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sábado, 1 de janeiro de 2022

CUMPRIMENTOS DE ANO NOVO - KARDEC


CUMPRIMENTOS DE ANO-NOVO


(Revista Espírita de fevereiro de 1862)


Várias centenas de cartas nos foram dirigidas pelo ano-novo, de modo que nos é materialmente impossível responder uma a uma. Pedimos, pois, aos nossos dignos correspondentes aqui recebam a expressão de nosso agradecimento sincero pelo testemunho de simpatia que tiveram a bondade de nos dar. Uma entre elas, entretanto, por sua natureza, exige uma resposta especial. É a dos espíritas de Lyon, subscrita por cerca de duzentas assinaturas.
Aproveitamos a circunstância para transmitir, a seu pedido, alguns conselhos gerais. A Sociedade Espírita de Paris, fundada por nós, julgando que podia ser útil a todo o mundo, não só nos sugeriu que a publicássemos na Revista, como também votou a sua impressão separada para ser distribuída a todos os seus sócios.
Todos aqueles que tiveram a gentileza de nos escrever participaram dos sentimentos de reciprocidade que aí exprimimos e que se dirigem, sem exceção, a todos os espíritas franceses e estrangeiros, que nos honram com o título de seu chefe e de seu guia na nova via que se lhes abre.
Não nos dirigimos apenas aos que nos escreveram, pela passagem do ano-novo, mas a todos os que, a cada momento, nos dão tocantes provas de seu reconhecimento pela felicidade e pelas consolações que encontram na doutrina e que nos relatam as suas penas e os seus esforços para ajudar a sua propagação. A todos, enfim, aos quais nossos trabalhos servem para algo na marcha progressiva do Espiritismo.


RESPOSTA À MENSAGEM DE ANO-NOVO DOS ESPÍRITAS LIONESES


Meus caros irmãos e amigos de Lyon.


