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terça-feira, 8 de junho de 2021

A INCOERÊNCIA DA TRINDADE:"A Doutrina dos Espíritos proclama que Deus é nosso Pai, uno, indivisível, eterno, imutável, onipotente, onisciente."

 

A Doutrina que vos ensino não é minha, mas daquele que me enviou." (João, 7:16)


Seria incoerente alguém enviar-se a si próprio para o desempenho de determinada missão. Se o Cristo fosse o próprio Deus, conforme o apregoam as teologias, Ele falaria por si próprio, Deus, conforme o apregoam as teologias, Ele falaria por si próprio, não havendo necessidade de empregar subterfúgios, sustentando que a Doutrina que ensinava não era sua, mas daquele que o havia enviado.

No decurso do seu Messiado, Jesus deixou bem evidenciado que era uma personalidade distinta do Pai, e não uma entidade trina. Não deixou também de demonstrar a sua subordinação à vontade de uma entidade maior: Deus. Basta perlustrar as páginas dos Evangelhos, para constatar, de forma reiterada, que Ele veio à Terra num momento apropriado, a fim de revelar verdades novas, objetivando atualizar os velhos conceitos contidos na lei mosaica, os quais já estavam superados.

Fato concludente ocorreu no Horto das Oliveiras, quando o Cristo, em ardente prece dirigida ao Criador, por três vezes consecutivas, rogou que "se fosse possível passasse dele aquele cálice de amargura", acrescentando, logo a seguir: "Contudo, Senhor, seja feita a tua vontade e não a minha."

Se Ele fosse o próprio Deus, ou parte trina de Deus, não haveria necessidade de formular uma ação dessa natureza, dirigida a si próprio. Ele teria resolvido o problema de per si. No cimo do Calvário, pendurado na Cruz, Ele exclamou: "Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito", frase essa que também atesta, de forma clara, a sua dependência em relação ao Criador de todas as coisas.

Em pleno Século das Luzes, quando o Espírito de Verdade já está entre nós para estabelecer toda a Verdade, não há mais lugar para ensinamentos errôneos, nem podem prevalecer velharias, verdadeiros resíduos de discussões estéreis entre homens personalistas e eivados de interesses materiais. A crença na existência de um Deus único é uma das verdades que cumpre ser restabelecida.

Ninguém que se tenha aprofundado na análise dos preceitos 
evangélicos, ou meditado sobre as palavras do Cristo, podem em sã razão proclamar que neles exista qualquer afirmação categórica, ou de Jesus, que conduza à crença que Ele seja o próprio Deus, ou parte trina de Deus. O seu dizer "quem ver o Pai vê a mim, ou "Eu e o Pai somos uno", não significa em absoluto que Ele não tenha uma individualidade própria. Jesus Cristo foi um enviado de Deus e, portanto, seu representante na Terra. Como autêntico embaixador dos céus, que o via, claramente quem o havia enviado.

Os antigos israelitas, apesar de todos os seus preconceitos e vãs tradições alimentavam uma concepção mais realística sobre a unicidade de Deus, embora lhe atribuíssem características profundamente humanas. Não se nota nos livros do chamado Velho Testamento nenhuma passagem que sustente ser Deus uma entidade trina.

Ninguém desconhece que a implantação do dogma da Trindade foi imposição política, ou pelo menos contou com o apoio político do Imperador Constantino, de Roma, que, naquela época, havia se transformado em protetor dos cristãos. Houve intensas contendas, e Ário, que era radicalmente contrário à teoria da Trindade, juntamente com outras mentalidades esclarecidas, foi vencido, porque o Imperador não desejava criar problemas que afetassem a paz do Império. Implantado, nessa época, o dogma persistiu até o presente.

O Espiritismo vem esclarecer os homens em torno dessa questão, restabelecendo as coisas em seus devidos lugares. A Doutrina dos Espíritos proclama que Deus é nosso Pai, uno, indivisível, eterno, imutável, onipotente, onisciente. Jesus é o nosso Irmão Maior, que já colimou elevadíssimo grau de perfeição, mas ainda continua sujeito às leis evolutivas. O chamado Espírito Santo é a comunidade dos Espíritos esclarecidos, obreiros do bem, executores da vontade de Deus, na Terra, lídimos intermediários entre o Céu e a Terra, entre Deus e os homens, sempre sob a égide augusta de Jesus Cristo, o governador do nosso Planeta.

Paulo A. Godoy

domingo, 9 de maio de 2021

PERTO DE DEUS " SERÁS MÃE"

 

Perto de Deus

Entre a alma, prestes a reencarnar na Terra, e o Mensageiro Divino travou-se expressivo diálogo:
 
— Anjo bom — disse ela —, já fiz numerosas romagens no mundo. Cansei-me de prazeres envenenados e posses inúteis… Se posso pedir algo, desejaria agora colocar-me em serviço, perto de Deus, embora deva achar-me entre os homens…
 
— Sabes efetiamente a que aspiras? que responsabilidade procuras? — replicou o interpelado. — Quando falham aqueles que servem à vida, perto de Deus, a obra da vida, em torno deles, é perturbada nos mais íntimos mecanismos.
 
— Por misericórdia, anjo amigo! Dar-me-ás instruções…
 
— Conseguirás aceitá-las?
 
— Assim espero, com o amparo do Senhor.
 
— O Céu, então, conceder-te-á o que solicitas.
 
— Posso informar-me quanto ao trabalho que me aguarda?
 
— Porque estarás mais perto de Deus, conquanto entre os homens, recolherás dos homens o tratamento que eles habitualmente dão a Deus…
 
— Como assim?
 
Amarás com todas as fibras de teu espírito, mas ninguém conhecerá, nem te avaliará as reservas de ternura!… Viverás abençoando e servindo, qual se carregasses no próprio peito a suprema felicidade e o desespero supremo. Nunca te fartarás de dar e os que te cercarem jamais se fartarão de exigir…
 
— Que mais?
 
