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terça-feira, 9 de julho de 2013

Um retrato do mercado editorial espírita

Um retrato do mercado editorial espírita PDF Imprimir E-mail
Escrito por Izabel Vitusso e Eliana Haddad   
richard simonetti 6
Com 53 livros publicados, Richard Simonetti, 77anos, nasceu em Bauru. Filho de duas tradicionais famílias de descendência italiana, conviveu desde cedo com atividades sociais. Sua mãe, Adélia, dirigiu por várias décadas uma oficina de costura, no Centro Espírita Amor e Caridade, atendendo migrantes e famílias pobres da região. Casado com Tânia Regina Simonetti, é pai de Graziela, Alexandre, Carolina e Giovana e avô de Rafaela. Com mais de dois milhões e duzentos mil exemplares vendidos, é membro da Academia Bauruense de Letras.
Simonetti foi funcionário do Banco do Brasil. Desde que se aposentou, em 1986, passou a se dedicar inteiramente às atividades espíritas, particularmente no Centro Espírita Amor e Caridade, ao qual está ligado desde a infância, que desenvolve importante trabalho no campo social – albergue, triagem de migrantes, atendimento à população de rua, creche, assistência familiar e cursos profissionalizantes – beneficiando anualmente cerca de 25 mil pessoas.
Expositor espírita nacional e internacional, com centenas de artigos publicados em jornais, revistas e portais, é de opinião que a imprensa espírita hoje está comportada “até demais”, nela faltando um espaço para críticas e resenhas literárias.
Em 1970, articulou o movimento inicial de instalação dos clubes do livro espírita no Brasil. E é justamente sobre esse mercado editorial que ele fala nessa entrevista. Acompanhe.
Como está o mercado do livro?
Há um problema sério: a concorrência. Há muita gente escrevendo, muitas editoras produzindo livros espíritas, não raro sem qualidade, sem conteúdo doutrinário, Médiuns psicografam algumas mensagens e entendem que devem ser publicadas, confundindo exercícios de psicografia com material para um livro.
Em sua opinião qual o maior desafio do mercado editorial espírita?
Sustentar a pureza doutrinária. Depois que Chico Xavier desencarnou “soltaram a tampa da revelação”. Médiuns transmitem fantasias sobre a vida espiritual, situando-as como desdobramentos do conhecimento espírita. Livros assim vendem bem, fazem mal ao movimento.
Por que o senhor acha que vendem tanto esses livros? É o pessoal que não sabe escolher ou é o que se está oferecendo a eles?
Falta de cultura doutrinária. Gostam de fantasia, principalmente quando romanceada. Aceita-se tudo sem a pergunta essencial: é compatível com a doutrina?
Como fazem a escolha de romances em seu centro?
Impossível analisar tudo o que é publicado. Um bom recurso é selecionar editoras sérias, que publicam livros observando o conteúdo doutrinário.
O senhor acha que essa situação de mercado é consequência apenas da parte comercial, de ser preciso ganhar dinheiro, ou pode ser um movimento das trevas?
Ingenuidade atribuir tudo às trevas. O problema maior é a falta de compromisso com a doutrina, superada pelo empenho de vender mais, ter mais associados, lucrar mais.
O senhor, como autor, presidente do Ceac, foi também o grande incentivador do clube do livro. Como avalia esse projeto hoje?
Em 1976 realizamos, sob os auspícios da USE-Bauru, um amplo movimento de divulgação do Clube do Livro Espírita. Conseguimos contabilizar perto de 200 CLEs. Hoje há um número bem maior, realizando o mais importante trabalho de divulgação do livro espírita. Os CLEs vendem muito.
Qual foi a dinâmica pensada para o funcionamento do clube?
O CLE é muito simples. Organiza-se uma lista de adesões. Em seguida é feita a compra do livro junto à editora, com distribuição ao associado que paga a mensalidade e recebe o seu exemplar. Quando fizemos a campanha de instalação do CLE o slogan era “O Ovo de Colombo” da divulgação espírita. Fizemos inclusive no Correio Fraterno. Muito simples, prático e objetivo.
A ideia era fazer um livro vendendo-o bem mais barato antes de ele sair para as distribuidoras, ganhando-se no volume das vendas, é isso?
Sim e, o mais importante: todos ganham. A editora, que publica mais livros, o CLE, que vende muito, e o leitor, que paga mais barato o livro.
