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terça-feira, 18 de setembro de 2012

A Paz? Não, Espada

Escrito por Paulo alves de Godoy

Artigo publicado no jornal Unificação - Ano XII - Março de 1965 - Número 144

“Não penseis que eu tenha vindo trazer a paz à Terra; não vim trazer a paz, mas a espada; porquanto, vim separar de seu pai o homem, de sua mãe a filha, de sua sogra a nora; e o homem terá por inimigos os de sua própria casa”
(Mateus, cap. X, v. 34 a 36).

“Vim lançar fogo à Terra; e o que é o que desejo senão que ele se acenda?”

(Lucas, cap. XII. V. 49).


Habituamos a ler nas páginas fulgurantes dos Evangelhos apenas palavras de brandura e de tolerância, estranhamos quando Jesus muda de diapasão para proclamar que não veio trazer a paz à Terra, mas sim, a espada.
Jesus Cristo, modelo vivo da docilidade, da bondade e da misericórdia, que apenas proferia palavras de fé, de incentivo, de esperança e de brandura, de um momento para outro passa a externar palavras de sentido revolucionário.
Essa mudança de um pólo a outro parece paradoxal, se não abandonarmos a letra que mata para divisar apenas o espírito que vivifica.
Emmanuel, consultado sobre o sentido daquelas palavras do Nazareno, pontificou: “Todos os símbolos do Evangelho, dado o meio em que desabrocharam, são, quase sempre, fortes e incisivos. Jesus não vinha trazer ao mundo a palavra de contemporização com as fraquezas do homem, mas a centelha de luz para que a criatura humana se iluminasse para os planos divinos. E a lição sublime do Cristo, ainda e sempre, pode ser reconhecida como a “espada” renovadora, com a qual deve o homem lutar consigo mesmo, extirpando os velhos inimigos do seu coração sempre capitaneado pela ignorância e pela vaidade, pelo egoísmo e pelo orgulho”.
Deriva-se dessas palavras do grande mentor espiritual, que a espada significa o instrumento renovador que não tergiversa com os erros humanos e nem contemporiza com as falhas voluntárias daqueles que desejam manter o mundo acorrentado a inócuas tradições, vivendo sob a égide da superstição, do medo e do fanatismo.
Se o Messias viesse contemporizar com as nossas falhas descuidaríamos da nossa própria evolução, e passaríamos a aguardar, ansiosamente, que Ele voltasse de novo à Terra, fosse novamente crucificado e “arcasse outra vez com os nossos pecados”, no dizer dos antigos teólogos.
O Mestre não veio para nos livrar das nossas faltas, mas ensinar-nos o caminho para nos livrar delas. Não veio tomar sobre seus ombros o encargo das nossas transgressões, mas indicar-nos, através das palavras edificantes dos Evangelhos, como aprimorar nossas qualidades e nos aproximarmos da perfeição.
Jesus usava de palavras meigas e tolerantes para com os pequeninos e os pobres de espírito, mas também sabia empregar palavras cortantes e incisivas quando se dirigia aos escribas e fariseus hipócritas. A mesma boca que havia prometido a bem-aventurança aos aflitos, aos famintos e aos sequiosos de justiça, verberava acerbamente o procedimento dos fariseus que mantinham o povo na ignorância e no fanatismo. O mestre que prometia a recompensa aos pacificadores, aos mansos e aos pobres de espírito também acenava com os rigores dos sofrimentos expiatórios aos falsos mentores religiosos da época “que nem entravam no Reino dos Céus e nem deixavam que os outros entrassem” e que “colocavam pesados fardos nos ombros dos seus discípulos, mas que não ousavam sequer tocá-los com os dedos”.
Deduz-se ainda das palavras do Nazareno que não haverá trégua definitiva para os espíritos ociosos, tornando-se um imperativo a procura, pelos meios que nos é facultado, da fórmula ideal para levarmos as nossas cruzes, sem os inconvenientes das quedas sucessivas que retardam a nossa ascensão para Deus.
O fogo foi trazido à Terra pelo Meigo Rabi da Galiléia para que os homens se capacitem de que, somente pela luta interior em prol do aprimoramento moral e espiritual, a humanidade poderá equacionar seus milenares problemas e sair do estado caótico em que s