A mensagem coletiva que tivestes a bondade de me enviar pela passagem do ano-novo causou-me viva satisfação, provando que conservastes de mim uma boa recordação. Mas o que me deu maior prazer, em vosso ato espontâneo, foi o de encontrar, entre as numerosas assinaturas, representação de quase todos os grupos, pois é um sinal da harmonia reinante entre eles. Sinto-me feliz por terdes compreendido o objetivo desta organização, cujos resultados já podeis apreciar, pois agora vos deve ser evidente que uma sociedade única teria sido quase impossível.
Agradeço-vos, meus bons amigos, os votos que me formulais. Eles me são tanto mais agradáveis quanto sei que partem do coração, e são os que Deus escuta. Ficai satisfeitos porque ele os escuta diariamente, dando-me a alegria inaudita no estabelecimento de uma nova doutrina, de ver aquela a que me devotei crescer e prosperar, em meus dias, com rapidez maravilhosa. Encaro como um grande favor do Céu o ser testemunha do bem que ela já faz. Essa certeza, da qual diariamente recebo os mais tocantes testemunhos, me paga com usura todas as penas e fadigas. Só uma graça peço a Deus, a de me dar a força física necessária para ir até o fim de minha tarefa, que está longe de ser concluída. Mas, haja o que houver, terei sempre a consolação da certeza de que a semente das ideias novas, agora espalhada por toda a parte, é imperecível. Mais feliz que muitos outros, que não trabalharam senão para o futuro, a mim me é dado ver os primeiros frutos. Se algo lamento, é que a exiguidade de meus recursos pessoais não me permita pôr em execução os planos que tracei para seu mais rápido desenvolvimento. Se, porém, em sua sabedoria, Deus o quis de outro modo, legarei esse plano aos meus sucessores que, sem dúvida, serão mais felizes.
Malgrado a penúria de recursos materiais, o movimento de opinião que se opera ultrapassou toda expectativa. Crede, meus irmãos, que vosso exemplo não deixou de ter influência nisso.
Recebei nossas felicitações pela maneira pela qual sabeis compreender e praticar a doutrina. Sei quão grandes são as provas que muitos de vós tendes de suportar. Só Deus lhes conhece o termo aqui na Terra. Mas, também, quanta força contra a adversidade nos dá a fé no futuro! Oh! Lamentai os que acreditam no nada após a morte, pois para eles o mal presente não tem compensação. O incrédulo infeliz é como o doente que não espera a cura. Ao contrário, o espírita é como aquele que, doente hoje, sabe que amanhã estará curado.
Pedis que continue com os meus conselhos. Eu os dou de boa vontade aos que os pedem e creem que deles necessitam. Mas só a esses. Aos que julgam saber muito e que dispensam as lições da experiência, nada tenho a dizer, a não ser que desejo não tenham um dia de lamentar-se por terem confiado demais nas próprias forças. Tal pretensão, aliás, acusa um sentimento de orgulho, contrário ao verdadeiro espírito do Espiritismo. Ora, pecando pela base, aqueles provam, só por isto, que se afastam da verdade. Não sois desse número, meus amigos, por isso aproveito a circunstância para vos dirigir algumas palavras que vos provarão que, de perto ou de longe, sou todo vosso.
No ponto em que hoje as coisas se acham e considerando-se a marcha do Espiritismo por meio dos obstáculos semeados em sua rota, pode-se dizer que as principais dificuldades foram vencidas. Ele tomou o seu lugar e assentou-se em bases que de agora em diante desafiam os esforços dos adversários.
Pergunta-se como pode ter adversários uma doutrina que nos torna felizes e melhores. Isto é muito natural. Em seu início, o estabelecimento das melhores coisas sempre fere interesses. Não tem sido assim com todas as invenções e descobertas, que revolucionam a Indústria? Não tiveram inimigos encarniçados aquelas que hoje são consideradas como benefícios e das quais não nos poderíamos privar? Toda lei que reprime abusos não tem contra si os que vivem do abuso? Como queríeis que uma doutrina que conduz ao reino da caridade efetiva não fosse combatida por quantos vivem no egoísmo? E sabeis como estes são numerosos na Terra! No princípio esperavam matá-lo pela zombaria. Hoje veem que tal arma é impotente e que, sob o fogo cerrado dos sarcasmos ele continuou sua rota sem tropeços. Não penseis que eles se confessarão vencidos. Não, o interesse material é mais tenaz. Reconhecendo que é uma potência que agora deve ser levada em conta, vão desfechar ataques mais sérios, mas que servirão para melhor provar a fraqueza deles. Uns o atacarão abertamente, em palavras e atos, e persegui-lo-ão até na pessoa de seus adeptos, tentando desencorajá-los à força de intrigas, enquanto outros sub-repticiamente, por vias indiretas, procurarão miná-lo surdamente. Ficai avisados: a luta não terminou. Estou prevenindo que eles vão tentar um supremo esforço. Não temais, entretanto, pois o penhor do sucesso está nesta divisa, que é a de todos os verdadeiros espíritas: Fora da caridade não há salvação. Hasteai-a bem alto, porque ela é a cabeça de Medusa para os egoístas.
A tática ora em ação pelos inimigos dos espíritas, mas que vai ser empregada com novo ardor, é a de tentar dividi-los, criando sistemas divergentes e suscitando entre eles a desconfiança e a inveja. Não vos deixeis cair na armadilha, e tende certeza de que quem quer que procure, seja por que meio for, romper a boa harmonia, não pode ter boas intenções. Eis por que vos advirto para que tenhais a maior circunspeção na formação dos vossos grupos, não só para a vossa tranquilidade, mas no próprio interesse dos vossos trabalhos.
A natureza dos trabalhos espíritas exige calma e recolhimento. Ora, isto não é possível se somos distraídos pelas discussões e pela expressão de sentimentos malévolos. Se houver fraternidade, não haverá sentimentos malévolos, mas não pode haver fraternidade com egoístas, ambiciosos e orgulhosos. Com orgulhosos que se chocam e se ferem por tudo; com ambiciosos que se desiludem quando não têm a supremacia; com egoístas que só pensam em si mesmos, a cizânia não tardará a ser introduzida. Daí, vem a dissolução. É o que queriam nossos inimigos e é o que tentarão fazer.
Se um grupo quiser estar em condições de ordem, de tranquilidade, de estabilidade, é preciso que nele reine um sentimento fraterno. Todo grupo ou sociedade que se formar sem ter por base a caridade efetiva não terá vitalidade, enquanto os que se formarem segundo o verdadeiro espírito da doutrina olhar-se-ão como membros de uma mesma família que, não podendo viver todos sob o mesmo teto, moram em lugares diversos. Entre eles, a rivalidade seria uma insensatez, pois ela não poderia existir onde reina a verdadeira caridade, porque a caridade não pode ser entendida de duas maneiras. Reconhecei, pois, o verdadeiro espírita pela prática da caridade em pensamentos, palavras e atos, e dizei a vós mesmos que aquele que em sua alma nutre sentimentos de animosidade, de rancor, de ódio, de inveja e de ciúme mente para si mesmo se deseja compreender e praticar o Espiritismo.
O egoísmo e o orgulho matam as sociedades particulares, como matam os povos e as sociedades em geral. Lede a história e vereis que os povos sucumbem sob o amplexo desses dois mortais inimigos da felicidade humana. Quando se apoiarem nas bases da caridade, serão indissolúveis, porque estarão em paz entre si e consigo mesmos, cada um respeitando os bens e os direitos dos vizinhos. Essa será a nova era predita, da qual o Espiritismo é o precursor, e para a qual todo espírita deve trabalhar, cada um na sua esfera de atividade. É uma tarefa que lhes incumbe, e da qual serão recompensados conforme a maneira pela qual a tenham realizado, pois Deus saberá distinguir os que no Espiritismo só procuraram a sua satisfação pessoal daqueles que ao mesmo tempo trabalharam pela felicidade de seus irmãos.
Devo ainda assinalar-vos outra tática dos nossos adversários, a de procurar comprometer os espíritas, induzindo-os a se afastarem do verdadeiro objetivo da doutrina, que é o da moral, para abordarem questões que não são de sua alçada e que, a justo título, poderiam despertar suscetibilidades e desconfianças.
Não vos deixeis cair também nesse laço. Em vossas reuniões, afastai cuidadosamente tudo quando se refere à política e a questões irritantes. A tal respeito, as discussões apenas suscitarão embaraços, enquanto ninguém terá nada a objetar à moral, quanto esta for boa.
Procurai no Espiritismo aquilo que vos pode melhorar. Eis o essencial. Quando os homens forem melhores, as reformas sociais realmente úteis serão uma consequência natural. Trabalhando pelo progresso moral, lançareis os verdadeiros e mais sólidos fundamentos de todas as melhoras. Deixai a Deus o cuidado de fazer com que cheguem no devido tempo. No próprio interesse do Espiritismo, que é ainda jovem, mas que amadurece depressa, oponde uma firmeza inquebrantável aos que buscarem arrastar-vos por uma via perigosa.
Visando desacreditar o Espiritismo, pretendem alguns que ele vá destruir a religião. Sabeis exatamente o contrário, pois a maioria de vós, que mal acreditáveis em Deus e na alma, agora creem; quem não sabia o que era orar, ora com fervor; quem não mais punha os pés nas igrejas, agora vai com recolhimento.
Aliás, se a religião devesse ser destruída pelo Espiritismo, é que ela seria destrutível e o Espiritismo seria mais poderoso. Dizê-lo seria uma inabilidade, pois seria confessar a fraqueza de uma e a força do outro. O Espiritismo é uma doutrina moral que fortifica os sentimentos religiosos em geral e se aplica a todas as religiões. Ele é de todas, e não é de nenhuma em particular. Por isso não diz a ninguém que a troque. Deixa a cada um a liberdade de adorar Deus à sua maneira e de observar as práticas ditadas pela consciência, pois Deus leva mais em conta a intenção do que o fato. Ide, pois, cada um ao templo do vosso culto, e assim provai que vos caluniam quando vos taxam de impiedade.
Na impossibilidade material em que me acho de manter relações com todos os grupos, pedi a um de vossos confrades que me representasse mais especialmente em Lyon, como o fiz alhures: é o Sr. Villon, cujo zelo e devotamento são do vosso conhecimento, tanto quanto a pureza de seus sentimentos. Além disso, sua posição independente lhe dá mais folga para a tarefa de que se quer encarregar. É tarefa dura, mas ele não recuará. O grupo por ele formado em sua casa o foi sob os meus auspícios e conforme as minhas instruções, quando de minha última viagem. Ali encontrareis excelentes conselhos e salutares exemplos. É com viva satisfação que verei todos os que me honram com sua confiança a ele se ligarem, como a um centro comum. Se alguns quiserem fazer um grupo à parte, não os olheis com prevenção. Se vos atirarem pedras, nem as recolhais, nem as devolvais. Entre eles e vós, Deus será o juiz dos sentimentos de cada um. Que aqueles que se julgam os únicos certos o provem por maior caridade e maior abnegação de amor-próprio, porque a verdade não estaria ao lado dos que desconhecem o primeiro preceito da doutrina. Se estiverdes em dúvida, fazei sempre o bem: os erros do espírito pesam menos na balança de Deus que os erros do coração.
Repetirei aqui o que disse noutras ocasiões: em caso de divergência de opiniões, o meio fácil de sair da dúvida é ver qual a que reúne a maioria, pois há nas massas um bom-senso inato, que não engana. O erro só seduz alguns espíritos enceguecidos pelo amor próprio e por um falso julgamento, mas a verdade sempre acaba vencendo. Tende certeza, portanto, que o erro deserta das fileiras que se esclarecem e que há uma obstinação irracional em crer que um só tenha razão contra todos. Se os princípios que eu professo só tivessem ecos isolados, e se tivessem sido repelidos pela opinião geral, eu seria o primeiro a reconhecer que me havia enganado. Mas vendo crescer incessantemente o número dos aderentes em todas as camadas da Sociedade e em todos os países do mundo, devo acreditar na solidez das bases sobre as quais repousam. Eis por que vos digo com toda a segurança para que marcheis com passo firme na via que vos é traçada. Dizei aos antagonistas que se eles querem que os sigais, que vos ofereçam uma doutrina mais consoladora, mais clara, mais inteligível, que melhor satisfaça à razão e que, ao mesmo tempo, seja uma garantia melhor para a ordem social. Pela vossa união, frustrai os cálculos dos que vos queiram dividir. Provai, enfim, pelo vosso exemplo, que a doutrina nos torna mais moderados, mais brandos, mais pacientes, mais indulgentes, o que será a melhor resposta aos detratores, ao mesmo tempo que a vista dos resultados benéficos é o melhor meio de propaganda.
Eis, meus amigos, os conselhos que vos dou e aos quais junto os meus votos para o ano que começa. Não sei que provas Deus nos destina para este ano, mas sei que, sejam quais forem, as suportareis com firmeza e resignação, pois sabeis que para vós, como para o soldado, a recompensa é proporcional à coragem.
Quanto ao Espiritismo, pelo qual vos interessais mais que por vós mesmos, e cujo progresso, pela minha posição, posso julgar melhor que ninguém, sinto-me feliz em dizer-vos que o ano se inicia sob os mais favoráveis auspícios, e que ele verá, sem dúvida nenhuma, o número dos adeptos crescer numa proporção imprevisível. Mais alguns anos como estes que se passaram, e o Espiritismo terá a seu favor três quartas partes da população.
Deixai que vos cite um fato entre milhares.
Num departamento vizinho de Paris há uma cidadezinha onde o Espiritismo penetrou apenas há seis meses. Em poucas semanas tomou um desenvolvimento considerável. Uma oposição formidável logo foi organizada contra os seus partidários, ameaçando até os seus interesses particulares. Eles enfrentaram tudo com uma coragem e um desinteresse dignos dos maiores elogios. Entregaram-se à Providência e a Providência não lhes faltou. Essa cidade conta com uma população operária numerosa, em cujo meio as ideias espíritas, graças à oposição levantada, aumenta dia a dia. Ora, um fato digno de nota é que as mulheres e as moças esperaram sua gratificação de ano-novo para comprarem as obras necessárias à sua instrução e só para essa cidade um livreiro teve que remetê-las às centenas.
Não é prodigioso ver simples operárias reservarem suas economias para comprar livros de moral e de filosofia em vez de romances e bugigangas? Homens preferindo essa leitura às alegrias ruidosas e embrutecedoras dos cabarés? Ah! É que aqueles homens e aquelas mulheres, que sofrem como vós, agora compreendem que não é aqui que se realiza a seu destino. Abrem-se as cortinas, e eles entreveem os esplêndidos horizontes do futuro. Essa cidadezinha é Chauny, no departamento do Aisne. Novos filhos da grande família, eles vos saúdam, irmãos de Lyon, como seus irmãos maiores, e desde já formam um dos elos da cadeia espiritual que une Paris, Lyon, Metz, Sens, Bordeaux e outras, e que em breve ligarão todas as cidades do mundo num sentimento de mútua confraternidade, porque em toda parte o Espiritismo lançou sementes fecundas e seus filhos se dão as mãos por cima das barreiras dos preconceitos de seitas, castas e nacionalidades.


Vosso dedicado irmão e amigo,
ALLAN KARDEC

terça-feira, 5 de outubro de 2021

INSTRUÇÃO MORAL POR LACORDAIRE "Marchai à frente dos vossos irmãos sofredores; dai ao pobre o óbolo do dia; enxugai as lágrimas da viúva e do órfão com palavras doces e consoladoras. Levantai o ânimo abatido desse velho curvado ao peso dos anos e sob o jugo de suas iniquidades, fazendo brilhar em sua alma as asas douradas da esperança numa vida futura melhor"

(PARIS, GRUPO FAUCHERAUD ─ MÉDIUM: SR. PLANCHE)

Venho a vós, pobres tresmalhados num terreno escorregadio, cuja brusca inclinação não espera mais do que alguns passos para que vos precipiteis no abismo. Como bom pai de família, venho estender-vos a mão caridosa para vos salvar do perigo. Meu maior desejo é conduzir-vos para o teto paternal e divino, a fim de vos fazer sentir o amor de Deus e do trabalho pela fé e pela caridade cristã, pela paz e pelos prazeres suaves do lar. Como vós, meus caros filhos, conheci alegrias e sofrimentos, e conheço todas as dúvidas dos vossos Espíritos e as lutas dos vossos corações. É para vos premunir contra os vossos defeitos e para vos mostrar os escolhos contra os quais vos podeis arrebentar que serei justo, mas severo.

