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domingo, 16 de fevereiro de 2014

CONFLITOS EXISTENCIAIS E EVANGELHO

CONFLITOS EXISTENCIAIS E EVANGELHO

Meus filhos:
Que a Santíssima Mãe de Jesus vos acoberte em vossas lutas, guardando-vos os corações em confiança e paz!
O tempo com seus favores evolutivos descerra-vos ao mundo nova página de oportunidades e bênçãos, com o advento do Ano-Novo.
Na marcha humana da ignorância para a sabedoria, identificamos, de nossa posição espiritual no Além, o báratro das provas e dos resgates – individuais e coletivos – entre vícios e virtudes, estas últimas em eclosão paulatina…
Por muito ainda, os homens estarão submetidos às fortes impressões da matéria que vem escravizando seus sentidos acanhados e, por efeito desse culto ao prazer sensorial, à ilusão da posse, muitos conflitos se multiplicarão, como a desafiar o discernimento dos que se empenham na ciência e pela genuína espiritualidade com Jesus!…
A Vida Superior jamais estigmatizará a vida humana; ao revés, identifica nela a gleba abençoada que a Providência do Pai fecunda com a chuva e enriquece com a dádiva do Sol, tendo por objetivo conjugar elementos e promover a produção tão diversa quanto farta, num sentido universalista e imortal…
O vício interpretativo dos homens, que atrelaram as mais substanciosas Revelações Espirituais a seus desejos e caprichos, tem impedido a justa compreensão da dor e das aflições para a formação moral das criaturas.
Mas, o Consolador que Allan Kardec vos legou, guarda o condão de despertar a razão humana para os temas da Imortalidade em Deus e nele, meus filhos, a Carta Magna da condição humana, o Evangelho de Jesus, alcança apogeus de entendimento e aplicação, tangendo o centro do real e definitivo do poder do Espírito: o sentimento!
Os ciclos se renovam para ensejar experiências a todos e os desafios existenciais talham, na intimidade de cada um, os valores correntes e ainda tão desconhecidos do Universo sem fim!…
Há que se preparar, para enxergar em profundidade e de modo discernido, todo aquele que bate às portas da Revelação Espírita-Cristã, pois esse Tesouro Divino não chegou à Terra para adaptar-se às exigências personalistas ou às lamúrias dos preguiçosos e incautos por conta própria…
O Espiritismo é muito mais que confessionário ou parque de exibições curiosas; é mais que argumentação filosófica a serviço de enaltecimento acadêmico e infinitamente mais que culto exterior das divindades do ontem ou do hoje, entronizadas para gáudio dos que intentam negociar facilidades e promoções transitórias!…
Filhos: o Cristianismo puro retorna pela Obra dos Espíritos Superiores!
Atentai para a gravidade da missão que vos compete nesta hora de transformações viscerais do mundo!…
As dores mais pungentes são aquelas que atingem a alma: ide, pois, filhos amados, às fontes da Grande Luz e, como a Mulher Samaritana, implorai ao Senhor por beberdes da água viva do Evangelho, pois conhecereis a Verdade e essa Verdade vos dotará do Amor puro, na moldura da eterna Sabedoria!
Que tenhais coragem e bom ânimo para edificardes conosco o Tempo da Consciência Cristã – os legítimos raios da nova aurora da Regeneração!

Bittencourt Sampaio
(Mensagem psicografada pelo médium Wagner Gomes da Paixão durante reunião pública do dia 28 de dezembro de 2013, no Grupo Espírita da Bênção, em Mário Campos, MG)

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Reminiscência ( Grupo Ismael-1a Mensagem de Bezerra de Menezes)