O Pecado é a Falta de Cada Um


Escrito por Bezerra de Menezes quando ainda encarnado

Artigo publicado no século 18, no jornal "O Paiz", no Rio de Janeiro - Fonte: "Espiritismo, Estudos Filosóficos", Volume I, Editora FAE - Agosto de 2001

11º - “Foi preciso que viesse à Terra o divino Jesus tomar sobre seus ombros os pecados do mundo e ensinar, pela palavra e pelo exemplo, o caminho da salvação, para correrem os ferrolhos que trancavam as portas da morada dos bem-aventurados”.
A revelação messiânica tem o maior alcance moral para a Humanidade, quer a considere em relação ao ortodoxismo, quer em relação ao Espiritismo.
No primeiro caso, Deus mandou seu unigênito Filho à Terra para sofrer, em si, a pena do pecado humano, e, por este sublime ato de amor, resgatar a culpa do primeiro tronco humano.
No segundo caso, suscitou Deus um enviado, um Messias pata trazer à Terra luz maior, luz que a Terra por seu adiantamento, já podia receber, a fim de, pela palavra e pelo exemplo, esclarecer-nos o caminho que leva à morada do Pai, e ensinar-nos a sofrer, até à morte, todas as misérias da vida, louvando o Senhor e seguindo seus preceitos.
Em ambos os casos, Cristo é o sublime reformador da Humanidade, o seu eterno modelo, mas sua missão é, pelos dois, diferentemente encarada.
Importa, pois, investigar os fundamentos das duas doutrinas, para reconhecer qual delas encara com Verdade o grandioso fato.
Subsistindo o dogma do pecado original e o da existência única dos espíritos, com os seus co-relativos: juízo definitivo, depois da morte, e definição eterna do destino humano, a interpretação ortodoxa da missão do Cristo, como redentor, é correta, e é mais do que isso, é necessária.
O Pai da Misericórdia não podia, sem tornar estéril esse superior atributo, manter, eternamente, suspensa sobre a raça condenada de seus pais a espada flamejante de sua tremenda justiça.
Mas, uma coisa notamos desde já, a ortodoxia explica sempre as coisas sobre-humanas por meios e processos rasteiramente humanos!
Se Deus quis, acalmando os ímpetos de sua cólera (sic), (assim) espargir sobre as vítimas de sua justiça o orvalho do amor e da misericórdia, por que não fazê-lo por simples ato de sua vontade, e exigir que fosse Ele próprio, na segunda pessoa da Trindade Divina, quem viesse sofrer o que cabia ao ser humano?
E, se o divino Jesus veio remir a Humanidade da culpa original, como se explica que sublata causa, (suprimida a causa) é eliminado o efeito, visto que o mal, oriundo daquele pecado, continua a produzir a danação do homem?
Nós compreendemos a redenção, como a entende a ortodoxia, pela extinção da causa que danou a Humanidade, e pela conseqüente extinção do verme do mal que ela produziu.
