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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Divulgação de Mensagens Mediúnicas


                                                                 Marta Antunes Moura

Um dos correspondentes da Revista Espírita enviou a  Allan Kardec, a seguinte pergunta,: “Deve-se publicar tudo quanto dizem os Espíritos?” O Codificador do Espiritismo respondeu a indagação com outra pergunta: “(…) seria bom publicar tudo quanto dizem e pensam os homens?”[1]
Antes, porém, de emitir opinião abalizada sobre o assunto, Kardec  apresenta  ponderadas considerações que merecem ser recordadas, sobretudo porque permanecem atuais:
Quem quer que possua uma noção do Espiritismo, por mais superficial que seja, sabe que o mundo invisível é composto de todos os que deixaram na Terra o envoltório visível. Entretanto, pelo fato de se haverem despojado do homem carnal, nem por isso os Espíritos se revestiram da túnica dos anjos. Encontramo-los de todos os graus de conhecimento e de ignorância, de moralidade e de imoralidade; eis o que não devemos perder de vista. Não esqueçamos que entre os Espíritos, assim como na Terra, há seres levianos, estouvados e zombeteiros; (pseudo sábios); vãos e orgulhosos, de um saber incompleto; hipócritas, malvados e (…) existem os sensuais, os ignóbeis e os devassos, que se arrastam na lama. Ao lado disto, tal como ocorre na Terra, temos seres bons, humanos, benevolentes, esclarecidos, de sublimes virtudes (…); resulta que o mundo dos Espíritos compreende seres mais avançados intelectual e moralmente que os nossos homens mais esclarecidos, e outros que ainda estão abaixo dos homens mais inferiores.[2]
Prosseguindo em suas considerações, Kardec enfatiza a necessidade de aprendermos analisar o teor das mensagens mediúnicas, atentos à linguagem utilizada pelo comunicante desencarnado, principalmente quando esta  comunicação é subscrita com o nome de personalidade conhecida, respeitada e amada.
Desde que esses seres [desencarnados] têm um meio patente de comunicar-se com os homens, de exprimir os pensamentos por sinais inteligíveis, suas comunicações devem ser o reflexo de seus sentimentos, de suas qualidades ou de seus vícios. Serão levianas, triviais, grosseiras, mesmo obscenas, sábias, sensatas e sublimes, conforme o seu caráter e sua elevação. Revelam-se por sua própria linguagem; daí a necessidade de não se aceitar cegamente tudo quanto vem do mundo oculto, e submetê-lo a um controle severo. (…).[3]
Os comentários que se seguem, expõem de forma clara o pensamento de Allan Kardec relativo ao assunto, e as suas ponderações devem servir de modelo para todos nós, espíritas, que cotidianamente recebemos notícias do plano espiritual.
Ao lado dessas comunicações francamente más, e que chocam qualquer ouvido delicado, outras há que são simplesmente triviais ou ridículas. Haverá inconvenientes em publicá-las? Se forem dadas pelo que valem, serão apenas impróprias; se o forem como estudo do gênero, com as devidas precauções, os comentários e os corretivos necessários, poderão mesmo ser instrutivas, naquilo que contribuírem para tornar conhecido o mundo espírita em todos os seus aspectos. Com prudência e habilidade tudo pode ser dito; o mal é dar como sérias coisas que chocam o bom senso, a razão e as conveniências. Neste caso, o perigo é maior do que se pensa. (…).[4]
Surgem, então e muito naturalmente, outras indagações: que riscos podem ocorrer, caso sejam divulgadas mensagens mediúnicas triviais, sem maiores exames?  Que problemas poderiam advir da publicação de mensagens pressupostamente assinadas por entidades veneráveis, mas que, aqui e ali, apresentam pontos discordantes quanto à identificação?  Revelando-se como arguto analista, Kardec esclarece:
Em primeiro lugar, essas publicações têm o inconveniente de induzir em erro as pessoas que não estão em condições de aprofundá-las nem de discernir o verdadeiro do falso, especialmente numa questão tão nova como o Espiritismo. Em segundo lugar, são armas fornecidas aos adversários, que não perdem tempo em tirar desse fato argumentos contra a alta moralidade do ensino espírita; porque, insistimos, o mal está em considerar como sérias coisas que constituem notórios absurdos. Alguns mesmos podem ver uma profanação no papel ridículo que emprestamos a certas personagens justamente veneradas, e às quais atribuímos uma linguagem indigna delas.[5]
Em suma, assevera Allan Kardec, como conclusão da análise deste assunto, tão útil quanto necessário:
(…) As comunicações grosseiras e inconvenientes, ou simplesmente falsas, absurdas e ridículas, não podem emanar senão de Espíritos inferiores: o simples bom senso o indica.  (…) A importância que, pela publicidade, é concedida às suas comunicações, os atrai, excita e encoraja. O único e verdadeiro meio de os afastar é provar-lhes que não nos deixamos enganar, rejeitando impiedosamente, como apócrifo e suspeito, tudo que não for racional, tudo que desmentir a superioridade que se atribui ao Espírito que se manifesta e de cujo nome ele se reveste. Quando, então, vê que perde seu tempo, afasta-se.[6]
Os espíritas esclarecidos estão compromissados com a Causa, onde quer que se encontrem. Pontuam fidelidade à Doutrina Espírita e não se afastam do propósito de se transformarem em pessoas de bem.  Não se deixam enganar por informações infelizes, mentirosas mesmo, presentes em algumas publicações, supostamente espíritas, mas que não resistem a uma análise séria, e o que é mais grave: contrariam a mais elementar conceituação espírita: o controle universal do ensino dos Espíritos que, brilhantemente, Allan Kardec inseriu no primeiro capítulo de A Gênese. Os Milagres e as Predições, que trata do Caráter da Revelação Espírita. É importante conferir.