REMINISCÊNCIA

Medeiros e Albuquerque
 
O Brasil republicano vagia entre as faixa do berço, quando conhecí Manuel Ramos, nome pelo qual designarei um amigo obscuro, que abracei pela primeira vez no curso de breve contenda com portugueses ilustres, a propósito de Floriano.
Comentávamos desfavoravelmente as atitudes cordiais do embaixador Camelo Lampreia, que primava pelo bom-senso, na conciliação dos elementos axaltados, ante os atos do Consolidador, quando um amigo brasileiro, justamente indignado, se prepara a revide de enormes proporções, de mundos cerrados e carantonha sombria. Assustado, procurava eu apartar os contendores, quando surge o Manuel, com a carcaça de um touro e com a alma de anjo, evitando o pugilato.
Conteve os antagonistas, qual se fora uma gladiador romano, habituado ao manejo de feras, e eu, tomado de simpatia, ofereci-lhe a mão, em sinal de reconhecimento, quando os ânimos irritados possibilitaram a conversa pacífica.
No amplexo amistoso, porém, observei que Manuel não era servidor comum, que se contentasse com a gorjeta ou com o elogio fácil.
Surpreendeu-me com o seu olhar indagador, a fixar-me insistentemente.
E quando preparei, intencional, as frases da despedida, o musculoso interventor da rixa inesperada me falou, sem preâmbulos:
Doutor Medeiros, poderá conceder-me uma palavrinha?
Quem não anuíra em ocasião como aquela?
O rapaz, contudo, foi breve. Biografou-se com simplicidade, atrvés de informes curtos e francos.
Era empregado na cozinha de portugueses acolhedores, que o faziam encarregado da bacalhoada acessível à numerosa freguesia, em atividade regular no porto. Fluminense de origem, buscava o Rio com o sonho maravilhoso de todos os moços pobres do interior, que imaginam na metrópole o Eldorado das miragens de Orellana. Não conseguira, entretanto, senão a colocação humilde, em casa de pasto, embora vivesse de livro às mãos.
Estudadva, estudava, mas... – salientava, desalentado – a sorte lhe fora incrivelmente adversa.
Onerado de compromissos, na órbita da família, vira o pai morrer, quase sem recursos, minado pela peste branca, e presenciara a loucura de sua mãe, desvairada de dor sobre o cadáver do companheiro e mais tarde internada, com ficha de indigente, em hospício da Capital.
Sobravam-lhe, ainda, quatro irmãs para cuidar.
Ganhava pouco e mal conseguia atender ao constante dreno doméstico. Agrupou em palavras rápidas e respeitosas diversas questões pequeninas que lhe apoquentavam a mente, detendo-se, porém, no caso materno, com minudências curiosas a lhe revelarem a grandeza do sentimento afetivo; e, por fim, imprimindo significativa reverência ao timbre de voz, pediu-me conselho, asseverando-se informado quanto aos meus estudos de magnetismo.
Não poderia, de minha parte, prestar-lhe socorro?
Reparando, talvez, a ponta de sarcasmo que me assomou ao sorriso de gozador impenitente, consertou o passo, acentuando que, se me não fosse possível a visita direta ao internato, a fim de aliviar-lhe a genitora doente, esperava que eu lhe desse, pelo menos, algumas noções alusivas ao assunto.
Ante a sinceridade cristalina e a beleza do devotamento filial que ele aparentava, por pouco lhe não pedi desculpas pela ironia silenciosa de momentos antes, e assenti.
Realmente, expliquei, não me confiava a experiências do teor daquela que me solicitava, mas dispunha de literatura valiosa e aproveitável.
Ceder-lhe-ia com prazer o material que desejasse.
Combinamos o encontro para o dia seguinte.
Apareceu Manuel, pontualmente, à entrevista, ouvindo-me, atencioso, como se ele estivesse à escuta de informações relativas a tesouros ocultos.
Acreditando falar muito mais comigo mesmo. Recordei, para começar, a fugura de Mesmer.