Do alto das esferas celestes que percorro, meu olhar mergulha com satisfação em vossas reuniões e é com vivo interesse que acompanho as vossas santas instruções. Mas, ao mesmo tempo em que minh’alma se regozija por um lado, por outro experimenta um amargo sofrimento, quando penetra em vossos corações e aí ainda vê tanto apego às coisas terrenas. Para a maioria, o santuário de nossas lições é para vós uma sala de espetáculo e esperais sempre que de nossa parte surjam coisas maravilhosas. Não estamos encarregados de vos apresentar milagres, mas de trabalhar os vossos corações, abrindo grandes leiras para nelas lançar a mancheias as sementes divinas.Empenhamo-nos incessantemente em torná-la fecunda, porque sabemos que suas raízes devem atravessar a Terra de um a outro polo e cobrir-lhe a superfície. Os frutos que daí saírem serão tão belos, tão agradáveis e tão grandes que subirão até os céus.

Feliz aquele que tiver sabido colhê-los para se fartar, porque os Espíritos bem-aventurados virão ao seu encontro, cingirão a sua fronte com a auréola dos escolhidos e o farão subir os degraus do trono majestoso do Eterno, e lhe dirão que participe da felicidade incomparável, dos prazeres e das delícias sem fim das falanges celestes.

Infeliz aquele a quem foi dado ver a luz e escutar a palavra de Deus e que tiver fechado os olhos e tapado os ouvidos, porque o espírito das trevas o envolverá com suas asas lúgubres e o transportará para o seu negro império, para fazê-lo expiar, durante séculos, por tormentos sem conta, sua desobediência ao Senhor. É o momento de aplicar a sentença de morte do profeta Oséias: Coedam eos secundum auditionem coetus eorum. (Eu os farei morrer conforme o que tiverem ouvido). Que estas poucas palavras não sejam uma fumaça a evolar-se nos ares, mas que elas captem vossa atenção para que as mediteis e nelas reflitais seriamente. Apressai-vos em aproveitar os poucos instantes que vos restam para consagrá-los a Deus. Um dia viremos perguntar-vos o que fizestes dos nossos ensinos e como pusestes em prática a doutrina sagrada do Espiritismo.

A vós, pois, espíritas de Paris, que muito podeis por vossa posição pessoal e por vossa influência moral, a vós, digo, a glória e a honra de dar o exemplo sublime das virtudes cristãs. Não espereis que a infelicidade venha bater à vossa porta. Marchai à frente dos vossos irmãos sofredores; dai ao pobre o óbolo do dia; enxugai as lágrimas da viúva e do órfão com palavras doces e consoladoras. Levantai o ânimo abatido desse velho curvado ao peso dos anos e sob o jugo de suas iniquidades, fazendo brilhar em sua alma as asas douradas da esperança numa vida futura melhor. Por toda parte, à vossa passagem, prodigalizai o amor e a consolação. Elevando, assim, as vossas boas obras à altura dos vossos pensamentos, merecereis dignamente o título glorioso e brilhante que mentalmente vos conferem os Espíritos do país e do estrangeiro, cujos olhos estão fixados sobre vós e que, tocados de admiração à vista das ondas de luz que escapam de vossas reuniões, vos chamarão de Sol da França.
LACORDAIRE

quarta-feira, 19 de maio de 2021

A CÓLERA..."O orgulho vos leva a vos julgardes mais do que sois, a não aceitar uma comparação que vos possa rebaixar"... /..."Dizei, pois, que o homem só permanece vicioso porque o quer, mas que aquele que deseja corrigir-se sempre o pode fazer"...

Evangelho Segundo o Espiritismo: Cap.10 Bem Aventurado os Misericordiosos.

A Cólera

Um Espírito Protetor
Bordeaux, 1863

9. O orgulho vos leva a vos julgardes mais do que sois, a não aceitar uma comparação que vos possa rebaixar, e a vos considerardes, ao contrário, de tal maneira acima de vossos irmãos, seja na finura de espírito, seja no tocante à posição social, seja ainda em relação às vantagens pessoais, que o menor paralelo vos irrita e vos fere. E o que acontece, então? Entregai-vos à cólera.

Procurai a origem desses acessos de demência passageira, que vos assemelham aos brutos, fazendo-vos perder o sangue-frio e a razão; procurai-a, e encontrareis quase sempre por base o orgulho ferido. Não é acaso o orgulho ferido por uma contradita, que vos faz repelir as observações justas e rejeitar, encolerizados, os mais sábios conselhos? Até mesmo a impaciência, causada pelas contrariedades, em geral pueris, decorre da importância atribuída à personalidade, perante a qual julgais que todos devem curvar-se.

No seu frenesi, o homem colérico se volta contra tudo, à própria natureza bruta, aos objetos inanimados, que despedaça, por não o obedecerem. Ah! Se nesses momentos ele pudesse ver-se a sangue-frio, teria horror de si mesmo ou se reconheceria ridículo! Que julgue por isso a impressão que deve causar aos outros. Ao menos pelo respeito a si mesmo, deveria esforçar-se, pois, para vencer essa tendência que o torna digno de piedade.

Se pudesse pensar que a cólera nada resolve, que lhe altera a saúde, compromete a sua própria vida, veria que é ele mesmo a sua primeira vítima. Mas ainda há outra consideração que o deveria deter: o pensamento de que torna infelizes todos os que o cercam. Se tem coração, não sentirá remorsos por fazer sofrer as criaturas que mais ama? E que mágoa mortal não sentirá se, num acesso de arrebatamento, cometesse um ato de que teria de recriminar-se por toda a vida!

Em suma: a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede que se faça muito bem, e pode levar a fazer-se muito mal. Isso deve ser suficiente para incitar os esforços para dominá-la. O espírita, aliás, é incitado por outro motivo: o de que ela é contrária à caridade e à humildade cristãs.

Hahnemann
Paris, 1863

10. Segundo a idéia muito falsa de que não se pode reformar a própria natureza, o homem se julga dispensado de fazer esforços para se corrigir dos defeitos em que se compraz voluntariamente, ou que para isso exigiram muita perseverança. É assim, por exemplo, que o homem inclinado à cólera se desculpa quase sempre com o seu temperamento. Em vez de se considerar culpado, atribui a falta ao seu organismo, acusando assim a Deus pelos seus próprios defeitos. É ainda uma conseqüência do orgulho, que se encontra mesclado a todas as suas imperfeições.

Não há dúvida que existem temperamentos que se prestam melhor aos atos de violência, como existem músculos mais flexíveis, que melhor se prestam a exercícios físicos. Não penseis, porém, que seja essa a causa fundamental da cólera, e acreditai que um Espírito pacífico, mesmo num corpo bilioso, será sempre pacífico, enquanto um Espírito violento, num corpo linfático, não seria dócil. Nesse caso, a violência apenas tomaria outro caráter. Não dispondo de seu organismo apropriado à sua manifestação, a cólera seria concentrada, enquanto no caso contrário seria expansiva.

O corpo não dá impulsos de cólera a quem não os tem, como não dá outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito. Sem isso, onde estariam o mérito e a responsabilidade? O homem que é deformado não pode tornar-se direito, porque o Espírito nada tem com isso, mas pode modificar o que se relaciona com o Espírito, quando dispõe de uma vontade firme. A experiência não vos prova, espíritas, até onde pode ir o poder da vontade, pelas transformações  verdadeiramente miraculosas que se operam aos vossos olhos? 
Dizei, pois, que o homem só permanece vicioso porque o quer, mas que aquele que deseja corrigir-se sempre o pode fazer. De outra maneira, a lei do progresso não existiria para o homem.

Copyright 2004 - LAKE - Livraria Allan Kardec Editora
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domingo, 2 de maio de 2021

LUTERO E KARDEC : UMA VISITA ÀS REGIÕES INFERIORES “Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal?

fragmentos:

Conta-se que Allan Kardec, quando reunia os textos de que nasceria “O Livro dos Espíritos”, recolheu-se ao leito, certa noite, impressionado com um sonho de Lutero[...]o codificador da Doutrina Espírita, durante o repouso, viu-se também fora do corpo, em singular desdobramento…identificou um enviado de Planos Sublimes que o transportou, de chofre, a nevoenta região[...]rogou Kardec, emocionado —, que sofredores são estes, cujos gemidos e imprecações me cortam a alma? [...]Temos junto de nós os que estavam no mundo plenamente educados quanto aos imperativos do Bem e da Verdade, e que fugiram deliberadamente da Verdade e do Bem, especialmente os cristãos infiéis de todas as épocas, perfeitos conhecedores da lição e do exemplo do Cristo e que se entregaram ao mal, por livre vontade…



Consciência Espírita

Diz você que não compreende o motivo de tanta autocensura nas comunicações dos espíritas desencarnados. Fulano, que deixou a melhor ficha de serviço, volta a escrever, declarando que não agiu entre os homens como deveria; sicrano, conhecido por elevado padrão de virtudes, regressa, por vários médiuns, a lastimar o tempo perdido… E você acentua, depois de interessantes apontamentos: “Tem-se a impressão de que os nossos confrades tornam, do Além, atormentados por terríveis complexos de culpa. Como explicar o fenômeno?”