Assim, nada mais justo, e necessário, portanto, seguir este conselho de Bezerra de Menezes: “(…) Mantenhamo-nos, por isso, vigilantes. Jesus na Revelação e Kardec no esclarecimento resumem para nós códigos numerosos de orientação e conduta. (…).”[7]


[1] Allan Kardec. Revista Espírita- Jornal de estudos Psicológicos.  Ano II, novembro de 1859, pág. 423.
[2] Ibid., pág. 423/424.
[3] Ibid., pág. 424.
[4] Ibid., pág. 425.
[5] Ibid. ibid., pág. 425.
[6] Ibid., pág. 427.
[7] Juvanir Borges de Souza (coord.). Bezerra de Menezes: Ontem e Hoje. Pt. 3,, cap. 16, pág. 153. (mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier, publicada em Reformador de abril de 1977, pág. 104.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KARDEC, Allan. Revista Espírita. Jornal de Estudos Psicológicos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Poesias traduzidas por Inaldo Lacerda Lima. 2ª  ed.  Ano II. Novembro de 1859. Nº 11. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2004.
SOUZA, Juvanir Borges (coordenador). Bezerra de Menezes: Ontem e Hoje. 4ª ed. 4ª imp. Brasília: FEB Editora, 2013.


Fonte : FEB


terça-feira, 6 de agosto de 2013

Mediunismo e Animismo

Colunistas

15/07/2013 08h34 - Atualizado em 15/07/2013 08h34

Mediunismo e Animismo

São fenômenos naturais do psiquismo humano, classificados pela Doutrina Espírita em duas categorias básicas: os mediúnicos e os anímicos (do grego, anima=alma), Os primeiros são intermediados pelos médiuns: “médium é toda pessoa que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos. Essa faculdade é inerente ao homem e, por conseguinte, não constitui um privilégio exclusivo. (…).”[1] Os segundos, mais propriamente denominados de emancipação da alma, pela Codificação Espírita, são produzidos pelo próprio Espírito encarnado.
O intercâmbio entre um plano e outro da vida pode, então, ser regularmente estabelecido por meio de duas vias: a mediúnica e a anímica, Pela via mediúnica o Espírito renasce como médium, pessoa possuidora de uma organização física apropriada, sensível.[2] Pela outra via, a comunicação é realizada pelo próprio encarnado, quando este se encontra no estado de emancipação da alma, vulgarmente conhecido no meio espírita como anímico ou, ainda, de desdobramento espiritual.
As duas vias de comunicação usualmente se sobrepõem, de forma que não é fácil discernir quando um fenômeno é exclusivamente mediúnico ou anímico. A prática mediúnica é denominada mediunismo, a anímica   de animismo.
Todas as manifestações mediúnicas (psicofonia, psicografia, vidência, audiência, intuição, cura, etc.), classificadas por Allan Kardec em fenômenos de efeitos físicos e fenômenos de efeitos inteligentes, trazem o teor anímico do médium, uma vez que este não age como uma máquina, na recepção e transmissão da mensagem do Espírito comunicante. Funciona como um intérprete do pensamento do Espírito, imprimindo naturalmente às comunicações mediúnicas que intermedia características peculiares de sua personalidade: “(…) É por isso que, seja qual for a diversidade dos Espíritos que se comunicam com um médium, os ditados que este obtém, ainda que procedendo de  Espíritos diferentes, trazem, quanto à forma e ao colorido, o cunho que lhe é pessoal.(…)”[3], afirmam Erasto e Timóteo em mensagem que consta de O Livro dos Médiuns. Allan Kardec, por sua vez, acrescenta:
O Espírito do médium é o intérprete, porque está ligado ao corpo que serve para falar e por ser necessária uma cadeia entre vós e os Espíritos que se comunicam, como é preciso um fio elétrico para transmitir uma notícia a grande distância, desde que haja, na extremidade do fio, uma pessoa inteligente que a receba e  transmita.[4]
Para que ocorram fenômenos anímicos faz-se necessário que o perispírito do encarnado desprenda-se, parcial e momentaneamente, do seu corpo físico. Nestas circunstâncias, a alma toma  conhecimento da realidade extrafísica, percebendo-a de acordo com o seu entendimento. Nestas circunstâncias, pode entrar em comunicação com outros Espíritos desencarnados e encarnados. Durante esse desprendimento (ou emancipação), que pode ser mais ou menos duradouro, diz-se que o Espírito do encarnado encontra-se desdobrado, em estado semelhante ao do transe, situado entre a vigília e o sono.
A priori, não há médium totalmente passivo, ou seja, aquele que não interfere na transmissão da mensagem, como ensina o Codificador:
É passivo [o médium] quando não mistura suas próprias ideias com as do Espírito que se comunica, mas nunca é inteiramente nulo. Seu concurso é sempre necessário, como o de um intermediário, mesmo quando se trata dos chamados médiuns mecânicos.[1]
Há, contudo, casos de manifestações anímicas associadas à  obsessão, às vezes despercebidos no grupo mediúnico. Atentemos a este esclarecimento do  Espírito André Luiz:
Neste aspecto surpreendemos multiformes processos de obsessão, nos quais Inteligências desencarnadas de grande poder senhoreiam vítimas inabilitadas à defensivas, detendo-as, por tempo indeterminado, em certos tipos de recordação, segundo as dívidas cármicas a que se acham presas.
Frequentemente, pessoas encarnadas, nessa modalidade de provação regeneradora, são encontráveis nas reuniões mediúnicas, mergulhadas nos mais complexos estados emotivos, quais se personificassem entidades outras, quando, na realidade, exprimem a si mesmas, a emergirem da subconsciência nos trajes mentais em que se externavam noutras épocas, sob o fascínio constante dos desencarnados que as subjugam.[2]
Vemos assim, a necessidade, sempre presente, da aquisição do conhecimento espírita e o desenvolvimento do espírito de fraternidade, aconselhado por Jesus, a fim de analisar o assunto com maturidade e discernimento espirituais.
[1] Allan Kardec. O Livro dos Médiuns. Pt. 2, cap. XIV, it. 159, pág. 257.
[2] Ibid., pág.258.
[3] Ibid., cap. XIX, it.225, pág. 353.
[4] Ibid., it.223, q. 6, pág. 341.
[5]Allan Kardec. O Livro dos Médiuns. Pt. 2,cap. cap. XIX, it. 223,  q. 10, pág. 343.
[6] Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. Mecanismos da Mediunidade. Cap, 23, it. Obsessão e animismo, pág. 181/182.
Referências
KARDEC, Allan. O livro dos Médiuns. Trad. Evandro Noleto Bezerra.1ª ed. 2ª reimp.  Rio de Janeiro: FEB Editora, 2011.
XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. Mecanismos da Mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 26.ª  Rio de Janeiro: FEB Editora, 2006.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O Trigo e o Joio


