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domingo, 16 de dezembro de 2012

Considerando a Obsessão

Manoel Philomeno de Miranda (espírito)
Com etiologia muito complexa, a alienação por obsessão continua sendo um dos mais terríveis flagícios para a Humanidade.
Não significando a morte o fim da vida, antes o inicio de nova expressão de comportamento, em que o ser eterno retorna ao Mundo Espiritual donde veio, a desencarnação liberta a consciência que jazia agrilhoada aos liames carnais, ora desarticulando, ora ampliando as percepções que melhor se fixaram nos painéis da mente, fazendo que o ser, agora livre do corpo físico, se revincule ou não aos sítios, pessoas ou aspirações que sustentou durante a vilegiatura carnal.
O amor, por constituir alta aspiração do Espírito, mantêm-no em comunhão com os objetivos superiores que lhe representam sustento e estímulo, na marcha do progresso. Assim, também, o ódio e todo o seu séqüito de paixões decorrentes do egoísmo e do orgulho, reatam os que romperam os grilhões da carne àqueles que foram motivo das suas aflições e angústias, especialmente se se permitiram guardar as idéias e reações negativas equivalentes.
Sutilmente a princípio, em delicado processo de hipnose, a idéia obsidente penetra a mente do futuro hóspede que, desguardado das reservas morais necessárias à manutenção de superior padrão vibratório, começa a dar guarida ao pensamento infeliz, incorporando-o às próprias concepções e traumas que vêm do passado, através de cujo comportamento cede lugar à manifestação ingrata e dominadora da alienação obsessiva.
Vezes outras, através do processo da agressividade violenta, com que a indução obsessiva desorganiza os registros mentais da alma encarnada, produz-se o doloroso e lamentável domínio que se transforma em subjugação de longo curso.
Noutras oportunidades, inspirando sentimentos nefastos, latentes ou não no paciente desavisado, os desencarnados em desdita nele instalam o seu baixo teor vibratório, logrando produzir variadas distonias psíquicas e emocionais, que o atormentam e desgovernam, graças à inditosa dependência em que passa a exaurir-se, a expensas da vontade escravizante do hóspede que o encarcera e aflige...
Pululam por toda parte os vinculados gravemente às Entidades perturbadoras do Mundo Espiritual inferior.
Obsidiados, desse modo, sim, somos quase todos nós, em demorado trânsito pelas faixas das fixações tormentosas do passado, donde vimos para as sintonias superiores que buscamos.
Muito maior, portanto, do que se supõe, é o número dos que padecem de obsessões, na Terra.
Lamentavelmente, esse grande flagelo espiritual que se abate sobre os homens, e não apenas sobre eles, já que existem problemas obsessivos de várias expressões, como os de um encarnado sobre outro, de um desencarnado sobre outro, de um encarnado sobre um desencarnado e, genericamente, deste sobre aquele, não tem merecido dos cientistas nem dos religiosos o cuidado, o estudo, o tratamento que exige.
Antes, vinculados a preconceitos injustificáveis, os cientistas e religiosos se entregavam à indiferença, quando não à perseguição sistemática aos portadores de obsessões, acreditando que, ao destruírem as vítimas de tão grave enfermidade, aniquilavam a ignorada causa do problema...
Aliás, ainda hoje, a situação. é idêntica, variando, apenas, na forma de encarar a questão.
