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quinta-feira, 22 de julho de 2021

O DESERTO E NÓS







                         
[...]Estamos no deserto de nós mesmos em múltiplas e diferentes ocasiões: nos testemunhos das doenças prolongadas, com árduos tratamentos; nas experiências íntimas e dolorosas  das decepções, deserções e traições; nos momentos intransferíveis das escolhas decisivas; nas ações solitárias da consciência iluminada na direção do Bem em seu caleidoscópio de possibilidades; na vivência da saudade do magnetismo e presença dos entes queridos que nos antecederam na grande viagem; na solidão das tarefas iluminativas e reparadoras; nas aspirações sublimes de plenitude[...]Uma verdade, porém, é incontestável: temos que entrar no deserto de nós mesmos, com coragem e decisão, para nele encontrarmos as lições que nos conduzirão aos caminhos seguros ...
Fragmento de texto 




O DESERTO E NÓS


Quando ouvimos falar na Terra Santa prometida pelo Senhor, somos conduzidos pela imaginação a pensar numa terra extremamente bela, rica e fértil.
Equívoco!
A Terra Prometida tem sim, algumas belezas, riquezas e fertilidade, mas possui também um imenso deserto. Quais os sentidos dessa estranha presença?
Que lições podemos encontrar no deserto?

Na chamada Terra Santa ,o deserto é uma característica determinante na vida e na cultura dos povos que a habitam, apresentando-se ao leste de qualquer grande cidade: Jerusalém, Belém, Hebron, dentre outras. Mas é um deserto diferente: nada de imensas dunas de areias mas incontáveis montanhas marrons, cascalhos de erosão, cânions e vales, calor, serpentes, escorpiões, perigos e mortes e, claro, alguns oásis nos seus milhares de quilômetros.

A tradição judaico-cristã está marcada pela presença do deserto e suas lições. Abraão, Jacó, Moisés e o povo que conduzia, Davi, Elias, João Batista, Jesus e os discípulos, Paulo viveram experiências no deserto em ocasiões e sentidos diferentes.

Que sentidos podem apresentar essas experiências no deserto? Fé e obediência para Abraão, por exemplo; desafio e formação para Moisés e seu povo; abrigo para Jacó, Davi e Elias; cenário de meditação e ensino para João Batista e Jesus; disciplina e educação para Paulo.

O homem que descia de Jerusalém para Jericó, na parábola narrada por Jesus, o fazia por um caminho pelo deserto, o que torna a ação compassiva, socorrista e fraternal do samaritano ainda mais extraordinária, pois atender o agredido pelos bandidos implicava em colocar sua própria vida em risco.

Jesus e os discípulos se dirigiam frequentemente ao deserto para recolhimento e oração.

Curiosamente, nos relatos bíblicos, Deus aprecia falar no deserto e o fez com Abraão, Moisés, Elias. Isso nos faz pensar que o deserto é uma experiência de escuta e de autoescuta.

Foi no deserto de Dan, em companhia do casal Áquila e Prisca, que Paulo realizou um profundo processo de autoeducação: autoconhecimento, autoavaliação, meditação, disciplinas morais, privações, lutas internas, convívio fraternal, trabalho, mudança de paradigmas. Para o Apóstolo dos Gentios, o deserto foi uma experiência formativa para seu novo caráter que, a partir de então, passa a ter Jesus e o Evangelho como padrão de conduta.

E nossa experiência desértica? Podemos ou a temos de fato? Não precisaremos exatamente do deserto físico, material, mas da experiência do autoencontro e da autoescuta, da solidão no deserto de nós mesmos.

Estamos no deserto de nós mesmos em múltiplas e diferentes ocasiões: nos testemunhos das doenças prolongadas, com árduos tratamentos; nas experiências íntimas e dolorosas  das decepções, deserções e traições; nos momentos intransferíveis das escolhas decisivas; nas ações solitárias da consciência iluminada na direção do Bem em seu caleidoscópio de possibilidades; na vivência da saudade do magnetismo e presença dos entes queridos que nos antecederam na grande viagem; na solidão das tarefas iluminativas e reparadoras; nas aspirações sublimes de plenitude.

A multiplicação dos pães e peixes, que alimentou milhares de pessoas, ocorreu no deserto para onde as multidões seguiam a fim de ouvir o Senhor e dEle receber as bênçãos e curas.

Façamos o mesmo! Sigamos para nosso deserto agora em busca do Seu alimento, Sua bênção de curas das nossas dificuldades e temores internos, Seus ensinos libertadores.

Ao estar no deserto, enfim, podemos nos revoltar ou nos redimir, nos entregar aos seus perigos e suas consequências ou nos fortalecer no enfrentamento positivo dos desafios da Vida. Uma verdade, porém, é incontestável: temos que entrar no deserto de nós mesmos, com coragem e decisão, para nele encontrarmos as lições que nos conduzirão aos caminhos seguros nos labirintos da existência, ao autoencontro da harmonia conosco, com o próximo, com Deus e com a Natureza.


 Por Sandra Borba Pereira (RN)/  dezembro/2014 

terça-feira, 11 de novembro de 2014

SEXO E DISCIPLINA."...saibamos atender à educação do caráter, para que o caráter não se transvie..."