Marta Antunes Moura
A parábola do Trigo e do Joio é uma das duas únicas parábolas do Evangelho em que Jesus não apenas transmite o ensinamento, como tem o cuidado de explicá-lo (a outra é a do Semeador). De forma genérica, a do trigo e o joio reflete as lutas travadas entre o bem e o mal com a vitória final do bem, como podemos conferir nos registros de Mateus (13:24 a 30):
[...] O Reino dos Céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. Dormindo, porém, os homens, veio o seu inimigo e semeou joio no meio do trigo e partiu. Quando germinou o ramo e produziu fruto, então apareceu também o joio. Aproximando- se os servos do senhor da casa, disseram-lhe: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? De onde, portanto, terá vindo o joio? E ele lhes disse: Um homem inimigo fez isso; os servos lhe dizem: Sendo assim, queres que, após sair, o recolhamos? Ele, porém, diz: Não; para que, ao recolher o joio, não desenraizeis junto com ele o trigo. Deixai crescer ambos juntos até a ceifa e, no tempo da ceifa, direi aos ceifeiros: Recolhei primeiro o joio e atai-o em molhos para os queimar; o trigo, porém, reuni no meu celeiro.1
A interpretação do Cristo ao próprio ensinamento é a seguinte:
[...] O que semeia a boa semente é o filho do homem. O campo é o mundo. A boa semente, essa são os filhos do Reino. O joio são os filhos do malvado. O inimigo que o semeou é o diabo; a ceifa é a consumação da era; os ceifeiros são os anjos. Assim como o joio é recolhido e queimado no fogo, assim será na consumação da era. O filho do homem enviará os seus anjos; e recolherão, do seu Reino, todos os escândalos e obreiros sem lei. E os lançarão na fornalha de fogo; ali haverá o pranto e o ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol, no Reino do seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça! (Mateus, 13:37 a 43.)2
Jesus anuncia de forma inequívoca a Era de Regeneração, que nos aguarda no futuro, assim como os embates a que a Humanidade se submeterá a fim de encontrar o caminho definitivo da felicidade verdadeira. A propósito, Bezerra de Menezes adverte:
Se amanhece a madrugada de luz, também ainda existem sombras densas que tomam conta de outros segmentos da sociedade, gerando impedimentos para a propagação da vida, dos bens da vida, pelos interesses mesquinhos que defluem do materialismo e das expressões covardes da mentira e das paixões humanas.3
O escritor espírita Rodolfo Calligaris (1913-1975) considera que o campo, citado na parábola, faz referência à Humanidade terrestre; o semeador é Jesus; a semente de trigo é o Evangelho; o joio são as interpretações capciosas dos seus textos; e o inimigo são indivíduos que produzem discórdias onde quer que se encontrem.4 A parábola indica também que toda semeadura, boa ou má, estará inevitavelmente atrelada à respectiva colheita que acontecerá no momento oportuno.
[...] E colhe da natureza o que plantou. Do que damos, recebemos. Toda semente, mais cedo ou mais tarde, de acordo com os dispositivos da Criação, irá crescer e frutificar. Por isso devemos ter o máximo cuidado com o que semeamos no solo do coração, nosso ou do semelhante. E a semeadura se dá por pensamentos, palavras, gestos e ações. Certamente cada um só pode dar do que possui. À vista disto, precisamos nos suprir do que é útil e do que é bom.5
A frase “O Reino dos Céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo” indica que possuímos um campo de atuação, moral e intelectual, construído sobre as bases do livre- arbítrio. Como consequência das nossas más escolhas surgem provações existenciais, algumas verdadeiramente dolorosas, que serão amenizadas ou deixarão de existir à medida que aprendermos a semear a “boa semente”. Considerando a explicação de Jesus de que o campo é o mundo em que vivemos,Emmanuel assinala que aí “há infinito potencial de realizações, com faixas de terra excelente e zonas necessitadas de arrimo, corretivo e proteção”.6
O versículo 25 do texto evangélico, ora em estudo, informa que “dormindo, porém, os homens, veio o seu inimigo e semeou joio no meio do trigo e partiu”.1 Esta frase revela o modo de proceder do adversário do Bem, identificado como o “inimigo” na parábola: age em surdina, com o intuito de plantar discórdia e desunião, aproveitando-se do momento de descanso ou de invigilância do trabalhador sincero. Daí a importância de estarmos atentos às influências inferiores que podem surgir a qualquer hora, oriundas de diferentes procedências, inclusive do grupo de trabalho onde atuamos, consoante esta outra instrução de Jesus: “Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede prudentes como as serpentes e inocentes como as pombas”. (Mateus, 10:16.)7
Como reflexão, façamos nossas as palavras do Benfeitor espiritual:
O mundo está cheio de enganos dos homens abomináveis que invadiram os domínios da política, da ciência, da religião e ergueram criações chocantes para os espíritos menos avisados [...]. [...] Mas o discípulo de Jesus, bafejado pelos benefícios do Céu todos os dias, que se rodeia de esclarecimentos e consolações, luzes e bênçãos, esse deve saber, de antemão, quanto lhe compete realizar em serviço e vigilância e, caso aceite as ilusões dos homens abo- Janei ro 2013 • Reformador 23 25 mináveis, agirá sob a responsabilidade que lhe é própria, entrando na partilha das aflitivas realidades que o aguardam nos planos inferiores.8
É muito oportuna a recomendação transmitida pelo senhor aos seus trabalhadores, no momento em que foi informado que o joio fora semeado ao lado do trigo: “Deixai crescer ambos juntos até a ceifa e, no tempo da ceifa, direi aos ceifeiros: Recolhei primeiro o joio e atai-o em molhos para os queimar; o trigo, porém, reuni no meu celeiro”.1 As sutilezas do mal nem sempre são percebidas pelos servidores devotados. Faz-se necessário, então, que a erva daninha cresça junto com a boa semente para que ambas possam ser identificadas, sem equívocos ou falsas suposições. Somente assim a ceifa ocorrerá, em condições harmônicas,sem prejuízos de qualquer natureza.
Importa considerar que a parábola destaca dois tipos de trabalhadores: os denominados servos, incumbidos de semear a semente, e os ceifeiros, responsáveis pela colheita, propriamente dita. Os primeiros somos nós, todos os trabalhadores convocados para servir na seara do Evangelho, cultivadores da boa semente, de acordo com nosso entendimento e disposição. Os segundos, os ceifadores ou “anjos” – segundo a explicação de Jesus –, pertencem à outra categoria de trabalhadores: são os servidores especializados que, por já conseguirem manter sintonia permanente com as fontes do bem, apresentam condições evolutivas que os habilitam a separar o bem do mal e dar destinação específica para cada um. O plantio pode ser feito por qualquer um de nós, aprendizes do Evangelho, mas a ceifa cabe aos ceifeiros, os Espíritos superiores.
O joio, ao brotar, é muito parecido com o trigo, e arrancá-lo antes de estar bem crescido seria inconveniente, por motivos óbvios. Na hora de produção dos frutos, em que será perfeita a distinção entre ambos, já não haverá perigo de equívoco: será ele, então, atado em feixes para ser queimado. Coisa semelhante irá ocorrer com a Humanidade. Aproxima-se a época em que a Terra deve passar por profundas modificações, física e socialmente, a fim de transformar-se num mundo regenerador, mais pacífico e, consequentemente, mais feliz.9
A ceifa expressa o momento final da produção agrícola. No plano individual, trata-se do instante em que a criatura colhe o que cultivou. O joio reunido em feixes para ser queimado simboliza a aferição do real aprendizado do Espírito, demonstrando que as dificuldades não vêm isoladas, mas formam, quase sempre, um corolário de apreensões e dificuldades que nos cabe superar, exercitando a paciência, a humildade e a confiança em Deus.
O último ensino de Jesus,“o trigo, porém, reuni no meu celeiro”, mostra que no Celeiro divino só há espaço para o bem, para o Evangelho do Reino, representado pela semente de trigo. Praticando o bem estaremos dando expansão ao que há de divino em nós e, em consequência, experimentando a felicidade plena. Assim, sob quaisquer circunstâncias, é imperioso guardar confiança no Senhor, tendo fé em suas promessas e contando com a sua proteção, sobretudo nos momentos de sofrimento em que se faz necessário separar o joio do trigo e aquele seja atado em molhos para serem queimados.

