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sábado, 8 de setembro de 2012

Desobsessão Coletiva


SÉRGIO THIESEN-Revista o Reformador Dezembro de 1999
“Qual é o teu nome?” — indaga Jesus. Responde--lhe: “O meu nome é
Legião, porque somos muitos.” E lhe imploravam com insistência que não os
mandasse para fora daquela região (Gerasa). (Marcos, 5:9-10).
Obsessão é o maior flagelo da Humanidade. Os vínculos dolorosos
estabelecidos na Eternidade entre as almas que vivem no Planeta surgiram e se
perpetuam há milênios, aprisionando-as entre si e caracterizando a massa de
Espíritos que aqui reside como primitiva. Com raízes no egoísmo desenfreado,
vivemos ainda imersos em sombras que atuam tanto nos indivíduos como nas
coletividades, instituições, famílias, cidades, povos, obstaculizando os anseios
incipientes de redenção e libertação.
Na Codificação, Kardec estuda a obsessão em “O Livro dos Médiuns”, no
capítulo XXIII, enfocando aqueles casos em que os médiuns eram obsidiados e
como se devia fazer para evitá-la ou combatê-la, fossem casos simples, de
fascinação ou subjugação.
Em obras complementares, André Luiz estuda o assunto com detalhes,
publicando até mesmo uma obra específica, de título “Desobsessão”, em 1946.
Por todo o Brasil, nos Centros Espíritas, vão surgindo reuniões mediúnicas
voltadas para o seu tratamento, caracterizando-se pelo diálogo fraterno e o
esclarecimento dos obsessores trazidos pelos mentores espirituais, que se
manifestam através da psicofonia. Hermínio C. Miranda em “Diálogo com as
Sombras”, de 1979, aprofunda o tema valorizando ainda mais a doutrinação e o
atendimento individualizado.
Nas obras de André Luiz, pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier,
bem como nas de autores espirituais como Manoel Philomeno de Miranda, há
referência às manifestações de grupos de Espíritos vinculados a certos casos por
eles narrados.
Durante sucessivos anos de experiência em reuniões de desobsessão,
notamos, em muitos casos, a presença de grupos maiores ou menores de
Espíritos que eram identificados pelo autor e por médiuns videntes como sendo
os responsáveis pela influência nociva sobre os doentes atendidos.
Em todos esses casos havia ou não a manifestação pela psicofonia de
uma das entidades que fazia parte do grupo e do processo obsessivo. A partir
dos primeiros casos fomos desenvolvendo algumas técnicas para atender não
apenas ao Espírito comunicante (quando este se manifestava, “representando”
os demais) mas a todo o grupo coletivamente. Estas foram sendo testadas e na
medida que podiam ser repetidas em situações semelhantes com resultados
igualmente positivos, foram sendo incorporadas como recursos de tratamento.
Passamos ao estudo de alguns casos ou situações que exemplificam a
necessidade de se atentar para o coletivo, multiplicando os benefícios do atendimento.
Muitas vezes comparece ou é trazida entidade que desencarnou
violentamente como vítima de guerra. São Espíritos que, passado um tempo
maior ou menor desde o conflito, por vezes séculos, se apresentam como
mutilados, sentindo dores físicas intensas, em várias partes do corpo, com fome
e frio, muitas vezes desconhecendo que já desencarnaram. Através da oração,
do diálogo fraterno e consolador e da transferência de recursos fluídicos para ele,
apresenta profunda recuperação de seus males físicos e morais. Por ocasião de
seu atendimento, os médiuns percebem o cenário da última batalha e a presença
de inúmeros Espíritos dispersos pelo chão, “agonizantes”, andrajosos, com
uniformes rotos, esquálidos, amontoados entre gritos e gemidos, armas
espalhadas... Este quadro é cheio de vida, independentemente de quando tenha
sido o confronto e aqueles que ali permaneceram lá se encontram desde então.
Este contexto se apresenta quando iniciamos o atendimento para uma pessoa
encarnada, doente, com as mais variadas patologias, físicas ou mentais,
incluindo a depressão, síndrome do pânico ou a esquizofrenia. Outras vezes este
contexto é aberto pela espiritualidade mesmo sem estarmos atendendo a algum
encarnado identificado no início. Quase sempre o encarnado foi um dos
agressores e responsáveis por tudo aquilo que se apresenta no cenário do
conflito e é quando o contexto todo é tratado, com a recuperação e
encaminhamento de todas as vítimas é que ocorre, algum tempo depois sua
melhora clínica, independente do tratamento médico concomitante. Outras vezes
o paciente encarnado é uma das vítimas e, apesar de mergulhado em nova
existência corporal, algo de si, através de vínculos sutis, em fenomenologia de
ressonância, o mantém ainda atrelado àquela experiência dolorosa. E com
repercussões negativas em si próprio, contribuindo para ou mesmo gerando sua
doença atual. Só com a abordagem ampla e coletiva em que todos são
beneficiados, recuperados e conduzidos para hospitais e colônias espirituais é
que se dá a reversão moral de todo o drama e a libertação da vítima bem como
de todos os envolvidos. A isto se segue, comumente, significativa melhora
clínica. Todo o desenrolar das diversas etapas de tratamento é monitorado pelos
médiuns videntes. Situações análogas têm sido geradas por guerras, revoluções,
conflitos armados em geral e apesar do tempo que delas tenha decorrido, suas
conseqüências ainda se arrastam até que tudo efetivamente seja tratado e se
harmonize. São verdadeiros bolsões de Espíritos, que sem energia externa
benéfica e por ignorância quanto aos meios para sua libertação detêm-se
estagnados, sofrendo e fazendo sofrer, consciente ou inconscientemente, por
ação direta ou por fenômenos ressonantes psíquicos.
Alguns dos casos tratados foram de guerras ou batalhas conhecidas da
História, mas a maioria situava--se sob o véu da obscuridade. Uma de que me
recordo foi na região de Hiroshima, onde restavam milhares de Espíritos
vitimados pela radiação ionizante no final da Segunda Grande Guerra. Outra
recente reunião possibilitou o atendimento às vítimas de conflitos étnicos entre
minorias da África e no Kosovo. Levas de Espíritos são resgatadas e
encaminhadas aos hospitais da espiritualidade.
Outra situação é a dos Espíritos enfermos que desencarnaram por
enfermidades diversas, mais ou menos longas, que são trazidas à psicofonia,
manifestando suas dores, limitações funcionais e com a impressão de estarem
ainda no leito de hospital, geralmente em enfermarias, onde permaneceram por
muito tempo até serem resgatados. Espontaneamente ou questionados por nós
referem-se a inúmeros outros doentes que vivem em situações semelhantes no
mesmo ambiente hospitalar. Uma vez confirmada esta realidade pelos próprios
médiuns em tarefa, após o atendimento do caso inicial, dedicamos a etapa
seguinte aos demais e com as técnicas e recursos pertinentes, os benefícios lhes
são dirigidos, alcançando a todos, modificando suas condições perispirituais no
próprio ambiente em que se demoravam, sendo, após, levados para os núcleos
de assistência na espiritualidade. Já houve casos em que o mentor propunha o
atendimento a determinados hospitais de nossa cidade para o encaminhamento
dos Espíritos aí retidos. Tivemos oportunidade de atender processos
semelhantes, mas de enfermos vitimados por epidemias como a peste bubônica

