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domingo, 30 de dezembro de 2012

O SINAL DE JONAS


"Como afluíssem as multidões, começou a dizer: Esta é uma geração perversa; pede um sinal, e nenhum sinal se lhe dará, senão o de Jonas. Pois assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim também o Filho do Homem o será para esta geração. A rainha do Sul se levantará no juízo, juntamente com os desta geração, e os condenará; pois veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. Os ninivitas se levantarão no juízo juntamente com esta geração, e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas e aqui está quem é maior do que Jonas. " (Lucas, xi, 29-32)

"Chegaram os fariseus e saduceus e pediram um sinal do Céu a Jesus, para o experimentar. Mas ele respondeu: A tarde dizeis: teremos bom tempo porque o céu está avermelhado; e pela manhã: hoje teremos tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Uma geração má e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal se lhe dará, senão o de Jonas. E deixando-os se retirou. " (Mateus, xvi, 1-4)

"Saíram os fariseus e começaram a discutir com ele, procurando obter dele um sinal do Céu, para o experimentarem. Ele, dando um profundo suspiro, em espírito, disse: Por que pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo que a esta geração nenhum sinal será dado. E deixando-os, tornou a embarcar e foi para o outro lado. " (Marcos, VIII, 11-13) "Eles lhe perguntaram: O que devemos fazer para praticar as obras de Deus? Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta, que creiais naquele que Ele enviou. Perguntaram-lhe, pois: Que milagres operas tu para que o vejamos e te creiamos? Que fazes tu? Nossos pais comeram o maná do deserto, como está escrito: deu-lhe a comer o pão do céu.
Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo, não foi Moisés quem vos deu o pão do Céu, mas meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do Céu; porque o pão de Deus é o que desce do Céu e dá vida ao mundo. Disseram-lhe então: Senhor, dá-nos sempre desse pão. Declarou-lhes Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim de modo nenhum terá fome; e o que crê em mim nunca, jamais, terá sede. Mas eu vos disse que vós me tendes visto e não credes. Todo o que meu Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora; porque eu desci do Céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade Daquele que me enviou. A vontade Daquele que me enviou é esta: que eu nada perca de tudo o que Ele me tem dado, mas que eu o ressuscite no último dia. Porque esta é a vontade de meu Pai, que todo o que vê o Filho do Homem e nele crê, tenha a vida eterna, e eu o ressuscite no último dia.

"Os judeus, pois, murmuravam dele porque dissera. Eu sou o pão que desci do Céu, e perguntaram: Este não é Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Como, pois, diz agora: desci do Céu? Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito nos profetas: e serão todos ensinados por Deus; todo aquele que do Pai tem ouvido e aprendido, vem a mim. Não que alguém tenha visto o Pai. Em verdade, em verdade vos digo: quem crê, tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desce do Céu, para que o homem coma dele e não morra. Eu sou o pão vivo que desci do Céu; se alguém comer deste pão viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne. Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este homem dar-nos a comer sua carne?
Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue não tendes a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o meu Pai que vive, me enviou, eu também vivo pelo meu Pai; assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim. Este é o pão que desceu do Céu; não é como o pão de vossos pais, que comeram e morreram; quem come este pão, viverá eternamente. Estas coisas disse ele quando ensinava na sinagoga de Cafarnaum.
Muitos dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: Duro é este discurso, quem o pode ouvir? Mas Jesus, sabendo por si mesmo que seus discípulos, murmuravam das suas palavras, disse-lhes: Isto vos escandaliza? Que seria se vós vísseis o Filho do Homem subir aonde estava antes? O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e vida. " (João, vi, 29-63) A estória de Jonas acha-se contida no Antigo Testamento, no livro deste profeta, constante de quatro pequenos capítulos. Resumamo-la: Depois da morte de Elizeu, os dons proféticos explodiram em Jonas, e foi ele enviado pelo Espírito chefe de Israel a Nínive, onde o povo vivia em grande dissolução, a fim de fazer que aquela gente se arrependesse e mudasse sua norma de proceder.

Nínive, capital do Império da Assíria, vivia, de fato, mergulhada, como se observa hoje em nosso país, na impiedade e na idolatria. Jonas tinha conhecimento de tudo, e desejava mesmo, segundo se depreende do seu livro, ver Nínive arrasada. O profeta não se conformou, primeiramente, com as ordens que recebera do Alto; muito aborrecido da missão de que fora revestido, saiu de sua cidade para Tarshih, comprou passagem e embarcou. Em alto-mar fez-se um grande vento e caiu uma tempestade. Todos atribuíam aquele fenômeno a uma ação superior que tinha por motivo algum dos tripulantes ou passageiros, do barco. Lançaram sortes para ver quem era o causador daquele mal e a sorte indicou Jonas. Este, arrependido de haver contrariado as ordens que recebera, disse que desejava ser lançado ao mar. A ordem foi executada e a tempestade cessou, como por encanto. Três dias depois Jonas era atirado às praias de Nínive.

Não se sabe como, mas o profeta dizia que viera no ventre de um grande peixe; quem sabe algum bote o levou à praia? Jonas rende, então, uma sentida ação de graças pelo seu salvamento, faz uma prece muito tocante, e, novamente, ouve a voz que lhe ordena entrar em Nínive, que da praia ainda distava três dias de viagem. Novamente Jonas quer recusar obediência à Voz que lhe fala, mas a Voz é imperiosa e afinal o profeta cede, percorrendo as ruas e batendo em todas as portas clamando: "Arrependei-vos e fazei penitência porque daqui a 40 dias Nínive será arrasada; cada um deixe os seus maus caminhos; quem sabe se o Senhor não nos perdoará ainda e não nos salvará da morte?" O povo, como era costume daquele tempo, cobriu-se de cinza, cingiu-se de cilícios e retrocedeu do caminho mau em que ia. Até o rei estremeceu, fez penitência e lançou um édito para que o povo deixasse os maus caminhos.

De fato, em vista da nova atitude dos ninivitas, nada aconteceu. Jonas, que havia apregoado o arrasamento da cidade, julgando ter sido vitima de um Espírito mentiroso, ficou muito triste, saiu da cidade e ficou sob uma palhoça que levantou, e clamava pedindo a morte. Nesse ínterim, nasceu uma aboboreira, da noite para o dia, com ramaria já extensa e cheia de folhas, mas um bicho ataca-a e ela morre imediatamente! A situação melancólica de Jonas se agrava porque aquela aboboreira era a sua jóia, digamos mais, o produto de seus dons mediúnicos de materialização, pois uma aboboreira em uma só noite não nasce e lança folhas a ponto de ultrapassar a altura de um homem; Jonas irrita-se, blasfema, e a voz lhe responde: "Farás bem em te apaixonares por causa da aboboreira que não trataste e na qual não trabalhaste, nem a fizeste crescer, e que nasceu numa noite, e numa noite pereceu? " "E eu não havia de ter compaixão de Nínive, na qual se acham mais de cento e vinte mil homens que não sabem discernir entre a sua mão esquerda e a mão direita, e ainda onde há muitos animais?" (Jonas, iv, 9-11)

Feita esta exposição, digam os leitores: Qual é o sinal de Jonas? Haverá alguém que afirme lembrar ou representar ele algum dogma ou sacramento do Romanismo ou do Protestantismo? Não está peremptoriamente esclarecido ser a Pregação da Fé, para mudança de vida, para regeneração, o abandono da idolatria e dos pagodes que embriagam os sentidos e afastam os homens dos seus deveres religiosos? Não representará, também, o sinal de Jonas o mesmo sinal que Jesus deu de Vida Eterna, de Ressurreição, aparecendo depois de sua morte corporal e prosseguindo em sua missão de ensinar, como Jonas, após três dias de naufrágio, apareceu aos ninivitas para levar-lhes a salvação? Estude-se bem esse capítulo e procure-se tirar uma conclusão do que Jesus afirmou: "A esta geração adúltera não se dará outro sinal senão o do profeta Jonas."

