas correntes espiritualistas que acentuam a frieza da técnica em detrimento do amor que deve orientar a utilização dos dons psíquicos.
Se, conforme Herculano Pires, O Livro dos Espíritos é um manual de Educação Integral, O Livro dos Médiuns é um manual de Educação mediúnica, que pela primeira vez na história humana colocou balizas éticas e racionais para a prática da mediunidade.
A EDUCAÇÃO SEGUNDO O ESPIRITISMO – Dora Incontri