Dar-te-ão no mundo um nome bendito, como se faz com o Pai Celestial; contudo, qual se faz igualmente até hoje na Terra com o Todo-Misericordioso, reclamar-se-á tudo de ti, sem que se te dê coisa alguma. Embora detendo o direito de fulgir à luz do primeiro lugar nas assembleias humanas, estarás na sombra do último… Nutrirás as criaturas queridas com a essência do próprio sangue; no entanto, serás apartada geralmente de todas elas, como se o mundo esmerasse em te apunhalar o coração. Muitas vezes, serás obrigada a sorrir, engolindo as próprias lágrimas, e conhecerás a verdade com a obrigação de respeitar a mentira… Conquanto venhas a residir no regozijo oculto da vizinhança de Deus, respirarás no fogo invisível do sofrimento!…
 
— Que mais?
 
Adornarás as outras criaturas para que brilhem nos salões da beleza ou nos torneios da inteligência; entretanto, raras te guardarão na memória, quando erguidas ao fausto do poder ou ao delírio da fama. Produzirás o encanto da paz; todavia, quando os homens se inclinem à guerra, serás impotente para afastar-lhes o impulso homicida… Por isso mesmo, debalde chorarás quando se decidirem ao extermínio uns dos outros, de vez que te acharás perto do Todo-Sábio e, por enquanto, o Todo-Sábio é o Grande Anônimo, entre os povos da Terra…
 
— Que mais?
 
Todas as profissões no planeta são honorificadas com salários correspondentes às tarefas executadas, mas o teu ofício, porque estejas em mais íntima associação com o Eterno e para que não comprometas a Obra da Divina Providência, não terá compensações amoedadas. 
 
 Outros seareiros da Vinha Terrestre serão beneficiados com a determinação de horários especiais; contudo, já que o Supremo Pai serve dia e noite, não disporás de ocasiões para descanso certo, porquanto o amor te colocará em permanente vigília!

Não medirás sacrifícios para auxiliar, com absoluto esquecimento de ti; no entanto, verás teu carinho e abnegação apelidados, quase sempre, por fanatismo e loucura…
 
Zelarás pelos outros, mas os outros muito dificilmente se lembrarão de zelar por ti… Farás o pão dos entes amados… Na maioria das circunstâncias, porém, serás a última pessoa a servir-se dos restos da mesa, e, quando o repouso felicite aqueles que te consumirem as horas, velarás, noite a dentro, sozinha e esquecida, entre a prece e a aflição… Espiritualmente, viverás mais perto de Deus, e, em razão disso, terás por dever agir com o ilimitado amor com que Deus ama…
 

Anjo bom — disse a Alma, em pranto de emoção e esperança —, que missão será essa?
O Emissário Divino endereçou-lhe profundo olhar e respondeu num gesto de bênção: — Serás mãe!…
 

Irmão X

LIVRO: ESTANTE DA VIDA 


sábado, 14 de dezembro de 2013

Deus Existe?



Deus Existe?


Os teólogos do Cristianismo Ateu, da Teologia Radical da Morte de Deus, são anjos rebelados e decaídos do Paraíso Medieval. Nesta fase de inquietações e contradições que marca os flancos bovinos do Século XX com imenso sinal de interrogação em ferro e em brasa, a tese da Morte de Deus, oriunda da II Guerra Mundial e inspirada no episódio do louco de Nietzche, anuncia a liquidação final do espólio medieval no pensamento contemporâneo. Os bens desse espólio se constituem dos imóveis patrimoniais de um Cristianismo deformado, com as suas catedrais gigantescas, a estrutura econômico-financeira do Vaticano, os artigos da velha simonia contra a qual Lutero se rebelou e os inesgotáveis lotes de quinquilharias sagradas, vestes e paramentos ornamentais, símbolos e dogmas das numerosas Igrejas Cristãs. Essa a razão por que, matando Deus, os novos teólogos pretendem colocar o Cristo provisoriamente em seu lugar. A imensa literatura religiosa medieval, que superou de muito os absurdos dos sofistas gregos, destina-se ao arquivo milenar da estupidez humana.

O Materialismo e o Ateísmo do Renascimento, acolitados pelo Ceticismo, o Positivismo e o Pragmatismo, formam o cortejo do féretro gigantesco e sombrio, manchado de cinza e sangue, da pavorosa arrogância em que se transformou a pregação de humildade, os exemplos de tolerância e simplicidade do Messias crucificado. É o lixo do famoso Milênio, carreado para a Porta do Monturo do Templo de Jerusalém, para ser lançado nas geenas ardentes. Dispensa-se o inventário, porque não sobraram herdeiros. Nenhuma civilização morreu de maneira mais inglória do que essa, em que Deus figurou como o carrasco impiedoso da Humanidade ingênua e ignorante.

Apesar da rudeza dessa visão trágica, assim pintada em cores fortes na tela de um pintor primitivista (bem ao gosto do século), ela não implica a negação da necessidade histórica da Idade Média. Pelo contrário, o fundo histórico desse panorama, na perspectiva tumultuada das civilizações da mais remota antiguidade, todas fundadas na força, na violência e nos arbítrios das civilizações massivas que vêm da lendária Suméria até a Macedônia e a Pérsia, projetando-se num impacto em Esparta e Roma, e um clarão de beleza e consciência em Atenas (que também não escaparia aos eclipses da escravidão e da execução de Sócrates) justificam histórica e antropologicamente a tragédia humana desses séculos de primarismo e barbárie que sucederam ao estranho advento do Cristianismo. Nada se pode condenar nesse panorama monstruoso, em que as idéias cristãs, renovando tímidos lampejos de esperanças frustradas e revigorando-os na visão de esperanças futuras, penetravam na massa e a ela se misturavam como o fermento da parábola evangélica. As leis naturais da evolução criadora, segundo a expressão de Bergson e de acordo com a tese dialética de Hegel, levavam ao fogo de Prometeu (roubado ao Céu) o caldeirão implacável das fusões dantescas, na percepção intuitiva de Wilhelm Dilthey, os elementos conjugados das civilizações mortas. Os deuses mitológicos eram caldeados nas próprias chamas votivas de seus templos, fundindo-se com Iavé, o Deus Único dos hebreus, para modelagem futura do Deus Cristão, que nascera da palavra mágica do Messias: Pai.

