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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Ensinou o apóstolo Paulo: a Bíblia é um livro mediúnico



A origem mediúnica das religiões é hoje uma tese provada pelas pesquisas antropológicas e etnológicas. Só os materialistas a rejeitam. Os interessados podem estudar o assunto no livro do professor Ernesto Bozzano, Povos Primitivos e Manifestações Supranormais, ou em nosso livro O Espírito e o Tempo, lançado pela Editora Pensamento, nesta capital. A origem da Bíblia é um capítulo natural desse processo geral que originou as religiões. Os leitores podem encontrar material a respeito no livro do professor Romeu do Amaral Camargo, De Cá e de Lá, no meu livro já citado e em Os 3 Caminhos de Hécate, editado pela Edicel.
Mas não pense o leitor que são os espíritas que afirmam a origem mediúnica da Bíblia. Quem afirmou foi o apóstolo Paulo, quando declarou peremptoriamente: “Vós recebestes a lei por ministério de anjos”, isto em Atos, 7:53, explicando ainda em Hebreus 2:2: “Porque a lei foi anunciada pelos anjos”, e confirmando na mesma epístola, 1:14: “Espíritos são administradores, enviados para exercer o ministério”. Antes, em Hebreus, 1:7, Paulo, depois de advertir que Deus havia falado de muitas maneiras aos profetas, acrescenta: “Sobre os anjos, diz: o que faz os seus anjos espíritos e os seus ministros chamas de fogo”.
Está claro que os anjos são espíritos, reveladores das leis de Deus aos homens, como afirma o Espiritismo. Paulo vai mais longe, afirmando em Atos 7:30-31, que Deus falou a Moisés através de um anjo na sarça ardente. Veja-se o que ficou dito acima: os anjos são espíritos, ministros de Deus, que o faz chama do fogo, nas aparições mediúnicas. O reverendo Haraldur Nielsson, em seu livro O Espiritismo e a Igreja, ele que foi o tradutor da Bíblia para o islandês, a serviço da Sociedade Bíblica Inglesa, afirma que o Cristo é muitas vezes chamado no Evangelho, no original grego, de “pneuma”, depois da ressurreição. E “pneuma” quer dizer espírito. Da mesma maneira, lembra que Paulo, em Hebreus, 12:9, refere-se a Deus como “Deus dos Espíritos”. Lembra ainda que as manifestações dos Espíritos, nas sessões que realizou com o bispo Hallgrimur Svenson em Reikjavik, eram na forma de línguas de fogo. Essas manifestações confirmavam que o anjo da sarça ardente e os fenômenos do Pentecoste foram mediúnicos.
O que falta aos acusadores do Espiritismo é estudo. Se pusessem o seu dogmatismo de lado e estudassem um pouco, haveriam de compreender essas coisas. A Bíblia foi inspirada pelos Espíritos, como mensageiros de Deus, no tocante aos seus livros proféticos, que chamamos de mediúnicos. Os livros históricos e de legislação civil receberam também a colaboração dos Espíritos. A Bíblia, pois, é um livro mediúnico que não pode condenar o Espiritismo, pois estaria se condenando a si mesma.

Livro: Visão Espírita da Bíblia
Herculano Pires

Professor de teologia defende a interpretação espírita da Bíblia



Numa insistência verdadeiramente desanimadora, certas seitas religiosas que fazem do combate ao Espiritismo a sua principal tarefa, alegam sempre que os espíritas têm medo da Bíblia. Num debate de TV, o reitor de um instituto bíblico protestante chegou a declarar aos espíritas presentes, de Bíblia em punho: “Vocês não querem ouvir a palavra de Deus, mas hoje vão ouvir!” Na sua ingenuidade, pensava que a leitura da Bíblia poria os espíritas a correr.
Outro pastor, chefe de uma seita por ele mesmo fundada, escandalizou-se quando afirmamos que a Bíblia não é “a palavra de Deus”, e ingenuamente perguntou-nos: “Mas o Senhor tem a coragem de dizer uma coisa dessas na frente do povo de São Paulo?” Mais tarde, esquecendo os seus deveres religiosos de honestidade e respeito à verdade, promoveu uma campanha sistemática, pelo rádio, de desvirtuamento das nossas declarações. Pensava, certamente, que Deus aprovava sua “bonita” atitude.
Alguns espíritas, por sua vez, ficaram assustados com a nossa audácia. Achavam que poderíamos afastar do Espiritismo os crentes na Bíblia. Esqueceram-se de que o Espiritismo não se interessa por quantidade de adeptos, mas pela sua qualidade. Espíritas que se assustam com a verdade sobre a Bíblia estão ainda longe de compreender a Doutrina. Foi por isso tudo que resolvemos enfrentar o tema durante algum tempo, nesta seção[i]. É necessário que se diga a verdade, que se esclareça o povo, em vez de deixá-lo iludido por expressões como “a palavra de Deus”, que servem apenas para os que não querem estudar o problema bíblico em sua realidade histórica, religiosa e cultural.
Os que vivem gritando, de Bíblia em punho, que o Espiritismo é condenado pela Bíblia, não conhecem uma coisa nem outra. Ignoram o que seja a Bíblia e não têm a mais leve noção de Espiritismo. No dia em que conhecerem ambas as coisas, terão vergonha de suas acusações atuais. Se essas pessoas gostassem de ilustrar-se um pouco, indicaríamos a elas a leitura de alguns livros de ilustres figuras protestantes. Por exemplo, o livro de Haraldur Nielsson, teólogo, tradutor da Bíblia para o islandês e professor de teologia da Universidade da Islândia, intitulado: O Espiritismo e a Igreja[ii]. É um livrinho pequeno, que ainda agora aparece em nova edição brasileira e está nas livrarias. Nesse livro, os nossos acusadores terão o testemunho de um membro da Sociedade Bíblica Inglesa, que não se tornou espírita, mas que reconhece a natureza dos livros bíblicos. Ele protesta contra as afirmações, sempre levianas, de que a Bíblia condena as manifestações espíritas e as sessões de Espiritismo.
Livro: Visão Espírita da Bíblia

Herculano Pires



[i]    O autor se refere à coluna que mantinha no Diário de São Paulo.
[ii]    Livro relançado por Edições Correio Fraterno, Caixa Postal 58, CEP 09700, São Bernardo do Campo – SP.