 
Emmanuel
 
O sexo, na Terra, muitas vezes é apontado à conta de porão emotivo.
Dele se ocupa a imprensa, nas tragédias passionais, como se esvurmasse uma chaga, e muitos religiosos lhe definem as manifestações como efeitos do Mal.
Entretanto, é no sexo que a vida cunha passaporte ao renascimento, acalentando a bênção do lar.
Através dele, retomamos o fio de nossas experiências, recebemos o carinho dos pais, abençoamos a esperança dos filhos e recolhemos precioso estímulo para a luta. Mas é igualmente por ele que forjamos perigosas obsessões e abusos inomináveis, criando para nós mesmos a sombra da loucura ou a grade da delinqüência.
A Bondade Divina no-lo concede como portal de luz.
Em muitas circunstâncias, contudo, atravessamo-lo, tomados de paixão, qual se densas trevas nos envolvessem.
Isso acontece, no entanto, à face da ignorância deliberada com que nos conduzimos no assunto.
Estabelecemos medidas seguras para evitar essa ou aquela calamidade e cultivamos minuciosa atenção nesse ou naquele círculo da existência.
A vacinação preserva a saúde física.
A polícia rodoviária previne desastres.
Diques governam cursos dágua.
Máquinas poderosas controlam a força elétrica.
Nossos jovens são escrupulosamente examinados em noções de Física ou de Matemática.
Tiramos radiografias, relativamente perfeitas, das vísceras e dos ossos.
Contamos o número de hemácias numa gota de sangue.
Sabemos prever com exatidão o próximo eclipse do Rol.
Todavia, em matéria de sexo, quase sempre a impropriedades aparecem de chofre, sem qualquer profilaxia de nossa parte.
É necessário, assim, saibamos atender à educação do caráter, para que o caráter não se transvie.
Lembremo-nos de que a Natureza, retratando as leis de Deus, não guarda qualquer capricho.
As estações do tempo funcionam, com regularidade, há milênios.
A gravitação é a mesma para justos e injustos.
Tudo na Criação é trabalho e ordem, evolução e obediência.
Reconhecendo-se, desse modo, que os valores emocionais vigem por nossa conta, toda vez que o sexo eclode, sem disciplina, o naufrágio moral surge perto.
Cabe, pois, aqui recordar as palavras do Mestre Divino :
- "Não é o que entra pela boca que contamina as criaturas, mas sim o que lhes vem do coração."
E, sem dúvida, o sexo será sempre uma das portas mais importantes do sentimento.
 
Do livro Correio Fraterno. Espíritos Diversos.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
 
 

quarta-feira, 5 de junho de 2013

NO DOMÍNIO DAS PROVAS

NO  DOMÍNIO  DAS  PROVAS

Emmanuel
 
 Imaginemos um pai que, a pretexto de amor, decidisse furtar um filho querido de toda relação com os revezes do mundo.
 Semelhante rebento de tal devoção afetiva seria mantido em sistema de exceção.
 Para evitar acidentes climáticos inevitáveis, descansaria exclusivamente na estufa, durante a fase de berço e, posto a cavaleiro, de perigos e vicissitudes, mal terminada a infância, encerrar-se ia numa cidadela inexpugnável, onde somente prevalecesse a ternura paterna, a empolgá-lo de mimos.
 Não freqüentaria qualquer educandário, a fim de não aturar professores austeros ou sofrer a influência de colegas que não lhe respirassem o mesmo nível; alfabetizado, assim, no reduto doméstico, apreciaria unicamente os assuntos e heróis de ficção que o genitor lhe escolhesse.
 Isolar-se-ia de todo o contacto humano para não arrostar problemas e desconheceria todo o noticiário ambiente para não recolher informações que lhe desfigurassem a suavidade interior.
 Candura inviolável e ignorância completa.
 Santa inocência e inaptidão absoluta.
 Chega, porém, o dia em que o genitor, naturalmente vinculado a interesses outros, se ausenta compulsoriamente do lar e, tangido pela necessidade, o moço é obrigado a entrar na corrente da vida comum.
 Homem feito, sofre o conflito da readaptação , que lhe rasga a carne e a alma, para que se lhe recupere o tempo perdido, e o filho acaba, enxergando insânia e crueldade onde o pai supunha cultivar preservação e carinho.
 A imagem ilustra claramente a necessidade da encarnação e da reencarnação do espírito nos mundos; inumeráveis da imensidade cósmica, de maneira a que se lhe apurem as qualidades e se lhe institua a responsabilidade na consciência.
 Dificuldades e lutas semelham materiais didáticos na escola ou andaimes na construção; amealhada a cultura, ou levantado o edifício, desaparecem uns e outros.
 Abençoemos, pois, as disciplinas e as provas com que a Infinita Sabedoria nos acrisolam as forças, enrijando-nos o caráter.
 Ingenuidade é predicado encantador na personalidade, mas se o trabalho não a transfigura em tesouro de experiência, laboriosamente adquirido, não passará de flor preciosa a confundir-se no pó da terra, ao primeiro golpe de vento.
(De “Coragem”, de Francisco Cândido Xavier – Espíritos Diversos)
 