Mas até que os homens pudessem compreender o sentido dessa breve palavra, desse átomo oral, os detritos ferventes do caldeirão medieval teriam de escorrer pelas muralhas do preconceito e da ignorância, queimando o solo do planeta e a frágil carne humana. Não é de admirar que as atrocidades da II Guerra Mundial tenham feito o mesmo. Em meados do Século XX estávamos ainda bem próximos das fogueiras da Inquisição e dos instintos ferozes dos antigos sátrapas das civilizações massivas, monstruosas expansões das tribos bárbaras, em que os ritos do sangue e do ódio ao semelhante purificavam a túnica dos sacerdotes e das vestais, manchadas pelos sacrifícios humanos e pela prostituição sagrada nos altares e nas escadarias dos templos. Os abutres da guerra devoravam Prometeu em cada vítima da loucura hitlerista e chafurdavam na prostituição sagrada dos mitos da violência, essa Górgora terrível e insaciável do Jardim das Hespérides nazista. A histeria e o sadismo, a brutalidade e o homossexualismo campeavam livres nas guarnições de heróis, como um Estige de lamas que escorresse do Fuherer para a Alemanha, asfixiando as mais belas conquistas da sua tradição cultural a invadir e contaminar as nações vencidas. Os campos de concentração e suas câmaras de gás destruíam a confiança no homem, revelavam a falência do Humanismo e a fé em Deus nas cinzas das incinerações brutais. Na Itália dos poetas e cantores tripudiavam os asseclas do Duce, submisso ao Fuherer, e no Japão das cerejeiras e dos Kaikais o fanatismo dos kamikazes desafiava a insensibilidade de Truman, que não tardou a lançar suas bombas atômicas sobre Nagasaki e Hiroshima, no mais monstruoso genocídio da História.

Não nos é possível sequer conceber o Nada, o vazio absoluto, do qual Deus teria saído como o Ser Absoluto. Tirar o Absoluto do Nada é uma contradição que nosso entendimento repele. A existência de Deus, como anterior à Criação é inconcebível. E se algo existia antes, temos um poder criador anterior a Deus. A tese budista do Universo incriado, que sempre existiu, subordina o poder de Deus a essa existência misteriosa e inexplicável. Nos limites da nossa mente esses problemas não cabem, são mistérios que serviram para todos os sofismas, jogos de palavras e conclusões monstruosas do pensamento teológico. Mas quando aplicamos o bom-senso, com a devida modéstia de criaturas finitas e efêmeras, diante do Infinito e da Eternidade, podemos reduzir o ilimitado aos limites da realidade inteligível. Então o raciocínio dedutivo, de ordem científica, que parte do chão da existência evidente, para alcançar pouco a pouco as alturas acessíveis, nos coloca diante de uma realidade que podemos dominar. Deus como Existente, que existe na nossa realidade humana, pode ser tocado com os dedos e sentido, captado pelo nosso sensório comum. Não necessitamos da percepção extra-sensorial para captar sua existência. O grande erro das religiões é apresentar Deus como enigma insolúvel e exigir que o amemos de todo o coração e todo o entendimento. Essa colocação contraditória levou-as a um absurdo ainda maior, o de transformar Deus num tirano sádico que nos criou para submeter-nos à tortura e à perdição. Por mais que se fale em amor, misericórdia e piedade, essas palavras nada valem diante das ameaças da escatologia religiosa.

Mas Deus como Existente é o Pai que Jesus nos apresenta em termos racionais, pronto a nos guiar e amparar, a nos dar pão e não cobras quando temos fome e a nos convidar incessantemente para o seu Reino de Harmonia e Beleza. Se podemos percebê-lo em nós mesmos, na nossa consciência e no nosso coração, se podemos vê-lo em seu poder criador numa folha de relva, numa flor, num grão de areia e numa estrela, se podemos conviver com ele e sentarmos com ele à mesa e partir o pão com os outros, então ele realmente existe em nossa realidade humana e o podemos amar, e de fato o amamos de todo o coração e de todo o entendimento. Deus como Existente é o nosso companheiro e o nosso confidente. Não dependemos de intermediários, de atravessadores do mercado da simonia para expor-lhe as nossas dificuldades e pedir a sua ajuda. A existência de Deus se prova então pela intimidade natural (não sobrenatural) que com ele estabelecemos em nossa própria existência.

Diante desse quadro horripilante, e particularmente dentro dele, nada mais se poderia esperar dos crentes e dos teólogos do que a pergunta amarga e geralmente irônica: Deus existe? Na Antiguidade os sátrapas eram considerados como investidos de prerrogativas divinas. Tudo quanto faziam vinha de Deus e a crendice popular não se atrevia a discutir os direitos humanos ante o perigo sempre iminente da Ira de Deus. Mas após o Renascimento, a Época das Luzes, a crendice transformou-se em crença sofisticada pelas racionalizações abusivas. O homem moderno escorava a sua fé no conceito hebraico da Providência, sempre vigilante e pronta a socorrer a fragilidade humana. Esse homem não poderia suportar a catástrofe que se abatia sobre ele de maneira implacável, ante a mudez comprometedora do Céu. Sua razão aprimorada condenava o passado e jamais supusera possível a sua ressurreição brutal, sob as asas metálicas dos aviões de bombardeio e das bombas voadoras. O ateísmo do passado parecia-lhe agora uma simples atitude pedante. O seu ateísmo, o seu materialismo e o seu pragmatismo, pelo contrário, assentavam-se agora nas bases sólidas de um horror que o deixara só e frágil em face dos carrascos poderosos. Os velhos teólogos não podiam explicar a indiferença divina, o desprezo de Deus pelas suas criaturas que, segundo eles, haviam sido criadas por amor. Os novos teólogos só encontraram uma explicação possível: a Morte de Deus.

