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domingo, 10 de fevereiro de 2013

O Paraíso Perdido (1) "...Ao dizer a Adão que tirará seu sustento da terra, com o suor do seu rosto, Deus simboliza a obrigação do trabalho; porém, por que faz do trabalho uma punição? Que seria da inteligência do homem, se ele não a desenvolvesse pelo trabalho? Que seria da terra, se não fosse fecundada, transformada, amainada pelo trabalho inteligente do homem?..."


Subsídio para Estudo da questão 59 do livro dos Espíritos

O Paraíso Perdido
(1)
13. CAPÍTULO II _ 9. Ora, o Senhor Deus plantara desde o começo um jardim delicioso, no qual pôs o homem que ele formara. _ O Senhor Deus também fizera sair da terra toda espécie de árvores agradáveis à vista e cujos frutos eram agradáveis ao paladar e, no meio do paraíso, a árvore da vida, com a árvore da ciência do bem e do mal. (Ele fez sair, Jeová Eloim, da terra ("mim haadama") toda árvore agradável à vista e boa para comer-se e a árvore da vida ("vehetz hachayim") no meio do jardim e a árvore da ciência do bem e do mal).
15. O Senhor tomou, pois, o homem e o colocou no paraíso das delícias, a fim de que o cultivasse e guardasse. _ 16. Deu-lhe também esta ordem e lhe disse: Come de todas as árvores do paraíso. (Ele ordenou, Jeová Eloim, ao homem ("halhaadam") dizendo: De toda árvore do jardim podes comer). _ 17. Mas, não comas nunca o fruto da árvore da ciência do bem e do mal; portanto, logo que o comeres morrerás com toda a certeza. (E da árvore do bem e do mal "oumehetz hadaat tob vara") não comerás, pois que no dia em que dela comeres morrerás).
14. CAPÍTULO III _ 1. Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais que o Senhor Deus formara na Terra. E ela disse à mulher: Por que vos ordenou Deus que não comêsseis os frutos de todas as árvores do paraíso? (E a serpente ("nâhàsch") era mais astuta do que todos os animais terrestres que Jeová Eloim havia feito; ela disse à mulher ("el haischa"): Terá dito Eloim: Não comereis de nenhuma árvore do jardim?). 2. A mulher respondeu: Comemos dos frutos de todas as árvores que estão no paraíso. (Disse ela, a mulher, à serpente, do fruto ("miperi") das árvores do jardim podemos comer). _ 3. Mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do paraíso, Deus nos ordenou que não comêssemos dele e que não lhe tocássemos, para que não corramos o perigo de morrer. _ 4. A serpente replicou à mulher: Certamente não morrereis. _ 5. Mas, é que Deus sabe que, assim que houverdes comido desse fruto, vossos olhos se abrirão e sereis como deuses, conhecendo o bem e o mal.
6. A mulher considerou, então, que o fruto daquela árvore era bom para comer; que era belo e agradável à vista. E, tomando dele, o comeu e o deu a seu marido, que também comeu. (Ela viu, a mulher, que ela era boa, a árvore como alimento, e que era desejável a árvore para compreender ("leaskil"), e tomou de seu fruto, etc.
8. E como ouvissem a voz do Senhor Deus, que passeava à tarde pelo jardim, quando sopra um vento brando, eles se retiraram para o meio das árvores do paraíso, a fim de se ocultarem de diante da sua face. _ 9. Então o Senhor Deus chamou Adão e lhe disse: Onde estás? _ 10. Adão lhe respondeu: Ouvi a tua voz no paraíso e tive medo, porque estava nu, essa a razão por que me escondi. _ 11. O Senhor lhe retrucou: E como soubeste que estavas nu, senão por que comeste o fruto da árvore da qual eu te proibi que comesses? _ 12. Adão lhe respondeu: A mulher que me deste por companheira me apresentou o fruto dessa árvore e eu dele comi. _ 13. O Senhor Deus disse à mulher: Por que fizeste isso? Ela respondeu: A serpente me enganou e eu comi desse fruto.
14. Então, o Senhor Deus disse à serpente: Por teres feito isso, serás maldita entre todos os animais e todas as bestas da terra; rojar-te-ás sobre o ventre e comerás a terra por todos os dias de tua vida. _ 15. Porei uma inimizade entre ti e a mulher, entre a sua raça e a tua. Ela te esmagará a cabeça e tu tentarás morder-lhe o calcanhar.
16. Deus disse também à mulher: Afligir-te-ei com muitos males durante a tua gravidez: darás à luz com dor; estarás sob a dominação de teu marido e ele te dominará.
17. Disse em seguida a Adão: Por haveres escutado a voz de tua mulher e haveres comido do fruto da árvore de que te proibi que comesses, a terra te será maldita por causa do que fizeste e só com muito trabalho tirarás dela com que te alimentes, durante toda a tua vida. _ 18. Ela te produzirá espinhos e sarças e te alimentarás com a erva da terra. _ 19. E comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra donde foste tirado, porque és pó e em pó te tornarás.
20. E Adão deu à sua mulher o nome de Eva, que significa a vida, porque ela era a mãe de todos os viventes.
21. O Senhor Deus também fez para Adão e sua mulher vestiduras de peles com que os cobriu.
22. E disse: Eis aí Adão feito um de nós, sabemos o bem e o mal. Impeçamos, pois, agora, que ele deite mão à árvore da vida, que também tome o seu fruto e que, comendo desse fruto, viva eternamente. (Ele disse, Jeová Eloim: Eis aí, o homem foi como um de nós para o conhecimento do bem e do mal; agora ele pode estender a mão e tomar da árvore do bem e do mal; agora ele pode estender a mão e tomar da árvore da vida ("veata pen ischlachyado velaakch mechetz hachanyim"); comerá dela e viverá eternamente).
(1) Paraíso, do latim "paradisus", do grego "paradeisos", jardim, vergel, lugar plantado de árvores. A palavra hebraica empregada na Gênese é "hagan", que tem a mesma significação.
Em seguida a alguns versículos damos a tradução literal do texto hebraico, o que torna mais fiel a explicação do pensamento primitivo. O sentido alegórico assim é ressaltado mais claramente.
O Paraíso Perdido
23. O Senhor Deus o fez sair do jardim de delícias, a fim de que fosse trabalhar no cultivo da terra donde ele fora tirado. _ 24. E, tendo-o expulsado, colocou querubins (1) diante do jardim de delícias, os quais faziam brilhar uma espada de fogo, para guardar o caminho que conduzia à árvore da vida.
(1) Do hebreu "cherub", "keroub", boi, "charab", lavrar; anjos do segundo coro da primeira hierarquia, os quais eram representados com quatro asas, quatro faces e pés de boi.
15. Sob uma imagem pueril e por vezes ridícula, se nos detivermos na forma, a alegoria esconde freqüentemente as maiores verdades. Haverá fábula mais absurda, à primeira vista, que a de Saturno, um deus que devorava pedras, tomando-as por seus filhos? Porém, ao mesmo tempo, que encontramos de mais profundamente filosófico e verdadeiro, que essa figura, se procurarmos seu sentido moral! Saturno é a personificação do tempo; sendo todas as coisas a obra do tempo, ele é o pai de tudo o que existe; mas também, tudo se destrói com o tempo. Saturno devorando as pedras é o emblema da destruição, pelo tempo dos corpos os mais duros que são seus filhos, pois que eles se formaram com o tempo. E quem escapa a essa destruição, segundo a mesma alegoria? Júpiter, o emblema da inteligência superior, do princípio espiritual que é indestrutível. Essa imagem é mesmo tão natural, que, na linguagem moderna, sem alusão à Fábula antiga, se diz de uma coisa deteriorada, que ela foi devorada pelo tempo, derruída, devastada pelo tempo.
Toda a mitologia pagã, na realidade, não passa de um vasto quadro alegórico dos diversos lados bons e maus da humanidade. Para os que procuram seu espírito, é um curso completo da mais alta filosofia tal como sucede com nossas fábulas modernas. O absurdo seria tomar a forma pelo fundo.
16. O mesmo sucede com a Gênese, onde é preciso enxergar as grandes verdades morais sob figuras materiais, as quais, tomadas ao pé da letra, seriam tão absurdas, como em nossas fábulas, se tomássemos ao pé da letra as cenas e os diálogos atribuídos aos animais.
Adão é a personificação da humanidade; sua falta individualiza a fraqueza do homem, no qual predominam os instintos materiais aos quais não sabe resistir. (1)
A árvore, como árvore da vida, é o emblema da vida espiritual; como árvore da ciência é a da consciência que o homem adquire, do bem e do mal, mediante o desenvolvimento de sua inteligência e do livre-arbítrio em virtude do qual ele escolhe entre os dois; marca o ponto em que a alma do homem, cessando de ser guiada somente por seus instintos, toma posse de sua liberdade e incorre na responsabilidade de seus atos.
O fruto da árvore é o emblema do objetivo dos desejos materiais do homem; é a alegoria da cobiça e da concupiscência; resume sob uma mesma imagem os motivos de arrastamento ao mal; comer o fruto é sucumbir à tentação. Ele cresce no meio do jardim das delícias para mostrar que a sedução está no meio dos prazeres, e fazer lembrar que se o homem concede preponderância aos gozos materiais, prende-se à terra e afasta-se de seu destino espiritual. (2)
A morte da qual foi ameaçado, para o caso de que ele afrontasse a proibição que lhe era feita, é uma advertência para as conseqüências inevitáveis, físicas e morais, que decorrem da violação das leis divinas que Deus gravou em sua consciência. É bem evidente que aqui não se trata da morte corporal, pois, que, depois de sua falta, Adão viveu ainda por muito tempo, mas sim da morte espiritual, ou em outras palavras, da perda dos bens que resultam do progresso moral, perda cuja expulsão do jardim de delícias é a imagem.
(1) Hoje é bem reconhecido que a palavra hebraica "haadam" não é um nome próprio, e que seu significado é: "o homem em geral, a humanidade", o que destrói toda a estrutura erguida sobre a personalidade de Adão.
(2) Em nenhum texto, o fruto é indicado como "a maçã"; esta palavra só se encontra nas versões infantis. A palavra do texto hebreu é "peri", que tem os mesmos significados que em francês, sem especificação da espécie, e talvez possa ser tomado no sentido material, moral, alegórico, em sentido próprio e figurado. Entre os Israelitas, não há interpretação obrigatória; quando uma palavra tem diversas significações, cada um a compreende como quiser, desde que a interpretação não seja contrária à gramática. A palavra "peri" tem sido traduzida pelo latim "matum", que se refere à maçã e a todas as espécies de frutos. É derivado do grego "mélon", particípio do verbo "mélo", interessar, tomar cuidado, atrair.