Mesmo as modernas Ciências, que se preocupam em conhecer profundamente a psique humana, colocam, a priori, os problemas obsessivos à margem, situando-os em posições muito simplistas, já que os seus pesquisadores se encontram atados a raciocínios e conclusões de fisiologistas e psicólogos do século passado, que se diziam livres de qualquer vinculação com a alma...
Repontam, é verdade, aqui e ali, esforços individuais, tentando formular respostas claras e objetivas às tormentosas interrogações da afligente quão severa problemática, logrando admitir a possibilidade da interferência da mente desencarnada sobre o deambulante do escafandro orgânico.
Terapêutica salutar, porém, para a magna questão, é a Doutrina Espírita. Não apenas como profilaxia, mas, ainda, como terapêutica eficiente, por assentar as suas lições e postulados nos sublimes ensinamentos de Jesus-Cristo, com toda a justiça cognominado “O Senhor dos Espíritos”, graças à sua ascendência, várias vezes demonstrada, ante as Entidades ignorantes, perturbadoras e obsessoras.
A Allan Kardec, o ínclito Codificador do Espiritismo, coube a tarefa de aprofundar sondas e bisturis no organismo e na etiologia das alienações por obsessão, projetando luz, meridiana sobre a intricada enfermidade da alma. Kardec não somente estudou a problemática obsessiva, como também ofereceu medidas profiláticas e terapêutica salutar, firmado na informação dos Espíritos Superiores, na vivência com os obsidiados, como pela observação profunda e meticulosa com que elaborou verdadeiros tratados de Higiene Mental, que são as obras do Pentateuco Espírita, esse incomparável monólito de luz, que inaugurou era nova para a Ciência, para a Filosofia, tornando-se o Espiritismo a Religião do homem integral, da criatura ansiosa por religação com o seu Criador.
Diante de qualquer expressão em que se apresentem as alienações por obsessão ou em que se manifestem suas seqüelas, mergulhemos a mente e o coração no organismo da Doutrina Espírita, e, procurando auxiliar o paciente encarnado a desfazer-se do jugo constrangedor, não olvidemos o paciente desencarnado, igualmente infeliz, momentaneamente transformado em perseguidor ignorante, embora se dizendo consciente, mas sofrendo, de alguma forma, pungentes dores morais.
Concitemos o encarnado à reformulação de idéias e hábitos, à oração e ao serviço, porquanto, através do exercício da caridade, conseguirá, sensibilizar o temporário algoz, que o libertará, ou granjeará títulos de enobrecimento, armando-se de amor e equilíbrio para prosseguir em paz, jornada a fora.
... E em qualquer circunstância procuremos em Jesus, Mestre e Guia de todos nós, o amparo e a proteção, entregando-nos a Ele através da prece e da ação edificante, porque somente por meio do amor o homem será salvo, já que o amor é a alma da caridade.
Obsessões e obsidiados são as grandes chagas morais dos tumultuados dias da atualidade. Todavia, a Doutrina Espírita, trazendo de volta a mensagem do Senhor, em espírito e verdade, é o portal de luz por onde todos transitaremos no rumo da felicidade real que nos aguarda, quando desejemos alcançá-la.
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, na sessão pública da noite do dia 13-11-1976, no Centro, Espírita “Caminho da Redenção”, em Salvador, Bahia).
Reformador – maio de 1977