Nascimento da Educação Espírita

Nascimento da Educação Espírita

Autor: J. Herculano Pires

Cada fase da evolução histórica é marcada por uma nova concepção do homem e do mundo. É conhecido o esquema formulado por Augusto Comte mas convém repeti-lo. A evolução humana se processa em três estados ou três fases bem caracterizadas: 1o) o estado teológico, representado pelas civilizações teocráticas e mitológicas da Antigüidade; 2o) o estado metafísico, simbolizado pela Idade Média; 3o) o estado positivo, a que corresponde o Positivismo como filosofia científica, representado pela era das Ciências.
Um leitor da Revista Espírita escreveu a Allan Kardec propondo a esse esquema, que Comte chamou de lei dos três estados, o acréscimo do estado psicológico. Kardec publicou a carta na Revista de Abril de 1869 e considerou acertada a sugestão do leitor. De fato, com o advento do Espiritismo em 1857 o estado positivo havia sido superado, a Humanidade entrava em nova fase evolutiva caracterizada pelo predomínio das pesquisas psicológicas.
O acerto dessa proposição se confirmou no decorrer da Segunda metade do século XIX e na primeira metade do século XX.
As Ciências Psicológicas, tanto no que respeita à Psicologia quanto no tocante ao Espiritismo e às Ciências Psíquicas por ele geradas, desenvolveram-se de tal maneira nesse período que acabaram predominando na cultura do século.
Nesta segunda metade do século XX, em que nos encontramos, o avanço nesse campo de pesquisas e estudos ultrapassou toda expectativa.
Estamos hoje, inegavelmente, na Era do Espírito. Já passamos além do estado psicológico, que era apenas o vestíbulo de uma fase decisiva da evolução humana. Estamos no estado espírita.
Em apenas alguns anos, de 1930 à 1970, demos um gigantesco salto qualitativo –– da Psicologia animista, reduzida às investigações do comportamento humano, à Parapsicologia, que rapidamente avançou na demonstração da realidade do espírito, a partir dos fenômenos rudimentares de clarividência e telepatia até à pesquisa e comprovação das comunicações de espíritos (fenômenos theta) e da reencarnação (memória extrasensorial).
Ao mesmo tempo, a Física, Ditadora das Ciências, como Rhine a chamou, cujos conceitos e métodos de investigação materialista se impuseram discricionariamente a todo o campo do conhecimento, saltou repentinamente além da matéria, descobrindo a antimatéria, reconhecendo a sua importância fundamental na estrutura do Universo, e logo mais descobrindo o corpo bioplástico dos vegetais, dos animais e do homem.
Corroborando essas conquistas terrenas houve também o assalto ao Cosmos pela Astronáutica. Esse mergulho no Infinito trouxe mais uma possibilidade de confirmação da chamada hipótese espírita, tão ridicularizada e menosprezada pelos homens positivos, no tocante à existência de uma escala de mundos.
Pesquisas astrobiológicas revelaram a existência de elementos vitais na imensidade cósmica e os cientistas mais eminentes já não temem declarar a sua convicção da possibilidade de vida humana em outros planetas.
Para negar que estamos na Era do Espírito seria preciso negar todos esses avanços da Ciência, o que evidentemente ninguém pode fazer.
A outra face do real
No mesmo instante em que o homem conseguiu ver, pela primeira vez na História, a face oculta da Lua, os cientistas soviéticos (logo eles) conseguiram, em suas pesquisas com a câmara Kirilià, na Universidade de Alma Ata, nos confins do Kazakistã, próximo à fronteira chinesa (bem escondidos nas selvas) ver e fotografar o corpo espiritual do homem. E conseguiram mais, em experiências com moribundos, pesquisando o fenômeno da morte, constatar que esse fenômeno só ocorre quando o corpo bioplástico (como o chamaram) se retira do corpo carnal, que então e só então se cadaveriza.
O Cristianismo havia conseguido a conversão do mundo. O Espiritismo está conseguindo a conversão da Ciência. A visão nova dos cristãos modificou as relações humanas, mesmo nas áreas não dominadas pelo Cristianismo, e criou uma nova cultura.
A visão novíssima do Espiritismo deu novas dimensões à visão cristã e está criando uma nova civilização. Segundo a conceituação de Kerchensteiner a cultura se divide em objetiva e subjetiva. A cultura objetiva se constitui dos bens concretos que formam a civilização, a cultura subjetiva representa o acervo de conhecimentos abstratos que formam o saber de cada civilização.
A cultura, tanto objetiva como subjetiva, da Era do Espírito, não pode ser transmitida às novas gerações através dos limitados recursos da Educação Cristã ou da Educação Leiga, ambas irremediavelmente superadas.
O conflito materialismo versus espiritualismo, que gerou essas duas formas de educação, não tem mais possibilidade de sobreviver na cultura atual. A nova concepção do homem e do mundo que marca o nosso tempo exige uma nova educação de dimensões cósmicas e espirituais. Porque a Era do Espírito é também a Era Cósmica.
E só o Espiritismo tem condições para atender a essa exigência do nosso tempo, através da Educação Espírita, que já se desenvolve espontaneamente aos nossos olhos e por sua vez exige a sua formulação pedagógica. A descoberta do espírito
Em 1854 o Prof. Denizard Rivail começou a investigar os fenômenos psíquicos que haviam nove anos antes, abalado os Estados Unidos e repercutido intensamente na Europa.
Discípulo de Pestalozzi, o grande pedagogo da época, e ele também pedagogo, interessava-se por todos os fenômenos que pudessem dar-lhe um conhecimento mais profundo da natureza humana.
Partia do princípio de que o objeto da Educação é o homem e por isso o pedagogo tinha por dever aprofundar o conhecimento deste.
Em 1857 lançava em Paris O Livro dos Espíritos como primeiro fruto de suas pesquisas. Havia descoberto o espírito, determinado a sua forma, a sua estrutura, as leis naturais (e não sobrenaturais) que regem as sua relações com a matéria.
Podia afirmar, baseado em provas, que a natureza do homem é espiritual e não material, que ele sobrevive à morte, que possui um corpo energético e se submete ao processo biológico da reencarnação para evoluir como Ser, despertando em sucessivas existências as suas potencialidades ônticas.
Se Jesus ensinara essas coisas, na medida do possível, nos limites culturais do seu tempo, Denizard Rivail, que para tanto adotava o nome de Allan Kardec, passava então a ensiná-las de maneira mais ampla e com maiores recursos culturais. Tornou-se o professor de Espiritismo, como passaram a chamá-lo os que aceitaram a sua verdade.
Para isso lançou uma revista especializada, a Revue Spirite, e passou a fazer conferências e publicar livros e folhetos em linguagem didática, bem acessível ao povo. Estava iniciada a Educação Espírita.
Para bem configurarmos o nascimento da Educação Espírita convém lembrar que Amélie Boudet, esposa de Kardec, era também professora. Sabemos como ela colaborou na obra do marido e como, após o passamento deste, emprenhou-se em honrar-lhe a memória. O casal não teve filhos. A Educação Espírita foi assim a sua única filha. Essa filha mimada, extremamente querida, esteve junto ao seu coração até o fim de sua existência. O Prof. Rivail serviu-se dela para educar e instruir o seu tempo, não só no tocante à França, mas a todo o mundo.
André Moreil, em sua Vida e Obra de Allan Kardec, mostra-nos que o Prof. Rivail não foi apenas discípulo de Pestalozzi, mas o continuador da obra educacional do mestre: "É interessante notar que a impressão das obras completas de Pestalozzi termina exatamente no ano em que Rivail publicou a sua primeira obra, em 1824. Esta coincidência que uma tocha foi passada de mão para mão. Rivail iria trabalhar durante trinta anos para educação da juventude francesa, antes de se consagrar, nos seu últimos quinze anos, aos princípios do Espíritismo".