Manuel, contudo, não se mostrou leigo no assunto, Frederico Mesmer era para ele velho conhecido. Reportou-se, de modo simples, às leituras em francês a que se consagrava cada noite, em companhia de anônimo poliglota do subúrbio, e referiu-se à clínica do grande magnetizador na Place Vendôme, qual se houvera morado em Paris ao tempo de Luís XVI. Sabia quantos reveses o valoroso professor havia sofrido para provar as novidades científicas de que se sentia portador. O rapaz chegava a conhecer o texto do voto vencido, com o qual De Jussieu, o fundador da botânica moderna, se revelava o único amigo da verdade, na comissão indicada pela Sociedade Real de Medicina, a fim de apurar a realidade dos fenômentos magnéticos.
Agradavelmente surpreendido, senti-me à vontade no comentário aberto.
Recordei De Puységur, anotando-lhe os experimentos preciosos, quando, modiscado de curiosidade, passeava no salão a gritar, inquieto, para os ouvidos de seus pacientes: - “Dorme! Dome!”
E, num desfile de impressões do brasileiro que vive de frente para a Europa, falei-lhe de Braid, de Liébeault, Bernheim e Charcot, especificando as características das escolas de Nancy e de Paris.
Alinhei minhas próprias observações, e Manuel, então silencioso, me assinalava as palavras como se fora deslumbrado e ditoso devoto à frente de um semideus.
Recolheu, contente, a copiosa literatura em português e francês que lhe pus nas mãos ávidas e partiu.
De quando em quando me procurava, gentil, em visitas apressadas, a que, por minha vez, não prestava maior atenção.
A vida abriu-me caminho, por outros rumos, no seio do matagal, ao invés de seguir no curso de águas pacíficas, e, à maneira do seixo que rola para  o mar, impulsionado pelos detritos que descem da serra, a golpes irresistíveis da enxurrada grossa, ao invés de seguir no curso de águas, pacíficas, avancei no tempo, através de peripécias mil, na política e na imprensa, incapaz de erguer-me à esfera transcendente das cogitações religiosas.
Quando, em 1916, voltei da Europa com largo programa de serviço pró-adesão do Brasil aos Aliados, na culminância da batalha jornalística, eis que me aparece o Manuel, em pleno escritório, num singular extravasamento de alegria.
Forçava portas e afrontara auxiliares neurastênicos para ver-me e apertar-me nos braços.
Doutor Medeiros! Doutor Medeiros! Enfim! ... – clamava, ofegante – há quanto tempo, meu Deus! Há quanto tempo!...
Respondi-lhe ao abraço, com um sorriso forçado, porque nesse mesmo instante deveria avistar-me com Lauro Müller, a respeito de solenes decisões na campanha popular desencadeada.
Desejei provocar a retirada do importuno, que deixava transparecer nas bochechas de quarentão maduro aquela mesma alegria robusta do tempo de Floriano.
A conversação dele fazia-se absolutamente imprópria, a meu ver, em semelhante ocasião; entretanto, Manuel não me ofereceu qualquer oportunidade de censura cordial ao seu procedimento.
Eufórico, palavroso, desaparafusou a língua e narrou êxitos sobre êxitos.
O magnetismo desvendara-lhe estradas novas. Conseguira milagres. Mantinha correspondência ativa com estudiosos ilustres da França. Apresentava, garboso, conclusões próprias acerca do desdobramento da personalidade. Enfileirava apontamentos especiais sobre o sistema nervoso. Engalanava-se com dezenas de casos raríssimos de cura, inclusive o da própria genitora que se reequilibrara e ainda vivia.
E acrescentava informes, referentes ao jardim doméstico, sem me oferecer um minuto para qualquer consideração.
Casara-se. Possuía três filhos que pretendia apresentar-me. A esposa e ele acompanhavam, carinhosamente, as minhas páginas em “A Noite”. Convidava-me a visitar-lhe a família, quando chega o recinto a ex-ministro, fitando-me com assombro, como se me surpreendesse na companhia de um louco.