Entretanto, por mais esmagado que esteja, o homem não pode ficar sem uma luz de esperança. Os novos teólogos lhe ofereceram então a figura humana de Cristo. Um Deus histórico, existencial, que sofrera e morrera por ele aqui mesmo, na Terra dos Homens. Não foi uma solução pensada, mas nascida das entranhas da desgraça total, das entranhas do horror. Homens que cresceram e se formaram nas crenças em Deus, alimentados pelas ilusões teológicas do Cristianismo, cobravam agora do Cristo as suas promessas frustradas. Ele, o Cristo, assumiria o lugar vazio de Deus em termos de emergência. Foi dessa situação premente que surgiu a aventura do Cristianismo Ateu. Por isso, quando lemos os livros brilhantes dos novos teólogos, transbordantes de uma inteligência vibrátil, mas impotente, que não consegue nem mesmo esclarecer o que é a Morte de Deus, perdendo-se em rodeios e sofismas que nunca atingem uma definição, compreendemos o desespero total a que chegou a inteligência humana ante os enigmas existenciais deste fim dos tempos. Na proporção em que a rotina da vida se restabelece no mundo arrasado, recompondo-se aos impulsos naturais da vitalidade humana, os tempos negros esmaecem na distância, introjetando-se na memória profunda da espécie como arcanos do inconsciente. As forças da vida reagem contra a destruição e a morte, a ponto de fazerem brotar redivivas – indiferentes às ameaças maiores que pesam no horizonte – as flores de antigas e esmagadas esperanças. Queremos todos confiar, queremos todos esperar.

Mas isso não acontece apenas pelo influxo das forças vitais. Acontece sobretudo pela certeza íntima, que todos trazemos em nós, de que cometemos um erro imperdoável ao alimentar nas gerações sucessivas um conceito falso de Deus. Muitas vezes essa certeza aparece como simples suspeita, desprovida de provas que lhe dêem validade ôntica. Mesmo assim ela nos sustenta no presente e nos faz esperar. Os reflexos dessa situação ocidental no Oriente não-cristão provocaram o mesmo abalo e a mesma desconfiança que sentimos. Os mestres indianos, os gurus e bonzos que viviam isolados em seu orgulhoso ascetismo, ciosos de seus segredos milenares, fizeram-se caixeiros viajantes perfumados e sorridentes, assessorados por técnicos em relações públicas, para venderem aos ocidentais os mistérios sagrados. Essa atitude, embora não seja geral, revela a suspeita insidiosa no inconsciente guru quanto à validade tradicional de suas técnicas religiosas. O pesadelo da guerra e o desespero posterior contribuíram de maneira decisiva para que o mundo se transformasse na Aldeia Global de Mac Luhan. Parece que pelo menos acreditamos todos, no Ocidente e no Oriente, que o mundo de comunicação de massa nos oferece a opção coletiva de esperar sem preocupações, pois todos sabemos que se apertarem os botões da guerra nuclear morreremos na solidariedade absoluta. A destruição não será mais tão dolorosa e lenta. Seremos aniquilados de um só golpe, na morte tecnológica.

Deus ressurge, se não no seu amor, ao menos na sua Justiça. Já será um consolo para os que sempre sofreram e morreram, enquanto outros vivem felizes no uso e abuso dos bens terrenos. A idéia de um Pai todo poderoso, e no entanto insensível à miséria e ao sofrimento da maioria dos filhos, sempre perturbou os que pensam e levou muitas criaturas à revolta e à descrença. De duas, uma: ou aceitavam a injustiça ou não admitiriam a existência de Deus. Bastaria isso para nos mostrar que o conceito de Deus, formulado pelas religiões e sustentado a ferro e fogo através dos milênios, não pode estar certo. Precisamos examinar esse grave problema enquanto não apertam os botões do Juízo Final.

Herculano Pires do Livro Concepção Existencial de Deus

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

TRATADO DA EXISTÊNCIA E DOS ATRIBUTOS DE DEUS[1]

François Fénelon, pseudônimo de François de Salignac de La Mothe-Fénelon, foi um teólogo, poeta e escritor francês bastante influente na França e cujas ideias liberais muito contribuíram para a emancipação da humanidade.
Nasceu no castelo da família, em Périgord, em 6 de agosto de 1651 e morreu em Cambrai a 7 de janeiro de 1715, aos sessenta e três anos de idade.
Extraímos um pequeno trecho de um de seus livros e o traduzimos do francês, como singela homenagem a esse nobre Espírito, pela data do seu nascimento. Ei-lo aqui reproduzido: 

TRATADO DA EXISTÊNCIA E DOS ATRIBUTOS DE DEUS[1]

Por François Fénelon, escrito em 1712

Provas da existência de Deus, tiradas da consideração das principais maravilhas da natureza.
  