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

RENOVAÇÃO


As revelações dos Espíritos convidam naturalmente a ideais mais elevados, a propósitos
mais edificantes.
Para as inteligências realmente dispostas à renunciação da animalidade, são elas sublime
incentivo à renovação interior, modificando a estrutura fluídica do ambiente mental que
lhes é próprio.
Se a civilização exige o desbravamento da mata virgem, para que cidades educadas
surjam sobre o solo e para que estradas se rasguem soberanas, é indispensável a
eliminação de todos os obstáculos, à custa do sacrifício daqueles que devotam ao
apostolado do progresso.
A Humanidade atual, em seu aspecto coletivo, considerada mentalmente, ainda é a
floresta escura, povoada de monstruosidades.
Se nos fundamentos evolutivos da organização planetária encontramos os animais préhistóricos,
oferecendo a predominância do peso e da ferocidade sobre quaisquer outros
característicos, nos alicerces da civilização do espírito ainda perseveram os grandes
monstros do pensamento, constituídos por energias fluídicas, emanadas dos centros de
inteligência que lhes oferecem origem.
Temos, assim, dominando ainda a formação sentimental do mundo, os mamutes da
ignorância, os megatérios da usura, os iguanodontes da vaidade ou os dinossauros da
vingança, da barbárie, da inveja ou da ira.
As energias mentais do habitantes da Terra tecem o envoltório que os retém à superfície
do Globo. Raros são aqueles cuja mente vara o teto sombrio com os raios de luz dos
sentimentos sublimados que lhes fulguram no templo íntimo.
O pensamento é o gerador dos infracorpúsculos ou das linhas de força do mundo
subatômico, criador de correntes de bem ou de mal, grandeza ou decadência, vida ou
morte, segundo a vontade que o exterioriza e dirige. E a moradia dos homens ainda está
mergulhada em fluidos ou em pensamentos vivos e semicondensados de estreiteza
espiritual, brutalidade, angústia, incompreensão, rudeza, preguiça, má-vontade, egoísmo,
injustiça, crueldade, separação, discórdia, indiferença, ódio, sombra e miséria...
Com a demonstração da sobrevivência da alma, porém, a consciência humana adquire
domínio sobre as trevas do instinto, controlando a corrente dos desejos e dos impulsos,
soerguendo as aspirações da criatura para níveis mais altos.
Os corações despertados para a verdade começam a entender as linhas eternas da
justiça e do bem. A voz do Cristo é ouvida sob nova expressão na mais profunda acústica
da alma.
Quem acorda converte-se num ponto de luz no serro denso da Humanidade, passando a
produzir fluidos ou forças de regeneração e redenção, iluminando o plano mental da Terra
para a conquista da vida cósmica no grande futuro.
Em verdade, pois, nobre é a missão do Espiritismo, descortinando a grandeza da
universalidade divina à acanhada visão terrestre; no entanto, muito maior é muito mais
sublime é a missão do nosso ideal santificante com Jesus para o engrandecimento da
própria Terra, a fim de que o Planeta se divinize para o Reino do Amor Universal.

Livro: Roteiro
Chico Xavier/Emmanuel

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

"Se a tristeza e o desânimo te procuram, acende a lanterna da coragem e resiste ao sopro frio do desalento..."

NA PREPARAÇÃO DO REINO DA LUZ
Emmanuel
Chamados a substancializar o Evangelho de Jesus no campo da vida
humana, decerto, nós outros, os espíritos encarnados e desencarnados, somos
constrangidos a levantar em nós mesmos os alicerces do Reino de Deus, adstritos à
verdade de que o Céu começa em nós mesmos.
Em razão disso, os antigos processos de construção palavrosa, através dos
quais o verbo, muita vez, pretende superar o nível do exemplo, não podem constituir
padrão às nossas atividades.
Também nós possuímos o tesouro do tempo, muito mais expressivo do que
a riqueza amoedada, e, por isso, ao invés de criticar o companheiro que padece a
obsessão da autoridade e do ouro, será mais justo operar com o nosso próprio trabalho a
lição da bondade incessante sem nos perder no vinagre da censura ou do nevoeiro da
frase vazia.
Nós, igualmente, guardamos conosco os talentos da fé raciocinada, muito
mais sólidos que os da crença vazada em cegueira da alma, competindo-nos, desse
modo, não a guerra de revide ou condenação aos que nos esposam os pontos de vista,
mas, sim, a prática da tolerância fraterna e da caridade genuína, pelas quais os nossos
companheiros de evolução e de experiência consigam ler a mensagem da Vida Maior,
abandonando naturalmente as grilhetas da ignorância.
Não nos bastará, dessa forma, a confissão labial da fé como entusiasmo de
quem se vê na iminência dos princípios superiores.
É necessário saibamos comungar a esperança e o sofrimento, a provação e
a dificuldade dos outros, abençoando os irmãos que nos partilham a marcha e
ensinando-lhes, pela cartilha de nossas próprias ações, o caminho renovador, suscetível
de oferecer-lhes a bênção da paz.
Sem dúvida, milhões de inteligências se agregam à ilusão e à crueldade,
descerrando aos homens resvaladouros calamitosos, preparando o domínio da morte e
fortalecendo o poder das trevas, todavia, a nós outros se roga o cérebro e o coração para
que o Cristo se manifeste em plenitude de sabedoria e de amor, nas vitórias do espírito,
por intermédio das quais a Humanidade ainda na sombra será, finalmente, investida na
posse da Eterna Luz.
Se a tristeza e o desânimo te procuram, acende a lanterna da
coragem e resiste ao sopro frio do desalento, prosseguindo no trabalho que a
vida te confiou.


Livro: Alvorada do Reino
Chico Xavier e Emmanuel

"Indolência e desânimo, são ervas parasitárias, aniquilando-te a produção."


SERVIDOR DA ÚLTIMA HORA
Emmanuel

No estudo da posição daquele trabalhador de última hora, credor de precioso salário, a que se reporta o Evangelho, mentalizemos uma oficina com determinada tarefa a realizar. Revelando as diretrizes, que lhe governam a experiência,
convocou diversos operários para o serviço em expectação.