As Obsessões nos Evangelhos

Paulo Alves de Godoy
"E quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares secos, buscando repouso; e, não o encontrando, diz: Tornarei para minha casa, aonde sai.
E chegando, acha-a varrida e adornada. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele entrando, habitam ali, e o último estado desse homem é pior do que o primeiro."
Lucas,11:24-26"
As páginas dos Evangelhos estão repletas de passagens as obsessões espirituais, sobejamente abordadas nas obras básicas do espiritismo.
Os versículos evangélicos que ensinam esta página, são decisivos da convocação dessa assertiva, representando uma ilustração típica feita por Jesus-Cristo sobre os casos de obsessão: Um espírito obsessor foi afastado de um homem e levado para o umbral ou para um plano espiritual compatível com seu estado vibratório. Andando por lá e não achando consolo, decidiu-se a voltar para as proximidades da criatura de quem foi afastado. Ali chegando, notou com surpresa, que o antigo perseguido não havia se moralizado, não havia tomado nova diretriz e permanecia distanciado do Bem, deixando, como decorrência, a porta aberta para a volta do perseguidor. Este, por sua vez, não contentou em voltar sozinho; foi e arranjou sete espíritos piores do que ele. Sob a influência dessa legião do mal, o estado do antigo perseguido se agravou, tornando-se muito pior do que antes.
É questão pacífica que todos os seres humanos, quando encarnam, assumem encargos para com a justiça Divina e, para que tenham sucesso no novo aprendizado torna-se imperioso que levem uma vida pautada nos moldes rígidos da moral e do equilíbrio desincumbindo-se, pelo menos parcialmente, daquilo que se comprometeram realizar.
A falta de satisfação dos compromissos assumidos, acarreta enfermidades que são autênticos avisos salutares para o espírito encarnado. De um modo geral, essas advertências se traduzem em perseguições espirituais sob a forma de obsessão, que persiste, diminui de intensidade ou cessa completamente, dependendo do rumo que o obsediado emprestar à sua vida.
Se o antigo perseguido decide-se a persistir na senda do erro, mergulhando-se na imoralidade, estará abrindo de par em par, as portas para a volta do obsessor, que retorna com fúria desdobrada, trazendo em sua companhia outros espíritos inferiores que passam a formar uma "legião", cuja ação nefasta faz com que a situação do obsediado se torne muito pior do que antes.
O homem, assoberbado por cogitações de ordem puramente material, esquece-se dos seus deveres mais fundamentais no campo da espiritualização, enveredando por caminhos dúbios que levam ao descalabro moral e fazem com que se torne dócil instrumento de espíritos que brilham pela falta de escrúpulo, não trepidando em contribuir decididamente para que seu perseguido se chafurde no lamaçal do erro e dos vícios.
Nos Evangelhos deparamos com a narração de vários casos de obsessões espirituais:
Em Lucas, 8:2, observamos que "algumas mulheres foram curadas de espíritos malignos e enfermidades, dentre elas Maria Madalena, de quem o Mestre expeliu sete espíritos imundos";
Marcos, 5:7-9, relata que um homem gadareno vivia assediado por espíritos obsessores. Quando Jesus se aproximou dele, passou a clamar com grande voz: "que tenho eu contigo, Jesus, Filho de Deus Altíssimo? conjuro-te por Deus que não me atormentes." O Mestre, após ordenar que o espírito imundo saísse do homem, perguntou-lhe: "Qual é o teu nome? E ele respondeu, dizendo: Legião é o meu nome; porque somos muitos.
Segundo a descrição de Lucas, 9:38-42, um homem que tinha um filho atormentado por espírito maligno, dirigindo-se ao Messias, pediu: "Mestre, peço-te que olhes para meu filho, porque é o único que tenho. Eis que um espírito o toma, e de repente clama, e o despedaça, até espumar; e só o larga depois de o ter quebrantado. E roguei aos teus discípulos que o expulsassem, e não o puderam. E Jesus, respondendo, disse: ö geração incrédula e perversa! até quando estarei ainda convosco e vos sofrerei? Traze-me cá o teu filho. E quando vinha chegando, o espírito o derribou e convulsionou; porém Jesus repreendeu o espírito imundo, e curou o menino."
Existem muitos outros casos nos Evangelhos, tais como o do servo do centurião, da filha da mulher cananéia, da mulher paralítica, descrita em Lucas 13:10-17, sem falar no assedio dos espíritos inferiores no sentido de que os apóstolos Pedro e Paulo fossem frustrados em suas missões, conforme narrações contidas em Lucas, 22:31-34:
Disse Jesus a Pedro: "Simão, Simão, os espíritos das trevas vos pediram para vos cirandar como trigo; Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos."
E na II Epístola aos Coríntios, 12:7-8, quando Paulo afirma: "E para que me não exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de "satanás" para me esbofetear, a fim de me não exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim."
Os casos de Maria Madalena e do Possesso Gadareno se enquadram melhor no ensinamento que serve de tópico para está página. é obvio que Madalena para ter chegado ao ponto de ter sete espíritos obsessores atormentando-a como autêntica legião, deve ter passado pelas fases mais brandas da obsessão, quando o obsediado recebe toda a sorte de advertências e amparo espirituais ( É a fase quando o espírito imundo tem saído, anda por lugares secos, buscando repouso). Dando de ombros a esses avisos salutares, o obsediado entra na fase mais aguda (quando o espírito achando a casa varrida e adornada, vai e leva consigo outros espíritos piores do que ele).
O Clarim Nº 15 de novembro de 1971

Os "obsessores", gente como a gente."(...)Creio que é em Emmanuel que a gente lê que o ódio é o amor que enlouqueceu.."