(...) Após essas comparações, sobre as quais peço ao leitor para simplesmente consultar-se a si próprio, mesmo sem raciocinar, creio que é momento de entrar no detalhe da natureza. Não pretendo penetrá-la toda inteira; quem o poderia? Também não pretendo entrar em nenhuma discussão de Física; essas discussões suporiam certos conhecimentos aprofundados que muitas pessoas de espírito jamais adquiriram; quero lhes propor apenas um simples golpe de vista sobre a face da natureza; não quero lhes falar senão do que todo mundo sabe, e que precisa apenas de um pouco de atenção tranquila e séria.
Detenhamo-nos primeiramente no grande objeto que atrai nossos primeiros olhares, isto é, a estrutura geral do Universo. Lancemos um olhar sobre esta terra que nos suporta; observemos no céu essa abóbada imensa que nos cobre; esses abismos de ar e de água que nos rodeiam, e os astros que nos iluminam. Um homem que vive sem reflexão pensa apenas nos espaços que estão junto de si ou que têm alguma relação com suas necessidades; ele considera a terra inteira apenas como o chão do seu quarto, e vê o sol que o ilumina durante o dia da mesma maneira que vê a vela que o ilumina durante a noite; seus pensamentos se limitam ao lugar estreito que ele habita. Ao contrário, o homem habituado a refletir estende seu olhar para mais longe, e considera com curiosidade os abismos quase infinitos que o rodeiam por todos os lados. Um vasto reino lhe parece então um pequeno canto da Terra; a própria Terra não é, a seus olhos, senão um ponto da massa do Universo; admira-se de estar aí localizado sem saber como nela veio parar.
Quem é que suspendeu esse globo da terra que é imóvel? Quem é que nela pôs os fundamentos? Nada, ao que lhe parece, é mais vil que ela; os mais infelizes lhe calcam sob os pés. No entanto, é para possui-la que se investem todos os grandes tesouros. Se a terra fosse mais dura, o homem não poderia abrir-lhe o seio para cultivá-la; se ela fosse menos dura, não poderia suportá-lo; ele afundaria em toda parte, como afunda na areia ou no lamaçal. É do seio inesgotável da terra que sai tudo o que há de mais precioso. Essa massa informe, vil e grosseira, toma as formas mais diversas e se transforma, passo a passo, em todos os bens que lhe solicitamos; essa lama tão feia transforma-se em mil objetos belos que encantam os olhos; em apenas um ano ela se torna galhos, botões, folhas, flores, frutos e sementes, para renovar suas liberalidades em favor dos homens. Nada a esgota. Quanto mais dilaceramos suas entranhas, mas liberal ela é. Após tantos séculos, durante os quais tudo tem dela saído, ainda não está gasta; não se torna velha; suas entranhas ainda estão plenas dos mesmos tesouros.
Mil gerações passaram por seu seio: tudo envelhece, exceto ela, que rejuvenesce a cada ano, na primavera. Ela jamais falta aos homens; mas, insensatos, os homens faltam a si mesmos negligenciando o seu cultivo (...).
Admirai as plantas que nascem da terra; elas fornecem alimentos aos sãos e remédios aos doentes. Suas espécies e suas virtudes são inumeráveis: elas enfeitam a terra; dão verdor, flores odoríferas e frutos deliciosos. Vedes essas vastas florestas que parecem tão antigas quanto o mundo? As árvores se afundam na terra por meio de suas raízes, como se elevam para o céu por meio de seus galhos; suas raízes as sustentam contra os ventos, e vão buscar, como por pequenos tubos subterrâneos, todos os sucos destinados à nutrição de seu caule; o próprio caule se reveste de uma casca dura, que coloca a madeira tenra ao abrigo das injúrias do ar; seus galhos distribuem, por diversos canais a seiva que as raízes reuniram no tronco. No verão esses ramos nos protegem contra os raios do sol, com sua sombra; no inverno eles nutrem a chama que conserva em nós o calor natural. Sua madeira não é útil somente para o fogo; é uma matéria dócil, ainda que sólida e durável, à qual, sem dificuldade, a mão do homem dá todas as formas que desejar, para as grandes obras de arquitetura e de navegação. Além disso, pendendo seus ramos para a terra, as árvores frutíferas parecem oferecer seus frutos ao homem.
As árvores e as plantas, deixando cair seus frutos ou seus grãos, preparam em torno delas mesmas uma numerosa prosperidade. A mais frágil planta, o menor legume, contêm em pequeno volume, num grão, o germe de tudo o que se desdobra nas mais altas plantas e nas maiores árvores. A terra, que jamais muda, faz todas essas mudanças em seu seio.
Observemos agora o que chamamos de água: é um corpo líquido, claro e transparente. Por um lado, ela corre, escapa, foge; por outro, toma todas as formas do corpo que a contêm, não tendo nenhuma para si mesma. Se a água fosse um pouco mais rarefeita, se tornaria uma espécie de ar; toda a face da terra seria seca e estéril; haveria apenas animais voadores; nenhuma espécie de animal poderia nadar, nenhum peixe poderia viver; não haveria nenhum comércio pela navegação. Que mão habilidosa soube condensar a água, sutilizar o ar, e distinguir tão bem essas duas espécies de corpos fluidos?
Se a água fosse um pouco mais rarefeita, não poderia sustentar esses prodigiosos edifícios que denominamos navio; os corpos menos pesados afundariam primeiro na água. Quem é que tomou o cuidado de escolher uma tão justa configuração de partes, e um grau tão preciso de movimento, para tornar a água tão fluida, tão insinuante, tão própria a escapar, tão incapaz de toda consistência, e no entanto tão forte para levar, e tão impetuosa para arrastar as mais pesadas massas? Ela é dócil; o homem a conduz, como um cavaleiro conduz um cavalo pelas pontas das rédeas; ele a distribui como lhe convém; eleva-a sobre as montanhas escarpadas, e se serve de seu próprio peso para fazê-la cair, e subir tanto quanto desceu. Mas o homem, que conduz as águas com tanto império é, a seu turno, conduzido por elas. A água é uma das maiores forças motrizes que o homem sabe empregar para suprir ao que lhe falta nas artes mais necessárias, por causa da sua pequenez e pela fragilidade de seu corpo.
Todavia, essas águas que, não obstante sua fluidez, são massas tão pesadas, não deixam de se elevar acima de nossas cabeças e ficar lá por longo tempo suspensas.  Vede essas nuvens que voam como sobre as asas dos ventos? Se caíssem de repente em grossas colunas d’água, rápidas como torrentes, submergiriam e destruiriam tudo o que estivesse em seu caminho, e o restante das terras ficariam áridas. Que mão as têm nesses reservatórios suspensos, e não lhes permite cair senão gota a gota, como se fossem destiladas por um regador? Donde vem que em certos países quentes, onde quase nunca chove, o orvalho é tão abundante que supre a falta de chuva, e em outros países, tais como nas margens do Nilo e do Ganges, a inundação regular dos rios em certas estações diminui a necessidade dos povos de irrigar a terra? Pode-se imaginar medidas melhor tomadas para tornar todas as regiões férteis?
Assim, a água dessedenta não somente os homens, mas também os campos áridos; e aquele que nos deu esse corpo fluido o distribuiu com cuidado sobre a terra como os canais de um jardim. (...)


[1] Texto extraído das Œuvres Choisies de Fénelon. Traité de l’Existence et des Attributs de Dieu, Première partie, ch. I. Traduzido do francês pela Equipe do IPEAK.