Poderiam perguntar porque motivo Kardec não nos deixou nenhuma obra específica de Educação Espírita. A resposta é evidente: porque ainda era cedo para isso e porque faltou-lhe tempo para se dedicar a assunto tão complexo.
A codificação do Espíritismo, a Revista, as obras subsidiárias, os trabalhos de observação e pesquisa, a refutação incessante dos ataques feitos à doutrina consumiam-lhe o tempo. E os espíritos recomendavam-lhe a todo momento poupar energias, para não deixar de concluir sua missão de implantar a nova doutrina entre os homens.
A obra pedagógica e didática do Prof. Rivail é enorme e foi adotada pela Universidade de França. Mas o Tratado de Pedagogia com que ele sonhara não pode ser escrito. Sua missão espírita era demasiado absorvente, e ele estava só, terrivelmente só. A esposa o auxiliava e havia muitos colaboradores sinceros, mas só ele percebia o alcance real do Espiritismo. Assim, os grandes trabalhos não podiam ser feitos por mais ninguém.
Mas se não conseguiu fazer o necessário no tocante à Educação Espírita, a verdade é que deixou a sua obra doutrinária impregnada do ideal educacional. O Espiritismo, diziam-lhe os Espíritos, tem por missão modificar o mundo inteiro. E Kardec afirmaria em O Livro dos Espíritos, de acordo com a sua orientação anterior de pedagogo: "A educação é a chave do progresso moral".
Encarando o problema da evolução do mundo, Kardec adverte em sua obra fundamental: "O Espírito só pode avançar gradualmente. Não pode transpor de um salto a distância que separa a barbárie da civilização" (perg. 271). A importância da Educação Espírita ressalta deste trecho: "Encarnando-se com o fim de se aperfeiçoar, o Espírito é mais acessível na infância às impressões que recebe e podem ajudar o seu adiantamento, para o qual devem contribuir os que estão encarregados da sua educação" (perg. 383).
A Educação Espírita aparece em Kardec também no seu aspecto transcendente. Não é apenas a educação do homem pelo homem. É também a educação ministrada pelos Espíritos Superiores.
Que bela visão desse processo educativo ele nos oferece neste trecho: "A verdadeira doutrina espírita está no ensino dos Espíritos. Os conhecimentos que esse ensino encerra são demasiado sérios para serem adquiridos sem um estudo profundo e continuado, feito no silêncio e no recolhimento".
O ensino espírita
O que Kardec entendia por estudo profundo e continuado não era apenas autodidatismo, segundo parece sugerir a expressão: no silêncio e no recolhimento. Alguns espíritas desavisados escudam-se nessa expressão para condenar os cursos doutrinários.
E o fazem em nome do pedagogo e professor que passou a sua vida dando cursos e nos deixou, no Projeto de 1886, este conselho que é ao mesmo tempo uma advertência:
Um curso regular de espiritismo seria dado com o fim de desenvolver os princípios da Ciência Espírita e propagar o gosto pelos estudos sérios.
Esse curso terá a vantagem de criar a unidade de princípios, de obter adeptos esclarecidos, capazes de difundir as idéias espíritas e de desenvolver grande número de médiuns.
Encaro este curso como capaz de exercer influência capital no futuro do Espiritismo e em suas conseqüências.
Hoje, mais do que nunca, diante da expansão do Espiritismo em nosso país e de sua repercussão no mundo, o problema do ensino espírita se acentua como necessidade imperiosa. O Espiritismo é uma ciência, como ensinava Kardec, da qual resultam naturalmente uma filosofia e uma religião.
Seria possível a divulgação de uma doutrina assim complexa, que toca em todos os ramos do saber, segundo o próprio Kardec afirmou, sem a criação de cursos regulares, dados por professores competentes? Quem negar isso deve estar seriamente afetado por uma doença muito grave, que nos vem da Idade da Pedra: a alergia à cultura. O Prof. Ramy Chauvin, da Escola de Altos Estudos de Paris, declarou há pouco tempo que existe entre os cientistas uma doença semelhante, e que deu o nome de alergia ao futuro.
No meio espírita constatamos hoje a existência, em forma aguda e até mesmo delirante, de uma conjugação dessas duas formas de alergia.
Os espíritas anti-culturais não querem os cursos (alergia à cultura) porque temem as modificações salutares que eles produzirão na rotina das igrejinhas espiritóides (alergia ao futuro). Querem continuar dormindo nas suas ilusões, balançando-se na rede de suas idéias fragmentárias e seus conhecimentos superficiais da Doutrina Espírita.
Podem escrever muito e falar demais, mas basta um ligeiro exame das suas idéias para que a doença grave se revele na análise.
O ensino espírita, como todo e qualquer ensino, requer sistematização escolar. A fase sem escolas da Educação Espírita, como a de qualquer outra forma educacional, pertence aos primórdios do movimento espírita. E isso não se precisa demonstrar por argumentos, pois os fatos o estão demonstrando aos nossos olhos. Onde os fatos falam por si mesmos os argumentos ficam sobrando.
A rede escolar espírita é hoje uma realidade concreta e se estende desde o grau mínimo ao grau máximo do ensino, desde o pré-primário até o universitário.
Além dessa propagação, que vai num crescendo irreversível, da escola espírita em todos os graus de ensino, temos os cursos de preparação doutrinárias nas Federações, nos Centros, nos Grupos, nos Hospitais e assim por diante.
Temos ainda os Institutos de Cultura Espírita, que realizam cursos regulares e estão se multiplicando pelo país. A escola espírita não é mais um sonho, uma hipótese, uma utopia –– é uma realidade concreta, social e cultural, que avança para um futuro esplendente.
Alguns observadores menos avisados (seria bom que estivessem avisados da inutilidade da luta contra o progresso) estranham o que chamam de mistura de matérias escolares com princípios espíritas. Esse é mais um grave sintoma de misoneísmo. Revelam assim uma concepção muito estreita do Espiritismo, esquecendo-se de que o próprio Kardec afirmou em A Gênese, respondendo aos que perguntavam porque o Espiritismo veio tão tarde, que isso aconteceu porque ele toca em todos os ramos da Ciências e era preciso que estas se desenvolvessem para que ele surgisse.
A tragédia espírita tem sido essa, desde o tempo do Codificador. Há sempre em nosso meio um certo número de pessoas ilustradas que se revelam incapazes de abranger no seu entendimento as dimensões da doutrina. Empacaram no meio do caminho e não querem avançar nem permitir que os outros avancem. Talvez seja um fenômeno de apego afetivo, com fundas raízes no egoísmo. Querem o Espiritismo somente para elas ou para um reduzido número de eleitos entre os quais figuram. Mas desde que Eurípedes Barsanulfo fundou e dirigiu, com admirável proveito, o Colégio Allan Kardec em Sacramento, lá pelos idos de 1909, ninguém mais conseguiu nem conseguirá deter a marcha da escola espírita. Porque ela corresponde a uma necessidade vital desta fase de transição da vida terrena. É uma exigência da evolução da Humanidade, do progresso da Terra.