Os "obsessores", gente como a gente

Hermínio C. Miranda
Qualquer abordagem à complexa problemática da obsessão deve começar, a meu ver, com uma atitude preliminar de humildade e amor fraterno. Ainda que isto possa parecer mera pregação com um toque de falsa modéstia, não é nada disto. A humildade constitui ingrediente indispensável a qualquer tarefa de natureza mediúnica, dado que é ainda bastante limitado o conhecimento dessa preciosa faculdade humana. Temos de nos apresentar diante da tarefa com a honesta intenção de aprender com o seu exercício, ainda que, paradoxalmente, munidos de todo o conhecimento teórico que for possível adquirir previamente. Quando a gente pensa que já sabe tudo sobre mediunidade, eis que ela se revela sob aspectos que ainda não tínhamos percebido ou apresenta facetas desconhecidas e aparentemente inexplicáveis. É como se cada sessão tivesse uma espécie de individualidade diferente de todas as demais, ainda que semelhante em suas características básicas. tal como as pessoas, ou seja, tão iguais umas com às outras e, ao mesmo tempo, tão diferentes.
E por falar em pessoas, vamos colocar a segunda preliminar, a de que o trato com a obsessão deve ser iluminado pelo amor fraterno. Por uma razão tão simples e óbvia que parece infantil, mas que se põe como de vital importância para o bom êxito do trabalho pretendido, ou seja, a de que os espíritos são gente como a gente. E gente que sofre e que, portanto, precisa de compreensão e paciência. São pessoas em conflito consigo mesmas e, portanto, com outros, com o mundo, com a vida , com Deus e com o próprio amor. Creio que é em Emmanuel que a gente lê que o ódio é o amor que enlouqueceu.. É verdade e tanto é verdade que mesmo este amor enlouquecido ainda é amor; como temos tido oportunidade de observar tantas vezes.
Lembro-me de um caso desses em que foi por esse caminho que encontrei o acesso que buscava ao coração do manifestante enfurecido daquela noite. Sua desesperada indignação dirigia-se a uma mulher que, aparentemente, manipulara impiedosamente suas emoções no passado. Chegara para ele a hora da vingança e ele a exercia com toda a força de seu ódio, tentando convencer-se de que o fazia com o maior dos prazeres. Agora, sim, tinha-a em seu poder! Sustentava-se no rancor secular e era isso mesmo que ele dizia. Sem aquele ódio, não seria nada nem ninguém, pois aquilo acabara constituindo a razão de ser de sua existência. Em situações como essa, o ódio e o ilusório prazer da vingança funcionam como biombos atrás dos quais a gente esconde, pelo menos por algum tempo, as próprias frustrações e procura abafar a voz incorruptível da consciência. Enquanto procuramos cobrar faltas cometidas contra nós, esquecemos dos nossos crimes e afrontas à lei divina.
Esse era o cenário e esse era o drama que tínhamos diante de nós. Que estava ele na posição de um obsessor, estava. Não se importa se assim o considerássemos. A vingança, no seu entender, era direito que ninguém poderia contestar-lhe. "Ela não errou? A lei não diz que somos todos responsáveis pelos atos que praticados? E não diz mais que quem fere com a espada, com a espada será ferido? Esta aí no seu evangelho!", dizem os vitoriosos. "Ela é uma peste. Você nem imagina como aquela mulher é ruim! E agora que estou aqui, cobrando minha parte, vem vocês com peninha dela! E sabe de uma coisa? Não se meta nisso não. O caso é comigo. Deixa que eu resolvo!"
Esse é o tom. Como fazê-lo mudar, não apenas o discurso, mas o procedimento, a maneira de avaliar a situação e de redirecionar suas emoções em tumulto? E perguntam, às vezes: "Você não acha que eu tenho razão?" Até que sim, se examinarmos o problema na estreiteza do seu contexto pessoal. É compreensível o rancor, gerado por uma dolorosa decepção com a pessoa em quem confiou e à qual entregou seu próprio coração e até sua vida. Mas esse espaço mental é exíguo demais para se colocarem todos os dados do problema. A vida não é uma só, a lei não é punitiva, mas educativa, e, acima de tudo, não há sofrimento inocente, a não ser nos grandes lances do devotamento ao próximo, nas tarefas missionárias. Por outro lado, se a lei permite ou tolera a vingança, embora não a aprove jamais, é porque aquele que erra se expõe à correção. Os obsessores mais experientes, sabem que somente conseguem cobrar aquilo que têm como crédito pessoal, precisamente porque, segundo ensinou o Cristo, o "pecador se torna escravo do pecado" e não sai de lá enquanto não pagar até o último centavo, ou seja, enquanto restar um reclamo na sua própria consciência. Não é preciso que ninguém cobre, mesmo porque a dívida é com a lei, representada em cada um de nós no silêncio da intimidade, mas o vingador não quer saber de tais sutilezas.