Assim, compreendemos a redenção.
Vir, porém, o próprio Deus a remir a Humanidade da causa do mal, deixando este incólume, como dantes, é incompreensível.
O Cristo não deixou a Humanidade como dantes, responder-nos-á a ortodoxia.
Ele remiu-a da culpa que não lhe permitia a entrada no Céu, e deixou ao livre-arbítrio de cada um aproveitar seu ensino e seu exemplo, que são a via e a vida.
Tudo isto é metafísico e reduz-se, em última análise, a dois princípios: o Cristo veio abrir as portas do Céu pela redenção da culpa original, mas deixou dependente do livre-arbítrio de cada um procurá-la ou evitá-las.
Ora, para se abrirem às portas do Céu à Humanidade, não era preciso o sacrifício de um Deus, coisa muito semelhante ao que se encontra em outras cosmogonias; bastava que o Eterno o quisesse.
E quanto a deixar ao livre-arbítrio de cada um o mérito ou demérito para a salvação, compreende-se que muito menos valia a pena o enorme sacrifício do Divino Cordeiro.
Tudo isto, porém, desaparece, evidenciando a procedência das nossas reflexões, uma vez removido o princípio fundamental da redenção ortodoxa: o pecado original.
Cremos ter provado este ponto de um modo incontroverso; e, pois, não tendo havido pecado original, nem podendo a culpa do pai passar aos filhos, é óbvio que a teoria ortodoxa sobre a redenção não subsiste, senão como uma ficção.
Jesus veio remir os pecados do homem, ensina o Espiritismo; mas veio fazê-lo, não abrindo as portas do Céu, que sempre estiveram abertas, não limpando a Humanidade do pecado original, que é um mito; porém, ensinando, com a palavra e com o exemplo, novas verdades, que esclareceram os horizontes da Humanidade, e lhe deram mais força e virtude para ascender a seu destino.
A missão de Jesus foi tão divina, assim considerada, como a considera a ortodoxia.
A diferença está, somente, em que num caso ela é um meio de resgate, que não resgatou, pois que ficou vigorando o mal, ao passo que no outro caso ela é sublime ensino, que tem produzido o grande progresso moral dos povos.
Jesus foi o continuador da obra de Moisés, foi o emissário da mais ampla revelação do Céu.
Jesus veio fazer o que está fazendo o Espiritismo, trazer a luz à medida do progresso que havia feito a Humanidade.
O pecado é falta de cada um e, portanto, a luz é trazida a todos, um por um.
Por este modo, a missão do Cristo subsiste, a despeito da eliminação do pecado original: e em nada a pode contrariar a subsistência do mal, como acontece na hipótese do ortodoxismo.
Jesus não veio arrancar a Humanidade da escravidão do pecado, transmitido de Adão e Eva; veio, sim, ensinar as Verdades, que alentam nossa natureza, para repudiarmos o Mal e mais nos afeiçoarmos ao Bem.