Por isso mesmo a Educação é hoje o tema mais importante da atualidade doutrinária. Todos querem progredir, esclarecer-se, orientar seus filhos. E todos sentem, todos sabem que a escola espírita é a única realmente capaz de preparar as novas gerações para a nova era que está surgindo. Só os alérgicos resmungam contra essa maravilhosa vitória do Espiritismo no mundo, contra essa manifestação incontrolável do poder das idéias espíritas –– que tudo arrastam em direção ao futuro. Felizes as novas gerações brasileiras, que dentro em breve poderão formar-se inteiramente nas escolas espíritas, recebendo a educação integral que só elas podem dar, –– sem as deturpações dogmáticas do sectarismo religiosa e sem as deformações pretensiosas do academismo materialista.
Neste Natal devemos agradecer a Jesus a concessão que nos fez, permitindo ao Brasil a graça de ser o país pioneiro da Educação Espírita na Terra. A Argentina já nos acompanha com entusiasmo. No Congresso de Mar Del Prata, no ano passado, o tema central de estudos e debates foi a Educação Espírita, que empolgou as delegações da Confederação Espírita Pan-americana, revelando a unidade continental dos espíritas a respeito. O Congresso, num dos itens das suas conclusões, reconheceu a existência da Educação Espírita em forma institucionalizada. Esse reconhecimento foi feito em face da situação escolar espírita no Brasil e graças à revista Educação Espírita, que leva hoje para o mundo a boa nova das nossas realizações educacionais.
Testemunho de Kardec
Kardec não foi apenas o iniciador da Educação Espírita. Foi também a primeira testemunha da eficácia dessa nova forma de educar. Na Revista Espírita de Fevereiro de 1864, no editorial intitulado Primeiras lições de moral na infância (página 37 da edição brasileira) analisa com exemplos algumas contribuições do Espiritismo para modificar a educação vigente. E afirma: "Ele já prova a sua eficácia pela maneira mais racional por que são educadas as crianças nas famílias verdadeiramente espíritas".
Esse testemunho de Kardec é dos mais significativos por mostrar como toda forma nova de educação é inerente a uma nova concepção do mundo.
Esse é um princípio pacífico em filosofia educacional, mas os leigos no assunto não o conhecem. Por isso, muitas pessoas que falam e escrevem no meio espírita, podendo ser ilustradas em outros setores, chegam a estranhar que se fale em educação espírita, coisa que lhes parece estranha e descabida.
Um pouco de observação lhes mostraria que, sendo a educação o meio de transmissão da cultura, toda alteração fundamental no conhecimento, no saber, terá forçosamente de repercutir na educação.
Por outro lado, esse testemunho de Kardec nos mostra que a Educação Espírita começou bem cedo, na forma tradicional de educação familiar.
Nas famílias espíritas da França de então as crianças já eram iniciadas na maneira nova de ver o mundo que o Espiritismo oferece. O pedagogo e o educador que era Kardec não podia deixar de observar esse fato com alegria. Porque esse fato confirmava, ao mesmo tempo, o valor e a legitimidade da Filosofia Espírita –– pois toda Filosofia, como nos ensinam os mestres, desemboca fatalmente numa Moral, que por sua vez exige uma Educação para transmitir-se às novas gerações.
Formação do novo homem
A tarefa da Educação Espírita é a formação de um homem novo. A Educação Clássica greco-romana formou o cidadão, o homem vinculado à cidade e suas leis, servidor do Império; a Educação Medieval formou o cristão, o homem submisso a Cristo e sujeito à Igreja, à autoridade desta e aos regulamentos eclesiásticos; a Educação Renascentista formou o gentil-homem, sujeito às etiquetas e normas sociais, apegado à cultura mundana; a Educação Moderna formou o homem esclarecido, amante das Ciências e das Artes, céptico em matéria religiosa, vagamente deísta em fase de transição para o materialismo; a Educação Nova formou o homem psicológico do nosso tempo, ansioso por se libertar das angústias e traumas psíquicos do passado, substituindo o confessionário pelo consultório psiquiátrico e psicanalítico, reduzindo a religião a mera convenção pragmática.
Nesse rápido esquema temos uma visão do desenvolvimento do processo educacional e de suas conseqüências. Não pretendemos que seja uma visão perfeita e completa. É apenas um esboço destinado a nos orientar na compreensão do assunto. E vemos que ele pode nos dar uma idéia negativa da Educação, mas se refletirmos a respeito veremos o contrário.
Do homem submisso ao Estado ou a Deus, preso a leis, regras e convenções que o amoldam e desfiguram, avançamos para o homem livre do futuro, responsável por si mesmo, que chega a se revoltar contra o próprio Deus no seu profundo anseio de liberdade, mas sempre em busca da sua afirmação como Ser.
Essa afirmação é a que nos traz o Espiritismo com as provas científicas da sobrevivência e a perspectiva da imortalidade, com a desmitização da morte, com a racionalização do nebuloso conceito de Deus e de suas relações com o homem, com o esclarecimento decisivo do destino do homem e da razão de ser da vida e suas peripécias.
Cabe, portanto, à Educação Espírita formar o homem consciente do futuro, que já começa a aparecer na Terra, senhor de si, responsável direto e único pelos seus atos, mas ao mesmo tempo reverente a Deus, no qual reconhece a Inteligência suprema do Universo, causa primária de todas as coisas.
Não é mais possível educar as gerações novas segundo nenhum dos tipos anteriores de Educação. Daí a rebeldia que vemos nas escolas, a inquietação da juventude, insatisfeita com a ordem social e cultural, ambas obsoletas, em que se encontram.
A Educação Espírita se impõe como exigência dos tempos. Só ela poderá orientar os espíritos para a formação do homem novo, consciente de sua natureza e de seu destino, bem como de pertencer à Humanidade Cósmica e não aos exíguos limites da humanidade terrena.
Só ela pode nos dar, nesse homem novo, a síntese de todas as fases da evolução anterior, numa formulação superior. Porque o homem espírita –– ou o homem consciente –– que essa nova Educação nos dará, será ao mesmo tempo o cidadão, o cristão, o gentil-homem, o homem esclarecido e o homem psicológico, mas na conjugação de todos esses elementos numa dimensão espiritual e cósmica.
Com isso não queremos dizer que toda a Humanidade se converta ao Espiritismo, mas tão somente que os princípios fundamentais do Espiritismo serão as coordenadas do futuro, marcando o âmbito conceptual e ético da nova formação educacional.
Não foi necessário que toda a Humanidade se convertesse ao Cristianismo para que os princípios deste remodelassem o mundo. O mesmo acontecerá com o Espiritismo.
A função da Educação Espírita é portanto a de abrir perspectivas novas ao processo educacional, adaptando-o às necessidades novas que surgiram com o desenvolvimento cultural e espiritual do homem. As escolas espíritas –– como as escolas cristãs o fizeram –– serão os centros dinamizadores da renovação. E a Pedagogia Espírita –– como o fez a Pedagogia Cristã –– orientará a nova concepção educacional que está nascendo em nossos dias.
Por outro lado, correntes avançadas da Pedagogia Contemporânea, como especialmente a do néo-kantismo, representada por Kerchensteiner na Alemanha e René Hubert na França, darão sua contribuição para o desenvolvimento dessa profunda revolução educacional em marcha.
Seria bom, por sinal, que os educadores espíritas procurassem aprofundar-se no estudo do Traité de Pédagogie Générale, de Hubert, que nos parece um verdadeiro monumento de renovação educacional dentro das coordenadas espíritas.
Como vemos, o nascimento da Educação Espírita ainda não se completou. Começando com Kardec, há mais de um século, ainda está se processando em nossos dias. Por isso mesmo, somos todos convocados a participar desse acontecimento espiritual, contribuindo cada qual da maneira que puder para que ele se complete o quanto antes.