Mas sabe-se que algumas pessoas não honram o compromisso de vender exclusivamente para clubes o que compram com grande desconto, e acabam prejudicando a própria dinâmica do mercado.
Normalmente não deve acontecer, porquanto um CLE costuma ter no mínimo 50 associados. Nenhuma livraria compra tantos livros de um mesmo título.
O que o senhor mudaria se tivesse que lançar o clube do livro hoje?
Tentaria mudar a mentalidade dos dirigentes de clube de livro. Hoje temos um problema sério. Para fazer publicar um romance, a editora vai desembolsar, por exemplo, cinco reais e cinquenta centavos. Os clubes cobram do associado cerca de vinte reais. Mas eles querem comprar da editora por no máximo 6,50. A editora vai receber um real de lucro bruto em cima do custo do livro, que não inclui o custo de manutenção da própria editora. Já escrevi sobre isso. É preocupante como os dirigentes de clube lidam com isso, interessados sempre no lucro. Muitos querem preço, o livro barato. E nem sempre estão preocupados com o conteúdo nem com a sobrevivência das editoras.
Há casos de trabalhadores em casas espíritas que, entusiastas na divulgação da doutrina, vendem livros em porta de centros pelo preço que conseguem nas distribuidoras, o que tem causado problemas com livrarias espíritas há muito estabelecidas nas cidades. Vale tudo em nome da divulgação?
Vender livros nas portas do centro até abaixo do preço de custo pode ser um belo ideal, mas não é compatível com o bom senso. É preciso cuidado para preservar as livrarias. Elas têm despesas, precisam de uma margem de lucro para se sustentar. Considere-se, ainda, que o leitor pode comprar apenas porque está barato. Será que irá ler?
Comenta-se que 60% das pessoas que assinam o clube de livro espírita não são espíritas, gostam de ler romance por prazer. O senhor tem alguma informação sobre isso?
Provavelmente isso acontece. Segundo o IBGE apenas 2% da população brasileira dizem-se espíritas. Certamente haverá muita gente associada ao CLE sem vinculação ao Espiritismo. Os CLEs fazem um excelente trabalho de divulgação entre os simpatizantes, mas seria conveniente uma dosagem quanto ao conteúdo, não ficando apenas em romances, que nem sempre são de conteúdo legitimamente espírita.
E sobre os temas abordados nos livros? O que poderia se fazer de novo em termos de conteúdo?
Pela minha experiência como escritor, acho que a literatura espírita deve ser clara, objetiva, agradável, bem-humorada. Procuro fazer isso, tanto que há pessoas usando os meus livros para fazer palestras e citações. Não há necessidade do uso de dicionário.
É fácil escrever fácil?
Mario Moacyr Porto diz que é fácil escrever difícil; difícil é escrever fácil. Posso escrever um artigo em rápidos minutos, mas é provável que o leitor tenha dificuldade para entender. É fundamental fazê-lo de forma objetiva, eliminar termos de difícil entendimento, demonstrar clareza de linguagem. Isso dá muito trabalho.
O público hoje compra muito mais os lançamentos e deixa de comprar os livros básicos, as obras subsidiárias, se assim podemos dizer, como Kardec, Emmanuel, Denis, Yvonne Pereira, Herculano. O que acontece?
As obras de Allan Kardec vendem bem. Outros autores talvez careçam de maior divulgação. Herculano Pires escreveu muitos livros, mas quase não os vemos, edições esgotadas. É um autor dos mais importantes.
O senhor acha que o público mudou ou continua precisando das mesmas coisas?
Há uma elevação do nível cultural do brasileiro. Natural que hoje se exija mais dos autores.
O que deve ter um bom romance espírita?
Deve ter história envolvente, que prenda a atenção, mas com temática legitimamente espírita que ofereça ao leitor subsídios para uma visão doutrinária da existência humana. Vemos isso na obra de André Luiz. Histórias que fluem bem, mas em cada página há algo para pensar.
Alguns editores têm se manifestado sobre a questão de livros, como o caso dos de Chico Xavier, que ainda não estão em domínio público, mas já estão sendo disponibilizados para serem baixados na internet. É esse o caminho para a divulgação?
Se não houver autorização do autor ou da editora, é uma desonestidade, incompatível com os princípios espíritas. Ressalte-se, porém, que esse movimento não tem grande repercussão. Ler em monitor de computador não é convidativo.(Por Izabel Vitusso e Eliana Haddad)