Prossigamos na elucidação dos demais versículos que precedem à pregação de Jonas, citados por Lucas. Referindo-se à rainha do Sul, que outra não era senão a Rainha de Sabá, pois foi esta que saiu dos confins da Terra para ouvir a sabedoria de Salomão, Jesus deu a entender que o Espírito dessa mulher voltaria a encarnar-se no mundo por ocasião do julgamento daquela geração que lhe pedia sinais, e, juntamente com os espíritos dos ninivitas, condenaria tal geração. Realizar-se-ia já esta profecia? Quem seria essa mulher? Quais seriam os ninivitas? Mas não entremos nessas indagações, pois que somente nos compete realçar o Espírito do Cristianismo.

O inegável é que os condenados não podem deixar de ser outros, senão os que, pelas suas idéias e normas de proceder, não estão de acordo com os ensinamentos de Jesus, os que substituíram a glória de Deus pela glória dos homens, os que amam mais a criatura do que o Criador, os que puseram outro fundamento na religião, excluindo dela Jesus Cristo. Lendo-se com atenção e analisando-se oração por oração o capítulo VI, de João, versículos 29 a 64, fica-se inteirado do pensamento íntimo do Mestre, cuja idéia mater é a "Ressurreição e a Vida Eterna", princípio, base e fim da sua inigualável Doutrina, sendo os meios de alcançar esse objetivo, a crença em Jesus e a obediência aos seus preceitos.

No versículo 39, lê-se: "A vontade Daquele que me enviou é esta: que eu nada perca de tudo o que Ele me tem dado, mas que eu o ressuscite no último dia. No versículo 40, diz: "Porque esta é a vontade de meu Pai, que todo o que vê o Filho do Homem e nele crê, tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia". No versículo 44, diz: "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou, o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia." No versículo 47, repete: "Em verdade, em verdade vos digo: Quem crê em mim, tem a vida eterna." No versículo 54: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia." No versículo 58: "Quem come este pão, viverá eternamente".
A questão da Imortalidade e da Outra Vida é base principal da Doutrina de Jesus. Os seus discípulos haviam de ter absoluta certeza da Imortalidade, porque o Mestre, como aliás aconteceu, não deixaria de dar-lhes todas as provas de que eles necessitassem para que tivessem uma fé científica comprovada pelos fatos, de que a Imortalidade, a Vida Eterna, não era um dogma que ele impunha, mas sim um testemunho de que a sua Doutrina era de Deus, era o Pão que havia de dar às almas o alimento da crença na Vida Eterna, na Imortalidade. Bastava que cressem na sua palavra e o seguissem para observarem todos os fenômenos, todos os fatos que se desdobravam com a sua presença, fatos transcendentais, metapsíquicos, independentes de fatores físicos e que poderiam ter explicação com a aceitação da "Teoria da Vida Eterna", da "Teoria da Imortalidade", lógica e claramente proclamada por Ele em todos os seus discursos, em todas as suas manifestações espirituais, e cimentada ainda com uma vida de abnegação e sacrifícios, para que a sua Palavra de Vida Eterna não perecesse sob os dogmas farisaicos que ensombravam a religião.

As suas aparições depois da morte, constatadas por todos os Evangelistas, são letras vivas, solenes reproduções desses versículos 39, 40, 44, 47, 54, 58, que transcrevemos e não podem ter outra interpretação além da que expomos com a maior clareza e concisão. Essas figuras de que Jesus usou, como por exemplo: "quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a Vida Eterna; porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue verdadeira bebida" não podem ser tomadas à letra. E isto o próprio Jesus disse a seus discípulos que acharam duro o discurso e impossível de compreender. "Isto vos escandaliza? Que seria se vós vísseis o Filho do Homem subir aonde estava antes? O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita. As palavras que eu vos tenho dito são Espírito e vida. (João vi, 62-63)

Quem não vê nessas palavras do Filho de Deus a Doutrina pela qual Ele derramou seu próprio sangue? Quem não vê que essa carne e esse sangue não são mais do que símbolos do Verbo de Deus, que se fez carne e habitou entre nós! Quem não vê que o Corpo, representado por carne e sangue, de que Jesus falou, constitui o Corpo, o conjunto da sua Doutrina, dos seus ensinos, finalmente - o Cristianismo! Então o Critianismo não é o Corpo do Cristo? O Cristo não é o Espírito do Cristianismo? E o Verbo não é a Palavra de Deus que o Espírito de Cristo assimilou e, para que fosse compreendida na Terra, constituiu um Corpo de Doutrina, verdadeira, imaculada, inatacável pela sua pureza e pela verdade que encerra? Responda quem for capaz, mas responda com fatos, com critério, com lógica, com a razão, com o bom senso.

O que quer dizer aquela expressão do Mestre: "O espírito é que vivifica; as palavras que eu vos tenho dito são Espírito e Vida"? É consentâneo com a razão fazer dessas palavras de Jesus preceitos dogmáticos e fórmulas sacramentais, desvirtuando o pensamento do Senhor e materializando, ao mesmo tempo, "o que é Espírito", a ponto de transformá-lo numa obreia de trigo, como fazem os padres romanos, ou num pedaço de pão como fazem os pastores protestantes? E que regras gramaticais usam esses exegetas para assim analisar o Evangelho, submetendo-o a injunções arbitrárias, estreitando-o à sua teologia infantil!

Uma coisa é ver o Evangelho na sua pureza "pagã", outra é observá-lo com as "águas lustrais dos batismos sacerdotais"! O Evangelho não precisa ser "sacramentado" para viver no coração da Humanidade; por si só ele se impõe, independente de influências científicas e doutorais. Se os "filólogos" quisessem prestar-lhe um serviço, ele aceitaria antes o obséquio de serem obedecidos os seus ditames de Imortalidade e Vida Eterna, os seus parágrafos de caridade, humildade, benevolência, tolerância e amor ao próximo, porque fora desses preceitos não há salvação. Outra expressão digna de nota, nas referidas sentenças de Jesus, é a que o Mestre repete com singular insistência "Eu o ressuscitarei no último dia."
Essa promessa feita em todos esses versículos, a todos os que Nele crerem, deve ter uma significação formal de realização categórica.
O estudante do Evangelho não pode pôr à margem essas palavras, que representam a realização de um fato que tem como começo a necessidade da crença nas palavras de quem as pronunciou. O último dia da vida terrena é o dia da morte, logo, a ressurreição no último dia não pode deixar de significar o reaparecimento daquele que morreu e sua consequente posse da Vida Eterna. O texto da Vulgata diz claramente Ego resuscitabo e um "in novíssimo die", do verbo resuscitare, que quer dizer: fazer voltar à vida, tornar a aparecer, restabelecer, fazer reviver.