A obra messiânica de redenção é obra de educação


Fonte: "O Mestre na Educação" - FEB - 6ª Edição

Vamos definir a pessoa e a missão de Jesus, valendo-nos, para isso, da sua própria declaração, segundo consta dos Evangelhos.
Desejando que aqueles homens humildes e bons que escolhera para seus colaboradores soubessem quem ele era e donde procedera, interrogou-os, certa vez, indagando: Quem diz o povo que eu sou? Eles retrucaram: Dizem que sois um dos antigos profetas que ressuscitou. E, vós outros, prosseguiu o Senhor, quem dizeis que eu sou? Pedro, adiantando-se aos demais, respondeu: Tu és o Cristo, Filho do Deus vivo.
Jesus, confirmando a resposta do velho pescador, acrescenta: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, pois não foi a carne nem o sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus...
Sabemos, portanto, quem é Jesus, pelo testemunho celeste que veio por intermédio de Pedro: é o Cristo, isto é, o ungido, o escolhido, Filho de Deus vivo.
Ungido e escolhido para que? Qual a missão que lhe foi confiada e quais as relações entre ele, o Filho, e o Pai celestial?
Jesus mesmo nos esclarece sobre este ponto, quando, ressuscitado, diz a Madalena, que pretende lançar-se aos seus pés e abraça-lo: Não me toques, ainda não subi para o meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus. Logo, o Deus de Jesus é o Deus da Humanidade, o Pai comum de todos os homens, sem nenhuma distinção.
Quanto ao compromisso que veio desempenhar neste orbe, nós o vemos claramente através da atitude que ele assumiu na sociedade terrena. Que fez Jesus? Começou reunindo algumas pessoas simples, arrebanhadas das camadas humildes, e foi-lhes ministrando lições e ensinamentos por meio de parábolas singelas, prédicas e discursos vazados em linguagem popular, cimentando com exemplos edificantes todas as doutrinas que transmitia.
A novidade da sua escola consistia particularmente na divulgação destes princípios: Todos os homens são filhos de Deus, têm todos essa mesma origem. Da paternidade divina, decorre, como corolário natural, a fraternidade humana, isto é, todos os homens são irmãos. Portanto, devem amar-se reciprocamente agindo em tudo segundo a lei de solidariedade.
No entanto, apesar da clareza, lisura e concisão de tal doutrina, são grandes as dificuldades em torna-la acessível à mente e ao coração humanos.
Verdades tão naturais, duma lógica irretorquível, comprovadas pelo testemunho de fatos incontestes, escritas em caracteres palpitantes no grande livro da Vida, contudo, continuam sendo objeto de controvérsias, discutidas por uns, rejeitadas por outros.
Ora, a missão de Jesus é precisamente comprovar aquele asserto, vencer os obstáculos conquistando a Humanidade. Essa obra, sendo de redenção porque visa libertar o homem dos limites que o prendem à animalidade, cujos vestígios, nele, são patentes, é, por isso mesmo, obra de educação.
Daí por que Jesus arrogou a si a denominação de Mestre, considerando aqueles que o acompanhavam como discípulos. Consignemos que foi o único título com que se adornou, e nenhum outro. Quando, certa vez, o chamaram “bom”, retrucou: Bom, só há um, que é Deus. Quando o disseram rei, repeliu peremptoriamente aquele qualificativo, declarando: O meu reino não é deste mundo. Apenas quis ser Mestre, e disso fez questão, advertindo os seus discípulos que só a ele o considerassem como tal. Eu sou o vosso Mestre, dizia, a ninguém mais concedais essa prerrogativa.
O papel que cabe ao mestre é educar. Entendemos por educação o desenvolvimento dos poderes psíquicos ou anímicos que todos possuímos em estado latente, como herança havida d’Aquele de quem todos nós procedemos.
Pestalozzi define assim a matéria ora em apreço: Educação é o desenvolvimento harmônico de todas as faculdades do indivíduo.
A instrução, portanto, faz parte da educação, por isso que se refere aos meios e processos empregados no sentido de orientar o indivíduo na aquisição de conhecimentos sobre determinada disciplina. A instrução dirige-se conseguintemente à inteligência. E a educação sob seu prisma intelectual, bem como a ginástica, os exercícios e esportes, criteriosa e convenientemente orientados, resumem o que denominamos “educação física”, cuja importância na esfera da higiene está perfeitamente comprovada.