Entrevista publicada no jornal Correio Fraterno - edição 448 - novembro/dezembro 2012

terça-feira, 19 de março de 2013

Uma tomada de consciência.(...)"Ninguém ou quase ninguém compreende que sem uma estruturação cultural elevada, sem estudos aprofundados no plano cultural, que revelem as novas dimensões do mundo e do homem na perspectiva espírita, o espiritismo não passará de uma seita religiosa de fundo egoísta, buscando a salvação pessoal de seus adeptos, precisamente aquilo que Kardec lutou para evitar. A finalidade do espiritismo, como Kardec acentuou, não é a salvação individual, mas a transformação total do mundo, num vasto processo de redenção coletiva.(...)",(...)"Temos de dar às novas gerações a possibilidade de afirmarem, diante do desenvolvimento das ciências e do avanço geral da cultura, como disse Denis Bradley: “Eu não creio, eu sei!” Porque é pelo saber, e não pela crença, pela fé racional e não pela fé cega, pelo conhecimento e não pelas teorias indemonstráveis, que o espiritismo, como revelação espiritual, terá de modelar a nova realidade terrena, apoiado na confirmação científica, pela pesquisa, dos seus postulados fundamentais. A revelação humana confirma e comprova a revelação divina."..., (...)"Chega de pieguice religiosa, de palestras sem fim sobre a fraternidade impossível no meio de lobos vestidos de ovelhas. Chega de caridade interesseira, de imprensa condicionada à crença simplória, de falações emotivas que não passam de formas de chantagem emocional. Precisamos da Religião viril que remodela o homem e o mundo na base da verdade comprovada. Da caridade real que não se traduz em esmolas, mas na efetivação da fraternidade humana oriunda do conhecimento de nossa constituição orgânica e espiritual comuns, ou seja, da inelutável igualdade humana....",(...)Estudemos a doutrina aprofundando-lhe os princípios. Remontemos o nosso pensamento às lições viris do Cristo, restabelecendo na Terra as dimensões perdidas do seu Evangelho. Essa é a nossa tarefa...."

Uma tomada de consciência PDF Imprimir E-mail
Escrito por J. Herculano Pires   
sociedadeO apego ao contingente, ao imediato, apaga na consciência dos nossos dias o senso da responsabilidade espiritual. Nem mesmo a ronda constante da morte consegue arrancar o homem atual da embriaguez do presente. O problema do espírito e da imortalidade só se aviva quando ligado diretamente a questões de interesse pessoal. O católico, o protestante, o espírita se equivalem nesse sentido. Todos buscam os caminhos do espírito para a solução de questões imediatistas ou para garantirem a si mesmos uma situação melhor depois da morte.

A maioria absoluta dos espiritualistas está sempre disposta a investir (este é o termo exato) em obras assistenciais, mas revela o maior desinteresse pelas obras culturais. Apegam-se os religiosos de todos os matizes à tábua de salvação da caridade material, aplicando grandes doações em hospitais, orfanatos e creches, mas esquecendo-se dos interesses básicos da cultura. Garantem os juros da caridade no após-morte, mas contraem pesadas dívidas no tocante à divulgação, sustentação e defesa de princípios fundamentais da renovação da cultura planetária.
A imprensa, a literatura, o ensaio, o estudo, a fixação das linhas mestras da nova cultura terrena ficam ao deus-dará. Falta uma tomada de consciência, particularmente no meio espírita, da responsabilidade de todos na construção e na elaboração da Nova Era, que é trabalho dos homens na Terra. Ninguém ou quase ninguém compreende que sem uma estruturação cultural elevada, sem estudos aprofundados no plano cultural, que revelem as novas dimensões do mundo e do homem na perspectiva espírita, o espiritismo não passará de uma seita religiosa de fundo egoísta, buscando a salvação pessoal de seus adeptos, precisamente aquilo que Kardec lutou para evitar.
A finalidade do espiritismo, como Kardec acentuou, não é a salvação individual, mas a transformação total do mundo, num vasto processo de redenção coletiva. Proporcionar aos jovens uma formação cultural apoiada na mais positiva e completa base espiritual, que mostre a insensatez das concepções materialistas e pragmatistas, dando-lhes a firmeza necessária na sustentação e defesa dos princípios doutrinários, não é só caridade, mas também realização efetiva dos objetivos superiores do espiritismo nesta fase de transição. Sem esse trabalho não poderemos avançar com segurança e eficácia na direção da Era do Espírito. Temos de dar às novas gerações a possibilidade de afirmarem, diante do desenvolvimento das ciências e do avanço geral da cultura, como disse Denis Bradley: “Eu não creio, eu sei!” Porque é pelo saber, e não pela crença, pela fé racional e não pela fé cega, pelo conhecimento e não pelas teorias indemonstráveis, que o espiritismo, como revelação espiritual, terá de modelar a nova realidade terrena, apoiado na confirmação científica, pela pesquisa, dos seus postulados fundamentais. A revelação humana confirma e comprova a revelação divina.
Esse é o problema que ninguém parece compreender. Todos sonham com o momento em que a ciência deverá proclamar a realidade do espírito. Mas essa proclamação jamais será feita, se a ciência espírita não atingir a maioridade, não se confirmar por si mesma, podendo enfrentar virilmente, no plano da inteligência e da cultura, a visão materialista do mundo e a concepção materialista do homem. Por isso precisamos de universidades espíritas, de institutos de cultura espírita dotados de recursos para uma produção cultural digna de respeito, de laboratórios de pesquisa psíquica estruturados com aparelhagem eficiente e orientados por metodologia segura, planejada e testada por especialistas de verdade, capazes de dominar o seu campo de trabalho e de enfrentar com provas irrefutáveis os sofismas dos negadores sistemáticos. É uma batalha que se trava, o bom combate de que falava o apóstolo Paulo, agora desenvolvido com todos os recursos da tecnologia.
Chega de pieguice religiosa, de palestras sem fim sobre a fraternidade impossível no meio de lobos vestidos de ovelhas. Chega de caridade interesseira, de imprensa condicionada à crença simplória, de falações emotivas que não passam de formas de chantagem emocional. Precisamos da Religião viril que remodela o homem e o mundo na base da verdade comprovada. Da caridade real que não se traduz em esmolas, mas na efetivação da fraternidade humana oriunda do conhecimento de nossa constituição orgânica e espiritual comuns, ou seja, da inelutável igualdade humana. De exposições sábias e profundas dos problemas do espírito, nascidas da reflexão madura e do estudo metódico e profundo. Temos de acordar os dorminhocos da preguiça mental e convocar a todos para as trincheiras da guerra incruenta da sabedoria contra a ignorância, da realidade contra a ilusão, da verdade contra a mentira. Sem essa revolução em nossos processos não chegaremos ao mundo melhor que já está batendo, impaciente, às nossas portas.
Não façamos do espiritismo uma ciência de gigantes em mãos de pigmeus. Ele nos oferece uma concepção realista do mundo e uma visão viril do homem. Arquivemos para sempre as pregações de sacristão, os cursinhos de miniaturas de anjos, à semelhança das miniaturas japonesas de árvores. Enfrentemos os problemas doutrinários na perspectiva exata da liberdade e da responsabilidade de seres imortais. Reconheçamos a fragilidade humana, mas não nos esqueçamos da força e do poder do espírito encerrado no corpo. Não encaremos a vida cobertos de cinzas medievais. Não façamos da existência um muro de lamentações. Somos artesãos, artistas, operários, construtores do mundo e temos de construí-lo segundo o modelo dos mundos superiores que explendem nas constelações.
Estudemos a doutrina aprofundando-lhe os princípios. Remontemos o nosso pensamento às lições viris do Cristo, restabelecendo na Terra as dimensões perdidas do seu Evangelho. Essa é a nossa tarefa.