1 NOVO TESTAMENTO. Trad. Haroldo Dutra Dias. Brasília: Edicei, 2010. p. 87.
2 ______. ______. p. 89.
3 FRANCO, Divaldo P. Rumos para o futuro. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. Mensagem psicofônica recebida na Reunião Ordinária do Conselho Federativo Nacional da FEB, em 7/11/2010. Reformador, ano 129, n. 2.182, p. 8(6)-9(7), jan. 2011.
4 CALLIGARIS, Rodolfo. Parábolas evangélicas. 11. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. Parábola do joio e do trigo, p. 13.
5 ABREU, Honório O. Luz imperecível. 2. ed. Belo Horizonte: UEM, 1997. Cap. 71, p. 213.
6 XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 2. reimp. Brasília: FEB, 2012. Cap. 68.
7 NOVO TESTAMENTO. Trad. Haroldo Dutra Dias. Brasília: Edicei, 2010. p. 71.
8 XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 2. reimp. Brasília: FEB, 2012. Cap. 43.
9 CALLIGARIS, Rodolfo. Parábolas evangélicas. 11. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. Parábola do joio e do trigo, p. 14.

Revista o Reformador Janeiro de 2013

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

As enfermidades espirituais

 Marta Antunes Moura

As enfermidades espirituais produzem  distúrbios ou lesões no corpo físico decorrentes de desarmonias
psíquicas originadas das condições pessoais do enfermo, da influência de entidade espiritual, ou por ação conjunta de ambos.
Podem ser consideradas como de baixa, média ou de alta gravidade.
As de baixa gravidade, mais fáceis de serem controladas, costumam surgir em momentos específicos
da vida, quando a pessoa passa por algum tipo de dificuldade: perdas afetivas ou materiais; doenças
físicas; insucesso profissional, entre outras. São situações em que as emoções afloram impetuosamente,
gerando diferentes tipos de somatizações: ansiedade, angústia, dores musculares, enxaqueca, distúrbios
na digestão (náuseas, cólicas, azia, má absorção alimentar etc.). Ocorrem
distúrbios do sono, da atenção e do controle emocional. Nessa situação, a prece representa um poderoso
instrumento de auxílio, pois eleva o padrão vibratório do necessitado.
A mudança vibratória permite que a assistência dos benfeitores espirituais favoreça o reajuste psíquico, emocional e físico. A pessoa recupera, então, as rédeas sobre si mesma, rompendo com as idéias
perturbadoras, próprias ou de outrem.
As doenças espirituais de média gravidade podem prolongar-se por anos a fio, mantendo-se dentro
de um mesmo padrão ou evoluindo para algo mais grave. Com o passar do tempo, podem apresentar
um quadro sintomatológico característico de um tipo específico de patologia: insônia persistente; gastrite
e ulceração gástrica; infecções microbianas repetidas; crises alérgicas costumeiras; dores musculares
penosas, formadoras de nódulos ou pontos de tensão; dificuldades respiratórias seguidas da desagradável
“falta de ar”; hipertensão; obesidade ou magreza; crises de enxaqueca prolongadas, não controláveis por
medicamentos; humor claramente afetado, oscilante entre crises de irritabilidade e impaciência incomuns
e momentos de indiferentismo e submissão emocionais; episódios depressivos repetidos seguidos
de euforia exagerada. Se não ocorre a desejável assistência espiritual em benefício do necessitado,
nessa fase da evolução da enfermidade, os doentes podem desenvolver comportamentos caracterizados,
sobretudo, por “manias” e pelo isolamento social. As idéias e os
desejos do enfermo ficam girando dentro de um círculo vicioso, conduzindo à criação de formas-
-pensamento, alimentadas pela vontade do próprio necessitado e pela dos Espíritos desencarnados, sintonizados nesta faixa de vibração.
As orientações espíritas, se aceitas e seguidas, proporcionam imenso conforto, podendo reduzir ou eliminar
o quadro geral de perturbações, sobretudo se associada às ações médicas e psicológicas. Assim, faz-se
necessário desenvolver persistente trabalho de renovação mental e comportamental da pessoa necessitada
de auxílio. A prece, o passe, a água fluidificada, o estudo do Evangelho no lar, a assistência espiritual
(atendimento e diálogo fraterno, freqüência às reuniões de explanação do Evangelho e de irradiações
espirituais), o estudo espírita, entre outros, representam instrumentos de auxílio e de renovação psíquica,
em geral disponibilizados pelas nossas Casas Espíritas.
As enfermidades espirituais, classificadas como graves, são encontradas em pessoas que revelam