 

Creia, meu caro, que nutro pessoalmente pelos espíritas a mais enternecida admiração. Infatigáveis construtores do progresso, obreiros do Cristianismo Redivivo. Tanta liberdade, porém, receberam para a interpretação dos ensinamentos de Jesus que, sinceramente, não conheço neste mundo pessoas de fé mais favorecidas de raciocínio, ante os problemas da vida e do Universo. Carregando largos cabedais de conhecimento, é justo guardem eles a preocupação de realizar muito e sempre mais, a favor de tantos irmãos da Terra, detidos por ilusões e inibições no capítulo da crença.

 

Conta-se que Allan Kardec, quando reunia os textos de que nasceria “O Livro dos Espíritos”, recolheu-se ao leito, certa noite, impressionado com um sonho de Lutero, de que tomara notícias. O grande reformador, em seu tempo, acalentava a convicção de haver estado no paraíso, colhendo informes em torno da felicidade celestial.

 

Comovido, o codificador da Doutrina Espírita, durante o repouso, viu-se também fora do corpo, em singular desdobramento… Junto dele, identificou um enviado de Planos Sublimes que o transportou, de chofre, a nevoenta região, onde gemiam milhares de entidades em sofrimento estarrecedor. Soluços de aflição casavam-se a gritos de cólera, blasfêmias seguiam-se a gargalhadas de loucura.

 

Atônito, Kardec lembrou os tiranos da História e inquiriu, espantado:
Jazem aqui os crucificadores de Jesus?
— Nenhum deles — informou o guia solícito. Conquanto responsáveis, desconheciam, na essência, o mal que praticavam. O próprio Mestre auxiliou-os a se desembaraçarem do remorso, conseguindo-lhes abençoadas reencarnações, em que se resgataram perante a Lei.

 

— E os imperadores romanos? Decerto, padecerão nestes sítios aqueles mesmos suplícios que impuseram à Humanidade…
— Nada disso. Homens da categoria de Tibério ou Calígula não possuíam a mínima noção de espiritualidade. Alguns deles, depois de estágios regenerativos na Terra, já se elevaram a Esferas superiores, enquanto que outros se demoram, até hoje, internados no campo físico, à beira da remissão.

 

Acaso, andarão presos nestes vales sombrios tornou o visitante — os algozes dos cristãos, nos séculos primitivos do Evangelho?

 

— De nenhum modo — replicou o lúcido acompanhante —, os carrascos dos seguidores de Jesus, nos dias apostólicos, eram homens e mulheres quase selvagens, apesar das tintas de civilização que ostentavam…Todos foram encaminhados à reencarnação, para adquirirem instrução e entendimento.

 

O codificador do Espiritismo pensou nos conquistadores da Antiguidade, Átila, Aníbal, Alarico I,  Gengiscão… 

 

Antes, todavia, que enunciasse nova pergunta, o mensageiro acrescentou, respondendo-lhe à consulta mental:
— Não vagueiam, por aqui, os guerreiros que recordas… Eles nada sabiam das realidades do espírito e, por isso, recolheram piedoso amparo, dirigidos para o renascimento carnal, entrando em lides expiatórias, conforme os débitos contraídos…

 

— Então, dize-me — rogou Kardec, emocionado —, que sofredores são estes, cujos gemidos e imprecações me cortam a alma?

 

E o orientador esclareceu, imperturbável:
— Temos junto de nós os que estavam no mundo plenamente educados quanto aos imperativos do Bem e da Verdade, e que fugiram deliberadamente da Verdade e do Bem, especialmente os cristãos infiéis de todas as épocas, perfeitos conhecedores da lição e do exemplo do Cristo e que se entregaram ao mal, por livre vontade… Para eles, um novo berço na Terra é sempre mais difícil…

 

Chocado com a inesperada observação, Kardec regressou ao corpo e, de imediato, levantou-se e escreveu a pergunta que apresentaria, na noite próxima, ao exame dos mentores da obra em andamento e que figura como sendo a questão número 642, de “O Livro dos Espíritos”: ( “Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal?”, indagação esta a que os instrutores retorquiram: “Não; cumpre-lhe fazer o bem, no limite de suas forças, porquanto responderá por todo o mal que haja resultado de não haver praticado o bem.”

 

Segundo é fácil de perceber, meu amigo, com princípios tão claros e tão lógicos, é natural que a consciência espírita, situada em confronto com as ideias dominantes nas religiões da maioria, seja muito diferente.

.Irmão X
fonte:

LIVRO : CARTAS E CRÔNICAS - CAP. 7 : CONSCIÊNCIA ESPÍRITA
PSICOGRAFADO POR FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER 
PELO ESPÍRITO: IRMÃO X 


sábado, 6 de março de 2021

LIBERDADE , IGUALDADE E FRATERNIDADE: Liberdade, igualdade e fraternidade, três palavras que são por si sós o programa de uma ordem social, que realizaria o mais absoluto progresso da humanidade, se os princípios que representam pudessem receber inteira aplicação.




Liberdade, igualdade e fraternidade, três palavras que são por si sós o programa de uma ordem social, que realizaria o mais absoluto progresso da humanidade, se os princípios que representam pudessem receber inteira aplicação. Vejamos os obstáculos que, no estado atual da sociedade, lhes podem ser apresentados e procuraremos os meios de removê-los.


A fraternidade, na rigorosa acepção da palavra, resume todos os deveres do homem para com os semelhantes. Significa: devotamento, abnegação, tolerância, benevolência, indulgência; é a caridade evangélica por excelência e a aplicação da máxima "fazer aos outros o que queremos que os outros nos façam". O oposto constitui a norma do egoísmo. A fraternidade proclama: um por todos e todos por um; o egoísmo perora: cada um para si. Estes dois princípios, sendo a negação um do outro, tanto impedem ao egoísta de ser fraterno como ao avarento de ser generoso e um homem medíocre de chegar às culminâncias de um grande homem. Ora, sendo o egoísmo social, enquanto ele dominar, será impossível a verdadeira fraternidade, querendo a cada um para proveito próprio ou quando muito em proveito de outrem, uma vez que nada perca com isso.


Atenta a sua importância para a realização da felicidade social, a fraternidade está na primeira linha: é a base; sem ela seriam impossíveis a liberdade e a igualdade reais. A igualdade decorre da fraternidade e a liberdade do conjunto das duas.


Suponhamos uma sociedade de homens assás desinteressados, benévolos e prestativos, para viverem fraternalmente. Entre eles não haverá privilégios e direitos excepcionais, o que destruiria a fraternidade.


Tratar alguém de irmão é tratar de igual para igual, é querer para ele o mesmo que para si. Em um povo de irmãos, a igualdade será a conseqüência dos seus sentimentos, da sua maneira de proceder, e se estabelecerá pela força das coisas.


Qual é, porém, o inimigo da igualdade? O orgulho, que trabalha por ser o primeiro e por dominar; que vive de privilégios e de exceções e que aproveitará a primeira ocasião para destruir a igualdade social, nunca por ele bafejada. Ora, sendo o orgulho uma das chagas sociais, é evidente que nenhuma sociedade terá a igualdade sem arrasar primeiro esta barreira.


A liberdade, já o dissemos, é filha da igualdade e da fraternidade. Falamos da liberdade legal, e não da natural, que é um direito imprescritível de toda a criatura humana, até do selvagem.


Os homens, vivendo como irmãos, com direitos iguais, animados do sentimento de recíproca benevolência, praticarão entre si a justiça, não causarão danos e, portanto, nada recearão uns dos outros. A liberdade será inofensiva, porque ninguém abusará, em prejuízo do seu semelhante. Como conseguir que o egoísmo, tudo desejando para si, e o orgulho, que quer tudo dominar, dêem as mãos à liberdade, que os destrona? Nunca o farão, porque a liberdade não tem mais encarniçados inimigos, assim como a igualdade e a fraternidade.


A liberdade pressupõe confiança mútua, mas este sentimento é impossível entre homens, que só têm em vista a sua personalidade e não podendo satisfazer à sua ambição à custa de outrem, vivem em guarda uns contra os outros, sempre receosos de perder o que chamam o seu direito e têm o predomínio como condição da existência; e por isto levantarão barreiras à liberdade e a sufocarão tão depressa encontrem propício ensejo.