Do livro: Pedagogia Espírita

Transfiguração, Multiplicação dos pães, e "Ressurreições" operadas por Jesus



Autor: Therezinha Oliveira

A Transfiguração (Mt. 17 1/8, Mc. 9 2/8 e Lc. 9 28/36. )
Resumamos as narrativas evangélicas:

Jesus levou Pedro, Tiago e João em particular a um alto monte, com o propósito de orar.

Enquanto ele orava:

seu rosto se modificou, resplandecia como o sol;
suas vestes tomaram-se brancas como a luz.
E apareceram Moisés e Elias (ambos já desencontrados) e conversavam os três sobre sua partida, que ele estava para cumprir em Jerusalém.

Explicação espírita do fenômeno
A transfiguração é "uma transformação fluídica, uma espécie de aparição perispirítica, que se produz sobre o próprio corpo do vivo" ; "geralmente é perceptível a todos os assistentes e com os olhos do corpo, precisamente por se basearem na matéria carnal visível". Pode-se dar pela vontade da própria pessoa ou sob influência externa. (Vide Allan Kardec, "A Gênese", cap. XIV, item 39; e a "Revista Espírita" de março de 1859.) Quando orou, Jesus se expandiu perispiritualmente, superpondo ao corpo novo aspecto e apresentando grande irradiação. A luminosidade propagou-se às suas vestes e através delas.

Quanto à presença de Moisés e Elias, foi um fenômeno de materialização (Pedro, Tiago e João eram médiuns de efeitos físicos), que será estudado em aula posterior.

A multiplicação de pães e peixes
Relatam os evangelistas que Jesus por 2 vezes multiplicou pães e peixes para atender à multidão que o seguira até uma região "deserta" (longe de cidades) e ali ficara ouvindo-o e recebendo curas mas, por não se terem munido de alimentos, estavam a ponto de passar fome.

A primeira multiplicação é relatada por Mt, 14 vs. 13/23, Mc. 6 vs. 30/44, Lc. 9 vs, 10/17 e Jo. 6 vs, l/15. A segunda somente por Mt. 15 32/39 e Mc. 8 1/10.