Não foi outro o sentido que os Evangelistas deram a essas palavras. A expressão ressurreição está intimamente ligada às aparições de Jesus, como se depara muito bem no capítulo XX de João, versículo 9: "porque não compreendiam a Escritura, que era necessário ressuscitar Ele dentre os mortos." A palavra ressurreição não tem mesmo outra significação evangélica, que voltar à vida, tornar a aparecer, restabelecer-se, reviver. Indo as santas mulheres ao sepulcro, diz Lucas, XXIV, 5, ficaram perplexas por não terem encontrado o corpo de Jesus e por aparecerem dois varões com vestes resplandecentes, que lhes disseram: "Por que buscais entre os mortos ao que vive? Ele não está aqui, mas RESSUSCITOU - sed surrexit".

Em Marcos, capítulo XVI, 8-11, diz-se: "Surgens autem mane, prima sabbati, aparuit primo Mariae Magdalenae, de qua ejecerat septem daemonia. "- "Havendo Ele ressuscitado de manhã cedo, no primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual havia expelido sete demônios." E acrescenta: "Ela foi noticiá-lo aos que haviam andado com Ele, os quais estavam em lamento e choro; estes, ouvindo dizer que Jesus estava vivo e que tinha sido visto por ela, não acreditaram."
O trecho de Mateus não é menos categórico e claro. É assim que diz o Evangelista no capítulo XXVIII, 5: "O anjo disse às mulheres: Não temais vós, porque sei que procurais a Jesus, que foi crucificado; Ele não está aqui; porque ressuscitou, como disse; vinde e vede o lugar onde jazia. Ide depressa dizer aos seus discípulos que Ele ressuscitou dos mortos e vai adiante de vós para a Galiléia, e lá o vereis."

- "Et cito euntes, dicite discipulis, ejus quia surrexit et ecce proecedit vos in Galilaeam, ibi eum videbitis, ecce praedixi vobis." Paulo na I Epístola aos Coríntios, capítulo XV, é bem explícito sobre a ressurreição de Cristo e a ressurreição dos mortos, e diz claramente, para quem tiver olhos de ver, que o Evangelho por ele anunciado, Evangelho da salvação que ele recebeu e anunciou, é justamente este: "Que Cristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que foi ressuscitado ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e que apareceu a Cefas e então aos doze; depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, depois apareceu a Tiago, então a todos os apóstolos; e por último de todos, apareceu a mim também como a um abortivo."

Depois diz ele: "Se se prega que Cristo é ressuscitado dentre os mortos, como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? Se não há ressurreição de mortos, nem Cristo é ressuscitado, é logo vã a nossa pregação e também a nossa fé." Tão importante julga Paulo a ressurreição dos mortos, a aparição dos mortos, que chega a dizer que não se crendo nela, é vã a pregação e a fé; não tem efeito, não tem valor nenhum a fé, nem a pregação. E em todo o resto desse capítulo o Apóstolo não faz outra coisa senão demonstrar a veracidade da ressurreição, ou seja da aparição dos mortos, explicando até com que CORPOS eles aparecem, ressuscitam e vivem.
Diz que o homem não traz só a imagem do corpo terreno, mas também a imagem do corpo celestial (versículos 48-49); e é com este que aparece, que ressuscita, que revive. Conclui-se, de tudo isso, que o sinal de Jonas é a pregação do Evangelho no espírito que vivifica, e não na letra que mata. Conclui-se mais, que a Ressurreição, a Aparição, ou antes, as Aparições de Jesus, também são sinal de Jonas. Pois, assim como Jonas apareceu em Nínive depois do naufrágio, Jesus também apareceu aos discípulos e a muita gente, depois da morte. Conclui-se ainda mais que crer em Jesus não é só proferir a palavra - creio. É acompanhá-lo, segui-lo no seu Evangelho, estudar e meditar os seus ensinos.

Paulo seguia a Jesus em espírito, pois no seu tempo Jesus já se havia passado para a Vida Eterna. Entretanto não há quem conteste que a Doutrina de Paulo é a inspiração de Jesus, que não abandonava a Paulo, porque Paulo o seguia. E tão firme estava o Apóstolo da luz na sua fé de que Jesus o assistia, que afirmava peremptoriamente: "Já não sou mais eu quem vive, mas Jesus que vive em mim e faz todas as obras." Conclui-se, finalmente, que o Espiritismo é o Espírito do Cristianismo, Espírito esse encarregado por Jesus para vivificar a sua Doutrina, dar-lhe ampla expansão, explicá-la e até trazer-lhe o complemento indispensável, de acordo com o progresso dos povos, segundo disse o próprio Jesus:

"Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Paracleto (Consolador, Advogado, Defensor), a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber porque não o vê nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós " (João, xiv, 15-17). Notem bem a expressão "habita convosco e estará em vós"- quiad apud vos manebit, et in vobs erit.
O Espiritismo não é, como pensam alguns, uma coleção de livros que ornamentam as bibliotecas e circulam pelo mundo. Muito mais do que isso, é o IDEAL grandioso que paira sobre nós como um corpo flutuante dos Sagrados Ensinos, sustentados pelos mais poderosos sábios e santos Espíritos de Deus. Fica, pois, prevalecendo o Sinal de Jonas, como o único milagre capaz de converter a Humanidade e estabelecer no mundo a Paz e a Fraternidade.
Cairbar Schutel
Livro: O Espírito do Cristianismo

A SIMPLICIDADE DE ESPÍRITO:"Jesus, abençoando as crianças e acariciando-as, mostrou que mais vale ser ignorante e simples, do que presumir de sábio sem simplicidade..."


"Traziam-lhe também as crianças para que as tocasse; e os discípulos, vendo isto, repreendiam aos que as traziam. Mas Jesus, chamando-as para junto de si, disse: Deixai vir os meninos, e não os impeçais; pois dos tais é o Reino de Deus. Em verdade vos digo: Aquele que não receber o Reino de Deus como um menino, de maneira alguma entrará nele." (Lucas, XVIII, 15-17)

"Então lhe traziam alguns meninos para que os tocasse; e os discípulos repreenderam aos que os trouxeram. Mas Jesus, vendo isto, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir a mim os meninos, não os impeçais; porque dos tais é o Reino de Deus. Em verdade vos digo: Aquele que não receber o Reino de Deus como um menino, de modo algum entrará nele. E abraçando os meninos, os abençoava, pondo as mãos sobre eles." (Marcos, X, 13-16)

Deus criou os Espíritos simples e ignorantes e lhes concedeu os meios de progresso e perfeição. É preciso que haja ignorância para que haja aperfeiçoamento, de cujo trabalho vem o mérito de cada um; e o aperfeiçoamento não se faz sem simplicidade. Os Espíritos simples são por isso bem-aventurados.

As bem-aventuranças são as remunerações da simplicidade. Os vaidosos, os arrogantes, não podem ter simplicidade, sendo por isso condenados por suas idéias preconcebidas.