Todo aquele que se expõe ao duro retorno do reajuste pode estar certo de haver-se atritado com alei anteriormente. A conclusão lógica e inescapável é a de que, quando o nosso querido passou pelo dissabor de uma traição ou do abandono, estava na fase de retorno, na sofrida simetria de seus equívocos anteriores. Isto, porém, nunca estamos prontos para admitir quando nos encontramos na dolorosa postura do obsessor. Achamos, então, que esta é a nossa vez. Que perdão, nada! Sempre que perdoei me dei mal, costumam dizer. Vence, no mundo, aquele que grita, impõe e domina, não o que abaixa cabeça e marca a si mesmo com o carimbo da covardia.
Em suma: o nosso querido obsessor não era diferente de nenhum de nós, ainda prisioneiros de paixões milenares que repercutem e ecoam de século em século e vão aos milênios. É um ser humano, uma pessoa, gente como a gente. O que ele deseja, embora nunca o admita espontaneamente, é que tenhamos paciência para ouvi-lo, compreendê-lo, cuidar da sua dor, ainda que, conscientemente, também não a reconheça. Por isso após todo o seu catártico destampatório, ele se mostrava convicto de estar coberto de razão e, por isso, vitorioso no seu valente debate com o grupo. Só nesse ponto, contudo, tinha alguma condição para nos ouvir. Até então fora dono absoluto da palavra, dos argumentos, da indignação, da situação, enfim. Ele perseguia a moça porque queria e porque podia fazê-lo e estamos conversados.
Estava, portanto, dando a conversa por encerrada e pronto para retomar logo sua tarefa de ficar à espreita da sua vítima, como o gato que vigia o rato, no preciso e curioso dizer de Kardec.
É nesses momentos, contudo, que a inspiração parece funcionar melhor e, por isso, nosso doutrinador comentou, como quem apenas dá conta de um fato óbvio por si mesmo: "Isto tudo quer dizer, então, que você ainda a ama, não é? Recuperado do momentâneo aturdimento, ele teve a honestidade e a bravura de reconhecer que sim, ainda a amava, a despeito de tudo. Tínhamos chegado, afinal, ao seu coração, ao âmago da sua angústia, ao núcleo de suas dores e até de suas esperanças. E mais uma vez tínhamos diante de nós não um implacável obsessor convencido do seu legítimo direito de cobrar uma falta cometida contra si mesmo, mas um ser humano igualzinho a nós, sofrido, solitário, perdido na sua dor, mas principalmente, no seu ódio que, afinal de contas, não passava de um grande e inesquecível amor enlouquecido. Pois não é isso mesmo que aconteceu com a gente? Ou já aconteceu? Não é um irmão(ou irmã) que ali está ansioso, na secreta esperança de que consigamos, afinal, convencê-lo de que ele ainda a ama? Por isso sempre digo a eles , e a mim também, que amar é um estranho verbo, porque não tem passado. Você não diz que amou alguém. Se amou mesmo, de verdade, então continua amando. Mário de Andrade dizia que amar é verbo intransitivo e tinha razão, mas é também defectivo, porque não se conjuga em tempo passado. O amor é para sempre. Por isso, também dizia Edgar Cayce que o amor não é possessivo, ele apenas é. Claro, ele é da essência de Deus e, portanto, do ser, isto é, de todos nós. E ser é verbo e é substantivo.
Foi por essas e outras que acabei descobrindo que o amor é também da essência da tarefa dita desobsessão e que prefiro conceituar como diálogo com atormentados companheiros de jornada evolutiva que, eventualmente, estejam vivendo dolorosos papéis de obsessor. Quem não se sentir em condições pessoais de ver no chamado obsessor uma pessoa humana como a gente mesmo, então deve dedicar-se a outra tarefa no grupo. A seara é imensa, não falta trabalho para ninguém. Já alertava o Cristo, ao seu tempo, que era necessário orar para que o Pai mandasse mais obreiros, sempre escassos e insuficientes. Com a sua deslumbrante lucidez, Paulo explicou para a posteridade as inúmeras tarefas à nossa disposição em qualquer grupamento humano que se propõe a servir ao próximo. É só ler, para recordar, os capítulos 12, 13, 14 da sua Primeira Epístola aos Coríntios, e que constituem o primeiro "Livro dos Médiuns" do cristianismo. Aqueles que desejarem devotar-se ao trabalho gratificante da desobsessão que leiam de maneira especial, demorada e meditada, o capítulo 13, no qual o tema tratado é o da caridade, ou seja, o amor atuante.
Por tudo isso e mais o que não ficou dito, entendo que , na tarefa chamada de desobsessão, o ingrediente básico é o amor, que sempre saberá como encontrar o que dizer ao ser humano que temos diante de nós na mesa mediúnica. Doutrinação é palavra inadequada para caracterizar esse trabalho. Que teria eu a ensinar ao companheiro ou à companheira que comparece ao grupo mediúnico? Não há como ensinar pontos doutrinários teóricos a quem está vivendo a realidade, que conhecemos mais pelo estudo do que pela vivência. Eis porque costumo dizer que muito pouco ou quase nada tenho ensinado às pessoas desencarnadas que comparecem aos nossos trabalhos mediúnicos. Em compensação, devo a todos eles ensinamentos preciosos, recortados diretamente das páginas pulsantes da vida. E por isso, nunca saberia expressar toda a minha gratidão pela oportunidade que me foi concedida de trabalhar junto dos queridos "obsessores".