na Europa, há vários séculos ou por suicídio coletivo de tribo indígena na
Amazônia em 1991. A distância não impede que possamos atendê-los, bem
como a defasagem de tempo entre o ocorrido e a data dos atendimentos.
Por vezes, são trazidas vítimas de acidentes de avião, trens, terremotos,
enchentes, incêndios, furacões. Tenham sido recentes ou esquecidos nos
registros humanos, permanecem juntas e em profundo sofrimento, necessitando
de energia externa para serem resgatados. Quando qualquer deste tipo de vítima
é trazido procuramos dedicar uma etapa seguinte na busca de grupos de
entidades com semelhante padecimento vinculados entre si e ao que foi trazido
inicialmente. Busca tratamento ainda na região onde se deu a catástrofe e
posterior encaminhamento.
Uma última situação comum que gostaríamos de lembrar é a dos Espíritos
aprisionados em regiões umbralinas ou trevosas por magos, gênios do mal,
“dragões” e outras criaturas maléficas que, em suas bases edificadas, mantêmse
por séculos dominando e hostilizando aqueles mais enfraquecidos ou
doentes. São vistas em masmorras, cavernas, ambientes infectos, em meio a
roedores, morcegos, etc. Nesse caso, o coletivo se prende tanto às numerosas
hostes dos obsessores hierarquicamente organizados em verdadeiros impérios
do mal, como às de suas vítimas desencarnadas, sem falarmos do que atuam
sobre pessoas e instituições na crosta da Terra. A hierarquia das trevas, também
na nossa experiência é algo impressionante e foi objeto de estudo por parte de
Áureo no livro “Universo e Vida”, psicografia de Hernani T. Sant’Anna (edição da
FEB). Para estas questões existem recursos tanto para resgatar destas prisões
coletivas aqueles que lá são mantidos, como para neutralizar a ação de seus
algozes. Quando um de seus líderes é encaminhado, um número apreciável de
vítimas, dos dois lados da vida, é liberado concomitantemente. Quanto maior seu
poderio ou mais maléficos eles são, maior o benefício e o número de criaturas
que se libertam quando de sua capitulação e afastamento definitivo, em relação
aos que se lhes estavam subjugados. Chama-nos a atenção a quantidade, o
conjunto de Espíritos ligados a cada caso, tanto no rol de seus asseclas como
de suas vitimas encarnadas e desencarnadas. À guisa de exemplo, lembro-me
de que, recentemente, em uma de nossas reuniões, compareceu pela psicofonia
uma freira desejando falar-nos. Contava que ouvira dizer que poderíamos ajudála
e expôs seu problema. Havia um grupo de crianças sob sua responsabilidade,
mas que se detinha em região inferior sob influência de certos Espíritos trevosos.
Sem entrarmos no mérito causal e aplicando recursos específicos, pudemos
constatar a liberação e migração desse grupo de entidades na direção de um
jardim, em torno de um hospital na espiritualidade em colônia próxima da crosta.
A irmã acompanhou todo o atendimento até que a última criança lá chegasse e,
emocionada, agradeceu. A edificação das trevas foi vista ruir ao impacto das
vibrações de altíssima freqüência dirigidas para lá.
Como tratar as situações coletivas? Na medida que o coordenador passa
a verificar atentamente, diante de cada caso que é trazido, a presença de outros
Espíritos, como nos exemplos citados, seja por sua sensibilidade, seja pela dos
médiuns videntes do grupo, ele deve predispor-se a expandir o tratamento aos
demais, sem deixar de cuidar daquele que, escolhido pelo Mundo Maior,
exatamente propiciará que todos se beneficiem. A freqüência vibratória do
comunicante, seja um enfermo, seja um prisioneiro numa base ou edificação das
sombras, é um registro de identidade que ele irradia e que possui vínculos
mento-fluido-magnéticos com todos aqueles que viveram (e ainda vivem) tal
drama, tanto vítimas quanto eventuais causadores. Após a constatação e o
diálogo iniciais, o coordenador deve projetar energia mental, consciente do que
se passa com o grupo em questão, de tal modo que suas reais necessidades
espirituais sejam atendidas, de forma a plasmar, por exemplo, a recuperação,
integridade e saúde de seus perispíritos ou sua libertação dos liames que os
mantinham cativos. Após esta etapa fundamental faz-se necessária a condução
de todo o grupo para as regiões astralinas, onde estão os hospitais e zonas de
triagem para que lá o tratamento tenha continuidade e se conclua, sob a égide
dos benfeitores do Alto. A condução através de energia mental e vital emitida
pelo doutrinador é acompanhada pelos médiuns até que se complete,
certificando-se de que todos foram beneficiados e que efetivamente chegaram
até lá. Cada grupo de trabalho conta com a cobertura necessária destes núcleos
de assistência e guardam relação “geográfica” com sua localização na Terra.
Não se preterem quaisquer dos cuidados atinentes ao trabalho habitual de
desobsessão, como o preparo dos médiuns, do coordenador, a estruturação do
grupo, o diálogo fraterno, a prece, a fluidoterapia... A energia vital do grupo, a
coesão e solidez da corrente e o monitoramento pela vidência são essenciais.
Alguém poderia questionar por que não se deixar para a Espiritualidade Superior
realizar estas coisas no mundo espiritual. Pelas mesmas razões que não
esperamos que eles façam e resolvam no mundo espiritual os atendimentos
individuais, trazendo-os através da psicofonia.
Lembramos ainda que esta abrangência que a atividade de desobsessão
pode alcançar surgiu da experiência no trato dos casos individuais e foram
acontecendo naturalmente na medida que notávamos o conjunto de entidades
vinculadas a cada caso e nos propúnhamos a beneficiá-las.
Queremos ressaltar que: 1) Processos obsessivos envolvendo grande
número de vítimas ou algozes são comum. 2) As situações pendentes,
acumuladas na esteira do tempo, abrangendo questões morais e cármicas,
vinculando os seres entre si, são graves, freqüentes e de enorme capacidade
geradora de enfermidades e psicopatias humanas. 3) São, por isso,
incomparavelmente maiores os benefícios advindos do tratamento coletivo. 4) Os
recursos fundamentais para se estender o atendimento para grupos de Espíritos
são os mesmos dos trabalhos bem orientados de desobsessão, acrescidos de
alguns requisitos e condições. 5) Os recursos originados e trazidos pela
Espiritualidade para esta expansão quali-quantitativa vão sendo acrescidos na
medida que o grupo funcione com esta proposição. 6) É patente o interesse do
Mundo Maior no sentido de que novos grupos se preparem para estes
cometimentos, auxiliando na mais efetiva reversão de tão doloroso quadro moral
de nosso orbe. .
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1. SANT’ANNA, Hernani T. Pelo Espírito Áureo, ed. FEB, 1978.
2. MIRANDA, Hermínio C. Diálogo com as Sombras, ed. FEB, 1976.
3. AZEVEDO, José Lacerda. Espírito e Matéria. Novos Horizontes para a Medicina, ed.
Pallotti, 1988.
4. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, ed. FEB, 1993.
5. XAVIER, Francisco Cândido. Pelo Espírito André Luiz, ed. FEB 1946.