Ao cultivarmos, porém, esta ou aquela faculdade do Espírito, resta que não desdenhemos as demais. A monocultura é desaconselhada em todo e qualquer terreno.
Em matéria educacional, são desastrosos os efeitos da concentração unilateral de esforços visando determinada cultura em detrimento e com menoscabo das demais.
Verifica-se, em geral, por parte dos pais, uma grande preocupação – até certo ponto muito louvável – sobre a educação dos filhos no que respeita à inteligência. Querem vê-los sobraçando um pergaminho, aureolados por um título que os habilite ao exercício duma profissão distinta, a qual, não só lhes assegure a independência econômica – o que importa, sem dúvida, em justa aspiração – mas que proporcione, sobretudo, riqueza, fama e glória. O futuro da prole é visto desse prisma utilitário e vaidoso que encerra, segundo semelhante critério, o alfa e o Omega da vida.
Há evidentemente uma ilusão nesta maneira de ver e proceder. Somos, nós os pais, vítimas do egoísmo, esse pecado original com que todos nascemos e do qual dificilmente nos vamos desvencilhando. Orgulhamo-nos com o diploma empunhado pelos herdeiros do nosso nome. Queremos vê-los alvo de aplausos e louvores, seja, embora, na órbita dum intelectualismo vazio e estéril. A nossa vaidade sente-se lisonjeada com isso, dando-nos a falsa impressão de havermos cumprido perfeitamente o nosso dever com relação àqueles que a Previdência Divina nos confiou para que os orientássemos na sua caminhada pela estrada da vida. Não cogitamos, senão perfunctoriamente, daquilo que concerne às qualidades morais, à formação e consolidação do caráter, a direção, em suma, que levará nossos filhos a criarem personalidade própria; não curamos de fazê-los homens de bem, independentes e honestos, com aquele mesmo interesse e afã que empregamos na ilustração do seu intelecto. Preocupamo-nos muito mais com o cérebro do que com o coração. Fazemos tudo para enriquecê-los da sabedoria livresca, deixando-os, às vezes, pobres de sentimentos.
Isto não quer dizer, apressamo-nos em declarar, que nós, os pais, menosprezemos a virtude deixando de reconhecer o valor da educação moral: absolutamente não. O que se dá é que geralmente se imagina que o ser bom, justo e verdadeiro; o ser probo, sincero e amorável, não requer aprendizagem. Supomos que tudo isso seja coisa tão natural e comezinha que não constitui matéria de ensino! Imagina-se que essa parte da educação, incontestavelmente a mais excelente, há de efetuar-se por si mesma, à revelia de cuidados, dispensando o aparelhamento requerido para outras modalidades de educação.
Tal o grande erro generalizado que é preciso corrigir. A idéia de geração espontânea é quimérica. Do nada, nada se tira.
Tudo o que germina, germina duma semente. Tudo o que evolve, evolve dum germe ou embrião. Não podemos esperar que aflorem na alma da mocidade qualidades nobres e elevadas sem que, previamente, tenhamos feito ali a sua sementeira.
Honestidade, espírito de justiça, noção do dever são as artes, e até mesmo os misteres mais simples, virtudes que se adquirem tal como é adquirido o saber neste ou naquele ramo das especulações cientificas. Tudo depende de estudo, experiência e tirocínio. As ciências requerem aprendizado.
O saber e a virtude são expressões daquela riqueza inacessível aos estragos da traça, à pilhagem dos ladrões, e que a própria morte não logrará arrebatar, por isso que representa o fruto do trabalho e do esforço próprio e individual. Daí decorre a legitimidade e a inalienabilidade da sua posse.
Os contemporâneos de Jesus, perplexos diante da sabedoria e do poder revelados por ele, diziam: Como sabe este letras sem haver aprendido? Não somos hoje tão ingênuos como os daquela geração, supondo que seja só este meio onde ora nós nos achamos, o único propicio para aprender, e que só este planetóide de categoria inferior constitui campo propicio para o Espírito atuar e agir desenvolvendo suas incalculáveis e maravilhosas possibilidades. O erro geocêntrico que fazia da Terra o centro do Universo, passou. Ninguém mais sustenta essa absurdidade. Podemos, pois, firmar este postulado: aquele que revela conhecimento e virtudes, caráter reto e íntegro, conquistou-os, aqui ou alhures, não importa onde, nem quando: constata-se o fato.
