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terça-feira, 11 de setembro de 2012

Reflexões sobre a Moral Divina


CHRISTIANO TORCHI
Não é raro conhecermos pessoas que, apesar de viverem em condições adversas,
em ambientes viciosos, conseguem furtar-se às influências negativas do meio e se destacam
na sociedade como homens e mulheres dignos. Há outras que, mesmo depois de terem experimentado
uma vida de transgressões, crimes, prostituição e drogas, conseguem se recuperar, tornando-
se referência para muitos outros indivíduos. Esses exemplos de superação mostram do que o ser humano é capaz, quando tem fé.
No conhecido livro do escritor francês Victor Hugo (1802-1885),
Os Miseráveis, também retratado em filme, encontramos a história de um ex-presidiário (Jean Valjean)
que, ante um dilema moral, originado de um furto por ele praticado após ganhar a liberdade,
foi inocentado pela própria vítima, o caridoso bispo Charles Myriel, atitude que causou um
profundo impacto no ex-condenado, motivando-o, daí por diante, a se tornar um homem de
bem. Esta obra, embora seja um romance de ficção social, é inspirada na realidade e nos faz
refletir sobre a questão filosófica da moral, tratada em O Livro
dos Espíritos.(1)
A crença inata em um ser superior, comum a todos nós, sugere a existência de uma constituição
divina insculpida na alma. Toda vez que infringimos as leis naturais, um juízo secreto nos diz que
estamos no caminho errado. Dominados pelas paixões, nem sempre seguimos os ditames desse tribunal
interior, ficando sujeitos, depois, ao arrependimento, à expiação e à reparação dos erros cometidos.
Do ponto de vista espírita, “a moral é a regra de bem proceder, isto é, a distinção entre o bem e o
mal.Funda-se na observância da Lei de Deus. O homem procede bem quando faz tudo pelo bem de
todos, porque então cumpre a Lei de Deus”.(2) A infração das leis morais resulta numa sanção imposta
pela própria consciência, que se traduz no remorso, sem prejuízo da eventual condenação imposta
pela sociedade e suas instituições.
O bem e o mal estão relacionados ao comportamento humano ditado pelo livre-arbítrio, pois “a noção
de moralidade é inseparável da de liberdade”.(3) Procedendo
corretamente, o homem dá mostras de que sabe distinguir o bem do mal. O bem é tudo o que
é compatível com a lei de Deus e o mal é tudo aquilo que não se harmoniza
com ela. Em resumo: quando fazemos o bem, procedemos conforme a lei de Deus, e quando fazemos o mal estamos infringindo essa lei.
Nem todos, porém, se comprazem em fazer o bem, dependendo da evolução do indivíduo e dos
valores que cultua.
Quando o homem procura agir acertadamente, utilizando a razão e a reflexão, encontra meios de distinguir, por si mesmo, o que é bem do que é mal. Ainda que esteja sujeito a enganar- se, em vista de sua falibilidade, possui uma bússola que o guiará no caminho certo, que é o de colocar-se na posição do outro,
analisando o resultado de sua decisão: aprovaria eu o que estou fazendo ao próximo, se estivesse
no lugar dele?
Esse método de pôr-se no lugar do outro para medir a qualidade de nossos atos é bem eficiente,
quando nos habituamos a utilizá-lo, porque o metro de cada um está na lei natural, que estabelece
o limite de nossas próprias necessidades, razão por que experimentamos o sofrimento toda
vez que ultrapassamos essa fronteira. Por isso, se ouvíssemos mais a voz da consciência, estaríamos
a salvo de muitos males que atribuímos a fatores externos ou à Natureza.
Deus poderia, se quisesse, ter feito o Espírito pronto e acabado, mas o criou simples e ignorante,
dando-lhe, assim, a oportunidade de progredir pelo próprio esforço, para que tenha a ventura de chegar
ao cume da jornada e exclamar, satisfeito: eu venci!
Com o advento tanto do progresso e a consequente proliferação dos grupos sociais, caracterizados
por sua diversidade cultural, como também das novas necessidades criadas pela modernidade
e pelo avanço da tecnologia, somos tentados a pensar que a lei natural não é uma regra uniforme para a coletividade.
Todavia, este modo de raciocinar é equivocado, uma vez que a lei natural possui tantas gradações
quantas necessárias para cada tipo de situação, sem perder a unidade e a coerência, cabendo a