As diferenças entre as duas são pequenas, pois em ambas Jesus:

aproveitou o de que dispunham (alguns pães e peixes) ;
mandou que o povo se assentasse em grupos (ordenou a multidão);
orou (tomando os pães e peixes, ergueu os olhos aos céus e os abençoou);
depois fez a repartição entre os discípulos e estes para o povo;
todos comeram à vontade (milhares de homens, além das mulheres e crianças) ;
e ainda sobraram muitos cestos com pedaços de pão e de peixe, que Jesus mandou recolher para nada se perder.
Como explicar esse fenômeno?
Kardec entende que não houve o fenômeno materialmente ("A Gênese", cap. XV, item 48). A passagem seria simbólica, representando que Jesus "alimentou" espiritualmente a multidão que, magnetizada por sua presença e atenta à sua palavra, nem sentiu a falta de alimento físico. Assim queria Jesus que os discípulos também "alimentassem" o povo, quando lhes disse:

"Não é preciso que se retirem; dai-lhes vós de comer".

Também se pode pensar que, além dos poucos pães e peixes trazidos pelos discípulos, outras pessoas tivessem mais alimentos consigo e, ante o exemplo de doação generosa, acabaram por entregá-los também para a repartição entre todos. Aí, deu e sobrou.

Entretanto, não seria impossível um fenômeno de efeitos físicos, materializando substâncias. Em "O Livro dos Médiuns" (cap. VIII, Do Laboratório do Mundo Invisível), vemos que os espíritos podem não só reproduzir aparência de alimentos mas fazer que essas substâncias materializadas dêem até "a impressão de saciedade", quando ingeridas.

Mas para que teria Jesus realizado um fenômeno de efeitos físicos assim, multiplicando pães e peixes? Talvez com o objetivo de ensinar que precisamos pensar no próximo, no que ele necessita, e ajudar a atender essa necessidade; fazer isso orientando e ordenando o povo, doando o que nos for possível, buscando também o auxílio espiritual (orou antes de multiplicar) e não desperdiçando recursos (mandou recolher o que sobrasse).

Qual foi a repercussão?
Foi grande. A multidão, depois, queria proclamar rei a Jesus.

Mas ele não aceitou. E advertiu a todos: "Trabalhai não pela comida que perece mas pela que permanece para a vida eterna", ou seja, que procurassem assimilar sua mensagem, seus ensinos e exemplos.

Ressurreições
No Velho e no Novo Testamentos, há relatos de ressurreições, isto é, de pessoas que estavam mortas e voltaram a viver.

Como aceitar tais relatos se, à luz da Ciência, fatos assim são impossíveis e também não mais os vemos ocorrer nos dias de hoje?

O que a Ciência constata são casos em que as pessoas sofreram:

morte clínica: com parada cardíaca, perda da respiração, da consciência e dos movimentos; ' - letargia (do latim, letargia): perda momentânea da sensibilidade e do movimento, dando ao corpo aparência de morte real;
catalepsia (do grego, katálepsis): perda momentânea, algumas vezes espontânea, da sensibilidade e do movimento em determinada parte do corpo.
São, os três, estados patológicos ou anômalos. Geralmente a pessoa pode se recuperar deles, em minutos ou dias, havendo as condições e ajuda adequadas.

Explicação espírita de tais estados
Havendo desligamento parcial do perispírito, o espírito deixa de tomar contato, temporariamente, com determinada região do corpo ou no seu todo, porque lhe falta o elemento de ligação com ele.

O desligamento perispiritual pode se dar por causas orgânicas ou espirituais (inclusive por influência de outrem). Mas enquanto os laços fluídicos não se desataram totalmente e o corpo ainda tem vitalidade, sem lesão irreversível nos órgãos, será possível fazer a pessoa retomar ao normal:

restaurando as condições do funcionamento orgânico;
auxiliando fluidicamente (magnetismo humano ou espiritual) ;
estimulando o espírito à ação sobre o corpo;
afastando o espírito perturbador (se houver).
Mas, ao tempo de Jesus, se uma pessoa caísse em estado letárgico não haveria no local um médico que a examinasse e soubesse reconhecer que ela estava viva. (Quase não havia "doutores" na Palestina, naquela época, e muitos dos que assim se consideravam eram rabinos e, às vezes, curandeiros ; conheciam-se poucos remédios genuínos, se bem que se usassem várias ervas medicinais).

Por isso, as pessoas em estado letárgico acabavam sendo consideradas mortas. E como o sepultamento de cadáveres era feito no próprio dia da morte (às vezes de modo imediato: Atos 5, 1/11), podia não dar tempo de a pessoa se recuperar da letargia.

Após estes esclarecimentos, leiamos e analisemos os 3 casos em que Jesus "ressuscitou" pessoas, que foram:

o filho da viúva de Naim (Lc. 7 vs. l1/17);
a filha de Jairo, chefe da sinagoga de Cafarnaum (Lc. 8 40/42 e 49/56) ;
Lázaro (Jo. l 1, 1/45).
Observações:
No caso da filha de Jairo e de Lázaro, Jesus afirma textualmente que a pessoa não está morta mas dorme. Também ocorreria o mesmo quanto ao filho da viúva de Naim.
Jesus orou antes de "ressuscitar" Lázaro; certamente o fez também nas outras vezes mas, ou não foi em voz alta, ou não ficou relatado.
Os discípulos estavam sempre por perto; mas provavelmente se utilizava Jesus dos fluidos de Pedro, Tiago e João (médiuns de efeitos físicos), pois estes apóstolos foram os únicos que admitiu entrassem com ele para fazer a "ressurreição" da filha de Jairo.
Jesus se encaminhou para o túmulo de Lázaro, que "era uma gruta, a cuja entrada tinham posto uma pedra". Esclarece bem o evangelista João, pois o sepultamento, entre os judeus, não era feito sob a terra (como o fazemos atualmente) mas nas rochas, em cavernas naturais ou artificiais, fechando-se a entrada por meio de pedras, para proteger de eventual ataque de animais. Preferiam sepultar em lugares distanciados das habitações, fora dos muros da c idade.
Portanto, apesar de sepultado logo após a sua "morte", Lázaro não estava sob a terra mas numa gruta, com oxigenação suficiente para sobreviver ao estado letárgico em que caíra.
"Senhor, já cheira mal, porque já é de quatro dias", disse Marta, irmã de Lázaro, quando Jesus mandou removessem a pedra da entrada do sepulcro. Era o que Marta pensava mas não a realidade, pois Lázaro não morrera, e seu corpo, em estado letárgico, não estava em decomposição.
Nos três casos, Jesus falou diretamente à pessoa para que se levantasse. Em espírito, podiam ouvi-lo e agir sobre o corpo, após haverem recebido a ajuda fluídica de Jesus. No caso da menina, Lucas diz expressamente: "voltou-lhe o espírito" (quer dizer que estava afastado) e então "ela imediatamente se levantou".
(Vide "O Livro dos Espíritos", 2a parte, cap. VIII, pergs. 422/424 e "A Gênese", cap. XV, itens 37 a 40.) Por mais admirável que a "ressurreição" física nos pareça, ela é de efeito temporário, pois um dia o "ressuscitado" terá de desencarnar mesmo.