Jesus usou as crianças como símbolo, ou antes, como personificação da simplicidade; elas são, quando em sua inocência,
a representação da simplicidade de espírito. Sabem que não sabem, e se esforçam para saber, perguntando, inquirindo aqui e ali. Não têm opinião preconcebida, nem se arrogam títulos de mestres e doutores; costumam respeitar as convicções, e, quando estas lhes parecem disparatadas, indagam os motivos e procuram tirar deduções, as que lhes pareçam justas.

A simplicidade de espírito é uma das grandes prerrogativas, indispensável à aquisição do Reino de Deus. Por que os escribas, os fariseus, os doutores da Lei, os religiosos de então repeliram a Doutrina de Jesus, chegando a ponto de pedir a morte do Filho de Deus?
Porque, sem nenhuma simplicidade de espírito, vaidosos dos seus conhecimentos, orgulhosos do seu saber, não percebiam a ignorância em que se achavam das coisas divinas e se julgavam possuidores de toda a verdade.

Jesus, abençoando as crianças e acariciando-as, mostrou que mais vale ser ignorante e simples, do que presumir de sábio sem simplicidade.
E assim como um "odre velho" não pode suportar um "vinho novo", por estar impregnado do velho licor, também é preciso que o homem se torne simples, isto é, ponha de lado as crenças avoengas que recebeu por herança, para analisar, sem preconceito, o Cristianismo que a ninguém veio impor os seus preceitos, mas apresentar-se a todos como a única Doutrina capaz de nos dar a perfeição, se a estudarmos e a compreendermos em espírito e verdade.

Nas passagens acima, de Lucas e Marcos, Jesus faz também uma ligeira alusão à reencarnação, como um dos meios de nos desembaraçarmos das idéias preconcebidas desde a infância, e nos tornarmos aptos para a boa recepção da Verdade, consubstanciada nos princípios redentores do Cristianismo.

De modo que "aquele que não receber o Reino de Deus como um menino, de maneira alguma entrará nele". Aquele que não receber o Reino de Deus com simplicidade, humildade e boa vontade de se aproximar de Deus, não entrará nele.
Cairbar Schutel

Livro: O Espírito do Cristianismo

Reconcilia-te sem demora com o teu adversário


RECONCILIA-TE SEM DEMORA COM O TEU ADVERSÁRIO

Disse Jesus:
"Se estiveres fazendo tua oferta diante do altar e te lembrares de que um teu irmão tem contra ti alguma coisa, deixa ali tua oferta e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão; depois, então, volta a fazê-la.

Concerta-te sem demora com o teu adversário, enquanto estás posto a caminho com ele, para que não suceda que ele, o adversário, te entregue ao juiz e que o juiz te entregue ao ministro e sejas mandado para a cadeia. Em verdade te digo que não sairás de lá enquanto não pagares o último ceitil.'" (Mateus, 5:23-26.)

A oferta sacrifical era um ato de fé largamente praticado pelos judeus, através do qual buscavam alcançar a remissão de seus pecados.
Julgavam suficiente o sacrifício de inocentes ovelhas, cabras ou novilhos, para obter esse favor, ignorando fosse preciso, a seu turno, agir com bondade em relação ao próximo.

Jesus, entretanto, aponta-nos a inutilidade de toda e qualquer prática devocional, quando feita sem a necessária tranquilidade de consciência.

Deus é Amor e, com sentimentos ou propósitos inamistosos no coração, é impossível entrarmos em sintonia com Ele ou recebermos a graça de Seu perdão.

Assim, sempre que nos sintamos ofendidos por alguém, ao invés de lhe censurarmos o procedimento com terceiros, o que nos cumpre fazer é entendermo-nos direta e francamente com nosso ofensor.
É bem provável que não tenha tido a intenção de magoar-nos e que seus esclarecimentos satisfaçam-nos plenamente. De qualquer maneira, é sempre mais correto dirimirem-se atritos e dificuldades, agindo dessa forma, do que dando-se livre curso à maledicência.

Se, ao contrário, nós é que defraudamos um irmão, temos a obrigação moral de, como cristãos que pretendemos ser, fazer-lhe a devida restituição e pedir-lhe que nos desculpe; ou, se o agravamos, afetando-lhe a honorabilidade, buscar as pessoas às quais demos informações falsas ou maldosas a seu respeito, e retirá-las quanto antes, confessando humildemente nosso erro.
Quem, por orgulho, se esquive a essa reconciliação, poderá ser surpreendido pela morte, em débito com a Lei de Harmonia que preside às relações dos homens entre si, e, obrigado, então, a responder em "Juízo" pela inobservância dessa Lei, não escapará à "prisão" das reencarnações expiatórias, eis que, "a cada um será dado segundo as suas obras".
A Justiça Divina, no entanto, é rigorosamente perfeita e não exige do devedor mais do que ele deve. Afirmando: "não sairás da cadeia enquanto não pagares o último ceitil", Jesus deixa claro que não há pecados irremissíveis, nem, por conseguinte, condenação eterna.

Nossas dívidas, por maiores que sejam, expressam-se por um valor determinado, têm um limite e, desde o instante em que paguemos "o último ceitil", já não ficaremos devendo nada e, pois, seremos postos em liberdade, o que vale dizer, seremos novamente senhores de nosso destino, podendo, trabalhados por essa amarga experiência, caminhar com mais segurança, rumo à felicidade reservada a todos os filhos de Deus.
Rodolfo Calligaris
Sermão da Montanha

Buscai primeiramente o reino de Deus


Não é preciso ser muito versado em psicologia para verificar que todas as ações humanas obedecem a um móvel, isto é, são determinadas por um ideal ou um desejo mais intenso.
Aquilo que o indivíduo coloca em primeira plana na vida exerce tal influência em sua conduta que, consciente ou inconscientemente, seus pensamentos, sua conversação, seus hábitos, etc... entram a girar em torno desse alvo, e todos os seus passos para ele convergem.
Por conhecer essa lei é que Jesus nos recomenda: "buscai primeiramente o reino de Deus e a sua justiça" (Mateus, 6:33), querendo com isso significar que os cristãos devem colocar os valores espirituais acima de tudo, pois na aquisição deles é que havemos de encontrar a verdadeira felicidade.
Lamentavelmente, são poucos, ainda, os que vivem pelos ideais superiores.
Em geral, o que os homens querem e buscam sofregadamente é o reino da terra mesmo.
Para amealhar fortuna que lhes proporcione, depois, uma vivência faustosa e sem cuidados, ou conquistar destaque social que lhes lisonjeie o orgulho, não há incômodos, esforços, nem sacrifícios que não estejam dispostos a enfrentar.
Alguns, para conseguir esse objetivo utilitário, não hesitam em empregar processos ignominiosos: exploram o serviço dos semelhantes, organizam trustes e monopólios nefandos, engendram conciliábulos políticos, descem, enfim, a todas as vilanias e torpezas, sem atender a qualquer reclamo da própria consciência.
Esses tais avaliam o êxito na vida pela conta-corrente que tenham nos bancos ou pela posição adquirida na sociedade, e, em sua grosseira materialidade, consideram que seria uma desgraça verem-se privados desses elementos.
Esquecem-se, entretanto, de que, ao transporem as aduanas da morte, não só deixarão aqui os seus queridos tesouros, como ainda terão de responder, perante a Justiça Divina, pelos meios que empregaram para acumulá-los!
Olvidam, igualmente, que o prestígio mundano é algo de todo inútil no "lado de lá", onde os que se exaltam aqui na Terra serão humilhados, e os que são adulados poderão ser escarnecidos, senão relegados ao horror das trevas que o egoísmo houver adensado em volta de suas almas!
Compenetremo-nos, pois, de que tudo aquilo que só serve para a existência terrestre é mera vaidade, e, seguindo o conselho do Mestre, porfiemos no bem, para merecermos a glória de tornar-nos súditos do "reino de Deus".
Rodolfo Calligaris
Livro Sermão da Montanha