Perdão e Reparação


Editorial

A necessidade do perdão – como atitude essencial para a conquista da plenitude espiritual – foi
ensinada por Jesus em diversas ocasiões: “Se perdoardes aos homens as suas ofensas, também
vosso Pai Celeste vos perdoará”1, “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos
nossos devedores”(2) e “Reconcilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho”
(3). Destacou, ainda, a importância de perdoar de forma ilimitada: “Não vos digo que perdoeis
até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes.”(4)
Mas o Cristo não se limitou a teorizar sobre o perdão: Do alto da cruz humilhante, submetido a
dores extremas, orou por seus algozes, compreendendo-lhes a ignorância: “Pai, perdoa-lhes porque
não sabem o que fazem.”(5)
Antídoto do ódio, o perdão é gesto de generosidade que beneficia muito mais a quem perdoa do
que àquele que é perdoado. Sentimentos como ódio, rancor e desejo de vingança escravizam as criaturas,
algemando-as a idéias fixas, estados mentais mórbidos, infelicidade e desequilíbrio. Quem perdoa
se liberta do grilhão que o mantém prisioneiro. Mas quem é perdoado não está livre da necessidade
de reparar o mal cometido. Este, registrado na consciência do Ser, exigirá corrigenda, a fim de
que a criatura se reabilite perante a Lei Divina. Mesmo depois de perdoado, sofre o aguilhão do remorso,
que lhe cobra reparação dos prejuízos materiais ou morais que causou a outrem.
Jesus assinalou o imperativo de a criatura buscar o reajuste perante Deus e a própria consciência
mediante o exercício do amor incondicional. Ao reerguer a mulher que era acusada por seus vícios,
o Cristo observa: “Seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou.”(6)
Assim, a reparação que favorece a paz interior virá pela vivência do amor, ao eleger o Bem como
prática. Mas poderá ser, também, profundamente dolorosa, quando aquele que foi perdoado permanece
em clima de enfermidade moral, recusando-se à grandeza da fraternidade.
A lição que o Evangelho nos oferece e que a Doutrina Espírita explicita não deixa dúvidas: Não
se chega à felicidade, que todos buscam, sem a vivência da lei moral que emana de Deus e que consiste
na prática da Caridade. E só praticamos a Caridade, plenamente, perdoando os outros e reparando
nossos erros, sempre!
1Mateus, 6:14 4Mateus, 18:22
2Mateus, 6:12 5Lucas, 23:34
3Mateus, 5:25 6Lucas, 7:47
Editorial
O Reformador -Julho de 2005

O amor cobre a multidão de pecados


Antônio Carmo Rubatino-Reformador/Outubro 2005
Uma torrente infindável de mágoas e sentimentos contraditórios leva contingentes de seres humanos exaustos a formar um séqüito de sofredores à procura de socorro psiquiátrico ou psicológico, multiplicando o volume das análises e divãs em consultórios e clínicas.
Quantitativo crescente de casosaporta aos templos religiosos, num desesperado apelo para a fé como
última saída para uma coletânea de ressentimentos, num intricado labirinto de angústias e depressões.
Em grande parte, é a dificuldade nossa de cada dia de desculpar, de desculpar-se, de começar de novo.
Dificuldade que emerge dos relacionamentos diários, tornando a vida uma administração de conflitos
– na família, na escola, no trabalho, no trânsito, no lazer. Até na Casa Espírita.
A Ciência vem fazendo importantes constatações na área do comportamento humano, levando pesquisadores a formular conceitos de extrema relevância, capazes de alterar substanciosamente a qualidade
de vida de indivíduos, famílias e grupos sociais. Revolucionando diagnósticos e substituindo terapias
convencionais, conduzindo pacientes a trocar prolongados tratamentos alopáticos por terapias inovadoras,
os níveis do conhecimento indicam a mudança de hábitos comopré-requisito terapêutico à erradicação
de males de etiologia complexa. Sem externar crenças, a maioria dos pesquisadores evita revelar
convicções religiosas de modo a dar às conclusões caráter de cunho estritamente científico, mas
acabam por fornecer subsídios valiosos ao argumento da religiosidade corrente.
Estudiosos de Stanford relataram valiosas observações, levando o cientista Fred Luskin a tratar do assunto
com admirável propriedade quando torna pública parte desse importante acervo(1):
“Estudos científicos mostram com clareza que o aprendizado do perdão é bom para a saúde e bem-
-estar – bom para a saúde mental e, de acordo com dados recentes, bom para a saúde física.
“(...) Definitivamente, o passado é passado.
“(...) A doença cardíaca é a causa mortis principal tanto para homens quanto para mulheres.
“(...) a raiva provoca a liberação de substâncias químicas associadas ao estresse, que alteram o funcionamento do coração e causam o estreitamento das artérias coronárias e periféricas.
“(...) O perdão é uma experiência complexa, que modifica o nível da autoconfiança, de ações,
pensamentos, emoções e sentimentos espirituais de pessoa vítima de afronta. Acredito que aprender a
perdoar os sofrimentos e ressentimentos da vida seja um passo importante para nos sentirmos mais
esperançosos e conectados espiritualmente, e menos deprimidos.”
Pasma o relato circunstanciado do Dr. Fred Luskin sobre algo que não é estranho ao meio espírita(2):
“Imagine que o que você vê em sua mente está sendo visto numa tela de tevê.
(...) Pelo seu controle remoto você determina o que se apresenta na sua televisão. Imagine agora que
cada um tenha um controle remoto para mudar o canal que está vendo na mente.
(...) desse ponto de vista, a mágoa pode ser vista como um controle remoto travado no canal da
mágoa.”
O raciocínio do cientista faz-nos rememorar a rica literatura advinda através de Chico Xavier, da
valiosa colaboração de André Luiz(3):


“(...) Estupefato, comecei a divisar formas movimentadas no âmbito da pequena tela sombria. Surgiu
uma casa modesta de cidade humilde. Tive a impressão de transpor- lhe a porta. Lá dentro, um quadro
horrível e angustioso. Uma senhora de idade madura, demonstrando crueldade impassível no rosto,
lutava com um homem embriagado.
– ‘Ana! Ana! pelo amor de
Deus! não me mates! – dizia ele, súplice,
incapaz de defender-se. –
‘Nunca! Nunca te perdoarei! (...)’.”
Com toda a sua dinâmica de desvendar o conhecimento a partir de observação repetida e sistemática,
a ciência experimental vem galgando passos importantes na disseminação do saber, dando saltos
quantitativos gigantescos, ora muito objetiva e rapidamente, ora muito lenta e gradualmente. E a variante
dos novos passos que são dados tem a vontade como mola propulsora.
Quando deseja, o homem caminha rápido, muito rápido; quando não, demora-se nas enseadas da
vida, às vezes evitando tratar abordagens incômodas ou de futuro incerto, postergando o transcendente
para outra instância, receoso de chegar a conclusões embaraçosas, que possam implicar em mudanças
importantes nos valores cultuados.
A ciência e a religião tocam-se nas linhas infinitas do tempo.
O Meigo Nazareno já havia recomendado o perdão na sua mensagem consoladora ao colégio apostólico,
aos discípulos, e, em todos os conflitos, externava generosidade e compreensão, procurando substituir a ofensa pela desculpa, a intransigência pela tolerância, a mágoa pelo amor. Recomendara a um
dileto amigo que desculpasse ilimitadas vezes, como que procurando dizer a ele que o perdão age como
medicamento profilático, vacinal, capaz de substituir vincos na fronte cerrada e ameaçadora pela amena
descontração de um riso relaxante e confortador (4). Acostumado a observar a infantilidade de conflituosos
contemporâneos, desaconselhava o litígio, endereçando as querelas a soluções que esvaziam as disputas (5).
Como quem quisesse nos dizer que a maioria dos aborrecimentos do dia-a-dia passariam despercebidos,
se pudéssemos as mais das vezes dizer ao semelhante que nos desafia:
– Estou errado, enganei-me.
Não faria de novo.
Habituados a não reconhecer o próprio erro, sempre empenhamos recursos verbalísticos persuasivos,
no afã de evitar o mea culpa que deixaria o assunto exaurir-se de per si. Opta-se por tentar identificar
o erro no semelhante ou descobrir nele a contribuição para a contenda, crendo na sua dissimulação,
capaz de aviltar a verdade para esquivar-se de qualquer transgressão.
De Pedro vem observação interessante, que não cogita da contenda, dotada de senso de oportunidade,
atualíssima na sociedade em que estamos inseridos, onde o conflito ainda é a via primeira para solucionar
questões do dia-a-dia (6):
(...) tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre a multidão de pecados.
Sede, mutuamente, hospitaleiros, sem reclamar. Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que
recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os
oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre...
Desculpar não é aceitar o erro que alguém pratica. Mas reconhecer o erro, nosso ou do nosso semelhante,
sem se ofender. Sem se magoar.
Sem ter que sentir de novo, no dia seguinte, a contrariedade da véspera: portanto, sem se ressentir.
É aceitar as pessoas, e a nós mesmos, sem ficarmos presos aos acontecimentos indesejados da vida em
sociedade. É admitir que “o passado é passado”, como afirma FredLuskin. Ou o próprio Emmanuel
quando escreveu: “Agora, eis o momento
da melhora que procuras. (...)
Ontem não mais existe (...).” (7)
AGORA
Agora, eis o momento
Da melhora que buscas.
De nada te lastimes.
Ontem não mais existe.
De tudo o que se foi,
Só a lição perdura.
Renova-te e caminha
Sobre o eterno presente.
Olha o tronco podado
Lançando ramos novos.
Não pares, segue e serve.
Deus cuidará de ti.
Emmanuel