Entrevista com Divaldo Franco - Segunda parte



O Consolador – Em suas viagens pelos continentes, qual foi a situação que mais marcou sua vida?
As situações que mais me marcaram nas diferentes viagens ao exterior foi sempre poder constatar que nunca nos encontramos a sós. Em momentos muito difíceis em países onde o Espiritismo era totalmente desconhecido, não falando o idioma local, sempre fui inspirado a tomar as decisões acertadas, equacionadas as dificuldades momentâneas que me constituíam desafios. Jamais me faltou esse concurso dos Espíritos superiores, que me proporcionaram divulgar a Doutrina Espírita com dignidade nos mais variados pontos do planeta, deixando sempre marcas positivas, espaços abertos para os que chegaram ou se apresentarão depois.

O Consolador – Temos visto muitas prá-ticas nas casas espíritas que causam depen-dência entre os freqüentadores e trabalha-dores, com hábitos desnecessários e muitas vezes místicos. A tolerância fraternal nos so-licita compreender o estágio de instituições e confrades, uma vez que nós mesmos dela também temos necessidade. Devemos dizer a esses companheiros sobre a inutilidade de algumas práticas que possamos presenciar ou nos dedicarmos simplesmente a divulgar o correto Espiritismo?
Acredito que ambas as formas estão corretas. No entanto, considero que o amor que devemos dedicar à Doutrina esteja acima das conveniências decorrentes das amizades e escrúpulos na abordagem das dificuldades que permeiam o nosso Movimento. Não raro, tais comportamentos inadequados que notamos em diversas casas espíritas são frutos da ignorância, do atavismo ancestral herdado de outras religiões, que são incorporadas às práticas espíritas. Desse modo, conversando com lealdade e em particular com os diretores da instituição, a nós nos cumpre o dever de orientar corretamente, apresentando a pulcritude do Espiritismo, de forma que sejam eliminados esses comportamentos doentios.

Como existem também aqueles indivíduos que se acreditam portadores do conhecimento integral e não aceitam a contribuição dos outros, ajamos conforme nos recomenda a consciência espírita, sem nos preocuparmos com as reações que venham a ocorrer. Como a nossa preocupação não deve ser a de agradar, mas a de esclarecer espiriticamente as criaturas, não receemos em ser leais à Codificação, mesmo quando tenhamos que pagar o ônus da incompreensão dos menos preparados doutrinariamente...

O Consolador – Muitos centros incen-tivam estudos intensos sobre romances e outras obras ditas como complementares em detrimento das obras da Codificação espírita. Que conseqüências doutrinárias esse comportamento poderá acarretar?
O dever básico do centro espírita é divulgar a doutrina conforme no-la ofereceu o egrégio Codificador nas obras básicas e na Revista Espírita entre janeiro de 1858 a março de 1869. O estudo do Espiritismo deve ser realizado nas obras fundamentais. Aquelas que são complementares, por mais respeitáveis que se apresentam, são confirmações e ampliações das obras básicas nas quais se alicerça a Doutrina Espírita.

Como estudar romances, ditos espíritas, sem o conhecimento do Espiritismo, ou mergulhar o pensamento no desdobramento de propostas que são ignoradas na sua estrutura inicial?

Espiritizar os indivíduos, afirma-me o Espírito Joanna de Ângelis, é a tarefa de todos aqueles que divulgam o Espiritismo, especialmente na instituição que lhe ostenta o nome.

O Consolador – Doutrina religiosa, sem dogmas propriamente ditos, sem liturgia, sem símbolos, sem sacerdócio organizado e sem rituais, ao contrário de quase todas as demais religiões, como entender a prática ou adoção de rituais no centro espírita?
A presença de quaisquer práticas ritualísticas no centro espírita desfigura-lhe a condição de fidelidade à Doutrina. Sendo o Espiritismo a religião cósmica do amor, não existem justificativas para quaisquer comportamentos supersticiosos e vinculados a outros credos, pois que proporciona a ligação da criatura com o Criador sem a necessidade de intermediários humanos ou circunstanciais, de pessoas ou de ritos extravagantes e desnecessários.