cada um distinguir as necessidades reais das artificiais ou convencionais.
A lei de Deus é a mesma para todos, independentemente da posição evolutiva do homem, que
tem a liberdade de praticar o bem ou o mal. A diferença que existe está no grau de responsabilidade,
como no caso do selvagem que, outrora, sob domínio dos instintos primitivos, considerava
normal alimentar-se de carne humana, a saber: o homem é tanto mais culpado quanto
melhor sabe o que faz. À medida que o Espírito adquire experiência, em sucessivas encarnações,
alcança estágios superiores que lhe permitem discernir melhor as coisas. Portanto, a responsabilidade
do ser humano é proporcional aos meios de que dispõe para diferenciar o bem do mal. Apesar disso, não se pode dizer que são menos repreensíveis as faltas que comete, embora decorrentes da posição que
ocupa na sociedade.
O mal desaparece à medida que a alma se depura. É então que, senhor de si, o homem se torna
mais culpado quando comete o mal, porque tem melhor compreensão
da existência deste. A culpa pelo mal praticado recai sobre quem deu causa a ele, porém,
aquele que foi compelido, levado ou induzido a praticar o mal por outrem, é menos culpado do que
aquele que lhe deu causa.
Outrossim, o fato de se achar num ambiente desfavorável ou nocivo à moral, devido às influências
dos vícios e dos crimes, não quer dizer que a criatura esteja isenta de culpa, se, deixando-se
levar por essas influências, também praticar o mal. Em primeiro lugar, porque dispõe de um instrumento
poderoso para superar as circunstâncias infelizes: a vontade.
Em segundo, porque, antes de encarnar, pode ter escolhido essa prova, submetendo-se à tentação
para ter o mérito da resistência.
De outras vezes, o Espírito renasce em um meio hostil com a missão de exercer influência positiva
sobre seus semelhantes, retardatários.
Por outro lado, aquele que,mesmo não praticando diretamente o mal, se aproveita da maldade feita
por outrem, age como se fosse o autor, isso porque talvez não tivesse coragem de cometê-lo,
mas, encontrando o mal feito, tira partido da situação, o que significa que o aprova e o teria praticado,
se pudesse ou tivesse ousadia para tanto. Enquanto Espíritos, quase todos nos equiparamos,
na Terra, a condenados em regime de liberdade condicional, sujeitos, graças à misericórdia divina, a diversas restrições que,
muitas vezes, nos são impostas para nos proteger das próprias fraquezas. Assim, podemos dizer
que muitos de nós só não praticamos o mal por falta de oportunidade, considerando que nem
sempre temos vontade forte o bastante para resistir a determinadas conjunturas, em virtude da
ausência de autocontrole.
O desejo de praticar o mal pode ser tão repreensível quanto o próprio mal, contudo, aquele
que resiste às tentações, com a finalidade de superar-se, tem grande mérito, sobretudo quando
depende apenas de sua vontade para tomar essa ou aquela decisão. Não basta, porém, que
deixe de praticar o mal. É preciso que faça o bem no limite de suas forças, pois cada um responderá
por todo mal que resulte de sua omissão em praticar o bem. Os Espíritos superiores são
taxativos em dizer que ninguém está impossibilitado de fazer o bem, independentemente de sua
posição, pois que todos os dias da existência nos oferecem oportunidades
de ajudar o próximo, ainda que seja por meio de uma singela oração.
O grande mérito de se fazer o bem reside na dificuldade que se tem de praticá-lo. Quanto maiores
forem os obstáculos para a realização do bem, maior é o merecimento daquele que o executa.
Contrário senso, não existe tanta valia em se fazer o bem sem esforço ou quando nada custa, como
no caso do afortunado que dá um pouco aos pobres do que lhe sobra em abundância. A parábola
do óbolo da viúva, contida em o Novo Testamento,4 retrata bem tal circunstância.
Finalizando, a essência da moral divina pode ser encontrada na
máxima do amor ao próximo, ensinada por Jesus, porque abarca todos os deveres que os homens
têm uns para com os outros, razão pela qual temos necessidade de vivenciar essa lei constantemente,
porquanto o bem é a lei suprema do Universo que nos conduz a Deus “e o mal será sempre representado por aquela triste vocação do bem unicamente para nós mesmos [...]”.(5)
Junho 2010 • Reformador