O Paraíso Perdido
17. Hoje, a serpente muito se distancia de personificar a astúcia; ela entra nesta narrativa, em relação à sua forma, mais do que a seu caráter; é uma alusão à perfídia dos maus conselhos que deslizam como a serpente, e dos quais, por esta razão, freqüentemente não desconfiamos. Ao demais, se a serpente, por haver enganado a mulher, foi condenada a arrastar-se sobre seu ventre, isso poderia significar que antes possuía pernas, e neste caso não se trataria de uma serpente. Por que, pois, impor à credulidade singela das crianças, como verdades, alegorias tão evidentes se, falseando suas apreciações, mais tarde se faz com que considerem a Bíblia como um tecido de fábulas absurdas?
Ademais, é preciso notar que a palavra hebraica "nâhâsch" traduzida pela palavra serpente, provém da radical "nâhâsch" que significa: fazer encantamentos, adivinhar as coisas escondidas, e pode significar: encantador, adivinho. Ela é encontrada com essa significação, no Gênesis, cap. XLIV, versículos 5 e 15, a propósito da taça que José fez esconder no saco de viagem de Benjamin: "A taça que haveis roubado é aquela na qual meu Senhor bebeu, e da qual ele se serve para adivinhar (nâhâsch (1)). _ Ignorais que não há ninguém que me iguale na ciência de adivinhar? (nâhâsch)" _ No Livro dos Números, Cap. XXIII, vers. 23: "Não há encantamentos (nâhâsch) em Jacó, nem adivinhos em Israel." Por conseguinte, a palavra nâhâsch tomou também o significado de serpente, réptil do qual os encantadores se serviam em seus ritos. Não é senão na versão dos Setenta, que a palavra "nâhâsch" foi traduzida por serpente; essa versão, segundo Hutcheson, apresenta o texto hebreu corrompido em muitas passagens: foi escrita em grego no II século antes da era cristã. As inexatidões dessa versão, sem dúvida, são relativas às modificações que a língua hebraica sofreu em tal lapso de tempo; pois o hebraico do tempo de Moisés já era então língua morta, que diferia do hebraico vulgar tanto quanto o grego antigo e o árabe literário do grego e do árabe moderno. (2).
É provável, pois, que Moisés tenha entendido, por sedutor da mulher, o desejo indiscreto de conhecer as coisas escondidas, suscitado pelo Espírito de adivinhação, o que está de acordo com o sentido primitivo da palavra "nâhâsch", adivinhar; e, por outro lado, com essas palavras: "Deus sabe que depois de comerdes deste fruto, vossos olhos serão abertos, e vós sereis como deuses. _ Ela viu, a mulher, que a árvore era desejável para compreender (léaskil), e ela tomou de seu fruto. "Não se deve esquecer que Moisés queria proibir, de entre os hebreus, a arte da adivinhação, usada entre os egípcios, como o prova sua proibição de interrogar os mortos, e o Espírito de Piton ("O Céu e o Inferno", segundo o Espiritismo, cap. XII).
18. A passagem onde se diz que: "O Senhor passeava pelo paraíso, depois do meio-dia, quando se elevava um vento brando, "é uma imagem ingênua e quase pueril, que a crítica não deixou de assinalar; mas nada tem que deva causar surpresa, se nos reportarmos à idéia que os hebreus dos tempos primitivos faziam da Divindade. Para essas inteligências frustradas, incapazes de conceber abstrações, Deus deveria revestir uma forma concreta e eles a relacionavam à humanidade como ao único ponto conhecido. Moisés lhes falava como a crianças por imagens sensíveis. No caso de que se trata, era a potência soberana personificada, como os pagãos o faziam, sob figuras alegóricas, com as virtudes, os vícios e as idéias abstratas. Mais tarde, os homens despojaram a idéia da forma, tal como o menino, tornado adulto, procura o senso moral nos contos que ouviu desde o berço. Portanto, é preciso considerar essa passagem como uma alegoria da Divindade supervisando ela mesma os objetos de sua criação. O grande rabino Wogue, assim o traduziu: "Ouviram a voz do Eterno Deus, percorrendo o jardim, do lado de onde vem o dia."
19. Se a falta de Adão fosse literalmente a de haver comido um fruto, ela não poderia, por sua natureza quase pueril, justificar o rigor com que foi atingida. Não se poderia tampouco admitir que o fato fosse aquele que geralmente se supõe; a menos que Deus, considerando tal fato como um crime irremissível, houvesse condenado a sua própria obra, pois que ele havia criado o homem para a propagação da espécie. Se Adão houvesse entendido assim a proibição de tocar no fruto da árvore e com ela se houvesse conformado escrupulosamente, onde estaria a Humanidade e que teria sido feito dos desígnios do Criador?
Deus não criara Adão e Eva para que permanecessem sós na Terra; e a prova está nas palavras que lhe são dirigidas imediatamente após sua formação, ainda quando estavam no paraíso terrestre:
"Deus os abençoou e lhes disse: Crescei e multiplicai-vos, enchei a terra e dominai-a." (Cap. I, vers. 28). Pois que a multiplicação do homem era uma lei, desde o paraíso terrestre, sua expulsão não pode ter como causa o fato suposto.
O que deu crédito a essa suposição, é o sentimento de vergonha do qual Adão e Eva se sentiram tomados à vista de Deus, e que os levou a se esconderem. Porém essa mesma vergonha é uma figura de comparação: ela simboliza a confusão que todo culpado experimenta na presença daquele a quem ofendeu.
(1) Isso demonstraria que a mediunidade pelo copo d'água seria conhecida pelos egípcios? (Revue Spirite, junho de 1868, pág. 161).
(2) A palavra "nâhâsch" existia na língua egípcia, com o significado de negro, provavelmente porque os negros tinham o dom do encantamento e da adivinhação. É talvez por isso que as esfinges, de origem assíria, eram representadas com uma figura de negro.
O Paraíso Perdido
20. Qual é, pois, em definitivo, essa falta tão grande que pode atingir com a reprovação perpétua todos os descendentes daquele que a cometeu? Caim, o fratricida, não foi tratado tão severamente. Nenhum teólogo pode defini-la logicamente, pois todos, não abandonando a letra giraram num círculo vicioso.
Hoje, sabemos que tal falta não é um ato isolado, pessoal, de um indivíduo, mas encerra, sob um fato único, alegórico, o conjunto das prevaricações das quais se tornou culpada a humanidade ainda imperfeita da Terra e que se resumem nessas palavras: infração à lei de Deus. Eis porque a falta do primeiro homem, simbolizando a humanidade, é figurada por um ato de desobediência.
21. Ao dizer a Adão que tirará seu sustento da terra, com o suor do seu rosto, Deus simboliza a obrigação do trabalho; porém, por que faz do trabalho uma punição? Que seria da inteligência do homem, se ele não a desenvolvesse pelo trabalho? Que seria da terra, se não fosse fecundada, transformada, amainada pelo trabalho inteligente do homem?
Está dito: (Cap. II, vers. 5 e 7) "O Senhor Deus ainda não havia feito chover sobre a terra, e não havia ainda o homem para a trabalhar. O Senhor formou o homem com o limo da terra." Tais palavras, juntadas a estas: Enchei a terra, provam que o homem era, desde a sua origem, desti nado a ocupar toda a terra e a cultivá-la; e, por outro lado, que o paraíso não era um lugar circunscrito a um canto do globo. Se a cultura da terra devia ser uma conseqüência da falta de Adão, daí teria resultado que, se Adão não houvesse pecado, a terra teria ficado inculta, e as finalidades de Deus não se haveriam cumprido.
Por que diz ele à mulher que, devido a ela haver cometido a falta, daria à luz com dores? Como pode a dor do parto ser para ela um castigo, pois é uma conseqüência do organismo, e que tem sido provado fisiologicamente que ela é necessária? Como uma coisa que é segundo as leis da Natureza, pode ser uma punição? Isso os teólogos ainda não explicaram, e não poderão fazê-lo enquanto não saírem do ponto de vista em que se colocaram; e todavia essas palavras, que parecem ser tão contraditórias, podem ser justificadas.
22. Para iniciar, observemos que, se no momento da criação de Adão e Eva, sua alma tivesse sido tirada do nada, como alguns ensinam, deviam ser leigos em todas as coisas; não deviam saber o que é morrer. Desde que fossem os únicos sobre a Terra, enquanto viveram no paraíso terrestre, não tinham visto ninguém morrer; como, pois, teriam podido compreender em que consistia a ameaça de morte que Deus lhes fazia? Como teria Eva podido compreender que dar à luz com dor seria uma punição, pois, que, acabando de nascer para a vida, ela jamais tinha tido filhos, tanto mais que era a única mulher do mundo?
As palavras de Deus, pois, nenhum sentido deveriam ter para Adão e Eva. Apenas tirados do nada, não podiam saber, nem porque, nem como haviam saído dali; não deviam entender o Criador, nem a finalidade da proibição que lhes era feita. Sem nenhuma experiência das condições da vida, pecaram como crianças que agem sem discernimento, o que torna mais incompreensível ainda a terrível responsabilidade que Deus fez pesar sobre eles e sobre a humanidade inteira.
23. Aquilo que é um impasse para a teologia, o Espiritismo explica sem dificuldade, e de maneira racional, pela anterioridade da alma e a pluralidade das existências, lei sem a qual tudo é mistério e anomalia na vida do homem.
Com efeito, admitamos que Adão e Eva já houvessem vivido, e tudo se encontra justificado: Deus não lhes fala como a meninos, mas sim como a seres em estado de compreender,e que o compreendem, prova evidente de que têm uma aquisição anterior de conhecimento. Admitamos, ademais, que hajam vivido num mundo mais adiantado e menos material que o nosso, onde o trabalho do Espírito supria o trabalho do corpo; que por sua rebelião à lei de Deus, figurada pela desobediência, houvessem sido excluídos e exilados como punição sobre a Terra, onde o homem, por força da natureza do globo, está adstrito a um trabalho corporal; Deus teria razão em lhes dizer: "cultivareis a terra e dela tirareis vosso sustento, com o suor de vosso rosto;" e à mulher: "Dareis à luz com dor", pois esta é a condição deste mundo. (Cap. XI, ns. 31 e seguintes).
O paraíso terrestre, de que inutilmente se procuraram os traços sobre a Terra, era pois a figura do mundo feliz onde Adão havia vivido, ou antes, a raça dos Espíritos que ele personifica. A expulsão do paraíso marca o momento no qual tais Espíritos vieram encarnar-se entre os habitantes deste mundo, e a mudança de situação que daí decorreu. O anjo armado com espada flamejante, que defende a entrada do paraíso, simboliza a impossibilidade em que se encontram os Espíritos dos mundos inferiores de penetrar nos mundos superiores antes de o haver merecido, através de sua purificação. (Ver Cap. XIV, ns. 8 e seguintes).
24. Caim, (depois da morte de Abel) respondeu ao Senhor: _ Minha iniqüidade é demasiado grande para que eu possa obter perdão. Vós me expulsais hoje de cima da Terra, e eu me irei ocultar da vossa face. Irei fugitivo e vagabundo sobre a Terra, até que me encontre alguém que me mate. _ O Senhor lhe respondeu: _ Não, isto não acontecerá, pois quem quer que mate Caim, será por isso punido severamente. _ E o Senhor colocou um sinal sobre Caim, para que os que o encontrassem não o matassem.
Caim, tendo se retirado da face do Senhor, foi vagabundear sobre a Terra, e habitou a região oriental do Éden. Aí conheceu sua mulher; ela concebeu e deu à luz Enoque. Ele construiu ("vaïehi bônê", literalmente: ele estava construindo) uma cidade que denominou Henoch (Enoquia) do nome de seu filho. (Cap. IV, vers. 13 a 16).
25. Se nos prendermos à letra da Gênese, eis a que conseqüências chegamos: Adão e Eva estavam sozinhos no mundo após sua expulsão do paraíso terrestre; não foi senão depois que tiveram filhos, Caim e Abel. Ora, Caim tendo morto seu irmão e se retirado para outra região, não tornou a ver mais seu pai e sua mãe, os quais de novo ficaram sozinhos; não foi senão muito tempo depois, com a idade
de cento e trinta anos, que Adão teve um terceiro filho, chamado Seth. Depois do nascimento de Seth, viveu ainda, segundo a genealogia bíblica, oitocentos anos, e teve filhos e filhas.
Quando Caim veio se estabelecer no oriente do Éden, não havia na Terra senão três pessoas: seu pai e sua mãe, e de seu lado, ele sozinho. Entretanto, teve mulher e filho; quem poderia ser essa mulher, e onde poderia ele tê-la tomado? O texto hebreu diz: estava construindo uma cidade, e não, construiu, o que indica uma ação presente e não ulterior; porém uma cidade supõe habitantes, pois não é de se presumir que Caim a fizesse para si, sua mulher e seu filho, nem que ele a pudesse construir sozinho.
É, pois, forçoso inferir-se de tal relato, que a região era povoada; ora, não podia ser pelos descendentes de Adão, dos quais não havia outro senão Caim.
A presença de outros habitantes ressalta igualmente dessas palavras de Caim: "Serei fugitivo e vagabundo, e quem quer que me encontre me matará", e da resposta que Deus lhe deu. Por quem ele temeria ser morto, e qual seria o efeito do sinal que Deus colocou sobre ele, se não devesse encontrar ninguém? Se, pois, havia sobre a Terra outros homens além da família de Adão, é que ali já estavam antes dele; do que se conclui, com os elementos do próprio texto da Gênese, que Adão não é o primeiro, nem o único pai do gênero humano. (Cap. XI, nº 34). (1)
26. Para lançar luz sobre todas as partes da Gênese espiritual, foram necessários os conhecimentos que o Espiritismo trouxe, demonstrando as relações entre o princípio espiritual e o princípio material, a natureza da alma, sua criação no estado de simplicidade e ignorância, sua união com o corpo, sua marcha progressiva indefinida através de existências sucessivas, e através de mundos que são outros tantos degraus na via do aperfeiçoamento, seu gradual livramento da influência da matéria mediante o uso de seu livre-arbítrio, a causa de suas inclinações boas ou más, assim como de suas aptidões, o fenômeno do nascimento e da morte, o estado do Espírito na erraticidade, enfim, o futuro que é o prêmio de seus esforços para sua melhoria e de sua perseverança no bem.
Graças a esta luz, o homem sabe doravante de onde vem, para onde vai, porque está sobre a Terra e porque sofre; sabe que seu futuro está entre suas mãos, e que a duração de seu cativeiro aqui embaixo depende dele. A Gênese, tirada da alegoria estreita e mesquinha, lhe aparece grande e digna da majestade, da bondade e da justiça do Criador. Considerada sob esse ponto de vista, a Gênese confundirá a incredulidade e a vencerá.
(1) Não é nova esta concepção. La Peyrére, sábio teólogo do século XVII, em seu livro "Preadamitas", escrito em latim e publicado em 1655, tirou do texto original da Bíblia, alterado pelas traduções, a prova clara de que a Terra era povoada antes de Adão. Esta é a opinião atual de muitos eclesiásticos esclarecidos.