Os três princípios são, como já dissemos, solidários entre si e apoiam-se mutuamente. Sem a co-existência deles, o edifício social fica incompleto. A fraternidade, praticada em sua pureza, requer a liberdade e a igualdade, sem as quais não será perfeita. Sem a fraternidade, a liberdade soltará a rédea às más paixões, que correrão sem freio. Com a fraternidade, o homem saberá regular o livre-arbítrio, estará sempre na ordem. Sem ela, usará do livre-arbítrio, sem escrúpulos; serão a licença e a anarquia. É por isso que as mais livres nações são forçadas a por limites à liberdade. A igualdade, sem fraternidade, conduz aos mesmos resultados, porque a igualdade requer liberdade. Sob o pretexto da igualdade, o pequeno abate o grande, para tomar-lhe o lugar, e torna-se tirano por sua vez. Não há senão um deslocamento de despotismo.


Do exposto resulta que deve permanecer na escravidão o povo que não possui ainda o verdadeiro sentimento de fraternidade? Que não têm capacidade para as instituições fundadas sobre os princípios de igualdade e de liberdade? Pensar assim é mais o que cometer um erro, é cometer um absurdo. Nunca se espera que a criança chegue a todo o seu desenvolvimento orgânico para ensiná-la a andar.


Quem é, as mais vezes, o guia ou o tutor dos povos? São homens de idéias grandiosas e generosas dominados pelo amor do progresso, que aproveitam a submissão dos seus inferiores, para neles desenvolver o senso moral e elevá-los pouco a pouco à condição de homens livres? Não; são, quase sempre homens ciosos do seu poder, a cuja ambição outros servem de instrumentos mais inteligentes do que os animais e que por isso, em lugar de emancipá-los, os conservam, quando podem, sob o jugo e na ignorância. Esta ordem de coisas, entretanto, muda por si mesma, sob a irresistível influência do progresso.


A reação é, não raro, violenta e tanto mais terrível quando o sentimento de fraternidade, imprudentemente sufocado, não interpõe o seu poder moderador. A luta é travada entre os que querem arrebatar e os que querem guardar; daí um conflito que se prolonga, às vezes, por séculos. Um equilíbrio fictício por fim se estabelece. As condições melhoram, mas os fundamentos de ordem social não estão firmes, a terra treme debaixo dos pés; porque ainda não é o tempo do reinado da liberdade e da igualdade sob a égide da fraternidade, visto como o orgulho e o egoísmo ainda contrastam com os esforços dos homens de bem.


Vós todos, que sonhais com esta idade de ouro para a humanidade, trabalhai principalmente na construção dos alicerces do edifício; antes de lhes terdes coroado o fastígio, dai-lhe por pedra angular a fraternidade em sua mais pura acepção; mas é preciso saber que, para isto, não basta decretar e inscrever a palavra numa bandeira; é mister que haja o sentimento no fundo dos corações e não seja ele trocado por disposições legislativas. Assim como para fazer frutificar um campo é preciso remover as pedras e arrancar a erva, urge trabalhar sem descanso para remover e arrancar o orgulho e o egoísmo, porque são eles a fonte de todo o mal, o obstáculo real ao reino das coisas boas.(77)


Destruí nas leis, nas instituições, nas religiões, na educação, os mais imperceptíveis vestígios dos tempos da barbaria e dos privilégios, bem como todas as causas, que entretem e desenvolvem esses eternos obstáculos ao verdadeiro progresso, vícios que são ingeridos, por assim dizer, como o leite, e aspirados por todos os poros na atmosfera social.


Só então os homens compreenderão, os deveres e benefícios da fraternidade, só então se firmarão por si mesmos, sem abalos e sem perigos, os princípios complementares da liberdade e da igualdade. E é possível a destruição do orgulho e do egoísmo? Respondemos alta e formalmente: SIM, porque, do contrário, fixar-se-á um marco eterno ao progresso da humanidade. Que o homem avulta sempre em inteligência, é fato incontestável. Terá chegado ao ponto culminante da sua caminhada por esse caminho? Quem ousaria sustentar tão absurda tese? Progride em moralidade? Para responder a esta pergunta, basta comparar as épocas de um mesmo país. Por que razão alcançará o limite de progresso moral antes que o do intelectual? A sua aspiração para uma ordem superior é o indício da possibilidade de ali chegar. Aos homens do progresso pertence ativar esse movimento pelo estudo e aplicação dos meios mais eficazes.


(77) A lógica e a perfeição formal e conceptual deste trabalho de Kardec exigem estudo atencioso para a sua completa compreensão. Como vemos no trecho acima, confirmando tópicos da codificação e deste mesmo volume, os espíritas são os trabalhadores do alicerce da nova ordem social. Possuindo o esclarecimento doutrinário, não podem iludir-se com teorias e movimentos políticos e sociais de superfície, com ideologias que ignoram a essência da estrutura social, ou seja a condição evolutiva do homem, do espírito humano em seu estágio atual. Impossível criar um mundo de cultura com uma população obtusa e analfabeta, sem antes educá-la. Assim também é impossível estabelecer na Terra o reino da justiça com uma humanidade egoísta, orgulhosa e escravizada aos preconceitos da ignorância, sem antes esclarecê-la. (N. do Rev.)

sábado, 27 de fevereiro de 2021

DA LEI DE IGUALDADE

 1 - PRIMITIVISMO OU SUBNUTRIÇÃO:


"Perante Deus, são iguais todos os bomens?"


"Sim, todos tendem para o mesmo fim e Deus fez suas leis para todos. Dizeis frequentemente: "O Sol é luz para todos" e enunciais assim uma verdade maior e mais geral do que pensais. " Questâo n° 803 (Da Lei de Igualdade).


Partindo do princípio de que Deus é a equidade perfeita, a justiça sem mácula, é evidente que considera iguais todos os homens. Fomos criados para um mesmo fim: a Perfeição. Mais cedo ou mais tarde lá chegaremos, quer queiramos ou não, porquanto essa é a vontade do Criador, que não falha jamais em seus objetivos.


Dentro de milhares ou milhões de anos - espaço de tempo vasto para os padrões humanos, mas insignificante diante da Eternidade - teremos desenvolvido plenamente nossas potencialidades criadoras, ajustando-nos adequadamente as Leis Divinas. Seremos, então, prepostos do Senhor, co-partícipes na obra da Criação, e embora as limitações do relativo diante do Absoluto, da criatura diante do Criador, seremos deuses, segundo expressão do salmista, citada por Jesus (João, 10;34).


Nessa longa jornada rumo aos objetivos finais de nossa existência, não partimos todos ao mesmo tempo. Há, por isso, Espíritos em variadas faixas de evolução. Natural, portanto, que os encontremos na Terra, encarnados ou desencarnados, revelando profunda diversificação de entendimento, compreensão, inteligência, vocação, moralidade.


O assunto exige cuidado para não incorrermos no engano de avaliar a condição evolutiva do indivíduo pela posição que ocupa na sociedade. Há Espíritos altamente cultos e intelectualizados que ressurgem na Terra em situação de penúria, experimentando limitações que os ajudarão a vencer sentimentos inferiores de ambição, orgulho, vaidade ...


Por outro lado, há Espíritos de mediana evolução que, por força de experiências necessárias ao seu aprendizado, reencarnam no seio de classes abastadas, onde terão amplas facilidades de aprendizado e ação no meio social, detendo valiosos patrimônios materiais.


Encontramos nas camadas mais pobres uma incidência significativa de indivíduos sem iniciativa, inspirando-nos a impressão de que, nesse vasto segmento da população, em países subdesenvolvidos, localizam-se Espíritos primitivos ... Visitadores de organizações assistenciais defrontam-se, frequentemente, com famílias que parecem absolutamente incapazes de melhorar sua condição social, ainda que orientadas, ajudadas e estimuladas.


São Espíritos primitivos ou estamos diante de problemas decorrentes da própria situação em que se encontram? Até que ponto o Espírito de mediana evolução conseguiria superar condicionamentos psicológicos e culturais impostos pela pobreza?


Consideremos outro fator importante: a nutrição.


Sabe-se que durante a gestação e nos primeiros anos de vida é de fundamental importância que a criança tenha uma alimentação sadia, enriquecida principalmente por proteínas, a fim de que sua estrutura orgânica e, particularmente, suas células cerebrais, tenham um desenvolvimento adequado. Caso contrário, poderá sofrer danos irreparáveis, tornando-se apática, sem iniciativa, com dificuldade de raciocínio e atenção. Salvo em circunstâncias especiais, envolvendo Espíritos altamente evoluídos, as leis biológicas não serão contrariadas.


Recordamos o clássico exemplo do exímio violinista, usando instrumento defeituoso. Por mais se esforce, não conseguirá emprestar brilho a execução. Da mesma forma, Espíritos reencarnados de razoável desenvolvimento mental e intelectual terão imensas dificuldades em exercitar suas potencialidades, se houverem sofrido carências nutritivas nos primeiros anos de vida.


O renascimento em lares extremamente pobres pode ocorrer por uma questão de disponibilidade. À falta de portas melhores para o retorno a carne, Espíritos preementemente necessitados da experiência física reencarnam em lares paupérrimos, onde as portas jamais se fecham.