Que haverá "ressurreição" espiritual para todos nós, além da morte do corpo, é verdade, pois continuaremos a viver em espírito. Porém, em que estado despertaremos nesse além? Felizes ou infelizes, conforme nossos pensamentos, sentimentos e ações.

Que mais nos importa, então? É a "ressurreição" moral, o despertamento nosso em espírito, para sairmos da "morte espiritual" (erro, inércia, vício, usura, etc.) na direção da vivência correta e plena de nossas potencialidades espirituais.

Madrugada Exuberante



Autor: Amélia Rodrigues (espírito)

A noite esplendente de círios estrelares banhava-se de suave luar, que se refletia sobre as águas tranqüilas do mar espelho.

O dia havia sido caracterizado por amena temperatura, enriquecido simultaneamente por incontáveis emoções.

Sucediam-se as experiências no convívio com as massas humanas, incessantes, com suas aflições que recordavam ondas contínuas espraiando-se nas areias imensas salpicadas de seixos e conchas variadas.

O hinário da Boa Nova era cantado na região por quase todas as bocas, mas, as interpretações variavam de acordo com as necessidades de cada qual.

Tinha-se a impressão que os Céus haviam descido à Terra e se fundiram umas nas outras as canções de amor e os lamentos clamorosos, que logo após silenciaram suas vozes desesperadas.

Jesus constituía, sem dúvida, o divisor das águas e daqueles dias turbulentos...
Os discípulos haviam acompanhado o Mestre durante o aconselhamento à uma desesperada mãe, que Lhe buscara o socorro, face à perda do filho amado que o anjo da morte arrebatara.

O desespero da suplicante logo se transformara em tranqüila e dúlcida alegria que lhe colocara luz brilhante nos olhos antes amortecidos pela aflição.

Como a morte sempre era temida e certamente detestada, utilizando-se da noite harmoniosa, na qual o Amigo parecia aguardar as inquietações dos discípulos, sentado diante do mar ornado da luz da lua, musicada pelos ventos suaves e pelo espreguiçar das vagas macias nas areias úmidas, formou-se o grupo gentil, cujo silêncio foi quebrado pela voz de João, o jovem que O amava com arrebatamento.

Havia uma doce magia no ar, que bailava no velário das sombras salpicadas de pingentes de prata...
— Como entender a morte, Mestre querido – indagou o discípulo ansioso – que sempre nos ameaça e apavora? Ante a sua inexorável fatalidade, nossos dias perdem a cor e a beleza, quase tirando-nos a razão de existir. Como entender a hedionda mensageira da sombra?

O nobre Guia desenhou tranqüilo sorriso na face banhada pelo argênteo luar, e respondeu com doçura:
A morte não é mensageira da sombra, nem do pavor, mas a missionária da vida imperecível. É a incompreendida intermediária entre Deus e os seres sencientes, encarregada de reconduzir os homens ao verdadeiro lar, após terem encerrado os seus compromissos na escola terrestre. Suavemente ou mediante ação abrupta, sem agressão nem receio, convoca reis e vassalos, mendigos e poderosos, crianças e anciãos, sadios ou enfermos ao despertar do sono fisiológico, fazendo-os volver ao país da consciência desperta, ao Grande Lar.
Portadora de alta responsabilidade, apresenta-se com a mesma nobreza a todos os seres, desvestindo-os das pesadas roupagens da ilusão, para a vivência da realidade inevitável. Sem o seu árduo trabalho a vida não teria qualquer sentido e o corpo se decomporia durante a existência, que se alongaria sem limite com tormentos inimagináveis... Para uns, todavia, é a misericórdia que chega em momento máximo, para outros, trata-se da libertação do cativeiro. Alguns a tomam como cruel inimiga, enquanto diversos a odeiam com rebeldia. Não obstante, impávida, faz-se instrumento da Vida para a grandeza do ser indestrutível.

— E o sofrimento, Senhor, que ela impõe – voltou, à carga, o discípulo receoso -, não dilacera a alma daqueles que ficam?! Morrer, afinal, dói?

O incomparável Benfeitor alongou o olhar pela noite feliz, e após breve reflexão, elucidou:

— A Casa de meu Pai tem infinitas moradas. Cada flor de luz que brilha ao longe é um pouso feliz que nos aguarda após vencidas as batalhas terrenas. Para alcançá-lo é necessário descer aos vales humanos nas roupas densas da matéria, a fim de tecer as delicadas asas de luz que nos erguerão aos seus planos quase divinos. Sem a morte compassiva e misericordiosa, isso não seria possível. Passo a passo, o viajante vence as distâncias no mundo físico. Da mesma forma, graças à morte-vida, à vida-após-a-morte desaparecem os abismos que medeiam entre os sublimes lares que voam na amplidão e a pequenina Terra onde nos encontramos.
Silenciando novamente por breves segundos, com específica entonação de voz, prosseguiu:

— Morrer não dói. O desprendimento é suave para os justos e inquietante para aqueles que são portadores de consciência culpada. O trânsito que leva à liberdade entre o cárcere e o horizonte largo, sem barreira, é sempre rico de expectativa e não de sofrimento. A marcha, porém, de cada qual, é resultado da conduta vivenciada no período do cativeiro. Quem considera o corpo como a única realidade, sofre decepção e angústia, medo de o abandonar e apego à forma em decomposição, fenômeno que se alonga por largo período, enquanto dure a alucinação. No entanto, quem o utilizou como educandário de iluminação para o espírito, deixa-o, qual borboleta ditosa que abandona o casulo pesado para flutuar na leve brisa do dia... A morte após o dever cumprido transforma-se em madrugada iridescente, que é o pórtico da imortalidade ditosa, onde o amor inunda o recém-liberto de alegria, sem dor nem saudade da caminhada terrestre.
É necessário viver de maneira que a morte lhe signifique prosseguimento, sem qualquer interrupção, conduzindo o ser no rumo da plenitude, da paz inefável.