1O Poder do Perdão, Fred Luskin. Editora Novo
Paradigma, cap. 7.
2Idem, ibidem, cap. 9
3Os Mensageiros – Francisco C. Xavier, pelo
Espírito André Luiz, cap. 23, p. 147, Ed. FEB.
4Mateus, 18:21-22.
5Mateus, 5:23-24.
6I Pedro, 4:8-11.
7Espera Servindo, pelo Espírito Emmanuel,
GEEM.

Entrevistando São Francisco de Assis

Revista o Reformador 2001-Outubro
O dia fora especialmente abrasador. A Úmbria ardia sob o Sol da primavera
que explodia em flores por toda parte.
Os imensos campos que se aproximavam dos montes sobranceiros, divididos
em variadas plantações, estuavam no variegado tom de verde, confraternizando
com as terras arroteadas para novas sementeiras, enquanto o feno em fardos
arredondados dava um colorido especial de amarelo-marrom à relva, ora queimada
pelo Sol, ora reverdecente, entremeada pelo vermelho rubro das papoulas exuberantes.
No alto da cidade, a imponente catedral dedicada ao Santo da pobreza com
a sua torre-campanário de elevado porte que, no passado, servia para observar os
inimigos que se aproximassem da encantadora Assis, construída em pedras sobre
outras pedras que a exaltavam dando-lhe um ar de grandeza, galantaria e de glória.
Quando a noite desceu, um pouco tarde, porque a claridade no poente permanecia
em colorido deslumbrante, e o zimbório se adornou de estrelas, a movimentação
prosseguiu em ritmo também febril.
Favônios sopravam do vale fértil, refrescando as ruelas e praças iluminadas.
Um espetáculo na Praça de S. Francisco atraíra a multidão ávida de ruídos e
movimentação, encerrando-se sem grande finale, reduzindo a cidade formosa ao
silêncio quebrado apenas pelas onomatopéias da Natureza e um que outro transeunte
notívago. Perambulando pelas proximidades da Igreja inferior, em tentativa
de recordar aqueles já remotos tempos do século XIII, quando o jovem trovador fora
arrebatado por Jesus e saíra a cantar a melodia imortal do Evangelho, vi acercar-se
um grupo de Espíritos nobres e, dentre eles, o Pai Francisco.
Mantinha as mesmas características com que Giotto o imortalizara nos seus
afrescos. De regular estatura, compleição frágil, traços sem grande beleza física,
porém portador de difícil abordagem de irradiação psíquica, estava acompanhado
por alguns dos seus primeiros irmãos da revolução do amor, da pobreza e da humildade.
Não poderia desperdiçar a feliz oportunidade. Porque estivessem conversando
discretamente, utilizei-me de um momento que se me fez factível e, aproximando-
me, expliquei que eu havia sido na Terra um jornalista brasileiro que, no
Além-Túmulo, reencontrara Jesus e O amava com ternura e respeito.
Interroguei o benfeitor do irmão lobo, se ele me poderia conceder alguns
breves minutos para uma entrevista que encaminharia aos poucos leitores que tomariam
conhecimento do nosso encontro.
Jovial e algo tímido, o santo anuiu de bom grado.
Interroguei-o, sem delongas, bastante emocionado:
– Como vê o desfile de multidões chegadas de diferentes partes do mundo,
para conhecerem Assis, e visitarem os lugares por onde o Paizinho esteve, especialmente
a tumba que lhe guarda os despojos carnais?
Expressando no olhar luminoso a grandeza espiritual de que era possuidor,
o pobrezinho respondeu:
– Esse interesse das criaturas muito me sensibiliza, especialmente porque
reconheço a pequenez da atividade por mim desenvolvida na Terra. No entanto, se
eu pudesse optar, preferiria que o sentimento de todos fosse o de manter contato
O
com o Espírito do Senhor a Quem procurei seguir nos já longínquos dias da existência
física. Em todos os meus passos, a minha pessoa sempre procurou ceder o seu
insignificante lugar ao Pastor que nos orienta o caminho e nos guarda a paz.
“Quando o anjo da morte se acercou do meu corpo cansado, antes de me
retirar destes sítios queridos abençoando-os, senti que viriam muitos homens e
mulheres no futuro, e que encontrariam paz, roteiro e reconforto moral, elegendo,
após acuradas meditações, o reino de Deus. Ainda mantenho essa esperança, e
por isso, periodicamente com os meus irmãos que foram dos mais pobres, procuro
auscultar as almas e auxiliá-las no despertamento, ajudando-as conforme as suas
necessidades e de acordo com os seus apelos e preces...”
– E esse bulício que toma as massas, enquanto o mercado de recordações
cresce cada vez mais, alterando o significado das visitações, que lhe parece?
– Não me cabe censurar o comportamento dos meus irmãos do agitado
mundo atual. A criatura humana deve viver, negociar, trocar objetos e procurar a
conquista de lucros. Toda atividade honrosa merece respeito, porque arranca o ser
da ociosidade, que é um grande adversário do equilíbrio e da dignidade. Vale porém
reconhecer que existem outros recursos que podem ser mobilizados para a
permuta de valores, evitando-se a exaltação das crendices e superstições que contribuem
para auxiliar na transferência das responsabilidades da transformação interior
para o Bem, pela magnetização de objetos e adoração de símbolos...
“As pessoas vivem hoje aturdidas pela pressa, pela volúpia da falta de tempo
para meditar, para assimilar as bênçãos do Pai Criador. Assis sempre inspirou paz
e reflexão. A vida cristã é a antítese do comportamento agitado e angustiado do ser
moderno. Compreendo toda essa inquietação e mesmo a falta de silêncio, por
momentos sequer, no Templo, quando se poderia pensar no significado daqueles
dias que ficaram no passado e sua aplicação na atualidade movimentada.”
– O Paizinho acredita que seria possível repetir aquelas vivências nestes tumultuados
anos terrestres?
– Acredito que sim, porquanto aqueles eram também dias de muito sofrimento
e inquietação, considerando-se a população e as circunstâncias existentes.
Havia guerra entre Assis e Perúgia, entre os estados italianos e papais, abuso do
poder senhorial e religioso, alucinação e desespero das Cruzadas, miséria das
camadas pobres e dos camponeses, indiferença social e perseguições de toda
ordem... A mensagem de Jesus não é para um tempo, para uma Nação, nem mesmo
é uma proposta figurativa que deve ser interpretada conforme a comodidade
dos cristãos. Naquela época também se afirmava que era impossível viver conforme
o Evangelho: com despojamento, com humildade, com renúncia, com amor total