Os primeiros chegados, quando a manhã surgia promissora, começaram a examinar indefinidamente a obra, discutindo particularidades e nugas, com menosprezo do tempo.

Os segundos, trazidos a realização, sentiram-se repentinamente cansados, acreditando muito mais na própria indisposição orgânica que no poder de agir que lhes era peculiar.

Os terceiros, transportados ao recinto quando o Sol avançava, preferiram invariável repouso, à espera de orientação e esclarecimento, como se a oficina lhes não houvesse ofertado, previamente, o programa de ação.

Os demais, conduzidos à casa nas derradeiras horas do dia, estacionaram na queixa e no desânimo, no medo e na distração...
Acotovelavam-se todos, inutilmente, esquecidos de que o serviço lhes rogava devotamento e consagração.

Eis, porém, que nos últimos instantes do dia, o servidor diligente é trazido ao trabalho e atende-o sem discussão.

Naturalmente que a esse o vencimento é mais justo, pelo esforço construtivo que lhe assinalou a presença e lhe marcou a decisão.

Conserva contigo o ensinamento do Divino Mestre e não desfaleças.

Ao longo de teus passos, aparece no mundo a sementeira do bem, que te pede renúncia e boa vontade, sacrifício e compreensão.

Desperta e efetua a obra de amor a que foste chamado, porque o valor de tua existência na carne não será conferido pelos dias longos que desfrutes na Terra ou pelos tesouros do corpo e da alma que retenhas contigo, mas, sim, pela tarefa executada no bem incessante que te será coroa de luz, na luz da Vida Real.

Onde fores defrontado pela calúnia, sê a palavra amiga do esclarecimento benéfico.

Indolência e desânimo, são ervas parasitárias, aniquilando-te a
produção.

Livro : Alvorada do Reino
Chico Xavier e Emmanuel.

sábado, 15 de dezembro de 2012

O Aprendiz Desapontado:..."- O primeiro caminho para o Céu é a obediência e, o segundo, é o trabalho..."

O Aprendiz Desapontado
Um menino que desejava ardentemente residir no Céu, numa
bonita manhã, quando se encontrava no campo, em companhia de
um burro, recebeu a visita de um Bom Espírito.
Reconheceu, depressa, o emissário de Cima, pelo sorriso bondoso
e pela veste resplandecente.
O rapazelho gritou:
- Mensageiro de Jesus, quero o paraíso! Que fazer para chegar até
lá?!
O Espírito respondeu com gentileza:
- O primeiro caminho para o Céu é a obediência e, o segundo, é o
trabalho.
O pequeno, que não parecia muito diligente, ficou pensativo.
O enviado de Deus então disse:
- Venho a este campo, a fim de auxiliar a Natureza que tanto nos
dá.
- o menino ficou pensativo. E o Espírito convidou:
- Queres ajudar-me a limpar o chão, carregando estas pedras para
o fosso vizinho?
O menino respondeu:
- Não posso.
O emissário celeste se dirigiu ao burro:- Você quer ajudar-me?
O animal pacientemente,transportou tudo.
O Espírito passou a dar ordens: - Abramos um caminho.
- Eu não! Disse o menino.
- Ajudarei... prontificou-se o burro.
-Vamos mover o arado. Sugeriu o Espírito.
-Safa! Não quero nada , disse o menino.
-Eu ajudo... apresentou-se o burro
Durante a sementeira, o pequeno repousava e o burro trabalhava.
Abriram um filete de água.
O jovem, cheio de saúde e de leveza, permanecia amuado,
choramingando sem razão.
No fim do dia, o campo estava lindo.
Canteiros bem desenhados surgiam ao centro, ladeados por fios
de água benfeitora.
As árvores pareciam orgulhosas de proteger os canteiros. O vento
parecia um sopro divino no matagal.
A Lua espalhou intensa claridade.
O Espírito abraçou o obediente animal.
- Deus abençoe sua contribuição, meu amigo, disse o Espírito.
O menino viu que o mensageiro se punha de volta, gritou,
ansioso:
- Espírito querido, quero seguir contigo, quero ir para o Céu!...
O emissário divino respondeu, porém:
- O paraíso não foi feito para gente preguiçosa.
E o emissário informou:
Se você deseja encontrá-lo, aprende primeiramente a obedecer
com o burro que soube ser disciplinado e educado também.
E assim esclarecendo subiu para as estrelas, deixando o rapazinho
desapontado, mas disposto a mudar de vida.