O patrimônio cientifico, como o moral, é sempre resultado da educação. A sementeira do bem e da verdade, do amor e da justiça, nunca se perde. Sua germinação pode ser imediata ou remota, porém jamais falhará. A obra da redenção humana é obra de educação. Jesus é o divino educador. Ele crê piamente na eficiência dessa obra, à qual consagrou a sua vida. Sim, Jesus nos deu a sua vida, não só no sentido do sacrifício cruento pela causa da nossa redenção, como na acepção de votar-se, de dedicar-se continuamente ao desempenho de tão ingente encargo. E de que maneira vem ele se desobrigando dessa incumbência? Ensinando, influindo e atuando na alma humana, através dos Espíritos de luz incorporados à Igreja triunfante que do Alto Jesus dirige. E o que ensinou e continua ensinando o excelso Mestre? Que diga por nós a eloqüência do inolvidável tribuno sacro, o grande Antônio Vieira:
“Vindo a sabedoria divina em pessoa, e descendo do Céu á Terra a ser Mestre dos homens, a nova cadeira que instituiu nesta grande universidade do mundo, e a ciência que professou foi só ensinar a ser bom e justo, santo, numa palavra, e nenhuma outra. A retórica deixou-a aos Tullios e aos Demóstenes; a filosofia, aos Platões e aos Aristóteles; as matemáticas, aos Ptolomeus e aos Euclides; a médica, aos Apolos e aos Esculápios; a jurisprudência, aos Eolões e aos Licurgos, e, para si, tomou só a ciência de salvar e tornar bons os homens”.
Eis aí a matéria, a disciplina que ainda não aprendemos. Sem o seu conhecimento não solucionaremos os nossos problemas, tanto do presente como do futuro. Duvidar, descrer dessa ciência e dessa arte que se chama educação, arte e ciência que têm por fim transformar o indivíduo, é negar a evidencia da evolução, essa lei incoercível, fartamente comprovada em todos os planos da Natureza, em todas as fases da Vida no seu curso infinito e progressivo.
Fora da educação, dessa educação que se transmuda em cada indivíduo em auto-educação, não há redenção possível. Tudo o mais que se tem propalado neste terreno não passa de pura fantasia. Quando o homem nota e percebe em si mesmo, no seu interior, o influxo da força renovadora da evolução, começa a colaborar conscientemente com Deus na formação da sua própria individualidade. Ruy Barbosa, num magistral discurso que pronunciou na Festa do Trabalho, teve a feliz inspiração: O Criador, disse ele, começa e a criatura acaba a criação de si própria. A segunda criação, a do homem pelo homem, assemelha, às vezes, em maravilhas, à mesma criação do homem pelo divino Criador.
Realmente, é isso precisamente o que se dá. O homem é co-autor dessa entidade misteriosa que é ele mesmo. Nascemos de Deus, fonte inexaurível da Vida, e renascemos todos os dias, em nós mesmos, através das transformações por que passamos mediante a influencia da auto-educação, cumprindo-se assim aquele célebre imperativo de Jesus: Sede perfeitos como o vosso Pai celestial é perfeito.
A confusão ora reinante na sociedade resulta do descaso a que se tem votado tão magna questão. Os males que flagelam a humanidade contemporânea procedem da descrença, do cepticismo e da falta de confiança na eficiência da educação moral. O mundo está em crise, crise de dignidade. Desta, se originam as outras. Não é de sábios que carecemos. Os problemas da inteligência estão, por assim dizer, resolvidos conforme atesta o surto imenso de progresso material atingido. Não obstante, o momento que atravessamos é dos mais angustiosos. Os grandes financistas e economistas não solucionam o problema do pão. Os estadistas de renome não resolvem satisfatoriamente o problema político. Os sociólogos de alta envergadura mostram-se impotentes diante dos problemas sociais tais como o pauperismo, o crime, o vicio e a enfermidade. Por que? Certamente porque lhes falta a percepção íntima das grandes realidades da Vida, dessa vida que não começa no berço nem termina no túmulo; percepção que só se alcança através do culto sincero da verdade; que só se aprende sondando os arcanos da consciência e auscultando a sua voz; que só se logra no estudo e na meditação da ciência da moral, que é a ciência do coração.