Livro Genese / Allan Kardec

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Os Seis Dias.


Estudo da questão 59 do Livro dos Espíritos.

Comparação entre a Genese Mosaica e a Genese Ciência descrita no Livro a Genese por Kardec logo abaixo:

Os Seis Dias

CAPÍTULO 1º _ 1. No princípio Deus criou o céu e a terra. _ 2.A terra era uniforme e toda nua; as trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. _ 3. Ora, Deus disse: Faça-se a luz e a luz se fez. _ 4. Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas. _ 5. Deu à luz o nome de dia, e às trevas chamou noite; e da tarde e da manhã se fez o primeiro dia.
6. Disse também Deus: Faça-se o firmamento no meio das águas, e haja separação entre águas e águas. _ 7. E Deus fez o firmamento; e separou as águas que estavam embaixo das que estavam em cima do firmamento. E assim foi. _ 8. E Deus deu ao firmamento o nome de céu; e foi a tarde e a manhã o dia segundo.
9. Disse ainda Deus: Que as águas que estão sob o céu se reúnam em um só lugar, e que surja o elemento árido. E assim se fez. _ 10. Deus deu ao elemento árido o nome de terra, e chamou mares as águas reunidas. E viu que era bom. _ 11. Disse ainda Deus: Que a terra produza erva verde que dê grãos, e árvores frutíferas que dêem frutos cada um segundo sua espécie, e nelas mesmas encerrem sementes para se reproduzirem sobre a terra. E assim foi feito. _ 12. A terra produziu pois ervas verdes que traziam grãos segundo sua espécie, e árvores frutíferas que encerravam suas sementes em si mesmas, cada uma segundo sua espécie. E Deus viu que era bom. _ 13. E da tarde e da manhã se fez o terceiro dia.
14. E disse Deus: Haja luminares no firmamento do céu, a fim de que separem o dia da noite; e que eles sirvam de sinais para marcar o tempo e as estações, os dias e os anos. _ 15. E sejam para luzir nos céus, e que eles clareiem a terra. E assim se fez. _ 16. Deus fez, pois, dois grandes corpos luminosos, o maior para presidir ao dia, e o menor para presidir à noite; fez também as estrelas. _ 17. E as colocou no firmamento do céu para luzir sobre a terra. _ 18. Para presidir ao dia e à noite, e para separar a luz das trevas. E Deus viu que era bom. _ 19. E da tarde e da manhã se fez o quarto dia.
20. Disse ainda Deus: Que as águas produzam animais viventes que nadem nas águas, e pássaros que voem sobre a terra, sob o firmamento do céu. _ 21. Deus criou pois, os grandes peixes, e todos os animais que têm vida e movimento, que as águas produziram cada um segundo sua espécie, e criou também todos os pássaros segundo sua espécie. E viu que isso era bom. _ 22. E os abençoou dizendo: Crescei e multiplicai-vos e enchei as águas do mar; e que os pássaros se multipliquem sobre a terra. _ 23. E da tarde e da manhã se fez o quinto dia.
24. Deus disse também: Que a terra produza animais viventes, cada um segundo sua espécie, os animais domésticos, os répteis e os animais selvagens da terra segundo suas diferentes espécies. E isso assim se fez. _ 25. Deus fez, pois, as bestas selvagens da terra segundo suas espécies, os animais domésticos e todos os répteis, cada um segundo sua espécie. E Deus viu que era bom.
26. Disse em seguida: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança, e que ele domine sobre os peixes do mar, os pássaros do céu, as bestas, a toda a terra e aos répteis que se movem sobre a terra. _ 27. Deus criou então o homem à sua imagem, e o criou à imagem de Deus, e os criou macho e fêmea. _ 28. Deus os abençoou e lhes disse: Crescei e multiplicai-vos, enchei a terra e a submetei, e dominai sobre os peixes do mar, sobre os pássaros do céu, e sobre os animais que se movem sobre a terra. _ 29. Deus disse ainda: Eu vos dei todas as ervas que trazem seus grãos sobre a terra e todas as árvores que encerram nelas mesmas sua semente cada uma segundo sua espécie, a fim de que vos servissem de alimento. _ 30. E a todos os animais da terra, a todos os pássaros do céu, a tudo quanto se move sobre a terra, e que seja vivente e animado, a fim de que tenham do que se nutrir.
E assim se fez. _ 31. Deus viu todas as coisas que havia feito; e eram muito boas. _ 32. E da manhã e da tarde se fez o sexto dia.
CAPÍTULO 2º _ 1. O céu e a terra foram assim acabados com todos os seus ornamentos. _ 2. Deus terminou no sétimo dia todas as obras que tinha feito, e repousou no sétimo dia, depois de haver terminado todas as suas obras. _ 3. Abençoou o sétimo dia, e o santificou; porque havia cessado naquele dia de produzir todas as obras que havia criado. _ 4. Tal é a origem do céu e da terra, e assim é que foram criados no dia em que o Senhor os fez, a um e a outro. _ 5. E que ele criou todas as plantas dos campos antes que tivessem saído da terra, e todas as ervas das planícies antes que elas houvessem germinado. Pois o Senhor Deus ainda não tinha feito chover sobre a terra, e não havia ainda o homem para a trabalhar. _ 6. Mas da terra se elevava uma fonte que lhe regava toda a superfície. _ 7. O Senhor Deus formou, pois, o homem do limo da terra e insuflou sobre seu rosto um sopro de vida; e o homem tornou-se vivente e provido de alma.
2. Após as explanações contidas nos capítulos anteriores, a respeito da origem e da constituição do universo conforme os dados fornecidos pela ciência, quanto à parte material, e pelo Espiritismo, quanto à parte espiritual, será de utilidade colocá-los em paralelo ao próprio texto da Gênese de Moisés, a fim de que cada um possa estabelecer uma comparação e julgar com conhecimento de causa; algumas explicações complementares serão suficientes para fazer compreender as partes que têm necessidade de esclarecimentos especiais.
3. Sobre alguns pontos há certamente uma concordância notável entre a Gênese de Moisés e a doutrina científica; porém seria um erro acreditar que seria suficiente substituir-se, aos seis dias de vinte e quatro horas da criação, seis períodos indeterminados para encontrar uma completa analogia; seria um erro não menor acreditar que, afora o sentido alegórico de algumas palavras, a Gênese e a ciência seguem uma à outra passo a passo, e não são senão a paráfrase uma da outra.
4. Para começar, observemos que, tal como já foi dito (Cap. VII, nº 14), que o número dos seis períodos geológicos é arbitrário pois que se enumeram mais de vinte e cinco formações bem caracterizadas. Este número apenas marca as grandes fases gerais; no princípio, apenas foi adotado para encaixar as coisas, o mais possível, no texto bíblico, numa época, aliás pouco distante, na qual se acreditava que se devia controlar a ciência pela Bíblia. É por isso que os autores da maior parte das teorias cosmogônicas, a fim de serem mais facilmente aceitos, esforçaram-se em se colocar de acordo com o texto sagrado. Quando a ciência passou a apoiar-se sobre o método experimental, ela sentiu-se mais forte, e emancipou-se; hoje, é a Bíblia que se afere pela ciência.
Por outro lado, a Geologia, tomando como seu ponto de partida, apenas a observação da formação dos terrenos graníticos, não compreende, no número de seus períodos, o estado primitivo da Terra. Ela não se ocupa com o Sol, a Lua e as estrelas, nem com o conjunto do Universo, que diz respeito à Astronomia. Para entrar no quadro da Gênese, convém pois acrescentar um primeiro período que abranja esta ordem de fenômenos, e que poderia ser denominado período astronômico.
Além disso, nem todos os geólogos consideram o período diluviano como formando um período distinto, e sim como um fato transitório e passageiro que não alterou de maneira sensível o estado climático do globo, nem marcou uma nova fase nas espécies vegetais e animais, eis que, com pequenas exceções, as mesmas espécies existiam, antes e depois do dilúvio. Pode-se, pois, abstrair dele, sem se afastar da verdade.
5. O quadro comparativo seguinte, no qual estão resumidos os fenômenos que caracterizam a cada um dos seis períodos, permite abarcar o conjunto, e julgar as relações e as diferenças que existem entre eles e a Gênese bíblica:

Os Seis Dias
Gênese Ciência
1º DIA _ O céu e a terra. _ A luz.
I _ PERÍODO ASTRONÔMICO. Aglomeração da matéria cósmica universal sobre um ponto do espaço em uma nebulosa que, pela condensação da matéria sobre diversos pontos, deu nascimento às estrelas, ao Sol, à Terra, à Lua e a todos os planetas. _ Estado primitivo fluídico e incandescente da Terra. _ Atmosfera imensa carregada de toda a água em estado de vapor, e de todas as matérias volatilizáveis.
II _ PERÍODO PRIMÁRIO. Endurecimento da superfície da Terra pelo seu resfriamento; formação das camadas graníticas. _ Atmosfera espessa e queimante, impenetrável aos raios do sol. _ Precipitação gradual da água e das matérias sólidas volatilizadas no ar. _ Ausência de toda vida orgânica.
III _ PERÍODO DE TRANSIÇÃO. As águas cobrem toda a superfície do globo. _ Primeiros depósitos de sedimentos formados pelas águas. _ Calor úmido. _ O sol começa a atravessar a atmosfera brumosa. _ Primeiros seres organizados da constituição a mais rudimentar. _ Líquens, musgos, fetos, licopódios, plantas erbáceas. _ Vegetação colossal. _ Primeiros animais marinhos: zoófitos, pólipos, crustáceos. _ Depósitos hulhíferos.
IV _ PERÍODO SECUNDÁRIO. Superfície da Terra pouco acidentada; águas pouco profundas e pantanosas. _ Temperatura menos abrasadora; atmosfera mais purificada. _ Depósitos consideráveis de calcáreos das águas. _ Vegetações menos colossais; novas espécies; plantas lenhosas; primeiras árvores. _ Peixes; cetáceos; animais de conchas; grandes répteis aquáticos e anfíbios.
2º DIA _ Separação das águas que estão sob o firmamento das que estão embaixo.
3º DIA _ As águas que estão sob o firmamento se ajuntam; o elemento árido aparece. _ A terra e os mares. _ As plantas.
4º DIA _ O Sol, a Lua e as estrelas.
5º DIA _ Os peixes e os pássaros.
V _ PERÍODO TERCIÁRIO. Grandes alçamentos da crosta sólida; formação dos continentes. _ Acumulação das águas nos lugares baixos; formação dos mares. _ Atmosfera purificada; temperatura atual produzida pelo calor solar. _ Animais terrestres gigantescos. _ Vegetais e animais atuais. _ Pássaros.
DILÚVIO UNIVERSAL.
VI _ PERÍODO QUATERNÁRIO OU PÓS-DILUVIANO. Terrenos de aluvião. _ Vegetais e animais atuais. _ O homem.
6º DIA _ Os animais terrestres. _ O homem.
6. O primeiro fato que ressalta do quadro comparativo acima, é que o trabalho de cada um dos seis dias não corresponde de maneira rigorosa, como muitos o crêem, a cada um dos períodos geológicos. A concordância mais notável é a da sucessão dos seres orgânicos, que com pequena aproximação é quase a mesma, e na aparição do homem em último lugar; eis aqui um fato importante.
Igualmente há coincidência, não com a ordem numérica dos períodos, mas com o fato, na passagem onde se diz que, no terceiro dia, "as águas que estão sob o céu se juntaram num só lugar, e o elemento árido apareceu". É esta a expressão do que sucedeu no período terciário, quando os alçamentos da crosta puseram a descoberto os continentes, e fizeram recuar as águas que formaram os mares. Somente então é que apareceram os animais terrestres, segundo a Geologia e segundo Moisés.
7. Quando Moisés diz que a criação foi feita em seis dias, teria ele significado dias de vinte e quatro horas, ou
teria compreendido sob esta palavra, o sentido de período, duração? A primeira hipótese é a mais provável, o que se observa pelas referências ao próprio texto; para começar, porque tal é o sentido exato da palavra hebraica "iom", traduzida por dia; depois, a especificação da tarde e da manhã, as quais limitam cada um dos seis dias, dá toda base de supor-se que ele quis falar de dias comuns. Não se pode mesmo conceber qualquer dúvida a tal respeito, quando ele diz, no versículo 5: "Ele deu à luz o nome de dia, e às trevas chamou noite; e da tarde e da manhã se fez o primeiro dia." Isto evidentemente só se pode aplicar a um dia de vinte e quatro horas, dividido pela luz e pelas trevas. O sentido é ainda mais preciso quando ele diz, no versículo 17, falando do Sol, da Lua e das estrelas: "Ele as colocou no firmamento do céu para luzir sobre a terra; para presidir ao dia e à noite, e para separar a luz das trevas. E da tarde e da manhã se fez o quarto dia."
Aliás, na criação, tudo era miraculoso, e desde que se envereda na senda dos milagres, pode-se perfeitamente acreditar que a terra foi feita em seis dias de vinte e quatro horas sobretudo quando se desconhecem as primeiras leis naturais. Esta crença tem sido bem adotada por todos os povos civilizados, até o momento em que veio a Geologia, com seus materiais à mão, demonstrar sua impossibilidade.
8. Um dos pontos que têm sido dos mais criticados na Gênese, é a criação do Sol depois da luz. Com os próprios dados da Geologia, tem sido procurada a explicação que justifique essa afirmação, dizendo que nos primeiros tempos de sua formação, a atmosfera terrestre, estando carregada de vapores densos e opacos, não permita ver o Sol, o qual, devido a isso, não existia para a Terra. Essa razão seria talvez admissível se, nessa época, houvesse habitantes para julgar da presença ou da ausência do Sol; ora, segundo o próprio Moisés, apenas havia plantas, as quais, todavia, não teriam podido crescer e multiplicar-se, sem a ação do calor do Sol.
É, pois, evidente, o anacronismo na ordem que Moisés indica para a criação do Sol; o fato persiste no sentido de que, voluntariamente ou não, ele não cometeu erro quando disse que a luz havia precedido o Sol.
O Sol não é o princípio da luz universal, mas sim, uma concentração do elemento luminoso sobre um ponto, por outro modo de dizer, do fluido que, nas circunstâncias dadas, adquire propriedades luminosas. Esse fluido, que é a causa, devia necessariamente preceder o Sol, o qual não passa de um efeito. O Sol é a causa da luz que espalha, porém é o efeito em relação à que recebeu.
Num cômodo escuro, uma vela acesa é um pequeno sol. O que se fez para acender a vela? Desenvolveu-se a propriedade iluminante do fluido luminoso, e concentrou-se tal fluido sobre um ponto; a vela é a causa da luz difundida no cômodo; mas se o princípio luminoso não existisse antes da vela, esta não poderia ter sido acesa.
O mesmo sucede com o Sol. O erro provém da idéia falsa na qual por longo tempo se mantiveram os homens, de que o Universo todo inteiro começou com a Terra e não se compreende que o Sol pudesse ter sido criado depois da luz. Atualmente é sabido que antes de nosso Sol e nossa Terra, existiram milhões de sóis e de terras, as quais por conseguinte gozavam de luz. A afirmativa de Moisés é pois, perfeitamente exata em princípio; é falsa quando faz crer que a Terra houvesse sido criada antes do Sol; a Terra, sendo sujeita ao Sol em seu movimento de translação, deve ter sido formada depois dele: é o que Moisés não podia ter sabido, pois ignorava a lei da gravitação.
O mesmo pensamento se encontra na Gênese dos antigos persas. No primeiro capítulo do Vendedad, Ormuzd, contando a origem do mundo, diz: "Criei a luz que foi iluminar o Sol, a Lua e as estrelas". (Dicionário da mitologia universal). A forma está aqui certamente mais clara e mais científica do que em Moisés e não necessita de comentário.
9. É evidente que Moisés compartilha das crenças as mais primitivas referentes à cosmogonia. Tal como os homens de seu tempo, acreditava na solidez da abóbada celeste, e em reservatórios superiores para as águas. Esse pensamento está expresso sem alegoria nem ambigüidade nesta passagem (versículos 6 e seguintes): "Deus disse: Faça-se o firmamento no meio das águas e que haja separação de águas e águas. Deus fez o firmamento, e separou as águas que estavam embaixo, das que estavam em cima do firmamento". (Ver o cap. V. Sistemas antigos e modernos do mundo, Ns. 3, 4 e 5).
Uma antiga crença fazia considerar a água como o princípio, o elemento gerador primitivo; também Moisés não fala da criação das águas, as quais parecem já existir. "As trevas cobriam o abismo." Isto é, as profundezas do espaço que a imaginação representava vagamente ocupada pelas águas, em trevas antes da criação da luz; eis porque Moisés diz: "O Espírito de Deus era levado (ou planava) por sobre as águas." A terra, sendo supostamente formada no meio das águas, era necessário isolá-la; supõe-se pois que Deus fizera o firmamento, abóbada sólida que separava as águas do alto, das que estavam sobre a Terra.
Para compreender certas partes do Gênese, necessariamente será preciso colocar-se no ponto de vista das idéias cosmogônicas do tempo da qual é o reflexo.
10. Em face aos progressos da Física e da Astronomia, uma tal teoria é insustentável.(1) Todavia, Moisés empresta tais palavras ao próprio Deus; ora, visto que elas exprimem um fato notoriamente falso, de duas coisas uma: ou Deus se enganou no relato que fez de sua obra ou tal relato não é uma revelação divina. Não sendo admissível a primeira suposição, necessariamente se deve concluir que Moisés exprimiu suas próprias idéias (Cap. I, nº 3).
11. Moisés está mais conforme à verdade, quando afirma que Deus formou o homem com o limo da Terra. (2) Com efeito, a ciência nos mostra (Cap. X), que o corpo do homem é composto de elementos hauridos na matéria inorgânica, o que de outro modo se diz, do limo da terra.
A mulher, formada de uma costela de Adão é uma alegoria, pueril na aparência, se for tomada ao pé da letra, porém profunda no sentido. Tem por finalidade mostrar que a mulher é da mesma natureza do homem, sua igual, por conseguinte, diante de Deus, e não uma criatura à parte, feita para ser usada como escrava e tratada como se fosse uma pária. Saída de sua própria carne, a imagem da igualdade é bem mais expressiva do que se ela tivesse sido formada separadamente do mesmo limo; o sentido é dizer ao homem que ela é sua igual, e não sua escrava, que ele deve amar como parte de si mesmo.
12. Para os espíritos incultos, sem noção alguma das leis gerais, incapazes de abarcar o conjunto e de conceber o infinito, essa criação milagrosa e instantânea tinha qualquer coisa de fantástico, que feria a imaginação. O quadro do Universo tirado do nada em alguns dias, por um único ato da vontade criadora, era para eles o sinal mais evidente do poder de Deus. Que pintura, com efeito, mais sublime e mais poética de tal poder, que estas palavras: "Deus disse:
Faça-se a luz, e a luz foi feita!" Deus, criando o Universo pelo desempenho lento e gradual das leis da Natureza, lhes teria parecido menor e menos poderoso; era-lhes mister algo de maravilhoso, que fugisse dos caminhos ordinários e comuns; de outro modo, teriam dito que Deus não era mais hábil que os homens. Uma teoria científica e raciocinada da criação, os teria deixado frios e indiferentes.
Não rejeitemos, pois, a Gênese bíblica; estudemo-la, ao contrário, como se estuda a história da infância dos povos. É uma época rica de alegorias, das quais é preciso procurar o sentido oculto; ela deve ser comentada e explicada com o auxílio das luzes da razão e da ciência. Fazendo, porém, ressaltar as belezas poéticas e as instruções veladas sob a forma imaginária, é preciso demonstrar firmemente seus erros, no próprio interesse da religião. Esta será mais respeitada quando tais erros não forem impostos à fé como se fossem verdades e Deus aparecerá maior e mais poderoso, quando seu nome não for misturado a fatos controversos.
(1) Embora muito grosseiro o erro de tal crença, ela ainda é incutida no cérebro das crianças, como se se tratasse de uma verdade sagrada. Só a tremer ousam os educadores aventurar-se a uma tímida interpretação. Como podem pretender que, mais tarde, essa atitude não faça incrédulos?
(2) A palavra hebraica "haadam", homem, de que se fez Adão, e a palavra "haadamá", terra, têm a mesma radical. 
A Genese
Allan Kardec

Doutrina dos Anjos Decaídos e do Paraíso Perdido (1)__"...A raça adâmica tem todos os caracteres de uma raça proscrita; os Espíritos que dela fazem parte foram exilados sobre a Terra, já povoada porém por homens primitivos, mergulhados na ignorância, e que eles têm por missão fazer progredir, trazendo-lhes as luzes de uma inteligência desenvolvida. Não será esse, com efeito, o papel que esta raça tem executado, até hoje? Sua superioridade intelectual prova que o mundo de onde saíram era mais adiantado que a Terra; porém, devendo aquele mundo entrar numa nova fase de progresso, e esses Espíritos, por via de sua obstinação, não tendo sabido se colocar à altura desse progresso, ali estariam deslocados, e teriam sido um entrave à marcha providencial das coisas; é por isso que eles foram excluídos, enquanto que outros mereceram substituí-los...."