Fonte: Jornal Mensagem, órgão do Grupo Espírita Cairbar Schutel, sob a direção de J. Herculano Pires - Ano 1 - Set/75

Curiosidade e renovação .(..)" Há outra forma de curiosidade, bem intencionada e às vezes piedosa, não há dúvida, mas improdutiva, porque não sai da rotina, não opera qualquer mudança de ideias ou de hábitos. É o caso, por exemplo, das pessoas que vão ao centro espírita somente por causa dos guias espirituais e, por isso mesmo, toda a atenção se dirige ao médium, a ninguém mais. De certo tempo em diante, a curiosidade rotineira termina criando a "idolatria do médium" e a "devoção dos guias". E o aprendizado? E a renovação da criatura? E a mudança de hábitos? Nada. Há pessoas que frequentam centros espíritas há cinco ou dez anos, ouvindo a palavra dos guias, pedindo mensagens e comparecendo religiosamente às sessões mediúnicas, mas continuam pensando como pensavam antes: ainda têm medo de "azar", ainda acreditam no inferno, ainda fazem penitência...", (...)"certas pessoas são capazes de caminhar muitos quilômetros à procura de um médium, com chuva ou com sol quente, seja lá onde for, mas não têm a paciência nem o interesse de ficar meia hora pelo menos no recinto de um centro para ouvir uma palestra, uma elucidação doutrinária". ...