Fonte: IPEAK

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

LEI DE ADORAÇÃO

01 - Lei de Adoração
Perg. 649 L.E. - Em que consiste a adoração? - "Na elevação do pensamento a Deus. Deste, pela adoração, aproxima o homem sua alma".
Perg. 659 L.E. - Qual o caráter geral da prece? -"A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar n'Ele; é aproximar-se d'Ele; é pôr-se em comunicação com Ele. A três coisas podemos propor-nos por meio da prece: louvar, pedir, agradecer."
1 - AMAR A DEUS
Amor é vida.
Sem o amor de Deus que tudo vitaliza, a Criação volveria ao caos do princípio.
Antes, portanto, do amor não havia Criação, porque Deus é Amor.
Sem amor ao próximo não se pode amar a Deus. Nesse particular, o Evangelho é todo um hino ao Criador, mediante o eloqüente testemunho de amor ao próximo, apresentado por Jesus.
Em todos os Seus passos o amor se exterioriza numa canção de feitos, renovando, ajudando e levantando os Espíritos.
Não podendo o homem romper a caixa escura do egoísmo, saindo de si na direção da criatura, sua irmã, dificilmente compreenderá o impositivo do amor transcendente em relação à Divindade.
Quando escasseiam os recursos da elevação interior pelo pensamento vinculado ao Supremo Construtor do Cosmo, devem abundar os esforços no labor da fraternidade em direção às demais criaturas, do que decorre, inevitavelmente, a vinculação amorosa com Deus. Porquanto ninguém pode pensar no próximo sem proceder a uma imperiosa necessidade de fazer interrogações que levam à Causa Central.
O homem constitui, indubitavelmente, um enigma que só à luz meridiana da reencarnação - técnica do amor e da Justiça Divina - pode ser entendido.
Na vida, sob qualquer expressão, está manifesto o amor.
Mediante o amor animam-se as forças atuantes e produtivas da Natureza, no mineral, no vegetal, no animal, no homem e no anjo.
Dilata, desse modo, as tuas expressões íntimas, dirigindo-as para o bem e não te preocupes com o mentiroso triunfo do mal aparente.
Exalça a vida e não te detenhas na morte. Glorifica o dever e não te reportes à anarquia.
Fala corretamente e retificarás os conceitos infelizes.
Se te impressionam as transitórias experiências do primitivismo e da barbárie que ainda repontam na Terrra, focaliza a beleza e superarás as sombras e inquietações ...
A maneira mais agradável de adorar a Deus é elevar o pensamento a Ele, por meio do culto ao bem e do amor ao próximo.
Desce à dor e ergue o combalido à saúde íntima; mergulha no paul e levanta ao planalto os que ali encontres; curva-te para socorrer, no entanto, ascende no rumo de Deus pelo pensamento ligado ao Seu amor e vencerás os óbices.
Se desejas, todavia, compreender a necessidade de amar a Deus, acompanha o desabrochar de uma rosa, devolvendo o perfume à vida, o que extrai do solo em húmus e adubo ... Fita uma criança, detém-te num ancião ...
Ama, portanto, pelo caminho, quanto possas - plantas, animais, homens, e te descobrirás, por fim, superiormente, amando a Deus.
2 - ORAÇÃO NO LAR
A transformação do lar em célula viva do Cristianismo operante constitui labor impostergável.
Por mais valiosas se façam as conquistas externas na atividade quotidiana, com vistas ao progresso e à felicidade, se tais aquisições não encontrarem fundações de segurança no reduto doméstico far-se-ão edificações em constante perigo.
Isto, porque, o lar é a matriz geradora da comunidaade ditosa, sobre o qual repousam os sustentáculos das nacionalidades progressistas.
Os distúrbios internos em qualquer máquina de serviço provocam prejuízo na rentabilidade, quando não e dá a paralisação do trabalho com danos imprevisíveis.
A família é o fulcro da maior importância para o homem.
Não obstante os complexos mecanismos da reencarnação, os criminógenos ou os estímulos honoráveis encontram no núcleo familiar as condições fomentadoras para o eclodir das paixões insanas como o das sublimes. Obviamente, nesse capítulo, de quando em quando surgem exceções, como atestando que o diamante valioso, apesar de tombado na lama, fulgura, precioso, ou a pedra bruta, embora o engaste nobre e o estojo especial, de forma alguma adquire valor.
Num lar lucilado pela oração em conjunto onde, a par do exemplo salutar dos cônjuges, a palavra do Senhor recebe consideração e apontamentos superiores, ao menos periodicamente, os dramas passionais, as ocorrências infelizes, os temores e as discórdias cedem lugar à compreensão fraternal, à caridade recíproca, à paciência, ao amor.
Ali se caldeiam os complexos fenômenos da evolução e se resolvem em clima de entendimento os problemas urgentes que dizem respeito à recuperação de cada um. Não apenas se ajustam e se sustentam afetivamente os nubentes, como se organizam os programas iluminativos, retemperando-se ânimo e ideais sob a inspiração do Cristo sempre presente.
Companheiros sinceros queixam-se quanto aos danos promovidos pelos modernos veículos de comunicação de massa.
Diversos expositores do verbo espírita invectivam contra as permissividades hodiernas.
Mentes lúcidas, considerando a áspera colheita de espinhos da atualidade, reagem com emoção por meio da palavra falada ou escrita.
Muitos oferecem programas complexos de ação, talvez impraticáveis, debatem, acusam, vociferam ...
Mas pouco fazem realmente.
O trabalho do bem é paulatino, e a reforma moral, para ser autêntica, será sempre individual, bem laborada, sacrificial.
As técnicas ajudam, todavia, só a persuasão honesta, mediante a qual o homem se conscientiza das necessidades reais, consegue lograr libertá-lo dos compromissos inditosos, engajando-o nas disposições restauradoras.
De pouca monta o esforço para ajudar a renovação do próximo, se não ensinar fixado ao exemplo da própria modificação íntima para melhor.
O exercício evangélico na família a pouco e pouco, em clima de cordialidade e simpatia, consegue neutralizar a má propaganda, as investidas violentas do crime de todo porte que se insinuam e irrompem dominadoras.
Ao realizares o Culto Evangélico do lar não te excedas em tempo, a fim de serem evitados a monotonia e o desinteresse.
Não o imponhas aos que te não compartem as idéias ou preferem, por enquanto, outros rumos.
Tenta a argumentação honesta e branda, convincennte e autêntica.
Insiste junto aos filhinhos para que comunguem contigo do pão do Espírito, conforme de ti recebem o pão do corpo.
Faze, porém, a tua parte.