pelo próximo deserdado...
“Mais de uma vez, respondendo a esse argumento egoísta, esclareci que, ou
o Evangelho deveria ser seguido conforme fora pregado, e o luxo, a ostentação, o
orgulho banidos da Igreja e dos corações, ou se deveria viver conforme as vaidades
terrenas, as ambições de classes e de poder, estando a Palavra totalmente errada...
Na conjuntura, era inevitável que o Evangelho triunfasse, embora nem todos
tivessem a coragem de abandonar o século para seguir Jesus. Compreendo a atitude
daqueles que prosseguem pensando ser impossível entregar a vida ao Mestre
e desfrutar simultaneamente dos prazeres do mundo, embriagando-se de gozo e de
perturbações. Entretanto, considero ser irrealizável a paz, enquanto a criatura se
mantiver encarcerada na cela dourada dos presídios da posse e das paixões mais
degradantes. Quando se rompem os elos dos vícios – e o poder terrestre, o uso
indevido do sexo, os interesses servis, as dependências químicas, alcoólicas e outras
são vícios que se arrastam através das gerações, fixando-se na história do
pensamento humano como necessidades urgentes – uma liberdade diferente toma
conta da existência que adquire beleza e tranqüilidade. Não se trata isto de uma
utopia, mas de uma realidade. A única posse que liberta é não ter nada além do
essencial, que favorece a construção da vida feliz.”
– Que pensa a respeito da alteração de objetivos e de comportamentos que
a Ordem franciscana vivencia atualmente, em total afronta aos postulados básicos e
iniciais que foram traçados pelo Irmão Alegria?
Sem demonstrar enfado ou mal-estar ante a interrogação, o Entrevistado
respondeu serenamente:
– É normal que as idéias puras e dignificantes no seu início dêem lugar no
futuro a realizações totalmente diversas dos programas elaborados. Com o tempo e
a adesão de muitos indivíduos, vão surgindo alterações compatíveis com o nível
evolutivo dos mesmos, que procuram adaptar às suas necessidades aquilo que
pensam estar esposando com nobreza e mesmo abnegação. Transcorrido um largo
período, pouco sobrevive aos ditames das imposições e caprichos impostos pelos
séculos inexoráveis... Com a nossa tradição, os primeiros fenômenos surgiram
quando ainda me encontrava no corpo, constatando-o dolorosamente ao retornar da
Cruzada, em face do largo tempo que permaneci no Oriente visitando as terras
onde Jesus vivera... O choque que experimentei foi muito grande, levando-me ao
quase recolhimento total na Porciúncula e à necessidade de maior doação, a fim de
manter fiéis os demais companheiros que haviam renunciado a tudo: orgulho, cultura
vã, discussões teológicas vazias de significado espiritual e ricas de palavras pobres
e confusas, de comodidade, até o momento em que a Irmã Morte me arrebatou
o Espírito...
– Como seria possível viver segundo os rígidos critérios do Evangelho, sem
perturbar o progresso tecnológico nem o desenvolvimento da ciência?
– A ciência e o progresso tecnológico são inspirações de Nosso Pai, favorecendo
o ser humano com recursos que lhe tornam a vida mais feliz e menos penosa,
diminuindo-lhe a carga bruta dos afazeres, as conjunturas amargas das enfermidades,
especialmente as mutiladoras e degenerativas, proporcionando meios
hábeis para a fraternidade e o entendimento entre os homens e as Nações. Será
isso o que ocorre? O monstro da guerra não continua ceifando vidas e semeando o
horror em nome da ordem e da paz? Gerações sucessivas não têm sido vitimadas
pelo preconceito de raça, de orgulho, de classe e de religião?
“Despojar-se de tudo não é atirar fora as conquistas já realizadas, mas aplicá-
las em favor de todos e não apenas de alguns poucos. É o impositivo de repartir
o excesso com aqueles que não têm nada ou que padecem carência, respeitar os
direitos à vida, preservar a irmã Natureza e todos os seres viventes igualmente filhos
de Deus. Quem se despoja fica livre para amar e para servir, bases da vida em
toda parte.”
Profundamente comovido, interroguei, por fim:
– O Paizinho Francisco poderia encerrar esta entrevista enviando, por meu
intermédio, uma mensagem aos homens da Terra na atualidade?
– A mensagem que me envolve o Espírito e que faz parte de todo o meu processo
de evolução é seguir Jesus e viver os Seus feitos. Mas, se me fosse facultado
sintetizar tudo quanto eu gostaria de repetir aos meus irmãos terrestres neste
momento de glórias e de sofrimentos, de grandezas e de misérias, eu diria: fazer
aos outros somente aquilo que deseje que os outros lhe façam, e em qualquer circunstância,
amar e amar até sentir as dores que o amor muitas vezes experimenta
quando direcionado ao próximo.
O Emissário de Jesus sorriu suavemente, envolvendo-me em peregrina luminosidade
que me levou às lágrimas.
Profundamente tocado pela sua magnanimidade, prossegui o giro por Assis,
evocando sua bênção, no fim do mês de setembro de 1226, quando ele pediu para
ser transportado para a sua Porciúncula, onde morreria, e vazada nas seguintes
palavras:
– Abençoada sejas tu por Deus, Cidade Santa, porque por ti muitas almas
se salvarão e em ti muitos servos de Deus habitarão e por ti muitos serão eleitos
no reino da vida eterna. Paz a ti!
Irmão X
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, na madrugada de 27 de maio
de 2001, em Assis, Itália.)

Em Família

Editorial

“Mas, na união dos sexos, a par da lei divina material, comum a todos os seres vivos, há outra lei divina, imutável como todas as leis de Deus, exclusivamente moral: a lei de amor. Quis Deus que os seres se unissem não só pelos laços da carne, mas também pelos da alma, a fim de que a afeição mútua dos esposos se lhes transmitisse aos filhos e que fossem dois, e não um somente, a amá-los, a cuidar deles e a fazê-los progredir.” (Allan Kardec – O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXII, item 3.)

AFIRMAÇÃO DE ALLAN KARDEC NÃO DEIXA DÚVIDAS QUANTO À IMPORTÂNCIA DO AMOR NA CONSTITUIÇÃO FAMILIAR, DESTACANDO-O, TAMBÉM, COMO ALICERCE DE SUSTENTAÇÃO E MANUTENÇÃO DOS VÍNCULOS FAMILIARES. VAI ALÉM, QUANDO COLOCA OS FILHOS COMO CENTRO DA ATENÇÃO DO CASAL, ALVO DE TODO O AFETO QUE DEVE NASCER COM O COMPROMISSO DE UNIÃO, FORMAL OU INFORMAL, MAS NATURAL, QUE O HOMEM E A MULHER JUNTOS ASSUMEM ANTES MESMO DA CONCEPÇÃO.