Curiosidade e renovação PDF Imprimir E-mail
Escrito por Deolindo Amorim   
Seg, 23 de Janeiro de 2012 14:07
obras bsicasDisse Allan Kardec, em relação ao espiritismo, que "o período da curiosidade já passou". Estávamos na segunda metade do século 19.
A observação de Kardec está na parte final de O livro dos espíritos – Conclusão 5. Teria passado mesmo? É a pergunta que muita gente ainda faz. Como não existe conceito absoluto na linguagem humana, devemos considerar que o período da pura curiosidade realmente já passou para aqueles que não se prendem mais à mesa mediúnica nem aos médiuns como o único ponto de interesse pelo espiritismo; mas ainda não passou para quantos ainda estão na fase inicial, durante anos a fio, consultando os mentores espirituais, sem um passo sequer no conhecimento aprofundado.
Tudo é relativo, todos sabem disto. Claro que o codificador se referia ao desenvolvimento natural do conhecimento através de etapas: primeiramente a curiosidade, o desejo de ver com os próprios olhos, a vontade incontida de falar com espíritos; depois naturalmente o raciocínio analítico, a reflexão; por fim, e pela ordem lógica, vem a convicção, a integração na doutrina. E daí por diante, não se pára mais de estudar e observar, pois a "sede de saber" não admite limitações.
Houve, de fato, um período de curiosidade, aliás necessário, e foi o período em que todas as preocupações se concentraram na parte mediúnica do espiritismo. O elemento mediúnico nunca deixou nem deixaria de ser necessário e sempre importante, mas a fixação exclusiva no fenômeno, como se não houvesse mais motivação, com o tempo cedeu lugar a outra ordem de cogitações, que se polarizaram exatamente na Doutrina e suas consequências. Um campo novo, que se abriu para muita gente no ciclo histórico das primeiras obras espíritas. E, por isso mesmo, Allan Kardec frisou muito bem: a curiosidade passou.
Claro que há curiosidade no sentido comum de apenas querer ver, sem qualquer objetivo sério, e curiosidade no sentido especial de procurar a verdade ou adquirir conhecimento. Esta última expressão de curiosidade revela bom senso e honestidade de propósitos. É, enfim, uma curiosidade que a própria doutrina espírita suscita a cada passo. Mas o que ainda se nota, em grande parte, é a curiosidade vulgar, sem a mínima preocupação de estudo ou de enriquecimento espiritual, isto é, a curiosidade dos que procuram apenas espetáculo, e nada mais. Há outra forma de curiosidade, bem intencionada e às vezes piedosa, não há dúvida, mas improdutiva, porque não sai da rotina, não opera qualquer mudança de ideias ou de hábitos. É o caso, por exemplo, das pessoas que vão ao centro espírita somente por causa dos guias espirituais e, por isso mesmo, toda a atenção se dirige ao médium, a ninguém mais. De certo tempo em diante, a curiosidade rotineira termina criando a "idolatria do médium" e a "devoção dos guias". E o aprendizado? E a renovação da criatura? E a mudança de hábitos? Nada. Há pessoas que frequentam centros espíritas há cinco ou dez anos, ouvindo a palavra dos guias, pedindo mensagens e comparecendo religiosamente às sessões mediúnicas, mas continuam pensando como pensavam antes: ainda têm medo de "azar", ainda acreditam no inferno, ainda fazem penitência. Os hábitos religiosos continuam sendo os mesmos. Isto quer dizer que não aprenderam espiritismo, não receberam ou não absorveram esclarecimentos da doutrina. Ainda permanecem na fase inicial da curiosidade comum, não deram um passo adiante, pois não apresentam qualquer mudança. É o caminho para o fanatismo. Mas o espiritismo é uma doutrina renovadora. À medida que se estuda a doutrina e que se absorve o ensino espírita, naturalmente alguma coisa começa a mudar, aos poucos: a visão da vida e das coisas, a concepção de Deus e sua suprema justiça; a noção de responsabilidade e assim por diante.
Já se disse, e não faz mal repetir, que certas pessoas são capazes de caminhar muitos quilômetros à procura de um médium, com chuva ou com sol quente, seja lá onde for, mas não têm a paciência nem o interesse de ficar meia hora pelo menos no recinto de um centro para ouvir uma palestra, uma elucidação doutrinária. No entanto, como ainda ensina Allan Kardec, que o espiritismo progrediu sobretudo desde que foi compreendido em sua "essência íntima". É realmente a essência da Doutrina, o conhecimento da doutrina que se aprende a valorizar a comunicação dos espíritos e sua significação no progresso moral. Enquanto a mesa mediúnica for apenas objeto de curiosidade ou simples motivo de devoção, não há renovação, não há progresso no conhecimento do espiritismo. Mas temos de reconhecer, finalmente, que a orientação de origem tem muita influência, sob este ponto de vista. Há centros que fazem questão de dar preferência aos trabalhos mediúnicos, como se fossem a razão de ser de sua existência, enquanto a doutrina fica em segundo plano e às vezes nem é comentada nas reuniões... Então, os frequentadores assíduos, se habituam à rotina e não entendem o espiritismo a não ser pela via mediúnica. Se é assim que entendem o espiritismo, evidentemente não se interessam pelas explanações doutrinárias. Lembro-me bem de um centro espírita, que frequentei no bairro de São Cristóvão, há muitos anos, nos primeiros contatos que tive com o espiritismo. O presidente era o médium da casa e fazia tudo: doutrinava mediunizado, dirigia o serviço de passes, cuidava das desobsessões etc. Nenhum livro da doutrina. Toda a assistência via o centro exclusivamente pela pessoa do médium. Tudo se fazia em função do médium. Tempos depois, apareceu alguém, que começou a colaborar no centro e conseguiu introduzir o estudo doutrinário, semanal. Então, ficou reservado um dia especialmente para a explanação da Doutrina. Pois bem, a maior parte da assistência, que já estava mal acostumada, reagiu desagradavelmente. Lembro-me bem, como se fosse hoje, de que certa vez um dos frequentadores, daqueles que nunca faltavam às sessões mediúnicas, ao chegar à sala, assim que viu no quadro de aviso que aquela noite seria de estudo doutrinário, voltou imediatamente e ainda falou assim, quase afrontado: "Isto não interessa!" e se foi mesmo... Em parte, alguns centros são responsáveis por essa discrepância, justamente porque não criam desde cedo o hábito do estudo, sem desprezar a parte fenomênica. O equilíbrio antes de tudo.