O Consolador – Considerando-se que o Espiritismo é uma religião eminentemente educadora e que o Espírito reencarna para aperfeiçoar-se, você não acha que as atividades que visam à evangelização da criança não têm recebido o apoio na proporção da importância da tarefa?
É de lamentar essa constatação em inúmeros centros espíritas. Acreditam os seus diretores que são imortais no corpo, sem a preocupação de preparar as novas gerações para os substituírem, tanto quanto trabalhar a criança, a fim de produzir uma sociedade feliz, sem vícios nem conflitos, que o Espiritismo dirime e equilibra.

Esse infeliz comportamento traduz a ignorância em torno da educação, que mereceu do insigne Allan Kardec, o nobre educador, páginas de relevante beleza.

Educar a criança de hoje, é dever inadiável, a fim de não se ter que punir o cidadão do futuro, conforme o pensamento de nobre filósofo grego...

O Consolador – Nota-se que há no meio espírita um verdadeiro movimento ico-noclasta que tem tachado pejorativamente de conservadores, de donos da verdade e de censores todos aqueles que se preocupam com a manutenção do nível de equilíbrio, de sobriedade, de fidelidade doutrinária. Será que esse movimento mundial de ques-tionamento de padrões éticos, que surgiu nas últimas décadas do século XX, está chegando ao Movimento Espírita?
Vivemos o momento da grande transição e é natural que ocorram fenômenos dessa natureza, especialmente quando se trata da preservação dos valores ético-morais da sociedade. O tédio emocional decorrente da exaustão dos sentidos no gozo da inutilidade e das paixões subalternas rebela-se contra tudo quanto invita à reflexão, à preservação do bom, do nobre, do belo, convidando à rebelião, às mudanças, na busca de novos estímulos para a sobrevivência daqueles que se lhe fazem vítimas.

O Espiritismo é doutrina grave e profunda, que não se adapta às novidades com que muitos desejam mascará-lo, de modo a permanecerem na futilidade e no sensacionalismo.

Aqueles espíritas sérios que zelam pela preservação dos valores doutrinários sobreviverão aos modismos, porque a Doutrina permanecerá conforme a recebemos de Allan Kardec e dos nobres Espíritos que a Codificaram e a desdobraram através dos anos.

O Consolador – Um fato bem peculiar em grande parte da Europa é a existência de Grupos Espíritas fundados e mantidos por brasileiros, cujos trabalhadores e freqüentadores são em sua maioria brasileiros. Poucos grupos conseguiram despertar nos europeus a vontade de aprender mais sobre a Doutrina Espírita, no seu tríplice aspecto. O que está faltando?
Acredito que essa é a fase inicial, decorrência natural da dificuldade de alguns grupos ainda não realizarem atividades no idioma do país em que se encontram. Por outro lado, a falta de livros traduzidos para os diversos idiomas – e que vem sendo solucionado pelo CEI com muita eficiência – também contribui para o desinteresse dos nacionais.

Esse esforço dos brasileiros é valioso sob todos os aspectos considerados: sustenta-lhes a fé, ajuda o seu próximo e oferece oportunidade de conhecer o Espiritismo àquele que, por acaso, se venha a interessar.

Esse fenômeno ocorreu também com o Cristianismo em Roma, convém lembrar. Ademais, conheço excelentes grupos na Europa que estão encontrando ressonância entre os nascidos nos países em que se encontram fixados. Aguardemos, confiantes, auxiliando esses admiráveis desbravadores.

O Consolador – Como conseguir estreitar mais estes laços e, por conseguinte, contar com a participação dos europeus nas atividades espíritas?
A questão é delicada, especialmente em se considerando que o Espiritismo não é doutrina que impõe, mas que expõe. O europeu, em geral, exceção aos da Península Ibérica, onde o Movimento espírita encontra-se muito bem organizado e difundido, sofreu muitas guerras, experimentou muitas dificuldades, cansou-se da fé religiosa que lhe foi oferecida e vive um período de agnosticismo, senão de materialismo, em alguns disfarçado em postura religiosa vazia de religiosidade...

Com os esforços que vêm sendo envidados pelas sociedades que estão conseguindo registros oficiais e do CEI, confiamos que haverá mais estreitamento entre os brasileiros e os europeus que simpatizam com o Espiritismo.