Mas, se a Providência faculta essa Possibilidade, não é pela vontade de Deus que o indivíduo seja subnutrido, faminto, miserável... A Vida é dádiva do Criador; a condição de vida é obra da criatura. O Homem é responsável pela existência de pessoas que morrem de fome, de crianças condenadas a um futuro problemático em face da subnutrição. Semelhantes limitações não podem ser debitadas a inamovíveis desígnios divinos - nenhum pai deseja isso para seu filho - mas à omissão de uma sociedade regida pelo egoísmo, onde cada um cuida de si e "o resto que se dane".


A compreensão de que somos todos iguais perante Deus implica na responsabilidade de oferecermos idênticas oportunidades aos Espíritos que reencarnam, não à custa de simples medidas governamentais, sempre omissas e limitadas, nem de revoluções armadas, que repetem velhos enganos e fomentam eternas ambições, perpetuando injustiças e desigualdades, mas por iniciativa da própria sociedade, daqueles que, em situação melhor, se disponham a ajudar os seus irmãos.


Imaginemos que prodígios de promoção humana, de recuperação da pobreza operaríamos com a simples mobilização das classes sociais mais bem aquinhoadas, a procurar os lares humildes para oferecer aos Espíritos que ali iniciam sua romagem terrena condições para um desenvolvimento físico e mental sadio !


Aos que supõem que semelhante esforço é mera utopia, recordamos que Jesus não foi um visionário empolgado por sonhos irrealizáveis. Ao empenhar seu apostolado no esforço em favor dos humildes, deixou bem claro que verdadeira utopia é pretender que o Reino de Deus se estabeleça no Mundo por decreto divino, sem adesão da criatura humana aos princípios de solidariedade e fraternidade que o fundamentam.


2 - MOBILIZAÇÃO


"Há pessoas que, por culpa sua caem na miséria. Nenhuma responsabilidade caberá disso à sociedade?"

"Mas, certamente. Já dissemos que a sociedade é muitas vezes a principal culpada de semelhante coisa. Demais, não tem ela que velar pela educação moral dos seus membros? Quase sempre, é a má educação que lhes falseia o critério, ao invés de sufocar-lhes as tendências perniciosas." Questão n° 813 (Da Lei de Igualdade)


A idéia do determinismo, o "malktub" (estava escrito), da filosofia oriental, está profundamente arraigada no espírito religioso. Não são poucos os profitentes a conceberem que Deus sabe o que faz, e se há miséria, infelicidade e sofrimento no Mundo, é porque deve ser assim.


Os espíritas nem sempre fazem melhor. O princípio da Reencarnação inspira a muitos companheiros a impressão de que, se estamos todos resgatando dívidas cármicas e se cada indivíduo se movimenta em faixa evolutiva própria, com suas tendências e necessidades, não será lícito pretender grandes mudanças, o que, hipoteticamente, somente ocorrerá quando a Terra for promovida na sociedade dos, mundos, deixando a condição de planeta de expiação e provas.


Isto equivale a dizer que os males do Mundo são obra de Deus, o que está fundamentalmente errado. Eles são produzidos pelo Homem, que, com suas ambições, sua incúria, seus preconceitos, gera os desníveis sociais, as crises econômicas, as guerras destruidoras, a crônica infelicidade.


Quando Jesus proclama que não cai uma folha da árvore sem que seja pela vontade de Deus, isto não significa que Deus derrube as folhas. O Criador sustenta a vida, que se perpetua no transformismo incessante da Natureza, segundo as leis por Ele instituídas.


Da mesma forma, Deus não gera os males humanos, mas permite que aconteçam para que o Homem aprenda, com a força ele suas experiências, o que é melhor para ele, no incessante transformismo da moral em evolução, igualmente orientada por leis divinas.


Imperioso, portanto, superar a atitude contemplativa ou de indiferença que marca o comportamento humano. É preciso mobilizar os homens pela palavra e pelo exemplo, demonstrando ser indispensável estabelecer dos de solidariedade entre os componentes da sociedade, a fim de que possamos, efetivamente, superar as misérias da Terra.


Não se trata, simplesmente, de beneficiar o semelhante, mas, essencialmente, a nós mesmos com esse empenho. Se moramos no campo e observamos o mato crescer em torno de nossa casa, invadindo a lavoura, podemos dizer: "O mato cresce pela vontade de Deus." No entanto, se nos acomodarmos, embalados por essa convicção, o mato continuará a crescer, sufocará a plantação, favorecerá o aparecimento de répteis e insetos nocivos. Viveremos miseravelmente, com ameaças à própria integridade física. O que diremos depois? "Foi a vontade de Deus?"


Os bolsões de miséria crescem em toda parte, como mato insidioso, gerado por injustiças sociais. Dali sai a grande maioria dos crimes, dos roubos, dos assassinatos, das prostituições, males que assolam a sociedade. Imperioso derrubar esse matagal, ajudando de forma efetiva aqueles que enfrentam problemas dessa natureza, a fim de que não sejam tentados pela tendência humana de resolvê-las na marginalidade criminosa.


Fala-se muito em mudanças nas estruturas sociais.


Há revoluções, sucedem-se os regimes e sistemas - comunismo, socialismo, parlamentarismo, fascismo, presidencialismo, monarquismo, totalitarismo, capitalismo, - enquanto se perpetuam a miséria e o infortúnio. No entanto, qualquer "ismo" funcionaria bem, resolveria os problemas sociais, se conseguíssemos eliminar um outro "ismo", presente em todos eles: o egoísmo, o culto a própria personalidade.


A vida em sociedade implica em responsabilidades, a começar pela mais elementar: trabalhar pelo bem comum, ideal inatingível enquanto considerável parcela da sociedade estiver marginalizada pela enfermidade, pela penúria, por problemas de comportamento.


Há dois mil anos o Cristo deixou na Terra os fundamentos do Reino de Deus. Outros tantos milênios poderão passar sem que seja edificado, se não desenvolvermos o espírito de serviço no campo da Fraternidade, ensaiando desprendimento e boa vontade.


Em todas as cidades há grupos de trabalho de variadas denominações religiosas, despertos para semelhante realidade, cujos membros estão tentando viver a mensagem de Jesus, participando de organizações de assistência e promoção humanas, motivados por sagrado idealismo.


Se esses poucos abnegados produzem tanto, imaginemos que prodígios seriam feitos, se houvesse uma ampla mobilização de todos os segmentos da população em condições de participar !


Um dia todos compreenderemos que a Vida vem de Deus, mas à qualidade de vida vem do Homem.


O Cristo mostra-nos o caminho, mas não pode caminhar por nós. Oferecendo-nos orientação e exemplo, o Mestre deixou bem claro que o serviço da redenção humana, de erradicação do Mal, da miséria, do infortúnio, é trabalho impostergável de todos os homens.


3 - O HOMEM E A MULHER


"São iguais perante Deus o bomem e a mulher e têm os mesmos direitos? "


"Não outorgou Deus a ambos a inteligência do bem e do mal e a faculdade de progredir?" Questão n° 817 (Da Lei de Igualdade).


"Conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina. Se, porém, querem aprender alguma cousa, interroguem, em casa, a seus próprios maridos, porque para a mulher é vergonhoso falar nas igrejas."


Estas preconceituosas recomendaçôes, que reduzem a mulher a mera ouvinte nas atividades religiosas, surpreendentemente foram feitas pelo apóstolo Paulo, em sua Primeira Epístola aos Coríntios (capítulo 13, versículos 34 e 35). Não obstante sua inteligência e lucidez, o grande arauto do Cristianismo não conseguiu superar as limitaçôes de seu tempo em relação a mulher, considerada então um ser inferior, mera serva do homem, que podia, dentre outras prerrogativas, dispensá-la como esposa, se não a desejasse mais, obriga-la a coabitar com concubinas ou mandá-la apedrejar se suspeitasse de sua fidelidade.


Ela era marginalizada até mesmo em razão de suas funções biológicas. A menstruação a tornava impura. O mesmo ocorria no nascimento de filhos, obrigando-a a severas disciplinas e a indispensáveis rituais de purificação.


Nem mesmo a gloriosa mensagem do Cristo, combatendo todos os preconceitos, foi suficiente para libertar a mulher de discriminações que perduraram até o início deste século.


Em 1857, quando foi lançado "O Livro dos Espíritos", era inconcebível qualquer pretensão de igualdade entre os sexos. Estavam por ser articulados os movimentos feministas que garantiriam a mulher o direito de votar, de exercer profissão liberal, de gerir seus próprios negócios, de exercitar o livre-arbítrio. Nesta como em muitas outras questões, a Doutrina Espírita situava-se numa vanguarda de idéias renovadoras em favor de uma sociedade mais justa.


Nem poderia ser diferente, partindo do princípio doutrinário segundo o qual o Espírito não tem sexo. Tanto pode encarnar em corpo masculino ou feminino. Iguais quanto à origem e destinação, inteligentes e perfectíveis, o homem e a mulher devem exercitar direitos idênticos.