Texto publicado no jornal Correio Fraterno, edição 108,  dezembro de 1979

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Mensagem de Deolindo Amorim alerta sobre a necessidade do trabalho social :"se há pessoas padecendo a falta do pão, como manter-se indiferente ao fato e não socorrer o irmão?" ..."Suavizemos suas dores, sim; e, sobretudo, sejamos exemplos de esforço e dedicação..."


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Qui, 19 de Janeiro de 2012 10:12
deolindo3
Todo movimento social, político e religioso, embora fundamentado em ideias universais, é influenciado e em boa dose determinado pelo contexto em que se realiza. Com o espiritismo se deu e se dá algo semelhante, desde o primeiro momento.
Estava nos planos do Espírito da Verdade atribuir, à doutrina espírita, um caráter de tríplice aspecto, fundamental para a realização da sua proposta renovadora. De um lado, o exercício da capacidade investigativa, que nos fizesse utilizar as ferramentas da ciência para comprovação da imortalidade da alma e de suas consequências. De outro, a capacidade reflexiva, de modo que as grandes interrogações da filosofia nos conduzissem ao encontro de nós mesmos e do outro na construção de um projeto evolutivo. Por fim, a busca pela transcendência do “aqui e agora”, representada pela busca de Deus, a que uma religião pura nos conduz, uma religião isenta de dogmas, de rituais e de quaisquer outras exterioridades. Assim, ciência, filosofia e religião se conjugam num tripé que sustenta e dinamiza todo o conhecimento e toda a prática doutrinária.
Partindo-se da ideia inicial, a França do século XIX era o cenário mais propício para a sistematização dos três aspectos referidos. Primeiro, porque o fazer científico galopava velozmente em seu solo, graças às propostas de Augusto Comte, Francis Bacon e de outros teóricos de renome. Segundo, porque a capacidade de abstração e reflexão sempre foram marcas daquela nação. Terceiro, porque, apesar de tudo, as Revoluções de 1830 e 1848 de tal forma fragilizaram a economia e os projetos sociais daquele povo a ponto de impeli-los ao exercício da fraternidade e da beneficência, caminhos que, conduzindo-nos ao outro, fatalmente nos conduziria a Deus. Era inevitável, portanto, sob esses aspectos, que o Consolador, para ser consolidado como tal, surgisse em solo francês.
Compreendendo essa dinâmica, fácil é entender o que se deu com a doutrina espírita quando transportada para o Brasil. O contexto de sua chegada, bem como da sua consolidação, nos revela o encontro com uma população pobre e carente das luzes do raciocínio. A elite intelectual da época, rica e escravocrata, jamais suportaria as ideias da reencarnação e da igualdade entre escravos e senhores, muito menos a noção de solidariedade que deve existir entre as diversas camadas sociais.
Como suportar, também, uma lei de causa e efeito que nos vincula, inexoravelmente, às consequências de tudo o que fazemos, dizemos ou pensamos? Como conciliar uma doutrina de responsabilidade com os desmandos, a arrogância e a prepotência de uma elite viciada e corrompida pelo poder?
Embora melhor assimilada e compreendida por inteligências notáveis, foi no coração da gente simples, pobre e desesperançada que a doutrina espírita encontrou eco mais forte. Foi ali, onde a dor deixava pegadas profundas, que o Consolador fincou raízes e medrou, vistosamente.
Uma decorrência natural desse desenrolar foi o fortalecimento dos trabalhos sociais. Era preciso, para além do alimento da alma, saciar a fome, amenizar a miséria, minorar as diferenças materiais e tornar menos doloroso todo aquele processo de marginalização e aviltamento em que o fim da escravidão e a indiferença política lançavam milhares de pessoas.
O trabalho social foi, e ainda é, portanto, o meio pelo qual o espiritismo conseguiu se fixar em nossas terras. Graças a ele, a teoria da igualdade pôde ceder espaço à prática da caridade, exercitando homens e mulheres no ato da doação de si mesmos.
As possíveis distorções havidas nessas práticas, desde então, não são creditáveis à doutrina, mas às nossas próprias limitações. Somos nós que, ainda presos a antigos atavismos, costumamos perder o foco e seguir propostas indevidas.
Por vezes, esquecemos que a fome não existe para que a saciemos, para que sejamos caridosos. Ela é decorrente da ausência de políticas públicas adequadas que resolvam o problema da miséria e restitua as pessoas a sua condição de dignidade. Sua erradicação, com acerto, é de inteira responsabilidade das autoridades constituídas. Contudo, se há pessoas padecendo a falta do pão, como manter-se indiferente ao fato e não socorrer o irmão?
O trabalho social continua sendo a nossa ponte principal com o outro e com Deus, no contexto atual. Muito mais do que de discussões estéreis e de disputas intestinas, necessitamos trabalhar pelo outro, cedendo ao sentimento de solidariedade que deve mover os nossos corações.
Suavizemos suas dores, sim; e, sobretudo, sejamos exemplos de esforço e dedicação. Assim agindo, nosso trabalho, para além da fome física, será capaz de despertar consciência para a verdadeira vivência do evangelho.