A Vida Fala.
Néio Lúcio/Chico Xavier

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O Dilema da Disciplina


CEZAR BRAGA SAID
É bastante comum em nossos dias ouvirmos reclamações de pais e
professores, em torno do comportamento indisciplinado de crianças e jovens.
Palavrões, brigas, pichações, desrespeito aos mais velhos, desleixo com a
aparência, iniciação sexual precoce, gravidez na adolescência, etc., fazem parte
do rol de atitudes mencionadas para caracterizar esse comportamento
indisciplinado.
Não se pode perder de vista o despreparo dos pais na condução da prole.
Quando bem dotados financeiramente, matriculam os filhos nas melhores
escolas, proporcionam-lhes viagens de estudos e entretenimento, oferecem-lhes
cursos de informática e idiomas, alimentação apurada, cuidando com extremo
desvelo do corpo, investindo somente na sua formação intelectual.
A formação moral, quando lembrada, é relegada para alguma religião ou
transferida para a escola, pois estes mesmos pais estão muito ocupados com
outros afazeres ou envolvidos com outras atividades que consideram relevantes.
Nas famílias menos dotadas de recursos materiais, o desenvolvimento da
criança já se vê comprometido em razão da carência alimentar, da falta de tempo
dos pais para orientá-los, pois saem muito cedo para trabalhar e retornam muito
tarde. Existindo então outros compiladores.
Às vezes a criança é filha de pais separados, que por razões diversas nem
sempre conseguem atender convenientemente às suas carências e necessidades.
A televisão tornou-se de um tempo para cá a companheira e a educadora
de muitas das nossas crianças e jovens, e, infelizmente, uma companhia
altamente questionável.
É preciso que se diga, ainda, que os professores, na grande maioria, não
foram preparados para lidar com crianças que apresentam problemas de
comportamento e nem com aquelas portadoras de necessidades especiais.
Quando conseguem um mínimo de conhecimento teórico, é porque fazem algum
curso adicional ou a larga experiência dos anos lhes fez acumular conhecimentos
suficientes sobre o assunto.
Ao despreparo dos pais junta-se o despreparo dos professores.
Considerando essa variedade de fatores que, até certo ponto, explicam os
problemas apresentados pelos educandos, não podemos esquecer que eles são
Espíritos reencarnados, trazendo tendências e aptidões das vidas passadas. E
que os mesmos possuem afetos e desafetos no mundo espiritual, influenciando lhes
direta ou indiretamente o comportamento.
Com tudo isso, como estabelecer uma disciplina que prepare, oriente e
colabore na formação de homens de bem?
Didaticamente podemos pensar em três níveis de disciplina:
·  PREVENTIVA
·  PUNITIVA
·  REPARADORA
A disciplina preventiva é aquela que é trabalhada desde a gestação,
perpassando todas as fases do desenvolvimento biopsicossocial da criança.
Paulo Freire (1989) salienta que a disciplina externa é necessária para
estruturar a interna e que a criança entregue a si mesma dificilmente se
disciplina. A presença e o exercício da autoridade paterna e materna é
indispensável na construção da sua autonomia.
Parafraseando o educador Rubem Alves (1988), afirmamos que é
necessário libertar a criança das disciplinas desnecessárias, a fim de que ela
consiga lidar com aquelas que são inevitáveis no caminho de qualquer pessoa
adulta, e até mesmo aceitá-las.
Como é importante a presença de limites, de regras na fase infantil. E
disciplina não é apenas um conjunto de normas que estipulam deveres a ser
cumpridos. A natureza possui uma disciplina sem a qual os mares invadiriam as
regiões continentais, os continentes gelados se derreteriam, as cadeias
alimentares entrariam em desequilíbrio, os planetas colidiriam uns com os outros.
O amor estabelece a disciplina do bem--querer, do perdoar incessantemente, do
fazer o bem a quem nos faz o mal e assim por diante.
Não podemos e nem devemos associar disciplina a surras e agressões,
pois esse tipo de postura já é violência e não disciplina.
Joanna de Ângelis (1991) fala-nos de três tipos de indivíduos adultos, que
resultam de uma educação bem ou mal orientada:
a) Os insatisfeitos: são aqueles que foram vítimas de pais instáveis
emocionalmente, despreparados para orientarem seus filhos para a vida. Pais
violentos ou indiferentes.
b) Os dependentes: são aqueles que foram mimados, tiveram todas as
suas vontades e caprichos satisfeitos, viveram numa redoma e quando em