perdas temporárias ou permanentes da consciência. A perda da consciência, lenta ou repentina, pode estar
associada a uma causa fisiológica (velhice) ou a uma patologia (lesões cerebrais de etiologias diversas).
Nessa situação, o enfermo vive períodos de alheamentos ou alienações mentais, alternados com outros
de lucidez. Esses períodos são particularmente difíceis, pois a pessoa passa a viver numa realidade
estranha e dolorosa, sobretudo quando o Espírito enfermo vê-se associado a outras mentes enfermas,
em processos de simbioses espirituais.
O doente requisita atendimento  médico especializado, no campo da psiquiatria. A fluidoterapia
espírita suaviza a manifestação da doença, auxiliando o tratamento médico. A assistência espiritual,
oferecida pela Casa Espírita, age como bálsamo, minorando o sofrimento dos encarnados – doente, familiares e amigos – e dos desencarnados envolvidos na problemática.
O atendimento ao perturbador espiritual nas reuniões de desobsessão, assim como as irradiações mentais
em benefício do obsessor e do obsidiado produzem resultados significativos, fundamentais ao processo
de libertação espiritual.
As enfermidades espirituais representam uma realidade, impossível de ser ignorada, sobretudo nos
tempos atuais, quando sabemos da existência de um alerta superior que nos aponta para a urgente necessidade de avaliarmos a nossa conduta moral, desenvolvendo ações e atitudes compatíveis com a Lei de Amor, Justiça e Caridade.
As enfermidades espirituais deixarão de existir, esclarecem-nos os benfeitores espirituais, quando nos
renovarmos para o bem. Nesse sentido, são oportunas as elucidações do Espírito André Luiz: “A enfermidade, como desarmonia espiritual (...) sobrevive no perispírito.
As moléstias conhecidas no mundo e outras que ainda escapam ao diagnósticohumano, por muito tempo
persistirão nas esferas torturadas da alma, conduzindo-nos ao reajuste.
A dor é o grande e abençoado remédio.
Reeduca-nos a atividade mental, reestruturando as peças de nossa instrumentação e polindo os
fulcros anímicos de que se vale a nossa inteligência para desenvolver- -se na jornada para a vida eterna.
Depois do poder de Deus, é a única força capaz de alterar o rumo de nossos pensamentos, compelindo-
-nos a indispensáveis modificações, com vistas ao Plano Divino, a nosso respeito, e de cuja execução não
poderemos fugir sem graves prejuízos para nós mesmos.”**XAVIER, Francisco Cândido. Entre a Terra e
o Céu, pelo Espírito André Luiz. 21. ed., Rio
de Janeiro: FEB, 2003, cap. 21, p. 174.

A subjugação
A subjugação é uma constrição que paralisa a vontade daquele que
a sofre e o faz agir a seu mau grado. Numa palavra: o paciente fica sob
um verdadeiro jugo.
A subjugação pode ser moral ou corporal. No primeiro caso, o subjugado
é constrangido a tomar resoluções muitas vezes absurdas e comprometedoras
que, por uma espécie de ilusão, ele julga sensatas: é uma
como fascinação. No segundo caso, o Espírito atua sobre os órgãos materiais
e provoca movimentos involuntários. Traduz-se, no médium escrevente,
por uma necessidade incessante de escrever, ainda nos momentos
menos oportunos. Vimos alguns que, à falta de pena ou lápis,
simulavam escrever com o dedo, onde quer que se encontrassem, mesmo
nas ruas, nas portas, nas paredes.
Vai, às vezes, mais longe a subjugação corporal; pode levar aos mais
ridículos atos. Conhecemos um homem, que não era jovem, nem belo
e que, sob o império de uma obsessão dessa natureza, se via constrangido,
por uma força irresistível, a pôr-se de joelhos diante de uma
moça a cujo respeito nenhuma pretensão nutria e pedi-la em casamento.
Outras vezes, sentia nas costas e nos jarretes uma pressão enérgica,
que o forçava, não obstante a resistência que lhe opunha, a se
ajoelhar e beijar o chão nos lugares públicos e em presença da multidão.
Esse homem passava por louco entre as pessoas de suas relações;
estamos, porém, convencidos de que absolutamente não o era,
porquanto tinha consciência plena do ridículo do que fazia contra a
sua vontade e com isso sofria horrivelmente.
Fonte: KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 72. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2004,
cap. XXIII, item 240, p. 309.

Revista O Reformador de junho de 2004

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Tema muito importante que constitui o caráter dos indivíduos nos fazendo refletirmos o quanto temos que nos vigiarmos e orientarmos as nossas crianças.