DEUS


"Pai, santificado seja o Teu nome, venha o Teu reino". - (Lucas, 11:2)
Como definir Deus? Escasseiam-nos as palavras, vagueiam-nos as expressões, deixando-nos sem possibilidade de confïgurá-Lo em toda a Sua grandeza, em toda a Sua Majestade.

Debalde os homens procuram defini-Lo, enaltecendo Seus atributos, destacando ser Ele eterno, imutável, onipotente, onisciente, soberanamente justo e bom, completando com um interminável cortejo de qualificativos, no qual se salienta ser Ele o Criador de todas as coisas e o Arquiteto do universo e da vida.

Entretanto, a despeito de todos esses atributos, falecem-nos meios de expressar tudo aquilo que Ele realmente é, pois a pobreza da linguagem humana carece de terminologia para propiciar uma visão ampla a clara de tudo o que aureola o Seu santo nome.

Os nossos antepassados, confundindo Jeová com Deus, emprestavam-Lhe caracteres profundamente humanos, afirmando inclusive que Ele havia criado os homens à sua imagem e semelhança. Os antigos hebreus viam em Jeová - uma deidade tribal - o deus do universo e da vida, porém, aureolavam-no com propensões de natureza humana: uma entidade repleta de rancor, de parcialidade, de sentimentos de vingança, tendo mesmo chegado a promovê-Lo a "Senhor dos Exércitos", sempre pronto a fulminar com o furor de sua ira os inimigos do povo judeu, esquecendo-se de que eles também eram Seus filhos.

Em passado menos longínquo, no negro período da Idade Média, "Deus", além de ser o "Senhor dos Exércitos", transformou-se num tirano que se deleitava com o cheiro de carne assada
das vítimas da chamada "Santa Inquisição", que se comprazia con as lutas fratricidas e sanguinolentas das chamadas "santas" cruzadas, ou com o massacre indiscriminado, de supostos hereges, com maior destaque aquele ocorrido na noite de São Bartolomeu (24 de agosto de 1572), quando, na França, foram mortos cerca de 50.000 huguenotes (protestantes), dentre eles homens, mulheres e crianças.

Nos dias atuais, ainda prevalece a imagem de um "Deus" zeloso, parcial e vingativo, que continua a condenar Seus filhos às "penas eternas", a um clamoroso inferno, abominando Suas próprias criaturas, entregando-as ao domínio de um utópico Satanás chefe dos abismos infernais, como jamais o faria um pai terreno.

Debalde os materialistas apregoam que Deus não existe, pois a obra de Deus é manifesta em tudo o que existe no universo. Muitos homens dizem que Deus é a Natureza, esquecendo-se de que, na realidade, a Natureza é também uma obra de Deus.

A grandiosidade da obra de Deus se revela quando contemplamos o firmamento com os seus milhões e milhões de astros gravitando no espaço infinito, bem como a Sua criação dos reinos mineral, vegetal, animal e hominal.

Admiramos Deus quando nos revela o Seu incomensurável amor, fazendo descer à Terra o seu Filho amado, para nos trazer a imorredoura mensagem evangélica. O seu Ungido, a fim de poder consolidar, entre os homens, os Seus sublimes ensinamentos, deu a própria vida, no cimo do Calvário, abalando os corações humanos através dos séculos.

Afirmou Jesus Cristo que Deus faz o sol aquecer bons e maus,
e a chuva beneficiar justos e injustos, porque todos são Seus filhos amados, enredados num perene processo evolutivo.

Proclamou, também, o Mestre, que Deus simboliza o pai da Parábola do Filho Pródigo, sempre pronto a receber, de volta, a seu seio, o filho transviado, da mesma maneira como o bom pastor recebe com indescritível gozo as ovelhas perdidas que voltam ao aprisco.

Jesus Cristo nos revelou Deus como sendo o Pai generoso que veste os lírios dos campos e que sustenta os pássaros dos Céus, da mesma forma como provê as necessidades dos homens, que jamais devem duvidar da Sua justiça e do Seu amor paternal.

No célebre colóquio com a Mulher Samaritana, Jesus Cristo sustentou que o Pai quer ser adorado em espírito pelos verdadeiros adoradores, o que implica em dizer que as adorações exteriores, ou o culto externo, são pueris e inócuos, tendo pouco ou nenhum valor aos olhos do Criador.

Afirmou, ainda, o Mestre Nazareno que somente Deus é bom, o que significa dizer que mesmo o Mestre dos Mestres se considerava distanciado da Sua perfeição.

Alguns cristãos, do início da nossa era, não sabendo como definir Deus, nem conciliar com a verdade alguns ensinamentos de Jesus Cristo, outorgaram ao Criador um aspecto tríplice, sustentando ser Ele uma entidade trina, sendo simultaneamente Pai, Filho e Espírito Santo, mesclando, assim, o que é eterno, imutável, com o que é criado e sujeito à evolução.

Deus é o nosso Pai celestial, que cobre com os Seus amor incomensurável tudo aquilo que foi por Ele criado; e, em nosso modo de ver, não existem palavras que possam expressar toda a Sua grandeza e a extensão dos Seus poder e glória.
Paulo A. Godoy

E O CÉU SE FECHOU:"O Céu jamais poderá fechar-se, pois isso representa pura simplesmente a negação da misericórdia infinita do Criador de todas as coisas. Seria a anulação da promessa de Jesus de que "tu aquilo que pedirmos ao Pai, nos será concedido"..."


"Quando o Céu se fechou por três anos e seis meses." - (Lucas, 4:25)
O evangelhísta Lucas pôs nos lábios de Jesus Cristo a afirmação de que, ao tempo de profeta Elias, o Céu se fechou durante três e seis meses, de sorte que houve grande fome na Terra, tendo o grande profeta sido enviado a socorrer apenas uma pobre viúva, que residia em Sarepta de Sidon. Acrescentou, ainda, o Mestre, que existiam muitos leprosos na Terra ao tempo do profeta Eliseu, mas este foi enviado apenas para curar Naamã, um estrangeiro que estava contaminado por aquela enfermidade.

Poderá o Céu cerrar suas portas e deixar que os clamores que partem da Terra não sejam atendidos? Poderá Deus ficar surdo por três e meio longos anos, às rogativas que partem das sofridas criaturas terrenas?