Ao Espírito que, para enfrentar uma nova existência terrena, se submete a uma
total dependência de seus pais no período de concepção, gestação, nascimento e
crescimento, não há nada pior do que se sentir rejeitado e desprezado por aqueles
que lhe estão proporcionando nova reencarnação. Neste período, mais sujeito às influências
benéficas que espera receber, a simples ausência do amor é a causa maior
de muitos desajustes pessoais, com graves conseqüências familiares e sociais.
Se o núcleo familiar, composto pelo conjunto homem, mulher e filhos, estiver assentado
em um relacionamento realmente afetivo, em que o amor seja cultivado e manifestado
sem medos e sem receios, teremos uma família bem constituída e bem consolidada,
com os seus integrantes moralmente bem estruturados e conseqüentemente
fortalecidos para os desafios naturais da existência. Em contrapartida, qualquer quebra,
enfraquecimento ou instabilidade nos vínculos de amor desse conjunto provocará,
sempre, maior prejuízo para os filhos, com tendências graves à depressão, à fuga, ao
suicídio, ao uso das drogas, à violência, enfim.
Numa fase em que, com justa razão, o mundo clama por paz, a única solução definitiva
é o cultivo do amor incondicional por parte de todos os homens. E cultivar o
hábito de amar é um aprendizado que começamos a desenvolver na vida em família.
Promovida pela Federação Espírita Brasileira, o Movimento Espírita mantém a
oportuna Campanha “Viver em Família”, que tem por slogan – O Melhor é Viver em
Família. Aperte mais esse laço. Na seqüência dessa Campanha podemos, com convicção,
destacar que a vivência do amor em família é a solução para todos os males
da Humanidade.


Revista o Reformador 2002-Maio

Educação



"A aquisição de hábitos saudáveis, edificantes e que produzem harmonia no grupo social, a transformação das tendências agressivas e dos sentimentos de baixa estima para melhor,
o esforço para qualquer realização dão-se por intermédio dos processos educativos, especialmente aqueles de natureza moral, ao mesmo tempo que, mediante o estudo,
ocorre o desenvolvimento cultural e intelectual, num somatório de valores que enobrecem o ser humano.
À educação, no seu sentido lato, está reservada, portanto, a grande tarefa de construir o homem e a mulher melhores e mais sociáveis, neles desenvolvendo os germes do amor e da dignidade,
com os quais progride espiritualmente, tornando-se úteis à comunidade, após transcenderem os limites egoicos, adquirindo a consciência de paz e dos valores éticos que constituem a vida pensante."
(...) Sendo a educação, conforme já referido, o processo de criar hábitos saudáveis, não se pode permitir o direito de tornar-se virulenta na observação dos seus preceitos,
castigando e impondo-se para ser considerada como legítima. Pelo contrário, deve conquistar o educando por meios dos recursos poderosos de que se forma,
especialmente pelo sentido de amor e de dignidade de que se reveste.
(...) O respeito é uma conquista que cada um consegue pela maneira como se comporta, pelos atos e palavras, pela vivência e forma de conquistar os demais. Toda vez
que se estabelecem normas de imposição, violenta-se o livre-arbítrio, o direito de optar-se pela aceitação do outro com todas as maneiras absurdas que lhe são características.
A vida vale pelo que se lhe pode acrescentar de bom, de belo, de útil, sem a valorização demasiada do empenho para consegui-lo."


Autor: Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Franco. Livro: Psicologia da Gratidão

Solta-nos Barrabás


Artigo publicado no jornal Unificação - Ano XII - Janeiro/Fevereiro de 1965 - Números 142-143

Solta-nos Barrabás

“Mas toda a multidão clamou a uma, dizendo: Fora daqui com este, e solta-nos Barrabás. O qual fora lançado na prisão por causa de uma sedição feita na cidade, e de um homicídio”.

(Lucas, 23, v. 18-19).
A escolha era entre Jesus – exemplo vivo de amor, de paz, de misericórdia e de justiça, que andava pelas províncias judaicas apregoando palavras de vida eterna, restaurando a vista aos cegos, limpando os leprosos, levantando paralíticos, fazendo falar aos mudos e afastando espíritos daninhos de criaturas possessas; e Barrabás – chefe de sedição e homicida.
Pilatos, cego em seu apego à posição de mando, conseguiu ver a cegueira do povo e tentou evitar a consumação de uma injusta escolha: “Mas que mal fez este? Não acho nele culpa alguma de morte”.
Mas, em grandes gritos a condenação de Jesus e a liberdade de Barrabás foram exigidas pelo povo, seguidas da escolha do gênero de morte: crucifica-o, crucifica-o.
Esse foi o epílogo de um grande drama e, nos dias atuais ainda afirmamos, a exemplo do que fizeram os fariseus: “Se tivéssemos vivido nos dias dos nossos pais não teríamos sido cúmplices na condenação de Jesus”.
Barrabás era a expressão de revolta e do crime; Jesus representava a virtude, a bondade e a fraternidade. Quase vinte séculos separam-nos do episódio do Calvário e, no entanto, parece que a escolha, se fosse processada na atualidade, não seria muito diferente.
Os maus exemplos dados diuturnamente por inúmeros cristãos – inveja, discórdia, revoltas, mentiras, vícios, crimes e guerras, são autênticas demonstrações de que Barrabás continua a ser preferido e Jesus preterido. Ainda existem mentores religiosos do mesmo tipo daqueles que insuflaram o povo diante do Pretório, coagindo Pilatos a condenar o Mestre, encastelado na intolerância e fazendo prevalecer inócuas tradições e doutrinas de homens.
Sem ramificação profunda nos Evangelhos não pode haver Cristianismo, e sem Cristianismo não pode haver amor e paz. O panorama contristador que nos apresenta o mundo de hoje, após quase vinte séculos de experiência cristã não é dos mais recomendáveis, mormente quando se considera ser o Cristianismo uma Doutrina de elevada perfeição e eficiência, impregnada, entretanto, de falhas oriundas de criaturas que não vigiaram suficientemente na tarefa de evitar a deturpação dos ensinamentos trazidos pelo Unigênito de Deus.
Os vinte séculos de disseminação da Doutrina Cristã, não conseguiram ainda fazer silenciar o eco daqueles estridentes gritos: “Solta-nos Barrabás”.
Ao Espiritismo está reservado o papel de restaurador das verdades reveladas por Jesus Cristo, cumprindo aos seguidores de Allan Kardec a tarefa árdua de destituir as palavras ensinadas por Jesus das interpretações negativas que tiveram no desenrolar dos tempos, apresentando-as coerentes com o dizer de Jesus: Eu sou a fonte de água-viva que jorra para a vida eterna.

Paulo Alves de Godoy

Dois conceitos de honestidade


Autor: Deolindo Amorim – Artigo publicado no jornal “Unificação” – Ano XIII – Janeiro de 1966 – Número 154.

Comemorou-se há pouco, em diversas sociedades espíritas, o centenário de mais uma obra da Codificação de Allan Kardec: “O Céu e o Inferno”, publicada em 1865, na França. É um livro pouco lido e, por isso, pouco citado no próprio meio espírita. Há, nele, entretanto, muita matéria doutrinária para estudo e meditação. Quem tiver ocasião de ler, ou reler, por exemplo, certas comunicações de espíritos desencarnados, verá que “O Céu e o Inferno” é um livro de grande utilidade, também neste ponto, justamente porque nos faz muitas advertências oportuníssimas para a vida cotidiana. São espíritos que viveram neste mundo, sofreram, cometeram os seus deslizes e, depois, vieram trazer o resultado de suas experiências, através do elemento mediúnico.