Estão distantes os tempos em que "filósofos" discutiam se a mulher tem alma e somente em sociedades primitivas pode persistir a concepção de que ela é inferior ao homem.


Contribuíram para essa desejada igualdade os imperativos da sociedade atual, em que a mulher é convocada a exercer uma atividade profissional, não simplesmente por uma necessidade de auto-afirmação, mas, sobretudo, em decorrência de um problema econômico, a fim de auxiliar na formação de renda que atenda às necessidades de subsistência da família. Raros os lares que podem dispensar tal iniciativa.


Há quem afirme que a liberação feminina, longe de representar um progresso, transformou-se em instrumento de conturbação da sociedade, favorecendo o aumento da infidelidade conjugal, o negligenciamento dos filhos e a dissolução da família.


Apesar do caráter machista que acompanha críticas dessa natureza, forçoso reconhecer que o processo de liberação da mulher não se faz de forma pacífica, gerando dificuldades no relacionamento familiar e inspirando perturbadoras iniciativas na alma feminina.


Muitos lares estão em crise porque a mulher não admite ser contestada em sua disposição de fazer o que julga conveniente, em favor de sua auto-realização, não vacilando em partir para a separação se encontra resistência no cônjuge.


Semelhantes problemas são passageiros, situando-se como tremores de superfície que acompanham modificaçôes nas profundezas, e serão superados na medida em que a Humanidade assimilar plenamente um princípio fundamental, enunciado na questão número 822-a, de "O Livro dos Espíritos", quando Kardec interroga se uma legislação perfeitamente justa deve consagrar a igualdade de direitos entre o homem e a mulher. Respondem os Mentores:


"Dos direitos, sim; das funçôes, não. Preciso é que cada um esteja no lugar que lhe compete" ...


Pretender absoluta igualdade envolvendo as funções é contrariar a própria biologia. O homem foi estruturado para o trabalho mais pesado, no esforço da subsistência familiar; a mulher é convocada às responsabilidades do lar, particularmente no cuidado dos filhos.


O progresso moral iguala ambos quanto aos direitos.


O progresso material os aproxima no desempenho de funções, na medida em que o trabalho se torna menos pesado na atividade profissional e mais prático no lar, com as conquistas da tecnologia. Ambos podem dividir parte de suas atribuições.


No entanto, é preciso reconhecer que à mulher está afeta a mais sublime nisso, o mais elevado ideal, a tarefa redentora por excelência: a preparação do ser humano para a Vida. Edificaremos um mundo melhor na medida em que a criança for convenientemente orientada. E esse serviço, por mais o neguem as feministas intransigentes, compete muito mais a mulher. Ela é a preceptora por excelência, a educadora mais eficiente. A maternidade é, talvez, a mais sacrificial e árdua de todas as missões, mas, se exercitada em plenitude é, também, a mais gloriosa de todas as realizações humanas.


Não pretendemos a reinstituição das Amélias, o retorno da mulher à condição de escrava do lar. Ela tem o direito e, mais que isso, a necessidade de desenvolver atividades na comunidade. Mas é preciso reconhecer que acima dos sucessos no campo social e profissional, está a suprema realização feminina como esposa e mãe, sustentando o lar, que é reconhecidamente a célula básica da civilização.


Evocando as funções redentoras da alma feminina, Victor Hugo tece significativas comparações entre o homem e a mulher:


"O homem é a mais elevada das criaturas. A mulher o mais sublime dos ideais. Deus fez para o homem um trono; para a mulher um altar. O trono exalta; o altar santifica.


O homem é o cérebro; a mulher o coração. O cérebro produz a luz; o coração o amor. A luz fecunda. O amor ressuscita.


O homem é um gênio; a mulher um anjo. O gênio é imensurável; o anjo indefinível. A aspiração do homem é a suprema glória; a aspiração da mulher a virtude extrema. A glória traduz grandeza; a virtude traduz divindade.


O homem tem a supremacia; a mulher a preferência. A supremacia representa a força; a preferência o direito. O homem é forte pela razão; a mulher é invencível pela lágrima. A razão convence, a lágrima comove.


O homem é capaz de todos os heroísmos; a mulher de todos os martírios. O heroísmo enobrece; o martírio sublima. O homem é o código; a mulher o evangelho. O código corrige; o evangelho aperfeiçoa. O homem é um templo; a mulher um sacrário. Ante o templo, nós nos descobrimos; ante o sacrário, ajoelhamo-nos.


O homem pensa; a mulher sonha. Pensar é ter cérebro; sonhar é ter na fronte uma auréola. O homem é um oceano; a mulher um lago. O oceano tem a pérola que o embeleza; o lago tem a poesia que o deslumbra. O homem é uma águia que voa; a mulher um rouxinol que canta. Voar é dominar os espaços; cantar é conquistar a alma. O homem tem um fanal: a consciência. A mulher tem uma estrela: a esperança. O fanal guia e a esperança salva.


Enfim, o homem está colocado onde termina a Terra. A mulher onde começa o Céu.


Richard Simonetti

APRENDENDO COM O LIVRO DOS ESPÍRITOS Q.821 - LEI DE IGUALDADE - IGUALDADE DOS DIREITOS DO HOMEM E DA MULHER

 821. As funções a que a mulher é destinada pela Natureza terão importância tão grande quanto as deferidas ao homem?


“Sim, maior até. É ela quem lhe dá as primeiras noções da vida.”




COMENTÁRIOS DE MIRAMEZ


FUNÇÕES DA MULHER



As funções da mulher são grandiosas, por vezes até maiores que as do homem, pois é ela que gera filhos na sua intimidade, alimentando-os com o seu amor.


A geração de um filho, pode-se dizer que é a maravilha das maravilhas. Quem não vê Deus neste fenômeno, é cego, por não querer examinar os processos da vida. Isso é a manifestação da própria Divindade dentre os seres encarnados, que opera nos animais, nas aves e mesmo no reino vegetal, em se observando os frutos e as flores.


A função da mulher no lar é divina, mesmo tendo expressão humana. Quando se diz que a mulher é parte fraca, é por força de expressão; diante do corpo do homem, é um complexo humano aprimorado que o futuro espera para grandes realizações. Não se quer aqui desprezar o seu companheiro, que ocupa na vida funções grandiosas também; cada um no seu lugar, onde Deus põe as criaturas para a co-realização de muitas coisas, buscando sua própria paz. Se Deus fez o homem e a mulher, qual de nós poderemos menosprezar a vontade do Criador? A razão do Espírito tem pouco alcance no que tange à verdade. Somente Deus sabe de tudo; sendo onisciente e onipresente, gera a vida sem erro.


Os seres humanos têm olhos e não vêem; têm ouvidos e não ouvem; são dotados de muitos sentidos, mas dormem pela ignorância, por isso não se interessam pela verdade. Os que sabem mais um pouco, reconhecem com isso que nada sabem ante a presença do Criador. A humanidade se encontra caminhando para melhores dias em tudo, até e mesmo no que se refere ao aperfeiçoamento do instrumento físico, que ainda deixa muito a desejar, quando o comparamos ao de um mundo altamente evoluído; no entanto, o corpo de carne na Terra é uma bênção de Deus, instrumento divino para o aperfeiçoamento das almas.


Em João, capítulo seis, versículo quarenta e oito, se vê narrado assim:


Eu sou o pão da vida.


Mas, como encontrar esse pão da vida, para que não tenhamos mais fome? Somente a reencarnação pode nos despertar para essa procura, porque as provações despertam as criaturas para tais interesses. Jesus é o pão da vida, mas como encontrar Jesus? é pelas vidas sucessivas, pois, por elas, recordamos e fixamos na consciência o que a teoria nos ensinou no mundo espiritual. Não podemos esquecer que foi a Doutrina Espírita que mais explicou e revelou essa verdade aos homens que, conscientes dela, entendem a libertação física mais próxima do Pão da Vida, que se aproxima mais de nós, a saciar a nossa fome.


Se a mulher é que dá aos homens as primeiras noções de vida, ela merece o respeito de todos e a devida atenção para cumprir ainda melhor sua missão, que beneficiará a todos.


Nós, do plano espiritual, falando às mulheres, tornamos a dizer que elas são o ponto alto para nós, onde poderemos derramar os elevados conceitos no silêncio para os seus corações sensíveis, e que possam direcionar todos eles para a educação daqueles que as rodeiam. Que não percam a paciência, pois ninguém perde em ser dócil aos ensinamentos de Jesus. Preparem-se para os dias de amanhã, onde os próprios homens enriquecerão seus valores na condição de companheiros e irmãos na mesma jornada, e que o terceiro milênio seja abençoado por Deus pelos canais de Jesus Cristo, para que a Terra seja o paraíso prometido e esperado pelos homens de fé. No entanto, isso é conquista de todas as criaturas reunidas.


Que Deus abençoe o homem e a mulher, para que os dois se tornem um.