Não é de conhecimentos que precisam os homens da atualidade, responsáveis pela situação aflitiva dos dias que correm: é de sentimento!
Inteligência desenvolvida e culta, desacompanhada do senso moral, constitui sério perigo para a sociedade. Os grandes males que convulsionam o mundo não procedem dos analfabetos e dos ignaros, elementos mais ou menos inconscientes que agem como instrumentos; que não dispõem de meios e recursos para levarem a cabo as empresas maléficas de exploração, de escravatura e de opressões. São as inteligências cultas e traquejadas, sem moralidade e sem fé, divorciadas do verdadeiro sentimento religioso, que urdem e executam os planos diabólicas de usurpação de direitos, de espoliações e de tirania das consciências.
Todos sabem disso. É um fato que ninguém contesta. Mas, não basta sabermos, é preciso agirmos. Conhecer a origem dos males que nos afetam, não é tudo: é necessário atacá-los no seu reduto, desalojá-los para vencê-los. Não nos iludamos, pois: devemos cuidar da educação do nosso coração com o mesmo interesse e esmero que cuidamos do nosso cérebro. Se é vergonhosa a ignorância intelectual, mais ainda é a ignorância moral. Nem todos podem ser sábios, mas todos podem ser bons. A bondade também é força, e a mais poderosa e fecunda de todas, porque é força que constrói, é força que edifica. É com ela que removeremos os obstáculos e as pedras de tropeço do caminho da nossa evolução, na conquista de todos os bens, na escalada às regiões luminosas onde a Vida é eterna, e o amor, sem restrições nem intermitências, reina em todas as almas. Ó vós que sois pais, lembrai-vos da vossa responsabilidade como mentores dos vossos filhos. Ó vós, que sois preceptores e mestres, pesai bem o compromisso que assumis no desempenho da tarefa a que vos dedicais. Pais e mestres, cerrai fileiras dando as mãos uns aos outros, como legítimos expoentes do lar e da escola, as duas colunas em que a sociedade se apóia, os dois templos augustos, os dois santuários onde se exerce o verdadeiro sacerdócio.
“Sursum Corda!” Elevemo-nos acima das vulgaridades da época. Desembaracemo-nos das farandulagens do homem velho. Enverguemos a túnica do homem novo, do homem do futuro. Renasçamos para o porvir que será o resultado do labor presente. Sacudamos o pó da estrada percorrida. Abandonemos, de vez, as superstições e as utopias com respeito à nossa redenção. Sem educação porfiada, paciente e perseverante nada conseguiremos de positivo na obra da emancipação espiritual. Não é com pílulas e xaropes que se resolve o problema as saúde: é com higiene, no seu sentido amplo e lato. Não será com as consolidadas paulistas ou mineiras nem com as loterias que equilibraremos as nossas finanças avariadas: há de ser com trabalho e economia. Não é maquilagens e artifícios semelhantes que alcançarmos beleza e relativo prolongamento da mocidade: é obedecendo e respeitando a Natureza, cultivando bons costumes, hábitos honestos e pensamentos puros. Não é, finalmente, esposando crendices e condescendendo com preconceitos, rituais e cerimônias cuja essência se desfaz ao sopro do raciocínio, que lograremos a nossa salvação: é pela obra da auto-educação exercida com perseverança, sem esmorecimentos, com decidida vontade de nos espiritualizarmos, de nos aperfeiçoarmos continuamente.
Façamos ponto, citando as palavras autorizadas de Leon Denis sobre este momentoso assunto:
“Como a educação da alma é objeto da Vida, importa em resumir seus preceitos em palavras: aumentar tudo quanto for intelectual e elevado. Lutar, combater, sofrer pelo bem dos homens e dos mundos. Iniciar seus semelhantes nos esplendores do verdadeiro e do belo. Amar a Verdade e a Justiça, praticar para com todos a caridade, a benevolência – tal o segredo da felicidade presente e futura, tal o Dever, tal é a fé que Cristo legou à Humanidade”.
O problema do Brasil, disse o saudoso e humanitário facultativo Dr. Miguel Couto, é um só: Educação.
Parodiando o ilustre cientista patrício, diremos nós: Esse problema não é só do Brasil, é da Humanidade. Sendo o de cada um de nós, é o problema de todos, é o problema universal, por isso que é mediante a auto-educação que se processa a evolução dos seres livres, conscientes e racionais.