Uma das comunicações que me parecem mais significativas e mais sérias pelo seu conteúdo moral é a do espírito de José Bré, desencarnado em 1840 e evocado por sua neta, em Bordéus, no ano de 1862. Esse espírito, ao chegar à vida espiritual, teve certa surpresa, sofreu pouco, exatamente porque, na Terra, era tido por muito honesto, mas verificou, naturalmente decepcionado consigo mesmo, que o conceito de honestidade, no mundo espiritual, nem sempre coincide com o que se pensa entre nós. É uma advertência grave e sempre atual, não há dúvida. O fato de um indivíduo ser um modelo de honestidade perante os homens, segundo os padrões e as convenções terrenas, não quer dizer, em todos os casos, que esse indivíduo já esteja completamente quite com a Justiça Divina. Foi o que se deu com o espírito de José Bré, quando se viu, depois, diante de problemas de consciência, problemas que a sociedade humana desconhecia, mas que apareceram, em toda a plenitude, quando o espírito enfrentou a dura realidade do “além-túmulo”, como se costuma dizer.
Sua neta, assim que começou o diálogo com o espírito do avô, estranhou que ele estivesse sofrendo e lhe fez a seguinte pergunta: “Não vivestes sempre honestamente?” O espírito dissera, momentos antes, que estava lamentando o fato de “não ter melhor aproveitado o tempo aí na Terra”. Tal declaração causou espanto à neta de Bré, pois todos os seus conhecidos consideravam o morto um homem irrepreensível, um homem exemplar em tudo por tudo. Esperava-se, portanto, que viesse dizer, do “outro lado da vida”, que estava muito bem, estava feliz. Mas o espírito respondeu de um modo franco, dizendo a coisa como realmente deve ser dita: há um abismo entre a honestidade perante os homens e a honestidade perante Deus. É uma verdade dura, mas precisa ser repetida aos quatro ventos, porque muita gente não pensa nisto, está iludida com os aplausos humanos. Convém reproduzir as palavras do espírito, pelo menos em parte.

Não basta, para ser honesto perante Deus, ter respeitado as leis dos homens; é preciso, antes de tudo, não haver transgredido as leis divinas. Honesto aos olhos de Deus será aquele, que possuído de abnegação e amor, consagre a existência ao bem, ao progresso de seus semelhantes. Assim, o homem honesto, perante Deus, deve evitar cuidadoso as palavras mordazes, veneno oculto sob flores, que destrói reputações e acabrunha o homem, muitas vezes cobrindo-o de ridículo.

Bela e profunda lição!
O conceito de honestidade, segundo os costumes terrenos, vê a criatura humana apenas pelo lado exterior. Então, é honesto, para o mundo, todo aquele que está em dia com as suas contas, cumpre os seus deveres sociais, mantém a família, educa os filhos, paga impostos, etc., etc... Tudo isto, porém, são obrigações comezinhas. Ninguém pense que, pelo fato de cumprir todos os seus deveres humanos, que são deveres meramente rotineiros ou naturais, estão isento de prestar contas à consciência. É aí, precisamente, que está o conflito entre aquilo que se entende por honestidade, perante o mundo, e o que vem a ser a honestidade prevista nas Leis Divinas. São dois conceitos muito diferentes. O indivíduo pode ser muito bom cidadão, porque respeita as leis do Estado, atende a todas as exigências da sociedade em que vive, apresentando-se como exemplo de virtudes em sua vida exterior e, no entanto, não ser honesto em suas intenções, porque pensa mal, articula intriga e maldade, fere a reputação alheia, espalha insinuações infamantes, embora disfarçadas com palavras doces, aparentemente inocentes. Tudo isto compromete a consciência perante o julgamento divino. Mas o mundo não vê, nem pode ver os pensamentos ocultos, porque são inerentes à vida interior, que é um segredo indevassável. Enquanto isso, o indivíduo vai passando como honesto ou virtuoso, podendo, até, ser glorificado como santo aos olhos dos homens. Quando chega a hora da partida, quando se descerra o véu dos artifícios humanos, vem o julgamento da consciência, que é o nosso juiz implacável. Então, aquele que se iludira com os conceitos humanos, supondo que iria ter, no mundo espiritual, uma vida quase angelical, uma vida de felicidade completa, porque todos o tinham por honesto, vai sentir, diretamente, que a sua suposta honestidade, na Terra, de nada lhe vale, porque a Justiça Divina, que é onisciente e onipresente, não julga somente pelos atos exteriores, mas julga, antes de tudo, pelas intenções, pelos pensamentos mais ocultos, pelos sentimentos que alimentamos, embora saibamos encobri-los ou disfarçá-los na sociedade humana. O que vai pesar na balança, no fim de tudo, quando nos defrontamos com a realidade espiritual, não é o conceito de honestidade segundo os homens, mas o conceito de honestidade segundo a Justiça de Deus. É a lição, que nos fica, depois da leitura, bem meditada, de uma comunicação do teor moral e doutrinário daquela que foi dada, em Bordéus, pelo espírito de José Bré.

Amor filial

Por CLARA LILA GONZALEZ DE ARAÚJO
Revista o Reformador de Maio de 2009

“Sabeis os mandamentos: não cometereis adultério; não matareis; não roubareis;
não prestareis falso testemunho; não fareis agravo a ninguém; honrai a vosso
pai e a vossa mãe.” (S. Marcos, 10:19; S. Lucas, 18:20; S. Mateus, 18-19).1


A passagem acima registra o encontro de Jesus com Efraim,(2) homem de muitas posses, morador de Jerusalém, que lhe indaga sobre o que fazer para herdar a vida eterna (Mateus, 19:16; Marcos, 10:17; Lucas, 18:18).
O próspero negociante, porém, não compreendeu os ensinamentos que lhes foram transmitidos
pelo Mestre e afastou-se receoso de perder seus bens materiais; o mancebo rico não soube interpretar,
claramente, a mensagem cristã:
a capacidade de amar o próximo é o verdadeiro tesouro a conquistar.
Para se alcançar a perfeição é preciso ser devotado às criaturas e todas as ações devem ter por móvel
a caridade, feita com sinceridade de coração, porquanto penosos sacrifícios e renúncias poderão ser
exigidos daqueles que assim agem.
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XIV, item 1, esses versículos fundamentam a reflexão
sobre quão imprescindível é o amor filial em nossas vidas e estimulam- -nos a cultivar a estima para com os
pais, de modo ainda mais rigoroso, cercando-os de carinhos e cuidados, principalmente na velhice:
O mandamento: “Honrai a vosso pai e a vossa mãe” é um corolário da lei geral de caridade e de amor ao próximo, visto que não pode amar o seu próximo aquele que não ama a seu pai e a sua mãe; mas, o termo honrai encerra um dever a mais para com eles: o da piedade filial. Quis Deus mostrar por essa forma que ao amor se devem juntar o respeito, as atenções, a submissão e a condescendência [...](3)
Allan Kardec, no referido capítulo, item 3, ressalta o descaso de certas pessoas para com os seus genitores,
negando-lhes as solicitudes necessárias ao seu conforto e consolo, e afirma categórico:
Ai, pois, daquele que olvida o que deve aos que o ampararam em sua fraqueza [...] será
punido com a ingratidão e o abandono [...](3)