1-KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 2010. Q. 629-646.
2-Idem, ibidem. Q. 629.
3-DENIS, Léon. O problema do ser, do destino
e da dor. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB,
2009. P. 3, As potências da alma, item 22,
4-LUCAS, 21:1-4.
5-XAVIER, Francisco C. Ação e reação. 28.
ed. 2. reimp. Pelo Espírito André Luiz. Rio
de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 7, p. 110.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O futuro espiritual ante a justiça divina


Christiano Torchi
Existe, após a morte, uma justiça divina que estabelece recompensas ou punições de acordo com o comportamento dos Espíritos enquanto encarnados? Se existe, como se dá o cumprimento dessa justiça? Ao morrer, para onde vamos? Para um céu beatífico, se fizemos o bem, ou para um inferno de chamas eternas, se fizemos o mal? Ou tudo acaba em nada, como apregoam os que se dizem céticos ou materialistas?

Todas as religiões pregam a imortalidade da alma. O Espiritismo foi além: demonstrou a existência dos Espíritos, da imortalidade e do mundo espiritual.
Os Espíritos superiores ensinam que a justiça divina revela-se por meio de leis internas ou morais, insculpidas na consciência da criatura humana, as quais se manifestam de acordo com a evolução dos seres.

O Espiritismo revela ainda a existência de um plano espiritual, que é prioritário em relação à esfera física, sendo aquele o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e que sobrevive a tudo. De lá viemos e para lá um dia retornaremos em definitivo, após sucessivas reencarnações, quando estivermos completamente depurados. Já o mundo físico é uma escola, um campo de provas, onde burilamos o Espírito. A importância do mundo espiritual é tanta que o mundo corporal poderia deixar de existir ou nunca ter existido, no entanto, esses dois mundos, o espiritual e o físico, interagem constantemente, apesar de serem independentes.

O homem sempre cultivou, instintivamente, a crença inata na vida após a morte e na existência de Espíritos. Qual a razão desse fenômeno? A nossa própria essência imortal cuida de explicar isso, visto que somos originários do mundo espiritual e não do mundo físico, de sorte que o sentimento de uma existência melhor está no foro íntimo das pessoas. O que nos falta é o autoconhecimento sobre a nossa própria herança divina.

Antes de encarnar, geralmente a criatura já sabe da existência do mundo espiritual, que é um Espírito, conhecimento esse que permanece latente, abafado pelos grilhões do corpo físico, mas que vem à tona aos poucos, à medida que o ser evolui. O Espírito conserva a individualidade ou a consciência, após a morte física, sem o que não haveria, a rigor, a sobrevivência espiritual, visto que, nessa última hipótese, a nossa essência moral se perderia no oceano do infinito:

Se há doutrina insensata e antissocial, é, seguramente, o niilismo que rompe os verdadeiros laços de solidariedade e fraternidade, em que se fundam as relações sociais.1

O homem pressente a realidade da sobrevivência após a morte e as suas consequências, conforme tenha bem ou mal vivido, porque as experiências das vidas transatas estão gravadas no íntimo, no âmago do Espírito. A voz da consciência cuida de alertá-lo a respeito de sua origem e do seu destino, mas esse reluta em ouvir essa voz interior que lhe fala ao coração empedernido ou deseducado para percebê-la.

Perguntados sobre qual o sentimento que domina a maioria dos homens no momento da morte (a dúvida, o temor ou a esperança?), os protetores espirituais responderam, sem rebuços:

A dúvida, nos céticos endurecidos; o temor, nos culpados; a esperança, nos homens de bem.2

Se a morte fosse a destruição completa do ser, muito ganhariam com ela os maus, pois se veriam livres, ao mesmo tempo, do corpo, do Espírito e dos vícios.
É uma ideia materialista que repugna o bom-senso e a lógica. A crença de que após a morte física vem o nada é incompatível com a perfeição, a justiça e a bondade de Deus.