contato com o mundo, precisando cortar o cordão umbilical e decidir, optar,
entram em crises ou sempre recorrem a quem possa decidir por eles.
c) Os realizados: são pessoas que vivem instantes de dependência e de
insatisfação, mas conseguem administrar bem os seus conflitos. Normalmente
conviveram com regras e tiveram afeto durante a infância, e graças a isso,
desenvolveram uma capacidade de decidir com autonomia, correndo os riscos
necessários e assumindo as conseqüências dos seus atos.
A disciplina punitiva é aquela aplicada nos presídios, nos lares onde os
pais corrigem com violência seus filhos, nos países onde o crime é punido com
outro crime (pena de morte), e que, inevitavelmente, não promove, não remove
as causas da indisciplina.
A esse respeito Pedro de Camargo (1977) escreveu:
“Para bem agirmos em prol do saneamento moral, precisamos partir deste
princípio: o crime não é o criminoso, o vício não é o viciado, o pecado não é o
pecador (...) o doente não é a doença. Assim como se combatem as
enfermidades e não os enfermos, assim também se deve combater o crime, o
vício e o pecado, e não o criminoso, o viciado e o pecador”.
Theobaldo Miranda Santos (1964) afirma que os castigos ministrados com
raiva até acentuam a revolta da criança. É necessário que ela perceba na
correção de que é objeto o propósito do seu aperfeiçoamento.
A disciplina reparadora é a única capaz de ir até as causas da indisciplina,
que se localizam no Espírito imortal, e que segundo Ney Lobo (1989), citando
Allan Kardec, residem no instinto de conservação exagerado e no
desconhecimento do passado e do futuro do Espírito. Só ela pode minimizar a
crença na superioridade individual, o orgulho e o egoísmo, que conduzimos em
nosso cerne.
Exemplificando, é preciso que a criança seja levada a corrigir o que errou,consertar o que quebrou, repor o que retirou, desculpar-se com quem ofendeu, fazendo sempre uma ação contrária e correta àquela que foi considerada uma indisciplina.
Conscientizando-se de que errou.
É claro que isso não se consegue sempre no exato momento em que ela é
flagrada em erro. É preciso que os educadores, de modo geral, tenham o tato
necessário para aguardar a hora certa de solicitar a correção. No calor das
emoções exaltadas é muito difícil que a criança se predisponha a essa
reparação. E não raro, quando se exige isso logo de imediato, comete-se um
outro erro, o de humilhá-la, obrigando-a a uma correção forçada e exterior, sem
que ela se convença do seu equívoco. Escreve o filósofo Ney Lobo (1989) que:
“O grau de responsabilidade disciplinar do educando deve ser diretamente
proporcional à gravidade da falta, ao grau de liberdade em cometê-la ou não e a
sua idade, não somente biológica ou mental, mas relativa ao nível espiritual. Esta
idade espiritual se apresenta através dos componentes: inteligência e moralidade
(variáveis de um espírito para outro)”.
É com a disciplina reparadora que a criança conseguirá ser um adulto
realizado, nas palavras de Joanna de Ângelis, libertando-se de sentimentos de
culpa, da censura social, estruturando sua disciplina interna e utilizando seu livrearbítrio
sempre para o bem.
Diz-nos também Allan Kardec (1997) no livro “O Céu e o Inferno”:
“Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as três
condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas
conseqüências. O arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo pela
esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o
efeito destruindo-lhe a causa.”
Só nos resta investir cada vez mais na Educação do Espírito, se
quisermos fazer da Terra um mundo feliz, governado por Homens inteligentes e
bons, regidos pela disciplina do Amor. L
BIBLIOGRAFIA
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina segundo o Espiritismo. Rio de
Janeiro, FEB,1997.
ALVES, Rubem. O Enigma da Religião. Campinas: Papirus, 1988.
CAMARGO, Pedro de. O Mestre na Educação. Rio de Janeiro: FEB, 1977.
FRANCO, Divaldo Pereira. Momentos de Consciência. Pelo Espírito Joanna de Ângelis.
Salvador: Alvorada, 1991.
FREIRE, Paulo. Dialogando sobre disciplina. In: D’ANTOLA, Arlette (org). Disciplina na
escola: Autoridade versus autoritarismo. São Paulo: EPU, 1989.
LOBO, Ney. Filosofia Espírita da Educação. Rio de Janeiro: FEB, 1989.
SANTOS, Theobaldo Miranda. Noções de Filosofia da Educação. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1964