Em dia com o Espiritismo.
Por que mentimos?

“Da mesma boca provém bênção e maldição.” (Tiago, 3:10.)

MARTA ANTUNES MOURA


Por definição, a mentira é um engano, falsidade ou fraude. Algo que é contrário à verdade e à caridade. Pode ocorrer por vontade própria, por omissão ou por equívocos de interpretação de fatos e comportamentos.
Em qualquer situação os resultados são sempre negativos.
Primeiro porque contraria padrões morais, éticos e religiosos (a mentira é considerada “pecado” pelas religiões cristãs tradicionais); segundo porque pode desencadear reações imprevisíveis, com exacerbação de animosidade e conflitos entre as pessoas, estabelecimento de focos de maledicência, entre outros.
Alguns filósofos, como Platão (428/427-348/347 a.C.), admitiam aceitar algumas mentiras, desde
que não produzissem maiores prejuízos, como a chamada “mentira piedosa”. Immanuel Kant (1724- -1804), Santo Agostinho (354-430) e Aristóteles (384-322 a.C.) não aceitavam qualquer tipo de mentira,
por acreditarem que o mentiroso é um Espírito moralmente fraco. Este último filósofo, inclusive, a distinguia e classificava em dois tipos: a jactância, que consiste em exagerar a verdade, e a ironia que, ao contrário, diminui a verdade.1*
Não há dúvidas de que a mentira, parcial ou total, velada ou declarada, revela desarmonia espiritual
de quem a pratica. A questão que se coloca, porém, é outra: o que fazer para evitar queda nas malhas
da maledicência, fazendo opção pela verdade? Pois nem sempre é fácil discernir entre o falso e o verdadeiro. Pondera o Espírito São Luís, a respeito, que todo cuidado é pouco ao comentar o mal
alheio, ainda que este se revele verdadeiro:
[...] Se as imperfeições de uma pessoa só prejudicam a ela mesma, não haverá nenhuma utilidade
em divulgá-la.No entanto, se podem acarretar prejuízos a terceiros, deve-se preferir o interesse
do maior número ao interesse de um só. [...] Em tal caso, deve-se pesar a soma das vantagens e dos inconvenientes.2*
No rastro histórico da mentira, vamos localizá-la como abominável técnica de persuasão, largamente
utilizada por Adolf Hitler e os construtores do nazismo, a qual foi denominada Teoria da Grande Mentira. Trata-se de uma ferramenta da propaganda ideológica frequentemente usada, no passado e no presente, para se referir à crença de que uma mentira, repetida com frequência, de forma convicente que ignora todas
e quaisquer declarações que poderiam desmascará-la, irá com o tempo ser aceita pelas pessoas,
adquirindo o status de verdade, desde que repetida enfaticamente e soprada nos ouvidos certos.3*
Estudos de psicologia comportamental indicam que a mentira pode surgir por várias razões: receio
de que a verdade produza consequências negativas, por insegurança ou baixa autoestima, por opressão de autoridades (pais, amigos, chefes), para obtenção de vantagens ou regalias, e por motivos patológicos. Analisa, contudo, o filósofo estadunidense David Livingstone Smith, Ph.D e professor da Universidade da Nova Inglaterra (USA), que a mentira está há muito tempo integrada no ser humano, iniciada, possivelmente, logo após o surgimento da linguagem. Informa que o homem aprendeu a mentir, inicialmente,
para si mesmo, como forma de aliviar tensões, mas, ao mentir para si, aprendeu a enganar o outro.4*
De qualquer forma, a mentira, pequena ou grande, revela imperfeição moral que pode e deve ser
combatida, pois é mecanismo contrário à melhoria moral do Espírito, como enfatiza Emmanuel:
– Mentira não é ato de guardar a verdade para o momento oportuno [...].
A mentira é a ação capciosa que visa ao proveito imediato de si mesmo, em detrimento dos interesses alheios em sua feição legítima e sagrada; e essa atitude mental da criatura é das que mais humilham a personalidade humana, retardando, por todos os modos, a evolução divina do Espírito.5*

O Espírito que já possui algum esclarecimento sabe, portanto, que o ato de mentir implica aquisição
de satisfações pessoais por meios escusos e que não considera o constrangimento e o sofrimento
do próximo. É um comportamento errôneo, um deslize moral, como ensina Joanna de Ângelis:
O erro é sempre um compromisso negativo, e toda lesão moral, particularmente aquela
produzida no organismo social, constitui grave comprometimento, de cujos efeitos não se
pode evadir o responsável. Desse modo, todo e qualquer deslize moral é sempre uma agressão à
ordem, à saúde, ao equilíbrio, que devem viger em toda parte.
É muito comum censurar-se o crime hediondo que estarrece, enquanto se praticam defecções ditas menores [...].Aqui, é a mentira branca, disfarçando o mau hábito de escamotear a verdade [...]. Mentir é sempre um hábito doentio que encarcera o indivíduo nas suas malhas traiçoeiras.
Adiante, é a censura com ironia, ocultando a perversidade que se expande a soldo da maledicência
e da leviandade. [...]6*

A mentira é relativamente comum na infância, daí ser importante que pais e educadores aprendam
a distinguir a realidade da fantasia. A situação se revela especialmente grave quando a criança
e o adolescente mentem para se isentarem da culpa, para chamarem a atenção dos genitores, familiares, colegas e professores.
Persistindo-se nessas bases, o processo pode evoluir para algo mais sério, doentio, sobretudo se os
adultos, que servem de referência para a criança e o jovem, também têm o hábito de mentir, ou de
usar de subterfúgios para justificar os seus atos incorretos.