Indubitavelmente, as palavras do Cristo encerram uma força de expressão e o seu objetivo fundamental, ao formular esse ensinamento, foi nos ensinar que existem na Terra criaturas que possuem um "tesouro nos Céus, por elas próprias amealhado, o qual fará com que venha em seu favor o socorro dos Céus, sempre que elas dele necessitem".

Um aglomerado de pessoas pode ser submetido a uma expiação coletiva e os Espíritos executores da vontade de Deus atender a rogativa que partir de uma ou mais delas, que experimentaram as consequências dessa mesma expiação, sem que a ela as outras façam jus. Foi o caso da pobre viúva de Sarepta de Sidom, que, vivendo no seio de um povo assolado por tremenda crise, foi socorrida pelo profeta Elias, adredemente instruído nesse sentido, tendo seus sofrimentos e de seu filho minorados.
O Céu jamais poderá fechar-se, pois isso representa pura simplesmente a negação da misericórdia infinita do Criador de todas as coisas. Seria a anulação da promessa de Jesus de que "tu aquilo que pedirmos ao Pai, nos será concedido".

No passado, costumava-se dizer que o Céu se fechava para os "hereges" e para os maus. Para os que não professassem a religião oficial ou fossem surdos aos ensinamentos evangélicos. Para os rebeldes e para os viciosos. Porém, cumpre aqui aditar que um dos grandes profetas da antiguidade afirmou que "Deus não que morte dos ímpios, mas que eles se redimam e vivam."

Um dos castigos que Moisés prometia, aos que não obedecessem às leis de Deus, era que: "O Céu se tornará de bronze, sobre as suas cabeças, e a terra debaixo de seus pés se tornaria de fé; (Deuteronômio, 28:23). Segundo o grande legislador dos hebreus essa maldição tinha o beneplácito de Deus, e destinava- se a todos aqueles que não guardassem os Dez Mandamentos da Lei.

Ao tempo de Moisés era admissível atemorizar o povo com ameaças dessa natureza, pois o Deus então apresentado, o temido e temível Jeová dos Exércitos, era um Deus parcial, rancoroso, vingativo e cheio de zelo. Quando do advento da Jesus, nos foi assentado um Deus que é todo misericórdia e a expressão maior do amor.

Ensinou-nos o Mestre que as cinco virgens prudentes da parábola encontraram as "portas do Céu", mas a cinco imprudentes encontram-nas fechadas (Mateus, 25:1-13). As cinco primeiras simbolizam os que cumprem seus deveres na Terra - são bons, tolerantes, misericordiosos.
As outras simbolizam os que vivem na Terra mergulhados nos vícios, são maus e recalcitrantes, insurgindo-se contra os preceitos da Lei. Torna-se evidente que o tratamento não poderia ser idêntico para todos.
É lógico que não existe porta nos Céus, nem porteiro. O que, na realidade, existe sãos Planos Espirituais numa escala infinita; para os Planos Elevados irão as almas boas e cumpridoras de seus deveres, que souberam cumprir as leis do amor; para os Planos Inferiores gravitarão os maus, os rebeldes, os vingativos, os orgulhosos, os malfeitores de todos os matizes.
É evidente, contudo, que os estágios nesses Planos são sempre transitórios, pois todas as criaturas caminham para Deus, e todas elas, indistintamente, através das vidas sucessivas, alcançam Planos mais sublimados, pois "há grande alegria nos Céus pelos pecadores que se regeneram".
E o Pai que se forme "um só rebanho, sob o cajado de um só pastor."
Paulo A. Godoy

PAI, SALVA-ME DESTA HORA:"Sua vinda à Terra objetivou demonstrar o incomensurável amor de Deus pelas Suas criaturas..."


"Então veio uma voz do Céu que dizia: Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei." - (João, 12:28)
O Evangelho segundo João, em seu capítulo 12, afirma que Jesus Cristo, algum tempo antes de ser preso, disse (João 12:27):

"Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora; mas para isto vim a esta hora".

Esta afirmação do Mestre vem satisfazer a indagação de muitos, quando proclamam que Jesus, com o poder de que se achava investido, poderia facilmente ter evitado a consumação do sacrifício do Calvário.

Outros evangelhistas relatam que Jesus suplicou a Deus, por três vezes, que "se fosse possível passasse dele o cálice de amargura, evitando que ele fosse tragado". Nessas súplicas o Mestre deixou bem claro que a vontade de Deus deveria prevalecer em qualquer circunstância.

Na terceira e última rogativa, ele deve ter recebido a resposta dos Céus, de que o cálice teria de ser tragado, por isso submeteu-se com resignação a todos os sofrimentos que surgiram, os quais tiveram como epílogo o martírio na cruz.

Era imperioso que a crucificação se consumasse, a fim de que a mensagem cristã se firmasse entre os homens. Infelizmente, no seio da Humanidade, os grandes mártires têm de dar seu sangue, para que suas idéias e obras se consolidem. Jesus Cristo não poderia constituir uma exceção, por isso ele, brandamente, submeteu ao martírio, pois, somente assim, os Seus ensinos se a solidariam na Terra.

No mesmo Evangelho de João (12:24) deparamo-nos com a seguinte afirmação feita por Jesus: "Se o grão de trigo, caindo terra, não morrer, ele ficará só, mas se morrer produzirá muitos frutos". Na realidade, se Ele não fosse crucificado, talvez ficasse com alguns poucos companheiros. Entretanto, a sua morte infamante no madeiro atraiu a todos para ele (João, 12:32).

A crucificação representou a glorificação de Sua obra; isso, tudo aquilo que já havia sido vaticinado pelos profetas, e que o próprio Cristo corroborou, tinha de ser cumprido. Na verdade Jesus disse que poderia suplicar: "Pai, salva-me desta hora", o que seria inócuo, porque Ele veio à Terra precipuamente para experimentar as agruras daquela hora, para que a Sua mensagem viva se implantasse entre o homens.

É óbvio que o Cristo poderia ter-se furtado às agruras daquela hora, se tivesse pactuado com os interesses de muitos homens da época. Nesse caso, em vez de tragar o vinagre azedo do Calvário teria continuado a deleitar-se com o vinho alegre de Canaã.

Jesus Cristo desceu à Terra como autêntico cordeiro no mundo de lobos vorazes. Muitos interesses prevaleciam, então, tanto natureza política como religiosa, por isso Sua missão se tornou árdua. Numerosos interesses foram feridos. As Suas palavras e profecias amedrontavam os poderosos da época, os quais não poderiam conceber a idéia da perda de um predomínio sobre o povo inculto.

Sua vinda à Terra objetivou demonstrar o incomensurável amor de Deus pelas Suas criaturas.
Acima de todas as coisas o Mestre objetivou fazer com que a Humanidade conhecesse novas verdades, para que estas a libertassem dos preconceitos, do obscurantismo e da superstição.
Entretanto, para que Sua obra se consolidasse o sacrifício prepararia o gênero humano para o sistemático combate à mentira e para que a verdade se constituísse na cogitação primária de todos. Se o grão de trigo não morresse, ele ficaria sozinho, mas, morrendo, produziria muitos frutos.
Semelhantemente, se o Mestre não morresse na cruz, ficaria apenas com alguns apóstolos, mas, pendurado no madeiro infamante, atraiu a todos para Ele - glorificando o nome de Deus e ensinando aos homens as regras do amor, do perdão, da misericórdia e da tolerância.
O sangue derramado sensibilizou a todos. Sua dor despertou a Humanidade para o conhecimento de coisas mais relevantes, as coisas do Espírito.
Não permanecendo no túmulo. Ele deu aos homens a antevisão da imortalidade da alma, revelando que a morte do corpo não é o fim, e que uma jornada ininterrupta e ascendente aguardava a alma, que tem por finalidade atingir a Deus. A criatura tem de gravitar para o seu Criador.
Paulo A. Godoy

QUAL DOS PODERES?