Subsídios de Estudo para questão 59 do Livro dos Espíritos:

Doutrina dos Anjos Decaídos e do Paraíso Perdido
(1)
43. Os mundos progridem fisicamente pela elaboração da matéria, e normalmente pela purificação dos Espíritos que o habitam. A felicidade existe nele, em razão da predominância do bem sobre o mal, e a predominância do bem é o resultado do progresso moral dos Espíritos. O progresso intelectual não basta, pois que com a inteligência, eles podem fazer o mal. Logo que um mundo alcança um dos seus períodos de transformação que o deve fazer galgar a hierarquia, operam-se mutações em sua população encarnada e desencarnada; é então que se realizam as grandes emigrações e imigrações (ns. 34, 35). Aqueles que, apesar de sua inteligência e de seu saber, perseveraram no mal, em sua revolta contra Deus e suas leis, seriam a partir de então um entrave ao progresso moral ulterior, uma causa permanente de dificuldades ao repouso e felicidade dos bons; é por isso que são excluídos e enviados a mundos menos adiantados; lá eles aplicarão sua inteligência e a intuição de seus conhecimentos adquiridos, ao progresso daqueles em cujo meio são chamados a viver, ao mesmo tempo que expiarão, numa série de existências penosas e através de um duro trabalho, suas faltas passadas e seu endurecimento voluntário.
Que serão eles, no meio de tais povos, novos para eles, ainda na infância da barbárie, senão anjos ou Espíritos decaídos, enviados em expiação? A Terra da qual serão expulsos não será para eles um paraíso perdido? Ela não era, para esses degredados, um lugar de delícias, em comparação com o meio ingrato onde vão se encontrar relegados, durante milhares de séculos, até o dia em que terão merecido sua libertação? A vaga recordação intuitiva que conservarão, é para eles como uma miragem longínqua que os faz lembrar aquilo que perderam por sua falta.
44. Porém ao mesmo tempo que os maus partem do mundo que habitavam, são substituídos por Espíritos melhores, vindos talvez da erraticidade desse mesmo mundo ou de um mundo menos adiantado que deixaram por merecimento, e para os quais sua nova residência é uma recompensa. A população espiritual sendo assim renovada e purgada de seus piores elementos, no fim de algum tempo fará com que o estado moral do mundo se encontre melhorado.
Estas mudanças são algumas vezes parciais, isto é, limitadas a um povo, a uma raça; outras vezes, são gerais, quando o período de renovação chegou para o globo.
45. A raça adâmica tem todos os caracteres de uma raça proscrita; os Espíritos que dela fazem parte foram exilados sobre a Terra, já povoada porém por homens primitivos, mergulhados na ignorância, e que eles têm por missão fazer progredir, trazendo-lhes as luzes de uma inteligência desenvolvida. Não será esse, com efeito, o papel que esta raça tem executado, até hoje? Sua superioridade intelectual prova que o mundo de onde saíram era mais adiantado que a Terra; porém, devendo aquele mundo entrar numa nova fase de progresso, e esses Espíritos, por via de sua obstinação, não tendo sabido se colocar à altura desse progresso, ali estariam deslocados, e teriam sido um entrave à marcha providencial das coisas; é por isso que eles foram excluídos, enquanto que outros mereceram substituí-los.
Ao relegar essa raça sobre esta terra de labores e de sofrimentos, Deus teve razão de lhes dizer: "Tirarás teu alimento com o suor de teu rosto." Em sua mansuetude, prometeu-lhe que enviaria o Salvador, isto é, aquele que deveria clarear seu caminho pelo qual sairia deste lugar de misérias, deste inferno, e chegaria à felicidade dos eleitos. Este Salvador, ele o enviou na pessoa do Cristo, que ensinou a lei de amor e de caridade, desconhecida deles, e que devia ser a verdadeira âncora de salvação.
É igualmente com a finalidade de fazer progredir a humanidade num sentido determinado, que os Espíritos superiores, sem ter as qualidades do Cristo, se encarnam de tempos a tempos sobre a Terra, para ali realizar missões especiais que ao mesmo tempo resultam em seu progresso pessoal, se eles as executarem segundo as finalidades do Criador.
46. Sem a reencarnação, a missão do Cristo seria um contra-senso, assim como a promessa feita por Deus. Suponhamos, com efeito, que a alma de cada homem seja criada com o nascimento de seu corpo, e que ela nada faça senão aparecer e desaparecer sobre a Terra; não há nenhuma relação entre as que vieram desde Adão, até Jesus Cristo, nem entre aquelas que vieram depois; serão todas estranhas umas às outras. A promessa de um Salvador feita por Deus não poderia se aplicar aos descendentes de Adão, se suas almas não tivessem ainda sido criadas. Para que a missão do Cristo pudesse ligar-se às palavras de Deus, era preciso que tais palavras pudessem se aplicar às mesmas almas. Se essas almas forem novas, não podem ser manchadas pela falta do primeiro pai, o qual nada mais é senão o pai carnal, e não o pai espiritual; por outro modo Deus teria criado almas manchadas por uma falta que não podia recair sobre elas, pois ainda não existiam. A doutrina vulgar do pecado original implica, pois, a necessidade de uma relação entre as almas do tempo do Cristo com as do tempo de Adão, e por conseguinte, a reencarnação. Admiti que todas essas almas faziam parte da colônia de Espíritos exilados sobre a Terra no tempo de Adão, e que elas eram manchadas por vícios que as haviam excluído de um mundo melhor, e tereis a única interpretação racional do pecado original, pecado próprio de cada indivíduo, e não o resultado da responsabilidade da falta de outrem, que ele jamais terá conhecido; dizer que essas almas ou Espíritos renascem por diversas vezes sobre a Terra, na vida corporal, para progredir e se purificar; que o Cristo veio iluminar essas mesmas almas não somente por suas vidas passadas, mas também por suas vidas ulteriores, e somente assim vós dareis à sua missão uma finalidade real e séria, aceitável pela razão.
47. Um exemplo familiar, chocante por sua analogia, fará compreender melhor ainda os princípios que acabam de ser expostos:
A 24 de maio de 1861, a fragata Ifigênia chegou à Nova Caledônia trazendo uma companhia disciplinar composta de 191 homens. À sua chegada, o comandante da colônia lhes dirigiu uma ordem do dia assim concebida:
"Ao pordes os pés nesta terra longínqua, já sem dúvida compreendestes o papel que vos é reservado.
"A exemplo dos bravos soldados da marinha que servem sob vossas vistas, vós nos ajudareis a levar com brilho a bandeira da civilização, no meio das tribos selvagens da Nova Caledônia. Não é esta uma bela e nobre missão? À vós dirijo esta pergunta. Vós a preenchereis dignamente.
"Escutai a voz e os conselhos de vossos chefes. Estou à frente deles; que minhas palavras sejam bem compreendidas.
"A escolha de vosso comandante, de vossos oficiais, de vossos sub-oficiais e cabos é uma segura garantia de todos os esforços que serão tentados para fazer de vós, excelentes soldados; digo mais, para vos educar à altura de bons cidadãos e vos transformar em colonos honrados, se assim o quiserdes.
"Vossa disciplina é severa; ela assim deve ser. Colocada em nossas mãos, ela será firme e inflexível, sabei-o bem; igualmente, será justa e paternal, saberá distinguir o erro do vício e da degradação..."
Eis, pois, homens expulsos, por sua má conduta, de um país civilizado, e enviados, como castigo, a um país bárbaro.
(1) Quando, na "Revue Spirite", de janeiro de 1862, publicamos um artigo sobre a interpretação da doutrina dos anjos decaídos, não havíamos apresentado aquela teoria senão como uma hipótese, sem outra autoridade senão a de uma opinião pessoalmente controvertível, pois que, na época, nos faltavam elementos bastante completos para uma afirmação absoluta; nós a publicamos a título de ensaio, com a finalidade de provocar o exame do assunto, bem determinados a abandoná-lo ou a modificá-lo se para tal houvesse lugar. Hoje, essa teoria sofreu a prova do controle universal; não somente ela foi acolhida pela grande maioria dos Espíritos como a mais racional e a mais conforme à soberana justiça de Deus, como também ela foi confirmada pela generalidade das instruções dadas pelos Espíritos acerca do assunto. O mesmo sucedeu no que diz respeito à origem da raça adâmica.
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A Genese / Allan Kardec

Raça Adâmica."Segundo o ensino dos Espíritos, é uma dessas grandes imigrações, ou se assim o quisermos, uma dessas colônias de Espíritos, vindos de outra esfera, que deu nascimento à raça simbolizada na pessoa de Adão, a qual por essa razão é denominada raça adâmica..." , "...A doutrina que faz originar todo o gênero humano de uma só individualidade, após seis mil anos, não é admissível no estado atual dos conhecimentos. As principais considerações que a contradizem, deduzidas da ordem física e da ordem moral, se resumem nos pontos seguintes..."