Fez novo silêncio repassado de emoção, que igualmente dominava os ouvintes, logo dando continuidade:
— Eu vim para que todos tenhais vida em abundância no meu reino, que se amplia além das fronteiras da morte. Sem ela, não o alcançareis. Superando os desafios e vencidas as paixões, o ser se sutiliza e passa a habitar em mundo feliz, sem angústia ou ansiedade alguma.... A fim de o conseguir, torna-se indispensável que o amor e o dever diluam as sombras da ignorância que encarceram nas masmorras da carne o desavisado, sem permitir-lhe os vôos libertadores que anela realizar.

Quando se calou, os amigos tinham lágrimas que não se atreviam a descer da comporta dos olhos. Saudades de seres amados e gratidão pelo que lhes haviam oferecido, esperanças de vitórias futuras sobre as pesadas algemas dos desejos, das falsas necessidades e sonhos de felicidade, mesclavam-se nos seus sentimentos, e eles entenderam que o corpo é meio, é veículo de condução, mas o Espírito é o imperecível instrumento do Pai Criador, que nos aguarda nos penetrais do Infinito, e que a morte libera da injunção penosa.

A noite harmônica e perfumada, então dominada pelo lucilar dos astros e as ânsias da Natureza, insculpiu no ádito daqueles corações a mensagem da imortalidade, enquanto o Mestre os preparava para a madrugada resplandecente do futuro reino dos Céus.

Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco em 2001, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.
(Jornal Mundo Espírita de Junho de 2001)

Transformação Interior e o Mundo de Regeneração

Transformação Interior e o Mundo de Regeneração

Autor: Manoel Philomeno de Miranda (espírito)

“A fim de que o mundo se transforme é necessário que haja a modificação do ser humano para melhor, por ser a célula máter da sociedade. Enquanto mantiver a enfermidade espiritual resultante do atraso evolutivo, nenhuma força externa conseguirá alterar a marcha moral do planeta, desde que os seus habitantes recusem-se à transformação interior.
Os momentos que vivemos são de esforço autoiluminativo, graças às revelações que descem à Terra com maior frequência e às informações seguras em torno do processo de mudança, oferecendo a visão do futuro que a todos nos espera.
As lições do Mestre de Nazaré, desde há dois mil anos, convocam-nos ao procedimento moral correto, à convivência pacífica e ao cumprimento dos deveres de solidariedade e apoio aos que se encontram na retaguarda da ignorância, ou sofrendo os necessários fenômenos de recuperação pela dor, mediante os testemunhos, através das experiências aflitivas...
Cada um deve preparar-se para acompanhar a marcha do progresso, integrando a legião dos construtores do novo período da Humanidade. Anunciado por Jesus esse período de transição, tanto como referendado pelo Apocalipse, narrado por João evangelista e os profetas que se manifestaram a esse respeito ao longo da História, chega o momento de cumprir-se os divinos desígnios que reservam para a Terra generosa o destino regenerador, sem as marcas do sofrimento na sua feição pungitiva e desesperadora.
As forças do mal, porém, teimam em manter o quadro atual de desolação, ao lado dos abusos de toda ordem, porque pretendem continuar explorando psiquicamente os incautos que se lhes vinculam através dos hábitos doentios em que se comprazem na ilusão material.
A morte inevitável, porém, a todos arrebata, e quando despertam no além-túmulo, estorcegam na realidade, lamentando os equívocos e necessitando de oportunidade para reparação. Esse não mais se dará no planeta Terra, que deixará de ser de provas, mas em outro de natureza inferior, onde se deverá expungir a maldade e a falência moral em situação muito mais aflitiva e mais amarga."


Psicografia de Divaldo Franco


Livro: Amanhecer de uma nova era

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 43

 
 
 

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 42

 
 
Bater às portas, estimulados pelo progresso, é o nosso dever, porém, abri-las, compete a Deus, que nos dirige e sustenta todos. Quando queremos saber o indecifrável, surgirá uma trégua para que possamos pensar, porque a meditação colocar-nos-á na medida de compreendermos até onde podemos especular os segredos da divindade. É para tanto que queremos falar sobre as possibilidades dos conhecimentos, até onde eles poderão auxiliar no serviço do bem. A verdade que não suportamos poderá estragar nosso ânimo e desviar o nosso roteiro dos conhecimentos mais puros sobre todas as coisas. É como nos diz Paulo de Tarso, quando se refere às crianças espirituais: "Quando eu era criança, tomava alimento de criança, quando passei a adulto, mudei de alimento". O alimento da verdade segue esse mesmo trajeto. O Espírito, quando está preparado, recebe uma verdade mais pura, por suportar essa verdade.
A idade da formação dos mundos se encontra distante do entendimento humano, porque foge ao tempo e ao espaço, escapa à matemática terrestre e alcança as equações espirituais, na simplicidade pura, dentro da conjuntura divina. Os homens formaram uma micro-contagem, porque a sua vida gira dentro de acanhadas condições em que eles . suportam viver. Esses acanhados recursos não poderão atingir os valores maiores, circunscritos à Criação Maior. Todos já sabem que as formas são aglomerações de energias, e que a energia disseminada no espaço é de segregação da matéria - são como que os dois tempos de respiração da Divindade, tempo esse incontável e inconcebível pelos processos humanos. Todos os cálculos são falhos, porque com o tempo são renovados. E o mesmo caso das teorias que a prática sempre desmente. No entanto, são caminhos que deves percorrer, que assinalam uma necessidade de aprendizado, um princípio do saber que Deus favorece aos homens, no alvorecer do despertamento espiritual.