Um dos atributos divinos, que inclui a perfeição, é a bondade. Por isso, nenhuma das criaturas está abandonada. Todas, independentemente de seu grau evolutivo, recebem atenção compatível com suas necessidades. Nada escapa ao crivo de Deus, ao seu exame, desde os seres mais simples até os mais complexos, supervisão que é realizada por meio de suas leis perfeitas que também regem as ações humanas de forma equânime e justa:

Deus tem suas leis, que regulam todas as vossas ações. Se as violais, a culpa é vossa. Sem dúvida, quando um homem comete um excesso qualquer, Deus não profere contra ele uma sentença, dizendo-lhe, por exemplo: Foste guloso, vou punir-te. Ele traçou um limite: as doenças e muitas vezes a morte são a consequência dos excessos. Eis a punição; ela resulta da infração da lei, como, aliás, sucede em tudo.3

Não é por acaso que todas as nossas atitudes, boas ou más, decorrentes do exercício do livre-arbítrio, repercutem nessas leis, preservando em nosso Espírito uma memória integral, algo semelhante a um banco de dados incorruptível, o qual, mais cedo ou mais tarde, virá à tona, proporcionando uma espécie de autojulgamento, resultante de uma avaliação perfeita de todos os pormenores favoráveis ou desfavoráveis, os quais se compensarão, equitativamente, na balança divina.

Esse o motivo pelo qual os benfeitores do espaço, ao responderem à pergunta – Onde está escrita a Lei de Deus?, formulada por Kardec, afirmaram: “Na consciência”4. Dessa forma, “o homem é constantemente o árbitro da sua própria sorte; pode abreviar ou prolongar indefinidamente o seu suplício; a sua felicidade ou a sua desventura dependem da vontade que tenha de praticar o bem”5. O resultado desse autojulgamento será determinante e influenciará o futuro do ser, quanto às provas pelas quais deverá experimentar nas futuras existências físicas, sem que haja um determinismo nos acontecimentos da vida, pois “a fatalidade só existe pela escolha que o Espírito fez, ao encarnar”6.

Pela análise das penas e dos gozos futuros, percebe-se, intuitivamente, a existência de um planejamento divino na Criação, de forma a conduzir os Espíritos, por seus próprios méritos, à perfeição e à felicidade, infundindo-lhes a certeza de que o bem é um determinismo divino e “é o fim supremo da Natureza”7.

Herdeiro divino e cocriador, o Espírito recebe de Deus todo um arsenal de recursos para fazer face ao seu progresso, para conquistar, pelos próprios esforços, a sua redenção que o conduzirá, no decorrer dos milênios, ao estado de Espírito puro, quando não precisará mais reencarnar.

A vida no corpo físico, com o seu cortejo de provas e expiações, é um desses inúmeros recursos disponibilizados ao aprendiz, que deve descobrir por si mesmo os caminhos de retorno a Deus. As etapas reencarnatórias, acompanhadas do esquecimento temporário, permitem o recomeço do indivíduo, facultando-lhe a retificação dos erros cometidos e a retomada de antigos compromissos com o bem,
dos quais muitas vezes se afastou, graças aos enganos e ilusões a que se entregou na trajetória da existência física.

A aquisição da certeza da vida futura representa uma mudança de paradigma de grande impacto na vida das pessoas que estão despertando para as realidades espirituais, pois, além de oferecer uma perspectiva consoladora e explicar racionalmente o porquê dos sofrimentos, abre-lhes a oportunidade de imprimir novos padrões de comportamento, que melhorarão sensivelmente a qualidade de vida espiritual delas.

De fato, a internalização desses preceitos liberta-nos das ideias niilistas e das crenças infantis na existência do demônio e das penas eternas, combatendo também a fé ingênua na existência de um céu beatífico, onde passaríamos o resto da eternidade em uma monótona vida contemplativa, ao lado de seres alados de vestes alvas.

Esses conhecimentos, essas convicções imortalistas, conduzem-nos à verdadeira compreensão da nossa origem e destino, do nosso valor espiritual e da nossa condição de filhos de Deus, o que nos dá mais forças para enfrentar os desafios diários, permitindo que valorizemos ainda mais a existência no corpo físico e a própria vida, rumo a uma educação libertadora, da qual depende o nosso futuro espiritual.

Todos aqueles que perseverarem e se esforçarem sinceramente por melhorar, mesmo errando durante o curso de sua existência, podem aguardar, serenos, a hora de seu desenlace, pois verão recompensados seus suores, dores e lágrimas.


1KARDEC, Allan. O céu e o inferno. Trad. Manuel Quintão. 60. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2012. Pt. 1, cap. 1, it. 2.
2 uma memória integral, algo se- KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2011. Q. 961.

3 Idem, ibidem. Q. 964.
4KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2011.
5Idem. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. atualizada. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2010. Cap. 27, it. 21, p. 469.
6Idem. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio deJaneiro: FEB Editora, 2011. Q. 851.
7DENIS, Léon. Depois da morte. 31. ed. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2011. Pt. 1, cap. 2, p. 41-42.


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