Subsídios de Estudos da questão 49

Raça Adâmica

38. Segundo o ensino dos Espíritos, é uma dessas grandes imigrações, ou se assim o quisermos, uma dessas colônias de Espíritos, vindos de outra esfera, que deu nascimento à raça simbolizada na pessoa de Adão, a qual por essa razão é denominada raça adâmica. Quando ela aqui chegou, a Terra era povoada desde tempos imemoriais, como a América o era quando para ali foram os europeus.
A raça adâmica, mais adiantada que as que haviam precedido na Terra, é com efeito a mais inteligente; é ela que empurra todas as outras em direção ao progresso. A Gênese no-la mostra, desde seus primórdios, industriosa, apta às artes e às ciências, sem ter passado pela infância intelectual, o que não é próprio das raças primitivas, mas que concorda com a opinião de que ela se compunha de Espíritos que já haviam progredido. Tudo prova que ela não é antiga na Terra, e nada se opõe a que ela não tenha, aqui, senão alguns milhares de anos, o que não estaria em contradição nem com os fatos geológicos, nem com as observações antropológicas e tenderia, ao contrário, a confirmá-las.
39. A doutrina que faz originar todo o gênero humano de uma só individualidade, após seis mil anos, não é admissível no estado atual dos conhecimentos. As principais considerações que a contradizem, deduzidas da ordem física e da ordem moral, se resumem nos pontos seguintes.
Do ponto de vista fisiológico, certas raças apresentam tipos particulares característicos, que não permitem, atribuir-lhes uma origem comum. Há diferenças que não são evidentemente o efeito do clima, pois que os brancos se reproduzem no país dos negros sem se tornarem negros e reciprocamente. O ardor do sol tosta e escurece a epiderme, porém jamais transformou um branco num negro, nem lhe achatou o nariz, nem mudou a forma dos traços da fisionomia, nem tornou encarapinhados e lanosos, os cabelos compridos e sedosos. Hoje se sabe que a cor do negro provém de um tecido particular subcutâneo, distintivo dessa raça.
Por isso, é preciso considerar as raças negras, mongólicas, caucásicas, como tendo sua origem própria, tendo nascido simultaneamente ou sucessivamente em diferentes partes do globo; seus cruzamentos deram origem às raças mistas secundárias. Os caracteres fisiológicos das raças primitivas são o índice evidente de que elas provêm de tipos especiais. As mesmas considerações existem, pois, para o homem como para os animais, quanto à pluralidade das origens ou troncos. (Cap. X, nº 2 e segs.).
40. Adão e seus descendentes são representados na Gênese como homens essencialmente inteligentes, pois, que,desde sua segunda geração, constróem cidades, cultivam a terra, trabalham os metais. Seus progressos nas artes e nas ciências são rápidos e duradouros. Não se conceberia que tivessem, como descendentes, povos tão numerosos e tão atrasados, de inteligência tão rudimentar, que ainda em nossos dias ombreiam com a animalidade; que teriam perdido todos os traços e até a menor recordação tradicional daquilo que seus pais faziam. Uma diferença tão radical nas aptidões intelectuais e no desenvolvimento moral atestam, com não menos evidência, uma diferença de origem.
41. Independentemente dos fatos geológicos, a prova da existência do homem sobre a Terra antes da época fixada pela Gênese é tirada da população do globo.
Sem falar da cronologia chinesa, que remonta, segundo se diz, a trinta mil anos, documentos mais autênticos atestam que o Egito, a Índia e outros países eram povoados e florescentes, pelo menos três mil anos antes da era cristã; mil anos, portanto, depois da criação do primeiro homem, segundo a cronologia bíblica. Documentos e observações recentes não deixam nenhuma dúvida hoje sobre as correlações existentes entre a América e os antigos Egípcios; de onde é forçoso concluir que essas regiões já eram povoadas em tal época. Seria pois necessário admitir-se que em mil anos a posteridade de um só homem tivesse podido cobrir a maior parte da Terra; ora, uma tal fecundidade seria contrária a todas as leis antropológicas. (1)
42. A impossibilidade torna-se ainda mais evidente, se admitirmos com a Gênese, que o dilúvio destruiu todo o gênero humano, exceto Noé e sua família, a qual não era numerosa, no ano de 1656 do mundo, ou seja, 2344 anos antes da era cristã. Em realidade, pois, daquele patriarca é que dataria o povoamento do globo; ora, quando os hebreus se estabeleceram no Egito, 612 anos depois do dilúvio, já o Egito era um poderoso império que teria sido povoado, sem falar de outras regiões, pelo menos há seis séculos, pelos próprios descendentes de Noé _ o que não é admissível.
De passagem, observemos que os egípcios acolheram os hebreus como estrangeiros; seria de admirar que eles tivessem perdido a recordação de uma comunidade de origem tão próxima, quando conservaram religiosamente os monumentos de sua história.
Uma lógica rigorosa, corroborada pelos fatos, demonstra, pois, da maneira mais peremptória que o homem está sobre a Terra desde um tempo indeterminado, bem anterior à época indicada pelo Gênesis. Há, da mesma forma, uma diversidade de origens primitivas; pois, demonstrar a impossibilidade de uma proposição, é demonstrar a possibilidade contrária. Se a geologia descobrir traços autênticos da presença do homem antes do grande período diluviano, a demonstração será ainda mais absoluta.
(1) A exposição Universal de 1867 apresentou antigüidades do México, as quais não deixam nenhuma dúvida sobre as relações que os povos desse país tiveram com os antigos Egípcios. Leon Mechedin, numa notícia afixada no templo mexicano da Exposição, assim se exprimia: "É conveniente não publicar antes do tempo oportuno, as descobertas feitas, do ponto de vista da história dos homens, pela recente expedição científica do México; todavia, nada se opõe a que o público saiba, desde já, que a exploração feita assinalou a existência de um grande número de cidades apagadas pelo tempo, mas que a picareta e o incêndio podem tirar de sua mortalha. A escavações descobriram, por toda parte, três camadas de civilização que pareciam dar ao mundo americano uma antigüidade fabulosa."
É assim que, a cada dia, a ciência vem dar do desmentido dos fatos à doutrina que limita a 6000 anos a aparição do homem sobre a Terra, e pretende fazê-lo descender de uma única origem ou tronco.
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Cap. 3 A Raça Adâmica do Livro  A Caminho da Luz por Emmanuel
As raças adâmicas
O SISTEMA DE CAPELA
Nos mapas zodiacais, que os astrônomos terrestres compulsam em
seus estudos, observa-se desenhada uma grande estrela na Constelação
do Cocheiro, que recebeu, na Terra, o nome de Cabra ou Capela. Magnífico
sol entre os astros que nos são mais vizinhos, ela, na sua trajetória pelo
Infinito, faz-se acompanhar, igualmente, da sua família de mundos,
cantando as glórias divinas do Ilimitado. A sua luz gasta cerca de 42 anos
para chegar à face da Terra, considerando-se, desse modo, a regular
distância existente entre a Capela e o nosso planeta, já que a luz percorre
o espaço com a
34
EMMANUEL
velocidade aproximada de 300.000 quilômetros por segundo.
Quase todos os mundos que lhe são dependentes já se purificaram
física e moralmente, examinadas as condições de atraso moral da Terra,
onde o homem se reconforta com as vísceras dos seus irmãos inferiores,
como nas eras pré-históricas de sua existência, marcham uns contra os
outros ao som de hinos guerreiros, desconhecendo os mais comezinhos
princípios de fraternidade e pouco realizando em favor da extinção do
egoísmo, da vaidade, do seu infeliz orgulho.
UM MUNDO EM TRANSIÇÕES
Há muitos milênios, um dos orbes da Capela, que guarda muitas
afinidades com o globo terrestre, atingira a culminância de um dos seus
extraordinários ciclos evolutivos.
As lutas finais de um longo aperfeiçoamento estavam delineadas,
como ora acontece convosco, relativamente às transições esperadas no
século XX, neste crepúsculo de civilização.
Alguns milhões de Espíritos rebeldes lá existiam, no caminho da
evolução geral, dificultando a consolidação das penosas conquistas
daqueles povos cheios de piedade e virtudes, mas uma ação de
saneamento geral os alijaria daquela humanidade, que fizera jus à
concórdia perpétua, para a edificação dos seus elevados trabalhos
As grandes comunidades espirituais, diretoras do Cosmos,
deliberam, então, localizar
35
A CAMINHO DA LUZ
aquelas entidades, que se tornaram pertinazes no crime, aqui na Terra
longínqua, onde aprenderiam a realizar, na dor e nos trabalhos penosos do
seu ambiente, as grandes conquistas do coração e impulsionando,
simultaneamente, o progresso dos seus irmãos inferiores.
ESPÍRITOS EXILADOS NA TERRA
Foi assim que Jesus recebeu, à luz do seu reino de amor e de
justiça, aquela turba de seres sofredores e infelizes.
Com a sua palavra sábia e compassiva, exortou essas almas
desventuradas à edificação da consciência pelo cumprimento dos deveres
de solidariedade e de amor, no esforço regenerador de si mesmas.
Mostrou-lhes os campos imensos de luta que se desdobravam na Terra,
envolvendo-as no halo bendito da sua misericórdia e da sua caridade sem
limites. Abençoou-lhes as lágrimas santificadoras, fazendo-lhes sentir os
sagrados triunfos do futuro e prometendo-lhes a sua colaboração
cotidiana e a sua vinda no porvir.
Aqueles seres angustiados e aflitos, que deixavam atrás de si todo
um mundo de afetos, não obstante os seus corações empedernidos na
prática do mal, seriam degredados na face obscura do planeta terrestre;
andariam desprezados na noite dos milênios da saudade e da amargura;
reencarnariam no seio das raças ignorantes e primitivas, a lembrarem o
paraíso perdido nos firmamentos distantes. Por muitos séculos não veriam
a suave luz da Capela, mas
36
EMMANUEL
trabalhariam na Terra acariciados por Jesus e confortados na sua imensa
misericórdia.
FIXAÇÃO DOS CARACTERES RACIAIS
Com o auxílio desses Espíritos degredados, naquelas eras
remotíssimas, as falanges do Cristo operavam ainda as últimas
experiências sobre os fluidos renovadores da vida, aperfeiçoando os
caracteres biológicos das raças humanas. A Natureza ainda era, para os
trabalhadores da espiritualidade, um campo vasto de experiências
infinitas; tanto assim que, se as observações do mendelismo fossem
transferidas àqueles milênios distantes, não se encontraria nenhuma
equação definitiva nos seus estudos de biologia. A moderna genética não
poderia fixar, como hoje, as expressões dos "genes", porquanto, no
laboratório das forças invisíveis, as células ainda sofriam longos
processos de acrisolamento, imprimindo-se-lhes elementos de astralidade,
consolidando-se-lhes as expressões definitivas, com vistas às
organizações do porvir.
Se a gênese do planeta se processara com a cooperação dos
milênios, a gênese das raças humanas requeria a contribuição do tempo,
até que se abandonasse a penosa e longa tarefa da sua fixação.
ORIGEM DAS RAÇAS BRANCAS
Aquelas almas aflitas e atormentadas reencarnaram,
proporcionalmente, nas regiões mais importantes, onde se haviam
localizado as tri37
A CAMINHO DA LUZ
bos e famílias primitivas, descendentes dos "primatas", a que nos
referimos ainda há pouco. Com a sua reencarnação no mundo terreno,
estabeleciam-se fatores definitivos na história etnológica dos seres.
Um grande acontecimento se verificara no planeta
É que, com essas entidades, nasceram no orbe os ascendentes das
raças brancas.
Em sua maioria, estabeleceram-se na Ásia, de onde atravessaram o
istmo de Suez para a África, na região do Egito, encaminhando-se
igualmente para a longínqua Atlântida, de que várias regiões da América
guardam assinalados vestígios.
Não obstante as lições recebidas da palavra sábia e mansa do
Cristo, os homens brancos olvidaram os seus sagrados compromissos.
Grande percentagem daqueles Espíritos rebeldes, com muitas
exceções, só puderam voltar ao país da luz e da verdade depois de muitos
séculos de sofrimentos expiatórios; outros, porém, infelizes e retrógrados,
permanecem ainda na Terra, nos dias que correm, contrariando a regra
geral, em virtude do seu elevado passivo de débitos clamorosos.
QUATRO GRANDES POVOS
As raças adâmicas guardavam vaga lembrança da sua situação
pregressa, tecendo o hino sagrado das reminiscências.
As tradições do paraíso perdido passaram de gerações a gerações,
até que ficassem arquivadas nas páginas da Bíblia.
38
EMMANUEL
Aqueles seres decaídos e degradados, a maneira de suas vidas
passadas no mundo distante da Capela, com o transcurso dos anos
reuniram-se em quatro grandes grupos que se fixaram depois nos povos
mais antigos, obedecendo às afinidades sentimentais e lingüísticas que os
associavam na constelação do Cocheiro. Unidos, novamente, na esteira do
Tempo, formaram desse modo o grupo dos árias, a civilização do Egito, o
povo de Israel e as castas da Índia.
Dos árias descende a maioria dos povos brancos da família indoeuropéia
nessa descendência, porém, é necessário incluir os latinos, os
celtas e os gregos, além dos germanos e dos eslavos.
As quatro grandes massas de degredados formaram os pródromos
de toda a organização das civilizações futuras, introduzindo os mais largos
benefícios no seio da raça amarela e da raça negra, que já existiam.
É de grande interesse o estudo de sua movimentação no curso da
História. Através dessa análise, é possível examinarem-se os defeitos e
virtudes que trouxeram do seu paraíso longínquo, bem como os
antagonismos e idiossincrasias peculiares a cada qual.
AS PROMESSAS DO CRISTO
Tendo ouvido a palavra do Divino Mestre antes de se estabelecerem
no mundo, as raças adâmicas, nos seus grupos insulados, guardaram a
reminiscência das promessas do Cristo, que, por sua vez, as fortaleceu no
seio das mas39
A CAMINHO DA LUZ
sas, enviando-lhes periodicamente os seus missionários e mensageiros.
Eis por que as epopéias do Evangelho foram previstas e cantadas
alguns milênios antes da vinda do Sublime Emissário.
Os enviados do Infinito falaram, na China milenária, da celeste figura
do Salvador, muitos séculos antes do advento de Jesus. Os iniciados do
Egito esperavam-no com as suas profecias. Na Pérsia, idealizaram a sua
trajetória, antevendo-lhe os passos nos caminhos do porvir; na Índia
védica, era conhecida quase toda a história evangélica, que o sol dos
milênios futuros iluminaria na região escabrosa da Palestina, e o povo de
Israel, durante muitos séculos, cantou-lhe as glórias divinas, na exaltação
do amor e da resignação, da piedade e do martírio, através da palavra de
seus profetas mais eminentes.
Uma secreta intuição iluminava o espírito divinatório das massas
populares.
Todos os povos O esperavam em seu seio acolhedor; todos O
queriam, localizando em seus caminhos a sua expressão sublime e
divinizada. Todavia, apesar de surgir um dia no mundo, como Alegria de
todos os tristes e Providência de todos os infortunados, à sombra do trono
de Jessé, o Filho de Deus em todas as circunstâncias seria o Verbo de Luz
e de Amor do Princípio, cuja genealogia se confunde na poeira dos sóis
que rolam no Infinito. (*)
__________
(*) Entre as considerações acima e as do capítulo precedente, devemos ponderar o
interstício de muitos séculos. Aliás, no que e refere à historicidade das raças adâmicas,
será justo meditarmos atentamente no
40
EMMANUEL
problema da fixação dos caracteres raciais. Apresentando o meu pensamento humilde,
procurei demonstrar as largas experiências que os operários do Invisível levaram a efeito,
sobre os complexos celulares, chegando a dizer da impossibilidade de qualquer cogitação
mendelista nessa época da evolução planetária. Aos prepostos de Jesus foi necessária
grande soma de tempo, no sentido de fixar o tipo humano.
Assim, pois, referindo-nos ao degredo dos emigrantes da Capela, devemos
esclarecer que, nessa ocasião, já o primata hominis se encontrava arregimentado em
tribos numerosas. Depois de grandes experiências, foi que as migrações do Pamir se
espalharam pelo orbe, obedecendo a sagrados roteiros, delineados nas Alturas.
Quanto ao fato de se verificar a reencarnação de Espíritos tão avançados em
conhecimentos, em corpos de raças primigênias, não deve causar repugnância ao
entendimento. Lembremo-nos de que um metal puro, como o ouro, por exemplo, não se
modifica pela circunstância de se apresentar em vaso imundo, ou disforme. Toda
oportunidade de realização do bem é sagrada. Quanto ao mais, que fazer com o
trabalhador desatento que estraçalha no mal todos os instrumentos perfeitos que lhe são
confiados? Seu direito, aos aparelhos mais preciosos, sofrerá solução de continuidade. A
educação generosa e justa ordenará a localização de seus esforços em maquinaria
imperfeita, até que saiba valorizar as preciosidades em mão. A todo tempo, a máquina
deve estar de acordo com as disposições do operário, para que o dever cumprido seja
caminho aberto a direitos novos.
Entre as raças negra e amarela, bem como entre os grandes agrupamentos
primitivos da Lemúria, da Atlântida e de outras regiões que ficaram imprecisas no acervo
de conhecimentos dos povos, os exilados da Capela trabalharam proficuamente,
adquirindo a provisão de amor para suas consciências ressequidas. Como vemos, não
houve retrocesso, mas providência justa de administração, segundo os méritos de cada
qual, no terreno do trabalho e do sofrimento para a redenção. - (Nota de Emmanuel.)