Para o professor David L. Smith, anteriormente citado, a questão é
muito mais ampla quando se trata da educação de filhos.
[...] a maioria de nós diz que ensina os filhos a não mentir.Embora seja verdade que as crianças
ouvem que não devem mentir, aprendem mais frequentemente a mentir de uma maneira socialmente aceitável. [...] As crianças aprendem a praticar as formas de engano que são publicamente proibidas, mas, secretamente, sancionadas.
A mentira socialmente apropriada não é meramente tolerada; é compulsória. A criança
que não consegue dominar essa habilidade paga o alto preço da desaprovação, da punição
e do ostracismo social.7*

A mentira sistemática produz, com o tempo, deformações no caráter
individual, sendo impossível, em determinados casos, discernir se a pessoa fala ou não a
verdade. A inteligência humana criou, então, instrumentos não verbais para detectar a mentira, os
quais, ainda que sejam considerados controvertidos, abusivos e antiéticos por várias comunidades
nacionais, são aceitos em investigações policiais de alguns países.
Entre eles estão os “polígrafos”, aparelhos de detecção de mentiras que medem o estresse fisiológico
do entrevistado quando ele fornece declarações ou responde a perguntas.
Acredita-se que os picos do estresse indicariam as mentiras.
A precisão desse método é amplamente contestada, pois o entrevistado tem condições de ludibriar
os registros do aparelho.
Outro detector de mentira é o soro da verdade, que também é considerado pouco confiável.
Recentemente, neurocientistas descobriram que a mentira ativa
estruturas específicas do cérebro, observadas durante exames de tomografia por ressonância magnética.
Trata-se de um método em fase de teste, pois é caro e pouco prático.
O certo, mesmo, é fugirmos da mentira, agindo com mais sinceridade no trato com as pessoas.
Para isto é necessário exercitar atos de boa conduta, apoiando-se nesta orientação do Codificador
do Espiritismo:
[...] Desde que a divisa do Espiritismo é Amor e caridade, reconhecereis a verdade pela prática
desta máxima, e tereis como certo que aquele que atira a pedra em outro não pode estar com a
verdade absoluta. [...].8
*
Referências:
1ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia.
Trad. Alfredo Bosi. 4. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2000. p. 660.
2KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra.
Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 10, item
21, p. 217.
3Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
wiki/A_Grande_Mentira_(livro)>.
4SMITH, David Livingstone. Por que mentimos:
os fundamentos biológicos e psicológicos
da mentira. Trad. de Marcelo Lino.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. Prefácio,
p. 11.
5XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo
Espírito Emmanuel. 28. ed. 3. reimp. Rio
de Janeiro: FEB, 2010. Q. 192.
6FRANCO, Divaldo P. Iluminação interior.
Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador:
LEAL, 2006. Cap. 24, p. 149-150.
7SMITH, David Livingstone. Por que mentimos:
os fundamentos biológicos e psicológicos
da mentira. Trad. Marcelo Lino.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. Cap. 1, p. 9.
8KARDEC, Allan. Viagem espírita em 1862
e outras viagens de Allan Kardec. Trad.
Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2007. Discurso de Allan Kardec
aos Espíritas de Bordeaux, p. 217.
Julho 2010 • Reformador 281

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Saúde, doença, enfermidade


Marta Antunes Moura
 Organização Mundial da Saúde (OMS) é uma agência mundial especializada em saúde, fundada em 7 de abril de 1948 e subordinada à Organização das Nações Unidas, com sede em Genebra, Suíça. À época da criação da OMS, logo após a Segunda Guerra Mundial, havia a preocupação de elaborar uma definição positiva de saúde, que incluísse os aspectos alimentação, atividade física, acesso ao sistema de saúde e bem-estar social, sobretudo este, decorrente da devastação causada pela guerra e pela expectativa da paz que a Humanidade buscava.
Outros aspectos foram incorporados a essa ideia inicial: pela primeira vez uma organização internacional de saúde faz referência à saúde mental e a partir da década de 80 o sentido de ecologia foi incorporado à definição, que ficou assim: Saúde “é um estado de completo bem-estar físico, mental, social e ecológico, não consistindo somente da ausência de uma doença ou enfermidade”. 1,2,3

O fato de a Declaração da OMS considerar saúde como um estado de completo bem-estar passou a ser alvo de críticas logo que o conceito foi publicado, sendo interpretado por uma parcela de estudiosos como um ideal inatingível ou de pouca possibilidade de concretização. Supôs-se, até, que a definição conduziria a uma “medicalização” da existência humana e abusos por parte do Estado, a título de promover a saúde. Por outro lado, os defensores do conceito da OMS alegaram (e alegam) que a definição utópica de saúde é útil porque: 1o) destaca a necessidade de prevenção de doenças; 2o) considera o ser humano de forma integral; 3o) prioriza ações médicas e paramédicas, hospitalares e em nível de políticas de saúde; 4o) concede liberdade para o seu desenvolvimento em todos os níveis da organização social.2

Com base nesse referencial, no discurso de abertura das comemorações do Dia Mundial da Saúde, ocorridas em 7 de abril do ano em pauta, a OMS focaliza a saúde do idoso, assinalando que “uma boa saúde ao longo da vida pode ser acrescida de vida”.1 Destaca, igualmente, a importância de homens e mulheres idosos não só prolongarem o período de sua existência física, mas que tenham também uma vida produtiva. No final do discurso, proferido pela diretora geral da OMS, a chinesa Margaret Chan enfatiza: “no curso do século atual o mundo terá mais pessoas idosas que crianças. Teremos, então, que reinventar a velhice”.4

Durante as comemorações do Dia Mundial da Saúde, a OMS convida os profissionais de saúde e a população em geral para refletirem sobre o tipo de sociedade que está sendo construída no mundo atual. Lança um apelo aos dirigentes das nações e aos indivíduos comprometidos com os destinos da Humanidade, pedindo-lhes examinarem políticas e medidas que, efetivamente, são consideradas necessárias para adiar o envelhecimento da população e atendê-la privilegiando antes de tudo a saúde. Para se ter uma ideia geral do assunto, acredita-se que, somente na Europa, o número de pessoas com mais de 65 anos será o dobro entre 2010 e 2050.4