O antigo quituteiro do restaurante português não se deu por achado ouvindo declinar o nome do respeitável político. Iluminaram-se-me os olhos, cobrou ânimo novo e, sem mais nem menos, recomendou-nos freqüência assidua às sessões espirituais a que se dedicava nas noites de terças e sextas-feiras, junto de amigos e estudantes do Evangelho, encarecendo a necessidade de homens espiritualizados na administração do País. Reportou-se a Bittencourt Sampaio com frases quentes de aplauso. Sacou do bolso, que denotava prolongada ausência da lavanderia, seboso maço de papéis e leu, em voz estentórica, a prmeira mensagem de Bezerra de Menezes, no “Grupo Ismael”, através do médium Frederico Júnior, e, longe de parar, abriu diante de nós maltratado volume do Novo Testamento, combinando a leitura de alguns textos com as páginas de Allan Kardec, ao mesmo tempo que indagava de minhas impressões acerca da Casa dos Espíritos, em Paris.
Mastiguei uma resposta qualquer, e Manuel, absolutamente incapaz de entender a minha inadaptação às verdades de que se fizera pregoeiro, continuou exaltando os imperativos de renúncia e de sacrifício para nós ambos, como se fora trovejante doutrinador em praça pública.
E quando se inclinava no comentário de reencarnações passadas, afirmando ter vivido ao tempo de Gengis Khãn, mal sopitando a vergonha que aquela intimidade me provocava, recomendei-lhe silêncio em tom autoritário e descortês.
O pobre amigo empalideceu e, enquanto o ex-ministro de Venceslau Brás erguia para mim o olhar perscrutador, informei, implacável, indicando Manuel estarrecido:
Lauro, tenho aqui um ex-empregado requerendo nossos préstimos. Não é má pessoa, mas enlouqueceu de repente. Guarda a mania do espiritismo e eu desejava seus bons ofícios para que o infeliz obtivesse tratamento acessível na Praia Vermelha. Creio que não precisará do internato em regra, mas não pode prescindir de algum contacto com o hospício.
O grande político levou o caso a sério e respondeu sem hesitar:
Esteja descansado. Farei por ele quanto possa.
Nunca me esquecerei do olhar humilde que Manuel me dirigiu sem a menor reação, com duas grossas lágrimas, ao despedir-se cabisbaixo, sem mais uma palavra.
Depois, a vida continuou rolando, arrastando-me em seu torvelinho trepidante, mas o meu antigo aprendiz de magnetismo não mais me apareceu no caminho.
Política, jornalismo, aventuras...
Eis o sono, era a morte? Que sabia eu?
Compreendia apenas que não era mais possível brincar com a inteligência.
Indefinível pavor do desconhecido me assaltava o coração, afogado em lágrimas que eu não conseguia derramar.
Densa noite envolvera-me de súbito, e eu gritei com toda a força dos pulmões cansados, clamando por enfermagem e socorro, que se me afiguravam distanciados para sempre.
Em que tenebroso lugar minha voz vibraria agora, sem eco? que ouvidos me captariam as lamentações? Por quanto tempo supliquei apoio naquela posição de insegurança?
É inútil formular indagações a que não podemos responder.
Um instante surgiu, contudo, em que percebi junto de mim prateada luz.
Alguém se aproximava, dando-me a idéia de piedoso visitador, remanescente talvez de São Bernardo, o salvador de viajantes perdidos nas trevas.
Diante do meu deslumbramento, a claridade cresceu, cresceu, e uma voz, que jamais olvidei, saudou alegremente:
Doutor Medeiros! Doutor Medeiros!...
E o Manuel surgiu fulgurante de rara beleza, ante meus olhos assombrados, estendendo-me os braços fraternos.
Quietou-se-me, então, o raciocínio humano, apagaram-se-me os pruridos da inteligência.
Manuel, aureolado de sublimada luz, era para mim agora um verdadeiro redentor. Confiei-me ao seu carinho, copiando a rendição da criança assustada, que se refugia no seio materno, e uma vida nova começou para mim, somente imaginável por aqueles que sabem sobrepairar ao turbilhão de mentiras humanas, para escutarem, de alguma sorte, a mnsagem renovadora dos companheiros que atravessaram a cinzenta e gelada fronteira do túmulo.

Livro: Falando à Terra -  Chico Xavier