I - Genese Planetária. " Do Livro A Caminho da Luz"

Subsídios para a questão 59 do Livro dos Espíritos, para estudos.

A COMUNIDADE DOS ESPÍRITOS PUROS
Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os
fenômenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de Espíritos Puros
e Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam
as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias.
Essa Comunidade de seres angélicos e perfeitos, da qual é Jesus
um dos membros divinos, ao que nos foi dado saber, apenas já se reuniu,
nas proximidades da Terra, para a solução de problemas decisivos da
organização e da direção do nosso planeta, por duas vezes no curso dos milênios
conhecidos.
A primeira, verificou-se quando o orbe terrestre se desprendia da
nebulosa solar, a fim de que se lançassem, no Tempo e no Espaço, as
balizas do nosso sistema cosmogônico e os pródromos da vida na matéria
em ignição, do planeta, e a segunda, quando se decidia a vinda do Senhor
à face da Terra, trazendo à família humana a lição imortal do seu
Evangelho de amor e redenção.

OS PRIMEIROS TEMPOS DO ORBE TERRESTRE
Que força sobre-humana pôde manter o equilíbrio da nebulosa
terrestre, destacada do núcleo central do sistema, conferindo-lhe um
conjunto de leis matemáticas, dentro das quais se iam manifestar todos os
fenômenos inteligentes e harmônicos de sua vida, por milênios de
milênios? Distando do Sol cerca de 149.600.000 quilômetros e deslocandose
no espaço com a velocidade diária de 2.500.000 quilômetros, em torno
do grande astro do dia, imaginemos a sua composição nos primeiros
tempos de existência, como planeta.
Laboratório de matérias ignescentes, o conflito das forças telúricas
e das energias físico-químicas opera as grandiosas construções do teatro
da vida, no imenso cadinho onde a temperatura se eleva, por vezes, a 2.000
graus de calor, como se a matéria colocada num forno, incandescente,
estivesse sendo submetida aos mais diversos ensaios, para examinar-se a
sua qualidade e possibilidades na edificação da nova escola dos seres. As
descargas elétricas, em proporções jamais vistas da Humanidade,
despertam estranhas comoções no grande organismo planetário, cuja
formação se processa nas oficinas do Infinito.

O DIVINO ESCULTOR
Sim, Ele havia vencido todos os pavores das energias
desencadeadas; com as suas legiões de trabalhadores divinos, lançou o
escopro da sua misericórdia sobre o bloco de matéria informe, que a
Sabedoria do Pai deslocara do Sol para as suas mãos augustas e
compassivas. Operou a escultura geológica do orbe terreno, talhando a
escola abençoada e grandiosa, na qual o seu coração haveria de expandirse
em amor, claridade e justiça. Com os seus exércitos de trabalhadores
devotados, estatuiu os regulamentos dos fenômenos físicos da Terra,
organizando-lhes o equilíbrio futuro na base dos corpos simples de
matéria, cuja unidade substancial os espectroscópios terrenos puderam
identificar por toda a parte no universo galáxico. Organizou o cenário da
vida, criando, sob as vistas de Deus, o indispensável à existência dos
seres do porvir. Fez a pressão atmosférica adequada ao homem,
antecipando-se ao seu nascimento no mundo, no curso dos milênios;
estabeleceu os grandes centros de força da ionosfera e da estratosfera,
onde se harmonizam os fenômenos elétricos da existência planetária, e edificou as
usinas de ozone a 40 e 60 quilômetros de altitude, para que filtrassem
convenientemente os raios solares, manipulando-lhes a composição
precisa à manutenção da vida organizada no orbe. Definiu todas as linhas
de progresso da humanidade futura, engendrando a harmonia de todas as
forças físicas que presidem ao ciclo das atividades planetárias.

O VERBO NA CRIAÇÃO TERRESTRE
A ciência do mundo não lhe viu as mãos augustas e sábias na
intimidade das energias que vitalizam o organismo do Globo. Substituíramlhe
a providência com a palavra "natureza", em todos os seus estudos e
análises da existência, mas o seu amor foi o Verbo da criação do princípio,
como é e será a coroa gloriosa dos seres terrestres na imortalidade semfim.
E quando serenaram os elementos do mundo nascente, quando a luz
do Sol beijava, em silêncio, a beleza melancólica dos continentes e dos
mares primitivos, Jesus reuniu nas Alturas os intérpretes divinos do seu
pensamento. Viu-se, então, descer sobre a Terra, das amplidões dos
espaços ilimitados, uma nuvem de forças cósmicas, que envolveu o
imenso laboratório planetário em repouso.
Daí a algum tempo, na crosta solidificada do planeta, como no fundo
dos oceanos, podia-se observar a existência de um elemento viscoso que
cobria toda a Terra.
Estavam dados os primeiros passos no caminho da vida organizada.
Com essa massa gelatinosa, nascia no orbe o protoplasma e, com ele, lançara Jesus à
superfície do mundo o germe sagrado dos primeiros homens.

Cap. 2  A Vida Organizada.
OS PRIMEIROS HABITANTES DA TERRA
Dizíamos que uma camada de matéria gelatinosa envolvera o orbe
terreno em seus mais íntimos contornos. Essa matéria, amorfa e viscosa,
era o celeiro sagrado das sementes da vida. O protoplasma foi o embrião
de todas as organizações do globo terrestre, e, se essa matéria, sem forma
definida, cobria a crosta solidificada do planeta, em breve a condensação
da massa dava origem ao surgimento do núcleo, iniciando-se as primeiras
manifestações dos seres vivos.
Os primeiros habitantes da Terra, no plano material, são as células
albuminóides, as amebas e todas as organizações unicelulares, isoladas e
livres, que se multiplicam prodigiosamente na temperatura tépida dos
oceanos.
Com o escoar incessante do tempo, esses seres primordiais se
movem ao longo das águas, onde encontram o oxigênio necessário ao
entre tenimento da vida, elemento que a terra firme não possuía ainda em
proporções de manter a existência animal, antes das grandes vegetações;
esses seres rudimentares somente revelam um sentido - o do tato, que deu
origem a todos os outros, em função de aperfeiçoamento dos organismos
superiores.
OS ENSAIOS ASSOMBROSOS
Nessa altura, os artistas da criação inauguram novos períodos
evolutivos, no plano das formas.
A Natureza torna-se uma grande oficina de ensaios monstruosos.
Após os répteis, surgem os animais horrendos das eras primitivas
Os trabalhadores do Cristo, como os alquimistas que estudam a
combinação das substâncias, na retorta de acuradas observações,
analisavam, igualmente, a combinação prodigiosa dos complexos
celulares, cuja formação eles próprios haviam delineado, executando, com
as suas experiências, uma justa aferição de valores, prevendo todas as
possibilidades e necessidades do porvir.
Todas as arestas foram eliminadas. Aplainaram-se dificuldades e
realizaram-se novas conquistas. A máquina celular foi aperfeiçoada, no
limite do possível, em face das leis físicas do globo. Os tipos adequados à
Terra foram consumados em todos os reinos da Natureza, eliminando-se
os frutos teratológicos e estranhos, do laboratório de suas perseverantes
experiências. A prova da intervenção das forças espirituais, nesse vasto
campo de operações, é que, enquanto o escorpião, gêmeo dos crustáceos
marinhos, conserva até hoje, de modo geral, a forma primitiva, os animais
monstruosos das épocas remotas, que lhe foram posteriores,
desapareceram para sempre da fauna terrestre, guardando os museus do
mundo as interessantes reminiscências de suas formas atormentadas.