Se sentires a tentação do desânimo, a amargura da decepção, recorda-te do otimismo dos primeiros cristãos e não desfaleças. Orando em conjunto, recomendavam os invigilantes, os perturbadores e inditosos ao Senhor, haurindo forças na comunhão fraterna para os testemunhos com que ensementaram na Humanidade as excelências da Boa Nova, que ora te alcança o Espírito sem as agruras da perseguição externa e das dolorosas injunções da impiedade humana.
Acenda o sol do Evangelho em casa, reúne-te com os teus para orar e jamais triunfarão trevas em teu lar, em tua família, em teu coração.
3 - DECISÃO NA VERDADE
" ... Havendo eu sido cego, agora vejo." (João: 9-25)
O jovem padecia de cegueira desde o nascimento. Jamais conhecera a luz.
Sua vida se encontrava povoada de trevas, em cujos meandros tateava com aflição.
Jesus abriu-lhe os olhos, concedendo-lhe diamantina claridade da visão.
Inundado pela luz externa que o fascinou, enriqueceu-se de gratidão por Aquele que o libertou.
Instado à informação do fato, deu-a inciso, conciso, num eloqüente testemunho de júbilo.
Não acreditado pelos que o cercavam e inquiriam, reafirmou a ocorrência, asseverando haver sido ele o antigo cego, em face da dúvida que o cercava.
Convidado a opinar sobre quem o beneficiara, fez-se conclusivo: "É um profeta!"
Intimado a injuriar e desmerecer o desconhecido benfeitor, a ingratidão de muitos que logo olvidam o socorro recebido, permitindo-se a dúvida, ao lado da subserviência aos transitórios triunfadores, foi explíciito:
- "Se é pecador, não o sei; uma coisa eu sei: havendo eu sido cego, agora vejo".
Não lhe importava quem Ele era e sim o que lhe fizera.
Defrontam-se no ensino evangélico as duas conjunturas habituais: luz e treva.
Enfrentam-se as duas situações: verdade e mentira.
Duela a suspeita com a convicção.
Teima a pusilanimidade contra o sentimento leal. Insiste o despeito, agredindo a nobreza.
O fato, porém, triunfa.
O bem relevante sobrenada entre as águas turvas do mal enganoso.
Nada importava ao jovem, agora vidente. O essencial era que se encontrava a ver.
Nem assim, diante das evidências, cessava a hostiilidade contra o "Filho de Deus".
O cipoal das paixões humanas, mediante as habilidades da astúcia, abria-se em ardis infelizes, tentando apanhar o incomparável Amigo dos sofredores.
Hoje, no entanto, ainda é assim.
Tropeçam e atropelam-se os cegos do corpo com os do Espírito. Os últimos são piores do que os primeiros porque se negam a ver, preferindo a urdidura da infâmia e da perversidade na qual se distraem e anestesiam a razão.
Cuida-te contra a cegueira imposta pelos preconceitos, pelo orgulho, pelos descalabros de todo porte.
Já fizeste o teu encontro com Jesus.
Agora vês. Beneficia-te da claridade a fim de proogredires.
Não mais acondiciones trevas morais nas antigas sombras dominadoras das paisagens íntimas.
Sai na direção do dia de sol para servir.
Caminha no rumo da luz e referta-te de claridades divinas, difundindo a esperança e a alegria.
Confessa o teu Amigo Sublime perante todos e segue, intimorato, ajudando em nome d'Ele os que ainda se debatem na escuridão donde saíste e que anseiam, também, pela bênção da visão a fim de enxergarem.
4 - MUITOS CHAMADOS
(MATEUS XXII: 1 A 14)
Mesmo hoje é assim ...
Atônitas, as multidões procuram a diretriz do reino dos céus; não obstante, engalfinham-se nas tórridas lutas pela posse da Terra.
Fascinam-se com as narrativas evangélicas e comovem-se ante os padecimentos do Senhor quando lêem a Sua vida; todavia não se resolvem a seguir em definitivo os roteiros iluminativos, por meio dos quais os valores humanos mudam de expressão.
Examinando, igualmente, o comportamento de muitos companheiros de lides, verificarás que a parábola expressiva do Senhor mantém-se em plena atualidade para eles também.
Depois de experimentarem o contato com as legitimidades do Espírito, sentem-se dominados pelo desejo sincero de espraiarem as certezas que a Boa Nova lhes oferece. Entretanto, aos primeiros impedimentos e problemas, perfeitamente consentâneos com a posição evolutiva que os caracteriza, reagem, dizendo-se descrentes, atormentam-se e debandam.
Acreditam que são credores de especiais concesssões, tendo em vista haverem recebido o convite para o banquete na corte do Grande Rei e o terem aceitado com demonstrações de vivo entusiasmo ...
Não lhes acode, porém, ao discernimento, que para qualquer solenidade se fazem indispensáveis compostura própria e traje adequado.
Tais são as ações nobilitantes que conferem investidura e insígnias para o comparecimento ao ágape real.
Por isso, as multidões esfaimadas de amor e sabedoria ainda não se resolveram fartar-se nos celeiros sublimes da Revelação Espírita ora ao alcance de todos, demorando-se em contínua aflição.
Buscando os tesouros do espírito, disputam, aguerridamente, as posses que os "ladrões roubam, as traças roem e a ferrugem gasta ... "
Já que recebeste o chamado para a transformação moral ao alento da luz espírita que te aclara os dédalos do mundo interior, não titubeies. Estuga o passo na senda habitual e reflete, deixando-te permear pelas lições de esperança e renovação com que te armarás para os combates ásperos contra os severos adversários que a quase todos vencem: o egoísmo, o orgulho, a ira, o ciúme e seus sequazes, ensinando, pelo exemplo, fraternidade e amor.
Não te preocupes pelo proselitismo como pelo arrrastamento das multidões à fé que te comove.
Recorda-te de Jesus que não veio para compactuar com as comezinhas paixões, tampouco para agradar os campeões da insensatez - maneira segura de conseguir simpatizantes e adeptos - antes para inaugurar o principado da felicidade ao qual são "muitos chamados", porém poucos escolhidos".
5 - BENFEITORES DESENCARNADOS E PROBLEMAS HUMANOS
A promoção dos chamados mortos à categoria de benfeitores e santos resulta de um atavismo religioso de que o homem só a esforço insistente consegue liibertar-se.
Enquanto transitam pelo corpo material, os menos projetados na sociedade são teimosamente ignorados, quando não sistematicamente abandonados.
Sofredores que por decênios de dor e amargura suportaram em silêncios estóicos a pesada canga das aflições; pessoas humildes que se apagaram nos labores singelos; enfermos em indigência e desprezo, atados a cruzes de demorada agonia; lutadores anônimos que esbarraram em dificuldades e padeceram ignomínias da imprevidência dos seus verdugos; pais e mães inclusos nos cárceres dos deveres sacrificiais, relegados às posições inferiores do lar, tão logo retomam à pátria são içados pelas consciências culpadas à condição santificante com que assim esperam exculpar-se à indiferença e ao desprezo que lhes impuseram.