Ao reencarnar, vinculamo-nos aos laços familiares que entretecemos para nós próprios, na linha
mental que caracteriza as nossas tendências, afinados, igualmente, nas atitudes e inclinações para com
todos aqueles que permanecem na mesma conjunção de débitos.
A organização do núcleo familiar tem sua origem na esfera espiritual e proporciona aos seres que
reencarnam a realização de ações conjuntas e construtivas, revigorando os elos de amor entre a parentela.
Todavia, no âmago dessas experiências, afloram ódios e ressentimentos do pretérito obscuro,
exigindo inauditos esforços dos familiares para superação desses sentimentos, hauridos do passado
distante. Certos filhos agem de forma inadequada em face das dificuldades que encontram no ambiente
doméstico, transformando-se em motivos de excessivas discórdias e aflições junto daqueles que os
acolheram no meio familiar.O problema pode ser descrito em poucas palavras: os pais, em sua maioria,
se sentem sempre comprometidos em cuidar dos filhos e estes tendem, naturalmente, a libertar-se deles.
O Espírito Emmanuel faz elucidativa análise sobre esses vínculos:
Temos assim, no grupo doméstico, os laços de elevação e alegria que já conseguimos tecer,
por intermédio do amor louvavelmente vivido, mas também as algemas de constrangimento e aversão, nas quais recolhemos, de volta, os clichês inquietantes que nós mesmos plasmamos na memória do destino
e que necessitamos desfazer, à custa de trabalho e sacrifício, paciência e humildade, recursos novos com que faremos nova produção de reflexos espirituais, suscetíveis de anular os efeitos de nossa conduta anterior, conturbada e infeliz.(4).
Mesmo variando, entre os pais, a maneira de expressar afeição na dedicação e cuidados demonstrados
aos filhos, todos se preocupam em dar-lhes atenção, o que torna essas vivências familiares enriquecidas
e caracterizadas pelo amor que os interligam e lhes permitem construir um mundo completo de experiências vitais para suas almas em reajuste. No entanto, os embaraços que podem ocorrer na criação dos filhos são previsíveis; se os pais se adaptam mal às exigências de sua função é, sem dúvida, porque encontraram no curso de sua evolução moral obstáculos que não conseguiram superar por
não terem firme a vontade. Assevera Kardec:
Alguns pais, é certo, descuram de seus deveres e não são para os filhos o que deviam ser; mas,
a Deus é que compete puni-los e não a seus filhos. Não compete a estes censurá-los, porque talvez
hajam merecido que aqueles fossem quais se mostram.[...](5)

Muitos se afastam dos pais na velhice e não zelam por eles com a devida consideração; expressam sentimentos de ingratidão sem reconhecer os sacrifícios que se impuseram para que os filhos tivessem comodidades e bem-estar.
Geralmente, sem assistência, os genitores idosos tornam-se pessoas enfermas e amarguradas;
processos degenerativos, como mal de Alzheimer, mal de Parkinson, distrofia muscular, câncer,
diabetes e outros, surgem, para alguns, no momento próprio da vida material, como impositivo
da necessidade de reabilitação do Espírito. Se os familiares, com paciência, abnegação e devotamento, não ajudarem o enfermo a sentir-se amparado nessa fase de grande testemunho, como contribuir para iluminação de todos os envolvidos na prova em curso?

Em nota à questão 917, de O Livro dos Espíritos, o insigne Codificador observa:
O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade o é de todas as virtudes.Destruir um e
desenvolver a outra, tal deve ser o alvo de todos os esforços do homem, se quiser assegurar a
sua felicidade neste mundo, tanto quanto no futuro.(6).

O amor verdadeiro é uma demonstração afetuosa por quem devemos ter cuidado, respeito, responsabilidade e conhecimento de suas necessidades especiais. De acordo com Erich Fromm (1900-
-1980), um dos principais psicanalistas do século XX, [...] a satisfação no amor individual não pode ser atingida sem a capacidade de amar ao próximo, sem verdadeira humildade, coragem, fé e disciplina.(7)
Essa afirmação segue o princípio do amor amadurecido: sou amado porque amo, e não do amor
imaturo: amo porque sou amado(.8)
O amor deve ser ativo de forma a promover o desenvolvimento e a felicidade da pessoa amada; ela necessita do convívio dos outros para a amplitude de suas aptidões, para utilizar seus poderes mentais, emocionais e sensoriais, para compreender as potencialidades que lhe são inerentes, conforme as condições existenciais, principalmente as do núcleo doméstico, permitindo-lhe desenvolver essas capacidades ao máximo, desde que estimulada para isso. Estar apto a exercitar a razão e a praticar o amor, a se tornar um
ser produtivo e a considerar a vida uma bênção. Por esse motivo, os laços de família, na orientação dos Espíritos superiores, não são simples elos estabelecidos pelos costumes sociais, mas tornam-se necessários ao progresso de cada um; o resultado do relaxamento desses laços seria uma intensificação do egoísmo.(9)
Por outro lado, alguns filhos apegam-se aos pais com o intuito de obrigá-los [...] a comprar caro o que lhes
resta a viver, descarregando sobre eles o peso do governo da casa! Será então aos pais velhos
e fracos que cabe servir a filhos jovens e fortes?(10)
Alertam os benfeitores espirituais que existem indivíduos que agridem com certa frequência “os pais e buscam escravizá-los, como se os progenitores lhes constituíssem alimárias domésticas”.(11)
Reflitamos no bem a fazer por aqueles que nos permitiram retornar ao corpo de carne ou que
se transformaram em pais e mães substitutos; se nos omitirmos é possível que percamos a oportunidade
de auxiliá-los antes de partirem para o Além. Deixemos para depois, ao desencarnar, o entendimento
claro sobre os vínculos familiares que perduram em nossa existência, comungando fraternalmente com esses seres as mesmas experiências domésticas. É impossível, de imediato, compreendermos a trama do destino que a lei de ação e reação nos reservou e as circunstâncias que determinaram o retorno à Terra, junto deles. Sigamos a exortação de Jesus, que nos orienta a amar bastante, para sermos amados, principalmente aos pais que merecem particular deferência e afeto ilimitado e, ao lado deles, vivenciar situações que edificam a
sabedoria no amor filial.
Referências:
1KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro.
25. ed. de bolso. Rio de Janeiro: FEB, 2008.
Cap. 14, item 1.
2XAVIER, Francisco C. Contos desta e doutra
vida. Pelo Espírito Irmão X. 2. ed. 1.
reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 34.
3KARDEC, Allan. Op. cit., cap. 14, item 3.
4XAVIER, Francisco C. Pensamento e vida.
Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2008. Cap. 12, p. 56.
5KARDEC, Allan. Op. cit., cap. 14, item 3.
6______. O livro dos espíritos. Tradução
de Guillon Ribeiro. 91. ed. 1. reimp. Rio de
Janeiro: FEB, 2008. Q. 917.
7FROMM, Erich. A arte de amar. Tradução
de Milton Amado. Belo Horizonte: Editora
Itatiaia, 1995. Preâmbulo, p. 7.
8______.______. Amor entre pais e filhos,
p. 52-60.
9KARDEC, Allan. Op. cit., q. 775.
10______. O evangelho segundo o espiritismo.
Tradução de Guillon Ribeiro. 25. ed.
de bolso. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap.
14, item 3.
11XAVIER, Francisco C. Vida e sexo. Pelo
Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2008. Cap. 18, p. 94.
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