OS ANTEPASSADOS DO HOMEM
O reino animal experimenta as mais estranhas transições no período
terciário, sob as influências do meio e em face dos imperativos da lei de
seleção.
Mas, o nosso raciocínio ansioso procura os legítimos antepassados
das criaturas humanas, nessa imensa vastidão do proscênio da evolução
anímica.
Onde está Adão com a sua queda do paraíso? Debalde nossos olhos
procuram, aflitos, essas figuras legendárias, com o propósito de localizálas
no Espaço e no Tempo. Compreendemos, afinal, que Adão e Eva
constituem uma lembrança dos Espíritos degredados ria paisagem
obscura da Terra, como Caim e Abel são dois símbolos para a
personalidade das criaturas.
Examinada, porém, a questão nos seus prismas reais, vamos
encontrar os primeiros antepassados do homem sofrendo os processos de
aperfeiçoamento da Natureza. No período terciário a que nos reportamos,
sob a orientação das esferas espirituais notavam-se algumas raças de
antropóides, no Plioceno inferior. Esses antropóides, antepassados do
homem terrestre, e os ascendentes dos símios que ainda existem no
mundo, tiveram a sua evolução em pontos convergentes, e daí os
parentescos sorológicos entre o organismo do homem moderno e o do
chimpanzé da atualidade.
Reportando-nos, todavia, aos eminentes naturalistas dos últimos
tempos, que examinaram meticulosamente os transcendentes assuntos do
evolucionismo, somos compelidos a esclarecer que não houve
propriamente uma "descida da árvore", no início da evolução humana.
As forças espirituais que dirigem os fenômenos terrestres, sob a
orientação do Cristo, estabeleceram, na época da grande maleabilidade
dos elementos materiais, uma linhagem definitiva para todas as espécies,
dentro das quais o princípio espiritual encontraria o processo de seu acrisolamento,
em marcha para a racionalidade.
Os peixes, os répteis, os mamíferos, tiveram suas linhagens fixas de
desenvolvimento e o homem não escaparia a essa regra geral .

A GRANDE TRANSIÇÃO
Os antropóides das cavernas espalharam-se, então, aos grupos, pela
superfície do globo, no curso vagaroso dos séculos, sofrendo as
influências do meio e formando os pródromos das raças futuras em seus
tipos diversificados; a realidade, porém, é que as entidades espirituais
auxiliaram o homem do sílex, imprimindo-lhe novas expressões biológicas.
Extraordinárias experiências foram realizadas pelos mensageiros do
invisível. As pesquisas recentes da Ciência sobre o tipo de Neanderthal,
reconhecendo nele uma espécie de homem bestializado, e outras
descobertas interessantes da Paleontologia, quanto ao homem fóssil, são
um atestado dos experimentos biológicos a que procederam os prepostos
de Jesus, até fixarem no "primata" os característicos aproximados do
homem futuro.
Os séculos correram o seu velário de experiências penosas sobre a
fronte dessas criaturas de braços alongados e de pelos densos, até que
um dia as hostes do invisível operaram uma definitiva transição no corpo
perispiritual preexistente, dos homens primitivos, nas regiões
siderais e em certos intervalos de suas reencarnações.
Surgem os primeiros selvagens de compleição melhorada, tendendo
à elegância dos tempos do porvir.
Uma transformação visceral verificara-se na estrutura dos
antepassados das raças humanas.
Como poderia operar-se semelhante transição? Perguntará o vosso
critério científico.
Muito naturalmente.
Também as crianças têm os defeitos da infância corrigidos pelos
pais, que as preparam em face da vida, sem que, na maioridade, elas se
lembrem disso.

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 59

 
Diz também a Bíblia que o mundo foi criado em seis dias e põe a época da sua criação há quatro mil anos, mais ou menos, antes da era cristã. Anteriormente, a Terra não existia; foi tirada do nada: o texto é formal. Eis, porém, que a ciência positiva, a inexorável ciência, prova o contrário. A história da formação do globo terráqueo está escrita em caracteres irrecusáveis no mundo fóssil, achando-se provado que os seis dias da criação indicam outros tantos períodos, cada um de, talvez, muitas centenas de milhares de anos. Isto não é um sistema, uma doutrina, uma opinião insulada; é um fato tão certo como o do movimento da Terra e que a Teologia não pode negar-se a admitir, o que demonstra evidentemente o erro em
que se está sujeito a cair tomando ao pé da letra expressões de uma linguagem freqüentemente figurada. Dever-se-á daí concluir que a Bíblia é um erro? Não; a conclusão a tirar-se é que os homens se equivocaram ao interpretá-la.
Escavando os arquivos da Terra, a Ciência descobriu em que ordem os seres vivos lhe apareceram na superfície, ordem que está de acordo com o que diz a Gênese, havendo apenas a notar-se a diferença de que essa obra, em vez de executada milagrosamente por Deus em algumas horas, se realizou, sempre pela Sua vontade, mas conformemente à lei das forças da Natureza, em alguns milhões de anos. Ficou sendo Deus, por isso, menor e menos poderoso? Perdeu em sublimidade a Sua obra, por não ter o prestígio da instantaneidade? Indubitavelmente, não. Fora mister fazer-se da Divindade bem mesquinha idéia, para se não reconhecer a sua onipotência nas leis eternas que ela estabeleceu para regerem os mundos. A ciência, longe de apoucar a obra divina, no-la mostra sob aspecto mais grandioso e mais acorde com as noções que temos do poder e da majestade de Deus, pela razão mesma de ela se haver efetuado sem derrogação das leis da Natureza.
A existência do homem antes do dilúvio geológico ainda é, com efeito, hipotética. Eis aqui, porém, alguma coisa que o é menos. Admitindo-se que o homem tenha aparecido pela primeira vez na Terra 4.000 anos antes do Cristo e que, 1650 anos mais tarde, toda a raça humana foi destruída, com exceção de uma só família, resulta que o povoamento da Terra data apenas de Noé, ou seja: de 2.350 anos antes da nossa era. Ora, quando os hebreus emigraram para o Egito, no décimo oitavo século, encontraram esse país muito povoado e já bastante adiantado em civilização. A História prova que, nessa época, as Índias e outros países também estavam florescentes, sem mesmo se ter em conta a cronologia de certos povos, que remonta a uma época muito mais afastada. Teria sido preciso, nesse caso, que do vigésimo quarto ao décimo oitavo século, isto é, que num espaço de 600 anos, não somente a posteridade de um único homem houvesse podido povoar todos os imensos países então conhecidos, suposto que os outros não o fossem, mas também que, nesse curto lapso de tempo, a espécie humana houvesse podido elevar-se da ignorância absoluta do estado primitivo ao mais alto grau de desenvolvimento intelectual, o que é contrário a todas as leis antropológicas.
A diversidade das raças corrobora, igualmente, esta opinião, O clima e os costumes produzem, é certo, modificações no caráter físico; sabe-se, porém, até onde pode ir a influência dessas causas. Entretanto, o exame fisiológico demonstra haver, entre certas raças, diferenças constitucionais mais profundas do que as que o clima é capaz de determinar. O cruzamento das raças dá origem aos tipos intermediários. Ele tende a apagar os caracteres extremos, mas não os cria; apenas produz variedades. Ora, para que tenha havido cruzamento de raças, preciso era que houvesse raças distintas. Como, porém, se explicará a existência delas, atribuindo-se-lhes uma origem comum e, sobretudo, tão pouco afastada? Como se há de admitir que, em poucos séculos, alguns descendentes de Noé se tenham transformado ao ponto de produzirem a raça etíope, por exemplo?
Tão pouco admissível é semelhante metamorfose, quanto a hipótese de uma origem comum para o lobo e o cordeiro, para o elefante e o pulgão, para o pássaro e o peixe. Ainda uma vez: nada pode prevalecer contra a evidência dos fatos. Tudo, ao invés, se explica, admitindo-se: que a existência do homem é anterior à época em que vulgarmente se pretende que ela começou; que diversas são as origens; que Adão, vivendo há seis mil anos, tenha povoado uma região ainda desabitada; que o dilúvio de Noé foi uma catástrofe parcial, confundida com o cataclismo geológico; e atentando-se, finalmente, na forma alegórica peculiar ao estilo oriental, forma que se nos depara nos livros sagrados de todos os povos. Isto faz ver quanto é prudente não lançar levianamente a pecha de falsas a doutrinas que podem, cedo ou tarde, como tantas outras, desmentir os que as combatem. As idéias religiosas, longe de perderem alguma coisa, se engrandecem, caminhando de par com a Ciência. Esse o meio único de não apresentarem lado vulnerável ao cepticismo.
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O dia certo da criação da Terra e o momento em que surgiu o homem na face da mesma escapa a qualquer inventiva que deseje oferecer os dados exatos, para a curiosidade humana. Alguns escritores modernos atiram críticas desrespeitosas ao velho livro iniciado pelo Legislador Hebreu, por este dizer que a Terra foi feita em seis dias apenas. Esquecem-se esses defensores da verdade que a própria verdade, em se visitando a humanidade, veste a capa da relatividade, para não ser um veículo de perturbação. Muitos segredos existentes na Bíblia estão em forma de parábolas ou envolvidos na letra, para oferecer conforto às variadas classes de criaturas. Encontramos esse processo de comunicação no próprio Novo Testamento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele usou as parábolas para falar à multidão. Esse modo de falar por vezes atravessa séculos e mais séculos, conduzindo a mensagem para quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir, como Ele mesmo Se refere aos ansiosos pela verdade. A própria ciência moderna nos dá uma visão da paciente mutação das coisas. Vejamos a transformação do carvão em diamante, feita pela natureza em milhões de anos. Nada é feito com violência. Observemos a petrificação de animais encontrados nas rochas, e a própria pedra que já foi água em passado de difícil demarcação.
O fanatismo em tomo da Bíblia é obra dos homens que ainda não alcançaram o bom senso, pois ele existe em todas as religiões, senão na própria ciência ou filosofia. Compete a cada um de nós um estudo sério sobre a matéria e uma meditação respeitosa sobre os assuntos ventilados no Livro Sagrado, chegando à conclusão de que o bem feito por ele em todo o mundo ultrapassa as nossas esperanças em outras fontes. O próprio Jesus a chamou de lei, dizendo: “Não vim destruir a lei, mas dar-lhe cumprimento.” E o Novo Testamento sentiu-se seguro ligado ao Velho, como criança obediente ao pai, para depois ajudá-lo no seu roteiro de novas eras. O Mestre tinha grande zelo no cumprimento das escrituras, pois foi Ele mesmo, do mundo espiritual, quem enviou Moisés e os profetas, no anúncio de todas as verdades, do modo que elas foram pregadas, para depois consolidá-las com a Sua própria presença, que o mundo recebeu como um prêmio dos Céus, para nunca mais se esquecer dessas bênçãos de Deus aos filhos da Terra.
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