Filosofia Espírita  Volume XVIII - cap. 5

João Nunes Maia em parceria com Espírito Miramez


sábado, 20 de fevereiro de 2021

APRENDENDO COM O LIVRO DOS ESPÍRITOS Q.820 - LEI DE IGUALDADE - IGUALDADE DE DIREITOS DO HOMEM E MULHER ===(A vida deu à mulher menos força física, entretanto, dotou-a de sensibilidade maior, como que buscando, nas regiões espirituais, idéias e condições elevadas, como uma ponte da Terra ao Céu, para que pudesse educar seus filhos com o amor que lhe compete doar.)



 820. A debilidade física da mulher não a coloca naturalmente na dependência do homem?

— Deus deu a força a uns para proteger o fraco e não para o escravizar.

AK:Deus apropriou a organização de cada ser às funções que ele deve desempenhar. Se deu menor força física à mulher, deu-lhe ao mesmo tempo maior sensibilidade, em relação com a delicadeza das funções materiais e a debilidade dos seres confiados aos seus cuidados.


COMENTÁRIO DE MIRAMEZ:


DEPENDÊNCIA


 


Deus deu a força a uns para defenderem aos fracos, e não para maltratá-los, nem explorá-los. Quem assim o faz, responderá pelas conseqüências. Já dissemos que homem e mulher se completam para a felicidade dos dois que, unidos, percebem com mais profundidade a beleza da vida.


O casal troca energias, na sutileza da vida, que nenhuma ciência da Terra pode igualar, com a mesma eficiência. Neste caso, somente o coração pode servir de laboratório divino, na divina ascensão dos Espíritos, transformando a força de Deus em amor, no quilate que necessita para viver em plena harmonia, que se expressa em alegria superior.


Aquilo que se chama de dependência não é escravidão e, sim, situação indispensável para o complemento da aquisição do estado de felicidade da Terra. O homem, no que tange à fortaleza, não é, e não poderemos considerá-lo, como bruto ou violento; ele passa por um estado de vida temporário na arregimentação de valores para o equilíbrio da sua vida diante dos compromissos assumidos. A vida deu à mulher menos força física, entretanto, dotou-a de sensibilidade maior, como que buscando, nas regiões espirituais, idéias e condições elevadas, como uma ponte da Terra ao Céu, para que pudesse educar seus filhos com o amor que lhe compete doar.


Mas, como se encontram no mundo, o homem tem a razão mais apurada para as devidas atividades de que necessita um lar; o homem tem a razão e a mulher, intuição. A mulher que, geralmente, é dada à renúncia em favor dos filhos e do lar em paz, ganha muito em Espírito. Aparentemente, mostra pobreza de Espírito, como se diz no mundo, no entanto, vejamos o que Jesus fala neste sentido, conforme anotado por Mateus, no capítulo cinco, versículo três:


Bem-aventurado os humildes de Espírito, porque deles é o reino dos céus.


Vejamos, também, na carta de Tiago, no capítulo um, versículo doze:


Bem-aventurado o homem que suporta com perseverança a provação; porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam.


O dever do homem é suportar todas as adversidades do mundo, vencendo-as, para receber a coroa da vida no mundo espiritual. E os dois juntos novamente, no mundo dos Espíritos, serão abençoados para novas etapas, buscando vencer as provas que eliminam os resíduos da velha consciência.


Não existe dependência, em se referindo ao aspecto negativo, quando o indicado para ser dependente ama e serve em nome de Jesus. Deus nos coloca em lugares apropriados para o devido despertamento dos valores imortais da vida. Quem abusar das oportunidades, responde pelas distorções que praticar, seja homem ou mulher.


Mas, Jesus, pela Doutrina dos Espíritos, veio por misericórdia ensinar às criaturas como proceder ante a sociedade e Deus, limpando os caminhos que devem percorrer e preparar o campo aonde forem chamados para servir.


A felicidade tem começo no próprio coração, que é a sala de visita da consciência.


FONTE: FILOSOFIA ESPÍRITA -VOLUME XVII-CAP.4 
AUTORES : JOÃO NUMES MAIA EM PARCERIA COM ESPÍRITO MIRAMEZ

APRENDENDO COM O LIVRO DOS ESPÍRITOS Q.819 -LEI DE IGUALDADE - IGUALDADE DOS DIREITOS DO HOMEM E DA MULHER--("A mulher é mãe, tendo no coração o amor mais acentuado; o homem é pai, que gera nos sentimentos mais energia no que se refere à disciplina. Todavia, os pais de um lar, não devem entrar em discórdia, pois deste modo desarmonizam a casa e desajustam os filhos que receberam para educar.)

 


819. Com que fim a mulher é fisicamente mais fraca do que o homem?

— Para lhe assinalar funções particulares. O homem se destina aos trabalhos rudes, por ser mais forte; a mulher aos trabalhos suaves; e ambos a se ajudarem mutuamente nas provas de uma vida cheia de amarguras.


COMENTÁRIO DE MIRAMEZ:


FRAGILIDADE FÍSICA


 

Homem e mulher certamente que não poderiam ser iguais nas suas estruturas físicas; não haveria razão de ser, porque cada um tem funções diferentes, que se completam na união entre os dois. Enquanto a alma não despertar todas as suas qualidades espirituais, um precisa do outro, e os dois necessitam de todos os amigos na troca de valores indispensáveis à vida e, ao mesmo tempo, de olvidar o egoísmo.


Quando a criatura dominar todas as suas paixões, sentir o amor puro no coração e amar verdadeiramente, a sua dependência será somente em relação a Deus. Com os outros companheiros do seu nível tornar-se-ão um todo, sem, contudo, dar lugar nos sentimentos ao egoísmo e ao orgulho. Será aquele Espírito que já se unificou com Jesus, sentindo-se permanentemente filho de Deus.


A mulher, sendo mais fraca fisicamente, deve cuidar dos trabalhos mais leves, aquele exercício sublimado do lar, enquanto o homem tem estrutura mais grosseira para os trabalhos da sua espécie. Eis aí como um completa o outro para a paz e o bem-estar da família.


O casamento é a porta pela qual as almas começam a trabalhar e a compreender a si mesmas. Nada se pode fazer sozinho na Terra, e mesmo no céu se agrupam Espíritos com os mesmos ideais; assim não sendo, não realizarão o grande ideal de servir com mais eficiência. No entanto, esses grupos de almas têm sempre um que os dirige, em se apresentando mais livre, com mais experiências, comandando com destreza aqueles de boa vontade.


Em tudo na natureza podemos notar agrupamentos para melhor servir na função a que se foi chamado a cooperar, desde os átomos até os mundos. A libertação começa no Espírito e cresce nele de maneira que pode chegar a raias inconcebíveis aos que se movimentam na Terra envolvidos na carne.


A mulher dos dias que correm, por motivo de testemunhos a que deve se submeter, está se envolvendo nos trabalhos dos homens, e eles, por vezes, nos das mulheres, por motivos que eles mesmos desconhecem. No entanto, o tempo mostrará que essas necessidades desaparecerão com o tempo, deixando cada um em seu verdadeiro lugar. Desde quando se pode trocar de vestes, de homem ou de mulher, acabam as necessidades de um fazer o trabalho do outro, quando se tem uma sociedade justa, que assiste todos nos seus devidos lugares. Não há, imperiosamente, necessidade de a mulher ocupar o lugar do homem, ela que foi feita especialmente para o lar, em primeiro lugar, bem como de o homem ocupar-se com as obrigações da mulher, já que foi abençoado por Deus para os trabalhos mais rudes, na responsabilidade de enfrentá-los, recolhendo experiências no ramo que precisa para viver. Isto não quer dizer que, sendo o corpo da mulher mais fraco, o Espírito também o é, o mesmo ocorrendo em relação ao homem.


A mulher é mãe, tendo no coração o amor mais acentuado; o homem é pai, que gera nos sentimentos mais energia no que se refere à disciplina. Todavia, os pais de um lar, não devem entrar em discórdia, pois deste modo desarmonizam a casa e desajustam os filhos que receberam para educar.


Lembremos João, no capítulo seis, versículo quarenta e três, que assim registrou:


Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis entre vós.


O casal não deve murmurar; é de seu dever compreender um ao outro em todos os aspectos da vida, para que a vida em casa possa entrar em sintonia com o Evangelho de Jesus. Os filhos têm muita facilidade de copiar os pais, condicionando o que vêem e ouvem dos seus genitores. A responsabilidade é muito grande, ante a paternidade maior.


A vida na Terra é cheia de amargor. Os problemas e sacrifícios são sem conta. Sabemos disso por experiências, contudo, Deus não se esquece dos Seus filhos, principalmente daqueles em exercício na Terra, carregando um corpo físico. O forte e o fraco se completam para notarem que existe a felicidade depois das inúmeras tempestades.


FONTE: FILOSOFIA ESPÍRITA-VOLUME XVII-CAPÍTULO 3/ AUTORES: JOÃO NUNES MAIA EM PARCERIA COM O ESPÍRITO MIRAMEZ.

http://www.olivrodosespiritoscomentado.com/fev17q819c.html