"E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei todo este poder e a glória, destes reinos
porque ela a mim me foi dado, e dou-a a quem eu quiser." - (Lucas, 4:6)
"E chegando-se Jesus falou-lhes, dizendo: É-me dada toda a autoridade
no Céu e na Terra." - (Mateus, 28:18)
No episódio simbólico, na tentação de Jesus, o espírito maligno oferece-lhe todo o poder e a glória deste mundo, em troca da Sua submissão, acrescentando ainda: "porque a mim foi dada toda a glória e dou-a a quem quero".

Por outro lado, o próprio Jesus, chegando à Galiléia (em Espírito), conclamou a multidão dos discípulos e disse-lhes: "E'-me dado todo o poder no Céu e na Terra".

Aparentemente há um conflito entre as duas citações evangélicas acima. Numa o Espírito do mal, personificado na figura lendária do diabo, proclama-se o detentor de todo o poder e glória deste mundo. Noutra o Cristo, após cumprir a sua redentora missão no mundo e ser crucificado, proclama em Espírito que toda a autoridade lhe foi outorgada, no Céu e na Terra.

O Mestre conquistou tudo aquilo que Lhe fora ofertado pelo Espírito das trevas, sem que lhe houvesse prestado qualquer tipo de subserviência. Ele, que desceu à Terra já investido desse poder, pelo fato de ser o Mentor maior do nosso mundo, e o Filho Ungido de Deus, confirmou a Sua posse após ter passado pelo mundo, nele implantando a Sua mensagem redentora, o que já o havia levado a dizer antes do martírio do Calvário: "Eu venci o príncipe deste mundo".

Realmente, desde os tempos mais primitivos, as forças das trevas vêm exercendo predomínio sobre muitos homens, pois estes preferem sempre o poder e a glória efêmera do mundo, as riquezas, o fausto e a opulência, relegando para segundo plano as conquistas das virtudes santificantes do Espírito, sintetizadas na implantação dos corações humanos, de tudo aquilo que Jesus no legou e que está contido nas páginas rutilantes dos Evangelhos.

O poder exercido pelas trevas é transitório, não persiste para sempre. A própria História da Humanidade nos tem demonstrado que os poderes e a glória conquistados pela força, pela violência, pela maldade, pela traição e pela prática das iniqüidades duram muito pouco. Para ilustração, mencionemos os grandes impérios que avassalaram nações e dominaram o mundo. Todos eles ruíram fragorosamente.

Os homens que a História registra como grandes heróis e conquistadores têm as suas memórias cultivadas nos monumentos de pedra, apenas pelos que sentem a mesma a volúpia de posse da vida terrena. Eles fundamentaram suas conquistas sobre dores, lágrimas e morte. O contrário sucede com os que aqui vieram, a fim de iluminar os horizontes sombrios do mundo, fazendo-o com os seus ensinos e exemplos edificantes.
A memória destes últimos permanece gravada no corações dos homens que se ufanam de propugnar pelas coisas do Espírito e pela implantação dos ensinamentos do Cristo em suas próprias almas. Estes procuram aplacar as dores, enxugar as lágrimas e ensinar o caminho da conquista da vida eterna.

Jamais se apagam dos corações humanos numerosas figuras exponenciais que amargara dores e aflições no desempenho de cruciantes apostolados no mundo, apregoando excelência do reinado do Espírito. Foram homens que experimentaram as perseguições e morte por causa das suas idéias reformadoras, por isso passaram a constituir verdadeiros elos entrelaçando o Céu e a Terra.
A glória e o poder de cunho terreno são efêmeros, e o homem pode desfrutar deles apenas durante uma vida no mundo, nada levando para a vida futura. Esse fastígio encerra-se no limiar do túmulo. Por outro lado, as conquistas processadas no campo do Espírito passam a ser parte intrínseca dos seres, e assim, levadas para a vida futura, por constituírem aquisições nobilitantes da alma ou um tesouro amealhado nos Céus.

Se Jesus quisesse aceitar a sugestão das entidades trevosas, por certo teria evitado o sacrifício do Calvário, faria um conluio com os poderes terrenos, continuaria a deleitar-se com o vinho alegre de Caná, porém, a Humanidade jamais seria premiada com o tesouro inesgotável dos Evangelhos, fonte perene de consolação, de lenitivo para todos os males; por isso, Jesus disse, sentenciosamente: "Retira-te satanás!".

Apenas para melhor elucidar estes episódios, cumpre-nos esclarecer que as figuras de diabo, satanás, Lúcifer, Belzebu ou príncipe dos demônios não representam entidades personificadas, mas são simplesmente nomes genéricos, identificando os espíritos do mal. Na antiguidade remota, acreditava-se na existência do deus do mal e do deus do bem. Hoje ninguém aceita essa concepção, pois somente existe um Deus, Criador de todas as coisas, arquiteto do Universo e da vida.
Paulo A. Godoy

REFORMA ÍNTIMA, JÁ!


"Voltando, achou-os dormindo; e disse Jesus a Pedro: Simão dormes?
Não pudeste vigiar nem uma hora?" - (Marcos, 14:37)
Enquanto os três apóstolos dormiam o Horto de Getsêmani, teve seu epílogo o maior ato de traição da História da Humanidade.
No curto intervalo daquele profundo sono dos assessores mais imediatos de Jesus Cristo, consumava-se a mais incrível das prisões.
No decorrer daqueles ligeiros momentos de invigilância, aconteceu o mais dramático drama vivido pelo Grande Nazareno, que, em súplicas ardentes, havia rogado ao Pai que, se fosse possível, evitasse que o cálice de amargura fosse por ele tragado.
Jerônimo, o erudito doutor da Igreja, autor da "Vulgata Latina", recomendava aos chefes da Igreja: "Não durmam, para que não se façam semeaduras de heresias entre os fiéis".
De forma idêntica, Jesus Cristo, na parábola do Joio e do Trigo, nos ensinou que, enquanto o dono da seara dormia, uma vasta semeadura do joio foi feita na terra, onde estava plantado o trigo.
O sono comum, conhecido por nós, é necessário para o refazimento de nossas energias. Ele é indispensável para a vida humana, e, obviamente, os ensinamentos de Jesus não se referem a ele.

A recomendação do Mestre diz respeito a um sono diferente: o sono da indiferença, do descaso, do comodismo, da invigilância. Esse tipo de sono é responsável pelas deturpações que têm ocorrido no mundo, no tocante a muitos problemas, principalmente os que dizem respeito à necessidade impostergável da REFORMA ÍNTIMA. Um imperativo de todos os tempos, uma necessidade que deve ser encarada em regime de urgência, ou melhor urgência urgentíssima. Uma reforma que deve ser colimada já.