Faz-se necessário saber distinguir doença e enfermidade, vocábulos popularmente considerados sinônimos. O significado é diverso, não é a mesma coisa. As Ciências da Saúde designam doença como um distúrbio das funções de um órgão, da psique ou do organismo, visto como um todo, que pode estar associado a sintomas específicos. A doença é, pois, “condição de não estar bem.[...] Uma condição patológica do corpo, que apresenta um grupo de sinais e sintomas clínicos e de achados laboratoriais peculiares à condição e que classifica a condição como uma entidade anormal, diferente de outros estados orgânicos normais ou patogênicos”.5 Doença é sempre entendida como um distúrbio (patologia) tangível, que pode ser mensurado, e que é produzida por fatores externos (p. ex., infecções por microorganismos) ou por mal funcionamento interno do organismo (doenças autoimunes, metabólicas, genéticas, congênitas, traumáticas etc.), em geral revelados por sinais e sintomas. Sinais são alterações no organismo que podem indicar adoecimento, percebidas ou medidas por profissionais de saúde. Sintomas são alterações relatadas pelo paciente. Enfermidade, por outro lado, é uma manifestação individual e pessoal. Aquilo que o paciente sente ou percebe. Por exemplo: “uma pessoa pode ter uma doença séria, como a hipertensão, mas sem sentir dor ou sofrimento, e assim não estará enferma. Por outro lado, a pessoa pode estar extremamente enferma, p. ex., com histeria ou enfermidade mental, mas sem evidência de doença, segundo a avaliação das alterações patológicas do corpo”.5

Emmanuel faz os seguintes comentários a respeito do conceito de saúde:

Para o homem da Terra, a saúde pode significar o equilíbrio perfeito dos órgãos materiais; para o plano espiritual, todavia, a saúde é a perfeita harmonia da alma, para obtenção da qual, muitas vezes, há necessidade da contribuição preciosa das moléstias e deficiências transitórias na Terra.6

Segundo a Doutrina Espírita, qualquer doença ou enfermidade, por mais superficiais que sejam, têm raízes no Espírito, nas experiências vividas pelo Espírito:

As chagas da alma se manifestam através do envoltório humano. O corpo doente reflete o panorama interior do espírito enfermo. A patogenia é um conjunto de inferioridades do aparelho psíquico.7

Em outra oportunidade, Emmanuel, também nos lembra:

A doença sempre constitui fantasma temível no campo humano, qual se a carne fosse tocada de maldição; entretanto, podemos afiançar que o número de enfermidades, essencialmente orgânicas, sem interferências psíquicas, é positivamente diminuto. A maioria das moléstias procede da alma, das profundezas do ser. Não nos reportando à imensa caudal de provas expiatórias que invade inúmeras existências, em suas expressões fisiológicas, referimo-nos tão somente às moléstias que surgem, de inesperado, com raízes no coração. Quantas enfermidades pomposamente batizadas pela ciência médica não passam de estados vibratórios da mente em desequilíbrio? Qualquer desarmonia interior atacará naturalmente o organismo em sua zona vulnerável. Um experimentar-lhe-á os efeitos no fígado, outro, nos rins e, ainda outro, no próprio sangue. Em tese, todas as manifestações mórbidas se reduzem a desequilíbrio, desequilíbrio esse cuja causa repousa no mundo mental.8

Ante essas orientações, a cura das doenças e das enfermidades reside no próprio Espírito:

E é ainda na alma que reside a fonte primária de todos os recursos medicamentosos definitivos. A assistência farmacêutica do mundo não pode remover as causas transcendentes do caráter mórbido dos indivíduos. O remédio eficaz está na ação do
próprio espírito enfermiço.9

Ponderemos, contudo, que a despeito das doenças terem raízes espirituais, o homem pode e “deve mobilizar todos os recursos ao seu alcance em favor do seu equilíbrio orgânico. Por muito tempo ainda, a Humanidade não poderá prescindir da contribuição do clínico, do cirurgião, do farmacêutico, missionários do bem coletivo. O homem tratará da saúde do corpo até que aprenda a preservá-lo e defendê-lo, conservando a preciosa saúde de sua alma”.10

Sendo assim, os estados de saúde e doença estão diretamente relacionados às escolhas que o indivíduo faz, ao bom e mau uso do livre-arbítrio, uma vez que, na vida, a lei de causa e efeito funciona inexoravelmente, ainda que sempre atenuada pela misericórdia divina:

[...] é justo recordar que a criatura, durante a reencarnação, elege, automaticamente, para si mesma, grande parte das doenças que se lhe incorporam às preocupações.11

Em suma, a prevenção e o tratamento de doenças e de enfermidades restringem-se à prática do bem, que é “o único antídoto eficiente contra o império do mal em nós próprios”.12

Referências:

1WHO – Organização Mundial da Saúde. Disponível em: <http://www.who.int/en/> ou em francês: <http://www.who.int/fr/index. html>.
2DEFINIÇÕES DE SAÚDE. Disponível em: <http://www.redehumanizasus.net/3589 definicoes-de-saude>.
3CLAYTON, L. Thomas. [Visiting Scientist Harvard University School of Public Health]. Dicionário médico enciclopédico taber. Trad. Fernando Gomes do Nascimento. 17. ed. brasileira. São Paulo: Manole, 2000. p. 1.583.
4DIA MUNDIAL DA SAÚDE. Disponível em: <http://www.euro.who.int/en/who-wea r e / w h d / w o r l d - h e a l t h - d a y - 2 0 1 2 / news/news/2012/03/healthy-ageing-infocus- on-world-health-day>.
5CLAYTON, L. Thomas. [Visiting Scientist Harvard University School of Public Health]. Dicionário médico enciclopédico taber. Trad. Fernando Gomes do Nascimento. 17. ed. brasileira. São Paulo: Manole, 2000. p. 524.
6XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2011. Q. 95.
7______. ______. Q. 96.
8______. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. ed. esp. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2011. Cap. 157.
9______. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2011. Q. 96.
10______. ______. Q. 97.
11______. Religião dos espíritos. 21. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2010. Cap. Doenças escolhidas, p. 233.
12______. ______. p. 234.pe the text here