Texto enviado pelo médium Pedro Camilo e de autoria atribuída ao jornalista Deolindo Amorim. A mensagem foi recebida em Votuporanga, BA, em 24 de outubro de 2010

Fonte: Site Correio Fraterno

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Um encontro real entre nós dois -Hermíni C. Miranda

Um encontro real entre nós dois




De repente você se dá conta, como eu, de que acaba de ingressar no clube dos macróbios. No meu caso, 90 anos. E aí começa a perceber que o mundo não é mais aquele que você conheceu, especialmente não mais estão ali as pessoas que conheceu e amou. Quase todas desapareceram na invisibilidade. Bem sei que é uma ausência temporária, pois lá estão na dimensão espiritual à nossa espera para as emoções do reencontro. Mas que umas tantas delas deixam aberto em nós um espaço maior, isso também é verdade.
Para mim a ausência mais doída é a da querida dona Helena, minha mãe.
Talvez você se lembre que eu abri para ela um capítulo especial no livro Nossos filhos são espíritos.
Ela partiu para o outro lado da vida em 1960, aos 66 anos. Eu tinha 40.
Portanto, já se passaram cinquenta anos. Ao longo desse tempo, muita coisa aconteceu, claro. Cerca de trinta deles, participando de trabalhos mediúnicos. Duas vezes ela me enviou mensagens psicografadas e uma vez falei com ela através de médium de minha confiança. Ela me proporcionou evidências indiscutíveis, citando fatos dos quais só ela e eu sabíamos.
Recentemente – cerca de um ano ou dois – tive com ela um sonho do qual só me ficou na memória de vigília um episódio marcante. No sonho, ela veio ao meu encontro e ajoelhou-se a meus pés.  Recuperado da impactante perplexidade que a cena me suscitou, ajoelhei-me também diante dela e o trocamos um beijo saudoso, aqueles que somente ocorrem entre mãe e filho.
Bem, a historinha ainda não ficou aí concluída. Uma semana depois, recebi um e-mail de outra amiga, médium com a qual trabalhei num grupinho doméstico, do qual, entre outros queridos amigos e amigas, Deolindo Amorim sentava-se à minha esquerda e ela, à direita.
A amiga frequentava uma instituição espírita no Rio.
Dizia-me naquela carta inesperada que ao encerrarem-se os trabalhos mediúnicos da casa, aproximara-se dela uma entidade – que ela descreveu sumariamente, mas não da qual não guardara o nome. “Diga ao Herminio – pediu ela – que não foi somente um sonho. Houve um encontro real entre nós dois.”
A amiga médium, em conversa posterior comigo, ao telefone, acrescentou um detalhe que não mencionara no e-mail: o gesto dela se reportava à remota existência minha, aí pela Idade Média, quando eu lhe proporcionara a grande alegria, tornando-me sacerdote católico, sonho dela não realizado nesta vida.
Pois é, leitor/leitora.
Acho que não preciso falar de minha emoção ante esse recado.
Falo agora, porém, para encerrar esta narrativa, repetindo uma frase que usei certa vez e que assim diz:
“Se você perceber neste papel que está lendo, a marca de uma lágrima, não se preocupe. É minha.”
 
Artigo do Correio Fraterno.