Reformador : Dezembro de 1999

sábado, 11 de agosto de 2012

Disciplina Fraterna



O problema da disciplina no Centro Espírita é dos mais melindrosos e deve ser encarado entre as coordenadas da ordem e da tolerância. Não se pode estabelecer e manter no Centro uma disciplina rígida, de tipo militar. O Centro é, além de tudo o que já vimos, um instrumento coordenador das atividades espirituais. No esquema das suas sessões teóricas e práticas a questão do horário é imperiosa, mas não deve sobrepor-se às exigência do amor fraterno. Não é justo deixarmos fora da sessão companheiros dedicados ou necessitados, porque chegaram dois ou três minutos atrasados. Vivemos num mundo material e não espiritual, em que as pessoas lutam com dificuldades várias no tocante à locomoção, de compromissos diversos, e é justo que se dê uma pequena margem de tolerância no horário. Essa margem não deve também ser estabelecida com rigor, mas deixada ao critério do dirigente dos trabalhos, que saberá dosar as coisas de acordo com as conveniências. O rigor exagerado na questão de horário, mormente nas cidades mais populosas, causa aborrecimentos e mágoas a pessoas sensíveis que, depois de aflição e correria para chegar na hora certa, viram-se impedidas de participar da reunião por alguns segundos ou minutos. Temperando-se as exigências da ordem cronológica com o dever da atenção aos companheiros podemos evitar aborrecimentos perfeitamente superáveis. Claro que esse é um problema a ser sempre esclarecido nas reuniões, para que todos possam ter conhecimento da flexibilidade possível no horário. O simples fato de haver essa flexibilidade, já tira à disciplina o seu aspecto opressivo.
Essa mesma dosagem de ordem e tolerância deve ser aplicada a outros problemas, de maneira a assegurar-se, o mais possível, um ambiente geral sem prevenções, que muito ajudará na realização dos trabalhos.
Tratamos das almas frágeis no capítulo anterior. Devemos agora tratar das almas fortes, as mais apegadas ao problema disciplinar. As almas fortes são aquelas que procedem de linhas evolutivas em que os espíritos se aperfeiçoam no uso da independência e da coragem. Por isso mesmo trazem consigo um condicionamento disciplinar que não aceita facilmente as concessões a que aludimos. Uma palavra rude de uma alma forte, embora não intencional, pode ferir a susceptibilidade de uma alma frágil, prejudicando-a no seu equilíbrio por uma insignificância. Ora, segundo a regra geral das relações humanas, o forte deve proteger e amparar o fraco, para ajudá-lo a se fortalecer. Os dirigentes de trabalhos devem cuidar de evitar esses pequenos atritos que não raro têm conseqüências muitas maiores do que se pensa. Por outro lado, as almas fortes precisam controlar os seus impulsos pelo pedido consciencial da fraternidade. Há pessoas que, por se sentirem mais fortes, decisivas e poderosas que as outras, embriagam-se com a ilusão do poder, desrespeitando os direitos alheios e sobrepondo-se, com rompança às opiniões dos outros. Atitudes dessa natureza, no meio espírita e no Centro, causam má impressão e constrangimento no ambiente, fomentando malquerenças desnecessárias. Em se tratando de Espiritismo, tudo se deve fazer para manter-se um ambiente de compreensão e fraternidade, sem exageros, tocado o possível de alegria e camaradagem. Num ambiente assim arejado, desprovido de tensões, a espiritualidade flui com facilidade e os Espíritos orientadores encontram mais oportunidade de tocar os corações e iluminar as mentes.
Por menor que seja, o Centro dispõe sempre de mais de um setor de atividades. Deve-se fazer o possível para que em todos eles reine um ambiente fraterno, que é o mais poderoso antídoto dos desentendimentos. A disciplina desses trabalhos, mesmo quando exija maior severidade, como no caso das sessões de desobsessão, deve ser tocada pela boa vontade e a compreensão fraterna. Sem isso, particularmente em se tratando de desobsessão, dificilmente conseguiríamos resultados satisfatórios. Mas a franqueza também é elemento importante na boa solução dos problemas. Quando necessário, o dirigente deve chamar o obsedado em particular e expor-lhe com clareza o que observou a seu respeito, aconselhando-o a mudar de comportamento para poder melhorar. A verdade deve estar presente em todos os momentos das atividades espirituais, mas a verdade nunca pode ser agressiva, sob pena de produzir o contrário do que se deseja.
Não queremos esmiuçar todos os problemas e todas as situações no funcionamento de um Centro, pois isso seria cansativo e desnecessário. Tocamos apenas em alguns pontos para abrir diretrizes aproveitáveis, segundo a experiência de longos anos nas lides doutrinárias. Outros, com mais capacidade e mais penetração, poderão completar o nosso trabalho com suas contribuições. Nosso desejo é apenas ajudar os companheiros que tantas vezes se aturdem com as dificuldades encontradas. Não propomos regras como possível autoridade, que não somos e ninguém o é, num campo de experiências em que quanto mais se aprofunda mais se tem a aprender.
A disciplina de um Centro Espírita é principalmente moral e espiritual, abrangendo todos os seus aspectos, mas tendo por constante e invariável a orientação e a pureza de intenções. Os que mais contribuem para o Centro são os que trabalham, freqüentam, estudam e procuram seguir um roteiro de fidelidade à codificação Kardeciana. Muito estardalhaço, propaganda, agitação só pode prejudicar as atividades básicas e essenciais do Centro, humanitárias e espirituais, portanto recatadas e silenciosas. Os problemas do Centro são de ordem profunda no campo do espírito. Mas apesar disso não se pode desprezar as oportunidades de divulgação e principalmente de orientação doutrinária para o povo em geral. Não precisamos de aumentar forçadamente os nossos grupos, somos contrário ao proselitismo, sabemos que nem todos podem aceitar os nossos princípios, mas sabemos também que a Verdade deve sempre ser posta ao alcance de todos. Quem quiser encontrá-la não precisará procurar lugares especiais, deve encontrá-la em qualquer parte em que um jornal, um programa de rádio, um livro, um folheto estiver ao seu alcance. Não convertemos nem devemos tentar converter ninguém, pois, como ensinava Kardec, nem todos estão em condições de afinar-se espiritualmente na compreensão dos problemas novos que o Espiritismo apresenta ao mundo em renovação. Mas aqueles que amadureceram na idade espiritual serão úteis na batalha para o amadurecimento de outros.