Não apenas estes, porém, que merecem pelos padecimentos sofridos uma liberação abençoada.
Crê-se, no entanto, que a morte é ponte para a santificação, mesmo a daqueles que não a merecem.
Supõem que, com a desencarnação, ao se esquecerem com facilidade os descalabros que foram cometidos, pode-se conferir-Ihes uma situação ditosa, ao paladar da trivialidade a que se entregam.
Não o fazem, porém, por amor.
Como exploraram e feriram, usaram e maceraram os que lhes dependiam, direta ou indiretamente, esperam continuar exigindo ajudas que não merecem, em comércio de escravidão contínua com os que já partiram ...
Mentes viciadas pela acomodação aos velhos hábiitos da preguiça e da rebeldia, não logram desprenderrse dos problemas pessoais mesquinhos a que se aferrram, por Ihes aprazer enganar e enganar-se.
Dizem-se em sofrimento e preferem a condição de vítima da Divindade à de colaboradores de Deus.
Asseveram que só o insucesso Ihes ocorre e demoram-se na lamentação ao invés da ação saneadora do mal.
Teimam por receber tratamento especial dos Céus, e, sem embargo, não se facultam crescer, sintonizanndo com as leis superiores que regem a vida.
Rogam bens que não sabem aplicar, desperdiçando valioso tempo em consultas inúteis e conversações fúteis em que mais se anestesiam na autopiedade e na ilusão.
Afirmam que os seus mortos estão no paraíso enquanto eles jazem na Terra, esquecidos.
Fiéis ao ludíbrio pelo artificialismo das oferendas materiais, prometem-lhes missas, "sessões solenes", cultos especiais, flores e outras manobras artificiais com que gostam de insistir na vaidosa presunção da astúcia sistemática.
Em vão, porém.
Quando ditosos, os desencarnados são apenas amigos generosos que intercedem, ajudam e inspiram, mas não podem modificar os compromissos que os seus afeiçoados assumiram desde antes do berço, conforme não se eximiram eles mesmos aos braços da cruz em que voaram no rumo da felicidade.
Quando em desdita no além-túmulo, são para eles inócuas todas as expressões dos chamados "cultos externos" das religiões terrestres.
A oração ungida de amor, as ações caridosas em sua homenagem refrigeram-nos e ajudam-nos a entender melhor a própria situação, armazenando forças para as reencarnações futuras.
Desse modo, esforça-te para resolver os teus problemas sem perturbar os que agora merecem a justa paz depois das lutas ásperas que sofreram.
Respeita a memória dos desencarnados e sem os títulos mentirosos da Terra, tem-nos em conta de amigos queridos não subalternos que te poderão ajudar, porém que necessitam, a seu turno, de evoluir também.
6 - AGRADECIMENTO

Seja qual for a ocorrência que te surpreenda, concitando-te ao júbilo ou à aflição, dá graças.
Não te olvides do valor da gratidão nos passos da vida.
A cada instante estás chamado ao reconhecimento pelas concessões que te enriquecem em experiências, em iluminação, em saúde, em paz e não apenas ante os valores transitórios das moedas e dos títulos que muito se disputam na Terra.
Não te impeças a emoção do reconhecimento, a exteriorização dos sentimentos da gratidão.
Há pessoas que, não obstante a elevação de propósitos, se sentem constrangidas, angustiando-se sem encontrarem a forma de expressar as graças de que estão possuídas. Outras acreditam que não se faz necessário apresentar ao benfeitor os protestos de reconhecimento, porque são mais valiosos os que se demoram silenciados.
Não têm razão os que assim pensam e agem.
Uma palavra de bondade ou uma frase simples, porém imantada pela unção da sinceridade, estimula e alegra quem recebe, concitando a novos cometimenntos, à continuação dos gestos de enobrecimento e amor.
Embora quem se faz útil e goste de ajudar não se deva prender à resposta do beneficiado, não há por que se desconsidere o dever do amor retributivo.
O amor que enfrenta a hostilidade e a transforma ressurge como compreensão no agressor, assim retribuindo a afeição recebida.
Agradece, desse modo, as coisas que te cheguem, como sejam e de que se constituam. Favores divinos objetivam tua felicidade.
Se defrontas problemas, agradece a oportunidade e desafio para a luta pela paz.
Se tropeças na incompreensão, agradece o ensejo de provar a excelência dos teus sentimentos.
Se despertas na enfermidade, agradece a concessão do sofrimento purificador.
Se recebes bondade e afeição, agradece a dádiva para o esforço evolutivo.
Se colhes alegrias e saúde, agradece o tesouro que deves aplicar nas finalidades superiores da vida.
O espinho, o pedregulho chamam a atenção do viandante para o solo por onde transita; o aguilhão impele à rota correta; o testemunho de qualquer condição revela as qualidades íntimas.
Gratidão é sentimento nobre - cultiva-o para o próprio bem.
O sol aquece, a noite tranqüiliza, a chuva alimenta, o adubo fertiliza, a poda revigora - tudo são bênçãos da vida.
Agradece sem cessar as doações divinas que fruis e esparze gratidão onde estejas, com quem te encontres, diante de tudo que recebas ou que te aconteça.
Joanna de Ângelis
Leis Morais da Vida