Construamos sobre a rocha


Artigo extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989.

Ao concluir os ensinamentos do maravilhoso Sermão da Montanha, empregou Jesus a seguinte ilustração:
Todo aquele que ouve estas minhas palavras, e as observa, será comparado a um homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. Veio a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos, e combateram aquela casa, e ela não caiu, porque estava fundada sobre a rocha.
E todo aquele que ouve estas minhas palavras, mas não as observa, se assemelha a um homem insensato, que construiu sua casa na areia. Quando a chuva caiu, os rios transbordaram, os ventos sopraram e a vieram açoitar, ela foi derribada e grande foi a sua ruína”. (Mateus, 7:24-27).

Essa advertência do Mestre tinha endereço certo: buscava penetrar a consciência dos que o ouviam; tocá-los, despertá-los e fazê-los sentir a necessidade de uma reforma de seus hábitos, pois sabia que, trabalhados, gerações pós-gerações pelo farisaísmo, se haviam esquecido do Decálogo que lhes fora dado no Sinai, tendo-se acostumado a observar tão-somente umas tantas práticas e cerimônias exteriores, persuadidos de que isso era o bastante para torná-los irrepreensíveis aos olhos do Senhor.
Ainda hoje, infelizmente, muitos existem, em todas as organizações religiosas, que incidem no mesmo erro. Invertendo a hierarquia dos valores, demonstram zelo extremado pelo que é secundário, negligenciando por completo aquilo que é essencial.
Também entre os espíritas – forçoso é reconhecê-lo – é grande, até agora, o número dos que se aferram às chamadas “sessões práticas”, nem sempre bem conduzidas, e não saem disso, esquecendo-se do estudo metódico e profundo da Doutrina, em seu tríplice aspecto: científico, filosófico e religioso, a fim de, com esse preparo, poderem auxiliar, eficazmente, tanto os desencarnados, nos trabalhos de esclarecimento e desobsessão, como os encarnados que careçam de melhor orientação na vida.
Outro engano comum a muitos que se têm na conta de cristãos, é o suporem que a memorização das Escrituras, o conhecimento teórico de princípios religiosos corretos ou a concordância com certos dogmas teológicos seja suficiente para a salvação de suas almas.
O mero assentimento intelectual à Verdade, entretanto, não constitui, por si só, mérito algum e será de todo inútil se não fizer que os homens produzam frutos de bondade e justiça no trato com os semelhantes.
Aliás, sabem-no todos, os crimes mais abomináveis que enegrecem as páginas da História foram praticados por criaturas que se vangloriavam de ser oráculos da Divindade, como há, ainda nos dias que correm, não poucos representantes da pretendida ortodoxia religiosa, cujos atos são de estarrecer.
Jesus veio revelar-nos que a Religião pura e genuína consiste, não apenas em satisfazer a formalismos cultuais, mas em cumprir os mandamentos da Lei, o que exige de cada um esforços constantes no sentido de vencer suas imperfeições e, ao mesmo tempo, em desenvolver aquelas virtudes que o levem a “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.
Então, semelhantemente ao homem sábio que edificou sua casa sobre a rocha, tomemos os preceitos divinos expostos pelo Mestre como fundamento de nossa norma de vida, e não simplesmente de nosso credo.
Sim, porque aqueles que pregam e ensinam tais preceitos, mas não testemunham aquilo que pregam e ensinam, assim os que confiam na eficácia dos sacramentos de sua igreja, mas não tratam de modelar seu caráter pelo do excelso modelo – o Cristo, estão construindo sobre a areia e, portanto, a si mesmos se reservam grandes amarguras e terríveis desilusões.

Rodolfo Calligaris