A disciplina autoritária e rígida teve a sua função na disciplinação dos povos bárbaros após a queda do Império Romano. Essa coerção prosseguiu pelo tempos sombrios do Medievalismo. Mas a Era da Razão que surgiu da noite medieval, reivindicou os direitos individuais do homem, na linha ateniense do esclarecimento cultural. O domínio natural da Igreja esgotou-se nos albores do Renascimento, mas o domínio artificial, fundado nos poderes políticos e econômico-financeiros da organização clerical estenderam-se aos tempos modernos e ainda se exerce, embora enfraquecido e estropiado, no mundo contemporâneo, em pleno alvorecer da Era Cósmica. Essa anomalia histórica, nos entrechoques contraditórios da fase de transição, resolve-se aos nossos olhos num desvio violento provocado pelas forças conjugadas dos interesses em jogo, voltando-se para a tradição de Esparta. A força e a violência se sobrepuseram aos ideais atenienses e o indivíduo esmagado pelo peso das massas acarneiradas refugiou-se na servidão medieval, nas oposições inócuas e na revolta do desespero insensato. As leis históricas seguem o seu curso regular, mas quando as acumulações dos fatores a-históricos, como os lastros esmagadores dos instintos primitivos, acumulados nos socavões do inconsciente coletivo, as obrigam a sair dos canais naturais, elas se desviam à procura dos pontos de retorno. A volta a Esparta, que marcou a fase instintiva das explosões totalitárias, mergulhou o mundo no delírio do arbítrio e da violência. Um terremoto a-histórico rompeu o chão em que florescia a Belle-Epoque, a fase lírica e romântica que Stephan Zweig descreveu em “O mundo que Eu Vi”, precipitando no abismo todos os valores culturais e humanistas dos séculos XVIII e XIX. O próprio Zweig imolou-se, a seguir, no desespero do suicídio. Os abismos da Terra lacerada impediram-nos o acesso a Atenas. Mas restou uma passagem secreta, uma ponte sobre o abismo, sustentada pelas rochas inabaláveis do Evangelho, orientada pelos sinaleiros subjetivos dos arquétipos de Jung nos rumos da transcendência. Essa ponte era a do novo Renascimento do homem e do mundo pelas mãos do Cristo. Era o Espiritismo, que das ruínas da catástrofe histórica fazia ressurgir, ainda cambaleante, a figura fantasmal de Lázaro.
O Mundo Contemporâneo é Lázaro redivivo, ainda envolto em mortalha, com a boca amarrada, os braços e os pés atados, mas atendendo ao chamado do Cristo para reintegrar-se no processo histórico interrompido. Marta e Maria o restabelecem na paz de Betânia, cercada pelas guerras furiosas e as atrocidades produzidas na Terra, no Céu e no Mar pela inconformação e a revolta dos homens. Nessa hora trágica, dantesca (não apenas na imagem do Inferno de Dante, mas na sua própria essência real) a consciência humana desperta para a busca de si mesma. O Centro Espírita, na sua singeleza, na sua humildade e na sua pobreza – pequenina semente que os abismos ameaçam tragar – sustenta a chama da esperança cristã-humanista e trabalha em silêncio na restauração da Verdade. Solitário, desprezado pela ignorância arrogante é o Centro – o ponto ótico ou visual para o qual convergem todas as possibilidades da Ressurreição do Planeta assassinado. Temos necessidade urgente de compreender esse momento histórico, decifrar os seus signos para que a Esfinge não nos devore. A rotina dos trabalhos do Centro, a monotonia das doutrinações exaustivas, a repetição dos ensinos que chegam a parecer inúteis, a insistência das obsessões agressivas, a inquietação dos que se afastam em busca do socorro ilusório de ciências psíquicas ainda informes e retornam desiludidos e cansados – todo esse ritornelo atordoante pode desanimar os que lutam contra a voragem das trevas. Mas é preciso resistir e continuar, é necessário enfrentar a ignorância petulante dos sábios que ainda não aprenderam a lição socrática da humilde intelectual, do sábio que só é sábio quando sabe que nada sabe.
A hora espírita do Mundo é de agonia e desespero. Mas foi agonizando na cruz, injustiçado pelos sábios do seu tempo, que Jesus nos ensinou a lição da ressurreição e da imortalidade espiritual. O Centro Espírita é a cruz da paciência que Jesus nos deixou como herança do seu martírio. Ele nos livra da cruz que o Mestre enfrentou entre ladrões, salvando, morrendo com eles para salvá-los – um através da conformação difícil da dor, outro através da revolta e da indignação que levam ao arrependimento e à reparação.
Por isso a disciplina do Centro não pode ser a dos homens, mas a dos anjos que servem ao Senhor tatalando no Céu as asas simbólicas da Esperança. Deixemos de lado a disciplina exigente, para podermos manter no Centro a disciplina do amor e da tolerância. Não lidamos com soldados e guerreiros, mas com doentes da alma. Nossa disciplina não deve ser exógena, imposta de fora pela violência, mas a do coração. Tem de ser a disciplina endógena, que nasce da consciência lentamente esclarecida aos chamados de Deus em nossa acústica da alma.
A evolução humana se processa no concreto em direção ao abstrato, o que vale dizer da matéria para o espírito ou do corpo para a alma. Na linguagem platônica diríamos: do sensível para o inteligível. Na Era Cósmica que se inicia com as façanhas da Astronáutica essa evolução se define em termos de ciência e tecnologia. O homem das cavernas saiu de sua toca de bicho para dominar a Terra, edificar casas, palácios e torres, templos que apontam para as estrelas, e agora, depois de se librar na atmosfera com asas e hélices, projeta-se além da estratosfera, mergulha no Cosmos, pousa na Lua e regressa à Terra, servindo-se de propulsores terrenos e das forças da gravidade, como se tivesse nascido nos espaços siderais e não do barro do planeta.
Quem não vê nesse esquema gigantesco e dinâmico o roteiro da evolução humana? De outro lado, rompemos os véus misteriosos de Isis nas pesquisas da Física, em que a matéria nos revela as estruturas atômicas da realidade aparentemente compacta e opaca, que se mostra fluída e transparente, e nas pesquisa psíquicas descobrimos que a nossa natureza não é concreta, mas abstrata, pois não somos corpos, mas espíritos.
Sobre os escombros do passado em ruínas, das civilizações mortas, das certeza materiais e sólidas transformadas em pó e ante a ameaça dos cogumelos atômicos desintegrantes, vemos de maneira inegável que a essência de toda a realidade tangível é na verdade intangível. Reconhecemos os enganos produzidos pela ilusão dos sentidos materiais em nosso senso abstrato e somos obrigados a compreender que malbaratamos o tempo nas encarnações desvairadas. As fachadas suntuosas das catedrais, os gigantescos edifícios das Instituições cientificas, os Edifícios do Saber em todos os campos – todo esse acervo de grandiosidade efêmera se reduz a esboços de uma verdade simples que se escondia por milênios na humildade de um casebre de arrabalde ou de uma choupana da roça – o Centro Espírita. Só ali encontramos, entre criaturas anônimas, na intuição dos simples, a Verdade que buscávamos. Assim também aconteceu nas grandes civilizações do passado, que renegaram os ensinos de um carpinteiro galileu. Na penumbra do Centro Espírita, suspeita para os sábios e os poderosos, Deus escondera a chave do mistério.

Livro: O Centro Espírita
Herculano Pires