O meu único encontro com Herculano Pires




Cirso Santiago
Fui e sou admirador do professor José Herculano Pires, Acompanhei grande parte de seu trabalho através do rádio, da televisão, do livro e do jornal. Ainda hoje, quando já não o temos carnalmente entre nós, ampliando seu discurso, busco com renovado interesse suas obras para aprender, reciclar ou sedimentar conceitos. E a cada pesquisa descubro mais e mais sua grandeza. E dos escaninhos de minha memória saltam logo as palavras judiciosas do escritor Mário Graciotti:
"De que distância, de que regiões, de que época virá esse espírito que se instalou na engrenagem somática de um dos mais curiosos fenômenos intelectuais do Brasil nascente, o poeta, o jornalista, o escritor, o filósofo Herculano Pires?"
"A constante e invariável temática que flui de sua bela inteligência e de seu grande coração revela uma diretiva uniforme e impressionante, da qual podemos discordar, aqui ou ali, mas difícil se nos torna relegá-la a plano secundário." (1)
Foi no dia 9 de março de 1979, às 21hl5, que tombou esse Altaneiro Jequitibá do Espiritismo em terras brasileiras. Caiu seu corpo físico vitimado por um enfarto, mas sua essência, o Espírito Herculano Pires, continuou em pé, vibrante e dinâmico como dantes. Prova isto, sua manifestação mediúnica logo após seu desencarne, conforme registro na edição n.° 100 deste jornal. O Grupo Espírita Caírbar Schutel, que há anos funciona na casa da família Pires, estava reunido naquela noite e o professor ali compareceu testemunhando a continuidade da vida, a exemplo do que já fizeram outros espíritos de grande envergadura moral. Diz o articulista: "Alguns familiares, que não participavam da sessão, levaram o professor para o hospital, mas em silêncio, a fim de que o trabalho mediúnico prosseguisse. Terminada a sessão foram lidas duas mensagens psicografadas; uma, sem assinatura e que atribuímos a Caírbar Schutel (patrono do grupo) referia-se, claramente, ao desencarne e a outra do próprio Herculano Pires e dirigida à sua esposa, dona Virgínia." (grifei)
Faz 10 anos, portanto, que o professor Herculano Pires, a quem carinhosamente se atribui o cognome LÉON DENIS BRASILEIRO, partiu para outra dimensão: a dimensão cósmica do Espírito. E sua ausência no movimento espírita é e sempre será relevante.
Por falta de oportunidade, não gozei do seu convívio. Teria me enriquecido muito se isto tivesse sido possível, não há dúvida! Tivemos apenas um encontro. Mas este, por minha exclusiva culpa, foi prejudicado. Aconteceu há coisa de 20 anos, quando desabrochava em mim a mediunidade psicográfica. Com a natural insegurança do médium em desenvolvimento nascente, vivia à procura de quem pudesse ler e opinar sobre as páginas mediúnicas que recebia. Os que estavam à minha volta e que me poderiam prestar esse serviço, ou exageravam nas avaliações elogiosas ou negavam qualquer palavra com medo de melindrar-me ou, quem sabe, para não se comprometer com a minha "obsessão"...
Preocupado com o fenômeno que em mim se realizava e com a lisura doutrinária das páginas que me eram ditadas, continuava a buscar orientações. Fui à Federação Espírita do Estado de São Paulo. Ali, um conhecido confrade, depois de uma passada de olhos no escrito que levei, disse: "Procure o professor Herculano Pires!"
Soube mais tarde que o professor Herculano estaria, certo dia, palestrando e autografando livros num centro daqui do ABC paulista. Não perdi a oportunidade. Após a palestra, procurei falar-lhe. Mas os "vigilantes" não me permitiam aproximar. Comprei então um livro e entrei na fila para colher seu autógrafo e passar-lhe uma mensagem com um bilhete em anexo, em que lhe expunha o meu desejo. No último momento, um "vigilante" ainda tentou frustrar o meu intento. Insisti, intransigente... O professor não entendeu, e nem poderia entender, minha ansiedade. Levantou os olhos do trabalho que realizava e olhou-me com um ar mesclado de espanto e piedade que jamais se apagará de minha memória. Terá pensado numa obsessão? Talvez! O que tenho certeza é que não gostou, e com justa razão, da minha momentânea indisciplina. Percebendo, no entanto, o envelope que eu segurava na mão estendida, recolheu-o a um dos seus bolsos e meneou sua grande cabeça, como a me dizer: "Verificarei depois!"
Sai contente... Mas nunca recebi resposta do professor àquela minha solicitação. Talvez tenha sido por falta de tempo. Foi sempre um homem muito ocupado e, quem sabe, minha preocupação não seria das mais urgentes. Seja como for, perdi a oportunidade de sua abalizada opinião.
Mas hoje, depois de militar vários anos na Redação deste jornal, compreendo melhor a fuga daqueles a quem se pede uma crítica desapaixonada ao nosso trabalho. É que embora a sinceridade com que muitas vezes se formula esse desejo, são poucos ainda os que entre nós estão prontos para aceitar qualquer crítica à sua realização, mormente quando esta é mediúnica. É o professor Herculano sabia disso com muito mais lucidez do que a que suponho ter hoje. E por isso, certamente, considerou que sua opinião não seria bem absorvida por mim naquela altura (e hoje seria? Ah!... dúvida cruel). Silenciou, porque, embasado em sua larga experiência, sentiu que eu, como tantos, não estava apto para compreender que a crítica, independente do seu teor ser-nos favorável ou não, quando bem aproveitada pelo uso da razão, funciona sempre à maneira de um buril que, guiado por compenetrada inteligência, acaba por libertar, pouco a pouco, a preciosa gema da crosta desvaliosa.
Obrigado professor Herculano. Valeu o nosso único encontro. Valeu seu silêncio-crítico que me tem levado a raciocinar muito sobre as minhas tarefas com o desejo de acertar. Registrar esse fato foi à maneira que encontrei para prestar-lhe minha singela homenagem nesse marco de sua passagem para o "outro mundo".
Nota: (1) Texto constante do prefácio do livro Barrabás e o Relato de Judas, de J. Herculano Pires.

Correio Fraterno no 219  março de 1989
http://www.correiofraterno.com.br/acervo/decada-de-80/46-no219-mar-1989-no219-mar-1989-/158-o-meu-o-encontro-com-herculano-pires