Jesus Cristo desceu à Terra para nos legar uma mensagem que tem como ponto alto o alerta quanto à necessidade de nossos aprimoramentos moral e espiritual.

Enveredando, resolutamente, na senda da REFORMA ÍNTIMA, estaremos nos aproximando de Deus. Sem essa prática ficaremos simplesmente estacionados no caminho da vida, pois conviveremos com os vícios degradantes, com o crime, com o erro contínuo, fatores principais do endurecimento dos corações humanos, da violência, da falta de receptividade aos ensinamentos que emanam dos Céus.

Para nos trazer essa mensagem de concitamento à reforma íntima, o Mestre suportou toda a sorte de sofrimentos: a incompreensão dos homens, a prisão, a flagelação, os acintes e os açoites e, por fim, a crucificação no madeiro infamante.

O Evangelho, infelizmente, ainda continua a ser o "grande desconhecido", e isso porque os homens têm cogitado muito mais das coisas de César, relegando, para plano secundário, as coisas de Deus.

Muitas pessoas demoram no caminho da vida sem cuidar de aprimorar-se no bem. Por influência do meio onde vivem, ou por qualquer outra razão, chafurdam-se nas aberrações dos vícios e nos devaneios do crime, e, mesmo em face dos escolhos, das advertências, dos apelos, dos bons exemplos, jamais retrocedem.
Levam para o túmulo toda uma gama de contravenções à Lei de Deus e isso, obviamente, demandará série prolongada de dolorosos reajustes nos Planos espirituais e nas vidas futuras.

Após ultrapassarem o fenômeno da morte do corpo, seus Espíritos ressurgem nos Planos espirituais sem a condição mínima para merecerem qualquer uma das compensações prometidas por Jesus Cristo no Sermão da Montanha.
Se levaram na Terra uma vida cheia de contradições, de ódio, de revoltas, de inércia, é óbvio que se defrontarão, na vida espiritual, com a terrível realidade de não terem amealhado os tesouros imperecíveis da alma, de não terem implantado em seus corações os puros ensinamentos cristãos.

Essas pessoas consideraram o amor ao próximo como mera utopia. Passaram por cima dos direitos alheios. Ensurdeceram seus ouvidos aos clamores do bom senso. Fecharam os olhos às demonstrações de fé. Ignoraram a recomendação de Jesus: "Sedes perfeitos como perfeito é o vosso Pai celestial".

Quando nos referimos aos que estão com suas mentes adormecidas por influência das viciações terrenas, não fazemos alusão apenas aos que usam qualquer tipo de entorpecente que possa afetar os seus sentidos. São viciosos, também, os subjugados pela avareza, pelo orgulho, pela vaidade, pela inveja, pela calúnia, pelo ciúme, pelo ódio e por todo e qualquer prejuízo que denota falta de caridade, e que, em muitos casos, avilta, degrada o ser humano, retardando ou oferecendo obstáculo à sua marcha ascensional para Deus.

A todos esses que assim dormem no caminho da evolução, deve-se fazê-los sentirem os ecos das palavras do Cristo dirigidas a Pedro; Simão, dormes?
Paulo A. Godoy

NÃO REPITAMOS O ERRO


"A luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz,
porque as suas obras eram más." - (João,3:19)
Indubitavelmente, o Espiritismo está desempenhando, no seio da Humanidade, o mesmo papel desenvolvido pelo Cristianismo por ocasião de sua revelação à Terra.

A semelhança é perfeita. Quando surgiu o Cristianismo, o segredo de sua expansão vertiginosa residiu no fato de ser uma doutrina que fala mais ao coração do que ao intelecto. Os imensos e suntuosos templos pagãos, com seus múltiplos deuses, eram agradáveis à visão, porém não aqueciam o coração e a alma permanecia insensível. O Cristianismo foi revelado aos humildes, pelos humildes, e os seus propagadores eram homens de fé, de ação e de convicção.

A elite do Paganismo adotou o Cristianismo somente após ter o Imperador Constantino, através do Édito de Milão, oficializado a nova doutrina e, embora as condições impostas pelo Imperador não fossem das mais desarrazoadas, os séculos que se seguiram foram suficientes para nos demonstrar que o tributo exigido pela Boa Nova foi dos mais onerosos possíveis.

Os porta-vozes da doutrina trazida pelo Meigo Rabi da Galiléia, em vez de se manterem dentro dos princípios salutares prescritos pelos Evangelhos resguardados nas trincheiras da humildade e da intransigência com o erro, coagindo as elites pagãs a descerem dos seus pedestais, e também a abandonarem os templos ricamente adornados e repletos de ídolos inertes, para se ombrearem com os humildes cristãos, nas choupanas e nos cenáculos desprovidos de adornos, evitando, assim, a conspurcação do Sublime Lega
do vindo dos Céus, - fizeram o oposto: trataram de edificar suntuosos, faustosos templos, substituindo as imagens dos antigos deuses de barro por novos ídolos, também feitos de argila.

Ainda os porta-vozes, em vez de levarem os pagãos a descer as escadarias dos seus templos, preferiram subir até eles, tudo fazendo para acomodar a doce doutrina do Cristo às conveniências dos seguidores da religião materialista e decadente. Desta maneira, apenas substituíram os habitantes dos altares, derrubando os deuses e substituindo-os por figuras rotuladas de santos. E os templos continuaram a ser frios, alegrando, apenas, os sentidos e encantando os olhos.

Esse ato de invigilância, esse lamentável deslize, representou o início da deturpação dos lídimos preceitos contidos nos Evangelhos. Daí para a assimilação de outros desvios, a distância foi relativamente curta. Teorias absurdas e dogmas esdrúxulos foram incorporados à estrutura doutrinária do Cristianismo, que até mudou de nome.

O Cristo, no entanto, já havia previsto que a água cristalina da fonte, que jorra para a vida eterna, haveria de ser turvada por homens interessados na manutenção de um sistema impregnado de materialismo. Lobos vorazes turvaram a água pura dos ensinamentos de Jesus e as ovelhas do aprisco passaram a dessedentar-se com a água impura.

Foi com vista a essa degenerescência que o Mestre prometeu que nos enviaria o Consolador, o Espírito de Verdade, para restabelecer as coisas em seus devidos lugares, para levar os cristãos a descerem dos templos de pedra, que apenas enlevam os sentidos, para os novos cenáculos, que, embora não sendo enfeitados de jóias e pedrarias de alto valor, acalentam os corações, evitando o seu contágio pelo frio secular da descrença, do obscurantismo e dos preconceitos.
Foi com relação a isso tudo que Jesus proclamou "que não tinha uma pedra onde reclinar a cabeça".
Essa pedra angular, que servirá de base para o fundamento da doutrina cristã, está consubstanciada no Espiritismo, lídimo intérprete do Consolador prometido, cabendo a ele restaurar, na Terra, as primícias da consoladora doutrina legada por Jesus Cristo há quase vinte séculos.
Não repitamos, pois, o erro dos cristãos dos tempos que se seguiram.
Paulo A Godoy