O Consolador – Quando gostamos muito de uma coisa, é natural que queiramos compartilhá-la. Por que evitarmos o proselitismo, se estamos plenamente convencidos de que o Espiritismo seria tão benéfico e consolador para todos?
O proselitismo, conforme vem sendo praticado por diversas seitas e doutrinas de variadas denominações, tem sido mais prejudicial do que útil, porque faz adeptos inconscientes, fanáticos, presunçosos...

O Espiritismo não deverá realizar esse tipo de divulgação, arrastando multidões para as suas fileiras, considerando os diversos níveis psicológicos de consciência em que se situam os indivíduos, o que não permite uma aglutinação na horizontal dos interesses.

É válida a tentativa de elucidar e conquistar novos adeptos, isto porém se dará no momento quando houver maior amadurecimento espiritual e moral dos indivíduos, após saturar-se das paixões dissolventes a que se aferram.

O Consolador – A todo instante somos colocados diante de situações que exigem nossa imediata avaliação e inevitável julgamento. Que fazer, no âmbito profissional ou familiar, para adotar o princípio cristão sem correr o risco de falharmos por omissão?
Como nos encontramos na Terra, torna-se inevitável que participemos dignamente das imposições vigentes no mundo, avaliando e julgando. Tenhamos como exemplo as autoridades que devem exercer as suas funções, os chefes de setores, os responsáveis por atividades que abrangem grupos humanos e sociais...

O não julgar a que se refere o Evangelho constitui uma advertência a não pensarmos mal dos outros, a não concluirmos apressadamente quando não conhecemos os fatos, a não atirarmos pedras em nosso próximo. Dispondo porém, de argumentos, de informações e dados, é-nos concedido o direito de avaliar e de julgar de maneira equilibrada, contribuindo para a regularização do que esteja errado, a fim de ser corrigido.

Não podemos concordar com tudo, o que nos pode empurrar para uma postura hipócrita, pusilânime ou conivente com o erro...

O Consolador – Qual o melhor caminho para que desenvolvamos dentro de nós o amor cristão pelo próximo, a bondade espontânea no coração e foquemos nossas vidas mais pelos caminhos da solidariedade, essa virtude ainda tão esquecida?
Confesso não conhecer esse melhor caminho. Na minha experiência de uma longa existência e como decorrência da convivência com os Espíritos amigos aprendi a compreender o meu próximo, tentando ser melhor, mesmo que, com dificuldades, permitindo que os outros pensem de mim o que lhes aprouver, enquanto estarei procurando pensar o melhor de todos... Tenho aprendido a não revidar o mal com o mal, e embora sabendo que tenho inimigos – em ambos os planos da Vida – luto para não ser inimigo de ninguém, e venho buscando cumprir com o dever com que sou honrado na atual reencarnação.

O Consolador – Há um ano, quando comemorávamos 150 anos de existência de O Livro dos Espíritos, foi lançada esta Revista, redigida especialmente para circular na internet. Passados doze meses, que avaliação você faz da criação da revista e da importância da internet na difusão do Espiritismo no globo em que vivemos?
Recordo-me com imenso júbilo da planificação do primeiro número da nossa cara Revista eletrônica e acompanhei o seu processo de crescimento e de qualidade, graças à cooperação de novos articulistas, entrevistados e a segura direção dos caros Astolfo e José Carlos.

A internet, como tudo que o homem toca e corrompe infelizmente, tornou-se veículo de informações incorretas, de agressões, de desmoralizações, de infâmias, de degradação e de crime... mas também de grandiosas realizações que dignificam o gênero humano e preparam a sociedade para dias mais belos e mais felizes.

Nesse sentido, a Revista vem realizando o seu papel de difundir o Espiritismo com elegância, nunca se permitindo vulgaridade, qualquer tipo de arrogância ou de combate inútil, fiel aos postulados da Codificação, o que me faz recordar os excelentes artigos da Revue Spirite, fundada e dirigida por Allan Kardec até a data da sua desencarnação – 31/03/1869 – cujo sesquicentenário comemoramos desde janeiro próximo passado.

Penso que se Allan Kardec estivesse reencarnado, nestes dias, utilizar-se-ia da internet com a mesma nobreza com que recorreu à imprensa do seu tempo na divulgação e defesa do Espiritismo diante dos seus naturais adversários.

Parabéns à Revista eletrônica, aos seus diretores e a todos os seus cooperadores.
Fonte: Jornal Mundo Espírita - Agosto/2008